Salmos I

Salmo 27 – Contemplando a formosura do Senhor

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O Salmo 27 evidencia que quem faz o pedido é um servo obediente, pois recebeu a instrução: “Busque o meu favor, ou seja, o meu rosto”, e humildemente respondeu: “O teu rosto, Senhor, buscarei”.


Salmo 27 – Contemplando a formosura do Senhor

 

  1. O SENHOR é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O SENHOR é a força da minha vida; de quem me recearei?
  2. Quando os malvados, meus adversários e meus inimigos, se chegaram contra mim, para comerem as minhas carnes, tropeçaram e caíram.
  3. Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nisto confiaria.
  4. Uma coisa pedi ao SENHOR, e a buscarei: que possa morar na casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do SENHOR, e inquirir no seu templo.
  5. Porque no dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá; pôr-me-á sobre uma rocha.
  6. Também agora a minha cabeça será exaltada sobre os meus inimigos que estão em redor de mim; por isso oferecerei sacrifício de júbilo no seu tabernáculo; cantarei, sim, cantarei louvores ao SENHOR.
  7. Ouve, SENHOR, a minha voz quando clamo; tem também piedade de mim, e responde-me.
  8. Quando tu disseste: Buscai o meu rosto; o meu coração disse a ti: O teu rosto, SENHOR, buscarei.
  9. Não escondas de mim a tua face, não rejeites ao teu servo com ira; tu foste a minha ajuda, não me deixes nem me desampares, ó Deus da minha salvação.
  10. Porque, quando meu pai e minha mãe me desampararem, o SENHOR me recolherá.
  11. Ensina-me, SENHOR, o teu caminho, e guia-me pela vereda direita, por causa dos meus inimigos.
  12. Não me entregues à vontade dos meus adversários; pois se levantaram falsas testemunhas contra mim, e os que respiram crueldade.
  13. Pereceria sem dúvida, se não cresse que veria a bondade do SENHOR na terra dos viventes.
  14. Espera no SENHOR, anima-te, e ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, no SENHOR.

(Salmo 27:1-14).

 

Introdução

O profeta Davi, nesta profecia, destaca um comportamento preponderantes do Messias: a confiança plena no Pai.

O Messias, apesar de ser o Filho de Deus, não podia lançar mão das prerrogativas de filho diante dos reveses da vida, vez que precisava evidenciar aos homens que foi obediente ao Pai em tudo e sujeito as mesmas fraquezas (Hebreus 2:17 e 4:15).

“Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu.” (Hebreus 5:8).

O que Cristo padeceu é evidência inequívoca de que Ele se sujeitou a Deus em tudo, cumprindo-se assim outro aspecto da missão do Cristo: ser servo e mensageiro do Senhor.

“Quem é cego, senão o meu servo, ou surdo como o meu mensageiro, a quem envio? E quem é cego como o galardoado e cego, como o servo do Senhor?” (Isaías 42:19).

O Filho foi enviado ao mundo com uma missão: ser mensageiro e servo do Senhor. Tudo o que Jesus realizou em meio aos homens evidenciou a sua missão: servo e mensageiro. O que evidencia a filiação divina de Cristo é o testemunho do Pai através das Escrituras:

“Recitarei o decreto: O Senhor me disse: Tu és meu Filho; eu hoje te gerei.” (Salmo 2:7);

“Eu serei seu Pai, e ele será meu Filho, mesmo no tempo em que tiver que padecer pela iniquidade dos homens, eu mesmo o punirei e açoitarei com o castigo dos humanos, aplicado por intermédio de homens.” (2 Samuel 7:14).

Em função da missão, Cristo jamais poderia evidenciar a sua filiação através de milagres e maravilhas, e por isso venceu a tentação no deserto lançando mão da palavra de Deus.

“E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Então o diabo o transportou à Cidade Santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus.” (Mateus 4:3-7).

