Salmos I

Salmo 5 – A queda daqueles que seguem os seus próprios conselhos

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O Salmo 5 é uma composição profética que descreve, por meio de uma oração que remete a pessoa do Messias, a impiedade dos filhos de Israel através de figuras e parábolas, bem como a predição da retribuição divina, algo que não atentaram quando lhes foi anunciado.


Salmo 5 – A queda daqueles que seguem os seus próprios conselhos

¹ DÁ ouvidos às minhas palavras, ó Senhor, atende à minha meditação. ² Atende à voz do meu clamor, Rei meu e Deus meu, pois a ti orarei. ³ Pela manhã ouvirás a minha voz, ó Senhor; pela manhã apresentarei a ti a minha oração, e vigiarei. ⁴ Porque tu não és um Deus que tenha prazer na iniqüidade, nem contigo habitará o mal. ⁵ Os loucos não pararão à tua vista; odeias a todos os que praticam a maldade. ⁶ Destruirás aqueles que falam a mentira; o Senhor aborrecerá o homem sanguinário e fraudulento. ⁷ Porém eu entrarei em tua casa pela grandeza da tua benignidade; e em teu temor me inclinarei para o teu santo templo. ⁸ Senhor, guia-me na tua justiça, por causa dos meus inimigos; endireita diante de mim o teu caminho. ⁹ Porque não há retidão na boca deles; as suas entranhas são verdadeiras maldades, a sua garganta é um sepulcro aberto; lisonjeiam com a sua língua. ¹⁰ Declara-os culpados, ó Deus; caiam por seus próprios conselhos; lança-os fora por causa da multidão de suas transgressões, pois se rebelaram contra ti. ¹¹ Porém alegrem-se todos os que confiam em ti; exultem eternamente, porquanto tu os defendes; e em ti se gloriem os que amam o teu nome. ¹² Pois tu, Senhor, abençoarás ao justo; circundá-lo-ás da tua benevolência como de um escudo. 

Salmos 5:1-12

Introdução

Analisaremos o Salmo 5 sob duas perspectivas: a primeira se refere à natureza profética dos Salmos, enquanto a segunda aborda o público-alvo da mensagem.

Considerando a análise de Cristo e dos apóstolos, que apontavam para os Salmos como profecias equiparáveis à Lei e aos Profetas, especialmente porque evidenciaram que o que estava predito se cumpre na pessoa de Cristo, analisemos a perspectiva profética dos Salmos.

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;” (João 5:39);

“Sendo, pois, ele (Davi) profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono,” (Atos 2:30);

“E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos.” (Lucas 24:44).

Lembrando que o rei Davi comissionou os capitães de seus exércitos a profetizarem com instrumentos musicais (2 Crônicas 25:1-3). 

“E Davi, juntamente com os capitães do exército, separou para o ministério os filhos de Asafe, e de Hemã, e de Jedutum, para profetizarem com harpas, com címbalos, e com saltérios; e este foi o número dos homens aptos para a obra do seu ministério: Dos filhos de Asafe: Zacur, José, Netanias, e Asarela, filhos de Asafe; a cargo de Asafe, que profetizava debaixo das ordens do rei Davi. Quanto a Jedutum, os filhos: Gedalias, Zeri, Jesaías, Hasabias, e Matitias, seis, a cargo de seu pai, Jedutum, o qual profetizava com a harpa, louvando e dando graças ao Senhor. (1 Crônicas 25:1-3).

Geralmente, as pessoas consideram as profecias apenas pela sua natureza preditiva, ou seja, por anteciparem eventos futuros, sem se atentarem para o fato de que a natureza de uma profecia é mais ampla. O apóstolo Paulo, por sua vez, destaca que a mensagem de um profeta possui outras características, como edificar, exortar e consolar os homens. 

“Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação.” (1 Coríntios 14:3).

Jesus antecipou eventos futuros aos discípulos para que acreditassem nele (João 14:29) e tivessem paz quando Ele fosse preso e morto (João 16:32-33), evidenciando que seus discípulos foram instruídos, exortados e consolados.

O Salmo 5 é messiânico, assim como muitos outros. Neste Salmo, o profeta Davi, por meio de uma oração, evidencia que o Cristo confiaria plenamente em Deus, bem como descreve seus opositores utilizando figuras e parábolas (similes).

