É dado aos que creem poder de serem livres da peçonha de uma serpente, mas também é dado poder para suportar afrontas e açoites, e passar uma vida na prisão por causa da verdade do evangelho, como foi o caso do apóstolo Paulo.
Eis que vos dou poder
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“Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum” ( Lucas 10.19 )
Antes de abordarmos o tema central deste verso, vale destacar que essa promessa de Cristo refere-se à sua igreja, o que inclui; todos os cristãos e todo tempo em que a igreja permanecer no mundo.
A promessa de Jesus: ‘estarei convosco até a consumação dos séculos’ ( Mt 28:20 ), se estende a todos os membros da sua igreja, assim como a ordem: ‘Ide por todo mundo’ ( Mc 16:15 ). Considerando que a promessa e a ordem de Cristo referem-se a todos os cristãos em todos os tempos, obrigatoriamente devemos concordar que a promessa: “E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão” ( Mc 16:17 -18), não se restringe aos apóstolos e aos primeiros discípulos.
Quando Jesus pediu ao Pai que não tirasse os que eram d’Ele do mundo, seu pedido tinha por alvo os discípulos naquela época e todos quantos cressem em Cristo em todos os tempos ( Jo 17:16 ), portanto, as promessas e a ordem que foi testemunhada pelos apóstolos e alguns discípulos, abrange todos os cristãos em todos os tempos ( Mt 28:20 ).
A oração que Jesus fez: “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim” ( Jo 17:20 ), demonstra que as promessas de Deus não se restringiam aos apóstolos e discípulos “Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar” ( At 2:39 ).
Nossa proposta é descortinar a compreensão dos leitores acerca desta promessa de Cristo: Eis que vos dou poder. Não é porque muitos fazem mau uso do texto sobre sinais que negaremos as promessas de Cristo para evitar que façam mau uso, pois seria o mesmo que tolher a verdade.
Poder para ser feito filho
O evangelista João deixou registrado que todos os que creem em Cristo recebem poder para serem feitos (criados) filhos de Deus ( Jo 1:12 ). Neste verso o discípulo amado fez um adendo explicando que ‘receber’ o Cristo é o mesmo que ‘crer’ n’Ele “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome” ( Jo 1:12 ).
Para compreender a dimensão desta colocação do evangelista João, se faz necessário perguntar: que poder é esse que é dado aos que creem? No que consiste tal poder? Para responder essas perguntas é necessário usar as Escrituras.
O apóstolo Paulo deixou registrado que o evangelho de Cristo é poder de Deus para salvação de todos os que creem ( Rm 1:16 ). Na carta aos Corintos, ele também deixou registrado que Cristo é o poder de Deus “Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus” ( 1Co 1:24 ). Ora, Deus criou todas as coisas por intermédio de Cristo, ou seja, pela palavra do seu poder, de modo que Cristo é o poder de Deus ( Jo 1:3 ; Cl 1:16 ).
Todos os que recebem a Cristo, ou seja, que creem em seu nome, recebem poder de Deus para serem feitos (criados) filhos de Deus ( Jo 1:12 ). Só é possível alguém crer em Cristo quando lhe é anunciado a palavra de Deus ( Is 52:7 e 53:1). É essencial que haja quem pregue e que, a mensagem seja a mesma anunciada por Cristo e os apóstolos “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?” ( Rm 10:14 ; 1Jo 1:3 ); “Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus” ( 2Tm 1:13 ).
Ao fazer referência ao seu papel evangelístico, o apóstolo Paulo disse: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder” ( 1Co 2:2 -4).
A mensagem que o apóstolo dos gentios anunciou aos cristãos tinha por tema o Cristo crucificado, de modo que é possível concluir com segurança que expor a mensagem do evangelho é demonstração de espírito e poder. Demonstrar que ‘Jesus de Nazaré crucificado’ é o Cristo de Deus é exposição de poder.
Quando o apóstolo Paulo foi ter com os crentes de Corinto, sua condição socioeconômica havia sido alterada drasticamente, e ele afirma que estava em fraqueza, temor e receio.
A fraqueza do apóstolo Paulo
No caminho de Damasco Saulo, o perseguidor dos cristãos, se fazia acompanhar de uma comitiva e, estava de posse de cartas de recomendação dos magistrados concedendo-lhe autoridade para lançar mão da igreja de Cristo ( At 9:2 ). Ele tinha o apoio dos maiorais da sua nação e da religião, era o forte braço do farisaísmo, mas, quando o apóstolo Paulo chegou em Corintos como servo de Cristo, não havia carta de recomendação, comitiva, e tão pouco o apoio dos seus compatriotas.
A expectativa do apóstolo Paulo de como seria aceito entre pessoas que no passado foram perseguidas por ele, resultou no que é descrito como fraqueza, temor e tremor. Quando chegou entre os cristãos, o apóstolo não possuía carta de recomendação ou autoridade segundo os homens, o que se traduz em fraqueza, temor e receio. Só mais tarde os cristãos de Corinto tornaram-se a sua carta “Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens” ( 2Co 3:2 ).