Na sua primeira vinda, Cristo deu total atenção à missão que lhe foi confiada pelo Pai:

“Então, disse o dono da vinha: Que farei? Enviarei o meu filho amado; talvez o respeitem. Vendo-o, porém, os lavradores, arrazoavam entre si, dizendo: Este é o herdeiro; matemo-lo, para que a herança venha a ser nossa. E, lançando-o fora da vinha, o mataram.” (Mateus 20:13-15).

Para cumprir a missão de servo, Cristo teve que confiar exclusivamente na proteção do Pai.

Para se aprofundar mais nas nuances do fato de os Salmos serem profecias acerca do Messias, leia a introdução da explicação dos Salmos 23 e Salmo 91 que consta do portal Estudo Bíblico.

 

A quem temerei?

1 O SENHOR é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O SENHOR é a força da minha vida; de quem me recearei? 2 Quando os malvados, meus adversários e meus inimigos, se chegaram contra mim, para comerem as minhas carnes, tropeçaram e caíram. 3 Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nisto confiaria. (Salmo 27:1-3).

Nessa previsão acerca do Cristo, o salmista Davi faz alusão a Deus como luz, salvação e força. O Cristo, por sua vez, teria o Pai como Sua luz e salvação, o protetor de sua existência em meio aos homens.

Na eternidade o Verbo estava com Deus, mas ao deixar o esconderijo do Altíssimo, o Verbo encarnado despido de sua glória passou a habitar com os homens ao abrigo da sombra do Onipotente (Salmo 91:1). Descansar remete tanto a proteção divina da sua sombra quanto a confiança plenamente em Deus.

Tanto a entrada qanto a saida de Cristo do mundo dos homens se deu sob a proteção de Deus, pois pelo Espírito Eterno Crsto foi lançado na madre de uma virgem, Maria, e ao sair deste mundo, o Seu espírito foi entregue nas mãos de Deus.

“O SENHOR guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre.” (Salmos 121:8);

“Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe.” (Salmos 22:10);

“Nas tuas mãos encomendo o meu espírito; tu me redimiste, SENHOR Deus da verdade.”(Salmos 31:5).

O medo, o terror e o espanto que os adversários impingiram sobre o Cristo para fazê-lo vacilar foram sem efeito, dadas as virtudes do Criador.

“Em Deus louvarei a sua palavra, em Deus pus a minha confiança; não temerei o que me possa fazer a carne.” (Salmo 56:4);

“O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem.” (Salmo 118:6);

“Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.” (Salmo 23:4).

O Cristo jamais teve medo quando seus adversários, que no contexto da Nova Aliança, remete aos seus próprios concidadãos, que investiram contra Ele para destruí-lo (v. 2). Todos eles, ao se achegarem para devorarem o Cristo, tropeçaram e caíram.

Não há na história de Davi qualquer evento que se assemelhe ao descrito no verso 2, do Salmo 27, ou seja, que seus inimigos tenham tentado devorá-lo conforme expresso no texto.

Davi sofreu perseguição de Saul, mas evitou confrontá-lo, respeitando-o como o ungido do Senhor. Em todas as suas desventuras, além de estar sob a proteção de Deus, Davi tinha homens de guerra à sua disposição. Davi esteve envolvido em inúmeras batalhas contra inimigos do povo de Israel, mas nada se compara ao evidenciado no Salmo 27.

Tal evento ocorreu com Cristo? Sim! Cristo não esteve envolto em batalhas com inimigos externos, como foi o caso de Davi; antes, os inimigos de Cristo foram seus próprios irmãos de sangue.

“Porque o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são os da sua própria casa.” (Miquéias 7:6; Mateus 10:36).

Os opositores e inimigos de Cristo são apresentados como sendo “malvados”. Essa maldade emana da natureza corrupta dos seus opositores, condição herdada de Adão, e não especificamente das ações deles. Observe:

“Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mateus 7:11);

“Teu primeiro pai pecou, e os teus intérpretes prevaricaram contra mim.” (Isaías 43:27).