O Salmo 5 trata de Cristo e de seus opositores, sem mencionar que os Salmos, assim como a Lei e os Profetas, tinham como público-alvo os filhos de Israel, visto que tudo que consta nas Escrituras visava instruir primeiramente os judeus.

“Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus.” (Romanos 3:19).

Observe que ao pontuar que “tudo o que a lei diz, diz aos judeus (aos que estão debaixo da lei)”, o apóstolo Paulo citou vários Salmos e o profeta Isaías.

“Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; Cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; E não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos.” (Romanos 3:9-18; Salmo 5:9; 10:7; 14:3; 36:3; 53:3-6; Salmo 58:4; 140:3; Isaías 59:3 e 7-8).

Através das Escritas, Deus procurou ensinar, redarguir, corrigir e instruir os filhos de Israel, mas eles rejeitaram a palavra do Senhor e andaram após a avareza dos seus próprios corações enganosos.  

“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça;” (2 Timóteo 3:16);

“E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza.” (Ezequiel 33:31).

Se desejamos compreender bem os Salmos, primeiro é necessário considerar que Jesus é a “pedra de toque” que nos permite entender as profecias contidas neles; em segundo lugar, que as Escrituras foram dadas aos judeus (Romanos 3:2 e 19); e, por fim, que os cristãos devem ler as Escrituras tendo em mente que muito do que está registrado sobre os filhos de Israel deve servir como exemplo para evitarmos cair na mesma desobediência.

“E estas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobiçamos as coisas más, como eles cobiçaram.” (1 Coríntios 10:6);

“Procuremos, pois, entrar naquele repouso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência.” (Hebreus 4:11).

O apóstolo Paulo, ao citar os Salmos nos versos 9 a 18 do capítulo 3 da carta aos Romanos, procura evidenciar aos cristãos judeus que em nenhum lugar das Escrituras eles são apresentados como melhores que os gentios. O objetivo das Escrituras era justamente o contrário: demonstrar que tanto judeus quanto gregos estavam em igual condição diante de Deus.

Os judeus ouviam as Escrituras e se consideravam melhores que os gentios, mas a leitura correta é que as Escrituras não excluíam os judeus da condição de pecadores. Ser descendente da carne de Abraão não os tornava melhores que os gentios.

O Salmo 5 é uma composição profética que descreve, por meio de uma oração que remete a pessoa do Messias, a impiedade dos filhos de Israel através de figuras e parábolas, bem como a predição da retribuição divina, algo que não atentaram quando lhes foi anunciado.

“Vede, ó desprezadores, e espantai-vos e desaparecei; Porque opero uma obra em vossos dias, Obra tal que não crereis, se alguém vo-la contar.” (Atos 13:41).

A essência do que procuramos destacar é que, embora Cristo tenha anunciado que as Escrituras testificam dele, a maioria dos teólogos interpreta os Salmos como um registro da vida e sentimentos dos salmistas.

Se o leitor das Escrituras não conseguir compreender que os Salmos são composições proféticas que testificam de Cristo, jamais entenderá a verdadeira essência das Escrituras.

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;” (João 5:39).

Sem dúvida, o cerne das Escrituras é o Cristo! A história de Abraão, Isaque e Jacó visa descrever a evolução da linhagem de Cristo, enquanto a história de Davi, registrada nos livros dos Reis e das Crônicas, tem por objetivo destacar a realeza de Cristo. As profecias e os Salmos, em sua grande maioria, evidenciam características próprias de Cristo, de modo que os homens pudessem identificá-lo.

É possível perceber Cristo no Salmo 5? Vamos descobrir!

 

Aguardando uma resposta de Deus

¹ DÁ ouvidos às minhas palavras, ó Senhor, atende à minha meditação.

² Atende à voz do meu clamor, Rei meu e Deus meu, pois a ti orarei.

³ Pela manhã ouvirás a minha voz, ó Senhor; pela manhã apresentarei a ti a minha oração, e vigiarei.

⁴ Porque tu não és um Deus que tenha prazer na iniqüidade, nem contigo habitará o mal.