Mesmo vulnerável e tendo que trabalhar com tendas, o apóstolo dos gentios comparecia às sinagogas para disputar com os judeus, demonstrando perante os algozes de Jesus, que aquele Jesus de Nazaré era o Cristo de Deus ( At 18:4 ). Ao escrever aos cristãos de Corinto, o apostolo não hesitou em afirmar que a sua mensagem, a saber, a mensagem da cruz de Cristo, é demonstração de espírito e de poder.
O apóstolo não expôs filosofias, tradições, ou qualquer outra forma de conhecimento ou sabedoria humana. A base do ministério do apóstolo dos gentios era convencer as pessoas de que o Jesus de Nazaré, aquele que fora crucificado em Jerusalém, era o Cristo, a mesma mensagem que levou Saulo a apedrejar Estevão ( Rm 1:1 -5; At 7:52 ).
Antes da sua conversão, o apóstolo Paulo era ministro da lei, e após a conversão, tornou-se ministro do evangelho, que em outras palavras é ‘ministro do espírito’. Na condição de ministro do evangelho (espírito), o apóstolo dos gentios deixa claro que expor o evangelho é demonstração de espírito, demonstração de poder “O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica” ( 2Co 3:6 ).
As palavras de Cristo
O Senhor Jesus Cristo disse acerca de seu ensino: as palavras que vos tenho falado é espírito e vida, e o apóstolo Paulo afirma que veio aos cristãos de Corinto com espírito e poder, o que demonstra que o evangelho é espírito e poder “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida” ( Jo 6:63 ).
O apóstolo Pedro, ao exortar os cristãos, recomenda que: “Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém” ( 1Pe 4:11 ).
Em outras palavras, cada cristão deve falar segundo a verdade do evangelho, ou seja, exponha, administre, entregue o poder que Deus dá; que entregue a mensagem que vivifica. Quando administrar, os cristãos fazer sua administração segundo o evangelho de Cristo, e não com base em conhecimento e sabedoria dos homens.
Por que foi necessária esta recomendação?Porque já naquele tempo haviam surgido muitos falsos profetas, de modo que havia muitos espíritos. A explicação vem do evangelista João, que alertou quais espíritos eram estes? Se as palavras de Cristo é espírito e poder, o que seriam estes ‘espíritos’ que o apóstolo João adverte? Tais espíritos eram mensagens, pregações, ensinamentos propagados pelos falsos profetas. Daí o alerta: é necessário ‘provar’ os espíritos.
O termo ‘espírito’
O termo ‘espírito’ quando empregado por João refere-se ao conteúdo da mensagem pregada, conteúdo este que pode ser de Deus ou do anticristo, de modo que quem ‘prova’ os espíritos deve seguir a regra proposta pelo evangelista João no verso 3 do capítulo 4 da sua primeira epístola “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo” ( 1Jo 4:1 -3).
Qualquer que não conserva o modelo das sãs palavras do evangelho, fala segundo o espírito do anticristo “Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus” ( 2Tm 1:13 ; 1Jo 2:18 ).
Espírito e possessão
Quando o apóstolo Paulo diz: “E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” ( 1Co 14:32 ), ele está demonstrando que a ‘palavra’ dos profetas é sujeita aos profetas. Significa que o profeta possui controle sobre a mensagem que anuncia, de modo que os profetas de Deus não são submetidos a uma ‘possessão divina’ ao anunciar o evangelho, que é a palavra da profecia. De igual modo, significa que os profetas do anticristo também não são tomados por uma possessão maligna, antes o que ensinam decorre de uma carnal compreensão ( 1Co 2.14 ; Cl 2:18 ; 2Pe 2:12 ; Jd 1:4 ).
O profeta de Deus deve trazer vívido na memória isto: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” ( 2Pe 1:20 ; Ap 22:18 ), e em segundo lugar: que a ‘profecia’, ou a ‘firme palavra dos profetas’ não decorrem da vontade do homem, antes, o que os profetas falaram foi segundo o Espírito Santo ( 2Pe 1:21 ).
Ao escrever aos cristãos de Tessalônica, o apóstolo Paulo lembra que não foi ter com eles somente com palavras (o termo ‘palavras’ substitui a ideia de sabedoria humana), antes expôs (demonstrou) aos seus ouvintes poder, pois o evangelho é poder de Deus “Porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós” ( 1Ts 1:5 ).
O que ele escreveu aos Tessalonicenses é o mesmo que escreveu aos Corintos: “Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” ( 1Co 2:5 ). O motivo é claro: “Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder” ( 1Co 4:20 ). Ora, o reino de Deus é Cristo!