Mesmo praticando boas ações aos seus semelhantes, o fruto que produzem é conforme a natureza corrupta deles. Com a vinda do Cristo, o fruto dos lábios que deveriam produzir era confessar a Cristo como Senhor, mas continuavam confessando que tinham por pai Abraão, um fruto que evidenciava que não haviam mudado de entendimento (metanoia) mesmo após a mensagem apregoada por João Batista.

“E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Mateus 3:7-9).

A maldade dos filhos de Israel decorre do fato de desde cedo terem se corrompido, portanto, não eram filhos de Deus. Não passavam de uma mancha, geração perversa, distorcida, ou seja, cheia de maldade. Desde a madre se desviaram e proferiam mentiras, e, apesar de a lei e o salmos protestarem continuamente contra eles, não entendiam que a lei foi dada para evidenciar que eram transgressores (Gálatas 3:19)

“Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida é.” (Deuteronômio 32:5);

“Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras.” (Salmos 58:3);

“Ah! Senhor! conhecemos a nossa impiedade e a maldade de nossos pais; porque pecamos contra ti.” (Jeremias 14:20).

Os homens eram maus porque não eram nascidos de Deus (João 1:12-13). Como a semente deles era corruptível, eram maus por natureza e seus frutos também.

“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.” (Mateus 7:15-20).

Esses homens maus precisavam nascer de novo, ou seja, da água e do espírito. Ao ter um encontro com Cristo, o Verbo encarnado, morreriam com Ele e seriam sepultados. Em seguida, ressurgiriam como uma nova criatura, gerada da semente incorruptível, que é a palavra de Deus, aptos a produzirem bom fruto.

“Portanto, ofereçamos sempre a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome.” (Hebreus 13:15).

Embora os escribas, fariseus e líderes religiosos tenham se levantado contra Jesus, eles tropeçaram e caíram. Como isso é possível? Para os filhos de Israel, o Cristo seria uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo, embora Deus tenha estabelecido seu Filho como santuário.

Ao vir ao mundo na condição de servo, aquele cuja missão era edificar o templo ao Senhor, Cristo tornou-se uma armadilha para os filhos de Israel. A essência dessa armadilha estava no fato de os filhos de Israel sempre errarem em seus corações.

“Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém.” (Isaías 8:14);

“Porque o meu povo é inclinado a desviar-se de mim; ainda que chamam ao Altíssimo, nenhum deles o exalta.” (Oséias 11:7);

“Portanto eu os entreguei aos desejos dos seus corações, e andaram nos seus próprios conselhos.” (Salmos 81:12).

Cristo, realizando a vontade do Pai, tornou-se um laço para os moradores de Jerusalém, conforme previsto no Salmo 69:

“Afrontas me quebrantaram o coração, e estou fraquíssimo; esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os achei. Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre. Torne-se-lhes a sua mesa diante deles em laço, e a prosperidade em armadilha.” (Salmos 69:20-22).

“Explicou-lhes Jesus: ‘A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra.'” (João 4:34).

Considerando que a “comida” de Cristo consistia em fazer a vontade do Pai, e que o calvário era a expressão máxima da vontade de Deus, quando Cristo se entregou aos seus algozes, a mesa preparada por Deus diante dos opositores de Jesus tornou-se um laço aos religiosos de Jerusalém. O fato de parecer aos religiosos de Israel que poderiam derrotar o Cristo através da cruz fez com que o evento do calvário se tornasse uma armadilha.

“Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.” (Salmo 23:5).

Diante do revelado pelos Salmos, fica evidente que os homens maldosos não se referem aos inimigos do rei Davi, mas sim aos opositores do descendente de Davi, que veio na plenitude dos tempos para os seus irmãos segundo a carne, mas o rejeitaram (João 1:11).

