Através do evangelho ocorre o novo nascimeto, de modo que o gerado de novo em Cristo é plenamente limpo, purificado da condição herdada de Adão. Somente através do novo nascimento operado por Deus, que concede um novo coração e um novo espírito, o homem alcança a condição de eleito de Deus, pois passa a fazer parte da nova geração de homens espirituais em Cristo, a geração eleita. O evangelho é água limpa que purifica o homem da impureza herdada da geração de Adão (João 1:12; Provérbios 30:12).
Geração eleita
Conteúdo do artigo
“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:9).
A Eleição: Uma Perspectiva Bíblica
Desde a Reforma, a doutrina da eleição tem sido apresentada por alguns como um mistério e, para outros, como fonte de controvérsias. No entanto, ao escrever aos cristãos dispersos, o apóstolo Pedro os nomeia ‘geração eleita’, trazendo clareza aos mistérios e dissolvendo controvérsias.
Os teóricos geralmente veem a eleição como uma escolha divina sobre indivíduos, ignorando a essência da ‘geração escolhida’. O apóstolo Pedro enfatiza que os cristãos são a geração eleita, o que invalida a ideia de que Deus escolhe ou rejeita indivíduos sem critério específico para salvação ou perdição.
As teorias calvinistas e arminianas, ao explicar a doutrina da eleição, afirmam que Deus escolheu, repectivaente por meio da sua soberania ou pela sua preciência, alguns para a salvação antes de existirem. Essas teorias negligenciam o que o apóstolo Pedro expõe ao enfatizar a geração eleita, pois sem a existência dessa geração específica, não há eleitos.
O apóstolo Paulo também distingue a geração dos homens espirituais da geração dos homens naturais, destacando que esta precede aquela (1 Coríntios 15:46). As teorias calvinistas e arminianas desconsideram essa distinção, assim como ignoram o que Jesus disse:
“O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” (João 3:6).
Embora haja divergências sobre se a eleição ocorre pela ‘soberania’ ou pela ‘presciência’ de Deus, a doutrina da eleição, tanto na perspectiva calvinista quanto na arminiana, afirma que Deus escolhe indivíduos específicos para serem salvos.
Partindo da premissa de que Deus escolheu alguns homens para salvá-los antes de nascerem, isso significa que nunca estiveram realmente perdidos. Rotulá-los como perdidos seria, portanto, uma grande farsa. A ideia de que todos pecaram seria inconsistente, pois esses eleitos, segundo as teorias arminiana e calvinista, nunca estiveram verdadeiramente perdidos.
Ao abordarem a doutrina da eleição, tanto a perspectiva calvinista quanto a arminiana não consideram que a Bíblia apresenta dois tipos de nascimentos e duas gerações: o nascimento natural e o nascimento espiritual. Há a geração que se perdeu em Adão e a geração eleita em Cristo, o último Adão.
Essa verdade é apresentada por Cristo Jesus através da parábola das duas portas e dos dois caminhos. A porta larga refere-se ao nascimento da geração de homens naturais, cujo caminho é largo e conduz à perdição. A porta estreita refere-se à geração eleita constituída de homens espirituais, cujo caminho conduz à salvação.
Considerar que Deus escolhe algumas pessoas para a salvação e outras para a danação eterna contradiz a justiça e a graça de Deus segundo o evangelho, que diz:
“Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:4).
Duas sementes, duas gerações
O modelo que tomou forma e robustez no período da Reforma, com figuras proeminentes como Lutero, Calvino, Armínio, Zuínglio, Spurgeon, Owen, entre outros, e que influenciou muitos escritores contemporâneos, parece considerar apenas um único nascimento: o nascimento natural, segundo a carne de Adão. A doutrina desses pensadores deixa de considerar que a Bíblia apresenta a existência de uma nova geração, que surge através do novo nascimento, dando origem à ‘geração eleita’.
A Bíblia faz referência a duas sementes: a semente corruptível, proveniente de Adão, e a semente incorruptível, que é a palavra de Deus. Assim como há duas sementes, há consequentemente duas gerações. Quando o salmista diz: “Uma semente o servirá; será declarada ao Senhor a cada geração” (Salmos 22:30), ele aponta para uma semente específica, a semente incorruptível, que dá origem a homens que servem a Deus, diferentemente da semente de Adão, que está em inimizade com Deus (1 Pedro 1:23).
Da semente incorruptível surge a geração dos filhos de Deus, daqueles que buscam a face do Deus de Jacó: “Esta é a geração daqueles que buscam, daqueles que buscam a tua face, ó Deus de Jacó” (Salmos 24:6). Por outro lado, da semente corruptível de Adão surge somente a geração dos ímpios, cujo machado já está posto à raiz: “Porque o SENHOR ama o juízo e não desampara os seus santos; eles são preservados para sempre; mas a semente dos ímpios será desarraigada” (Salmos 37:28; Mateus 3:10).
A geração de Adão, proveniente da semente corruptível, contituida de judeu e gentios, não é a geração eleita. Entre os filhos de Adão, não há um único homem que busque a Deus; antes, todos se desviaram e se tornaram imundos (Salmo 14:3; Salmos 53:3). Da geração adâmica, não há quem faça o bem, visto que o homem mais reto é um espinho e o mais justo, como uma sebe de espinhos (Miquéias 7:4). Os descendentes da semente de Adão se desviam de Deus e proferem mentiras desde que nascem, portanto, não fazem parte da geração eleita (Salmos 58:3).