Quando escreveu aos Colossenses, o apóstolo demonstra que Cristo é o poder de Deus e que os cristãos ressurgiram com Cristo por crerem n’Ele: “Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos” ( Cl 2:12 ).
Revestidos da armadura
Ao aconselhar os cristãos de Éfeso, o apóstolo dos gentios recomenda a se fortalecerem na força que há no poder de Deus “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder” ( Ef 6:10 ), que nada mais é do que se ‘encher do espírito’, ou seja, estar ‘pleno do conhecimento’ que há no evangelho de Cristo “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao SENHOR com graça em vosso coração” ( Cl 3:16 ); “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito; Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” ( Ef 5:18 -19 ).
Ora, fortalecer-se no poder de Deus é o mesmo que revestir-se de Cristo ( Rm 13:14 ), pois Jesus é a verdade ( Jo 14:6 – cingindo os lombos com a verdade ). Ele é a nossa justiça ( 1Co 1:30 – couraça da justiça). Cristo é o tema das boas novas do evangelho ( Rm 10:15 – calçados os pés). Cristo é eterna salvação aos que O obedecem ( Hb 5:9 – capacete da salvação).
O capacete da salvação é a palavra, assim como a espada do espírito é a palavra. Os pés calçados referem-se à palavra, assim como a couraça da justiça. O escudo da fé é a palavra, assim como a vestimenta que cinge os lombos ( Is 59:17 ).
Jesus anunciou que enviaria a promessa do Pai e que seus discípulos deveriam ficar em Jerusalém até que fossem revestidos de poder “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder” ( Lc 24:49 ). No pentecostes, quando vemos o apóstolo Pedro expondo aos seus irmãos segundo a carne a interpretação dos salmos e dos profetas, constatamos de qual poder ele foi revestido: da compreensão da palavra de Cristo.
Este revestimento de poder foi anunciado e explicado em detalhes por Cristo no capítulo 14 do evangelho de João “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” ( Jo 14:26 ). A promessa do Pai diz do Consolador, e o ‘revestimento’ ou a ‘unção’ prometida diz da compreensão de tudo o que Jesus disse “Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim. E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio” ( Jo 15:26 -27 compare “E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis” ( 1Jo 2:27 ; 1Jo 2:20 ).
Ora, o apóstolo Pedro já estava limpo pela palavra de Cristo e cria que Jesus era o Filho de Deus, porém, não compreendia as escrituras, o que só foi possível no pentecostes, quando foi ‘ungido’, ou ‘revestido de poder’ ( Jo 15:3 ; Mt 16:16 ; Jo 7:39 ; Lc 9:45 e Mc 8:33 ).
Em Lucas 10, verso 19 Jesus deu poder para os discípulos, e no capítulo 24 de Lucas é prometido ‘revestimento’, ‘unção’. Esta verdade é reafirmada pelo apóstolo em Efésios 6, verso 10 dizendo que é necessário estar fortalecido em Deus e revestido do poder de Deus: “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus…” ( Ef 6:10 -11).
Fortalecer no Senhor é estar cônscio de que o mesmo poder que Deus fez ressuscitar o Cristo também é utilizado na ressureição dos que creem, fazendo-os filhos de Deus “Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos; E qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus” ( Ef 1:18 -20; Cl 3:1 ).
O ‘revestir-se do poder’ refere-se a ter uma compreensão plena do evangelho de Cristo “Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, Poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” ( Ef 3:16 -20 ).
Qual é o poder do espírito? Neste verso não há alusão ao Espírito Santo, antes à palavra da verdade, que é espírito e poder. Jesus mesmo disse que as suas palavras são espirito e vida, e o apóstolo Paulo disse que a palavra é espírito e poder ( Jo 6:63 ; 1Co 2:4 ). No verso 16 da carta aos Efésios, o apóstolo faz alusão à palavra, ou seja, ao poder da palavra, pois ele era ministro do espírito, ministro da palavra, ministro de Cristo, ministro do poder de Deus ( 2Co 3:6 ).
Quando compreendemos a palavra da verdade, temos o revestimento de poder, ou nos revestimos da armadura de Deus. Compreender a palavra da verdade é prova de que o cristão foi revestido de poder, ou seja, que possui a unção do Espírito Santo, pois é Ele quem guia em toda a verdade “Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir” ( Jo 16:13 ).
Espírito de Elias
Quando o anjo Gabriel anunciou o nascimento de João batista a Zacarias disse: “E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto” ( Lc 1:17 ). Este verso comprova que ‘espírito’ e ‘poder’ diz da mensagem de Cristo, pois João Batista não operou nenhum sinal miraculoso, apenas anunciou o reino dos céus “E muitos iam ter com ele, e diziam: Na verdade João não fez sinal algum, mas tudo quanto João disse deste era verdade” ( Jo 10:41 ).
