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Moisés havia intercedido pelo povo e Deus o atendeu ( Êx 32:11 -14), porém, quando intercedeu pela segunda vez, sentiu-se seguro para propôs que Deus riscasse o seu nome do livro da vida ( Ex 32:30 ). Foi quando Deus demonstrou que a sua misericórdia não estava atrelada ao esforço e disposição de Moisés em resignar-se ser punido no lugar do povo (Não depende de quem quer ou quem corre), antes a misericórdia de Deus é demonstrada unica e exclusivamente aos que amam a Deus.


Não depende de quem quer ou de quem corre

Como compreender a seguinte frase: ‘não depende de quem quer ou quem corre’? Este verso enfatiza a predestinação absoluta?

A Misericórdia de Deus

“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos” ( Ex 20:6 ; Dt 5:10 ; Dt 7:9 )

Após três meses que saíram do Egito, Deus apresentou ao povo um princípio relacionado à Sua misericórdia: ‘… faço misericórdia a milhares dos que me amam…’ ( Ex 20:6 ).

Na declaração divina expressa no Êxodo há uma promessa, e qualquer homem pode alcançar o ‘prêmio’ proposto: a misericórdia de Deus. Basta obedecer ao que Deus estabeleceu nesta Escritura: “E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos” ( Ex 20:6 ; Dt 5:10 ; Dt 7:9 ). Deus estabeleceu que a sua misericórdia é demonstrada somente aos que O amam, guardando os Seus mandamento ( Jo 14:23 -24).

O modo como Deus concede a sua misericórdia também é descrita pelo salmista: “Com o benigno te mostrarás benigno; e com o homem sincero te mostrarás sincero; Com o puro te mostrarás puro; e com o perverso te mostrarás indomável” ( Sl 18:25 -26); “Mas a misericórdia do SENHOR é desde a eternidade e até a eternidade sobre aqueles que o temem, e a sua justiça sobre os filhos dos filhos sobre aqueles que guardam a sua aliança, e sobre os que se lembram dos seus mandamentos para os cumprir” ( Sl 103:17 -18).

Na eternidade Deus não estava obrigado a demonstrar misericórdia a ninguém, mas após empenhar a sua palavra, sujeitou-se a ela para a cumprir ( Jr 1:12 ). Para ilustrar esta verdade, lembremo-nos da seguinte sombra: Deus orientou os filhos de Israel de que não eram obrigados a votar, mas se votassem, estavam obrigados a cumprir.

Em outras palavras: ninguém é obrigado a fazer um voto a Deus, mas se votar, é devedor “Porém, abstendo-te de votar, não haverá pecado em ti. O que saiu dos teus lábios guardarás, e cumprirás, tal como voluntariamente votaste ao SENHOR teu Deus, declarando-o pela tua boca” ( Dt 23:22 -23).

Após ter pronunciado a promessa, Deus não invalida a Sua palavra, antes Ele vela sobre a sua palavra para cumprir e ela não voltará vazia ( Is 55:11 ). Deus é fiel e jamais faltará com sua palavra: se alguém O amar, d’Ele receberá misericórdia. Isto significa que a misericórdia de Deus estende-se a todos quantos O amarem, não importando tribo, nação, língua ou povo.

A misericórdia de Deus é manifesta vinculada a Sua justiça e retidão. Como a justiça e a retidão de Deus vem expressa em sua palavra, para alcançar a misericórdia de Deus o homem tem que submeter-se à Sua palavra ( Ml 3:6 ; 1Pe 1:25 ).

Quando o salmista Davi diz: “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem” ( Sl 103:13 ), temos a justiça de Deus estabelecida. Um pai se compadece de seus filhos, portanto, Deus se compadece daqueles que recebe por filhos. Deus não é misericordioso com os bastardos, antes os trata com indignação e ira.

O que o salmista expôs reafirma o que Deus proferiu na lei, que a misericórdia é concedida aos que O temem, ou seja, aos que amam a sua palavra. Na Bíblia o termo ‘temor’ refere-se à palavra de Deus: “Vinde, meninos, ouvi-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR” ( Sl 34:11 ).

O único meio de o homem alcançar a misericórdia divina é guardando o seu mandamento. Esta verdade ecoa por toda as Escrituras: “Todas as veredas do SENHOR são misericórdia e verdade para aqueles que guardam a sua aliança e os seus testemunhos” ( Sl 25:10 ); “O ímpio tem muitas dores, mas aquele que confia no SENHOR a misericórdia o cercará” ( Sl 32:10 ); “Eis que os olhos do SENHOR estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia” ( Sl 33:18 ).

