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A ideologia do cristão

Quero evidenciar a pretensão abominável de muitos lideres religiosos amantes de si mesmos que apoiam políticos e partidos com interesses exclusivamente financeiros, ou que promovem os seus próprios amigos na política esperando facilidades quanto as suas pretensões neste mundo. Líderes que transformam seus seguidores em currais eleitorais, implantam o medo, satirizam e demonizam os seus opositores políticos, tudo com a intenção de direcionarem o voto dos seus fiéis. Dizem que ‘não cai uma folha de uma árvore se Deus não quiser’, ou ‘que toda autoridade foi constituída por Deus’, ou ‘que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus’, porém não creem no que dizem.


A ideologia do cristão

Ideologiatermo que possui diferentes significados e duas concepções:

a) neutra – sinônimo ao termo ideário (em português), sentido neutro de conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas pretensões;

b) crítica – ideologia é um instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão, mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando a consciência humana.

Um cristão verdadeiro compreende e confessa segundo o evangelho de Cristo que é peregrino neste mundo. Por quê? Porque um cristão verdadeiro tem a mesma fé (crença) que o crente Abraão ( Gl 3:9 ), o patriarca de quem a Bíblia diz que o evangelho lhe foi primeiramente anunciado.

“Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti.” ( Gl 3:8 ).

O cristão verdadeiro é estrangeiro e peregrino neste mundo ( Hb 11:13 ), porque deseja uma pátria melhor, a celestial. Espera habitar uma cidade que têm fundamentos, cujo artífice e arquiteto é Deus ( Hb 11:10 -16 ).

“Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra. (Hebreus 11:13)

Por ser peregrino, um verdadeiro cristão age da mesma forma que o crente Abraão, que mesmo estando na terra que lhe foi prometida habitou em tendas, ou seja, não fixou residência construindo casa ou cidadela, o que demonstra o seu interesse por outra cidade ( Hb 11:9 ).

O verdadeiro cristão compreende que condições socioeconômicas não se constituem empecilho para o homem ser um dos filhos de Deus ( 1Co 12:13 ), pois sabe que não há distinção entre os membros do corpo de Cristo.

“Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.” (Gálatas 3:26-29).

Compreender através do evangelho anunciado a Abraão que, diante de Deus não há servo ou livre, judeu ou grego, macho ou fêmea, pois todos são descendentes de Abraão, ou seja, coerdeiros do Descendente, um dos filhos de Deus, é essencial à salvação em Cristo ( Gl 3:26 -29).

Um verdadeiro cristão sabe que evangelho de Cristo não serve de trampolim social, pois o apóstolo Paulo demonstra que a condição de servo neste mundo não desqualifica quem quer que seja de ser um dos filhos de Deus. O apóstolo não instou os cristãos do primeiro século a se insurgirem por questões sociais, mas se surgisse a oportunidade de ser livre, que os cristãos que eram escravos deveriam aproveitá-la ( 1Co 7:21 ).

Um verdadeiro cristão compreende que sistemas políticos, econômicos e sociais não são obstes a salvação em Cristo. Além de compreender, tem o dever de orar pelas autoridades constituídas, não importando qual regime político seja: império, democracia, monarquia, ditadura, presidencialismo, socialismo, comunismo,  etc., pois todas as autoridades são estabelecidas por Deus ( Rm 13:1 -7).

Um cristão verdadeiro entende que toda autoridade é outorgada por Deus. Por quê? Porque tem a mesma compreensão que o Descendente prometido a Abraão, que é o Cristo. Compreende que a autoridade que os governantes deste mundo possuem sobre os filhos de Deus foi estabelecida por Deus ( Jo 19:11 ; Rm 13:1 ).

“Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.” (João 19:11)

Em decorrência desta compreensão, um verdadeiro cristão sabe que deve rogar a Deus por todos os homens, inclusive pelos que exercem autoridade, para que possa ter uma existência tranquila neste mundo ( 1Tm 2:2 ).

Um verdadeiro cristão é cônscio de que Deus não lhe favorecerá em demandas judiciais, pois não foi por causa de questões jurídicas que Cristo veio ao mundo ( Lc 12:14 ). Também sabe que não possui uma sorte maior que a dos não cristãos (em questões deste mundo), pois a Bíblia é clara: tudo sucede igualmente a todos ( Ec 9:2 ).

