Crítica

Aprendendo o temor do Senhor

Aprendendo o temor do Senhor

Temer ao Senhor não consiste em regras do tipo: “Não toques, não proves, não manuseies” ( Cl 2:21 ), antes é obedece-Lo crendo que Jesus é o Cristo, pois este é o Seu mandamento, e obedecer tudo o que Jesus ordenou “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” ( 1Jo 3:23 ).


Aprendendo o temor do Senhor

“Vinde, meninos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor” ( Sl 34:11)

Ensino do temor

O salmista Davi pelo Espírito Eterno fez o seguinte convite:

Vinde, meninos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor” ( Sl 34:11).

Na plenitude dos tempos Jesus diz:

Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” ( Mt 11:29 ).

Somente aqueles que se sujeitam como servos tomando sobre si o jugo de Jesus estão aptos a aprender e encontrar descanso para a alma.

Quando Jesus se apresou aos filhos de Israel, deixou claro que as profecias, a lei e os salmos falavam acerca d’Ele. Os filhos de Israel continuamente examinavam as Escrituras, pois pensavam ter nelas vida eterna, porém, eram essas mesmas Escrituras que testificavam de Cristo e não perceberam, isto conforme o predito pelo Salmista: “Então disse: Eis aqui venho; no rolo do livro de mim está escrito” ( Sl 40:7 ); “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (João 5 : 39); “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos” ( Lc 24:44 ).

Mas, o que Jesus ensinaria quando em meio aos filhos que Deus lhe concedeu? O temor do Senhor!

“Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu” ( Hb 2:13 ; Is 8:18 ).

No que consiste o ‘temor do Senhor’ que Cristo ensinaria aos filhos (meninos) que Deus lhe deu? A Bíblia dá a resposta:

“O temor do SENHOR é limpo, e permanece eternamente;

os juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente” ( Sl 19:9 ).

Através do paralelismo que há no Salmo 19, verso 9, conclui-se que o temor do Senhor é o mesmo que juízos, mandamentos, testemunho, lei, etc.

A Bíblia define o ‘temor’ do Senhor como ‘limpo’ e que ‘permanece para sempre’, o que remete à palavra de Deus, que é pura e permanece para sempre:

“Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” ( 1Pd 1:23 ).

Ora, apesar de as Escrituras anunciarem que a palavra de Deus é o princípio da sabedoria, há quem define o ‘temor do Senhor’ segundo uma concepção própria e ignora a ênfase que o paralelismo na poesia hebraica evidencia.

O profeta Jeremias vaticinou em nome do Senhor: “Porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim” ( Jr 32:40 ), e o Salmista destaca a mesma verdade dizendo: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” ( Sl 119:11 ), tais versos demonstram efetivamente que ‘temor’ é o mesmo que a ‘palavra’, a ‘doutrina’ de Deus.

 

Temor é diferente de horror

Considerando as Escrituras, não posso aceitar que o temor do Senhor é o expresso por A. W. Pink:

“Deus está tão acima de nós que o simples pensamento de Sua majestade nos deveria fazer estremecer. O Seu poder é tão grande que a percepção dele deveria aterrorizar-nos. E Ele é tão inefavelmente Santo, e Seu ódio ao pecado é tão infinito, que o próprio pensamento de atos errados nos deveria encher de horror” Pink. A. W. Enriquecendo-se com a Bíblia, São Paulo: Editora Fiel, 1973.

Deus estabeleceu o amor como base do seu relacionamento com os homens quando entregou o seu único Filho. Como seria possível Deus estabelecer o horror à sua majestade como base de um relacionamento em que o homem necessita confiar n’Ele?

Os homens são ímpios não por não possuírem uma percepção[1] da grandeza de Deus, ou porque não se preocupam com Ele. Os homens são ímpios porque não obedecem a palavra de Deus. Ora, os céus anunciam a gloria de Deus ( Sl 19:1 ), e seu eterno poder e sua divindade se entendem e se veem pelas coisas criadas ( Rm 1:20 ), ou seja, pela natureza é possível ao ímpio uma percepção da grandeza de Deus, no entanto, para salvação é imprescindível que o homem O obedeça.

Os judeus possuíam uma percepção de Deus e até tinham zelo de Deus, porém, não tinham o conhecimento necessário para agradá-Lo ( Rm 10:2 ),

A. W. Tozer escreveu que “… ninguém pode conhecer a verdadeira graça de Deus, se antes não conhecer o temor de Deus”, no entanto, é justamente o contrário: é no temor do Senhor que a graça de Deus é revelada.

Outra frase perigosa diz: “Aquele que sabe o que é ter prazer em Deus temerá sua perda. Aquele que viu sua face, terá medo de suas costas” Richard Alleine. Se o crente tem prazer em Deus, nunca terá medo, pois sabe que nada poderá separá-lo de Cristo e do amor de Deus ( Rm 8:35 -39).