É com base no exercício da misericórdia de Deus que decorre o seguinte mandamento: “Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças” ( Dt 6:5 ). Moisés determinou ao povo que amasse a Deus porque este era o único modo de alcançar a misericórdia divina.

A misericórdia de Deus foi estabelecida nos termos elencados acima porque Deus não quer se revelar às suas criaturas somente como o Onipotente, antes quer ser conhecido por sua benignidade e verdade, de modo que engrandeceu a sua palavra cima do Seu nome “Inclinar-me-ei para o teu santo templo, e louvarei o teu nome pela tua benignidade, e pela tua verdade; pois engrandeceste a tua palavra acima de todo o teu nome” ( Sl 138:2 ).

O salmo 138 é messiânico e apresenta o Verbo da vida, pois somente Cristo esteve na angustia e ressurgiu dentre os mortos e ficou estabelecido que Deus tornaria perfeito aqueles que tocassem a Palavra da vida “Andando eu no meio da angústia, tu me reviverás; estenderás a tua mão contra a ira dos meus inimigos, e a tua destra me salvará. O SENHOR aperfeiçoará o que me toca; a tua benignidade, ó SENHOR, dura para sempre; não desampares as obras das tuas mãos” ( Sl 138:7 -8).

O Verbo encarnado foi engrandecido acima de todo o nome da divindade, visto que não há outro nome pelo qual os homens devam ser salvos ( At 4:12 ). A palavra foi enaltecida, visto que Deus exaltou soberanamente o Verbo encarnado e lhe deu um nome que é sobre todo o nome ( Fl 2:9 ; Ef 1:21 ; Fl 2:9 ; Rm 10:13 ).

Deus quer ser conhecido pela imutabilidade do seu conselho e da sua palavra, ou seja, por ser verdadeiro. Quando Deus disse: “De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” ( Gn 2:17 ), não estava impondo somente uma restrição. No mandamento estava expresso: plena liberdade, o cuidado de Deus e o conhecimento necessário para que o homem pudesse tomar uma decisão.

Quando ofendeu ao Criador, o homem separou-se de Deus (morreu) por força da lei que diz: certamente morrerás. O pecado achou ocasião na lei que foi estabelecida para preservar o homem em comunhão com o Criador (a lei santa, justa e boa expressa no Éden), e por ela separou (matou) o homem de Deus. Se Deus simplesmente invalidasse a sua palavra que diz: ‘certamente morrerás’ para reatar a comunhão com o homem, negaria a sua essência.

É neste ponto que Deus apresenta a sua misericórdia: como um homem ofendeu e todos morreram, Ele providenciou outro homem, Jesus Cristo. Se o homem que ofendeu trouxe morte, o que obedecesse traria vida. Este último Adão foi incumbido de conquistar o direito à vida para todos os seus descendentes, ou seja, aqueles que igualmente a Ele obedecessem a Deus “Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos” ( Rm 5:19 ). Justiça e misericórdia se entrelaçam “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” ( Sl 85:10 ).

Como a ofensa de um homem fez com que todos morressem, só a obediência de um homem satisfaria a justiça de Deus. Como pela ofensa de um homem sem pecado veio a morte sobre a humanidade, somente um homem sem pecado e obediente em tudo traria a ressurreição dentre os mortos.

É notável que, apesar de ser onipotente, Deus não pode passar por cima da sua palavra: “… a alma que pecar, essa mesma morrerá” ( Ez 18:4 ; Nm 15:31 ). Deus não invalida a sua palavra simplesmente escolhendo dentre os descendentes de Adão aqueles que seriam salvos, pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, portanto, encerrados na penalidade: morte.

Para o homem gerado segundo a carne de Adão ser salvo é necessário se socorrer de Cristo, que é a misericórdia de Deus demonstrada ao mundo, de modo que no mandamento: “… que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo…” ( 1Jo 3:23 ), há liberdade e vida para todos quantos obedecem.

Deus estabeleceu, segundo a sua misericórdia e graça, que faz misericórdia a milhares dos que O amam ( Ex 20:6 ), daí veio o mandamento: “Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças” ( Dt 6:5 ). De outro modo, caso o homem não ame Deus, ama a morte, pois ninguém pode servir a dois senhores “… todos os que me odeiam amam a morte” ( Pv 8:36 ).

Observe que os versos em comento não tratam de um sentimento amoroso, antes trata de serviço, obediência, sujeição “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom” ( Mt 6:24 ).

Como amar a Deus? Obedecendo-O. Jesus mesmo disse: “Se me amais, guardai os meus mandamentos” ( Jo 14:15 ); “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele” ( Jo 14:21 ).

E qual é o mandamento de Deus? “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” ( 1Jo 3:23 ). Ora, quem cumpre este mandamento é alvo da misericórdia de Deus.

