Deus requer o impossível do homem
Deus ordena ao povo que lance fora suas transgressões. Lançar fora as transgressões já é algo impossível aos homens, mas Deus determinou ainda que ‘façam’ para si um novo coração e um novo espírito. Como o homem pode ser perfeito? Como é possível ser santo? Como lançar fora as transgressões? Como circuncidar o prepúcio do coração? Como nascer de novo?
Conteúdo do artigo
“Sede vós, pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” (Mateus 5:48).
A Bíblia ensina que os mandamentos de Deus não são difíceis (penosos), mas há inúmeras passagens bíblicas que sugerem que Deus determina o impossível aos homens.
No Sermão da Montanha, Jesus deu a seguinte ordem:
“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” (Mateus 5:48).
A determinação que Jesus deu aos seus ouvintes é a mesma que Deus deu a Abraão: “… anda na minha presença e sê perfeito.” (Gênesis 17:1), e essa é a mesma ordenança que Deus deu ao povo de Israel: “Perfeito serás, como o SENHOR teu Deus.” (Deuteronômio 18:13).
Como ser perfeito como Deus? É possível aos homens serem perfeitos como Ele?
Esta não é a única determinação impossível que Deus deu aos homens. Observe:
As questões se avolumam: Como o homem pode ser perfeito? Como é possível ser santo? Como lançar fora as transgressões? Como circuncidar o prepúcio do coração? Como nascer de novo?
Embora surjam inúmeras questões relacionadas as determinações divina, elas estão intimamente ligadas, pois qualquer que conseguir ser perfeito também será santo. Qualquer que for perfeito e santo é porque lançou de si as transgressões. Qualquer que fez uma incisão ‘cirúrgica’ no coração e ainda permanece vivo, é porque morreu e voltou a viver (João 5:24), ou seja, nasceu de novo.
Ora, como todas as questões estão interligadas, resta que, se respondermos a apenas uma delas, encontraremos a resposta para todas as outras.
Para encontrarmos a resposta, analisemos a seguinte determinação:
“Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes, e fazei-vos um coração novo e um espírito novo; pois, por que razão morreríeis, ó casa de Israel?” (Ezequiel 18:31)
Deus ordena ao povo de Israel que lance fora suas transgressões. Lançar fora as transgressões já é algo impossível aos homens, mas Deus ainda determina que façam para si um novo coração e um novo espírito. E as consequências para quem não obedecer são funestas: “Por que razão morreríeis, ó casa de Israel?”
Quando lemos nas Escrituras determinações imperativas e impossíveis de o homem realizar, como: “lançai de vós as vossas transgressões” ou “criai um coração novo”, temos mais que uma simples ordem dada ao homem; na verdade, temos a Palavra de Deus enviada para cumprir o que lhe apraz. Palavra que contém o poder criativo de Deus que executa a Sua vontade.
Todas as coisas foram criadas através da Palavra de Deus. Quando lemos: “Haja luz” (Gênesis 1:3), vemos no verbo “haja” a vontade de Deus expressa (Apocalipse 4:11). Ou seja, pela vontade de Deus, todas as coisas foram criadas através de Sua Palavra.
E quando lemos: “Sê perfeito” (Gênesis 17:1), temos o mesmo poder em ação. É uma determinação que contém poder, essencialemnte a Palavra criativa de Deus em potência. A vontade de Deus expressa através de Sua Palavra realiza tudo o que Lhe apraz. É desta forma que Deus se expressa como sujeito do verbo “Bara” (criar):
“Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.” (Isaías 55:11).
Como a Palavra do Senhor não volta vazia, Deus a expressa através de verbos imperativos, como é o caso da ordem “haja luz” ou “sê perfeito”. O versículo 11 do capítulo 55 de Isaías demonstra detalhadamente como age a Palavra de Deus quando é proferida para criar (bara).
Somente a Palavra de Deus contém poder criativo. Somente Deus é sujeito do verbo “bara” (criar). Somente Ele traz à existência as coisas que não são através de Sua Palavra (João 1:3).
Como seria possível ao homem criar em si mesmo um novo coração e um novo espírito? (Ezequiel 18:31)
Tal realização é impossível ao homem, mas para Deus o impossível se torna possível pela virtude da Sua Palavra.