Quando Elias passou o seu ministério para Eliseu, transmitiu porção dobrada do espírito de Elias “Sucedeu que, havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim” ( 2Re 2:9 ).
Ora, em Lucas 1, verso 17 e João 10, verso 41, verifica-se que a porção dobrada que Eliseu recebeu não se resumia em operar sinais, milagres e maravilhas, pois João veio no espírito e poder de Elias e não operou milagres. O que isso significa?
Significa que o pedido de Eliseu tinha relação com a palavra que Elias proclamava.
O mesmo espírito e o mesmo poder que estava sobre Cristo esteve sobre João Batista, esteve sobre os apóstolos, e está sobre a Igreja de Cristo ( Ef 4:4 ), isto porque há um só espírito, que é respectivamente espírito, vida e poder para converter os corações.
O ‘espírito’ e a ‘virtude’ de Elias consiste na proposta que ele fez ao povo de Israel: escolham entre Deus e Baal “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu” ( 1Rs 18:21 ), e foi este mesmo espírito e poder que repousou sobre João Batista, quando disse: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” ( Mt 3:2 ). O povo de Israel, em ambos os casos precisavam mudar de concepção, poder para converter o coração dos homens a Deus.
Observe que para a mudança de concepção é necessário a ação da palavra: “E virá um Redentor a Sião e aos que em Jacó se converterem da transgressão, diz o SENHOR. Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o SENHOR: o meu espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca nem da boca da tua descendência, nem da boca da descendência da tua descendência, diz o SENHOR, desde agora e para todo o sempre” ( Is 59:21 ), de modo que não é por força e nem por violência, antes pela palavra de Deus.
Em Jerusalém o apóstolo Pedro recebeu a promessa do Espírito, pois o mesmo Espírito que repousou sobre Cristo segundo a profecia, também passou para os seus discípulos “O ESPÍRITO do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; A apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes” ( Is 63:1 -2).
Ora, o Espírito de Deus estava sobre Cristo. E o que Jesus faria? Pregaria boas novas! Proclamaria liberdade! Apregoaria tempo aceitável! Observe que o Espírito tem função evangelística. De igual modo, a todos que aceitassem a Cristo, tornando-se descendência de Abraão (filhos de Deus pela fé), teriam as mesmas palavras anunciadas por Cristo em suas bocas “Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o SENHOR: o meu espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca nem da boca da tua descendência, nem da boca da descendência da tua descendência, diz o SENHOR, desde agora e para todo o sempre” ( Is 59:21 ).
Deus é poderoso para fazer tudo mais abundante, porém, o que Ele faz é segundo a palavra do evangelho, pois o evangelho é o poder que opera em todos os que creem “Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” ( Ef 3:20 ).
O evangelho é a ‘palavra da verdade’, ‘poder de Deus’ e ‘armas da justiça’ “Na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, à direita e à esquerda” ( 2Co 6:7 ). O apóstolo cônscio da verdade eterna, após ouvir o Senhor Deus, diz “De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo” ( 2Co 12:9 ).
Em seguida, o apóstolo Paulo faz a seguinte comparação: “Porque, ainda que foi crucificado por fraqueza, vive, contudo, pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos com ele pelo poder de Deus em vós” ( 2Co 13:4 ).
O que este verso diz? Que os cristãos, apesar de terem sido sepultados à semelhança da morte de Cristo, agora vivem porque creram (fé) no evangelho (poder de Deus). O poder que há no evangelho é sobreexcelente, pois é o mesmo poder que Deus operou em Cristo ao ressuscitá-lo dentre os mortos “Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos” ( Cl 2:12 ); “E qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus” ( Ef 1:19 ).
Estevão era um homem pleno de fé, ou seja, da palavra de Deus. Embora Estevão operasse sinais e maravilhas, os escribas e fariseus resistiam à palavra que Estevão proclamava, pois era a verdadeira demonstração de espírito e poder “E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé. E Estevão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo (…) disputavam com Estêvão. E não podiam resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava” ( At 7:7 -9).
Estevão não foi apedrejado porque operava sinais e maravilhas, antes por causa da mensagem do evangelho. Jesus não foi rejeitado pelos sinais e maravilhas, antes pela sua palavra ( Jo 10:33 ). O espírito com que Estevão falava refere-se à palavra do evangelho, que é demonstração de poder, de fé, de espírito e de sabedoria.
Serpentes e escorpiões
No livro do Gênesis, Satanás utilizou-se de uma serpente para destilar o veneno da mentira sobre o homem. Ao distorcer a verdade anunciada por Deus, Adão acreditou na mentira e trouxe condenação (morte), a todos os homens.
Por causa do evento no Éden, a serpente tornou-se símbolo de Satanás “E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele” ( Ap 12:9 ).
A serpente é um símbolo de Satanás, e o veneno símbolo da mensagem de engano. A mensagem de engano é comparável ao veneno de víboras, trás morte e morte eterna.
