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É necessário matar o velho homem todos os dias?

Se fosse necessário ao cristão matar o velho homem todos os dias, isto implicaria em recair da graça que está em Cristo diariamente e, portanto, precisaria se arrepender (metanoia) novamente todos os dias.


É necessário matar o velho homem todos os dias?

Introdução

Uma frase atribuída a Martinho Lutero tem sido amplamente divulgada no meio cristão, incluindo protestantes, evangélicos e pentecostais, e requer algumas considerações.

“Achei que o velho homem tinha morrido nas águas do batismo, mas descobri que o infeliz sabia nadar. Agora tenho que matá-lo todos os dias.” – Martinho Lutero.

Essa citação, embora tenha um tom humorístico, carece de base nas Escrituras e beira à anedota. Se o “velho homem” mencionado pelo reformador Lutero tivesse verdadeiramente encontrado a cruz de Cristo, permaneceria morto. Afinal, para aquele que crê em Cristo, não há escapatória da morte e da sepultura com Ele (Colossenses 3:3).

Existem três erros doutrinários graves nessa afirmação atribuída a Lutero. É surpreendente ver muitos líderes cristãos repetindo tal pensamento sem exercer o mínimo de senso crítico para analisá-lo à luz das Escrituras.

O alerta de Paulo permanece relevante: devemos ter cuidado com mensagens que aparentam ser do evangelho (piedade), mas que negam a sua eficácia.

“Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.” (2 Timóteo 3:5);

“E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória.” (1 Timóteo 3:16).

 

As águas batismais

“De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” (Romanos 6:4).

O verdadeiro batismo dos cristãos reside na morte de Cristo. Assim como o povo de Israel esteve protegido sob a nuvem no deserto e todos atravessaram o Mar Vermelho ao saírem do Egito – o que simboliza que todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar -, a igreja é salvaguardada pelo batismo em Cristo, que é realizado através da sua ressurreição.

“ORA, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar. E todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar, e todos comeram de uma mesma comida espiritual, e beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo.” (1 Coríntios 10:1-4);

“Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo;” (1 Pedro 3:21).

Descer às águas do batismo não equivale a ser batizado na morte de Cristo. Na realidade, quando um cristão crê em Cristo, primeiro é batizado na sua morte, e então, faz um testemunho público ao ser batizado nas águas.

Um exemplo disso é o caso do homem etíope, um eunuco que servia como mordomo principal da rainha dos etíopes (Atos 8:27). Após ouvir o evangelho pregado por Felipe, ele creu e expressou o desejo de ser batizado.

“Então Filipe, abrindo a sua boca, e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus. E, indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado? E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou.” (Atos 8:35-38).

Ao crer no evangelho de Cristo, o crente é batizado na morte de Cristo, e então ocorre o batismo nas águas, que é um testemunho público de alguém que confessa ter tido uma mudança de mente (arrependimento/metanoia). O batismo na morte de Cristo acontece no momento em que a pessoa crê em Cristo – conforme diz às Escrituras -, como foi expresso por Felipe quando disse: “É lícito, se crês de todo o teu coração, “.

“Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo.” (Atos 19:4).

O batismo do arrependimento pregado por João Batista tinha como objetivo provocar uma mudança de entendimento (metanoia) entre os judeus. Uma vez que seus ouvintes estavam inseridos no contexto do judaísmo, a mensagem de João os convocava a abandonar essa mentalidade (arrependimento/metanoia) e cressem em Cristo, que estava por vir.

Embora muitos dos ouvintes de João Batista tenham se submetido ao batismo, incluindo escribas e fariseus, eles chegavam confessando que tinham por pai Abraão. Essa confissão revela que não estavam verdadeiramente crendo na mensagem de João Batista, que anunciava naquele que estava por vir. Suas palavras não demonstravam uma mudança genuína de entendimento (metanoia/arrependimento), já que ainda se agarravam à sua linhagem física como prova de sua justiça diante de Deus. A confissão deles não era o fruto de uma mudança de entendimento (metanoia/arrependimento), pois o fruto dos seus lábios era que tinham por pai a Abraão.

“E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Mateus 3:7-9).

