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Gálatas 2 – O apóstolo Pedro é repreendido

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A atitude dissimulada de Pedro diante da chegada dos cristãos convertidos do judaísmo influenciou outros cristãos de origem judaica, levando até mesmo Barnabé a se deixar levar. Durante um evento importante, eles chegaram a se afastar dos cristãos convertidos entre os gentios.


Gálatas 2 – O apóstolo Pedro é repreendido

Gálatas 1 – Os problemas decorrentes de outros evangelhos

A viagem a Jerusalém

1 DEPOIS, passados catorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também comigo Tito. 2 E subi por uma revelação, e lhes expus o evangelho, que prego entre os gentios, e particularmente aos que estavam em estima; para que de maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão.

Após um intervalo de quatorze anos, o apóstolo Paulo decidiu finalmente viajar a Jerusalém para se reunir novamente com os apóstolos que haviam convivido com Cristo. Ele empreendeu essa jornada acompanhado por Barnabé e Tito. Não se sabe ao certo se esses quatorze anos são contados desde sua conversão ou desde sua primeira visita a Jerusalém (Gálatas 1:18). É importante lembrar que o apóstolo Paulo, então conhecido como Saulo, havia anteriormente subido à Judeia para prestar auxílio aos irmãos (Atos 11:29-30).

O apóstolo Paulo deixou claro que sua ida a Jerusalém após quatorze anos foi motivada por uma revelação. Durante essa visita, ele apresentou o evangelho que pregava aos gentios à liderança da igreja em Jerusalém. Notavelmente, ao expor seu evangelho aos gentios, Paulo dirigiu-se aos líderes que estavam em destaque na igreja de Jerusalém.

Ele fez questão de apresentar o evangelho que pregava aos gentios para que fosse avaliado pela liderança, assegurando a consistência entre sua mensagem e a dos demais apóstolos. A exposição de Paulo diante dos líderes destacados em Jerusalém não visava buscar aprovação pessoal, mas sim garantir a unidade doutrinária no ensinamento dirigido aos gentios.

O apóstolo Paulo estava determinado a não correr em vão e estava pronto para corrigir qualquer desvio ou discrepância doutrinária em relação ao evangelho que pregava aos gentios.

 

3 Mas nem ainda Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se;

A atitude daqueles que ouviram a exposição do evangelho pregado aos gentios, em não insistirem na circuncisão de Tito, demonstrou que o que Paulo anunciava estava em conformidade com o evangelho dos outros apóstolos de Cristo.

Eles receberam Paulo de maneira favorável e não recriminaram nem pressionaram Tito, seu companheiro grego, a se circuncidar. Esta atitude deles claramente mostrou que o evangelho proclamado pelo apóstolo Paulo estava alinhado com o evangelho anunciado pelos outros apóstolos e por Cristo.

A expressão “nem mesmo” indica que se alguém precisasse observar alguma exigência da Lei, esse alguém seria Tito, por ser grego e não circuncidado. Se os apóstolos de Jerusalém estivessem insistindo na circuncisão, Tito seria o primeiro a ser confrontado, dado que ele era grego e incircunciso.

O destaque dado pelo apóstolo Paulo ao fato de ter levado consigo Tito evidencia um teste prático. O apóstolo Paulo, sendo um cristão convertido entre os judeus e portanto circuncidado, não seria alvo de repreensão ou censura. No entanto, ao incluir em sua comitiva um grego não circuncidado, o apóstolo Paulo estava observando atentamente como os cristãos de Jerusalém reagiriam à presença de seu companheiro.

 

4 E isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão;

A exposição do evangelho que Paulo pregava entre os gentios aos líderes de Jerusalém foi necessária devido à presença de falsos cristãos que se infiltravam entre os seguidores de Cristo. Estes “falsos irmãos” eram assim chamados porque tentavam submeter os servos de Cristo novamente à servidão da Lei. Eles observavam a liberdade dos cristãos, concedida por Cristo e que os libertou da observância da lei mosaica, buscando assim escravizá-los novamente.