O salmista Davi registra o sentimento do Messias quando diz: – ‘Ainda que um exército me cercasse’, ou ‘que fosse envolto em uma guerra’, o Cristo não temeria, pois confiaria que Deus é a sua luz e salvação (v. 1).

“Não temerei dez milhares de pessoas que se puseram contra mim e me cercam.” (Salmos 3:6);

“Em Deus tenho posto a minha confiança; não temerei o que me possa fazer o homem.” (Salmos 56:11).

 

O dia da adversidade

4 Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor, e inquirir no seu templo. 5 Porque no dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá; pôr-me-á sobre uma rocha. 6 Também agora a minha cabeça será exaltada sobre os meus inimigos que estão em redor de mim; por isso oferecerei sacrifício de júbilo no seu tabernáculo; cantarei, sim, cantarei louvores ao Senhor. (Salmo 27:4-6).

O Messias tinha um único desejo, e este era o ponto central de sua existência: permanecer continuamente na presença de Deus! A ideia de habitar na casa do Senhor vai muito além de simplesmente permanecer em uma sinagoga, pois o templo de Herodes, o segundo templo, não era de fato o tabernáculo do Deus vivo.

Considerando o que foi afirmado pelo apóstolo Paulo:

“O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens. Tampouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa. Pois é Ele mesmo quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas.” (Atos 17:24; 1 Reis 8:27).

E o que foi profetizado pelo profeta Isaías:

“Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.” (Isaías 57:15).

É claro que “habitar no templo” não se refere a fixar residência em uma sinagoga ou igreja. Ao mencionar o templo, o profeta remete à oração de Salomão que consagrou o templo ao nome do Altíssimo: a fidelidade e a imutabilidade de Deus (1 Reis 8:20 e 23).

O templo do Senhor representa estar ao abrigo da Sua justiça perfeita, como Salomão rogou:

“Ouve, pois, a súplica do teu servo e do teu povo Israel, quando orarem neste lugar; também ouve tu no lugar da tua habitação nos céus; ouve também, e perdoa. Quando alguém pecar contra o seu próximo e for feito juramento de maldição sobre ele, fazendo-o jurar diante do teu altar nesta casa, ouve tu nos céus e age; julga a teus servos, condenando o perverso, fazendo recair o seu proceder sobre a sua cabeça, e justificando o justo, retribuindo-lhe segundo a sua justiça.” (1 Reis 8:30).

O que Cristo incessantemente buscava resultaria na condenação de seus opositores e na Sua própria justificação, isso conforme a Sua integridade. O que o Messias pedia em relação a habitar na casa de Deus está ligado ao desejo de Deus de testar os filhos dos homens, e o Verbo encarnado submeteu-se a tal escrutínio.

“O SENHOR está no seu santo templo, o trono do SENHOR está nos céus; os seus olhos estão atentos, e as suas pálpebras sondam os filhos dos homens.” (Salmos 11:4);

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos.” (Salmos 139:23).

O Messias sabia que, enquanto obedecesse ao Pai, estaria sob Sua proteção. Observe que ‘temor’ no verso 7, do Salmo 5, significa respeito à vontade divina, o que garante proteção (amor, honrar) do Pai.

“Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.” (João 15:10).

“Porém eu entrarei em tua casa pela grandeza da tua benignidade; e em teu santo temor me inclinarei para o teu santo templo.” (Salmos 5:7).

O Salmo 61 expressa o mesmo clamor do Messias quando confrontado com a oposição de seus inimigos:

“Desde as extremidades da terra clamarei a ti, quando o meu coração estiver desfalecendo; conduze-me à rocha que é mais alta do que eu. Pois tens sido um refúgio para mim, uma torre forte contra o inimigo. Para sempre habitarei no teu tabernáculo; refugiar-me-ei sob a sombra de tuas asas. (Selá.)” (Salmos 61:2-4).