O Salmista registra um clamor que muitos compreendem como expressão de seus próprios anseios. No entanto, sendo ele um profeta, é plausível considerar que tenha registrado inspiradamente a oração de outra pessoa (Atos 2:30; 2 Pedro 1:21).

Uma oração para ser atendida precisa estar de acordo com a vontade de Deus, e ao analisar a oração do Salmo 5, percebe-se que se trata de uma súplica que reflete essencialmente a vontade de Deus.

“E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos.” (1 João 5:14-15).

A prece: ‘Dá ouvido às minhas palavras, ó Senhor, atende à minha meditação’ não se trata de vãs repetições ou de algo próprio ao deleite humano (Tiago 4:3), antes é uma prece profética semelhante ao Salmo 22:

“DEUS meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das palavras do meu bramido?” (Salmo 22:1).

Uma oração é a expressão em palavras da total confiança em Deus, que por sua vez não se furtará a atender aquele que expressa sua confiança. Quando se diz “a ti orarei”, indica-se confiança plena em Deus.

Antes que a calamidade e a provação venham, por confiar plenamente e ter esperança inabalável, a pessoa retratada no Salmo elevará sua voz a Deus pedindo auxílio pela manhã. Pela manhã é um tempo especialmente oportuno, ou seja, antes que a adversidade chegue.

Após expressar sua confiança em oração, a pessoa sobre a qual Davi escreveu esperaria a intervenção divina (vigiará). A plena confiança dessa pessoa em fazer essa oração a Deus emana de uma verdade inquestionável própria à natureza divina:

“Porque tu não és um Deus que tenha prazer na iniqüidade, nem contigo habitará o mal.” (v. 4).

Essa observação revela tanto a natureza de Deus quanto a natureza daquele que faz a oração. Deus não tem prazer nos transgressores e jamais terá comunhão com o mal. Portanto, aquele que faz a prece tem a certeza de que Deus se agrada dele e, por isso, será atendido. Além disso, por ser bom, ele tem plena comunhão (habitará) com Deus.

O Salmo 15 descreve quem pode habitar com Deus, o que exclui os iníquos, aqueles que praticam o mal.

“SENHOR, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte? Aquele que anda sinceramente, e pratica a justiça, e fala a verdade no seu coração.” (Salmo 15:1-2).

O Salmo 15 aponta para o Cristo, que andou em sinceridade, praticou a justiça e falou a verdade de Deus aos homens. Isso evidencia que o Salmo 5 tem a mesma abordagem, pois o único em quem Deus se apraz é o seu Filho.

“E ouviu-se uma voz dos céus, que dizia: Tu és o meu Filho amado em quem me comprazo.” (Marcos 1:11). 

 

Descrição dos homens réprobos

⁵ Os loucos não pararão à tua vista; odeias a todos os que praticam a maldade.

⁶ Destruirás aqueles que falam a mentira; o Senhor aborrecerá o homem sanguinário e fraudulento.

Os loucos não subsistem ante a presença de Deus! Quem são os loucos? “Néscio” é uma figura utilizada pelos profetas que remete aos filhos de Israel, que por não se sujeitarem a Deus, é como se afirmassem que Deus não existe.

Observe que o “néscio” do Salmo 53 diz em seu coração (pensamento), e não com a boca (ateu):

“DISSE o néscio no seu coração: Não há Deus. Têm-se corrompido, e cometido abominável iniqüidade; não há ninguém que faça o bem.” (Salmo 53:1).

É uma figura que remonta a repreensão feita por Moisés aos filhos de Jacó:

“Recompensais assim ao SENHOR, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai que te adquiriu, te fez e te estabeleceu?” (Deuteronômio 32:6).

O profeta Asafe faz referência aos filhos de Israel como um povo louco e de cervis altiva:

Disse eu aos loucos: Não enlouqueçais, e aos ímpios: Não levanteis a fronte; Não levanteis a vossa fronte altiva, nem faleis com cerviz dura. Porque nem do oriente, nem do ocidente, nem do deserto vem a exaltação.” (Salmo 75:4-6).

É razoável entender que Asafé não estava se referindo àqueles que devam ser recolhidos aos manicômios, e sim aos filhos de Israel que, por serem transgressores, eram considerados loucos e ímpios.