O objetivo principal do apóstolo Paulo ao expor o evangelho de Cristo aos outros apóstolos em Jerusalém era dissipar qualquer dúvida entre os cristãos acerca das falsas doutrinas dos judaizantes. Além disso, ele buscava reafirmar e defender seu próprio apostolado.

A exposição do evangelho aos líderes em Jerusalém não apenas visava esclarecer e unificar o entendimento sobre a verdadeira mensagem de Cristo, mas também proteger os cristãos da influência prejudicial dos falsos ensinamentos que visavam comprometer a liberdade encontrada em Cristo Jesus.

Observa-se que os “falsos irmãos” chegaram a Antioquia exigindo que os cristãos convertidos dentre os gentios fossem circuncidados, o que provocou uma intensa discussão dentro da igreja (Atos 15:1-2). O apóstolo Paulo e outros irmãos decidiram então ir a Jerusalém porque esses mesmos falsos irmãos, provenientes de Jerusalém, estavam propagando a mensagem enganosa de que “se não vos circuncidardes conforme o costume de Moisés, não podeis ser salvos”.

 

5 Aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós.

Chegando a Jerusalém, o apóstolo Paulo foi inicialmente bem recebido pela igreja, pelos apóstolos e pelos anciãos. No entanto, dentro da própria igreja em Jerusalém, havia cristãos convertidos da seita dos fariseus que começaram a defender abertamente que os gentios convertidos deveriam se circuncidar e observar a lei de Moisés (Atos 15:5). Se Paulo não tivesse subido a Jerusalém nesse momento, é provável que esses  fariseus disfarçados de cristãos teriam permanecido em silêncio, enquanto os seus enviados as comunidades cristãs continuavam a pregar um evangelho diferente, utilizando a credibilidade de serem de Jerusalém.

O apóstolo Paulo não cedeu nem por um momento às considerações judaizantes. Este era um momento estratégico e crucial para garantir a continuidade da verdade do evangelho sem comprometimentos com a lei (Atos 15:2-5).

Estrategicamente, para facilitar a propagação do evangelho entre os judeus, o apóstolo Paulo permitiu que Timóteo fosse circuncidado, não como um requisito para a salvação, mas para abrir mais portas para a proclamação do evangelho (Atos 16:3; 1 Coríntios 9:20). Contudo, em relação à visita a Jerusalém, Paulo demonstra que não devemos comprometer nem por um instante com ensinamentos errôneos.

Esses eventos nos ensinam a não sermos condescendentes com erros que possam comprometer a verdade do Evangelho. O apóstolo Paulo demostrou claramente que a salvação é pela graça mediante a fé em Cristo Jesus, e não por observâncias a rituais da lei de Moisés.

 

Ao interpretar as cartas do apóstolo Paulo, é crucial entender que ele frequentemente interrompe a sequência da exposição principal para abordar aspectos secundários que precisam ser esclarecidos, retornando em seguida ao tema central.

Um exemplo claro dessa quebra na exposição pode ser encontrado neste capítulo. O verso dois continua a narrativa histórica das viagens de Paulo, enquanto o verso três é inserido para destacar que o evangelho que ele anunciava foi confirmado pelos outros apóstolos. Este verso três aparece isolado no texto e só se torna compreensível dentro do contexto mais amplo da carta. Por sua vez, o verso quatro explica por que Paulo expôs o evangelho que pregava aos gentios aos cristãos de Jerusalém.

No verso cinco, o apóstolo Paulo demonstra sua postura diante dos judaizantes, esclarecendo novamente por que ele rotulou certas pessoas na igreja como “aqueles que parecem ser alguma coisa”.

Essa estrutura não linear das cartas de Paulo reflete sua abordagem didática e pastoral, onde ele não apenas transmite informações históricas e doutrinárias, mas também responde a questões específicas e esclarece mal-entendidos dentro das comunidades cristãs a quem ele escreve. Portanto, para uma interpretação precisa, é essencial considerar o contexto geral da carta e entender como o apóstolo Paulo desenvolve seus argumentos e ensinamentos ao longo do texto.

