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Todas as coisas estão sujeitas a Jesus, porém, os cristãos ainda não viam que todas as coisas estavam sujeitas a ele. Este era um problema de entendimento de alguns cristãos que o escritor queria esclarecer: embora não vissem que todas as coisas estavam sujeitas a Cristo, isto não muda a realidade dos fatos: todas as coisas estão sujeitas a Cristo!


Introdução

Somente no capítulo 2 é possível precisar qual o contexto da carta aos Hebreus, visto que, o primeiro capítulo resume-se em uma abordagem específica sobre a pessoa de Cristo.

Antes de prosseguir, é necessário enfatizar que, caso não houvesse o aposto explicativo do primeiro capítulo que trata especificamente da pessoa de Jesus ( Hb 1:3 -4), juntamente com várias citações do Antigo Testamento ( Hb 1:5 -14), o texto principal da carta ficaria assim:

“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho (…). Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido…” ( Hb 1:1 -2 e Hb 2:1 – 4).

O assunto principal que o escritor da carta transmite aos leitores começa no capítulo 1, versos 1 e 2, e continua no capítulo 2, verso 1 em diante. Ele queria que os cristãos entendessem que, como Deus falou muitas vezes e de várias formas aos pais (israelitas) utilizando os seus profetas, agora falou através do seu Filho, o que demanda maior diligencia por parte dos ouvintes com relação ao que já foi ouvido.

O tema em destaque na carta aos Hebreus é a mensagem anunciada.

O texto base da epístola consiste nos versículos citados acima grifados em vermelho. Observe que a exclusão dos versículos 3 ao 14 do capítulo 1 não alteram em nada a ideia principal que o escritor da carta aos Hebreus expõe.

A ideia que ele defende nestes versículos permeia toda a carta, o que torna possível precisar qual o tema central que ele evidencia.

Neste capítulo é possível determinar o tema, o enfoque e o contexto da carta aos Hebreus.

1 Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas. 2 Porque, se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda a transgressão e desobediência recebeu a justa retribuição, 3 Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; 4 Testificando também Deus com eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade?

O verso 1 do capítulo 2 da carta é conclusivo “Portanto,…”, e decorre do argumento apresentado anteriormente nos versos 1 e 2 do capítulo 1.

O escritor demonstrou que antigamente Deus falou várias vezes e de muitas maneiras, mas, que nos últimos dias, falou através do seu próprio Filho! Conclui-se que Deus falou e depois enviou o seu Filho para falar aos homens, o que demonstra o compromisso e o amor de Deus para com os homens, enviou seu Filho.

Os cristãos não podem seguir o exemplo negativo dos israelitas, que foram relapsos quanto ao que Deus falou por intermédio dos seus servos e profetas. Agora, após terem ouvido a mensagem de Deus por intermédio do Filho, os cristãos devem atentar diligentemente para ‘as coisas que já ouviram’.

A conclusão do escritor segue com uma exortação: “… convém-nos atentar com mais diligência…”. É conveniente aos cristãos atentarem diligentemente para as coisas que já ouviram, para que em tempo algum se desviem do evangelho.

Ora, se Deus falou várias vezes e de muitas maneiras ao povo do Antigo Testamento, e muitos pereceram por não atentarem para a mensagem, o cristão, por sua vez, deve utilizar o passado do povo de Israel como exemplo e ser diligente, atentando para o que já ouviu.

O adendo explicativo acerca da pessoa de Jesus no capítulo 1 ( Hb 1:3 -4), foi inserido antes da argumentação do capítulo 2 com dois objetivos:

  • Para dar peso à argumentação que o escritor da carta apresenta nos versículos 2 a 4 do capitulo 2;
  • Para compreendermos que o Filho de Deus glorificado é a expressa imagem do Deus invisível.

O peso da argumentação decorre dos seguintes fatores: se a palavra dos anjos, que são ministros de Deus, permaneceu firme e toda transgressão e desobediência couberam justa retribuição, que se dirá da palavra do Filho, que é a expressa imagem do Deus invisível?