Esta verdade é apresentada pelo escritor aos Hebreus: “E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem” ( Hb 5:9 ). A misericórdia de Deus revela-se em salvação a todos quantos lhe obedecem.

Mas, se alguém não obedece a Cristo, de Deus terá a Sua ira “Como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo” ( 2Ts 1:8 ).

É fato: “Eu amo aos que me amam, e os que cedo me buscarem, me acharão” ( Pv 8:17 ). Deus tem misericórdia dos que O amam, ou seja, Ele ama (cuida) os que O amam (obedecem). Quem buscar ao Senhor certamente O achará!

Os escribas e fariseus não compreendiam a misericórdia de Deus, pois Jesus ordenou: “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” ( Mt 9:13 ).

Os escribas e fariseus pensavam que, quando o Messias viesse, viria em busca dos filhos de Jacó. Na verdade Jesus veio para os seus, mas, como eles eram justos aos próprios olhos, não foram humildes para receber o Cristo, e para recebê-lo era imprescindível uma mudança radical na concepção deles ( Jo 1:11 ). A ideia de que bastava ter por pai a Abraão e já eram salvos deveria ser abandonada para que pudessem alcançar a Cristo ( Mt 3:9 ).

A ideia de que o Messias viria somente em busca dos filhos de Israel, é traduzida na parábola de Cristo: “Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento” ( Mc 2:17 ). Os judeus pensavam que eram ‘justos’ por serem descendentes da carne de Abraão e porque a eles pertencia a lei e os profetas.

Jesus, por sua vez, demonstra que veio em busca da humanidade, e começou o seu ministério com os filhos do seu povo, e como não o receberam (não foram humildes a ponto de abandonarem o que entendiam por salvação), prosseguiu o seu ministério para além da Galileia, ou seja, à humanidade. A missão de Jesus era chamar os pecadores a uma mudança de entendimento (metanoia=arrependimento).

Na fala: “Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” ( Mt 9:13 ), confronta o conhecimento dos escribas e fariseus. As Escrituras demonstravam que todos os homens juntamente se desviaram, de modo que não havia um justo se quer ( Sl 53:3 ; Rm 3:10 ; Mq 7:2 ). Seria um contra senso o Messias vir em busca de ‘justos’, se as Escrituras protestavam que não havia um justo se quer. Como não havia um justo se quer, é plausível o Messias vir atrás dos pecadores. Mas, o que Jesus quis dizer com “Ide e aprendei: Misericórdia quero”?

Ele estava orientando os seus interlocutores que Deus não se agradava de sacrifícios, pois os escribas e fariseus se aplicavam somente aos sacrifícios, como: sábados, orações, dízimos, leis, etc. ( Sl 51:16 ), e se esqueciam do principal: a misericórdia.

O que Deus quer é obediência à sua palavra, ou seja, misericórdia, e era exatamente o que Jesus estava fazendo: obedeceu a ordem do Pai. Enquanto comia com os publicanos e pecadores, Jesus estava realizando a vontade de Deus, diferente dos escribas e fariseus que se mantinham separados dos ‘pecadores’.

Há outra consideração acerca da misericórdia de Deus apresentada a Moisés: “Porém ele disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do SENHOR diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer” ( Êx 33:19 ).

Esta declaração de Deus foi dada em virtude de um evento anterior: “Agora, pois, perdoa o seu pecado, se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito. Então disse o SENHOR a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro. Vai, pois, agora, conduze este povo para onde te tenho dito; eis que o meu anjo irá adiante de ti; porém no dia da minha visitação visitarei neles o seu pecado” ( Ex 32:32 -34).

No dia seguinte após o povo de Israel ter feito o bezerro de ouro, Moisés subiu ao monte para interceder pelo povo. Foi quando Moisés fez a seguinte proposta: “Agora, pois, perdoa o seu pecado, se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito”. O pedido de Moisés jamais poderia ser atendido, pois Deus teria de contrariar a sua própria natureza. Para atender ao pedido de Moisés, Deus teria de contrariar o que havia estabelecido, cometer injustiça.

Como perdoar aquele povo se não guardaram o mandamento de Deus? “E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos” ( Ex 20:6 ).

Daí a resposta divina: “Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro”. Deus não disse: Aquele que Eu rejeitar. Deus havia estabelecido que a rejeição recai sobre aqueles que não obedecem a sua palavra. Esta fala de Deus é suficiente para desconstruir a ideia da predestinação absoluta, ou da eleição incondicional  para a salvação ou para a danação eterna.