Deus ordena que os homens façam para si um coração novo e um espírito novo, e o salmista Davi roga a Deus pedindo essa dádiva:
“Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.” (Salmo 51:10).
A oração do profeta Davi demonstra que somente Deus cria um novo coração e um novo espírito. Esta é uma obra exclusiva operada por intermédio da Sua palavra.
O mesmo Deus que diz: “Lançai de vós as vossas transgressões” ou “criai em vós um coração novo” também diz: “Então espargirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei.” (Ezequiel 36:25), demonstrando que Ele mesmo é o executor da ordem.
Deus, ao espargir água pura sobre o homem, expurga todas as suas transgressões.
Qual é a água pura que Deus esparge sobre os pecadores? Refere-se à Sua palavra criativa que faz tudo novo. Somente o Verbo encarnado, a água pura que Deus lança sobre os homens, pode purificá-los.
É através de Cristo que ocorre o lavar regenerador, e é através dEle também que Deus concede ao homem o que o salmista Davi pediu:
“Dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro em vós um espírito novo…” (Ezequiel 36:26; Salmo 51:10).
Mas, diferente de todas as outras obras criadas (Apocalipse 4:11), criar um novo coração e um novo espírito é uma obra pertinente à redenção do homem. Como o homem não pode processar a sua própria redenção, precisa rogar (crer, invocar) àquele que Deus enviou para realizar essa obra (João 6:29).
A Palavra encarnada veio especificamente para realizar a boa vontade de Deus, a quem pertence tanto o querer quanto o efetuar. Deus quer salvar (querer) e salva (efetuar).
“Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:13; João 6:38).
Verbos imperativos como “lançai” e “fazei” expressam a obra que Cristo veio realizar, ou seja, a boa vontade de Deus para com os homens. E é nesta vontade que os homens alcançam o impossível: são santificados.
“Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo. Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez.” (Hebreus 10:9-10).
Embora Deus tenha expressado a Sua vontade aos homens para que fossem santos, perfeitos, justos, etc., somente um homem se apresentou para fazer essa vontade de Deus: Jesus Cristo, o Verbo encarnado.
“Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade.” (Hebreus 10:9).
Deus expressou a Sua vontade e enviou a Sua Palavra para realizá-la. É Deus quem faz o impossível, pois somkente Cristo, o Emanuel, é quem santifica o homem. É Ele quem lança do homem todas as suas transgressões no mar do esquecimento. Somente Ele torna o homem perfeito ao conceder um novo coração e um novo espírito.
Cristo é a água pura que purifica o homem de todo pecado! Através da circuncisão de Cristo, o corpo do pecado é desfeito, e em Cristo o homem torna-se perfeito (Colossenses 2:10-11). Após a circuncisão do coração, o homem que vivia para o pecado efetivamente morre, é sepultado e só então ressurge um novo homem por causa da Palavra de Deus (Colossenses 2:12).
Cristo é o Poder de Deus e o Verbo de Deus, e vice versa: a Palavra de Deus é o Poder de Deus. A mesma Palavra que agiu quando foi dito: “Haja luz” (Gênesis 1:3; João 1:3, 10) age (Bara) com o mesmo poder naqueles que eram trevas e agora são luz no Senhor. Neste sentido, Isaías profetizou:
“E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita, então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia” (Isaías 58:10).
Vivificar é fazer nascer de novo, ou seja, das trevas nascerá a luz (Colossenses 2:13; Efésios 5:8; João 12:46).
A ordem divina dada a Abraão foi: “… anda na minha presença e sê perfeito” (Gênesis 17:1). A ordem de Deus é clara: anda na minha presença! Para ser perfeito, deve-se andar na presença de Deus. A condição de “perfeição” é consequência de se obedecer à ordem divina.
Por que a ordem divina não é “Sê perfeito” e “anda na minha presença”? Porque “Sê perfeito” refere-se à vontade de Deus, e “anda na minha presença” à ordem divina, ou seja, o convite à salvação. Anda na minha presença equivale a “entrai pela porta estreita” e “necessário vos é nascer de novo”, enquanto “sê perfeito” equivale a “ser uma nova criatura”.
Porque o homem foi destituído da sua glória, e é da vontade de Deus que voltemos a compartilhar da Sua glória. Na presença do Senhor, há fartura de alegria, e a alegria do Senhor é a nossa força (Neemias 8:10).