A exortação é clara: o cristão deve atentar para o que já foi dito, para que em tempo algum se desvie do que foi anunciado. Observe que o risco de desviar-se da palavra anunciada é factível, uma vez que o próprio escritor da carta inclui-se entre aqueles que devem atentar diligentemente para a mensagem do evangelho ao utilizar a primeira pessoa do plural: “nos”.

Ao registrar: “Portanto, convém-nos…”, o escritor da carta demonstra que ele também ficaria exposto a riscos, caso não atentasse diligentemente para o que Deus já noticiou por intermédio do seu Filho.

Em hipótese alguma o escritor descarta a fidelidade de Deus, visto que, por mais que o homem seja infiel, Deus continua fiel e é poderoso em salvar ( Rm 9:6 ).

Longe de nós entendermos que a salvação não é eterna, porém, não e porque alguém frequenta uma igreja evangélica que já lhe pertence à adoção.

Ou seja, o cristão deve entender que a palavra falada por Deus tem o suporte da sua fidelidade e imutabilidade, ou seja, ela não volta atrás. Esta e a garantia da salvação dos que creem: a fidelidade e imutabilidade de Deus. Mas, da mesma forma que o homem é salvo por causa da fidelidade de Deus, é necessário compreender e não esquecer que, Deus trará ira sobre todo coração impenitente.

Deus não volta atrás em sua palavra, porém, o homem pode de moto próprio, desconsiderar o que já foi ouvido, e desviar-se do que Deus propõe através do evangelho de Cristo. A pessoa pode ouvir a mensagem do evangelho, não compreender e nem atentar para o que já ouviu, e o maligno vir e arrebatar o que foi semeado ( Mt 13:19 ).

A indagação do escritor aos Hebreus é oportuna: “Como escaparemos nós se não atentarmos para uma tão grande salvação?” ( Hb 2:3 ), ou seja, atentar com mais diligência para o que já se ouviu é o mesmo que atentar para a tão grande salvação revelada em Cristo.

A ‘tão grande salvação’ começou a ser anunciado por intermédio de Jesus, o Senhor, e se os cristãos não atentarem diligentemente para o que ouviram, há a possibilidade de desviar-se das palavras de Cristo, que é espírito e vida.

Não há como o homem ser salvo se não atentar para o que foi anunciado por Cristo e seus apóstolos ( Hb 12:2 ). O que foi anunciado por Jesus, também foi confirmado pelos que ouviram d’Ele, e Deus, por meio de sinais e milagres também deu testemunho com eles (v. 4).

O tema da carta começa a ficar perceptível, que é: atentar para a palavra que Deus anunciou aos homens por intermédio do seu Filho. Observe como o tema tem início no capítulo 1, e percorre toda a carta:

  • Outrora Deus falou por intermédio dos profetas ( Hb 1:1 );
  • Nestes últimos dias falou por intermédio do Filho ( Hb 1:2 );
  • Exortação para se atentar para o que já ouviu ( Hb 2:1 );
  • Considerar que a palavra dos anjos permaneceu firme ( Hb 2:2 );
  • Como ser salvo se negligenciar o que foi anunciado por Jesus? ( Hb 2:3 );
  • Confirmando o que Jesus anunciou, Deus novamente testificou por meio de sinais e prodígios ( Hb 2:4 ).

Isto posto, verifica-se que o tema da carta aos Hebreus é:

“A palavra de Deus anunciada através dos tempos”

Para não perder o foco, estaremos demonstrando capítulo após capítulo, como se desenvolve este tema no transcorrer da carta.

O tema da carta é ‘a palavra de Deus anunciada através dos tempos’, porém, o contexto geral da carta se expõe através de exortações: “… convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido…” ( Hb 2:1 ).

O enfoque do escritor centra-se na atitude dos cristãos frente à palavra de Deus, que foi anunciada pelos profetas, e que, nos últimos dias, foi anunciada pelo Filho.

Para auxiliar na leitura e interpretação do texto, os versículos foram coloridos em três cores:

O vermelho apresenta o tema central da carta, que é a palavra de Deus anunciada através dos tempos.

O azul contém explicações gerais, e geralmente serve para ilustrar ou dar sustentabilidade a argumentação principal, e que se refere ao que está colorido em vermelho.