Há várias referências nas Escrituras às serpentes, e uma destas figuras encontra-se no Livro de Deuteronômio. O profeta Moisés, em sua última profecia (cântico profético, salmo), previu que o povo de Israel (vinha) haveria de desviar-se da palavra de Deus e que produziriam veneno em lugar de vinho ( Dt 31:20 ).
Através da previsão dada a Moisés, Deus estava destilando a sua doutrina, a sua palavra. A palavra é comparada ao orvalho que cai sobre a relva, de modo que a palavra é figura de vida ( Dt 32:47 ), e a relva figura dos homens “Porque Toda a carne é como a erva, E toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor” ( 1Pe 1:24 ).
Este salmo de Moisés possui inúmeras figuras aplicadas ao povo de Israel que, ao longo da história foram utilizadas pelos profetas, Cristo e os apóstolos. Dentre as figuras que Moisés apresenta, temos: povo louco, ignorante, néscios ( Dt 32:6 ); cidade prostituta ( Dt 32:16 ); povo (vinha) de Sodoma e Gomorra ( Dt 32:32 ); o vinho que produzem é ardente veneno de serpentes, peçonha cruel de víboras ( Dt 32:33 ).
Por diversas vezes ecoam nas Escrituras através dos profetas, Jesus e os apóstolos o rótulo que Moisés estabeleceu contra Israel: o povo de Israel não passava de loucos, néscios, pessoas faltas de entendimento ( Sl 53:1 -4; Jr 5:4 ; Ez 13:13 ; Is 35:8 ; Lc 11:40 ; Lc 24:25 ; Rm 2:20 ; Rm 10:2 ). Por diversas vezes são chamados de raça de víboras ( Mt 3:7 ; Mt 23:33 ; Sl 140:3 ); Igualmente são chamados de adúlteros e adulteras ( Tg 4:4 ; Jr 9:2 ); etc.
Mas, a figura que nos debruçaremos agora é a da víbora, a da serpente. Moisés aponta que o povo de Israel é vinha de Sodoma e Gomorra, porém, o vinho que produziam era equivalente à peçonha de serpentes “O seu vinho é ardente veneno de serpentes, e peçonha cruel de víboras” ( Dt 32:33 ); “Ouvi a palavra do SENHOR, vós poderosos de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra” ( Is 1:10 ).
O salmista demonstra que os filhos de Jacó possuíam língua como a serpente. Que o veneno do engano, que é a mentira, estava nos lábios do povo de Israel. O que falavam era semelhante ao veneno da serpente: produz morte, e não vida “Aguçaram as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios. (Selá.)” ( Sl 140:3 ); “O seu veneno é semelhante ao veneno da serpente; são como a víbora surda, que tapa os ouvidos” ( Sl 58:4 ).
Ao falar ao povo, o profeta Isaías disse: “Chocam ovos de basilisco, e tecem teias de aranha; o que comer dos ovos deles, morrerá; e, quebrando-os, sairá uma víbora” ( Is 59:5 ). O profeta acusa os filhos de Israel de falarem falsidades, e que a palavra do engano, a mentira, estava em suas bocas.
Falar mentiras é o mesmo que chocar ovos da serpente. Neste contexto ‘mentira’ é uma figura de linguagem para falar da palavra de engano, falso evangelho, e não do mau hábito de faltar com a verdade, mentir. Quem come dos ovos, além de mortos, torna-se duas vezes filhos do inferno. Tornam-se filhos do inferno porque quebraram os ovos e deles se alimentaram. Além de estarem mortos, tornam-se víboras. A morte neste verso refere-se à separação de Deus, alienação.
Qualquer que professa a doutrina do engano é uma víbora, uma serpente, de modo que Jesus e João Batista não estavam xingando os escribas e fariseus ao chamá-los de raça de víboras.
O apóstolo Paulo alerta os cristãos a se absterem do ‘vinho da contenda’, e deviam se encher do espírito. Muitos entendem que o apóstolo estava vetando aos cristãos o beber bebida forte, porém, se o apóstolo Paulo estivesse recomendando os cristãos a se absterem do produto da vide, não teria recomendado Timóteo a fazer uso de vinho.
O que se depreende da ordem paulina é que os cristãos deveriam se encher do espírito, ou seja, do evangelho, pois deste modo jamais beberiam do vinho da contenda, ou,da doutrina dos judaizantes “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” ( Ef 5:18 ); “Como não compreendestes que não vos falei a respeito do pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus?” ( Mt 16:11 ).
É em função do alerta anterior que se chega à interpretação que acabamos de fazer. Quando o apostolo Paulo diz: “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios”, está recomendando que os cristãos não andem como os judeus, os loucos, os néscios, que sempre erraram o caminho. Que não sejam insensatos ( Gl 3:1 ), voltando a se aplicarem a elementos da lei, antes, que entendam qual é a vontade de Deus ( Ef 5:15 -17).
