Salvação

É possível tomar o reino dos céus à força

A voz de Cristo ecoou em Jerusalém, e os seus súditos por se acharem ricos e abastados não o atenderam. Os ricos de “violência” não reconheceram as suas misérias quando o rei clamou: “Bem-aventurado os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus” ( Mt 5:3 ). Eles se escandalizaram de Cristo e da sua mensagem ( Mt 11:6 ; Mt 13:57 ). A rejeição à justiça de Deus é violência ao reino dos céus. Onde não se estabelece a justiça há violência! ( Lc 11:50 ).


É possível tomar o reino dos céus à força

“E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele” ( Mt 11:12 )

O escritor Myer Pearman deixou registrado o seguinte na tentativa de explicar Mateus 11: 12:

Ninguém entra por descuido na vida cristã vitoriosa; são os ativos que tomam o Reino por assalto (Mt 11. 12)” Pearlman, Myer, Mateus, o Evangelho do Grande Rei, 1. ed, Rj, CPAD, 1995, pág. 42.

É isto mesmo que Jesus procurou evidenciar àqueles que O ouviam? Ele apregoou ao povo que é possível ao homem se apossar do reino dos céus à força?

Para compreender a ideia da mensagem que Jesus apregoou ao povo de Israel, é preciso analisar alguns textos da Escritura (Antigo Testamento).

 

Maldito o homem que confia no homem

“Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!” ( Jr 17:5 )

Quando o profeta Jeremias disse: “Maldito o homem que confia no homem”, ele quis demonstrar que o homem que confia em si mesmo é maldito. Mas, por que o homem que confia em si mesmo é maldito?

É certo que o homem não é maldito por utilizar a força dos seus braços para trabalhar e obter o seu sustento, uma vez que Deus determinou ao homem viver do suor do seu rosto ( Gn 3:19 ).

A quem Deus reputa por maldito?

Os ouvintes de Jeremias eram dados a seguir o propósito de seus corações malignos ( Jr 16:12 ), e não davam ouvidos a palavra do Senhor. Confiavam em suas capacidades de articulação política e desviavam-se da determinação divina.

Eles se apartavam do Senhor pela incredulidade, pois confiavam em si mesmos e em elementos provenientes da carne.

Diferente da perspectiva dos ouvintes de Jeremias é a perspectiva dos que conhecem a verdade do evangelho.

À época de Cristo os judeus confiavam na carne, ou seja, confiavam que eram filhos de Deus por serem descendentes de Abraão. Através do evangelho de Cristo sabemos que todos que confiam na carne apartam o seu coração do Senhor “Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência” ( Rm 9:8 ).

Quando o homem confia em sua carne, rejeita a salvação que é proveniente dos braços de Deus, como se lê: “Perto está a minha justiça, vem saindo a minha salvação, e os meus braços julgarão os povos; as ilhas me aguardarão, e no meu braço esperarão” ( Is 51:5 ; Is 33:2 ).

Através da perspectiva do evangelho, verifica-se que Deus tem por maldito o homem que faz da carne a sua salvação, ou seja, que considera a descendência de Abraão (carne) o seu braço.

Sabemos que a fé (confiança) é a única maneira de o homem aproximar-se de Deus ( Hb 11:6 ). A ausência de fé mantém-no afastado de Deus, ou seja, apartado de Deus.

Mas, em que confiam os homens?

 

Os que fazem menção do nome do Senhor

“Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do SENHOR nosso Deus” ( Sl 20:7 ).

Dentre aqueles que confiam em si, ou que seus próprios braços os ‘salvará’, há aqueles que confiam em carros e cavalos (riquezas). São os néscios ( Sl 49:6 -9 ; Lc 12:20 ). Porém, também há os que se dizem religiosos, que confiam em suas ‘boas’ ações e que elas os salvará.

Dentre estes, há aqueles que confiam na carne, ou seja, que faz da sua origem em Abraão a sua força (salvação) “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão” ( Mt 3:9 ).

Observe a presunção dos fariseus e escribas: ‘temos por pai a Abraão’, ou seja, eles consideravam que não precisavam de arrependimento, pois entendiam que já estavam salvos por simplesmente serem descendentes de Abraão. Eles confiavam efetivamente na carne.