O evangelho aos gentios

6 E, quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais tenham sido noutro tempo, não se me dá; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicaram;

O apóstolo Paulo destaca que entre os cristãos de Jerusalém havia aqueles que “pareciam ser alguma coisa”. Essas pessoas se referem claramente aos convertidos do judaísmo, que anteriormente tinham uma posição de destaque nessa religião. Eles não eram os apóstolos que receberam Paulo quando ele chegou a Jerusalém, mas sim indivíduos proeminentes na comunidade judaica.

Que tipo de aparência Deus não aceita? Essa aparência se refere a elementos doutrinário segundo a “carne”, como circuncisão, linhagem, nacionalidade, entre outros.

“Porque não nos recomendamos outra vez a vós; mas damo-vos ocasião de vos gloriardes de nós, para que tenhais que responder aos que se gloriam na aparência e não no coração. (…) Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo.” (2 Coríntios 5 : 12 e 16);

“Rogo-vos, pois, que, quando estiver presente, não me veja obrigado a usar com confiança da ousadia que espero ter com alguns, que nos julgam, como se andássemos segundo a carne. Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne. (…) Olhais para as coisas segundo a aparência? Se alguém confia de si mesmo que é de Cristo, pense outra vez isto consigo, que, assim como ele é de Cristo, também nós de Cristo somos.” (2 Coríntios 10:2-3 e 7).

Observe que os escribas e fariseus, ao tentar pegar Cristo em alguma contradição, usavam de artifícios, como argumentar que Cristo não se deixava levar pela aparência das pessoas.

“E, chegando eles, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és homem de verdade, e de ninguém se te dá, porque não olhas à aparência dos homens, antes com verdade ensinas o caminho de Deus; é lícito dar o tributo a César, ou não? Daremos, ou não daremos?” (Marcos 12:14).

Aqueles que pareciam importantes no antigo sistema judaico nada acrescentaram ao apóstolo Paulo, pois ele considerou todas essas coisas como sem valor diante de Cristo, até mesmo como esterco.

“Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo.” (Gálatas 6:12);

“As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne.” (Colossenses 2:23).

A rejeição da aparência pelo apóstolo Paulo se evidencia nos critérios segundo a carne enumerados no verso 5 do capítulo 3 da Epístola aos Filipenses.

“Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne. Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo,” (Filipenses 3:3-8).

 

7 Antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão 8 (Porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para com os gentios),

A autoridade que o apóstolo Paulo teve entre os gentios ao comunicar a graça de Deus foi reconhecida pelos cristãos em Jerusalém, da mesma forma como o apóstolo Pedro foi reconhecido entre os judeus ao pregar o evangelho.

O apóstolo Paulo deixou claro em suas próprias palavras:

“Para o que fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios.” (2 Timóteo 1:11).

Os irmãos em Jerusalém reconheceram o apostolado de Paulo e testemunharam como Deus operava poderosamente através dele, da mesma maneira que operava através de Pedro. Embora a audiência e o contexto fossem diferentes — Pedro entre os circuncisos e Paulo entre os gentios — a mensagem do evangelho era a mesma.

Ambos serviram ao evangelho não baseados em méritos humanos, mas na capacitação divina. A intrepidez de Pedro ao proclamar o evangelho aos judeus foi equiparável à de Paulo ao anunciar a mensagem aos gentios. Em ambos os casos, Deus operou eficazmente através deles para propagar a Palavra salvífica.

Esta comparação ressalta a unidade do espírito (evangelho) na diversidade do ministério apostólico, onde diferentes contextos e públicos não diminuíram a obra poderosa de Deus através de seus servos (Efésios 4:13).

 

9 E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão;

O relato do apóstolo Paulo aos cristãos da Galácia demonstra claramente que o evangelho que ele anunciava estava alinhado com a mensagem proclamada pelos outros apóstolos.

Pedro, João e Tiago eram considerados pilares da igreja, e quando souberam do trabalho realizado por Paulo entre os gentios, não apenas não o recriminaram, mas estenderam-lhe a mão em comunhão plena.

