Ao falar da ‘irrepreensibilidade’ alcançada em Cristo, o apóstolo Paulo quer destacar que a ação de Deus alcança o homem no todo (espírito, alma e corpo), e não por partes, como alguns consideram. Cristo há de confirmar a irrepreensibilidade dos cristãos, pois Deus é fiel ( 1Co 1:7 -8 ; 2Pe 1:3 ).
Irrepreensíveis em Cristo
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” ( 1Ts 5:23 )
Qual a ideia principal a ser destacada deste versículo? Os três elementos que, unidos, determinam a existência do homem (corpo, alma e espírito), ou algo que os cristãos receberam por estarem em Cristo?
Para entendermos plenamente a exposição de Paulo aos cristãos é necessário analisar o contexto no qual o versículo está inserido.
O apóstolo Paulo, antes de fazer a ‘oração’ acima, estipulou algumas determinações:
- regozijai-vos sempre;
- orai sem cessar;
- em tudo daí graça;
- não extingais o Espírito;
- não desprezeis as profecias;
- examinai tudo;
- retende o bem;
- abstende de toda espécie de mal; etc ( 1Ts 5:16 -22).
Após várias determinações, o apóstolo Paulo muda o contexto de recomendações para intercessão.
Desta breve oração pelos cristãos, extraímos os seguintes elementos do texto:
“E o mesmo Deus de paz…” – Ao fazer a breve intercessão confiado no Deus de Paz, Paulo faz referência a argumentação utilizada em versículos anteriores. O ‘mesmo Deus de paz’ é Aquele que não nos destinou para a ira, conforme ele escreveu no versículo 9 “Pois Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós…” ( 1Ts 5:9 ).
Após demonstrar que Cristo morreu pelos cristãos para que vivessem juntamente com Ele, é que Paulo passa à exortação e determinações “Pelo que exortai-vos (…) edificai-vos (…) Agora vos rogamos (…) tratai…” ( 1Ts 5:11 -22).
Esta breve intercessão estabelece um vínculo entre dois contextos diferentes: um contexto de recomendações vinculado a outro, de oração a Deus.
“…vos santifique em tudo” – O mesmo Deus que destinou os cristãos à salvação por meio da morte de Cristo, é quem santifica o homem em tudo. Não é o cumprimento cabal das determinações que foram enumeradas anteriormente que levam o crente à santificação. O que santifica o homem em tudo é o mesmo Deus de paz.
“e todo o vosso espírito, alma e corpo…” – Quando o apóstolo faz referência aos componentes imateriais (espírito e alma) e materiais do homem (corpo), ele não pretendia separá-los ou demonstrar que estes elementos devam ser considerados dissociados quando da santificação. Antes, ele quer tornar claro que a providência de Deus em santificar engloba o homem como um todo. Em momento algum Paulo quer demonstrar que os elementos que compõe o homem devem ser analisados em separado.
Como é possível chegar a conclusão acima? Simples! Basta fazer uma comparação de argumentos entre as outras cartas de Paulo. Observe:
“De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor” ( 1Co 1:7 -8).
“Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros, e sem escândalo algum até ao dia de Cristo; Cheios dos frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus” ( Fl 1:10 -11).
“E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá. A ele seja a glória e o poderio para todo o sempre. Amém” ( 1Pe 5:10 -11).
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também fará” ( 1Ts 5:23 -24).
Estes quatro versículos foram selecionados por tratarem de um mesmo assunto: o zelo de Deus por aqueles que foram alcançados por Cristo.
É certo que ao falar da irrepreensibilidade alcançada em Cristo, Paulo quer destacar que a ação de Deus alcança o homem no todo (espírito, alma e corpo), e não por partes, como alguns consideram. Todos os versículos citados mantém integra a ideia geral.
Nada falta aos cristãos (nenhum dom), a não ser aguardarem a revelação de Cristo no grande dia. Mas, é Cristo quem confirma a irrepreensibilidade dos que creem, e não as ações dos cristãos. Cristo há de confirmar a irrepreensibilidade dos cristãos, pois Deus é fiel ( 1Co 1:7 -8 ; 2Pe 1:3 ).
O que produzimos (frutos de justiça), vem por meio de Cristo, e o que resta ao cristão é somente aprovar as coisas excelentes ( Fl 1:10 -11).
É Deus quem aperfeiçoa, confirma, fortifica e fortalece o cristão, visto que, é Ele quem chama a eterna glória.
Em todos estes textos os apóstolos não faz referência aos elementos constitutivos do homem, mas ao homem como um todo.
