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A vontade do homem nada pode contra a sua própria natureza. A vontade do homem não afeta a sua própria natureza em nada, por isso, por mais que tenha vontade de deixar de ser pecador, permanece escravo do pecado. Por mais que queira livrar-se do seu senhor, jamais conseguirá, se não se socorrer de Deus.


A vontade que santifica

“Nesta vontade é que temos sido santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez por todas” ( Hebreus 10:10 )

A Vontade de Deus

A Santificação do homem não ficou a cargo de sua própria vontade e ações. O escritor aos Hebreus enfatiza que a Santificação decorre da vontade de Deus.

É ‘nesta vontade’, ou seja, na vontade de Deus, através da oferta do corpo de Cristo, que os cristãos são santificados. O escritor aos Hebreus ao enfatizar a eficácia do sacrifício de Cristo estabelece um contraste com a lei de Moisés, demonstrando que é por meio da vontade de Deus que o homem é santificado.

O Dr. Shedd em seu livro, Lei, Graça e Santificação disse que:

“O cerne da pecaminosidade humana reside na vontade própria” Shedd, Russell P., Lei, Graça e Santificação, ed. 1998, Editora Edições Vida Nova, Pág. 57.

A Bíblia demonstra que, bem antes do homem pecar, Deus concedeu a ele vontade. Ela também demonstra que os seres angelicais possuem vontade própria. Seria a vontade a essência do pecado? Não! O pecado decorre da natureza decaída, que é contrária a natureza de Deus e é inimiga de Deus.

A vontade do homem nada pode contra a sua própria natureza. A vontade não afeta a natureza do homem, por isso, é dito que o homem é escravo do pecado. Por mais que queira livrar-se do seu senhor, jamais conseguirá, se Deus não intervir.

Por isso a Bíblia diz: “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” ( Jr 13:23 ). A vontade do etíope pode influenciar a sua cor? Se depender da vontade própria, tanto o etíope quanto o leopardo continuarão na mesma condição que vieram ao mundo.

De igual forma, qualquer um dos homens sem estar em Cristo, mesmo que deseje fazer o bem, jamais poderá fazê-lo, porque a sua natureza pecaminosa não permite. Não é questão de vontade, e sim de natureza ( Mq 7:2 ; Sl 14:3 ).

Por isso Jesus disse: “Não pode a árvore boa produzir maus frutos, nem a árvore má produzir frutos bons” ( Mt 6:18 ). Não é questão de vontade, visto que muitos neste mundo desejam fazer boas ações, porém, por não estarem em Deus, as suas ações, por mais nobres que sejam, são fruto de uma árvore que o Pai não plantou.

Nenhum homem que não tenha nascido de novo pode produzir o bem, mesmo que a sua vontade seja sempre fazer o bem aos seus semelhantes “Toda planta que meu Pai celeste não plantou, será arrancada” ( Mt 15:13 ).

Como ser uma planta plantada pelo Pai? Fazendo conforme a vontade d’Ele que é: “Ora, o seu mandamento é este, que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o mandamento que nos ordenou” ( 1Jo 3:23 ). Observe que só a vontade de amar o semelhante não salva, antes é preciso amar conforme o mandamento que Deus ordenou: que creiamos no nome do seu Filho. Melhor dizendo, é impossível amar sem crer em Jesus Cristo. O amor como sentimento não torna o homem uma árvore plantada pelo Pai.

O escritor aos Hebreus, após demonstrar que a lei nunca pode aperfeiçoar os que a cultuavam, apresenta o sacrifício de Cristo ofertado por Deus.

A lei não podia aperfeiçoar, ou seja, tornar justos e santos aqueles que a cultuava por alguns fatores:

  1. A lei não trazia em si a imagem exata das coisas, mas tinha em si a ‘sombra’ dos bens futuros; os ‘bens futuros’ refere-se à graça do evangelho;
  2. continuamente os sacrifícios eram oferecidos, mas ineficazes quanto ao aperfeiçoamento do homem; se os sacrifícios da lei fossem eficazes, no primeiro sacrifício oferecido, já não haveria mais a necessidade de oferecer outros sacrifícios ( Hb 10:1 -2).