O apóstolo Paulo demonstrou que jamais voltaria a confiar na carne como os demais judeus. Eles tinham zelo de Deus, porém, sem entendimento: “Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu:” ( Fl 3:4 ; Rm 10:2 ).

Enquanto o homem confia que é filho de Deus por ser descendente de outro homem (ex.: os judeus), permanecerá debaixo da maldição de Adão. Todos os homens são gerados em pecado e concebidos em pecado por serem descendentes de Adão, sendo, portanto, filhos da desobediência e da ira ( Sl 51:5 ).

Aqueles que confiam no Senhor, e cuja esperança é o Senhor, receberão um novo coração e um novo espírito, e serão chamados filhos de Deus, porém, é preciso crer conforme diz as Escrituras “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto” ( Sl 51:10 ).

Através deste versículo conseguimos determinar que:

a) Somente pela fé o homem aproxima-se de Deus;

b) A carne representa todos os elementos pertinentes ao velho homem criado em Adão;

c) O braço expressa força e salvação.

Se o homem confia na sua carne e faz dela a sua força, braço ou salvação, será maldito. Mas, quem crer em Deus verá o ‘braço’ do Senhor que é Cristo revelado aos homens “O SENHOR desnudou o seu santo braço perante os olhos de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus” ( Is 52:10 ).

 

O espírito do Senhor

“E respondeu-me, dizendo: Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel, dizendo: Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos” ( Zc 4:6 )

Se a palavra de Deus a Zorobabel diz que não é por força e nem por violência, porque muitos entendem que é possível tomar o reino de Deus por assalto?

O erro na interpretação bíblica tem início quando se utiliza somente do trabalho de lexicógrafos para interpretá-la. Só porque a palavra grega ‘harpazeia’ significa apanhar, agarrar, arrebatar, isto não determina que seja possível tomar o reino dos céus à força.

É preciso comparar as coisas espirituais com as espirituais, ou seja, somente a Bíblia pode explicar a si mesma!

Os judeus entendiam que o ‘reino dos céus’ seria estabelecido quando eles obtivessem poder e força bélica, mas Deus disse a Zorobabel que não seria por força e nem por violência, antes é Deus quem faria todas as coisas, ou seja, pelo Espírito de Deus “Porque a minha mão fez todas estas coisas, e assim todas elas foram feitas, diz o SENHOR; mas para esse olharei, para o pobre e abatido de espírito, e que treme da minha palavra” ( Is 66:2 ).

O homem que confia na sua carne, ou melhor, que por meio de sua origem é agradável a Deus é aquele que não ‘treme’ da sua palavra. Quem confia na sua carne não é bem-aventurado, pois não reconhece que é um pobre de espírito.

Mas, todos aqueles que confiam no Senhor, que temem ao seu nome ou que ‘treme’ da sua palavra, são bem-aventurados, uma vez que Deus olha para os ‘pobres’ de espírito “E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar por minha causa” ( Mt 11:6 ).

Os pobres de espírito são aqueles que não se escandalizam da doutrina de Cristo! Para não se escandalizar de Cristo é preciso não confiar na carne, como fazia os escribas e fariseus.

Jesus disse que o homem é bem-aventurado por não se escandalizar dele, ou seja, a partir do momento que o homem treme (confia) da palavra de Deus, que é Cristo, ele é bem-aventurado.

Para isto Cristo veio: para anunciar as boas novas do evangelho aos pobres de espírito, aos que não confiam na carne ( Mt 11:5 )!

Jamais a força ou a violência poderia estabelecer o reino dos céus! Enquanto os habitantes de Jerusalém esperavam estabelecer o reino de Deus através de alianças políticas, ou através de forças bélicas, a palavra de Deus por intermédio dos seus profetas alertava: o reino de Deus haveria de se revelar em glória através do seu servo, o ‘Renovo’ ( Zc 3:8 ).

Somente o Renovo do Senhor, que é Cristo, estabeleceria o reino de Deus entre os homens.

Há muito tempo, bem antes de Zorobabel nascer, Ana profetizou: “Ele guarda os pés dos seus santos, porém os ímpios emudecem nas trevas. Não é pela força que prevalece o homem” ( 1Sm 2:9 ).