O preto são citações do Antigo Testamento que reforça a ideia apresentada, e concede peso as explicações em azul.

 

Anjos e Homens

5 Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos. 6 Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites? 7 Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos, De glória e de honra o coroaste, E o constituíste sobre as obras de tuas mãos; 8 Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés. Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que não lhe esteja sujeito. Mas agora ainda não vemos todas as coisas sujeitas a ele. 9 Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos. 10 Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles. 11 Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos, 12 Dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, Cantar-te-ei louvores no meio da congregação. 13 E outra vez: Porei nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu. 14 E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; 15 E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão. 16 Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. 17 Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. 18 Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.

Os versículos 5 a 18 constituem um novo adendo explicativo semelhante ao apresentado no primeiro capítulo ( Hb 1:3 -14 compare Hb 2:5 -18).

O escritor já havia demonstrado que todos os anjos são espíritos ministradores enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação ( Hb 1:14 ), e que a palavra falada pelos anjos permaneceu firme ( Hb 2:2 ).

A missão dada por Deus aos anjos de ministros e mensageiros em favor dos homens somente demonstra o cuidado do Criador para com os homens, porém, não foi a eles que Deus sujeitou o mundo vindouro. Esta ressalva é pertinente, e esclarecedora.

Os anjos foram comissionados como mensageiros, porém, não serão eles que exercerão domínio no mundo vindouro. O escritor apresenta alguns versículos que dá sustentação à sua argumentação, para tornar evidente o exposto no versículo dezesseis: “Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão” (v. 16).

Estas citações inseridas pelo escritor da carta demonstram que a mensagem que ele estava proclamando não era de particular interpretação, e que não eram invenções provenientes de uma mente carnal. Ele demonstra que as suas palavras e argumentações tinham o peso das Escrituras (A.T.)

Os cristãos devem apegar-se com firmeza às verdades ouvidas, visto que, há um mundo vindouro, no qual todos os que creem em Cristo exercerão domínio. Não será um mundo sujeito aos anjos, conforme é possível depreender da explicação que o escritor aos Hebreus faz do Salmo que se segue:

“Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites? Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos, De glória e de honra o coroaste, E o constituíste sobre as obras de tuas mãos; Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés” ( Sl 8:4 -6; Hb 2:6 -8).

O salmo oitavo envolve inúmeras questões, porém, para o nosso estudo demonstraremos que ele é eminentemente messiânico.

Ao ler citações do Antigo Testamento é necessário ter o cuidado de verificar qual a relação entre o texto citado e a argumentação do escritor da carta.

Ao lermos: “Ó SENHOR, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus!” ( Sl 8:1 ), se observa que o verso primeiro do salmo oitavo é um momento de louvor ao mesmo Senhor identificado no salmo quarenta e cinco “Tu, Senhor, no precipício fundaste a terra…” ( Sl 45:6 ), e que o escritor aos Hebreus demonstra com propriedade ser uma referencia a pessoa do Filho ( Hb 1:10 ).

O versículo 2 do salmo 8 também foi citado por Jesus: “E disseram-lhe: Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?” ( Mt 21:16 ).

Os principais dos sacerdotes e escribas ficaram indignados com o louvor das criancinhas que estava sendo direcionado à pessoa de Cristo. Eles queriam que Jesus repreendesse as crianças, e Jesus lhes citou o Salmo 8, verso 2, o que demonstra que Cristo é especificamente o Senhor do versículo 1 do salmo 8, sendo Ele digno do louvor das criancinhas “Tu ordenaste força da boca das crianças e dos que mamam, por causa dos teus inimigos, para fazer calar ao inimigo e ao vingador” ( Sl 8:2 ).

Da mesma forma que as criancinhas, o salmista também irrompeu em louvor ao ver as obras das mãos de Cristo: “Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste” (v. 3), conforme demonstra o estribilho: “O SENHOR, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome sobre toda a terra!” (v. 9).

O salmista, através da pergunta: “… que é o homem mortal…”, demonstra interesse em saber qual o papel que o homem mortal desempenha na criação. Da mesma forma, ele também não sabia quem seria ou como seria o Filho do homem, porém, ele profetiza: “Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: Todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, As aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares” ( Sl 8:5 -8). Este entrave do salmista é descrito por Pedro: “Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada” ( 1Pe 1:10 ).