Isso evidencia que Tiago, Pedro e João também reconheceram o ministério de Barnabé, que foi fundamental ao apresentar o apóstolo Paulo aos demais apóstolos (Atos 9:27). Assim, foi estabelecida uma comunhão na qual ficou claro que havia duas frentes de evangelismo: os apóstolos de Jerusalém se concentrariam nos judeus, enquanto Paulo e Barnabé se dedicariam aos gentios.

Essa colaboração demonstra a unidade na diversidade do trabalho apostólico, onde diferentes contextos e públicos-alvo foram abraçados com o mesmo evangelho de Cristo.

 

10 Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência.

O relacionamento entre o apóstolo Paulo e os pais da igreja em Jerusalém foi marcado por uma única recomendação em relação à administração dos bens destinados aos pobres, não envolvendo qualquer contestação ao conteúdo do evangelho que Paulo pregava.

Após receber essa determinação, Paulo passou a tratá-la com extrema diligência. Isso é evidente nas suas cartas aos Coríntios, onde ele busca incansavelmente a sinceridade no amor dos irmãos, expressa através de uma generosa contribuição (2 Coríntios 8:8).

Sempre que Paulo aborda o cuidado com os pobres, ele interrompe a sequência de sua narrativa para introduzir o tema da coleta para os santos: “Ora, quanto à coleta para os santos…” (1 Coríntios 16:1); “E agora, irmãos…” (2 Coríntios 8:1); “Ora, quanto à assistência…” (2 Coríntios 9:1).

Essas interrupções mostram que Paulo enfatizava a importância da contribuição para sustentar os pobres, conforme a recomendação que havia recebido. Isso demonstra não apenas sua obediência aos líderes da igreja em Jerusalém, mas também sua preocupação genuína com o cuidado e a solidariedade dentro da comunidade cristã.

 

O comportamento reprovável do apóstolo Pedro

11 E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. 12 Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão.

O encontro do apóstolo Pedro em Antioquia deveria ter confirmado o evangelho pregado por Paulo, mas o comportamento de Pedro não estava em linha com a verdade do evangelho.

O comportamento de Pedro tinha o potencial de influenciar negativamente a compreensão do evangelho de Cristo, especialmente por ele ser uma das colunas da igreja primitiva. Diante disso, Paulo não hesitou em resistir (ou repreender) Pedro abertamente, na presença de todos.

Paulo confrontou a atitude de Pedro não por questões pessoais ou de posição, mas porque aquilo representava um risco para a essência do evangelho. Ele não contestou Pedro como pessoa ou como líder, mas a conduta específica que poderia criar obstáculos ao entendimento correto da mensagem de Cristo.

O apóstolo Pedro estava comendo com os gentios, mas ao perceber a chegada de Tiago e outros irmãos da circuncisão, ele ficou receoso e se afastou dos gentios para se juntar aos cristãos da circuncisão. O motivo pelo qual o apóstolo Pedro temeu os da circuncisão não é explicitamente declarado, mas pode-se inferir que ele receou possíveis consequências negativas entre seus concidadãos judaicos.

Essa mudança de comportamento do apóstolo Pedro revela como o medo da reação dos cristãos judaicos influenciou suas ações, levando-o a se distanciar dos gentios, com quem anteriormente compartilhava a mesa.

Esse episódio demonstra a firmeza de Paulo em defender a pureza e a integridade da mensagem evangélica, sem permitir que influências ou comportamentos inadequados distorcessem sua propagação entre os cristãos.

 

13 E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação.

A dissimulação de Pedro teve um efeito contagioso sobre outros cristãos de origem judaica, incluindo Barnabé, que também se afastou da mesa dos gentios.

O apóstolo Paulo aborda um ponto crucial: o comportamento dos cristãos deve estar alinhado com suas crenças. Como seguidores de Cristo, não devemos adotar posturas que contradigam os princípios das Escrituras. Se Deus não faz acepção de pessoas, nós também não devemos agir de maneira discriminatória ou parcial.

A única coisa que diferencia os indivíduos diante de Deus é o novo nascimento. Em outras palavras, a regeneração pela palavra de Deus é o único critério que importam aos olhos de Deus, não questões externas como origem étnica ou práticas culturais.

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14 Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?