Um cristão verdadeiro vive neste mundo porque foi enviado ao mundo ( Jo 17:18 ) e faz uso dele sem exagero, porque sabe que a aparência deste mundo passa ( 1Co 7:31 ).

Um verdadeiro cristão não luta contra a carne e o sangue, pois a sua luta é contra as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais ( Ef 6:12 ). A batalha de um verdadeiro cristão é em defesa da verdade do evangelho, para que as boas novas do evangelho seja anunciado tal qual foi anunciado por Cristo e seus apóstolos.

“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” ( Jd 1:3 ).

Este é o ideário, o pensamento, a doutrina, ou seja, a ideologia do cristão verdadeiro. O ideário do cristão remente as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado a destra de Deus ( Cl 3:2 ), e cuja esperança não reside neste mundo.

“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” ( 1Co 15:19 ).

O apóstolo Paulo bem alertou os verdadeiros cristãos acerca de algumas ideologias (persuasão, dissuasão) que poderiam alienar o cristão do ideário proposto por Cristo.

“Esta persuasão não vem daquele que vos chamou” ( Gl 5:8 ).

O cristão verdadeiro deve ter cuidado com o que é proposto pelas filosofias humanas, ou qualquer outro instrumento de dominação que age através do convencimento, e que não seja segundo Cristo.

“Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” ( Cl 2:8 ; Rm 16:17 -18; Ef 5:6 ).

A Bíblia é clara: o homem só é salvo por intermédio de Cristo ( At 4:12 ), porém, como os tempos são trabalhosos, muitos que se dizem cristãos já não anunciam a cruz de Cristo, ou seja, a doutrina que é ‘loucura’ para os que perecem ( 1Co 1:18 ). Estes convertem em dissolução a graça de Deus, pois os temas dos seus discursos entram-se em questões próprias aos homens e a este mundo, como: política, governo, aborto, homossexualismo, eutanásia, pedofilia, droga, etc.

Um verdadeiro cristão anuncia a verdade do evangelho, que é Cristo, ou seja, poder de Deus e sabedoria de Deus. Um cristão não é ativista de causas políticas, partidárias, sociais, humanistas, econômicas, naturalistas, feministas, religiosas, legalistas, formalistas, etc.

Por que um cristão não é um ativista de causas em nome de Deus? Ou, por que um cristão não é na essência um moralista?

Para chegar a uma resposta segura, responda as seguintes perguntas: Abandonar o homossexualismo trás salvação? Determinados partidos políticos facilitam a compreensão do evangelho de Cristo? Falar contra o aborto faz com que haja alegria nos céus? Se um ateu for convencido da existência de Deus será salvo?

Por que não seguir o que a Bíblia recomenda?

Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda” ( Ap 22:11 ), ou melhor:

“Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus mortos. ( Mt 8:22 ).

Será porque muitos que se dizem cristãos se esqueceram de que o mundo jaz no maligno?

Se o melhor dos homens é comparável a um espinho, e o mais reto dos homens comparável a uma sebe de espinhos, por que muitos pretensos cristãos querem limpar somente o exterior dos homens? ( Mq 7:4 ) Por que julgar somente os homens que não andam honestamente, se sobre ambos, homens honestos e desonestos já pesa sobre eles uma mesma condenação?

Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo” ( Jo 8:15 ).

Qual é a condenação que pesa sobre os homens, quer sejam eles honestos ou desonestos? Para salvação importa que o homem seja virtuoso ou cheios de vício, o que creia que Jesus é o Cristo?

“Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” ( Jo 3:18 ).

Se ambos, o melhor e o mais reto dos homens, são abomináveis diante de Deus, que alegria haverá diante dos anjos de Deus se os homens somente abandonarem suas práticas abomináveis? ( Lc 15:10 ) Abandonar algumas práticas amorais ou ilegais seria o mesmo que ter justiça superior a dos escribas e fariseus? Seria o mesmo que nascer de novo?