O versículo 4, do Salmo 27 revela a essência da pessoa sobre a qual o Salmista profetiza. Somente aquele que é limpo de mãos e puro de coração pode habitar com Deus e contemplar Sua beleza. O Cristo de Deus é o único que não pecou e cuja boca não proferiu engano!

Não ser participante das delícias (comida) dos religiosos é o mesmo que não obedecer a mandamentos e precitos de homens, que em essência são obras más (Salmo 141:3-4).

“Quem subirá ao monte do SENHOR, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente.” (Salmos 24:3-4).

“Ele não cometeu pecado, nem foi encontrado engano em sua boca.” (1 Pedro 2:22).

Contemplar a beleza do Senhor significa alcançar Seu favor, como é descrito no verso 8, do Salmo 141:

“Mas os meus olhos estão fixos em ti, ó DEUS, o Senhor; em ti me refugio; não me abandones à morte.” (Salmo 141:8).

“Inquirir no Seu templo” remete ao ensino e aprendizado, algo valorizado pelo Filho de Deus, que aprendeu a obedecer (Hebreus 5:8). O Salmo 141 revela a natureza do aprendizado de Cristo, cujo alimento era fazer a vontade do Pai, ao contrário de seus inimigos, cujo temor a Deus consistia apenas em seguir os mandamentos humanos (João 4:34; Isaías 29:13).

“Não permitas que meu coração se incline para o mal, a praticar obras iníquas com homens que praticam a maldade; e não permitas que eu coma de seus manjares. Que o justo me castigue, é um favor; que me repreenda, é óleo sobre minha cabeça. A minha cabeça não se recusará.” (Salmo 141:4-5).

Enquanto esteve entre os homens, Jesus sabia que o dia da adversidade se aproximava, mas, por buscar continuamente a face do Pai, tinha a certeza de que seria acolhido por Ele. Quando foi morto e ressuscitou, Cristo passou a estar à direita do Altíssimo, isto é, escondido no Seu pavilhão, no oculto do Seu tabernáculo.

O Salmo 110:1 diz: “O SENHOR disse ao meu Senhor: Senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés”, evidenciando que Cristo voltpou a habitar no esconderijo do Altíssimo.

A morte de Cristo, em obediência ao Pai, aos olhos dos homens, parecia adversidade, mas, aos olhos de Deus, resultou em conquista e exaltação. O Salmo 40 destaca o resgate de Cristo, que aos olhos dos homens parecia estar imerso em um charco de lodo, mas, na morte, o Pai firmou os seus pés sobre uma rocha. Não há dúvidas quanto ao que está registrado nas Escrituras sobre Cristo, como se lê:

“Ele me tirou de um poço de perdição, de um tremedal de lodo; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos. (…) Então eu disse: Aqui estou! No livro está escrito a meu respeito. Delicio-me em fazer a tua vontade, ó meu Deus; a tua lei está no fundo do meu coração.” (Salmos 40:2 e 7-8).

A certeza de que seria exaltado acima dos seus inimigos era uma promessa e um poder do Pai. Os inimigos de Cristo estavam ao redor do calvário, certos de que haviam vencido um embate político/religioso, e não conseguiram perceber que Cristo estava à mesa preparada pelo Pai, o que resultaria em exaltação.

Hebreus 12:2 nos diz: “Olhando para Jesus, autor e consumador da nossa fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à destra do trono de Deus”, ou seja, da adversidade foi alçado à destra do Altíssimo.

Os inimigos mencionados no Salmo 27 são descritos como “o homem violento” no Salmo 18:48:

“O meu libertador é Deus, o rochedo em que me refugio; ele é o meu escudo e o poder que me salva, a minha torre alta”.

A exaltação é uma realidade descrita em vários Salmos:

“Eu te exaltarei, SENHOR, pois tu me reergueste e não deixaste que os meus inimigos se alegrassem à minha custa.” (Salmos 30:1);

“Tu, porém, SENHOR, és o meu escudo, és a minha glória e me fazes andar de cabeça erguida.” (Salmos 3:3).