Assim, para o homem ser perfeito, necessita buscar a presença do Senhor, a mesma presença que Deus prometeu a Moisés que haveria de segui-lo em meio ao deserto (1 Crônicas 16:11; Êxodo 33:14). O homem torna-se perfeito porque somente os retos habitam na presença de Deus (Salmos 140:13).
Se há alegria na presença do Senhor, conclui-se que os retos são bem-aventurados (felizes, alegres). Todas estas referências apontam para Cristo, que é o Braço (força) do Senhor, a Presença do Senhor, a Alegria do Senhor, o Verbo que se fez carne, o poder de Deus, etc. (Êxodo 15:2; Êxodo 15:6).
Ciente desta verdade, o salmista Davi clama ao Senhor que não o lance da Sua presença (Salmos 51:11; Jeremias 23:39), pois na presença do Senhor, somente os retos, os perfeitos, os nascidos da semente incorruptível, vivem perpetuamente.
“Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente” (Salmos 16:11).
Cristo é a vereda da vida. Cristo é a presença do Senhor. Cristo é aquele que o Pai se compraz (alegria). Cristo é o braço do Senhor, ou seja, a Sua força!
Deus pediu a Israel que circuncidassem o coração (Deuteronômio 10:16), mesmo sendo impossível ao homem! Mas, por que Deus anseia que o homem circuncide o coração? Porque somente o coração circuncidado pelo Senhor pode amá-Lo de todo. Afim de que o homem ame a Deus de todo o coração, Deus circuncida o coração do homem (Deuteronômio 30:6). Sómente quando o homem é circuncidado por Deus é recebido por filho.
E como Deus circuncida o coração do homem? Espargindo Ele mesmo água pura! (Ezequiel 36:25). O salmista Davi roga a Deus que o lave, e assim ficaria purificado (Salmos 51:7). Ou seja, quando Deus asperge água pura (Sua Palavra) sobre os homens, eles são purificados de toda imundície.
Da imundície que adquiriram quando juntamente se desviaram de Deus (Salmos 53:3). Todos os homens se desviaram e destituídos foram da glória de Deus por causa da transgressão de Adão. Em Adão, toda a humanidade ‘juntamente’ tornou-se imunda, uma vez que desde a madre os homens se desviam, e andam errados desde que nascem (Salmos 58:3). Portanto, não há quem faça o bem (Salmos 53:3), pois todos (judeus e gentios) são imundos perante Deus.
Para purificar o homem de tal imundície, Deus lança Sua Palavra (água pura, força, poder, alegria…), pois somente ela pode criar um novo coração e um novo espírito. Somente a Palavra do Senhor pode arrancar o coração de pedra, agraciando o homem com um coração de carne (Ezequiel 36:26).
Como o homem lança de si as suas transgressões? (Ezequiel 18:31) Ora, ‘criando’ um novo coração e um novo espírito! O humor do pecador é comparável à sequidão de estio (Salmos 32:4), mas se o aflito ouvir (espargir de água pura) o Deus da sua salvação, se alegrará (Salmos 34:2). Será bem-aventurado (Mateus 5:4).
Qualquer que ouve ao Senhor será bem-aventurado. Comerá o que é bom qualquer que o ouve, e a sua alma viverá (Isaías 55:3). A alma do homem viverá porque Deus circuncida o coração do homem com este propósito: para que o ame de todo coração e viva (Deuteronômio 30:6).
São os pais que devem circuncidar os seus filhos. Os pais segundo a carne circuncidam o prepúcio da carne; o Pai eterno circuncida o prepúcio do coração para que os homens recebam afiliação divina (Colossenses 2:13). Somente através da circuncisão do coração, a circuncisão de Cristo, o homem será perdoado de todo pecado.
Quando a Palavra de Deus diz: “Sede santo”, tem no seu bojo as mesmas considerações pertinentes à palavra: “Sê perfeito”. Esta é a vontade de Deus para com o homem, e é nesta vontade, uma vez que Cristo se ofereceu a Si mesmo, que o homem tem sido santificado por Ele.
Os homens são santos porque Deus é santo. Foi o Senhor que chamou para fora (igreja) um povo adquirido com o precioso sangue do Cordeiro. É Deus que separou para Si um povo zeloso de boas obras.