Quando Deus disse a Moisés: “… e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer” ( Êx 33:19 ), estava enfatizado que, para satisfazer a sua justiça e retidão aprove a Deus salvar o crentes pela loucura da pregação. Estava em seu poder demonstrar misericórdia àqueles que obedecessem ao Seu mandamento: que creiais naquele que Ele enviou. É antibíblica a ideia de que Deus escolheu quem salvar simplesmente porque é soberano. A salvação dos homens envolveu a sabedoria e a prudência de Deus, pois a sua soberania não podia invalidar a sua justiça “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça, que ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudência” ( Ef 1:7 -8).

O apóstolo Paulo é enfático: Deus salva os crentes pela loucura da pregação, e não por ser soberano “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” ( 1Co 1:21 ).

Deus já havia apresentado a Moisés qual era o parâmetro estabelecido para demonstrar a sua misericórdia aos homens. No entanto, Moisés fez uma proposta que contrariava completamente a orientação divina, o que fez com que Deus relembrasse o que estava estabelecido.

Deus estava declarando a Moisés que aquela proposta era impossível de ser atendida, pois riscar o nome de Moisés do livro da vida sem ele ter pecado, seria injustiça da parte de Deus. Com a fala: ‘terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia’, Deus estava relembrando a instrução dada anteriormente junto com os dez mandamentos ( Dt 5:10 ; Dt 7:9 ; Ex 20:6  ).

Foi o mesmo que dizer: – Moisés, de quem eu tenho misericórdia? Já não foi ensinado que terei misericórdia daqueles que me obedecem? Moisés, é impossível eu ter misericórdia dos que me odeiam, antes só posso exercer misericórdia aos que me obedecem. Dai a fala: terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia! E de quem Deus tem misericórdia? A resposta vem dos versos analisados anteriormente: dos que me amam ( Dt 5:10 ; Dt 7:9 ; Ex 20:6  ).

A má leitura do trocadilho: ‘eu terei misericórdia daquele que eu tiver misericórdia’, conduz muitos ao entendimento equivocado da predestinação absoluta. Ou pior, surge a seguinte fala: Deus não é obrigado a ter misericórdia. Ledo engano. Deus não é o homem para que minta, e quando Ele empenhou a sua palavra, sujeitou-se a Ela para cumpri-la.

Sabemos que Deus é livre na essência, mas apesar da liberdade infinita que possui, Deus não volta atrás com a sua palavra. Ele não pode negar-se a si mesmo. Ele não pode fazer injustiça ou negar o que é de direito. É impossível Deus não amar os que O amam, pois Ele empenhou a sua palavra. É impossível Deus deixar de ter misericórdia dos que são misericordiosos.

Aos hipócritas e fariseus Jesus foi claro: “Ide e aprendei: Misericórdia quero, e não sacrifício..”. Qual é a misericórdia que Deus exige? A mesma misericórdia que Deus esperava que Saul tivesse: que obedecesse a sua palavra “Porém Samuel disse: Tem porventura o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros” ( 1Sm 15:22 ).

É de difícil compreensão, mas o rei Saul enquanto estava derramando o sangue dos amalequitas segundo a ordem do Senhor, estava sendo ‘misericordioso’ “E enviou-te o SENHOR a este caminho, e disse: Vai, e destrói totalmente a estes pecadores, os amalequitas, e peleja contra eles, até que os aniquiles” ( 1Sm 15:18 ). Mas, quando Saul resolveu preservar a vida do rei Agague, rei de Amaleque, e dos bois, abandonou a misericórdia e passou à condição de rebelde, feiticeiro, iníquo ( 1Sm 15:23 ).

A obediência que Deus exigiu de Saul é o mesmo amor que Deus exigiu do povo de Israel através de Oséias: “Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos” ( Os 6:6 ).

Quando Jesus anuncia no sermão do monte: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” ( Mt 5:7 ), temos outro trocadilho. Bem-aventurados os que obedecem a Deus (misericordiosos), pois só os que obedecem é que alcançam misericórdia. É o mesmo que dizer: Terei misericórdia daquele que eu tiver misericórdia, ou amo aos que me amam.

É impossível enumerar o número de teólogos adeptos da doutrina da eleição incondicional, e isto se deve à má leitura que fizeram de um verso construído com ‘trocadilhos’. A leitura que fazem tem por base somente uma passagem bíblica, e se esquecem que, para compreender qualquer passagem Bíblia é necessário fazer uso do princípio utilizado por Cristo: ‘mas, também está escrito’.

Está escrito: ‘terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia’, mas também está escrito: ‘terei misericórdia dos que me amam’, de modo que a leitura correta é: ‘Daqueles que me amam eu tenho misericórdia’.