A abordagem de Asafé também não tem por alvo os gentios, pois nenhum dos profetas faz referência aos gentios como sendo loucos. Deus se revelou apenas aos judeus, e estes, por sua vez, se portaram como loucos ao rejeitarem o seu Deus.

Os loucos, na visão dos profetas, são aqueles que praticam a iniquidade.

“Contudo dizem: O SENHOR não o verá; nem para isso atenderá o Deus de Jacó. Atendei, ó brutais dentre o povo; e vós, loucos, quando sereis sábios? Aquele que fez o ouvido não ouvirá? E o que formou o olho, não verá?” (Salmo 94:7-9).

Jesus, ao direcionar a sua reprimenda aos líderes judeus, chamou-os de loucos:

“Loucos! Quem fez o exterior não fez também o interior?” (Lucas 11:40);

“E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!” (Lucas 24:25).

Desconhecer os caminhos do Senhor, o que equivale a ignorar seus mandamentos (juízos, leis, etc.), é ser louco, vil, mentiroso, o que contrasta com Aquele que é real, nobre, veraz.

“Deveras o meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios, e não entendidos; são sábios para fazer mal, mas não sabem fazer o bem.” (Jeremias 4:22);

“Eu, porém, disse: Deveras estes são pobres; são loucos, pois não sabem o caminho do Senhor, nem o juízo do seu Deus.” (Jeremias 5:4).

O apóstolo Paulo nomeia os seguidores do judaísmo, que eram instruídos pelos líderes judeus, de néscios, portanto, loucos.

“Instrutor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei;” (Romanos 2:20).

Considerando a abordagem do salmista e profeta Asafe, de que os filhos de Israel eram altivos, ou seja, que não se submetem, de dura cerviz, um modo de o profeta Moisés destacar a rebeldia do povo, percebe-se que os filhos de Israel são chamados de loucos especificamente por não se sujeitarem a Deus.

“Porque conheço a tua rebelião e a tua dura cerviz; eis que, vivendo eu ainda hoje convosco, rebeldes fostes contra o Senhor; e quanto mais depois da minha morte?” (Deuteronômio 31:27);

Disse eu aos loucos: Não enlouqueçais, e aos ímpios: Não levanteis a fronte; Não levanteis a vossa fronte altiva, nem faleis com cerviz dura. Porque nem do oriente, nem do ocidente, nem do deserto vem a exaltação.” (Salmo 75:4-6);

“Os loucos, por causa da sua transgressão, e por causa das suas iniqüidades, são aflitos.” (Salmo 107:17).

Os filhos de Israel são rotulados de loucos por causa de sua insensatez, e por isso, não alcançaram o favor de Deus (não permanecerão à tua vista). Através do paralelismo sinônimo, recurso próprio à poesia hebraica, que consiste em repetir a mesma ideia de duas maneiras diferentes, é possível identificar os “loucos” como “aqueles que praticam a maldade” e “não permanecer à vista de Deus” como objeto de “ódio” (v. 5).

“Aborrecer” e “odiar” são verbos utilizados para evidenciar que a pessoa não é alvo da misericórdia (amor) de Deus.

“Eu vos tenho amado, diz o Senhor. Mas vós dizeis: Em que nos tens amado? Acaso não era Esaú irmão de Jacó? diz o Senhor; todavia amei a Jacó,e aborreci a Esaú; e fiz dos seus montes uma desolação, e dei a sua herança aos chacais do deserto.” (Malaquias 1:2-3).

Através do paralelismo sinônimo, é possível estabelecer a correlação entre “loucos”, “mentirosos”, “fraudulentos”, “sanguinários” e Deus “aborrecer”, “odiar”, “destruir”, “não permanecer à vista”. Deste modo, aqueles que são “loucos”, “mentirosos”, “fraudulentos” ou “sanguinários” não permanecem à vista de Deus (vv. 5-6).

Os loucos não pararão à tua vista; odeias a todos os que praticam a maldade. Destruirás aqueles que falam a mentira; o Senhor aborrecerá o homem sanguinário e fraudulento.” (Salmo 5:5-6).

Através do paralelismo sinônimo é possível criar novas frases de igual significado, por exemplo:

Os loucos não pararão à tua vista; 

Os que praticam a maldade não pararão à tua vista;.

