Jesus não precisava dizer aos judeus que alegavam crer n’Ele que a Torá é a verdade, pois aqueles que tem por sobre nome judeu acreditam que a Torá é a verdade…
Conheçam a verdade
Conteúdo do artigo
“Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo.” (2 Pedro 2:19).
Introdução
Como o judaísmo fascina a muitos cristãos! O judaísmo, desde a igreja primitiva, exerce uma força de atração, que tem arrastado a muitos que haviam escapado da corrupção, para se fazerem servos do pecado.
Basta um judaizante apresentar o significado de um termo hebraico ou, citar um texto bíblico em hebraico ou, citar questões genealógicas ou, ainda, afirmar que se deve guardar preceitos contidos na lei mosaica, para muitos cristãos ficarem fascinados e questionarem os fundamentos do evangelho.
Em função de alguns questionamentos que me enviam, acerca de um movimento denominado judaísmo messiânico, com várias vertentes, foi que elaborei este artigo, tendo por base um versículo:
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:32).
Apelo de um judaizante
Para a nossa exposição, utilizaremos citações, de um capítulo, de um livro de um judaizante, Fábio Moraes de Aragão, cujo título do livro é ‘Judaísmo nazareno: a religião de Yeshua e de seus talmidim’, com atenção especial ao capítulo II, seção VII, que possui o subtítulo: “Seja Livre! Conheça a verdade!”.
Após citar o emblemático versículo ‘… e conhecerá a verdade e a verdade vos libertará’, o Sr. Aragão faz algumas citações de versos dos Salmos, que relacionam a palavra de Deus com a verdade, e chega à seguinte conclusão:
“‘Tu estás perto, YHWH, e todos os teus mandamentos são a verdade.’ (Tehilim/Salmos 119:151); ‘A principal coisa sobre tua palavra é que ela é a verdade.’ (Tehilim/Salmos 119:160). Então, a Torá, que é a palavra de YHWH, é a verdade. É a Torá (verdade) que concede liberdade! E não basta conhecer a verdade (= Torá) para ser livre, é necessário obedecê-la.” Aragão, Fábio Moraes de ‘Judaísmo nazareno: a religião de Yeshua e de seus talmidim’, Pág. 104.
Aragão toma por base as correlações entre ‘mandamento’, ‘palavra’, ‘lei’, etc., e a ‘verdade’, que consta dos versos dos Salmos, para concluir que a Torá é a verdade ou, que é a Torá que concede liberdade, como se essa fosse a essência da mensagem de Cristo.
Embora, o expresso pelos salmistas, acerca do ‘mandamento’, da ‘palavra’ e da ‘lei’ ser a ‘verdade’, seja verdadeiro, ao dizer ‘… e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’, Cristo estava se interpondo como a verdade.
Embora, tudo o que consta na Lei, nos Profetas e nos Salmos seja a verdade, quando Cristo estava alertando alguns judeus, que diziam que criam n’Ele, não fez referência às questões expressas na Lei, nos Profetas e nos Salmos (Antigo Testamento), mas, sim, à sua pessoa.
Jesus se apresentou como a verdade e a essência da abordagem de Cristo parte dessa premissa:
“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” (João 14:6).
Jesus não precisava dizer aos judeus que diziam crer n’Ele, que a Torá é a verdade, pois, os que tem por sobrenome judeu, já acreditam que a Torá é a verdade, dentre outras coisas que o apóstolo Paulo elenca com maestria:
“Eis que tu que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; E sabes a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei; E confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, instrutor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei;” (Romanos 2:17-20).
Jesus não estava destacando àqueles judeus as questões elencadas pelo apóstolo Paulo no verso acima, porque todos os religiosos judeus acreditam que a lei é a forma do conhecimento e da verdade.
O judaizante Aragão, simplesmente, não faz alusão ao público alvo da mensagem de Jesus, que era constituída predominantemente de judeus religiosos, antes de tentar interpretá-la.
“Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele:” (João 8:31).
Embora, aqueles judeus dissessem que criam em Cristo, ao serem confrontados, fica evidenciado que, ainda, continuavam apegados às crenças do judaísmo quando confessaram: ‘Nosso pai é Abraão’ (João 8:39).
Para torcer as palavras de Cristo, dando tonalidade judaizante, Aragão não destaca o que, inicialmente, Jesus disse àqueles judeus, que se diziam crentes n’Ele:
“Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos;” (João 8:31).
Jesus estava destacando o Seu ensino, convocando aqueles judeus a permanecerem na Sua palavra, para se tornarem, de fato, um discípulo de Cristo. Se continuavam professando que tinham Abraão por pai, certo é que nenhum deles eram, realmente, discípulos de Cristo, mesmo dizendo que criam n’Ele.
Pergunto: no contexto, Jesus está evidenciando a Torá ou, os seus ensinamentos? Ora, é evidente que o texto remete aos ensinos de Cristo, mesmo que saibamos que a pedagogia de Cristo têm por base a Lei, os Profetas e os Salmos.
“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;” (João 5:39).