A desobediência

 “Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia” ( Rm 11:32 )

O apóstolo Paulo demonstra que Deus encerrou todos os homens debaixo da desobediência e usa de misericórdia para com todos.

Quando todos os homens foram encerrados debaixo da desobediência? Qual a desobediência a que todos foram sujeitos?

A desobediência que o apóstolo refere-se é a ofensa de Adão. Adão ofendeu a Deus e todos os seus descendentes tornaram-se pecadores ( Rm 5:15 ). Por causa da desobediência de Adão todos juntamente alienaram-se de Deus ( Rm 5:19 ).

A humanidade foi encerrada debaixo da consequência da ofensa de Adão. Isto significa que a humanidade não se tornou desobediente em função de erros cometidos no dia a dia, antes todos são gerados na condição de filhos da desobediência, e já trazem sobre sí a penalidade estabelecida por Deus por causa da ofensa: a morte ( 1Co 15:22 ).

É em função desta verdade que o apóstolo Paulo demonstrou que todos foram encerrados debaixo da desobediência.

Como os judeus consideravam que, por serem descendentes da carne de Abraão, não estavam debaixo da condenação proveniente da ofensa de Adão, o apóstolo demonstra que, com relação à ofensa, todos os descendentes de Adão, inclusive os judeus, eram filhos da desobediência e estavam alienados da glória de Deus ( Rm 3:19 ).

Quando o apóstolo diz que ‘Deus encerrou a todos debaixo da desobediência’, demonstrou que todos estão sob a penalidade imposta à ofensa de Adão. A asserção paulina não diz que Deus obrigou o homem pecar, ou que Ele tenha criado o pecado, antes que todos sofrem a penalidade imposta a Adão.

Para evitar divisões na igreja local estabelecia em Roma, o apóstolo Paulo estava demonstrando que os judeus eram inimigos da igreja de Cristo ( Rm 11:28 ; Gl 4:29 ), porém, apesar de serem inimigos do evangelho, por causa da eleição (trazer e abrigar o Cristo segundo a carne), receberam o cuidado de Deus.

O cuidado, o amor que Deus dispensou ao povo de Israel era devido ao que Deus prometera aos patriarcas. Deus tinha o propósito de trazer Jesus Cristo ao mundo e prometera aos pais que da linhagem deles haveria de vir o Cristo. Foi em virtude do propósito e da promessa feita aos pais que o povo de Israel foi escolhido para proporcionar a vinda do Cristo ao mundo.

Observe o que Deus disse por intermédio de Moises: “O SENHOR não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; Mas, porque o SENHOR vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito” ( Dt 7:7 -8).

O povo de Israel pensava que era melhor que os gentios por ter sido escolhido por Deus, porém, Deus já havia alertado que o povo não foi escolhido por ser povo mais numeroso ou melhor que os outros povos, antes a escolha estava firmada na promessa feita aos patriarcas ( Rm 3:9 ).

O povo de Israel em nada era diferente dos outros povos, porém, eles foram ‘escolhidos’ por serem descendentes da carne dos patriarcas. Eles não foram eleitos para serem salvos, antes para uma missão, assim como Ciro, o rei dos Persas e o rei do Egito ( Is 45:1 ; Rm 9:17 ).

Recapitulando: Deus prometeu a Abraão, Isaque e Jacó que através da linhagem deles haveria de vir o Cristo, sendo que o povo de israel foi escolhido para esta missão especifica: abrigar a linhagem do Messias, ou seja, nenhum dos membros de Israel foram escolhidos para serem salvos. Deus tinha o proposito de trazer o Messias ao mundo, e o povo de Israel foi eleito para este propósito por causa da promessa que Deus fez aos pais. Deus prometeu a Abraão, Isaque e Jacó que traria o Cristo através da linhagem deles, e cuidou (amou) do povo de Israel para que a promessa fosse cumprida “Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela impiedade destas nações o SENHOR teu Deus as lança fora, de diante de ti, e para confirmar a palavra que o SENHOR jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó ( Dt 9:5 ).

Por que Deus não rejeitou o povo de Israel para trazer o Cristo? Dai a resposta: Por que o que Deus dá (dons) e a missão estabelecida (vocação) são irrevogáveis. Apesar de serem incrédulos, a promessa de Deus não falhou ( Rm 9:6 ). A eleição deles tinha em vista a missão, e mesmo pertencendo a eles a adoção de filho, a glória, as alianças, as leis, o culto e as promessa, não eram filhos de Abraão ( Rm 9:7 -8).

No verso 29 de Romanos 11, o apóstolo Paulo demonstra que os cristãos convertidos dentre os gentios outrora eram desobedientes a Deus, mas que agora haviam alcançado misericórdia porque o povo de Isael foi desobediente, pois rejeitaram o Cristo ( Rm 11:25 ).