Aqueles que falam a mentira não pararão à tua vista;

O homem sanguinário e fraudulento não pararão à tua vista.

‘Loucos’, ‘mentirosos’, ‘fraudulentos’, ‘sanguinários’, etc. são formas de fazer referência aos filhos de Israel, abordagem que se repete no verso 9, do Salmo 5.

“Todavia lisonjeavam-no com a boca, e com a língua lhe mentiam.” (Salmos 78:36);

“Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim.” (Mateus 15:8);

“Só permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um ato sanguinário segue imediatamente a outro.” (Oséias 4:2);

“Lavrastes a impiedade, segastes a iniqüidade, e comestes o fruto da mentira; porque confiaste no teu caminho, na multidão dos teus poderosos.” (Oséias 10:13);

“Porque este é um povo rebelde, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do Senhor.” (Isaías 30:9).

O Salmo 109 ao antecipar a oposição dos filhos de Israel ao Cristo, bem como a traição de Judas, evidência quem são os homens descritos como mentirosos: os judeus.

“Pois a boca do ímpio e a boca do enganador estão abertas contra mim. Têm falado contra mim com uma língua mentirosa.” (Salmo 109:2; Atos 1:16-20).

Ao falar da congregação de Israel, o salmista chama os filhos de Israel de mentirosos:

“Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras. O seu veneno é semelhante ao veneno da serpente; são como a víbora surda, que tapa os ouvidos,” (Salmo 58:3-4; Salmo 140:3).

Ao falar da condição dos filhos de Israel, o apóstolo Paulo cita os Salmos 5, 53, 58 e Isaías 59, e arremata que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz(Romanos 3:19).

 

O temor do Senhor

⁷ Porém eu entrarei em tua casa pela grandeza da tua benignidade; e em teu temor me inclinarei para o teu santo templo.

⁸ Senhor, guia-me na tua justiça, por causa dos meus inimigos; endireita diante de mim o teu caminho.

⁹ Porque não há retidão na boca deles; as suas entranhas são verdadeiras maldades, a sua garganta é um sepulcro aberto; lisonjeiam com a sua língua.

¹⁰ Declara-os culpados, ó Deus; caiam por seus próprios conselhos; lança-os fora por causa da multidão de suas transgressões, pois se rebelaram contra ti.

O verso 7 é um contraponto ao verso 5, visto que, enquanto os “loucos” não alcançam o favor de Deus, a pessoa sobre quem o salmista está profetizando se encontra ao abrigo da benignidade de Deus.

Os “loucos” são os homens ímpios que recitam os estatutos de Deus e tomam a aliança de Deus na boca, ou seja, os filhos de Israel que são repreendidos por Deus através do profeta Isaías.

“Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim.” (Mateus 15:8);

“Mas ao ímpio diz Deus: Que fazes tu em recitar os meus estatutos, e em tomar a minha aliança na tua boca?” (Salmos 50:16).

O povo de Israel estava acostumado a recitar os estatutos que aprenderam decor, ou seja, honravam com os lábios, mas o coração estava longe, pois não se sujeitavam aos mandamentos de Deus.

“E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza.” (Ezequiel 33:31).

A adoração dos “loucos” era vã, pois ensinavam doutrinas que eram preceitos de homens, enquanto o Cristo entraria na casa de Deus obedecendo ao temor do Senhor. Só se inclina para o Santo Templo, ou seja, só é possível adentrar a casa do Senhor e encontrar seu favor quando se obedece à doutrina de Deus.

“Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens. (Mateus 15:8-9).

Cristo mesmo afirmou que sua comida era fazer a vontade de Deus. Considerando que o temor do Senhor refere-se à sua palavra, obedecer a Deus é equivalente a permanecer em sua presença (benignidade). Somente a palavra do Senhor subsiste eternamente, ou seja, o seu temor é o que dá sabedoria aos simples.

“Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra.” (João 4:34);

O temor do SENHOR é limpo, e permanece eternamente; os juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente.” (Salmos 19:9);

“Seca-se a erva, e cai a flor, porém a palavra de nosso Deus subsiste eternamente. (Isaías 40:8);

“Vinde, meninos, ouvi-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR.” (Salmos 34:11).