A exemplo de Ana, a força do homem deve estar no Senhor ( 1Sm 2:1 ). As outras mulheres confiam literalmente na carne, pois elas não eram estéreis. Ana, porém, por ser estéril, passou a confiar exclusivamente no Senhor “O arco dos fortes está quebrado, mas os fracos são cingidos de força” ( 1Sm 2:4 ).

 

Violência à lei

“Os seus profetas são levianos, homens aleivosos; os seus sacerdotes profanaram o santuário, e fizeram violência à lei” ( Sf 3:4 )

Há muito tempo os profetas de Deus denunciavam a violência dos homens em Israel. Por não ouvirem a palavra de Deus, deixavam de confiar em Deus e distorciam a lei de Deus ao bel prazer.

Os profetas e sacerdotes em Israel não seguiam aquilo que Deus havia preceituado, porém sobrecarregavam o povo de regras para poderem surrupiá-los “Ao povo da terra oprimem gravemente, e andam roubando, e fazendo violência ao pobre e necessitado, e ao estrangeiro oprimem sem razão” ( Ez 22:29 ).

A mesma mensagem anunciada por Jeremias é a de Sofonias: “Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!” ( Jr 17:5); “Não ouve a voz, não aceita o castigo. Não confia no Senhor, nem se aproxima do seu Deus” ( Sf 3:2 ).

Embora a palavra de Deus fosse transmitida por intermédio dos seus profetas, o povo não ouviam a sua voz. Não confiavam em Deus, e por isso, apartavam-se do Deus, permanecendo debaixo de maldição.

Através desta primeira análise já é possível determinar se é possível a alguém pela força se apoderar do reino dos céus.

 

Violência ao reino dos céus

“E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele” ( Mt 11:12 )

Para compreender Mateus 11, verso 12 é preciso determinar o público alvo da mensagem de Cristo, ou seja, é preciso contextualizar o versículo.

Após instruir os seus discípulos, aproximou-se de Jesus os discípulos de João Batista ( Mt 11:1 -2). Eles foram enviados por João para saber se Cristo era aquele que estava por vir, ou se era preciso esperar outro (v. 3).

Os discípulos de João foram instruídos por Jesus e foram anunciar as obras de Cristo a João Batista, que estava preso (v. 4- 6).

Em seguida Jesus passou a dizer a multidão, ou seja, ao povo de Israel acerca da missão de João Batista.

Verifica-se, então, que a mensagem do verso 7 ao 19 foi direcionada ao povo de Israel, pessoas que precisavam crer em Cristo para serem salvas.

Para crer em Cristo o povo não podia escandalizar-se dele. Porém, o povo olhava a aparência e se escandalizavam da sua pessoa “Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? De onde lhe veio, pois, tudo isto? E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa” ( Mt 13:55 -57).

Jesus passou a demonstrar que João Batista foi enviado como precursor do reino dos céus, conforme o predito por Isaías ( Mt 11:10 ).

Jesus questiona o interesse do povo em ir ver João Batista. Por que a necessidade de ir ver um profeta, se não davam ouvido a sua mensagem? ( Mt 11:7 -9).

Jesus também demonstrou ao povo que, dentre os nascidos de mulher (homens e mulheres), não havia ninguém maior que João Batista. Porém, o menor dentre o reino dos céus era maior que João Batista.

Jesus destaca o papel de João Batista no reino dos homens, e demonstra que ele era o maior dentre os homens por ter sido escolhido como mensageiro do Senhor “Mas, então, que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, mais do que profeta (…) não apareceu alguém maior do que João Batista” ( Mt 11:9 -11 ).

Lucas registrou: “E eu vos digo que, entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João o Batista; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele” ( Lc 7:28 ).

Dentre os homens (nascidos de mulher) João era o maior, porém, o ‘menor’ dentre os homens e profetas, no reino dos céus é maior do que João, e consequentemente, maior do de todos os profetas. Como pode ser isso? Quando Cristo demonstra que o menor no reino dos céus é maior do que João, Jesus estava falando de sua pessoa. Cristo é maior que João Batista no reino dos céus (mas, o menor é maior do que ele no reino de Deus), pois, Cristo se fez o menor dentre os homens, assumindo a condição de servo, para ser o maior no reino ( Mt 11:11 ).