É ineficaz alguém se submeter ao batismo e ainda permanecer confiante na religião que herdou de seus pais, como fizeram os escribas e fariseus. Também é ineficaz alguém descer às águas do batismo sem confessar que Jesus de Nazaré é o Cristo (Romanos 10:9-10).

Vincular o ato de descer às águas do batismo ao evento da morte do velho homem pode distorcer o entendimento do evangelho. Daí a importância de compreender o que o apóstolo dos gentios expressou: “Um só SENHOR, uma só fé, um só batismo;” (Efésios 4:5), que se realiza na morte de Cristo.

Há, de fato, um só Senhor, que é o Cristo; uma só fé, que é o evangelho; e um só batismo, que ocorre na morte de Cristo.

Ser batizado, segundo as Escrituras, é ser sepultado com Cristo. Não há como o velho homem aprender a nadar, ou ficar membros vivos após ser batizado. Se alguém crê de outro modo, de que é possível o velho homem sobreviver ao batismo de Cristo, não ressurgiu com Cristo e não está justificado.

Ser batizado, de acordo com as Escrituras, significa ser sepultado com Cristo. Não há possibilidade de o velho homem aprender a nadar ou permanecer vivo após esse ato. Se alguém acredita de outra forma, pensando que o velho homem pode sobreviver ao batismo de Cristo, então essa pessoa não tem uma compreensão plena do evangelho e pode ser levada por vento de doutrinas.

“Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.” (Colossenses 2:12).

Quem é adepto do pensamento de que o velho homem sobrevive nadando nas águas batismais, não compreende a essência do que é ser justificado (morto com Cristo) e declarado justo (justificação) por Deus.

“Porque aquele que está morto está justificado do pecado.” (Romanos 6:7);

“O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação.” (Romanos 4:25).

Ser batizado com Cristo equivale a ser circuncidado com a circuncisão realizada por Deus, que é no coração (Deuteronômio 30:6). Quando o coração é circuncidado, o velho homem morre e é sepultado com Cristo no batismo. O batismo nas águas é um ato administrado por mãos humanas, semelhante à circuncisão do prepúcio, e não possui o poder de eliminar o velho homem. A verdadeira circuncisão de Deus ocorre quando o indivíduo é aceito como filho, e isso acontece no coração, resultando no despojamento do corpo dos pecados da carne.

“No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, a circuncisão de Cristo; Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.” (Colossenses 2:11-12).

 

Mortos com Cristo

“Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado.” (Romanos 6:6).

Com relação ao evangelho, não é permitido aos crentes presumirem ou teorizarem; ao contrário, devem se ater ao que foi revelado. Por isso, o apóstolo Paulo enfatiza: “Sabendo disto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele”.

O que pensamos individualmente não tem valor; o que importa é o que está escrito. Dizer que o velho homem sabe nadar é completamente incoerente com as Escrituras. Como alguém poderia escapar da cruz nadando? É possível escapar da sepultura a nado? Tal afirmação não faz sentido.

É absolutamente despropositado afirmar que o velho homem sabe nadar e, por conseguinte, precisa ser morto todos os dias. Se essa ideia fosse verdadeira, implicaria que a obra de Cristo ao ser crucificado e morto não foi completa. Não faz sentido entender que Cristo é exposto ao vitupério diariamente se assumirmos que cabe ao crente matar o velho homem todos os dias.

“E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério.” (Hebreus 6:6).

Se fosse necessário ao cristão matar o velho homem todos os dias, isto implicaria em recair da graça que está em Cristo diariamente e, portanto, precisaria se arrepender (metanoia) novamente todos os dias.

O velho homem é crucificado com Cristo por dois motivos:

  1. para que o corpo do pecado seja desfeito;
  2. para que não sirvamos mais ao pecado.

Ao ser crucificado com Cristo, ou seja, ao ser batizado em sua morte, o corpo do pecado é desfeito, e o velho homem deixa de existir. O pecado só exerce domínio sobre o homem enquanto o velho homem existe, pois o corpo do velho homem pertence ao pecado.

“Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos; Sabendo que, tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 6:8-11).

O propósito de desfazer o corpo do pecado é para que o crente não sirva mais ao pecado, ou seja, para que esteja livre do pecado. Se alguém está morto para o pecado, não há como continuar vivendo nele.