O versículo 10 do Salmo 110 define com maestria o que é o temor do Senhor:

“O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; bom entendimento têm todos os que cumprem os seus mandamentos; o seu louvor permanece para sempre.” (Salmos 111:10).

Compare os seguintes versos, e a conclusão será que o ‘temor’ é a palavra do Senhor. A analogia entre esses versículos enfatiza a importância e a centralidade da palavra de Deus como a fonte do temor e da sabedoria.

“Pela misericórdia e verdade a iniqüidade é perdoada, e pelo temor do SENHOR os homens se desviam do pecado.” (Provérbios 16:6);

“Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti.” (Salmos 119:11).

O verso 7 estabelece uma conclusão sobre a benignidade de Deus, que é expressa na Sua palavra. Isso leva ao pedido expresso no verso 8, onde aqueles que buscam a casa do Senhor, ou seja, a Sua presença, se inclinam e adoram-No obedecendo. 

Daí a oração: 

“Senhor, guia-me na tua justiça, por causa dos meus inimigos; endireita diante de mim o teu caminho.” (v. 8).

Essa é uma oração que ecoa por diversos Salmos messiânicos:

“Ensina-me, SENHOR, o teu caminho, e guia-me pela vereda direita, por causa dos meus inimigos.” (Salmo 27:11);

“Guiar-me-ás com o teu conselho, e depois me receberás na glória.” (Salmos 73:24);

“Porque tu és a minha rocha e a minha fortaleza; assim, por amor do teu nome, guia-me e encaminha-me. Tira-me da rede que para mim esconderam, pois tu és a minha força. Nas tuas mãos encomendo o meu espírito; tu me redimiste, SENHOR Deus da verdade.” (Salmo 31:3-5);

“Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.” (Salmos 23:3).

Ao contrário dos “loucos”, Cristo podia orar ao Pai para ser examinado e provado, pois ao andar na verdade, a benignidade de Deus estava sempre diante dele. O pedido para ser guiado na justiça do Pai é feito por causa dos inimigos do Messias, que incluíam até mesmo seus próprios familiares, como mencionado em Mateus 10:36. Isso destaca a necessidade de orientação divina diante da oposição e das dificuldades enfrentadas por Cristo durante seu ministério terreno.

“Examina-me, SENHOR, e prova-me; esquadrinha os meus rins e o meu coração. Porque a tua benignidade está diante dos meus olhos; e tenho andado na tua verdade.” (Salmo 26:2-3);

“Não creiais no amigo, nem confieis no vosso guia; daquela que repousa no teu seio, guarda as portas da tua boca. Porque o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são os da sua própria casa.” (Miquéias 7:5-6).

Quem são aqueles que não tem retidão na boca e cuja entranhas são verdadeiras maldades? Os inimigos do Messias (v. 8).

“Senhor, guia-me na tua justiça, por causa dos meus inimigos; endireita diante de mim o teu caminho. Porque não há retidão na boca deles; as suas entranhas são verdadeiras maldades, a sua garganta é um sepulcro aberto; lisonjeiam com a sua língua.” (vv. 8-9).

Os inimigos do Filho do Homem podem incluir até mesmo os de sua própria casa, como concidadãos, pessoas que lisonjeiam com a língua, mas cuja garganta é um sepulcro aberto, como destacado em Ezequiel 33:31 e Mateus 15:8-9. Considerando o que foi apontado pelo apóstolo Paulo, conclui-se que se trata daqueles que viviam debaixo da Lei, conforme mencionado em Romanos 3:19.

O mesmo peso encontra-se no Salmo 140:

“Aguçaram as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios. (Selá.) Guarda-me, ó SENHOR, das mãos do ímpio; guarda-me do homem violento; os quais se propuseram transtornar os meus passos.” (Salmo 140:3-4).

Cristo veio para salvar e não para julgar (João 3:17), e a demanda em oração pode ser interpretada como um pedido para que o Pai declare os inimigos culpados, tomando por base os conselhos de seus próprios corações enganosos. Isso reflete a confiança de Cristo na justiça divina e na intervenção de Deus nas situações de injusta oposição.