Tudo o que Jesus disse ficou na dependência de seus ouvintes (povo) darem crédito “E, se quiserdes dar crédito, ele é o Elias que havia de vir” ( Mt 11:14 ).

 

“E, desde os dias de João o Batista até agora, faz-se violência ao reino dos céus…” ( Mt 11:12 )

 

Desde os dias que João Batista passou a anunciar o reino dos céus até aquele momento em que Jesus estava falando ao povo, estava ocorrendo violência ao reino dos céus.

Agora, surgem as perguntas: sobre que tipo de violência Jesus fez menção? Que é o advento do reino dos céus? Que tipo de força utilizam? E, por que a violência passou a ocorrer após o início do ministério de João Batista?

 

O Reino dos Céus

Sabemos que nos dias de João Batista passou a ser proclamado o reino dos céus “Arrependei-vos, pois está próximo o reino dos céus” ( Mt 3:2 ). Como João era precursor de Jesus, verifica-se que o reino dos céus vincula-se a pessoa de Cristo.

A mensagem de Jesus e dos seus discípulos era: “E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus” ( Mt 10:7 ).

Os fariseus ao interrogarem a Cristo acerca do reino dos céus obtiveram a seguinte resposta: “E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o reino de Deus, respondeu-lhes, e disse: O reino de Deus não vem com aparência exterior” ( Lc 17:20 ).

Os homens queriam ver o reino de Deus, porém, não entendiam no que consistia o reino dos céus. Eles queriam dizer uns aos outros: Olha ali o reino dos céus, porém, não conseguiam identificar que o reino dos céus já estava entre os homens “Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está entre vós” ( Lc 17:21 ).

Quando Jesus disse que “o reino de Deus está entre vós”, ele não disse que o reino havia se estabelecido no coração dos seus ouvintes (fariseus), antes demonstrou que o Cristo encarnado é o reino dos céus. ‘Dentro em vós’ também pode significar ‘no meio de vós’.

Ora, quando Jesus disse que ‘desde os dias de João Batista até agora, faz-se violência ao reino dos céus’, ele estava demonstrando que faziam violência a sua pessoa. Isto porque a mensagem de João era acerca da pessoa de Cristo, e Cristo também falava do seu ministério entre os homens.

Cristo identificou-se como sendo o reino de Deus entre os homens, alvo de ‘violência’ desde os dias de João Batista até aquele momento que Jesus estava falando ao povo de Israel.

Por que Jesus identifica-se como sendo o reino dos céus?

Porque Cristo é o filho de Davi, e será rei sobre o reino literal, físico e visível sobre Israel e o mundo. Uma vez que os judeus aguardavam o reino de Deus, Cristo sendo o rei, apresenta-se aos seus ‘súditos’, e o seus não o receberam simplesmente pela sua aparência exterior.

A igreja é templo e morada do Espírito de Deus proveniente da mensagem do evangelho, que é: “Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me;” ( Mt 16:24 ). Desta forma o crente torna-se participante de Cristo (em Cristo = nova criatura), promessa superior e condição superior a de súdito do reino.

A igreja herda com Cristo todas as coisas ( Rm 8:17 ), e reinará em glória com Ele ( 2Tm 2:12 ).

A mensagem do reino dos céus foi apresentada inicialmente aos judeus, ou seja, os discípulos de Jesus não deviam ir em direção aos gentios “Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidades de samaritanos” ( Mt 10:5 ).

Embora os judeus esperassem um reino visível e físico, havia um aspecto da missão do Messias que desconheciam. Este aspecto que desconheciam sobre o Messias é demonstrado em Miqueias: “Porque o filho despreza o pai a filha se levanta contra a mãe, a nora contra a sogra; os inimigos do homem são os da sua própria casa” ( Mq 7:6 ).

Em sua primeira vinda, o Messias não traria paz aos reinos deste mundo e nem haveria de governá-los, antes traria espada, ou seja, julgamento e morte (quem não toma a sua cruz e vem a pós mim, não é digno de mim).