O elemento principal do versículo vem a seguir:
“…sejam plenamente conservados irrepreensíveis…” – a preocupação do apóstolo Paulo era com a conservação de algo que os irmãos já haviam recebido: a irrepreensibilidade.
Este versículo não se constitui num mandamento, como os anteriores: ‘sejam irrepreensíveis’, antes é uma intercessão ao Deus de paz.
O apóstolo intercede a Deus para que tudo que houvessem adquirido (alcançado) não fosse perdido pelos cristãos, e aponta a fidelidade de Deus como garantia para a manutenção das bênçãos já adquiridas “Fiel é o que vos chama, o qual também o fará”. Deus havia convocado os cristãos de Tessalônica e os manteria irrepreensíveis até a vinda de Cristo.
Este versículo apresenta um dos aspectos concernente ao resultado do novo nascimento, e por isso mesmo é enfático quanto ao “todo”.
O ‘todo’ refere-se ao homem como indivíduo. Aqui, especificamente, refere-se aos cristãos tessalonicenses, e nenhum destes elementos: corpo, alma e espírito são considerados em separado quando se refere ao homem.
O texto demonstra que o homem é constituído de três elementos, e não dividido em três partes. Também demonstra que na vinda de Cristo o homem tem que ser encontrado integro, irrepreensível.
Observe que o ser irrepreensível não é produto de uma luta incessante do homem. A irrepreensibilidade do cristão é resultado da obra de Deus “… o qual também o fará” ( 1Ts 5:24 ). Deus é o ‘garantidor’ da condição recebida, e também aponta para o que Ele fez anteriormente, a irrepreensibilidade.
É Deus quem faz o homem nascer de novo em Cristo irrepreensível e é poderoso para manter esta condição até o fim. Deus é Deus de paz, ou seja, o homem pode descansar nele, visto que, tudo o que fizer estando em Cristo (servo da justiça), pertence por direito ao seu Senhor.
O tema acima é confirmado com estes versículos:
“… o qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados…” ( 1Co 1:8 );
“E esta é a minha oração: que o vosso amor aumente…, para que sejais sinceros, e inculpáveis até o dia de Cristo…” ( Fl 1:10 ).
Nestas referências, o apóstolo Paulo apresenta o mesmo tema aos irmãos de Corinto e de Filipenses. Em momento algum ele faz referencia a uma divisão entre corpo, alma e espírito. A referência que Paulo fez as partes constitutivas do homem foi no intuito de que as partes representassem o todo.
Observe que ao escrever a outras igrejas Paulo não se referiu aos irmãos pelas partes constitutivas, mas pelo todo.
Por não entenderem plenamente o que expõe os versículos a cima, muitos acabam levantando várias questões como as descritas abaixo que não está em sintonia plena e clara com os princípios bíblicos.
Não há que se considerar de suma importância saber ou entender as distinções ou classificações com relação aos componentes imateriais do homem. Por que? Não é o entendimento que se tem a respeito da alma e do espírito do homem que nos tornará espirituais; não é a falta deste conhecimento que nós torna carnais.
Todo entendimento ou compreensão da vida espiritual é dado por Deus por meio de Cristo. O que afeta a vida espiritual é a falta de fé e não a compreensão que temos a respeito do que é alma e espírito. Basta nascermos de Deus por meio do evangelho de Cristo que nos tornamos espirituais, visto que o que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é espírito.
Não se pode considerar que para entender ou ter vida espiritual é necessário fazer distinção entre alma e espírito; que há aspectos pertinentes a alma e aspectos pertinentes ao espírito do homem que, se não entendermos estarão fadados a pender a ‘espiritualidade’ ora para a alma, ou ora para a carne. Que para sermos espirituais devemos estar voltados para o nosso espírito; que para se alcançar a ‘espiritualidade’ ou ser espiritual é necessário separar os elementos que Deus uniu para compor o homem e seguirmos intuitivamente as determinações do ‘espírito’ que está no homem interior, com o propósito de não andarmos no desejo da carne.
Não há e não é possível buscar quais são as funções que desempenham a alma e o espírito; não se busca o que é espiritual, pois a Bíblia não nos dá este parâmetro. A Bíblia nos diz o que é ser carnal e o que é ser espiritual, e isto tem a ver com a natureza do homem, e não com a sua própria busca por espiritualidade.
Não é a busca do homem pelo espiritual que o torna espiritual, mas sim o nascer de Deus. Se crermos que Jesus Cristo nos purifica de todo pecado, recebemos poder para sermos feitos filhos de Deus, e então nos tornamos espirituais.