‘Temor’ e ‘temer’ não possuem conotação de medo[2], antes o ‘temor’ refere-se a doutrina de Deus e o ‘temer’ a obediência que lhe é devida. Dizer que o crente não pode ‘temer’ o inimigo porque o ‘temor’ é devido a Deus, é dizer que o ‘medo’ e o ‘temor’ são equivalentes. É admitir que se deve ter medo de Deus. Ao confundir ‘temor’ com ‘medo’ evocam o medo sórdido de Deus, sob a alegação de que Ele é soberano ou porque desconhece os seus desígnios.

Temer ao Senhor não consiste em regras do tipo: “Não toques, não proves, não manuseies” ( Cl 2:21 ), antes é obedece-Lo crendo que Jesus é o Cristo, pois este é o Seu mandamento, e obedecer tudo o que Jesus ordenou “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” ( 1Jo 3:23 ).

Ora, o temor a Deus não é dogmatismo religioso, antes o temor a Deus é o que nos torna fiéis[3]. Permanecer no mandamento de Deus é o que torna o homem fiel, ou seja, perseverar até o fim crendo em Cristo.

O que se observa em muitos ensinamentos é que se deve ter medo de Deus, e por fim, apelam para um argumento sutil, mas falho: – “O temor do Senhor não se trata do medo d’Ele, mas de uma reverência piedosa à Sua pessoa e aos Seus mandamentos”[4], que destila medo nos cristãos.

Amados, ouçamos a recomendação do Pregador:

“De tudo o que se tem ouvido, a suma é:

Teme a Deus, e

guarda os seus mandamentos;

porque isto é o dever de todo homem” (Ec 12:13).

A construção da ideia utiliza paralelismo, de modo que ‘teme a Deus’ é equivalente a ‘guardar os seus mandamentos’, o dever de todos os homens!

Ora, o mandamento do Senhor não é penoso, e o apóstolo amado evoca a lei mosaica para declarar esta verdade no advento da Nova Aliança:

“Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados ( 1Jo 5:3 );

“Ora, este mandamento, que hoje te ordeno, não te é difícil demais, nem está longe de ti” ( Dt 30:11).

O apóstolo Paulo cita aos cristãos de Éfeso essa passagem de Deuteronômio demonstrando que não é necessário subir aos céus e nem descer ao abismo para alcançar a justiça da fé, pois a palavra está junto de nós, no coração: e a palavra é Cristo.

“E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” ( 1Jo 3:23 );

“Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo.) Ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo.) Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação” ( Rm 10:6 -10).

Quem obedece (teme) a Deus não tem medo (receio), antes aquele que teme (obedece) lança fora o temor (receio), pois o temor (receio) decorre da pena, e o que teme (tem receio) não é obediente (1Jo 4:18).

Não podemos confundir ‘temor’ a Deus com medo de Deus. A ordem para o povo de Deus é não ter medo: “E disse Moisés ao povo: Não temais, Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, afim de que não pequeis” ( Êx 20:20 ).

Quando Deus revela a sua palavra (temor), o objetivo é para que não pequemos “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” ( Sl 119:11 ).

 

Para saber mais: Temor e tremor

 


[1] “Esses homens não têm qualquer percepção acerca da majestade de Deus, não tem nenhuma preocupação com a Sua autoridade, não tem qualquer respeito pelos Seus mandamentos, não se alarmam ante o fato de que Ele os julgará” Pink. A. W. Enriquecendo-se com a Bíblia, São Paulo: Editora Fiel, 1973.

[2] Cândido, Levi. Aprendendo o temor do Senhor, artigo disponível na Web < http://filhovarao.blogspot.com.br/2008/11/aprendendo-o-temor-do-senhor-levi.html > Consulta realizada em 16/06/2015.

[3] “O temor reverente de Deus é a chave para a fidelidade em qualquer situação” Redpath, Alan.

[4] “Muitos têm a tendência de minimizar o temor de Deus dos crentes a apenas “respeito” por Ele. Embora respeito faça parte do conceito, temer a Deus na verdade significa mais do que isso. O bíblico temor de Deus, para o crente, inclui a compreensão do quanto Deus odeia o pecado, assim como temer Seu julgamento do pecado – mesmo na vida de um crente. Hebreus 12:5-11 descreve a disciplina de Deus na vida de um crente. Embora sua disciplina seja feita em amor (Hebreus 12:6), ainda é algo atemorizante. Quando crianças, o medo da disciplina de nossos pais preveniu, assim esperamos, algumas ações perversas. Assim também deve ser com o nosso relacionamento com Deus. Devemos temer Sua disciplina e, portanto, procurar viver nossas vidas de uma forma que O agrade” O que significa ter temor a Deus? Artigo disponível na web < https://www.gotquestions.org/Portugues/temor-de-Deus.html > consulta realizada em 22/06/15.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *