Polêmicos

Por que Deus é bom?

Se o homem for infiel, Deus permanece fiel. Se o homem não O invocar, não será perdoado, porém, Deus permanece bom. Como pode ser isto? Deus permanece ‘bom’ mesmo quando castiga os transgressores? Sim! A Bíblia é categórica: “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” ( Tg 1:17 ); “Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” ( Ml 3:6 ).


Por que Deus é bom?

“LOUVAI ao SENHOR, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre” ( Sl 136:1 )

Introdução

Deus é bom! Este é o posicionamento das Escrituras.

Além do predicativo ‘bom’, Deus é descrito como aquele que é detentor do perdão e pleno de bondade para com todos os que O invocam.

“Pois tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para todos os que te invocam” ( Sl 86:5 ).

E quanto aos que não invocam a Deus? Deus é bom? Sim, Deus é bom! A Bíblia demonstra que se o homem for infiel, Ele permanece fiel, portanto, Deus é bom, mesmo quando o homem não O invoca.

“Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo” ( 2Tm 2:13 ).

Se o homem for infiel, Deus permanece fiel. Se o homem não o invocar, não será perdoado, porém, Deus permanece bom. Deus não pode negar-se a si mesmo, pois Ele é imutável e as variações dos seres humanos não compromete a natureza divina. Como pode ser isto? Deus permanece ‘bom’ mesmo quando castiga os transgressores? Sim! A Bíblia é categórica:

“Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” ( Tg 1:17 );

“Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” ( Ml 3:6 ).

Deus é ‘bom’ mesmo quando derrama o seu furor sobre os impenitentes? Como é possível haver tanto sofrimento na humanidade e Deus ser bom? É possível conciliar Deus ‘onipotente’ e ‘bom’ com o problema apresentado pela filosofia acerca da existência do mal?

Há quem considere estas questões como um problema teológico de grande magnitude, porém, o problema não está em Deus, e sim, quanto à compreensão de muitos que tentaram amalgamar questões da filosofia com a teologia.

Deus é bom

Deus é Deus, ou seja, onipotente, onisciente e onipresente. Também somos informados pela Bíblia que Deus é Senhor, Soberano, Pai, Rei, etc.

Mas, o que entender por ‘bom’ quando lemos: ‘Deus é bom’?

A primeira reação do leitor interessado em saber o significado verdadeiro do termo ‘bom’ é buscar um dicionário e fazer a seguinte leitura:

“bom – adj. – 1. Que é como deve ser ou como convém que seja; 2. Que tem bondade; 3. Hábil, destro; 4. Trabalhador; 5. Favorável; 6. Lucrativo; 7. Espirituoso, engraçado; 8. Cumpridor dos seus deveres; 9. Seguro, sólido; 10. Regular, normal; 11. Adequado. – s. m. – 12. Homem bom”

Quais destes predicativos se aplicam a Deus quando lemos ‘Deus é bom’? Os adjetivos elencados acima são todos pertinentes à visão de mundo do homem do nosso tempo, ou seja, uma visão moderna e humanista. Para o homem moderno, ‘bom’ refere-se a uma virtude pessoal, disposição permanente de uma pessoa em não fazer maldade, benevolente.

Mas, era esta a visão de mundo do salmista Davi quando afirmou: “Deus é bom”?

Embora o reinado de Davi seja classificado como teocrático, à sua época, às sociedades se estruturavam e cultivavam uma cultura com princípio aristocrático, pois havia uma enorme distância entre o rei e seus súditos. Nas relações sociais, havia uma distância enorme entre senhor e servo, fenômeno próprio às sociedades aristocráticas.

Em termos gerais,  do grego αριστοκρατία, de άριστος (aristos), melhores, e κράτος (kratos), poder, Estado, aristocracia se lê ‘poder dos melhores’, ou seja, diz de uma forma de governo no qual um grupo elitista controla o poder político. As cidades-estados dos Espartanos é exemplo de um estado governado por uma aristocracia.

Tal designação “poder dos melhores” nos faz recordar que, na antiguidade, os aristocratas eram designados ‘melhores’, ‘bons’, ‘senhores’, ‘distintos’, ‘escolhidos’.

Bons? Sim! O termo grego traduzido por ‘bom’ é ἀγαθούς (agathos), com origem em outra raiz correspondente ao substantivo Arete.

“… continha em si a conjugação de nobreza e bravura militar (…) quase nunca tem o sentido posterior de ‘bom’, como arete não tem o de virtude moral”  Jaeger, Werner, Paideia, A Formação do homem Grego, tradução Artur M. Parreira, São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2003. Pág. 27;

“Senhorio e arete estavam inseparavelmente unidos. A raiz da palavra é a mesma: άριστος, superlativo de distinto e escolhido…” Idem, Pág. 26.

A condição de senhorio era perfeita do ponto de vista funcional, ou seja, é ausente a nuance moral que a nossa sociedade está acostumada e louva, de modo que a condição ‘senhor’ guardava relação intrínseca à ideia de ‘bom’.

Friedrich Nietzsche, em sua obra ‘A genealogia da moral’, fez a seguinte observação:

“… que significam exatamente, do ponto de vista etimológico, as designações para ‘bom’ cunhadas pelas diversas línguas? Descobri então que todas elas remetem à mesma transformação conceitual – que, em toda parte, ‘nobre’, ‘aristocrático’, no sentido social, é o conceito básico a partir do qual necessariamente se desenvolveu ‘bom’, no sentido de ‘espiritualmente nobre’, ‘aristocrático’, de ‘espiritualmente bem-nascido’, ‘espiritualmente privilegiado’: um desenvolvimento que sempre corre paralelo àquele outro que faz ‘plebeu’, ‘comum’, ‘baixo’ transmutar-se finalmente em ‘ruim’” Nietzsche, Friedrich, Genealogia da moral – Uma polêmica, Tradução Paulo César de Souza, São Paulo: Companhia das Letras, 2009. Pág. 18.

Traduzir o termo grego agathos por ‘bom’, no sentido de ‘bondoso’ em virtude da transformação do significado ao longo dos séculos transtorna a ideia que a Bíblia apresenta, pois a palavra grega ‘agathos’, em virtude do contexto bíblico onde está inserida, deveria ser traduzida por ‘nobre’, pois a raiz etimológica da palavra ‘agathos’ significa ‘alguém que é, que tem realidade, que é real, verdadeiro’. Com relação ao termo, Nietzsche assevera que, mesmo com relação a uma mudança subjetiva, o termo significa ‘o verdadeiro enquanto veraz’. O termo era empregado para levar adiante o lema da nobreza, de modo a distinguir o nobre do homem comum, mentiroso (Jaeger, Paideia, Pág. 19).

Qual o sentido de ‘verdadeiro’, quando se lê: “De maneira nenhuma; sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso; como está escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras, e venças quando fores julgado” ( Rm 3:4 ). Ou, qual o sentido de ‘mentiroso’? Neste verso, o significado de ‘verdadeiro’ e ‘mentiroso’ possui conotação moral? Refere-se ao caráter do indivíduo? Observe:

“E os servos, saindo pelos caminhos, ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e a festa nupcial foi cheia de convidados” ( Mt 22:10 );

Como interpretar a parábola? Os maus e os bons que os escravos trouxeram a mando do seu senhor possui conotação moral? Não! No texto, maus e bons tem o sentido de ‘vis’ e ‘nobres’, ‘pequenos’ e ‘grandes’, pois o Senhor da parábola não faz acepção de pessoas.

“Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” ( Mt 5:45 ).

No sermão da montanha, qual o sentido de maus e bons? Ora, sabemos que Deus não faz acepção de pessoas, e que o sol nasce sobre nobres e comuns, justos e injustos, portanto, o sentido das palavras ‘maus’ e ‘bons’ não podem ser interpretadas em sua acepção moral.

“A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso” ( Mt 6:22 -23).

Os olhos podem ser moralmente maus ou bons? Ou o sentido de ‘mau’ e ‘bom’ refere-se à ideia de simples, comum, contrastando com a ideia de bom, são, nobre? O comentarista Barclay recomenda traduzir ‘bom’ por generoso, porém, não é a tradução correta, pois a ideia de generoso refere-se à liberalidade dos nobres em fazerem o que quisessem com o que lhes pertencia.

“Para obter um texto mais fiel ao original devemos traduzir aqui generoso em lugar de bom ou simples. Jesus elogia o olho generoso” Barclay, Willian, Comentário do Novo Testamento. Pág. 264.

Daí, a seguinte passagem:

“Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?” ( Mt 20:15 )

Diante da liberalidade que era próprio aos ‘bons’ fazerem o que bem entendessem com o que lhes pertencia, o nobre em questão repreende os trabalhadores que censuraram o seu ato. Segundo a visão do homem do nosso tempo, a conduta do empregador é um despautério, pois ele iguala os trabalhadores ao conceder o mesmo salário a todos sem considerar o tempo de trabalho de cada um, porém, segundo a visão do homem à época de Cristo, o despautério surge quando o homem comum contesta a liberalidade do nobre.