“De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” (Romanos 6:2-4).

A abordagem do apóstolo Paulo evoca questões pertinentes aos sistemas escravagistas, destacando que, se alguém se submete a um senhor para obedecer como servo, torna-se servo de quem obedece. Nesse contexto, é possível servir ao pecado para a morte ou à obediência para a justiça.

“Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça? Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.” (Romanos 6:16-18)

Como é possível alguém servir o pecado? Permanecendo debaixo da lei. No entanto, se alguém está debaixo da graça, o pecado não tem mais domínio sobre essa pessoa.

“Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.” (Romanos 6:14).

Aquele que está em Cristo está livre do pecado, ou seja, não pode continuar pecando, pois está morto para aquilo de que foi libertado. Nesse sentido, se alguém se refugia em Cristo e ainda é considerado pecador, seria o mesmo que admitir que Cristo é ministro do pecado e não da justiça.

“Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma. Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor. Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus.” (Gálatas 2:17-19).

A declaração atribuída a Lutero parece contradizer o ensinamento de que, ao ser crucificado com Cristo, o corpo do pecado é desfeito. De fato, se alguém está em Cristo, não pode continuar vivendo no pecado, pois o pecado não tem mais domínio sobre ele.

É importante lembrar que os nascidos de Deus não pecam, e aquele que peca é considerado do diabo. Existe uma contradição lógica quando um crente afirma que está pecando, pois isso implicaria em pertencer ao diabo.

Essas questões ressaltam a importância de entender a obra redentora de Cristo e se ater a falar o que está nas Escrituras, reconhecendo a liberdade do pecado e a nova condição em Cristo.

“E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado. Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu. Filhinhos, ninguém vos engane. Quem pratica justiça é justo, assim como ele é justo. Quem comete o pecado é do diabo; porque o diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo. Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus.” (1 João 3:5-9).

Cristo se manifestou para remover os pecados dos homens, e para estar nele é necessário não ter pecado (João 17:21-22). O crente não peca por dois motivos: a) porque é nascido de Deus, possuindo assim a natureza divina; b) e a semente de Deus, que é o evangelho, permanece nele.

“Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo.” (2 Pedro 1:4).

Essa é uma verdade fundamental: apenas os servos do pecado cometem pecado, porque os filhos de Deus são livres.

“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado.” (João 8:34).

Cometer pecado é uma condição própria daqueles que são servos do pecado e não está necessariamente relacionado a questões de comportamento ou moralidade. Um exemplo disso é Nicodemos, um seguidor fervoroso da seita judaica dos fariseus, que, apesar de possuir um comportamento irrepreensível aos olhos dos outros, ainda era pecador e necessitava nascer de novo.

A Bíblia é clara: o pecado entrou no mundo através de um só homem, Adão, e com ele veio a morte para todos os homens. Quando se diz que todos pecaram, isso significa que todos foram afetados pela morte resultante da transgressão de um só homem.

“Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram. (Romanos 5:12).

Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.” (1 Coríntios 15:21-22).

 

Mortificando as obras do corpo

“Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.” (Romanos 8:13).

Viver segundo a carne, conforme explicado no versículo 1 de Romanos 8, é o oposto de viver segundo o Espírito.

“PORTANTO, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” (Romanos 8:1).

Estar em Cristo implica em viver de acordo com o evangelho, também chamado de espírito ou espírito da fé. Assim, os crentes são considerados ministros do espírito (Novo Testamento), pois propagam o evangelho.

“Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça.” (Gálatas 5:5);

“O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (2 Coríntios 3:6).

Viver segundo a carne, ou andar segundo a carne, significa seguir os preceitos da lei mosaica. Aqueles que estão na carne seguem um sistema doutrinário,  a lei, oposto ao ministério do espírito, o evangelho.

O apóstolo Paulo destaca os elementos da carne, após enfatizar que servia a Deus através do evangelho, também chamado de espírito.

“Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne. Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível.  Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.” (Filipenses 3:3-7);

Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, me é testemunha de como incessantemente faço menção de vós,” (Romanos 1:9).

Quando o apóstolo Paulo agradece a Deus por Cristo, ele contrasta o entendimento (conhecimento) com a carne. Por meio do evangelho, que é o conhecimento de Deus, é possível servir à lei de Deus. Tentar servir a Deus com os elementos da lei (carne) é se submeter à lei do pecado.

“Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.” (Romanos 7:25);

“Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra.” (Romanos 7:6).

Quem pode libertar o homem do corpo da morte é somente Cristo, e é ele quem liberta o homem da lei quando este morre com Cristo. Após essa morte com Cristo, o crente precisa continuar servindo a Deus em novidade de espírito (Novo Testamento). Portanto, não se deve procurar servir a Deus através da velhice da letra, isto é, da lei (carne).

O apelo para mortificar as obras do corpo pelo espírito não implica que o velho homem não morreu. Pelo contrário, por meio do evangelho, o crente é chamado a mortificar as obras do corpo, ou seja, a não se deixar levar pelas obras da lei.

Os cristãos na região da Galácia estavam caindo no erro de vivificar as obras do corpo ao se submeterem à circuncisão. Começaram com o evangelho, mas estavam terminando na carne, ou seja, buscando a justificação através das obras da lei.

“Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gálatas 3:2-3).

Qualquer pessoa que professa crer em Cristo, mas ainda se apoia em elementos da carne, como a circuncisão ao oitavo dia, linhagem de Israel, pertencer a uma tribo específica, ser hebreu de hebreus, ou ser seguidor estrito da lei, não está verdadeiramente mortificando as obras do corpo.

Se alguém continua a reconhecer os outros com base nesses elementos da carne, não está de fato mortificando as obras do corpo. Ao invés disso, está se concentrando em padrões externos e na observância de rituais, em vez de entender que a transformação interior que Cristo opera naqueles que verdadeiramente creem nele é o novo nascimento.

“Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo.” (2 Coríntios 5:16).

Esses são os elementos da carne, os quais são mortificados por aqueles que andam no espírito (evangelho):

Pois que muitos se gloriam segundo a carne, eu também me gloriarei. Porque, sendo vós sensatos, de boa mente tolerais os insensatos. Pois sois sofredores, se alguém vos põe em servidão, se alguém vos devora, se alguém vos apanha, se alguém se exalta, se alguém vos fere no rosto. Envergonhado o digo, como se nós fôssemos fracos, mas no que qualquer tem ousadia (com insensatez falo) também eu tenho ousadia. São hebreus? também eu. São israelitas? também eu. São descendência de Abraão? também eu.” (2 Coríntios 11:18-22).

Não há suporte bíblico para a afirmativa de que é necessário matar o velho homem todos os dias, pois uma coisa é certa:

“Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” (2 Coríntios 5:14-15).

A confusão surge quando se confunde o conceito de “velho homem” com “carne” no contexto bíblico. O “velho homem” refere-se à condição humana sujeita ao pecado em decorrência da queda de Adão, enquanto a “carne” está relacionada aos preceitos da lei, especialmente seguidos pelos judeus.

No contexto bíblico, a “carne” está associada aos preceitos da lei, especialmente seguidos pelos judeus, enquanto o “velho homem” se refere à condição de todo homem que ainda não teve um encontro transformador com Cristo. Tanto gentios quanto judeus que ainda não se converteram a Cristo possuem um “velho homem”, mas apenas os judeus e prosélitos se apoiam nos elementos da “carne” na tentativa equivocada de servirem a Deus.

Após morrer e ser sepultado com Cristo, resta ao cristão se transformar por meio da renovação do entendimento. O que era pertinente ao “velho homem” deve ser descartado, enquanto aquilo que é pertinente ao “novo homem” deve ser assumido. Esse processo ocorre principalmente no entendimento (Romanos 12:2).

“Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; E vos renoveis no espírito da vossa mente; E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” (Efésios 4:22-24).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

3 thoughts on “É necessário matar o velho homem todos os dias?

  • Excelente explanação sobre essa pergunta, é preciso matar o homen tidos os dias?, muito esclarecedora e bem baseada nos evangelhos.
    Muito gratificante, Deus continue te abençoando.

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  • Mais um excelente e esclarecedor estudo bíblico, baseado, não em achismos, mas nas escrituras. Que Deus continue te usando na defesa da fé.
    Grato.

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  • Mais um ensino maravilhoso.

    Deus te abençoe.

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