Esta análise nos mostra que, algumas vezes, quando a Bíblia faz referência à serpente, não faz referência a Satanás, mas aos homens que, por anunciar uma doutrina de mentira, destilam veneno mortal como as víboras. Por destilarem peçonha, a figura da serpente é própria para descrevê-los. Daí o rótulo: raça de víboras!
Poder para pisar serpentes e escorpiões
Após averiguar a exposição acima, é possível responder as perguntas: a) que poder é concedido aos cristãos? b) Quais os tipos de serpentes e escorpiões os cristãos tem autonomia de calcar os pés?
A prerrogativa de calcar a antiga serpente com os pés é de Jesus, e Ele não passou aos seus seguidores tal prerrogativa, antes é dito: “E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Amém” ( Rm 16:20 ); “Pisarás o leão e a cobra; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente” ( Sl 91:13 ). É Cristo, o príncipe da paz, que esmagará Satanás em breve debaixo dos pés dos seus seguidores.
Por que debaixo dos pés dos cristãos? Porque os cristãos são o corpo de Cristo. Cristo é a cabeça, e a igreja o corpo, de modo que é Cristo, a cabeça, que esmagará debaixo da igreja a antiga serpente que feriu o calcanhar da semente da mulher ( Gn 3:15 ).
O texto não diz que os cristãos receberam poder para pisar Satanás, antes diz que é dado poder para pisar ‘víboras’ e ‘escorpiões’.
Em primeiro lugar, tal poder não diz de uma capacidade especial para pisar em animais peçonhentos que há na natureza, ou seja, Jesus não autorizou os seus seguidores a pisarem deliberadamente qualquer animal peçonhento. Tal atitude é tentar a Deus.
Qualquer que usar o texto: “Eis que vos dou poder…” para afirmar que foi dado poder aos seguidores de Cristo para submeter animais peçonhentos, cumpre o mesmo papel de Satanás quando tentou o Senhor Jesus utilizando as Escrituras fora do seu contexto “E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra. Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus” ( Mt 4:6 -7).
Ao ler este verso, muitos cristãos entendem que Cristo estava lhes outorgando autoridade para sobrepujar os demônios, e outros, que Jesus concedeu poderes inimagináveis aos seus discípulos para efetuar toda sorte de sinais miraculosos.
Mas então o que Jesus concedeu aos seus seguidores? Eles foram capacitados a pisar toda sorte de animais peçonhentos? Em função desta benesse os cristãos possuem poderes especiais de modo que nada pode lhe causar dano físico?
Para responder tais questões, temos que reler o evento em que Jesus enviou seus setenta discípulos às cidades que ficavam aos arredores de Jerusalém.
Antes de enviar os setenta discípulos às cidades nos arredores de Jerusalém para evangelizá-las, Jesus fez um lamento sobre as cidades de Corazim, Betsaida e Cafarnaum, e apresentou alguns parâmetros que nos possibilita dimensionar a incredulidade dos habitantes daquelas cidades judaicas.
Jesus demonstra que os milagres que foram realizados por Ele em Corazim eram mais que suficientes para mudar a concepção dos habitantes das cidades gentílicas de Tiro e Sidom. Se os habitantes de Tiro e Sidom tivessem visto os milagres de Jesus, se humilhariam e mudariam a concepção deles (arrependimento).
Ao enviar seus discípulos, Jesus conscientiza-os de que não havia diferença alguma entre Ele e os seus discípulos com relação à missão que passariam a desempenhar. Caso os habitantes das cidades ouvissem os discípulos de Jesus, estariam ouvindo as palavras de Cristo. De igual modo, caso rejeitassem os discípulos por causa da missão evangelística, estariam rejeitando a mensagem e a pessoa de Cristo ( Lc 10:16 ). E, quem rejeita a Cristo, rejeita igualmente ao Pai.
O evangelista Lucas, no verso 17, do capítulo 10, narra qual foi o comportamento dos discípulos após percorrem as cidades evangelizando: “E voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam” ( Lc 10:17 ).
Foi quando Jesus disse em tom de aviso: “Eu via Satanás, como raio, cair dos céus” ( Lc 10:18 ). Ora, Satanás caiu por se envaidecer pela missão que lhe foi outorgada (querubim da guarda ungido), e deixou de considerar que a glória pertence a quem O comissionou.
Os discípulos corriam o risco de se envaidecerem em função de os demônios submeterem a eles, e logo foram advertidos. O apóstolo Paulo também alerta quanto a este risco: “Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo” ( 1Tm 3:6 ).