“Por três coisas se alvoroça a terra; e por quatro que não pode suportar: Pelo servo, quando reina; e pelo tolo, quando vive na fartura; Pela mulher odiosa, quando é casada; e pela serva, quando fica herdeira da sua senhora” ( Pv 30:21 -23).

Jaeger analisando os poemas de Teógnis, registrou:

“O poeta aconselha a que se evite o trato com os maus (kakoi), em que o poeta engloba todos os que não pertencem a uma estirpe nobre; por outro lado, também, nobres (agathos) só se acham entre seus iguais” (Jaeger, Paideia, 244).

Quando se faz análise dos textos bíblicos, não se deve limitar a fazer uso somente do significado que os termos possuem em nossos dias, fruto da concepção que a nossa sociedade imprimiu a certos termos.

Além disso, quando lemos certos termos nas Escrituras, devemos compreendê-los com os olhos da sociedade à época, e fugir da visão de mundo trabalhada pelos princípios filosóficos da época, pois a matéria que os filósofos da época especulavam não era afeta, nem mesmo ao homem daquela sociedade, antes era matéria de ordem ontológica, portanto, distante da concepção sociocultural dos escritores da Bíblia.

Enquanto a sociedade definia as coisas de modo funcional, filósofos como Platão, passaram a formular questões acerca da natureza do ser, da realidade, da existência dos entes e das questões metafísicas, e o conhecimento que estavam produzindo à época, possuía uma carga moral e ética, o que ainda não era vivenciada pela sociedade.

Jaeger assevera que os termos ‘arete’ e ‘bom’, na Grécia antiga, não tinham conotação de virtude moral, daí a pergunta: quando estes termos passaram a ser utilizados com conotação moral? Quando filósofos como Sócrates e Platão, através da especulação do conhecimento e da ciência, concederam à filosofia um fim moral pelo fato de ser uma ciência que especula aspectos e problemas de ordem ontológica.

Enquanto em Sócrates a especulação limitava-se às questões ontológicas e moral, Platão enveredou-se pela estrada da metafísica e da cosmologia. Em Platão floresceu uma filosofia humanista, religiosa e moralista. Tem-se nas obras de Platão muito do que é anunciado pelos espíritas e pelos católicos, como a ideia da reencarnação e do purgatório.

O ‘bom’ que designava os nobres, passou a designar o bem, o mundo ideal, o mundo das ideias. A matéria de Platão trouxe uma revolução de conceitos, porém, o povo de sua época e as gerações seguintes, não mudou de imediato a sua práxis. Quando Jesus veio, tal concepção filosófica ainda não fazia parte do povo, principalmente daqueles que se utilizavam do grego Koine.

O maior problema surgiu com a filosofia elaborada pelos primeiros padres, a Patrística. Quando criaram liturgias, disciplinas, costumes, etc., amalgamando conceitos platônicos e socráticos à doutrina dita cristã. Já no primeiro século, vê-se na Didaquê forte tendência moralista e dogmática, influencia clara dos costumes ascéticos.

É possível piorar? Sim! Erasmo de Roterdam incluiu Sócrates como mártir pré-cristão, de modo que rogava: “Sancte Socrates, ora pro nobis!”  (Jaeger, Paideia, 493). Jaeger aponta que, até o pietismo abrigou-se nos braços de Sócrates, pois viam nele certa afinidade espiritual (Idem, pág. 494). O que dizer de Agostinho, que se baseou no pensamento de Platão?

Enquanto Jesus ensinou ser Ele mesmo o caminho que conduz o homem a Deus, a cristandade viu na filosofia platônica a necessidade de refrearem os prazeres mundanos, propondo a pratica de um estilo de vida austero, perseguindo praticas tidas por virtuosas, afim de adquirir uma espiritualidade maior. Dai, que muitos padres aderiram ao ideal ascético, acreditando que a purificação do corpo ajudaria na purificação da alma.

Daí por diante, todas as vezes que se faz referência a Deus como ‘bom’, o texto é impregnado com a ideia de perfeição moral, desprezando o fato de que Ele é Senhor. É neste ponto que, diversas questões surgem: se Deus é bom, por que existe o mal?