O profeta Isaías profetizou a exaltação de Cristo, e o apóstolo Paulo narra o que ocorreu após a ressurreição aos cristãos de Filipos:

“Assim ele aspergirá muitas nações, e os reis se calarão diante dele. Pois aquilo que não lhes foi anunciado, verão, e o que não ouviram, compreenderão”. (Isaías 52:15).

“Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome”. (Filipenses 2:9).

O Salmo 46 também descreve a mesma exaltação, mas com Cristo se apresentando como Deus, ao contrário dos salmos anteriores que o retratam como servo e imagem de Deus invisível:

“Estejam quietos e saibam que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra”. (Salmos 46:10).

O sacrifício de louvor foi anunciar o nome de Deus aos homens, pois o verdadeiro louvor vem da confissão. Esse é o verdadeiro canto de louvor ao Pai: manifestar o nome de Deus à humanidade. Ao consumar a obra dada pelo Pai, Jesus ofereceu sacrifício de louvor, ou seja, entoou verdadeiramente cânticos ao Senhor.

“Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer. E agora, Pai, glorifica-me em tua presença com a glória que eu tinha contigo antes do mundo existir. Revelei-te àqueles que me deste do mundo. Eles eram teus; tu os deste a mim e eles têm obedecido à tua palavra” (João 17:4-6).

O sacrifício de louvor do Cristão é confessar a Cristo como Senhor, o único modo de revelar Cristo aos homens (Hebreus 13:15).

 

O favor do Pai

“7 Ouve, Senhor, a minha voz quando clamo; tem também piedade de mim, e responde-me. 8 Quando tu disseste: Buscai o meu rosto; o meu coração disse a ti: O teu rosto, Senhor, buscarei. 9 Não escondas de mim a tua face, não rejeites ao teu servo com ira; tu foste a minha ajuda, não me deixes nem me desampares, ó Deus da minha salvação. 10 Porque, quando meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me recolherá.” (Salmo 27:7-10).

O salmista registra um pedido de seu Descendente, o Cristo: “Ouve, Senhor, a minha voz quando clamo!” Esta oração reflete a integridade e justiça de quem suplica, pois não se baseia apenas na misericórdia e compaixão divinas. Cristo roga que Deus lhe seja favorável, mas também deixa transparecer que é justo, inocente e íntegro, como demonstram outros salmos:

“O Senhor julgará os povos. Julga-me, Senhor, conforme a minha justiça, e conforme a minha integridade.” (Salmo 7:8);

“O Senhor me recompensou conforme a minha justiça; conforme a pureza das minhas mãos me retribuiu.” (Salmo 18:20).

Davi, apesar de ser considerado o homem segundo o coração de Deus, não possuía as virtudes necessárias para fazer tal pedido a Deus com base em sua retidão e justiça. O Salmo 27 evidencia que quem faz o pedido é um servo obediente, pois recebeu a instrução: “Busque o meu favor, ou seja, o meu rosto”, e humildemente respondeu: “O teu rosto, Senhor, buscarei”.

Como podemos alcançar o favor de Deus? Como podemos ser alvo de Sua misericórdia? A resposta está na sujeição a Deus em obediência. E assim foi a existência de Cristo, que não falou nada de si mesmo, mas apenas declarou à humanidade o que o Pai lhe prescreveu que falasse, desempenhando o papel de um mensageiro e servo.

“Eu sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai me disse.” (João 12:50).

Por que esse pedido do Messias seria tão intenso? Porque ele sabia que seria abandonado por seus familiares segundo a carne (pai e mãe), já que o cálice que lhe seria dado a beber decorreria da rejeição das  pessoas que ele veio salvar. No momento mais crítico, quando seus próprios familiares se tornariam seus inimigos, o único consolo era saber que o Pai eterno jamais o rejeitaria.

“Porque o filho despreza o pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra; os inimigos do homem são os da sua própria casa.” (Miquéias 7:6).