Em decorrência de suas práticas religiosas os escribas e fariseus eram considerados como sendo justos “Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade” ( Mt 23:28 ), porém, a ação deles resumia-se em aspectos pertinente ao exterior do copo ( Mt 23:25 ).

Qual deve ser a ideologia do cristão?

A Bíblia é clara: não devemos lutar contra a carne e o sangue, mas o que mais se vê em nossos dias são cristãos empunhando estandartes de partidos políticos. Lutaram contra o Inácio e apoiaram o Fernando. Lutaram contra a Dilma e apoiaram o José, e fazem tudo em nome de Deus.

Embora Cristo tenha dito que o seu reino não é deste mundo, muitos cristãos têm lutado contra alguns personagens políticos como se isto fosse implantar o reino de Deus entre os homens. Outros batalham contra diversas ideologias, contra diversos tipos de comportamentos, contra diversos tipos de sistemas políticos, etc.

Quero deixar bem claro o meu posicionamento: não estou dizendo que um cristão não deva interagir com as pessoas deste mundo, ou que não deve ter uma consciência política, social e comportamental.

O que busco evidenciar é a pretensão abominável de muitos líderes religiosos amantes de si mesmos, que apoiam políticos e partidos com interesses exclusivamente financeiros, ou que promovem os seus próprios amigos na política esperando facilidades quanto as suas pretensões neste mundo.

Estes líderes transformam seus seguidores em currais eleitorais, implantam o medo, satirizam e demonizam os seus opositores políticos, tudo com o propósito de direcionarem o voto dos seus fiéis, e assim procedem em nome de Deus. Dizem que ‘não cai uma folha de uma árvore se Deus não quiser’, ou ‘que toda autoridade foi constituída por Deus’, ou ‘que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus’, porém as suas ações demonstram que não creem no que dizem.

Para os pseudocristãos fica a pergunta: Se votar na Dilma era uma decisão contrária à vontade de Deus, agora, como autoridade que ela é, a Sra ‘presidenta’ foi constituída por Deus, ou não? ( Rm 13:1 )

Verdadeiros cristãos sabem que a vontade Deus é esta: Que os homens creiam naquele que ele enviou! ( Jo 6:29 ; 1Jo 3:23 ) Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? Como crerão naquele de quem não ouviram? Como ouvirão, se não há quem pregue? ( Rm 10:14 )

O que um cristão deve pregar? O ideário de Cristo! A palavra da cruz! A loucura para os que perecem! O escândalo para os judeus! O poder de Deus! O evangelho do qual o apóstolo Paulo não se envergonhava ( 1Co 1:18 ; Rm 1:18 ).

Quando o mundo faz ecoar a mesma mensagem daqueles que se dizem cristão, é porque a mensagem não é a mesma de Cristo. Se o mundo ouve os ‘cristãos’ e aquiescem do que é anunciado, ou se o mundo anuncia a mesma mensagem dos cristãos, segue-se que tais cristãos são do mundo.

“Do mundo são, por isso falam do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro” ( 1Jo 4:5 -6).

Jesus mesmo disse que não veio trazer paz, mas espada e por em dissensão os membros da família ( Mt 10:34 -37). Não se ouve mais pastores, padres, bispos, etc., anunciarem que a carne de Cristo é verdadeiramente comida, e o seu sangue verdadeiramente bebida ( Jo 6:55 ), ou pior, não se ouve em nossos dias o mundo dizer: ‘Duro é este discurso!’ ( Jo 6:60 ).

Se entendermos ideologia como sendo ideário, como cristãos devemos nos comportar como o apóstolo Pedro:

“Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente” ( Jo 6:68 -69).

Cristo é a palavra eterna, e temos crido porque Ele se revelou a nós! Preservemos e anunciemos a nossa fé (evangelho) conforme nos foi entregue.

“Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras” ( 1Co 15:3 ).

Resta aos verdadeiros Cristãos, ou seja, aqueles que ainda apregoam que Cristo virá como ladrão de noite e que os céus e a terra passarão, e todas as obras que há nela se queimarão ( 2Pe 3:10 ), atentar para o que predisse o apóstolo Pedro:

“Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza” ( 2Pe 3:17 ).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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