O versículo mencionado traz lições importantes tanto da parte do apóstolo Paulo quanto de Pedro:

  1. Paulo defendeu o evangelho sem buscar destaque: Ele não agiu por motivos pessoais ou para ganhar posição na igreja.
  2. A repreensão foi pública e não facciosa: Foi feita diante de todos para evitar fofocas e para que a verdade fosse claramente comunicada.
  3. Foi uma repreensão para preservar a unidade na igreja: Paulo queria evitar qualquer ideia de distinção entre judeus e gentios na comunidade cristã após a conversão.
  4. A correção foi dirigida diretamente a Pedro: Como líder responsável pela dissimulação, Pedro foi confrontado de maneira direta.
  5. Pedro humildemente aceitou a correção: Mesmo sendo uma figura proeminente, Pedro demonstrou humildade ao reconhecer seu erro.
  6. Pedro não usou seu prestígio para justificar-se: Ele não se apoiou em sua posição ou influência para evitar a repreensão.
  7. O erro de Pedro era comportamental, mas significativo espiritualmente: A dissimulação poderia ter afetado sua vida espiritual e a da comunidade se não fosse corrigida.

Esses versículos ensinam que os cristãos não devem tolerar comportamentos que vão contra a verdade do evangelho. Líderes especialmente precisam aprender a humildade e a servir a Cristo, ao invés de agirem como senhores de si mesmos.

“Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas. Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor.” ( Timóteo 5:19-20).

O apóstolo Paulo argumenta que não é correto exigir que os gentios vivam como judeus, mostrando a importância de vivermos em conformidade com os princípios do evangelho sem impor expectativas externas que não têm base na graça e na liberdade que Cristo proporciona.

 

A fé em Cristo justifica

14 Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus? 15 Nós somos judeus por natureza, e não pecadores dentre os gentios.

O apóstolo Paulo foi direto ao lembrar a Pedro que, sendo judeu, ele vivia como os gentios, mas estava tentando obrigar os gentios a viverem como judeus.

Ao dizer: Nós somos judeus por natureza, e não pecadores dentre os gentios.”, o apóstolo Paulo construiu aqui, uma frase que demonstra a falsa superioridade dos judeus (Romanos 3:9). Por natureza os da circuncisão eram tanto judeus quanto pecadores. Sem contradição alguma, pois todos os homens pecaram em Adão, de modo que é plenamente possível ser judeu e pecador.

A condição de judeu é determinada pela filiação em Abraão (natural), e não por Deus. Da mesma forma que a condição de pecadores não decorre de Deus, mas da natureza decaída herdada de Adão.

 

16 Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.

O apóstolo Paulo enfatiza um conhecimento fundamental para todos os cristãos: o homem não é justificado pelas obras da lei, mas sim pela fé em Cristo.

Todos os cristãos reconhecem que é pela fé em Cristo que eles são justificados, pois é amplamente entendido que ninguém é justificado pelas obras da lei. Uma vez que a lei não pôde proporcionar justificação, é somente através de Cristo que a justificação é alcançada.

O apóstolo Paulo distingue claramente entre dois sistemas doutrinários antagônicos: as “obras da lei” e a “fé em Jesus Cristo”. Quando ele menciona as “obras da lei”, está especificamente refutando a doutrina da circuncisão e outras práticas judaicas que eram vistas como necessárias para a justificação diante de Deus.

Essa distinção é importante porque, ao falar das “obras da lei”, o apóstolo Paulo se refere às práticas legais e rituais do judaísmo, como a circuncisão, os sacrifícios, os jejuns, entre outros, que não têm poder para justificar alguém diante de Deus. Essas práticas foram substituídas pela fé em Jesus Cristo como o único meio de justificação.

É crucial entender que, mais tarde na história do cristianismo, o termo “obras” passou a englobar uma ampla gama de práticas religiosas, como indulgências, esmolas, boas ações, entre outras, que algumas vezes foram vistas pela Igreja Católica como necessárias para a salvação.

Quando o apóstolo Paulo fala das “obras da lei”, ele está especificamente se referindo aos preceitos legais e rituais judaicos, como a circuncisão, os sacrifícios, os ritos de pureza, entre outros, que eram vistos como necessários para a justificação diante de Deus de acordo com a Lei de Moisés.