É o Senhor quem santifica, e por isso ordena ao Seu povo que guardem os Seus mandamentos (Levítico 22:9). Embora Deus ordenasse ao povo que se santificassem através dos cerimoniais e santificassem todos os utensílios da tenda da congregação, foi o Senhor que os santificou quando os separou dentre os povos para serem Seus (Levítico 20:26). Eles seriam santos porque Deus é santo, e não o contrário: porque Deus é santo, haveriam de se santificar (Levítico 11:44).
Portanto, apenas aquele que crê no Senhor é santificado, pois o salmista afirma que o santo ora ao Senhor. Em outras palavras, somente quem confia Nele ora ao Senhor. A oração e a confiança estão intrinsecamente ligadas, pois a oração é a expressão da confiança em Deus através das palavras (Sl 32:6).
A doutrina de Cristo não aceita a ideia de uma santificação progressiva, como alguns interpretam versículos que apresentam a vontade de Deus como imperativa. ‘Sede santo’ é a vontade de Deus claramente expressa, e é por meio dessa vontade que o homem é santificado de uma vez por todas pela oferta do corpo de Cristo.
O apóstolo Pedro demonstra que o novo nascimento só é possível por intermédio da semente incorruptível, que é a Palavra de Deus (1 Pedro 1:3, 1 Pedro 1:22-23). Ele evidencia que os cristãos foram regenerados (criados de novo) por Deus através da semente divina.
Mas, por que nascer de novo? Porque para entrar no reino de Deus é imprescindível ser uma nova criatura criada em justiça e santidade (Efésios 4:24). Somente os que são gerados de novo alcançam justiça superior à dos escribas e fariseus, pois, ao receber a Cristo, o homem passa a estar de posse da justiça de Deus e adquire o direito de entrar no reino dos céus (Mateus 5:20, João 3:3).
Se, para entrar no reino dos céus, é necessário nascer de novo e ter justiça superior à dos escribas e fariseus, segue-se que “novo nascimento” e “justiça” são intrínsecos. Ou seja, somente os de novo gerados são declarados justos, pois os gerados segundo a carne são ímpios diante de Deus.
Jesus recomenda aos seus ouvintes que sejam perfeitos como perfeito é o Pai celeste. Ou seja, qualquer que é gerado segundo a Palavra de Deus é perfeito e, portanto, misericordioso (Mateus 5:48; Lucas 6:36).
Como abordamos anteriormente, todas as perguntas formuladas no início do artigo estão interligadas, visto que o homem torna-se misericordioso porque alcançou misericórdia, e por ter alcançado misericórdia, torna-se perfeito como o Pai celeste. É perfeito porque lhe foi dado um novo coração e um novo espírito, após ter sido circuncidado por Deus. Após a circuncisão do prepúcio do coração, é necessário o novo nascimento, e o homem de novo gerado segundo Deus é declarado justo e santo.
O apóstolo João, ciente desta verdade, assim declarou:
“Vede quão grande amor nos concedeu o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus. E somos mesmo seus filhos! (…) Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque assim como é, o veremos. (…) Porque, qual ele é, somos nós também neste mundo.” (1 João 3:1-2; 1 João 4:17; compare 1 Coríntios 15:48).
Diferente dos homens cujos anseios são expressos em palavras que nada acrescentam à realidade, a Palavra de Deus expressa a Sua vontade, e é através da Sua vontade que os homens são salvos e santificados (1 Timóteo 2:4; Hebreus 10:10).
Onde muitos veem ordenanças, temos a vontade de Deus expressa: “Haja luz”; “Sede santos”; “Sê perfeito”; “Sede misericordiosos”; “Sede perfeitos”, que através da oferta do corpo de Cristo deseja que todos os homens venham e se tornem um (conhecimento = união íntima) com o Pai e o Filho.
Se parece impossível aos homens cumprir a vontade de Deus, segue-se que, para Deus, tudo é possível por intermédio da Sua Palavra, que é o poder de Deus (Mateus 19:26, Marcos 9:23). Para alcançar aquilo que Deus impõe ao homem, basta rogar, invocar, crer, ouvir, atender, etc., ao Senhor, que Ele fará.