A triste realidade quanto aos sacrifícios da lei resume-se na frase: “Mas esses sacrifícios cada ano se faz recordação de pecados, pois é impossível que sangue de touros e de bodes tire os pecados ( Hb 10:3 -4). O escritor aponta a realidade da impossibilidade da lei para introduzir o poder de Deus através da oferta do corpo de Cristo, pois n’Ele torna-se possível a extinção dos pecados.

Diante da impossibilidade do homem tornar-se perfeito diante de Deus (‘Pelo que, ao…’ refere-se à impossibilidade humana de livrar-se do pecado por meio do sangue de touros e bodes) descrito anteriormente pelo escritor ( Hb 10:4 ), é introduzida uma nova ideia que leva o leitor da carta a lembrar-se do que o salmista havia predito sobre a vinda de Cristo ao mundo: “Pelo que, ao entrar no mundo, diz: sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste; não te deleitaste em holocaustos e oblações pelo pecado. Então eu disse: aqui estou (no rolo do livro está escrito de mim) para fazer, ó Deus, A TUA VONTADE ( Sl 40:6 -7).

Os sacrifícios segundo a lei nunca pode tirar os pecados dos homens, mas Deus sim. Não era a oferta e os sacrifícios que podiam livrar os ofertantes da condição de pecado, antes, o ofertante precisava crer em Deus que purifica o homem do pecado ( Sl 51:7 ).

Somente Deus pode criar um coração puro e um espírito novo ( Sl 51:10 ). Após a ação divina é que Deus aceitaria do homem, no A. T., as suas ofertas e sacrifícios ( Sl 51:19 ). A esperança do homem não devia estar nos holocausto, e sim em Deus, que tem poder de circuncidar aos homens nos corações.

A lei era somente sombra dos bens futuros, e nunca pode livrar o homem do pecado por intermédio dos seus sacrifícios. A necessidade do contínuo sacrifício devia-se a impossibilidade dos sacrifícios tirar pecados ( Hb 10:11 ), e constitui-se de per si uma recordação da condição do homem em pecado.

Deus não se deleita em ‘holocaustos e oblações pelo pecado’, pois eles são mera recordação da condição do homem ( Sl 51:16 ). Mas, quando se crê em Deus que tem poder para purificar o homem do pecado ( Sl 51:7 ), então, Deus aceitaria o sacrifício segundo a ‘sombra’ ( Sl 51:19 ; Is 66:3 ). Caso o homem queira se aproximar de Deus por intermédio das obras da lei, sem confiar, permanecerá na mesma condição que veio ao mundo: condenável, culpável e destituído da glória de Deus.

  • “Não te deleitaste em holocaustos e oblações pelo pecado” ( Sl 40:6 );
  • “… nesses sacrifícios cada ano se faz recordação pelos pecados” ( Hb 10:3 )

Diante da impossibilidade do homem, Deus preparou um corpo a Cristo. Como? Cristo nasceu segundo a vontade de Deus, ou seja, à parte da vontade do homem! Se dependesse só da carne, Cristo não viria ao mundo, pois Maria não havia coabitado com José. Se dependesse da vontade de José e Maria, Cristo não viria ao mundo, pois para ser o Santo de Deus era necessário ser gerado pelo Espírito Eterno ( Jo 1:13 ).

Cristo veio ao mundo dos homens segundo a vontade de Deus, e para isto, foi-lhe preparado um corpo ( Hb 10:5 ). Ao ser introduzido no mundo, Cristo tornou-se “participante da carne e do sangue”, conforme a Bíblia diz: “Portanto, visto que os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas (…) pelo que convinha que em tudo fosse semelhante a seus irmãos…” ( Hb 2:14 e 17).

Após Cristo estar de posse de seu corpo humano, ou seja, o Verbo de Deus introduzido no mundo, Ele diz: “Aqui estou, para fazer, ó Deus, a tua vontade… ”. Cristo veio realizar a vontade de Deus, e é através da vontade de Deus que os cristãos são santificados, por intermédio da oferta do corpo de Cristo.

 

A oferta do corpo de Cristo

Deus, em justiça e santidade determinou que, através da oferta do corpo de Cristo, todos os homens que crerem terão acesso ao Santo dos Santos por um novo e vivo caminho. Ou seja, somente pode se achegar a Deus aqueles que são santos, ou que foram santificados.