Para o homem não ser condenado com o mundo é preciso ser julgado com Cristo, tomando a sua própria cruz e morrer com Ele. Jesus jamais declararia paz ao mundo pecaminoso que teve origem em Adão.

Jesus trouxe espada, ou seja, todos que negam a si mesmo deixando a sua origem em Adão e morrem por amor a Cristo através da fé no evangelho, serão de novo criados em verdadeira justiça e santidade através do último Adão, que é Cristo.

 

A violência

“E, desde os dias de João o Batista até agora, faz-se violência ao reino dos céus…” ( Mt 11:12 )

Sabemos que não é possível aos homens tomarem o reino dos céus a força, e que não foi esta a ideia que Cristo transmitiu ao povo de Israel. É correta a tradução que diz: “Desde os dias de João Batista até agora o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele” ( Mt 11:12 )?

Nunca foi possível aos homens ‘tomar’ o reino dos céus à força, e por que isto seria diferente nos dias de João Batista? O esforço humano é contado na conquista do reino dos céus?

Esta não é a ideia bíblica. Jamais será possível ao homem tomar posse do reino dos céus através da força. Seria aquela geração à época de Cristo diferente das demais? Vemos que não: “Mas, a quem hei de comparar esta geração?” ( Mt 11:16 ).

A geração à época de Cristo era indiferente a mensagem de Cristo, pois as suas obras era segundo a sabedoria carnal ( Mt 11:16 -19 ; Lc 11:50 ). Estes versos demonstram efetivamente que pelas obras ninguém pode entrar ou tomar por assalto o reino dos céus. Muito menos a geração dos dias de João Batista poderia tomar o reino dos céus a força.

Percebe-se através da fala de Cristo, quando anunciou que ‘faziam violência ao reino dos céus’, que é uma reprimenda, uma censura a atitude do povo de Israel que rejeitavam a justiça de Deus. O que eles queriam apresentar na conquista do reino dos céus eram verdadeiramente obras de violência “As suas teias não prestam para vestes nem se poderão cobrir com as suas obras; as suas obras são obras de iniquidade, e obra de violência há nas suas mãos” ( Is 59:6 ).

Por deixarem de dar crédito à palavra de Deus, estavam fazendo violência ao reino dos céus “Assim diz o SENHOR: Exercei o juízo e a justiça, e livrai o espoliado da mão do opressor; e não oprimais ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar” ( Jr 22:3 ).

Onde há falta de justiça, sobra a violência “Só permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um ato sanguinário segue imediatamente a outro” ( Os 4:2 ). Onde não aceitam o conhecimento de Deus que estabelece a sua justiça, sobra obras de violência ( Os 4:6 ).

Ou seja, desde que começou ser anunciado o reino dos céus (desde João Batista até agora), faz-se violência ao reino dos céus, pois rejeitavam a mensagem de João e de Cristo “A voz do SENHOR clama à cidade e o que é sábio verá o teu nome. Ouvi a vara, e quem a ordenou. Ainda há na casa do ímpio tesouros da impiedade, e medida escassa, que é detestável? Seria eu limpo com balanças falsas, e com uma bolsa de pesos enganosos? Porque os seus ricos estão cheios de violência, e os seus habitantes falam mentiras e a sua língua é enganosa na sua boca” ( Mq 6:9 -12).

A voz de Cristo ecoou em Jerusalém, e os seus súditos por se acharem ricos e abastados não o atenderam. Os ricos de “violência” não reconheceram as suas misérias quando o rei clamou: “Bem-aventurado os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus” ( Mt 5:3 ). Eles se escandalizaram de Cristo e da sua mensagem ( Mt 11:6 e Mt 13:57 ).

A rejeição à justiça de Deus é violência ao reino dos céus. Onde não se estabelece a justiça há violência! ( Lc 11:50 ).

 

Que Força?

“…e pela força se apoderam dele” ( Mt 11:12 ).

Será que os ‘enérgicos’ lançam mão do reino dos céus? É possível apoderar-se dele através da força?