O que o salmista não sabia acerca dos bens futuros, o escritor aos Hebreus demonstra ao responder a pergunta: Que é o homem? É aos homens em Cristo que Deus sujeitou o mundo vindouro. Quem é o Filho do homem? É o Cristo, o Filho de Deus, conforme o escritor da carta aos Hebreus já havia demonstrado no adendo anterior.

“Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: Todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, As aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares” ( Sl 8:5 -8).

Esta é a explicação dada pelo escritor aos Hebreus sobre este salmo:

“Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que não lhe esteja sujeito. Mas agora ainda não vemos todas as coisas sujeitas a ele. Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos. Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles. Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos” ( Hb 2.8 b-11).

O escritor aos Hebreus demonstra que Jesus é aquele que foi feito um pouco menor que os anjos ( Sl 8:5 ), conforme o salmo diz, porém, o mesmo salmo também apresenta Jesus como àquele para quem são todas as coisas e mediante quem tudo existe ( Sl 8:1 ).

Perceba que o texto em verde explica o texto colorido em azul.

O escritor aos Hebreus demonstra que, desde que todas as coisas foram sujeitas a Cristo, nada está fora do seu domínio ( Hb 2:8 ).

Todas as coisas estão sujeitas a Jesus, porém, os cristãos ainda não viam que todas as coisas estavam sujeitas a ele. Este era um problema de entendimento de alguns cristãos que o escritor queria esclarecer: embora não vissem que todas as coisas estavam sujeitas a Cristo, isto não muda a realidade dos fatos: todas as coisas estão sujeitas a Cristo!

Embora Cristo esteja coroado de glória e honra, contudo não é possível vê-lo deste modo “E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” ( Jo 17:5 ). O que o escritor e os cristãos viam? Qual a imagem nítida que estava na memória dos cristãos?

Eles ainda ‘viam’, ou tinham uma ideia de Cristo como homem, o que demandava atentarem melhor para o que já tinham ouvido. Quando os cristãos anunciavam a Jesus, muitos deles ainda tinham em mente o Jesus que ‘foi feito um pouco menor que os anjos’, o que demonstrava que não estavam sendo diligentes com relação ao que já tinha sido falado. Muitos ainda não haviam alcançado uma compreensão plena sobre a pessoa de Cristo, porém, o escritor da carta procura demonstrar que todas as coisas estão sujeitas a Cristo.

A escritura (V.T.) já demonstrava que todas as coisas estariam sujeitas a Cristo, ou seja, os cristãos precisavam enxergar (ver) por meio da escritura que Jesus haveria de ser coroado de glória e de honra. Após a ressurreição dentre os mortos Cristo assumiu o seu lugar de honra e glória.

A posição de homem que Jesus assumiu neste mundo implica em algumas considerações que serão apresentadas gradativamente no transcorrer da carta. Uma delas é exposta aqui: Jesus ao ser introduzido neste mundo foi feito menor que os anjos, visto que era necessário que Ele passasse pela paixão da morte.

No capítulo 1 o escritor da carta faz um adendo explicativo acerca da pessoa de Cristo enfatizando a sua divindade, demonstrando que aquele homem que esteve entre eles e que conheceram pessoalmente é “o resplendor da glória de Deus”, “a imagem expressa da divindade”, e que “sustem todas as coisas pela palavra do seu poder” ( Hb 1:3 ).

No capítulo 2, o adendo explicativo é para explicar quem é o homem que sustem tudo pela sua palavra, enfatizando a sua humanidade por ter se esvaziado da sua glória ( 1Jo 1:1 ; Jo 17:5 ).

8 Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés. Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que lhe não esteja sujeito. Mas agora ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas. 9 Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos. 10 Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles. 11 Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos, 12 Dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, Cantar-te-ei louvores no meio da congregação. 13 E outra vez: Porei nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu. 14 E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; 15 E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão. 16 Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. 17 Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. 18 Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.

Ao ser introduzido no mundo, Cristo foi feito em uma posição menor que a dos anjos de Deus, porém, digno de honra e glória, uma vez que anjos e homens lhe devem adoração ( Sl 8:5 ; Hb 1:6 ).