Qual a vontade de Deus que Cristo se ofereceu para realizar: a oferta do Seu próprio corpo. Tal oferta foi feita de uma vez por todas. No sacrifício de Cristo há os méritos seguintes:

a) uma vez por todas, ou seja, o sacrifício é completo de per si. Não há a necessidade de ser complementado por atividades humanas ( Hb 10:11 -12);
b) um único sacrifício com validade eterna: para sempre, e por isso, Cristo se assentou à destra de Deus ( Hb 10:12 );
c) os que são santificados tornam-se perfeitos “… porque com uma só oferta aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados ( Hb 10:14 ).

Atributos morais não fazem os cristãos perfeitos. A Santificação em Cristo não decorre de atributos morais, ou de uma melhoria no caráter, ou de qualquer outro elemento humano para ‘progredir’ em santificação diante de Deus, pois os que creem já são perfeitos pela natureza adquirida em Cristo: filhos de Deus, filhos da luz “Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas” ( 1Ts 5:5 ).

Os que se convertem ao evangelho por crerem em Cristo tornam-se perfeitos por terem adquirido a natureza do Santo, ou seja, por receberem a plenitude d’Ele.

“… aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados” Os que ‘estão sendo santificados’ diz de pessoas que aceitam a Cristo ao longo do tempo, e não de um processo de santificação ( At 2:39 ). Este versículo não dá sustentação à teoria da santificação progressiva ( Hb 10:14 ).

Muitos querem fazer a obra de Deus, mas esquecem que somente Deus pode realizar a sua obra. A obra de Deus, a salvação, é algo já realizado. Não foi dado aos homens e nem aos anjos realizar a obra de Deus, pois é uma obra concluída ( Hb 10:12 ).

Alguns ouvintes de Jesus desejavam saber qual era a obra de Deus, no intuito de realizá-la, e Jesus lhes respondeu: “A obra de Deus é esta: crede naquele que ele enviou” ( Jo 6:29 ). Como isto é possível? Quando o homem crê em Cristo conforme a Escritura, ele recebe de Deus poder para ser feito filho de Deus.

É quando o homem crê que a obra maravilhosa da Regeneração acontece. Deus dá ao homem uma coração puro e um espírito reto, e o declara justo por ser uma nova criatura inculpável ( Ef 4:24 ). Esta nova criatura é Santa por ser participante da natureza de Deus, diferente dos homens no pecado, que são inimigos de Deus por causa da natureza herdada de Adão.

A base da Justificação e da Santificação se apóia no poder de Deus. Para que o homem seja de novo gerado, precisa da semente incorruptível que é poder de Deus para aquele que crê. Quem crê recebe de Deus poder para ser feito (criado) filho de Deus, ou seja, recebe a ação sobrenatural do evangelho ( Jo 1:12 ).

Cristo nunca perdoou pecado com base na ideia da justiça que se administra nos tribunais, e sim, com base em seu poder “Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, respondeu, e disse-lhes: Que arrazoais em vossos corações? Qual é mais fácil? dizer: Os teus pecados te são perdoados; ou dizer: Levanta-te, e anda? Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra poder de perdoar pecados (disse ao paralítico), a ti te digo: Levanta-te, toma a tua cama, e vai para tua casa” ( Lc 5:22 -24).

Cristo foi ofertado para que, da mesma forma que Ele foi erguido dentre os mortos, nos também sejamos vivificados através do poder de Deus ( Cl 2:12 ). É através da suprema grandeza do poder de Deus, que foi manifesto em Cristo, quando o ressuscitou dentre os mortos, que o crente assenta nas regiões celestiais ( Ef 1:19 -20 e Ef 2:6 ).

Foi da vontade de Deus que Cristo fosse entregue aos malfeitores. Cristo por sua vez ao se oferecer, fez a vontade do Pai. É através da vontade de Deus que os que creem em seu Filho são predestinados a Filhos por adoção. Deus tornou conhecido estes mistérios concernentes à sua vontade. É a vontade de Deus que nos faz herança para louvor da sua graça e glória.

É nesta vontade que temos sido santificados: através da oferta do corpo de Cristo.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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