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O publicano foi justificado por que invocou a Deus consciente da sua condição: pecador. Quando o homem reconhece que é pecador, um errado de espírito, é recebido por Deus como um pobre e órfão, ou seja, é ‘órfão’ e ‘pobre’ por não confiar na carne, confiar que é filho de Abraão. Qualquer que lança mão de sua descendência e tem Abraão por Pai segundo a carne, é rico, abastado, confia nas questões de carne e sangue para ter direito à salvação.


O fariseu e o publicano

Introdução

Apesar do protesto dos profetas e da lei, à época de Cristo muitos judeus confiavam em si mesmos e acreditavam que eram justos “Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!” ( Jr 17:5 ).

Porque acreditavam em si mesmos? O que lhes dava elemento para entenderem que eram justos? Ser descendente da carne e do sangue de Abraão. A carne e o sangue de Abraão era o elemento que tomavam para fazer da carne e do sangue o seu braço.

Eles acreditavam que eram salvos por serem descendentes da carne de Abraão e que eram justos em função da lei de Moisés. Todas as vezes que lhes era apregoado a necessidade de abandonarem os seus conceitos (arrependimento) crendo em Cristo como o salvador, alegavam que tinham por pai Abraão e, consequentemente não eram pecadores “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão” ( Mt 3:9 ); “Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?” ( Jo 8:33 ).

Quando João Batista apregoou o arrependimento, porque havia chegado o reino dos céus, muitos fariseus vieram ao batismo, porém, quando João Batista observou que continuavam confiados que eram salvos por serem filhos de Abraão, ordenou que produzissem o fruto digno de arrependimento, pois deviam confessar que eram salvos porque o reino de Deus estava próximo “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão” ( Mt 3:9 ).

Quando os escribas e fariseus alegavam que eram descendentes da carne de Abraão, estavam fazendo da carne (descendência) o seu braço (salvação). Ora, o ‘braço’ é figura de força, que por sua vez, diz de salvação. É por isso que quando o salmista bendiz a Deus, faz referência ao braço, a força, a salvação de Deus “Com o teu braço remiste o teu povo, os filhos de Jacó e de José” ( Sl 77:15 ); “SENHOR, tem misericórdia de nós, por ti temos esperado; sê tu o nosso braço cada manhã, como também a nossa salvação no tempo da tribulação” ( Is 33:2 ).

Além de se considerarem salvos por serem descendentes de Abraão, repousavam na lei, considerando que por a Lei ter sido entregue a eles, eram guias dos cegos, instrutor dos que nada sabiam ( Rm 2:17 -20).

Em função destas pessoas que cofiavam em si mesmos (que eram filhos de Abraão) considerando-se livres do pecado, justos, que Jesus propõe a parábola do fariseu e do publicano “E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros” (v. 9).

Por se arvorarem como justos, estes que confiavam em si mesmos, desprezavam as pessoas que não eram descendentes de Abraão e que não tinha a lei.

 

A parábola

Jesus contou-lhes a seguinte parábola:

“Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” ( Lc 18:10 -13 ).

Dois homens subiram ao templo para orar. Observe que o objetivo de ambos é idêntico: orar no templo. Ambos eram homens, porém, um fariseu e o outro publicano.

Ora, à época, aos olhos dos judeus, ser cobrador de impostos era oficio de pecador. Mas, havia dentre os judeus aqueles que eram comissionados pelos Romanos para serem colhedores de impostos, e tal judeu também era discriminado.

Como o fariseu e o publicano foram ao templo, fica implícito que ambos eram judeus, pois se um gentio entrasse no templo, o templo seria tido por profanado ( At 21:28 ).

Zaqueu era publicano e considerado pelos judeus um pecador: “E eis que havia ali um homem chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico (…) E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador” ( Lc 19:2 ). Foi quando Jesus alerta que naquele dia entrou salvação na casa de Zaqueu, que apesar de cobrador de impostos, também era filho de Abraão.

Jesus era tachado de amigo dos publicanos e pecadores por comer com eles “E os escribas deles, e os fariseus, murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?” ( Lc 5:30 ).

O farisaísmo, por sua vez, era o mais severo ramo do judaísmo “Sabendo de mim desde o princípio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu” ( At 26:5 ). Por se considerarem justos, os fariseus desprezavam as pessoas, não comiam com pessoas de outros povos e, nem mesmo as saldava “E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?” ( Mt 5:47 ).

Jesus retrata primeiramente o fariseu quando no templo: “O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo” (v. 11).

O fariseu seguro de si, ao postar-se de pé ( Mt 6:5 ), agradeceu a Deus por não ser como os demais homens.