O Filho Unigênito de Deus ao ser introduzido no mundo ( Hb 1:6 ; Pr 30:4 ), apesar de estar em um corpo carnal ( 2Co 5:16 ), na eternidade ele possui domínio sobre as obras do Pai. Os cristãos não possuíam o conhecimento de que tudo estava sob o seu domínio, pois continuavam a considerar Cristo apenas como homem. O escritor aos hebreus estava esclarecendo aos cristãos a mesma dúvida que Felipe possuía ( Jo 14:9 ).

Por que Deus estabeleceu todas as coisas sob o domínio de Cristo? Porque esta foi a sua vontade ao fazer o homem, conforme se lê no Gênesis: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” ( Gn 1:26 -27).

Cristo é a expressa imagem de Deus, e quando na eternidade Deus propôs criar o homem, ele propôs fazê-lo a sua imagem, ou seja, a imagem de Cristo. Do mesmo modo que Cristo tem o domínio sobre as obras das mãos de Deus, foi dado a Adão, figura de Cristo, domínio sobre toda a terra.

Compare Gênesis 1, verso 26, com Hebreus 2, verso 8, e Salmos 8, verso 5 a 8. A expressa imagem de Deus, Cristo criou todas as coisas, e quando foi dito: “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança”, Deus fez Adão como figura de Cristo. Não como imagem exata, antes figura, pois a expressa imagem de Deus somente o Filho possui.

E criou Deus o homem à sua imagem! Como? Ora, a própria Imagem expressa de Deus que criou todas as coisas, criou também o homem. O último Adão, a expressa imagem de Deus criou o homem.

O verso 27 de Gênesis 1 é melhor compreendido, se lermos “… a imagem de Deus o criou”, assim: “A expressa imagem de Deus o criou”.

Embora todas as coisas estejam sujeitas a Cristo, muitos dos cristãos não entendiam assim (v. 8b). O apóstolo Paulo também alertou que, embora os cristãos conhecessem Cristo segundo a carne, contudo, agora, não mais o conheciam daquela maneira ( 2Co 5:16 ).

O que eles deveriam ver depois que ouviram o evangelho de Cristo? Deveriam ver a Cristo coroado de honra e glória, desvencilhando da ideia que tinham: aquele Cristo feito menor que os anjos porque lhe era necessário padecer e morrer, provando a morte por todos os homens “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” ( Hb 2:8 ).

Os cristãos deviam ter em mente que Cristo já havia sido glorificado com a glória que possuía antes de haver mundo ( Jo 17:5 ), e que agora estava assentado à destra do Pai nas alturas ( Hb 1:13 ; Hb 8:1 ; Sl 110:1 ).

O escritor destaca que era necessário Cristo sofrer, embora todas as coisas pertencessem a Ele e existissem por Ele. Somente através das aflições Cristo seria consagrado o príncipe redentor, e conduziria muitos filhos a Deus. Somente através da morte na cruz, o Unigênito de Deus seria consagrado como Primogênito de Deus, posição de Príncipe entre os filhos de Deus ( Hb 2:10 ; Cl 1:18 ).

O sacrifício voluntário de Cristo na cruz fez com que, tanto Ele, o que santifica, quanto os que são santificados, a igreja, passassem a ser propriedade particular de Deus. São todos de Deus! Cristo, o Filho unigênito de Deus conduziu à glória, ou antes, deu aos que creram a mesma glória que lhe foi concedida, o que os tornou filhos de Deus, pertencentes a Ele, podendo legitimamente chamar-lhes irmãos( Hb 2:11 ; Jo 17:22 ).

Através desta explanação, o escritor queria que os cristãos pudessem ver a glória do Filho, que outrora se lhes apresentou como servo “Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo” ( Jo 17:24 ). O apóstolo João ao falar da filiação divina pertinente aos cristãos também conclama a verem o que lhes foi concedido: “Vede quão grande amor nos concedeu o Pai, que fossemos chamados filhos de Deus. E somos mesmos seus filhos!” ( 1Jo 3:1 )

Além de explicar a natureza de Cristo antes de ser encarnado, durante a encarnação, e após a ressurreição, o escritor demonstra através das Escrituras o que Cristo fez: “anunciou o Pai”, pois ele aponta o Salmo 22, versos 22 e 25 como sendo a obra que Cristo realizou para conduzir seus irmãos ao Pai ( Sl 22:22 ; Hb 1:1 ).