Essas “obras da lei” são distintas das “obras” que surgiram posteriormente como tema central na Reforma Protestante. Durante a Reforma, o conceito de “obras” foi ampliado para incluir qualquer esforço humano na tentativa de alcançar a salvação ou agradar a Deus, seja através de boas ações, esmolas, penitências, sacramentos, entre outros atos religiosos.

Portanto, ao discutir as “obras da lei”, o apóstolo Paulo está confrontando a ideia de que a observância de rituais e preceitos legais pode justificar alguém diante de Deus. Esse ponto é crucial para entender a distinção entre as “obras da lei” abordadas pelo apóstolo Paulo e o conceito mais amplo de “obras” discutido posteriormente no contexto da Reforma Protestante.

 

17 Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma.

Todos os cristãos sabiam e proclamavam que eram salvos (justificados) pela fé em Cristo. Todos os cristãos, incluindo o apóstolo Paulo, creram em Cristo para serem justificados pela “fé em Cristo” e não pelas obras da lei (Gálatas 2:16).

Embora os cristãos professassem essa verdade, nem todos compreendiam completamente o significado de ser justificado em Cristo. Essa verdade é ensinada em minúcias aos cristãos em Roma:

“Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele que está morto está justificado do pecado.” (Romanos 6:6-7).

Ao buscar a justificação em Cristo através da fé, e não por obras da lei, os cristãos certamente deixaram para trás a condição de pecadores. Não é razoável ser justificado em Cristo e, ao mesmo tempo, permanecer como pecador. Não é compreensivo estar morto para o pecado e continuar servindo ao pecado.

Por natureza, um judeu é pecador. Se ele busca salvação por meio das obras da lei, permanecerá separado da vida em Deus porque é pecador. No entanto, se uma pessoa se refugia em Cristo, seja judeu ou gentio, e ainda se considera pecadora, isso implicaria que Cristo é ministro do pecado, o que é contraditório!

O apóstolo não está discutindo comportamentos ou condutas errôneas que também dá-se o nome pecados, mas sim a natureza sob domínio do pecado cujo aguilhão é a morte. O apóstolo Paulo é enfático: Se após estar em Cristo, o cristão ainda permanece sendo pecador, ou seja, mantém a velha natureza herdada de Adão, então Cristo estaria sendo visto como ministro do pecado.

Só ao expor esse raciocínio absurdo de Cristo ser ministro do pecado, o apóstolo Paulo prontamente interpõe uma ressalva: De maneira nenhuma! Ou seja, aquele que busca ser justificado em Cristo deixa de ser pecador.

Esse entendimento é confirmado por João: “Todo aquele que é nascido de Deus não peca, pois a semente de Deus permanece nele; ele não pode pecar, porque é nascido de Deus” (1 João 3:9). Aqueles que creem em Cristo compartilham da natureza divina e não mais se sujeitam ao pecado (2 Pedro 1:4).

Se alguém que é nascido de Deus não peca, então todos aqueles que não são nascidos de Deus estão em pecado e pertencem ao diabo. Para ser nascido de Deus, é necessário ser gerado de novo pela semente incorruptível, que é a palavra do evangelho (João 1:13).

Com essa abordagem, o apóstolo Paulo queria que os cristãos compreendessem que se, mesmo após serem justificados em Cristo, ainda sentissem a necessidade de praticar as obras da lei, então estariam permanecendo em pecado, e isso implicaria que Cristo seria visto como ministro do pecado.

“Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo;” (1 Pedro 1:13).

É certo que Cristo morreu pelos cristãos, sendo eles (nós) ainda pecadores. Quando o homem aceita a Cristo, é porque reconheceu a sua condição de pecador e a necessidade de Jesus como redentor. Depois de aceitá-Lo, vive um novo tempo de paz, amor e justiça, pois se torna uma nova criatura em Cristo Jesus, isenta de condenação (Romanos 8:1).