Segundo a concepção daquele fariseu, o que o tornava diferente dos demais homens? O comportamento segundo a lei, pois para ele os demais homens eram roubadores, injustos e adúlteros.

Ele se julgava diferente até mesmo de outro descendente de Abraão, pois o outro exercia o encargo de publicano entre os filhos do povo de Israel. Por fim arremata: – Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto possuo!

O publicano por sua vez, também se postou de pé, mas de longe, e não arriscou levantar os olhos para os céus, e disse batendo no peito: – “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (v. 13).

E Jesus concluiu a parábola dizendo: “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado” (v. 14).

 

Justificação

Porque o publicano saiu do templo justificado e o fariseu não?

Uma coisa é certa: Deus não faz acepção de pessoas, e como Ele justificou o gentio Abrão quando creu, certo é que o publicano foi justificado por confiar em Deus ( Gn 15:6 ; Rm 4:3 -8).

Se Deus justificou o gentio Abrão porque creu e prometeu justificar todos os povos, certo é que os gentios seriam justificados se cressem na promessa: o Descendente “Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão” ( Gl 3:6 -9).

O profeta Isaías, ao falar do Descendente prometido a Abraão, descreve o Cristo como o servo do Senhor, o justo, que justificará a muitos com o seu conhecimento “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si” ( Is 53:11 ).

O salmista, ao falar da justiça de Deus, assim profetizou: “Salva-me, ó Deus, pelo teu nome; faze-me justiça pelo teu poder ( Sl 54:1 ). Ora, Deus salva o homem que invoca o Seu Nome, e a justiça de Deus é estabelecida pelo Seu poder. Verifica-se então que Cristo é a Destra do Altíssimo, o poder de Deus “Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra poder de perdoar pecados (disse ao paralítico), a ti te digo: Levanta-te, toma a tua cama, e vai para tua casa” ( Lc 5:24 ); “E há de ser que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como disse o SENHOR, e entre os sobreviventes, aqueles que o SENHOR chamar” ( Jl 2:32 ); “Tu tens um braço poderoso; forte é a tua mão, e alta está a tua destra” ( Sl 89:13 ); “O SENHOR desnudou o seu santo braço perante os olhos de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus” ( Is 52:10 ); “QUEM deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do SENHOR?” ( Is 53:1 ).

O publicano foi justificado por que invocou a Deus consciente da sua condição: pecador. Quando o homem reconhece que é pecador, um errado de espírito, é recebido por Deus como um pobre e órfão, ou seja, é ‘órfão’ e ‘pobre’ por não confiar na carne; por não confiar que é filho de Abraão. Qualquer que lança mão de sua descendência e tem Abraão por Pai segundo a carne, é rico, abastado, soberbo, pois confia nas questões de carne e sangue para ter direito à salvação “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão” ( Mt 3:9 ); “Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?” ( Jo 8:33 )..

Como o publicano clamou a Deus e apresentou-se como pecador, assumiu a condição de pobre de espírito, aflito, necessitado, humilde, portanto, Deus lhe fez justiça, tomando-o por filho “Fazei justiça ao pobre e ao órfão; justificai o aflito e o necessitado” ( Sl 82:3 ; Sl 34:18 ; Is 57:15 ).

Quando o salmista confessa ser pecador, e que o seu pecado era contra Deus somente, estava consciente que era pecador por descender de Adão, e que ser descendente de Abraão não o justificava “Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares” ( Sl 51:4 ).

Apesar de ser judeu, da tribo de Judá, Davi não se arrogou no direito à salvação por ser descendente da carne de Abraão, antes confessou que era pecador como todos os homens “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” ( Sl 51:5 ; Sl 14:2 -4).

Ciente da sua condição, o salmista invoca o Senhor, dizendo: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto” ( Sl 51:10 ). O cobrador de imposto comportou-se como Davi! Clamou ao Senhor para que tivesse misericórdia, pois era pecador.

Tanto Davi quanto o publicano entenderam que não eram filhos de Abraão, pois ser ‘filho de Abraão’ significa ser filho de Deus, ou seja, salvo, bem-aventurado. Perceberam que na verdade não possuíam pai, em função de Adão tê-los vendido juntamente com toda a humanidade ao pecado. Segundo a carne e o sangue, Adão é o primeiro pai da humanidade, que ao desobedecer vendeu todos seus descendentes ao pecado. Daí as figuras do órfão, da viúva, do necessitado, do que chora e do triste “Fazei justiça ao pobre e ao órfão; justificai o aflito e o necessitado” ( Sl 82:3 ).