Tais questões tem o objetivo de cegar o homem para que não veja a verdade. Assim como a pergunta de Satanás no Éden enfatizou uma proibição exacerbada em detrimento da liberdade concedida ( Gn 3:1 ), a pergunta: ‘se Deus é bom, por que existe o mal?’, faz surgir paradoxos, que na realidade, não passam de pretensas contradições fruto de uma má leitura da Bíblia e do seu contexto histórico.

O objetivo deste artigo é demonstrar que Deus é bom, independente do fato de ter poupado os homens de Nínive ou feito sucumbir Sodoma e Gomorra com milhares de crianças inocentes ( Gn 19:25 ; Jn 4:11 ). Tais eventos não descaracterizam e nem caracterizam o Deus da Bíblia como ‘bom’ ou ‘mal’.

Ninguém há bom, senão um, que é Deus

“Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus” ( Lc 18:19 )

Quando Jesus afirma categoricamente: “Ninguém há bom, senão um, que é Deus”, estava focado em apresentar uma resposta ontológica ao problema do mal? A asserção “Ninguém, há bom, senão um, que é Deus” refere-se a alguma questão de ordem filosófica?

Digo que não! Jesus não estava tratando de questões filosóficas como a natureza do ser, a realidade, a existência dos entes e nem de questões metafísicas.

Porém, quando dizemos: “Deus é bom!”, a primeira questão levantada pelos acadêmicos é: “Se Deus é ‘onipotente’ e ‘bom’, por que permite a existência do mal e do sofrimento?”, e colocam tal questão em um pedestal como sendo a pergunta mais difícil da história da teologia cristã.

É aceitável que um não cristão apresente um paradoxo, como é o caso do paradoxo de Epicuro. Por que aceitável? Porque quem formulou o paradoxo desconhece a natureza de Deus!  Epicuro afirmou que Deus e o mal não podem coexistir caso Deus seja onisciente, onipotente e benevolente, porém, Deus mesmo afirma que é conhecedor do bem e do mal.

“Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal” ( Gn 3:22 ).

Deus é Senhor, nobre, ou seja, bom e, conhecedor do bem e do mal, pois Ele como Senhor recompensará todos os homens e, dará o bem a uns e o mal a outros, tudo em função do que procuraram.

“O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade; Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego; Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego; Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas” ( Rm 2:6 -11).

Deus é Senhor, Deus é bom e, ao mesmo tempo, Ele é benigno e severo “Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado” ( Rm 11:22 ), ou seja, é Deus que instituiu o castigo para os transgressores, de modo que se diz:

“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas” ( Is 45:7 ).

Em que sentido Deus cria o mal? No sentido de retribuição, justiça, de modo que, retribui com benignidade os puros e com rigidez os perversos.

“E me retribuiu o SENHOR conforme a minha justiça, conforme a minha pureza diante dos seus olhos. Com o benigno, te mostras benigno; com o homem íntegro te mostras perfeito. Com o puro te mostras puro; mas com o perverso te mostras rígido” ( 2Sm 22:25 -27);

“Com o benigno te mostrarás benigno; e com o homem sincero te mostrarás sincero” ( Sl 18:25 ).

Este era o posicionamento de um senhor: “Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros” ( Mt 25:26 -27). Para com os servos bons, benevolência, para os maus, as trevas exteriores.

Este é o posicionamento de Cristo:

“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas (…) E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna” ( Mt 31-32 e 46).

Quando Jesus convida: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” ( Mt 11:28 -30), o leitor com a visão ampliada verá Cristo como ‘bom’, ‘senhor’, ‘nobre’ e, ao mesmo tempo, benevolente, pois aos que se sujeitam a Ele lhes é dado uma fardo leve.

No alerta: “Eu crio o mal”, temos referencia ao fato de Deus ter suscitado algumas nações vizinhas como vara de correção, de modo a dar a entender ao povo de Israel a necessidade de se converterem ( Is 1:5 ), porém, a despeito do castigo aplicado ao povo de Israel, Deus é justo, e conforme alertou, aplicou o castigo antes da ira.

Em outra instância, além da salvação e da perdição, Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras.

Quando Deus criou o homem deu-lhe o poder de decisão. Como os dons de Deus são irrevogáveis, mesmo após o pecado, o homem continuou de posse da sua liberdade de decidir, pois o domínio sobre a terra foi dado aos homens. Ora, quando Deus se fez homem e retornou vitorioso aos céus, conclamou: é me dado todo poder, nos céus e na terra!

Como os homens são livres e exercem domínio sobre a terra, podem fazer o quem bem entenderem. Há outro ponto, como o homem tornou-se como Deus, sabedor do bem e do mal, também tem a capacidade de analisar as ações dos seus semelhantes e comunicar o bem e o mal.

O problema do mal surge quando o homem deixa de lado o senso de justiça, e passa a praticar o mal por prazer. A ideia de retribuição é posta de lado, e o indivíduo por ser entenebrecido no entendimento se lança na pratica de maldades. Embora conheça as ações de tais indivíduos, Deus não intervém, pois todos os homens quando introduzidos no mundo estão sob condenação e como Deus, conhecedores do bem e do mal.

Ora, o bem e o mal foram apresentados no Éden através de um fruto, de modo que o bem e o mal são inseparáveis. O bem e o mal são composições que dá sabor ao fruto. São faces de uma mesma moeda.

Como compreender tal realidade? Quando um pai educa um filho e o corrige, a correção em certo aspecto tem aparência de mal, porém, o pai busca o bem. Já alguém que dá esmola parece estar fazendo o bem, porém, tal ato perpetua a miserabilidade de quem vive de esmolas, o que na realidade é um mal. Tais exemplos mostram que o bem e o mal são inseparáveis.

Segundo a Bíblia, a justiça de Deus não tarda e nem falha, pois a justiça de Deus foi exercida na primeira transgressão e, de modo que todos os homens foram condenados, independente de suas ações. Porém, com relação às ações cotidianas, Deus há de pedir conta a cada homem, quer sejam justos ou injustos, e com relação a isto não haverá acepção de pessoas. Para os justos tal conta será acertada no Tribunal de Cristo, e para com os injustos, no Grande Trono Branco.

O apóstolo Paulo alertou os cristãos a que não se deixassem prender por questões de ordem filosóficas, porém, o que mais encontramos na teologia, seja contemporânea ou clássica, são questões segundo os rudimentos do mundo.

“Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” ( Cl 2:8 ).

Por imiscuir-se na filosofia, muitos cristãos afirmam que estas questões são afetas a quem crê em Deus onipotente e amoroso.

“A rigor, a desgraça humana, ou o mal em todas as suas formas, é um problema somente para a pessoa que crê num Deus único, onipotente e todo amoroso” Anderson, Francis I. apud Luiz Sayão em ‘Se Deus é bom, por que existe o mal?’, artigo disponível na web.

O que se percebe é que há muitos teólogos que são defensores de Deus, mas desconhecem a sua palavra. E pior, enquanto as armas do cristão deve restringir-se a palavra de Deus, porque ela é poderosa para destruir fortalezas, tais estudiosos estão de posse das armas ofertadas pelo mundo.

“Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas” ( 2Co 10:4 ; 2Co 6:7 ; Rm 13:12 ).

Com a visão turvada em função de impressões modernas, alguns tradutores foram compelidos a utilizar o termo ‘bom’ em lugar de ‘nobre’. Trocar ‘nobre’ por ‘bom’ transtornou a ideia do texto. Desprezar a raiz etimológica do termo ‘agathos’, que significa ‘alguém que é, que tem realidade, que é real, verdadeiro’, trouxe prejuízo a compreensão do texto.

Quando dizemos que Deus é Nobre, Senhor, Bom, estamos expressando o senhorio de Deus e a nossa submissão a Ele. Deus é o Eu sou, aquele que é, que tem realidade, que é real, verdadeiro, conceito superior ao que encontramos em nossos dicionários. Através deste conceito próprio ao termo ‘agathos’, a concepção proveniente da frase ‘Deus é bom’ transmuta-se e transmite um significado singular.

Quando consideramos que Deus é bom, nobre, distinto, Senhor, Pai, não há contradição alguma entre severidade e bondade.

“Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado” ( Rm 11:22 ).

Deus é severo e benigno em razão de ser nobre, superior, ou seja, bom, o que exclui qualquer tipo de paradoxo entre Deus ser bom e haver sofrimento no mundo.

Se os teólogos ao longo dos séculos vêm ignorando a raiz etimológica do termo ‘agathos’, resta-nos a seguinte pergunta: o que fizeram com o termo ‘agape’, palavra grega traduzida por amor?

 Claudio Crispim

Leia também: Porque sou cristão

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

One thought on “Por que Deus é bom?

  • Gloria da Deus pela misericordia e bondade de Deus.

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