Daí o alerta: “Eis que vos dou poder…” (v. 19). Naquele momento Jesus não estava concedendo ‘poder’, antes estava alertando que era Ele quem outorgava poder. Esta era a promessa de Jesus: “Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei” ( Jo 14:14 ). Tudo que o cristão pede é realizado por Cristo com o objetivo de que o Pai seja glorificado no Filho. Observe que é Cristo quem realiza tudo o que o crente pede, e não que tudo o que o crente pede será atendido.
O motivo da alegria deve centrar-se em Cristo, pois Ele é o poder. A consciência do cristão deve repousar na seguinte premissa: “Grandes coisas fez o SENHOR por nós, pelas quais estamos alegres” ( Sl 126:3 ).
Alegrar-se em Cristo é força, poder, salvação, por outro lado, alegrar-se porque os demônios se submetem, há risco. Por quê? Porque Satanás é enganador e estrategista. Satanás pode fingir submeter-se aos homens com o objetivo de conduzi-lo ao erro, ao engano.
A estratégia do diabo pode ser analisada logo no inicio do ministério de Jesus. Quando Jesus chegava a certas cidades, pessoas possessas confessavam: – Bem sei quem és: o Santo de Deus “E também de muitos saíam demônios, clamando e dizendo: Tu és o Cristo, o Filho de Deus. E ele, repreendendo-os, não os deixava falar, pois sabiam que ele era o Cristo” ( Lc 4:41 ; Mc 1:24 ).
Um incauto tomaria por base tal confissão para alavancar o seu ministério. Não é isto que muitos líderes religiosos fazem em nossos dias? Diante das multidões invocam testemunho dos demônios, que dizem: – Este é homem de Deus! – Está é uma igreja de Deus! E após tais manifestações, os demônios submetem-se ao orador. Seria este o testemunho que um servo de Deus deve acatar?
O primeiro a ser enganado com tal estratégia é o líder religioso, que vem a acreditar piamente que é um homem cheio de poder e que as suas realizações ‘miraculosas’ demonstram que é agradável a Deus. Em segundo lugar, os seus seguidores, que são induzidos a acreditar que expulsar ou falar com demônios é ter poder.
O apóstolo Paulo, assim como Cristo, foi denunciado por um espírito imundo que estava sobre uma jovem advinha: “Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo. E isto ela fez por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu” ( At 16:17 -18). Caso o apóstolo Paulo fizesse uso de tais declarações para balizar o seu ministério, grande seria a ruína.
Geralmente as pessoas relacionam esta passagem “Eis que vos dou poder…”, só com a virtude de operar sinais, prodígios e maravilhas, porém, antes de Jesus dizer tais palavras, já no verso 9, antes dos setenta saírem a campo, Jesus ordenou que os setenta curassem os enfermos que houvesse nas cidades e anunciassem a chegada do reino dos céus “E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus” ( Lc 10:19 ).
Ora, se os discípulos foram orientados a curarem os enfermos antes de partirem na missão evangelística, segue-se que o que é concedido no verso 19 não só diz da ‘virtude’ de operar milagres e maravilhas, pois quando foram comissionados, já estavam de posse de tal ‘virtude’.
De igual modo, o revestimento de poder concedido no dia de pentecostes não se refere à operação de sinais e prodígios, pois muito antes, Jesus já havia dado poder aos seus discípulos para, ao entrarem nas cidades, e curassem os enfermos e anunciasse a Cristo.
Esta passagem Bíblia aponta uma tendência natural do homem em atribuir ênfase maior aos sinais, deixando em segundo plano a mensagem de salvação, que é a obra realizada pelo Pai ( Jo 14:10 ). Supervalorizam os sinais e esquecem que só há festa no céu quando o pecador se arrepende ( Lc 15:10 ).
Leia atentamente estes versos: “Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras. Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai” ( Jo 14:10 -12 ).
As palavras de Cristo era o mandamento do Pai. Na antiguidade era consenso: ‘só há obra quando há mando de um lado, e obediência do outro”, um senhor determinava, e o servo realizava a obra, porém, a obra não pertencia ao servo, e sim, ao senhor que determinou.
Por que é o Pai que faz a obra? Porque o mandamento é d’Ele! Como o mandamento de Cristo era o mandamento do Pai, ambos, Pai e Filho estavam unidos. Daí vem o ponto chave: aquele que crê em Cristo também faz as obras que Cristo fez, e faz maiores que aquelas que os discípulos estavam vendo.
Que obras seriam estas? A mesma que o Pai fazia juntamente com o Filho: “Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” ( Jo 6:29 ). Observe que a essência da obra não está em realizar ações miraculosas, antes em que as pessoas creiam que Cristo é o Filho de Deus.
O poder que lhes fora concedido era para suplantar toda a força do inimigo. E que força maligna é esta? As serpentes e os escorpiões que propagam a doutrina de engano. O poder que há no evangelho serve de armadura para que o cristão possa combater nas regiões celestiais as hostes da maldade. Somente revestido de toda a armadura de Deus é possível resistir ao diabo.