O cobrador de imposto não precisou apresentar sacrifícios, pois a sua confissão era o verdadeiro sacrifício exigido “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” ( Sl 51:17 ).

Enquanto o fariseu aproximou-se do templo confiado em seus sacrifícios (dízimos e jejuns), crente que era diferente dos outros homens por portar-se segundo a lei (roubadores, injustos e adúlteros), o publicano aproximar-se de Deus reconhecendo sua iniquidade: Tomai convosco palavras, e convertei-vos ao SENHOR; dizei-lhe: Tira toda a iniquidade, e aceita o que é bom; e ofereceremos como novilhos os sacrifícios dos nossos lábios” ( Os 14:2 ).

Estar longe ou perto do templo, em pé ou sentado, olhando ou não para o céu, batendo ou não no peito, não é o que justifica. O que justifica o homem é confiar em Deus que garantiu que aceita os sacrifícios dos lábios como se fossem novilhos.

Para um judeu à época, bastava reconhecer que era pecador e necessitado de Deus, que seria salvo, porém, este sacrifício não ofereciam a Deus. Era mais fácil fazer sacríficos de novilhos que admitir-se um pecador. Embora a lei tenha sido dada os judeus para conduzi-los a Cristo, pois ela demonstra que até mesmo os descendentes de Abraão eram pecadores, gloriavam-se na lei e rejeitaram a Cristo.

Para os gentios, basta confessar que Jesus Cristo é o Senhor que tira o pecado, pois os gentios estavam sem Deus no mundo e não tinham como confiar na carne ( Ef 2:11 -13).

Quando Jesus disse que o cobrador de imposto desceu ‘justificado’, disse de uma obra completa realizada por Deus. O que o publicano não alcançaria por intermédio das obras da lei, alcançou por clamar a Deus, “Seja-vos, pois, notório, homens irmãos, que por este se vos anuncia a remissão dos pecados. E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado todo aquele que crê” ( At 13:39 ).

O termo ‘justificado’ e ‘justiça’ são traduções de palavras gregas semelhantes, em que o verbo dikaiôun é ‘declarar justo’, ‘justificar’ e o substantivo dikaíosis é ‘justificação’, ‘justiça’, e o adjetivo dikaios qualifica o que é ‘justo’.

Na sua maioria os teólogos dizem que ser justificado por Deus é o mesmo que “reconhecer como justo e não de ser justo” Moody, Lucas – Comentário Bíblico Moody (Moody Bible Institute of Chicago), item 14, pág. 80 (grifo nosso).

“O pecador crente é justificado, isto é, tratado como justo (…) A justificação é um ato de reconhecimento divino e não significa tornar uma pessoa justa…” Bíblia de Scofield com Referências, Rm 3:28 , pág. 1147;

‘… o ato judicial de Deus, mediante o qual aquele que deposita sua confiança em Cristo é declarado justo a Seus olhos, e livre de toda culpa e punição’ Bancroft, Emery H., Teologia Elementar, 3º Ed, 1960, Décima Impressão, 2001, Editora Batista Regular, Pág 255.

Porém, a palavra traduzida por justificação é ‘fazer justo’, ‘tornar justo’, ‘declarar justo’, e ao criar o novo homem em Cristo, Deus faz nova todas as coisas. Em Cristo surge um novo homem, com uma nova condição e em um novo tempo! O novo homem é criado em verdadeira justiça e santidade, portanto, a declaração de ‘justo’ que Deus faz recai sobre a nova criatura. Deus nunca declara justo o velho homem gerado em Adão, somente os de novo gerados.

Deus não é o homem para que minta. Ele não declara falsidades. Somente os justos são declarados justos, ou seja, os de novo criados nesta condição. Caso Deus reconhecesse e declarasse uma pessoa justa, embora não fosse, Ele não seria verdadeiro. Portanto, entender que Deus somente trata como sendo justo aquele que Ele justifica, ou seja, que aquele que Ele declara justo não significa que realmente Deus o tornou justo, é dizer que Deus é como o homem e que o sacrifício de Cristo não foi perfeito ( Hb 6:18 ).

Quando o publicano creu, Deus circuncidou o seu coração, momento que recebeu a pena pelo seu pecado: morte (Deus é justo). No mesmo momento Deus criou um novo coração puro e colocou nele um espírito reto (Deus é justificador – Rm 3:26 ; Sl 51:10 ; Ez 11:19 ). Por dois motivos o publicano foi justificado: a) Aquele que está morto está justificado do pecado ( Rm 6:7 ) e ele morreu ao ter o coração circuncidado, e; b) Cristo ressurgiu para a nossa justificação, ou seja, após ganhar novo coração e um novo espirito, o publicano passou a ter vida dentre os mortos, portanto, justo diante de Deus ( Rm 4:25 ).