Sabemos que pela fé em Cristo é possível ao homem tornar-se participante do reino de Deus na condição de súdito. Porém, é impossível alguém apoderar-se dele, visto que o reino é do Senhor e do seu Cristo ( Ap 11:15 ).

A palavra ‘apoderam’ está mais para uma afronta ao reino do que para uma conquista.

Como é impossível ‘apoderar-se do reino’, a frase “…e pela força se apoderam dele” assume um valor irônico, pois apresenta um sentido oposto ao original. É comum em nossa literatura utilizar um termo com o sentido oposto ao original, e Jesus fez uso desse recurso com a ideia que se depreende da frase. Ele faz uma frase de valor irônico diante da impossibilidade dos homens ‘apoderarem-se’ do reino dos céus à força.

 

Ironia (figura de pensamento) – utilização de termo com sentido oposto ao original, obtendo-se, assim, valor irônico. Alguns denominam de antífrase. Ex: O ministro foi sutil como um elefante.

 

Agora, faz-se necessário utilizar todo o conhecimento que adquirimos anteriormente.

  • É preciso lembrar que o público alvo da mensagem de Cristo era o povo incrédulo;
  • É preciso ter em mente que nada é por força e nem por violência no reino dos céus, antes é pelo Espírito de Deus;
  • É preciso compreender a relação que a Bíblia estabelece entre força, braço e salvação;
  • A força do homem é proveniente da carne, sendo que os gerados da carne são carnais, e, portanto, não podem agradar a Deus;

 

Quem confia na carne e faz dela a sua força simplesmente continua apartado do Senhor, pois diante de Deus só é agradável aquele que crê em Cristo como diz a Escritura.

Qual a força do homem na tentativa de alcançar o reino dos céus?

Os Zelotes queriam estabelecer o reino de Deus através da força bélica, pois não compreendiam no que consiste o reino e quem irá estabelecê-lo.

Os escribas e fariseus confiavam que eram filhos de Deus por serem descendentes de Abraão. Eles confiavam na carne (origem em Abraão) como sendo a força ou o braço que lhes concedia o direito de serem participantes do reino de Deus.

O povo de Israel entendia que a força dele era proveniente da lei entregue por Moisés. Entendia que, pela lei alcançava força suficiente para conquistar o reino dos céus.

  • O povo esqueceu que “no estarem quietos”, haveria força ( Is 30:7 );
  • Esquecera que pela força o homem não prevalecerá ( 1Sm 2:9 );
  • Esquecera que não é por força e nem por violência ( Zc 4:6 );
  • Esquecera que o arco dos fortes está quebrado, ou seja, a força do forte é sem valia, uma vez que o arco para nada serve ( 1Sm 2:4 );
  • Esquecera que as outras nações não poderiam salvá-lo; esquecera que carros e cavalos não tem serventia; esquecera que as obras de suas mãos era sem valor ( Os 14:3 ).

 

“Não vos salvará a Assíria, não iremos montados em cavalos, e à obra das nossas mãos não diremos mais: Tu és o nosso Deus; porque por ti o órfão alcançará misericórdia” ( Os 14:3 ).

 

A mensagem de Jesus ao povo de Israel quando disse: “Desde os dias de João Batista até agora, faz-se violência ao reino dos céus, e pela força apoderam-se dele” ( Mt 11:12 ) é a mesma do profeta Isaías, que no capítulo 30, em resumo, diz: “Por isso, assim diz o Santo de Israel: porquanto rejeitais esta palavra, e confiais na opressão e perversidade, e sobre isso vos estribais, Por isso esta maldade vos será como a brecha de um alto muro que, formando uma barriga, está prestes a cair e cuja quebra virá subitamente” ( Is 30:11 -12).

Quem confia na opressão e na perversidade faz violência ao reino dos céus. Quem se estriba na violência, faz dela a sua força! Mas, a obra do homem (muro) proveniente da sua força está prestes a ruir subitamente.

 

“Porque assim diz o Senhor DEUS, o Santo de Israel: Voltando e descansando sereis salvos; no sossego e na confiança estaria a vossa força, mas não quisestes” ( Is 30:15 )

 

A confiança em Cristo é a força que o homem precisa, mas eles não quiseram.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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