“Noutro tempo”, os cristãos eram pecadores, mas agora estão assentados nas regiões celestiais em Cristo, pois tudo se fez novo: são novas criaturas, em uma nova condição e vivem em um novo tempo (Efésios 2:1-3).

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (2 Coríntios 5:17).

Se buscamos nossa justificação em Cristo, é para não permanecermos pecadores. Porém, se ainda somos considerados pecadores mesmo após estarmos com Cristo, Ele seria visto como ministro do pecado. No entanto, Cristo não é ministro do pecado, portanto não podemos mais ser tidos como pecadores. Se estamos em Cristo e ainda persistimos em ser pecadores e dependemos da lei, só podemos concluir que há desesperança.

 

Edificando o que foi destruído

18 Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor.

Este versículo é significativo para a compreensão da salvação em Cristo.

Ao crer em Cristo, o apóstolo Pedro abandonou os pressupostos que seguia segundo as obras da lei. No entanto, ao ceder ao medo e dar vazão a certas imposições da circuncisão, ele estava reconstruindo o que havia destruído, o que o colocaria novamente na condição de transgressor.

Não é Cristo quem lança fora os cristãos, mas eles mesmos, ao se apegarem a conceitos errôneos, podem caminhar em direção à perdição. O apóstolo Paulo estava alertando que, caso os cristãos voltassem a seguir a lei, estariam se tornando transgressores.

A Bíblia declara que nada pode separar o crente do amor que está em Cristo Jesus, mas não inclui entre essas coisas o próprio crente, caso ele volte a reconstruir o que destruiu.

“Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 8:37-39)

O versículo evidencia que a salvação de Deus é eficaz e permanente na vida do crente. A salvação em Cristo é poderosa e eterna, e enquanto o homem permanecer em Cristo, jamais se perderá. No entanto, se este mesmo homem voltar a reconstruir o que antes havia destruído, ele se tornará novamente transgressor diante de Deus.

O homem deve crer em Deus para ser salvo; no entanto, a fé se manifesta também na perseverança, como Tiago mencionou (Tiago 1:4). Aqueles que estão diante do Pai nunca serão lançados fora, mas se o homem retroceder, trará sobre si a perdição.

Se a salvação fosse operada através da eleição e predestinação, como alguns reformadores ensinaram, ou se fosse determinada por um destino previamente traçado pela soberania ou onisciência de Deus, não haveria a necessidade de alertar os cristãos sobre possíveis desvios doutrinários. O apóstolo Paulo não precisaria enfatizar a importância da perseverança na fé nem defender a verdade do evangelho se a salvação fosse determinada antes dos homens nascerem.

Ao considerar a exortação de que “se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor”, é importante entender o que é destruído pela fé em Cristo. Não são as “obras da lei” que são destruídas, pois essas continuam sendo praticadas pelos judeus como um sistema doutrinário separado do evangelho. O que é destruído pela fé em Cristo é o corpo do pecado, conforme ensinado por Paulo em Romanos 6:6, onde ele diz que o velho homem foi crucificado com Cristo.

Em Filipenses, a destruição do corpo do pecado é ilustrada pela circuncisão espiritual em Cristo, que é o despojamento do corpo do pecado (Colossenses 2:11). Portanto, quando o apóstolo Paulo se refere a “edificar o que destruí”, está indicando que o corpo do pecado, que foi crucificado com Cristo e morto para o pecado, está sendo restaurado ou reconstruído. Isso significa que a pessoa está retornando à sua antiga condição de estar sob o domínio do pecado, ou seja, novamente é considerada pecadora diante de Deus.

 

19 Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus.

O apóstolo Paulo ensina que ele estava morto para a lei, o que significa que não tinha mais obrigações ou vínculos com ela, pois havia morrido para seu domínio e passado a viver para Deus.

Os cristãos, seguindo o mesmo princípio, não estavam mais sujeitos à lei, pois também estavam mortos para ela e viviam para Deus.

É importante notar que a própria lei reconhece que tem domínio sobre o homem enquanto ele vive.

“NÃO sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive?” (Romanos 7:1).

No entanto, quando alguém morre com Cristo e ressurge com Ele, a inimizade com Deus é desfeita através da  carne de Cristo, abrindo assim um novo e vivo caminho (Hebreus 10:20).