O que Cristo faria pelos seus irmãos? Anunciaria a eles todas as realizações do Pai, o que os levaria a confiar em Deus “Mas para mim, bom é aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no Senhor DEUS, para anunciar todas as tuas obras” ( Sl 73:28 ; Hb 2:13 ).

O tempo em que Cristo ficou com os homens em carne, é cumprimento de uma profecia em particular: “Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu” ( Is 8:18 ; Hb 2:13 ).

 

14 E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; 15 E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.

Como a condição de filho exige a participação de carne e sangue, Cristo ao ser introduzido no mundo participou de ambos: carne e sangue. Por que ele participou da carne e do sangue? Para poder morrer, e assim, aniquilar o império que pertence a morte, ou seja, o império do diabo.

Somente pela morte de Cristo houve abertura de prisão aos presos ( Is 42:7 ; Is 61:1 ). Cristo trouxe liberdade a todos que estavam sob o domínio do pecado (servidão) em decorrência da lei (pena) “… certamente morrerás” ( Gn 2:17 ) “Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei” ( 1Co 15:56 ).

 

16 Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. 17 Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. 18 Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.

O escritor encerra neste verso o ciclo de exposição acerca do papel desempenhado pelos seres angelicais.

Embora Cristo ao ser encarnado tenha assumido uma posição inferior a dos anjos, contudo possui melhor nome do que eles ( Hb 1:4 ). Isto porque Deus não escolheu os anjos para exercer domínio no mundo vindouro ( Hb 2:5 ), e nem socorre a anjos, antes socorre os descendentes de Abraão, ou seja, os filhos de Deus ( Hb 2:16 ).

Cristo tornou-se semelhante aos homens em tudo, pois Ele mesmo criou o homem a sua imagem e semelhança. Por Adão ser figura de Cristo, quando ele despiu-se da sua glória e foi encarnado, passou a possuir a imagem e a semelhança que concedeu ao homem no Éden.

Jamais um anjo poderia fazer a mediação entre Deus e os homens, pois somente Aquele que é o eterno e tomou a forma de servo pode fazê-lo, pois alem de ser misericordioso, também lhe era necessário ser fiel sumo sacerdote para oferecer os dons exigidos por Deus, ou seja, além de se compadecer, também era necessário fazer a propiciação pelos pecados do mundo.

Cristo é misericordioso por se compadecer dos pecadores, sumo sacerdote ao ser escolhido por Deus, e ofereceu um sacrifício perfeito, santo e agradável a Deus: o seu corpo ( Hb 2:3 ; Hb 7:28 ; Hb 10:10 ).

Uma vez que o Filho resistiu à tentação e padeceu conforme as Escrituras, agora pode auxiliar aqueles que são tentados ( Hb 2:18 ).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

3 thoughts on “Hebreus 2 – O Criador de todas as coisas

  • maravilhoso! leio a biblia a muito tempo e sinceramente nunca consegui entender muito o livro de hebreus ate esse momento.

    Resposta
  • Um estudo rico de conhecimento ,compreensível e abençoador para minha vida.

    Resposta
  • Agora entendo como a Bíblia é viva e eficaz. É preciso humildade para compreendê-la. Uma pessoas que acha que sabe tudo, jamais vai ser tocada pela Espírito no entendimento da mensagem em cada livro. É necessária maturidade! Reconhecer a dependência de Deus para nos instruir em sua Palavra. Daí flui o aprendizado que é a base da vida cristã. Agradeço a Deus as etapas que já passei e hoje consigo dar aulas na EBD para adultos. E dessa forma, na busca do aprendizado para entregar aos alunos, aprendo e apreendo muito além do que tudo que já vivi. A Deus toda honra e glória. AMEI O CONTEÚDO EXPOSTO PELO IRMÃO NA FÉ. OBRIGADA!

    Resposta

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