Declara-os culpados, ó Deus; caiam por seus próprios conselhos; lança-os fora por causa da multidão de suas transgressões, pois se rebelaram contra ti.” (v. 10);

“E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo. Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia.” (João 12:47-18);

“Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado. (Mateus 12:37).

Por que os filhos de Israel cairiam por seus próprios conselhos? A resposta é objetiva:

“Portanto eu os entreguei aos desejos dos seus corações, e andaram nos seus próprios conselhos.” (Salmos 81:12);

“AI dos filhos rebeldes, diz o SENHOR, que tomam conselho, mas não de mim; e que se cobrem, com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado;” (Isaías 30:1);

“Mas não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos, mas andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante.” (Jeremias 7:24).

O profeta Moisés já havia alertado que os filhos de Israel eram faltos de conselhos, sem entendimento e ignorantes acerca das coisas de Deus.

“Porque são gente falta de conselhos, e neles não há entendimento. Quem dera eles fossem sábios! Que isto entendessem, e atentassem para o seu fim!” (Deuteronômio 32:28-29);

“Porquanto se rebelaram contra as palavras de Deus, e desprezaram o conselho do Altíssimo.” (Salmos 107:11).

 

Os que se gloriam no Senhor

¹¹ Porém alegrem-se todos os que confiam em ti; exultem eternamente, porquanto tu os defendes; e em ti se gloriem os que amam o teu nome.

¹² Pois tu, Senhor, abençoarás ao justo; circundá-lo-ás da tua benevolência como de um escudo.

Os versículos 11 e 12 servem como um contraponto ao verso 10. Os “loucos” são declarados culpados por andarem em seus próprios conselhos, ao passo que aqueles que confiam em Deus são abençoados. A expressão máxima de confiança em Deus é, de fato, obedecê-Lo. Essa confiança se evidencia na obediência, não apenas em palavras. O exemplo de Abraão, que confiou em Deus ao ponto de estar disposto a sacrificar seu único filho, é um excelente exemplo disso.

Aqueles que obedecem a Deus podem se alegrar, pois é Ele quem os defende. Quem obedece (ama) a Deus se gloria n’Ele, ao contrário daqueles que se rebelaram contra o Senhor, confiando em sua própria força, simbolizada pela carne.

“Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor! Porque será como a tamargueira no deserto, e não verá quando vem o bem; antes morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável. Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor.” (Jeremias 17:5-7).

Por que é possível dizer que ‘obedecer’ é ‘amar’? Por causa dos seguintes versículos:

“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Deuteronômio 5:10);

Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama;” (João 14:21);

“E a sua misericórdia é de geração em geração Sobre os que o temem.” (Lucas 1:50);

Amar, obedecer e honrar são termos que frequentemente se intercambiam no contexto das Escrituras. 

O apóstolo Paulo também ressalta essa ideia ao citar as Escrituras, destacando que os crentes são salvos pela “loucura” da pregação, para que aqueles que creem possam se gloriar no Senhor. Isso enfatiza a importância da fé e da confiança em Deus como o fundamento da salvação.

“Para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.” (1 Coríntios 1:31).

A meditação profética do salmista é feita em primeira pessoa do singular (Salmo 5:1-4 e 7-8), e faz referência aos ‘loucos’ na terceira pessoa do plural (Salmo 5:5-6 e 9-10). O verso 11 está na segunda pessoa do plural, e o verso 12 na segunda pessoa do singular. O versículo 12 trata de um justo, e não de todos os justos, como é o caso do verso 11.

A mudança nos pronomes pessoais ao longo do Salmo 5 sugere uma transição na perspectiva do salmista, culminando em uma referência mais direta à pessoa de Cristo no verso 12. A ideia de que o justo mencionado no verso 12 pode ser uma referência a Cristo é apoiada por outras passagens bíblicas que destacam Cristo como o Justo ou o Servo do Senhor. Isso sugere que o Salmo 5 pode, de fato, terminar com uma referência profética à pessoa de Cristo, abençoado e protegido pela benevolência divina.

“Eles se ajuntam contra a alma do justo, e condenam o sangue inocente.” (Salmo 94:21);

“Porque nunca será abalado; o justo estará em memória eterna.” (Salmo 112:6);

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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