Mas, apesar dos judeus terem sido rebeldes, eles podem alcançar a mesma misericórdia que foi dada aos cristãos (v. 32). Não há outra misericórdia a ser demonstrada aos judeus durante a plenitude dos gentios, a não ser a demonstrada à igreja de Cristo. Todos os homens, quer sejam judeus ou gentios, estão sob a desobediência de Adão, de modo que com todos Deus usa da mesma misericórdia.

O princípio para o exercício da misericórdia de Deus não muda: “Com o benigno te mostrarás benigno; e com o homem sincero te mostrarás sincero; Com o puro te mostrarás puro; e com o perverso te mostrarás indomável” ( Sl 18:25 -26).

Não depende de quem quer ou quem corre

“Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” ( Rm 9:16 )

No capítulo 9 de Romanos o apóstolo Paulo expressa a sua dor por ver a condição dos seus irmãos segundo a carne ( Rm 9:2 ). Neste capítulo ele continua a exposição de uma pergunta feita no capítulo 3: “Pois quê? Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade aniquilará a fidelidade de Deus?” ( Rm 3:3 ).

A palavra de Deus não falhou ( Rm 9:6 ), pois a incredulidade do homem jamais anula a fidelidade de Deus “Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo” ( 2Tm 2:11 -13).

No verso 7, o apóstolo Paulo explica que, o fato de os seus irmãos segundo a carne serem descendência de Abraão, não os tornava filhos de Abraão. Ele demonstra que os judeus se equivocaram quanto ao pensarem que, por terem por pai Abraão, eram de fato os seus filhos.

Equivocaram-se por fazerem uma má leitura da promessa: “Em Isaque será chamada a tua descendência” (v. 7). Quando leram as Escrituras, pensaram que falava de muitos, porém, a promessa falava de um “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo” ( Gl 3:16 ).

A explicação é clara: “Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência” (v. 8). O povo de Israel pensava que foram eleitos e predestinados para serem filhos de Abraão por serem descendentes da carne de Abraão. Prevaricaram com relação à interpretação das Escrituras, pois eram filhos de Adão “Mas eles transgrediram a aliança, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim” ( Os 6:7 ); “Teu primeiro pai pecou, e os teus intérpretes prevaricaram contra mim” ( Is 43:27 ).

A palavra de Deus foi dada a Sara e também a Rebeca. À Sara foi dito: “Por este tempo virei, e Sara terá um filho”, mas a Rebeca foi dito “O maior servirá o menor”. Por que Deus não disse à Rebeca o mesmo que disse a Sara?

Temos dois eventos a analisar. Quando foi dito a Sara que ela teria um filho, ela era estéril. Com relação à criança herdar a benção de Abraão, bastou Sara despedir Agar dizendo: “Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre” ( Gl 4:30 ).

Quem foi escolhido: Ismael ou Isaque? A resposta é Isaque! E qual foi o parâmetro utilizado para a eleição de Isaque? O parâmetro utilizado para a eleição de Isaque foi o princípio lembrado por Sara: “E disse a Abraão: Ponha fora esta serva e o seu filho; porque o filho desta serva não herdará com Isaque, meu filho” ( Gn 21:10 ). Apesar de Abraão ficar triste com a proposta de Sara, foi Deus que confirmou a escolha, quando disse: “Não te pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a tua descendência” ( Gn 21:12 ).

O que estas passagens demonstram? Que Deus não elegeu Isaque através da sua soberania, antes a escolha possui parâmetro especifico, pois Deus não nega o que é de direito aos filhos dos homens: o filho da escrava não herda com o filho da livre.

Mas, com relação a Esaú e Jacó há um entrave. Qual o parâmetro da eleição entre dois irmãos? A soberania de Deus? Não! A Primogenitura. Entre dois irmãos o primogênito é o eleito para receber a bênção, e a primogenitura é o parâmetro para a escolha. É em função desta peculiaridade que Deus disse a Rebeca: “O maior servirá o menor” (v. 12 ).

Sara e Rebeca eram estéreis. Para Sara foi dito que “Por este tempo virei, e Sara terá um filho”, mas a Rebeca, quando os filhos já estavam para nascer, foi dito “O maior servirá o menor” ( Gn 25:21 -23). Se Esaú não houvesse vendido o direito de primogenitura, Ele seria o eleito. Porém, como vendeu o seu direito de primogenitura, Jacó foi eleito. A escolha de Jacó se deu em função do direito de primogenitura, e não em virtude da soberania de Deus.

