A fé (confiança, crença) surge da constatação de verdades contidas no mundo, e o homem passa a agir conforme estas verdades ou a esperar com confiança nas leis naturais que constatou com os seus sentidos e perspectivas. Ex: a lei da gravidade, a chuva, dia e noite, etc.
A fé
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“Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do SENHOR nosso Deus” ( Sl 20:7 )
Este tema reveste-se de complexidade dada a importância que ele tem para a compreensão de como ocorre a salvação em Cristo. Para ser salvo em Cristo basta a fé, porém, diante dos questionamentos que se avolumam no decorrer dos tempos, faz-se necessário saber o que é a fé verdadeira, como adquiri-la e como exercê-la.
Classificação
Antes de abordarmos este tema do ponto de vista bíblico, devemos verificar sobre qual tipo de fé estaremos falando. Para a análise, classificamos a fé em dois grupos:
a) fé natural, e;
b) fé salvadora.
Fé natural
A definição de fé natural é facilmente extraída dos dicionários, como se lê:
“fé sf. 1. crença religiosa. 2. Conjunto de dogmas e doutrinas que constituem um culto. 3. Rel. A primeira das virtudes teológicas: adesão e anuência pessoal a Deus. 4. Firmeza na execução de uma promessa ou compromisso. 5. Crença, confiança. 6. Testemunho autêntico, escrito, de certos funcionários, que tem força em juízo”.
Da definição dos dicionários subentende-se que até mesmo os ateus possuem algo em que acreditar. Se eles professam que não creem em Deus, ao menos creem nas leis da natureza e em suas próprias ideologias.
A fé natural refere-se à certeza que o homem tem das coisas concernentes ao seu dia-a-dia. Todos os homens possuem a certeza de um amanhã. Todos têm certeza das consequências dos seus atos. Todos têm certeza quanto às leis da física, da matemática, da natureza, etc.
Esta confiança não é algo nato do homem. A fé surge através da interação do homem com o mundo. Ao nascer, o homem não tem certeza ou fé, e nem mesmo acredita em coisa alguma. Porém, no decorrer do tempo, o homem passa a interagir com o mundo, e dessa interação surge as certezas e as crenças.
A fé natural surge da experimentação, do ensino, da constatação. O que leva a concluir que a fé não é proveniente do homem, antes, a fé é proveniente do mundo que o cerca. A realidade é que concede elementos por demais convincentes e dignos de confiabilidade ao homem.
Isto é verificável de duas formas:
(1) a certeza que o homem possui não torna a realidade verdadeira ou certa, ou seja, a certeza do homem não muda a essência real das coisas;
(2) antes de o homem vir à existência, certas verdades já existiam.
“A verdade produz certeza (confiança, fé), mas a certeza não produz verdade.”
O que nos leva a concluir que a fé não é proveniente do homem, mas sim, das coisas que estão há muito estabelecidas.
Não é a confiança do homem que promove a infalibilidade das leis naturais, antes a certeza de que tais leis são irrevogáveis, é que promove a confiança do homem.
A fé, ou a confiança, surge da constatação de verdades contidas no mundo, e o homem passa a agir conforme estas verdades ou a esperar com confiança nas leis naturais que constatou com os seus sentidos e perspectivas. Ex: a lei da gravidade, a chuva, dia e noite, etc.
A fé natural surge no homem quando ele consegue ‘mapear’ os eventos que o cercam durante o seu desenvolvimento. Com base nos elementos que o meio fornece, e através daquilo que conseguiu constatar, surge a ‘fé’, e este homem passa a agir de modo seguro e confiante.
A ‘crença’ do homem não garante os eventos que ocorrem ao seu redor, porém, os eventos certos e previsíveis produzem confiança, fazendo o homem agir com segurança.
A certeza que o homem tem quanto à lei da gravidade não é o que a torna real, antes é a ação da gravidade ao influenciar a realidade que o cerca que lhe dá a certeza da existência desta lei. Esta certeza foi adquirida gradualmente, aprendida e internalizada de forma experimental e teórica.
O atrito dá certeza a um motorista que o carro não derrapará. O semeador semeia na certeza de que a terra produzirá e que as sementes germinarão segundo a sua espécie. A fé no amanhã dá ao o homem a condição necessária para desenvolver projetos, etc.
“A fé natural e a fé salvadora possuem os mesmos princípios quanto à sua inserção no homem, porém, elas diferem quanto à finalidade”
Fé salvadora
A fé salvadora é semelhante à fé natural, pois ambas são alcançadas de fora para dentro. Enquanto esta advém da inteiração do homem com o mundo, aquela advém da inteiração do homem com a palavra de Deus.
A diferença principal entre fé salvadora e fé natural está no objetivo, ou na finalidade a que ambas propõe. Em última instância, tanto a fé natural, quanto a fé salvadora são provenientes de Deus.
A fidelidade de Deus é onde a confiança de todos os homens fundamenta-se.
Para uns, a confiança é algo imperceptível, uma vez que não se dão conta que a infalibilidade das leis naturais é que dá segurança e equilíbrio à existência dos homens. Outros, além de desfrutarem da segurança e equilíbrio que as leis naturais conferem ao seu dia-a-dia, ao saberem que Deus providenciou salvação poderosa a todos os homens, descansam e esperam na fidelidade de Deus, que prometeu e é poderoso para cumprir.
A fé salvadora apresenta as características seguintes:
1. A fé salvadora não é proveniente do homem – É Deus quem concede fé aos homens, ou antes, Deus é à base da fé;
2. A salvação é pré-estabelecida – antes que o homem viesse a existir, Deus providenciou salvação a todos os homens;
3. O homem é o recipiente da fé – o homem não produz fé, porém, é quem usufrui de seus benefícios;
4. A fé é a prova coisas que não se vêem – não é a fé que torna real o mundo vindouro, antes, é a realidade do mundo vindouro que proporciona fé;
5. A confiança do homem não é o que garante a salvação, antes, é Deus que se interpõe como garantia, o que da segurança ao cristão confiante.
Todos os homens de alguma maneira exercem confiança. O crente é aquele que faz menção do nome do Senhor, pois crê na informação de que Deus salva o homem ( Sl 20:6 -7). O descrente, por sua vez, confia em suas forças e possessões, pois através destes elementos ele consegue influenciar e interagir com o mundo.
Nesta vida não há diferença visível entre crentes e descrentes, mas a Bíblia alerta:
“Então voltareis e vereis a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o serve” (…) “PORQUE eis que aquele dia vem ardendo como fornalha; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como a palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o SENHOR dos Exércitos, de sorte que lhes não deixará nem raiz nem ramo Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, e cura trará nas suas asas; e saireis e saltareis como bezerros da estrebaria” ( Ml 3:18 ; Ml 4:1 -2).