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O conceito que o escritor aos Hebreus apresentou acerta da fé nos auxilia em muito em compreender como agradar a Deus, porém, o contexto na qual a palavra ‘fé’ é empregada nos diz muito mais “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem” ( Hb 11:1 ).

 


“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus…” ( Hb 11:6 )

A Bíblia geralmente trabalha com proposições, ou seja, não é uma característica das exposições bíblicas dar definições e conceitos. Exemplificando, a Bíblia não apresenta uma definição ou um conceito de Deus, ela simplesmente apresenta algumas proposições, como: Deus é luz; Deus é vida, etc.

A linguagem bíblica demanda raciocínio para chegar a um entendimento, diferente da linguagem dos livros de hoje, que se aplicam em apresentar conceitos e definições acerca dos temas que abordam.

Os livros acabam simplesmente informando os seus leitores, já a Bíblia estimula o raciocínio do leitor, fazendo com que este percorra os labirintos do aprendizado até uma maravilhosa descoberta. Além do mais, auxilia na memorização do conceito quando abstraído.

Apesar de a Bíblia nos estimular ao raciocínio, ela nos surpreende ao apresentar, em uma das suas cartas, um conceito de fé:

“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem” ( Hb 11:1 ).

a) O fundamento firme é definido pelo escritor aos Hebreus como sendo fé.

b) A fé é prova do que se espera e que apesar de não ser possível ser visto, existe.

O conceito que o escritor aos Hebreus apresentou auxilia em muito no desenvolvimento deste estudo, porém, o contexto na qual a palavra fé é empregada nos diz muito mais. Observe o versículo seguinte:

 

“Mas, se alguém não cuida dos seus, e principalmente dos da família, negou a fé, e é pior que o incrédulo” ( 1Tm 5:8 )

Qual o significado da palavra fé no versículo acima? Podemos aplicar o conceito apresentado pelo escritor aos Hebreus a este versículo? Não!

O contexto demonstra que a palavra fé empregada por Paulo neste verso teve o seu significado primário ampliado, passando a designar a ideia geral da mensagem do evangelho. Dizer que: ‘alguém negou a fé’, tem o mesmo significado que ‘negar a mensagem do evangelho’.

A fonte da fé genuína é o evangelho, e ter um comportamento contrário ao recomendado pelo evangelho constitui-se prova de que aquele que se diz cristão, e não é, está em condição inferior até mesmo daquele que não professa o evangelho.

O apóstolo Paulo não quis dizer que o comportamento seja essencial à aceitação do evangelho, pois este é alcançado por meio da fé. Antes, ele procurou demonstrar que o comportamento do cristão confirma o que ele professa ter alcançado por meio do evangelho.

A palavra fé neste versículo é empregada para designar a mensagem que deu causa à confiança do crente, enquanto o conceito da carta aos Hebreus se prende à confiança do crente, sem qualquer referência a mensagem que promove a fé.

Percebe-se que a fé não se trata de uma qualidade ou mérito intrínseco ao crente. A mensagem do evangelho dá base à crença (fé), que acaba por refletir no comportamento de quem professa segui-la.

Um outro aspecto a considerar, quanto à interpretação de alguns textos bíblicos, fica por conta da etimologia da palavra fé.

A ideia de fé no Antigo Testamento é a de ‘descansar’ ou ‘apoiar-se’, confiante em alguém ou em alguma coisa.

 

“Porque o Egito os ajudará em vão, e para nenhum fim; por isso clamei acerca disto: No estarem quietos será a sua força (…) Assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: Em vos converterdes e em repousardes está a vossa salvação, no sossego e na confiança está a vossa força, mas não quisestes” ( Is 30:7 e 15).

“Aquietai-vos, e sabei que Eu sou Deus” ( Sl 46:10 )

A intranquilidade do homem, ou a sua procura obstinada por uma saída frente aos problemas da vida é uma demonstração de falta de confiança em Deus.

Geazi, o servo de Eliseu, é o exemplo típico do homem sem fé: “Então o moço lhe perguntou: Ai, meu senhor, o que faremos?” ( 2Rs 6:15 b).

A falta de confiança (fé) faz com que o homem busque uma solução apoiada em seus próprios recursos. A pergunta de quem não tem fé sempre será: O que faremos? “Perguntaram eles: Que faremos para executar as obras de Deus?” ( Jo 6:28 ).

Eliseu por sua vez demonstra tranqüilidade, mesmo quando tudo parecia perdido aos olhos de Geazi.

Os reis de Israel e Judá sempre procuravam alianças com os povos vizinhos, confiando que as suas alianças trariam paz e segurança. Todos eles esqueciam que Deus havia prometido defende-los, e que bastava repousarem e estar sossegados.

No A. T. a salvação de Deus apresentava-se àqueles que se convertiam ao Senhor e repousavam (descansar). Já o livramento aparecia vinculado ao estar sossegado. A força dos reis de Israel e Judá não estava em suas alianças, exércitos, cavaleiros, homens, etc., e sim, em estarem tranquilos.

No Novo Testamento temos o verbo ‘pisteuõ’ e o seu substantivo ‘pistis’. Este verbo tem dois significados básicos:

(1) acreditar no que alguém diz, aceitar uma afirmação como verdade, especialmente a de natureza religiosa “Vai-te, e seja feito conforme a tua fé” ( Mt 8:13 );

(2) confiança pessoal em contraposição a um mero crédito ou crença, e esta ideia é introduzida no texto através de uma preposição “em + ele” “Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados” ( At 10:43 ).

A mensagem do evangelho fundamenta-se na pessoa de Cristo. Ele mesmo anunciou as boas novas do reino aos homens. Crer na mensagem do engelho, em última instância, é crer na pessoa de Cristo.

A fé do cristão é pessoal, e sendo Cristo o Verbo de Deus encarnado, a palavra d’Ele é a verdade. A pessoa de Cristo e a sua mensagem estão intimamente interligadas. A palavra da fé é o firme fundamento designado fé, sem a qual ninguém verá a Deus.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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