Eleito para que? Jacó foi eleito para que da sua linhagem descendesse o Cristo. Para confirmar que Israel foi eleito para trazer a descendência de Cristo, o apóstolo Paulo cita Malaquias: “Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú” ( Ml 1:2 ).

Daí a pergunta: “Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma” (v. 14). Em ambas as escolhas de Deus não houve injustiça, pois Isaque foi escolhido por ser filho da livre, e Jacó por ter adquirido o direito de primogenitura.

O que isto demonstra? Que Deus elege com base no direito estabelecido, o que diverge do pensamento de muitos: que Deus elege e predestina com base na sua soberania.

Para enfatizar esta verdade, o apóstolo Paulo cita o que Deus disse a Moisés: “Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” (v. 15). De quem Deus se compadece? Como já vimos, Deus se compadece daqueles que O amam, um parâmetro firme, pois a sua palavra é fiel “Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo” ( 2Tm 2:11 -13).

Neste ponto o apóstolo Paulo conclui: “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (v. 16). O que Moisés queria? Que Deus riscasse o seu nome do livro da vida caso não demonstrasse misericórdia ao povo. A misericórdia de Deus dependia do querer de Moises? Adiantava Moisés correr em favor do povo? Não!

Tudo depende de Deus, pois é Ele que se compadece. E como Ele demonstra a sua misericórdia? Ele demonstra a sua misericórdia aos que O amam, obedecendo ao seu mandamento.

A má leitura deste versículo é o que dá sustentáculo a doutrina calvinista da eleição absoluta. Enquanto o apóstolo Paulo estava enfatizando que não adiantou Moisés ‘querer’ ou ‘correr’ para que Deus tivesse misericórdia do povo, Calvino equivocadamente utiliza o texto para falar de virtude e mérito quanto à eleição para salvação “Vai, pois, agora, conduze este povo para onde te tenho dito; eis que o meu anjo irá adiante de ti; porém no dia da minha visitação visitarei neles o seu pecado. Assim feriu o SENHOR o povo, por ter sido feito o bezerro que Arão tinha formado” ( Êx 32:34 -35).

Ao ler esta passagem, não se pode perder de vista o aviso de Tiago: “Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo” ( Tg 2:13 ). Este é mais um trocadilho! O que os homens entendem por misericórdia? Definem misericórdia como a virtude que leva um homem a compadecer da miséria alheia.

Seria desta misericórdia que Tiago escreveu? Não! Ele fala da mesma misericórdia que Jesus apresentou aos seus ouvintes no sermão do monte e a misericórdia que os fariseus ainda não haviam aprendido: o juízo de Deus é sem misericórdia sobre os que não O obedecem. A obediência é vitória sobre o juízo.

Esta mesma abordagem é feita por João: “No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor” ( 1Jo 4:18 ). O termo ‘amor’ deve ser lido como ‘obediência’. Na obediência não há temor, antes a obediência perfeita lança fora o medo. É da natureza do temor a pena, de modo que quem teme é porque não obedeceu.

Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!

“O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” ( Lc 18:13 ).

É bom revermos a passagem do fariseu e do publicano.

Ao contar a parábola do fariseu e do publicano, Jesus não fez referência à ideia da eleição ou da predestinação calvinista, e nem da arminianista.

Por que o fariseu não foi justificado? Porque Deus não o elegeu e nem predestinou?

A parábola é clara: o fariseu não foi justificado porque confiavam em si mesmos. Ele não alcançou misericórdia porque acreditava que era justo simplesmente por não roubar, não adulterar, dar o dízimo e jejuar, e por isso veio a desprezar os outros homens.

Com base em que o fariseu confiava em si mesmo? O fariseu confiava na sua carne, que por ser descendente da carne de Abraão fora predestinado por Deus para ser salvo ( Lc 18:9 ).

Já o publicano, ao chegar no templo, bateu no peito, dizendo: – ‘Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!’. O que justificou o publicano? Como o publicano alcançou misericórdia?

Observe que Jesus não fez alusão à ideia de predestinação absoluta, antes faz alusão à outra questão: ‘qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado’ (v. 14).

Deus tem misericórdia dos que se humilham, ou seja, dos que obedecem a sua palavra, visto que só obedecendo é possível se oferecer por servos “Eu amo aos que me amam, e os que cedo me buscarem, me acharão” ( Pr 8:17 ; Jl 2:32 ). A obediência é o principio da auto humilhação: “Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” ( Rm 6:16 ).

É Deus quem se compadece do homem, portanto, não há mérito algum em obedecer a Deus, pois é neste quesito que o homem se humilha, pois se fez servo. Qual é o mérito de alguém que se faz servo? É possível gloriar-se quando um servo se sujeita ao seu Senhor? Há alguma jactância?