 

Certeza de que voltaria à vida

“11 Ensina-me, Senhor, o teu caminho, e guia-me pela vereda direita, por causa dos meus inimigos. 12 Não me entregues à vontade dos meus adversários; pois se levantaram falsas testemunhas contra mim, e os que respiram crueldade. 13 Pereceria sem dúvida, se não cresse que veria a bondade do Senhor na terra dos viventes. 14 Espera no Senhor, anima-te, e ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, no Senhor.” (Salmo 27:11-14).

Como a nação na qual Cristo viria ensinava mandamentos de homens, Deus recomendou que não confiasse no amigo, no líder ou até mesmo no filho que criou, para esclarecer as coisas concernentes a Deus e ao Cristo, já que os inimigos do Filho do Homem seriam os seus próprios familiares. Restou a Cristo rogar ao Pai que o ensinasse, guiando-o por veredas retas.

“Não confieis no amigo, nem confieis no vosso guia; daquela que repousa no teu seio, guarda as portas da tua boca.” (Miquéias 7:5).

O Livro dos Provérbios de Salomão é um compêndio de instruções de Deus para o Cristo, alertando-o para que não siga a mulher adúltera (a nação de Israel), pois seus caminhos levam à morte, antes deveria obedecer à instrução do Pai (Provérbios 7:1-5).

“E eis que uma mulher lhe saiu ao encontro com enfeites de prostituta, e astúcia de coração.  Estava alvoroçada e irriquieta; não paravam em sua casa os seus pés. Foi para fora, depois pelas ruas, e ia espreitando por todos os cantos; E chegou-se para ele e o beijou. Com face impudente lhe disse: Sacrifícios pacíficos tenho comigo; hoje paguei os meus votos.” (Provérbios 7:10-14).

A nação de Israel, sob o pretexto de oferecer sacrifícios pacíficos a Deus, sempre buscou fazer prosélitos, e os incautos acabam se deixando levar pela astúcia de suas palavras. As observações do Pregador são instruções ao Cristo para que nãos e deixasse levar pelas palavras da nação carregada de pecados.

O Cristo roga para não ser entregue à sanha de seus inimigos, que queriam destruí-lo, e por isso, eles arrumaram falsas testemunhas para acusá-lo de ter infringido a lei mosaica e os costumes da nação judaica (Mateus 26:60-61).

Se Cristo não tivesse certeza de que o Pai o ressuscitaria dentre os mortos, definitivamente pereceria, pois não teria motivo para obedecer ao Pai quando lhe deu o cálice a beber, especificamente a mesa do calvário disposta perante os seus inimigos (Salmo 23). O que poderia levar o Cristo à destruição seria um ato de desobediência ao Pai, assim como a desobediência ao mandamento do Criador levou Adão à destruição.

Adão precisava obedecer ao mandamento de Deus para preservar a sua vida e comunhão com Deus, e desobedeceu. Já o Cristo, pelo que sofreu, evidencia que teve que obedecer, e a única certeza era que, ao se entregar à morte pelas mãos dos pecadores, ainda veria a bondade do Pai.

“Em Deus tenho posto a minha confiança; não temerei o que me possa fazer o homem. Os teus votos estão sobre mim, ó Deus; eu te renderei ações de graças; Pois tu livraste a minha alma da morte; não livrarás os meus pés da queda, para andar diante de Deus na luz dos viventes?” (Salmos 56:11-13).

De tudo o que estava previsto para acontecer com Cristo, a recomendação do Pai foi: – “Espera no Senhor, anima-te, e ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, no Senhor”. Cristo, obediente, proclama: – “Esperei com paciência!” (Salmo 40:1).

“Esperei com paciência no SENHOR, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. Tirou-me de um lago horrível, de um charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos.” (Salmo 40:1-2);

“Porque no dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá; pôr-me-á sobre uma rocha.” (Salmo 27:5).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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