 

20 Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.

O apóstolo Paulo ensinava que se considerava morto para este mundo e para as obras da lei porque foi crucificado com Cristo. É crucial observar que a crucificação do cristão ocorre junto com Cristo, não separadamente dele.

“Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” (Colossenses 3:3).

Embora milhares de pessoas tenham sido crucificadas pelos romanos, nossa morte não está relacionada a elas de forma alguma. Existem argumentos que tentam comparar nossa morte espiritual com a crucificação histórica, sugerindo que é um processo prolongado, similar à morte de algumas pessoas crucificadas na época de Cristo. Outros discutem que alguns cristãos ainda não experimentaram essa morte espiritual completa, citando casos em que os condenados pelos romanos eram retirados da cruz por seus familiares, apesar de serem considerados mortos. Além disso, há quem sugira que o antigo homem, ao ser batizado, parecia flutuar nas águas do batismo, mas o batismo cristão é na morte de Cristo, não uma simples imersão em água.

Maldito seja tais ensinamentos! Cristo afirmou: “…se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos” (João 6:53; 2 Timóteo 2:11 ; 2 Coríntios 5:14 ; 1 Coríntios 15:36). É crucial ser participante da carne e do sangue de Cristo para ter vida, ou seja, é indispensável morrer com Cristo.

Todos aqueles que creem que Cristo morreu em favor dos pecadores tornam-se participantes da morte de Cristo e recebem o poder para serem feitos filhos de Deus, nascidos não da vontade da carne, do sangue ou da vontade do homem, mas de Deus (João 1:12-13).

A ideia de que a morte do cristão segue os moldes da crucificação romana não é consistente, pois nossa morte é conforme a morte do Santo Cristo:

“Para conhecê-lo, e a virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme a sua morte” (Filipenses 3:10).

Nos versículos 19 e 20, o “Eu” que o apóstolo Paulo utiliza é figurativo, representando o velho homem, cujo corpo do pecado foi aniquilado. Ele enfatiza que esse “Eu” está morto pela lei e crucificado com Cristo. Quando o apóstolo Paulo fala de si mesmo, ele usa a palavra “mesmo” para destacar sua identidade pessoal (2 Coríntios 8:13; Romanos 9:3).

O apóstolo Paulo estava morto para a lei e o pecado, ou seja, não vivia mais para si mesmo, mas Cristo vivia nele. Como nova criatura em Cristo, ele passou a viver uma vida exercendo a sua confiança em Cristo, o que é completamente diferente da vida anterior que se baseava na observância da lei e nas tradições de seus antepassados.

 

21 Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde.

Deus é poderoso, fiel e imutável, e nunca retirará a salvação de seus servos (Romanos 8:31-39). Em Deus, a salvação é eterna e Ele jamais desistirá de Seu propósito de salvar.

No entanto, surge uma questão intrigante: é possível que o homem anule a graça de Deus? O apóstolo Paulo argumenta que ele mesmo não anulava a graça ao não mais depender da lei para se justificar. Isso implica que o homem pode rejeitar a graça de Deus ao tentar se justificar pelas “obras da lei”, como observa em Gálatas 5:4:

“Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.”

O apóstolo Paulo é mais incisivo ao afirmar que considerar a justiça pela lei é essencialmente dizer que a morte de Cristo foi em vão. Essa ênfase se alinha com sua declaração dada em Romanos 6:1-2, onde discute a impossibilidade de alguém continuar vivendo no pecado depois de ter recebido a graça de Deus.

Portanto, o verso 21 reforça o alerta dado no verso 18: se alguém retorna a construir aquilo que foi destruído pela graça de Deus, essa pessoa está anulando a graça que recebeu.

Gálatas 3 – Os filhos de Abraão

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  • AMADO IRMÃO CLAUDIO CRISPIM. HÁ MUITO TEMPO QUE ACOMPANHO AS SUAS PUBLICAÇÕES O IRMÃO ESTÁ DE PARABENS VÁ NESTA FORÇA POIS É BENÇÃO DE DEUS PARA MUITOS

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