Se Deus deu um mandamento, e o homem obedeceu, ofereceu-se por servo. Está é a humilhação que Deus exige: rendição completa à vontade de seu Senhor.

O salmista bendisse a Deus da seguinte forma: “Sê tu a minha habitação forte, à qual possa recorrer continuamente. Deste um mandamento que me salva, pois tu és a minha rocha e a minha fortaleza” ( Sl 71:3 ).

Deus salva os homens através de um mandamento, e não por intermédio de um fado, de uma sina, ou por predestinação. E qual é o mandamento de Deus que salva? “Mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé” ( Rm 16:26 ).

Cristo é a rocha da nossa salvação, e crer n’Ele é o mandamento que salva: “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” ( 1Jo 3:23 ).

Endurece a quem quer

Para compreender a fala do verso 17 de Romanos 9: “Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra”, temos que entender que é Deus que se compadece.

E como Deus se compadece? Ele se compadece tendo misericórdia dos que obedecem.

Ora, Deus deu a oportunidade de Faraó ouvir a palavra, considerar e tomar uma decisão, mas Faraó não deu crédito “Porém o coração de Faraó se endureceu, e não os ouviu, como o SENHOR tinha falado” ( Ex 7:13 ). O endurecimento de Faraó é notório porque foi mantido vivo apesar de resistido a ordem de Deus por várias vezes.

Em seguida é emitido um protesto de Deus contra Faraó: “Porque agora tenho estendido minha mão, para te ferir a ti e ao teu povo com pestilência, e para que sejas destruído da terra; Mas, deveras, para isto te mantive, para mostrar meu poder em ti, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Tu ainda te exaltas contra o meu povo, para não o deixar ir?” ( Ex 9:16 ).

Faraó foi escolhido para desempenhar uma missão, assim como o foi Ciro, e da mesma forma que o foi Israel. A missão de Faraó era tornar conhecido o nome de Deus em toda a terra. Porém, ele ouviu a palavra de Deus e poderia aquiescê-la, mas o fato de ser recalcitrante, afastou a misericórdia de Deus.

É neste ponto que o apóstolo Paulo chega a seguinte conclusão: “Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” ( Rm 9:18 ). Eis o porquê da leitura feita anteriormente: Deus se compadece de quem quer, e Ele quer compadecer-se dos que O obedecem segundo o seu mandamento. Por outro lado, aos que rejeitam o mandamento de Deus, Deus não exerce misericórdia, pois Ele não pode se compadecer dos que rejeitam a sua palavra.

Como Deus quer demonstrar misericórdia aos que O amam, e não quer demonstrar misericórdia aos que rejeitam, certo é que Ele se ‘compadece’ de quem quer e não se ‘compadece’ de quem quer. Novamente temos um trocadilho! Como o rei do Egito tornou-se símbolo de obstinação, de endurecimento e de rejeição à misericórdia de Deus demonstrada, o apóstolo substitui a frase ‘não se compadece’ por ‘endurece’.

A frase: “Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” ( Rm 9:18 ), pode ser escrita da seguinte forma: “Logo, pois, ‘compadece-se de quem quer’, e ‘não se compadece de quem quer’” ( Rm 9:18 ).

Daí a replica dos interlocutores recalcitrantes: Por que Deus se queixa ainda, visto que não temos resistido a sua vontade “Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem resistido à sua vontade?” (v. 19 ). Observe que o que o apóstolo Paulo apresenta neste verso não é o que dizem alguns calvinistas, de que o homem não pode resistir à vontade de Deus. O verso demonstra que os homens argumentavam que de modo algum resistiram à vontade de Deus, porém, estabelecer uma justiça própria é resistir a vontade de Deus ( Rm 10:3 ).

Embora argumentassem que não resistiam à vontade de Deus, na verdade tropeçaram na pedra de tropeço “Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé. Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei; tropeçaram na pedra de tropeço; Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido” ( Rm 9:30 -33).

Qualquer que não obedece a Deus, antes busca servi-Lo pelas obras da lei, não alcança misericórdia. Está resistindo à vontade de Deus, que estabeleceu que a sua misericórdia decorre da justiça da fé ( Rm 10:6 ).

Moisés havia intercedido pelo povo e Deus o atendeu ( Êx 32:11 -14), porém, quando propôs que Deus riscasse o seu nome do livro da vida, Deus demonstrou que a sua misericórdia não estava atrelada ao esforço e disposição de Moisés, antes a misericórdia é de exclusividade dos que amam a Deus. Portanto, o verso em comento não possui relação alguma com a doutrina da predestinação absoluta.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

One thought on “Não depende de quem quer ou de quem corre

  • muito bom irmão abençoado por Deus.

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