Não basta dizer que acredita em Cristo, antes, é imprescindível permanecer na palavra d’Ele, para ser um discípulo. Não basta um judaizante se dizer messiânico, mas, é necessário que tal pessoa permaneça na palavra de Cristo, senão, não será um discípulo de Cristo.
Conheça a verdade
Para Aragão, basta o conhecimento da Torá para alcançar a liberdade, mas, se esquece da palavra, que diz:
“Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si.” (Isaías 53:11).
O conhecimento de Cristo, o servo do Senhor, refere-se à palavra que os judeus deveriam permanecer, para se tornarem discípulos, o que é completamente diferente da expressão ‘conhecer a verdade’.
Quem permanece na palavra (conhecimento, saber) de Cristo se torna discípulo e, então, passa a ser um (conhece) com a verdade. ‘Conhecer’ a verdade é se fazer um com Cristo e não somente saber acerca da verdade.
O termo grego γινώσκω (conhecer) na frase ‘conhecereis a verdade’ não tem o sentido de ‘chegar a saber’, ‘vir a conhecer’, ‘obter conhecimento de’, ‘perceber’, ‘sentir’, ‘tornar-se conhecido’, ‘entender’, ‘ter conhecimento de’, mas, invoca a ideia de tornar-se um, ter comunhão.
“E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós.” (João 17:11).
Só é liberto por Cristo aquele que se torna um com Ele, portanto, quando se está em comunhão com o Pai e o Filho:
“Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.” (João 14:23);
“Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus.” (1 João 4:15);
“Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho.” (2 João 1:9).
O ‘conhecer’ que liberta, diz de comunhão íntima, em se fazer um só corpo com Cristo.
“Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito.” (1 Coríntios 12:13);
“Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” (Gálatas 4 : 9).
Sendo Deus onisciente, haveria como Ele desconhecer alguém? Isto significa que o termo ‘conhecer’ remete à comunhão com Deus (1 João 1:3).
Quem permanece nos ensinamentos de Cristo, verdadeiramente, comeu da carne e bebeu do sangue de Cristo, tornando-se um só corpo com Ele, portanto, é um liberto do Senhor.
“Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como nos pode dar este a sua carne a comer? Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim.” (João 6:51-57).
Para ser liberto, é preciso estar vivo e só quem come a carne e bebe o sangue de Cristo, passa a ter vida eterna. Para ter vida, é necessário permanece em Cristo e Cristo nele. ‘Conhecer a verdade’ é estar em comunhão com Cristo, uma verdade que escapa aos judaizantes, mesmo eles dizendo que conhecem o hebraico e o grego (Jeremias 8:7-8).
Judaizantes – servos da corrupção
O apóstolo Pedro é contundente ao falar da falsa circuncisão, a feita no prepúcio da carne e não a feita no coração, que não é feita por mãos humanas.
Sob a alegação de que são messiânicos, os judaizantes prometem liberdade e engodam muitos cristãos. Muitos dele haviam escapado da corrupção, mediante o ensinamento de Cristo, mas, foram envolvidos e o estados deles agora é pior do que quando não tinham aprendido de Cristo (2 Pedro 2:21).
“Deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama.” (2 Pedro 2:22).
Assim, como os judeus, que desceram de Jerusalém, passaram a ensinar aos cristãos, que era necessário se circuncidar para ser salvo (Atos 15:1-2), esses judaizantes modernos se ocultam sob a sigla “messiânico”, para destilar questões como a guarda dos sábados, dos dias de festas, das luas novas, dos alimentos, das genealogias, de nomes, a pretexto de servirem a Deus.
“Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados,” (Colossenses 2:16).
Na verdade, os judaizantes da atualidade, ainda, se veem como mestres da lei, e buscam arregimentar cristãos incautos.
“Querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam.” (1 Timóteo 1:7).
Mas, essa é a condição dos judaizantes, em todo tempo: forjar o mal, a pretexto de uma lei.
“Porventura o trono de iniquidade te acompanha, o qual forja o mal por uma lei?” (Salmos 94:20).
Os judaizantes prometem o conhecimento de Deus, mas neles não há entendimento.
“Recompensais assim ao SENHOR, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai que te adquiriu, te fez e te estabeleceu? (…) Porque são gente falta de conselhos, e neles não há entendimento. Quem dera eles fossem sábios! Que isto entendessem, e atentassem para o seu fim!” (Deuteronômio 32:6 e 28 -29; Salmo 53:4).
Como os judaizantes são inimigos da cruz de Cristo (evangelho), falam malvadamente de Deus e por isso, tomam em vão o nome de Deus (Filipenses 3:18).
“Pois falam malvadamente contra ti; e os teus inimigos tomam o teu nome em vão” (Salmos 139:20).
É tanto cuidado com a escrita e pronúncia do nome de Deus, mas os inimigos de Deus são os homens de sangue, que preferem os sacrifícios a obedecer a Deus (Isaías 66:3; Jeremias 7:22)
Correção ortográfica: Pr. Carlos Gasparotto