 

Provérbios e Salmos

“Porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado” (v. 14).

Jesus não afirmou de si mesmo quando disse que os que se exaltam a si mesmo serão humilhados e o que se humilha será exaltado. Ele citou provérbios e os salmos para encerrar a parábola: “Certamente ele escarnecerá dos escarnecedores, mas dará graça aos mansos” ( Pv 3:34 ); “Ainda que o SENHOR é excelso, atenta todavia para o humilde; mas ao soberbo conhece-o de longe” ( Sl 138:6 ).

Tiago também faz uso de tal citação quando diz: “Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará” ( Tg 4:14 ). Como ele escreveu aos judeus da dispersão, repreende-os chamando-os de adúlteros e adulteras por desconhecerem que a amizade com o mundo é inimizade contra Deus ( Tg 4:4 ). Em seguida arremata: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” ( Tg 4:6 ).

Quem são os soberbos e escarnecedores? Todos os ímpios são soberbos por natureza “O SENHOR eleva os humildes, e abate os ímpios até à terra” ( Sl 147:6 ), pois os ímpios desviam se de Deus desde a madre ( Sl 58:3 ).

Ora, os soberbos são o povo de Israel que, apesar de serem ímpios como todos os outros homens ( Sl 14:3 -4 ; Rm 3:9 -20), confiavam em si mesmos que eram justos. É em função desta realidade que profetizou Maria, a mãe de Jesus: “Com o seu braço agiu valorosamente; Dissipou os soberbos no pensamento de seus corações. Depôs dos tronos os poderosos, E elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, E despediu vazios os ricos” ( Lc 1:51 -53).

Enquanto os judeus confiavam na carne e faziam dela o seu braço, Deus desnudou o seu santo braço perante as nações. O pensamento dos soberbos foi desfeito, pois em Cristo está a salvação para os humildes, pobres e famintos “O SENHOR desnudou o seu santo braço perante os olhos de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus” ( Is 52:10 ); “Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura. Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá” ( Is 55:1 -3).

E como humilhar-se a si mesmo? Achegando-se a Deus. Como? Invocando-O. Quando o homem invoca a Deus está ‘limpando’ as mãos manchadas de sangue (violência) ( Is 1:15 -16), que é figura das obras reprováveis segundo a lei. Quando o homem se achega a Deus, Deus limpa o coração. Mas, para isso, é necessário ‘sentir’ o quanto é miserável, lamentar e chorar, pois só assim Deus há de exaltá-Lo convertendo o pranto em riso e a tristeza em gozo “Irei e voltarei ao meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles angustiados, de madrugada me buscarão” ( Os 5:15 ; Tg 4:9 ; Is 61:3 ).

Semelhantemente, após instruir os jovens a ser submisso aos mais velhos, o apóstolo Pedro diz: “… sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte” ( 1Pe 5:5 -6).

Ora, para humilhar-se a si mesmo, necessário é que o homem esteja disposto a aprender de Cristo, pois Ele mesmo disse: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”. Ora, para um judeu resignar-se a aprender de Jesus de Nazaré, um homem que não havia aprendido nos bancos escolares as sagradas letras, era uma humilhação ( Mt 11:29 ; Jo 7:15 ).

Mas, se desejavam salvação, deveriam humilhar-se a si mesmo, ou seja, rejeitar a concepção de que eram filhos de Abraão por questões de carne e sangue e virem a Cristo, pois somente Ele possui palavras de vida eterna.

Portanto, o termo ‘humilde’ em certas passagens bíblicas não se refere ao pobre financeiro, ao iletrado, ao excluído social. Tornar-se ‘humilde’ diante de Deus não se alcança com voto de castidade, voto de pobreza, etc. Ser humilde não é abrir mão dos seus direitos como cidadão. Ser humilde não é colocar-se como ‘capacho’ de outrem. A humildade não advém de questões financeiras, se rico ou pobre, antes a humildade é uma condição do coração, que somente os que aprendem de Cristo e tornam-se seus discípulos possuem. Os humildes de coração são aqueles que verdadeiramente são livres “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” ( Mt 11:29 ); “Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará ( Jo 8:31 -32).

Mas, qualquer que diz: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?” ( Jo 8:33 ), não é humilde, pois confia na sua carne. É soberbo e nada sabe.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

One thought on “O fariseu e o publicano

  • Parabéns, muito bom, me edificou MUITO !!!
    Deus abençoe.

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