Ora, quando a Bíblia diz para resistirmos ao diabo, diz para resistirmos aos ensinamentos dos seus adeptos, homens réprobos quando ao conhecimento da verdade “Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? e um de vós é um diabo” ( Jo 6:70 ), diz dos filhos do diabo, homens que procuram desviar da fé os que creem “Disse: Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perturbar os retos caminhos do Senhor?” ( At 13:10 ).
Quando o discípulo Pedro aconselha Jesus a ter pena de si mesmo, Jesus disse: “Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” ( Mt 16:23 ), de modo que qualquer que não compreende as coisas de Deus e se propõe a aconselhar ou a ensinar, é comparável a um diabo.
É dado aos cristãos ‘poder’ para suplantar todos aqueles que destilam veneno com as suas línguas, de modo que nada proveniente deles causará dano aos servos de Deus. Tendo por escudo a palavra da fé, nenhum dardo do inimigo atingirá o crente revestido da armadura de Deus, fortalecido na força do seu poder “Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” ( Ef 6:16 ).
O poder contido no evangelho torna o cristão poderoso para admoestar e convencer os contradizentes “Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes. Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância” ( Tt 1:9 -11).
Operar sinais, prodígios e maravilhas não é o mesmo que pisar serpentes e escorpiões. Curar aleijados, cegos, etc., não é o mesmo que pisar serpentes e escorpiões. Jesus veio desfazer as obras do diabo, de modo que o poder que é dado refere-se a transportar os homens das trevas para o reino da luz.
Anunciar o Cristo é o poder concedido aos que creem “E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus” ( Lc 10:19 ). É poder que promove as obras que Jesus fez “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai” ( Jo 14:12 ).
Sabendo que a obra que Jesus veio realizar é: “A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” ( Jo 6:29 ), no evangelho há poder para salvar o mundo todo. Os homens nascidos de novo são obras de Deus “Não destruas por causa da comida a obra de Deus. É verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com escândalo” ( Rm 14:20 ).
A igreja de Cristo também possui autoridade para curar e realizar milagres ( Mc 16:15-20), mas este não é o mote do evangelho. A proposta do evangelho é mais abrangente, pois por Cristo é possível o crente ‘vencer reinos, praticar a justiça, alcançar as promessas, fechar as bocas dos leões, apagar a força do fogo, escapar do fio da espada, da fraqueza tirar forças, na batalha se esforçar, por em fuga os exércitos dos estranhos e receber pela ressurreição os seus mortos’, porém, o mesmo Cristo torna possível ser torturado, não aceitar o seu livramento para alcançar uma melhor ressurreição, experimentar escárnios e açoites, e até cadeias e prisões, ser apedrejado, serrado, tentado, mortos ao fio da espada, andar vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparado, aflito e maltratado ( Hb 11:33 – 40).
É dado aos que creem poder de serem livres da peçonha de uma serpente, mas também é dado poder para suportar afrontas e açoites, e passar uma vida na prisão por causa da verdade do evangelho, como foi o caso do apóstolo Paulo.
Certamente Cristo estabeleceu que os seus servos realizarão maiores obras, trabalhos, ações, atos, pois a ceara é grande, e há poucos ceifeiros. Quem opera sinais e maravilhas está inclusos nesta obra, porém, não é este o objetivo do evangelho. Não é esta a bem-aventurança! ( Jo 20:29 )
Qualquer que ouve uma mensagem ou vê um milagre, deve ter o cuidado de primeiro provar o ‘espírito’, pois fenômenos “extraordinários”, muitas vezes, não são passíveis de análise, mas a mensagem sempre é passível de análise àqueles que tem o Espírito de Deus ( Dt 13:1-4 ; 2Ts 2:9 ; Mt 7:21 -23).
Um cristão deve estar cônscio de que os falsos profetas operarão sinais de mentira “A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira” ( 2Ts 2:9 ). Um cristão jamais deve esquecer que os falsos profetas tem aparência de ovelha, e que só os seus frutos possibilita identificá-los ( Mt 7:20 ). E quais são os frutos? O espírito, a mensagem que professam.
O cristão não deve ficar maravilhado, extasiado, perplexo frente a um milagre. Um cristão tem o discernimento que sinais são para os incrédulos, enquanto que a palavra, a profecia, o espírito, o poder de Deus é para os fiéis “De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis” ( 1Co 14:22 ).
Quem se maravilhava diante de um sinal são os infiéis, e isso ao longo dos tempos não muda. Mas, os que creem, tem o mesmo discernimento que o apóstolo Pedro: sempre apresentará ao povo o Cristo crucificado, e não os milagres “E quando Pedro viu isto, disse ao povo: Homens israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem? O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu filho Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, tendo ele determinado que fosse solto” ( At 3:12 -13).
Parabéns pela interpretação da Palavra: ” Eis que te dou poder”, amém e glórias a Deus.