A geração segundo a vontade da carne, do sangue e da vontade do varão produz homens carnais, rejeitados por Deus (João 1:12; João 3:6). Nenhum homem desta geração imunda é eleito para ser santo e irrepreensível, tampouco eleito para ser salvo, visto que, em um único evento, a desobediência de Adão, todos se extraviaram e se tornaram imundos.
A geração eleita é proveniente da semente incorruptível, que é a palavra de Deus. Esta semente produz homens espirituais, eleitos de Deus por causa de Cristo, a cabeça de uma nova estirpe de homens. Cristo, o último Adão, é o homem eleito, em quem “todas as famílias da terra seriam bem-aventuradas”, e todos que são gerados por meio do evangelho, constituem a geração eleita, e são designados filhos de Deus.
“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” (João 1:12-13).
Essas duas sementes equivalem ao barro do qual são feitos os vasos para ira e os vasos de misericórdia. Os vasos da ira são formados em Adão, enquanto os vasos de misericórdia são formados através do último Adão, que é Cristo.
Dessas duas sementes, respectivamente incorruptível e corruptível, são plantadas árvores de justiça, bem como as plantas que Jesus disse que serão arrancadas.
“Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou,” (Romanos 9:21-23);
“A ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê glória em vez de cinza, óleo de gozo em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantações do SENHOR, para que ele seja glorificado.” (Isaías 61:3);
“Ele, porém, respondendo, disse: Toda a planta, que meu Pai celestial não plantou, será arrancada.” (Mateus 15:13).
Eleitos para serem santos e irrepreenssíveis
Deus não escolheu ninguém dentre os filhos de Adão para salvação. Por quê? Porque da semente de Adão todos pecaram e foram destituídos estão da glória de Deus ( Rm 3:23 ). A lei de Deus é irrevogável: a alma que pecar esta morrerá! Como a separação de Deus passou a todos os homens, significa que todos pecaram, ou seja, todos morreram. Os homens gerados segundo a carne estão mortos em delitos e pecados, isto impede que sejam eleitos por Deus para serem santos e irrepreensíveis ( Ef 2:1 ; Ef 1:4 ).
Somente nascendo de novo é possível tomar parte da nova geração, momento que o novo homem herda a vida eterna e tornar-se santo e irrepreensível diante de Deus segundo a eleição “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” ( 1Pe 1:23 ). É por isso que Jesus apresentou a Nicodemos a necessidade de nascer de novo ( Jo 3:3 ).
Ou seja, o homem não é eleito para nascer de novo, antes nasce de novo através da semente incorruptível e, após a regeneração, torna-se membro da geração eleita, o que o torna santo e irrepreensível diante de Deus.
Haveria como alguém morto em delitos e pecados ser eleito de Deus como santo e irrepreensível? Não! É por isso que apareceu a benignidade e amor de Deus, segundo a sua misericórdia, salvando os homens pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo ( Tt 3:5 ). Observe bem: Deus salva pela lavagem da regeneração e renovação do Espírito, e não através da eleição, como alguns dizem.
O evangelho é água limpa que lava o homem da imundície da geração segundo a carne, o sangue e a vontade do varão ( Jo 1:12 ; Pv 30:12 ). Através do evangelho ocorre a regeneração, ou o novo nascimento, lavagem que limpa o homem da imundície da primeira geração. Somente através desta renovação operada por Deus (novo coração e um novo espírito) é que o homem torna-se eleito de Deus, pois passa a fazer parte da nova geração, a geração eleita ( Ez 36:25 -27).
Ora, como a geração de Adão foi rejeitada, visto que todos juntamente se fizeram imundos, Deus, através da sua misericórdia, não por obras de justiça que o homem tenha feito, mas pelo seu grande e infinito amor, Ele elegeu os que creram em Cristo, o último Adão. Cristo é a cabeça da geração eleita. Cristo é o eleito de Deus antes da fundação do mundo, e todos os gerados d’Ele fazem parte da geração eleita, ou seja, foram escolhidos para serem santos e irrepreensíveis ( Ef 1:4 ; 1Pe 1:20 ).
Como é possível Deus ter escolhido os cristãos antes da fundação do mundo? Simples! Assim como Cristo é o eleito de Deus, Deus escolheu a geração de Cristo, o último Adão, para ser santa e irrepreensível diante d’Ele. Todos os que de Cristo são nascidos (gerados), são eleitos de Deus. Por conseguinte, Deus não escolheu indivíduos em particular para serem salvos, antes elegeu a geração de Cristo para ser santa e irrepreensível.
A geração dos filhos de Deus, através da semente incorruptível, que é a palavra de Deus, foi eleita por Deus desde os tempos imemoriais para ser santa e irrepreensível diante d’Ele, condição totalmente diferente da dos filhos de Adão: inimigos e imundos “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” ( 1Pe 1:23 ).
Deus se agradou do seu Filho, pois Cristo lhe é aprazível, e escolheu a sua geração, porque a geração de Adão tornou-se imunda. Cristo é o eleito de Deus, em quem a Sua alma compraz. Cristo foi concedido por Deus por aliança e luz para os gentios ( Is 42:1 e 6). Deste modo, Deus transformou trevas em luz e endireitou o que é tortuoso ( Is 42:16 ). Através da nova geração em Cristo os filhos das trevas tornam-se filhos da luz, e todos quantos foram transportados das trevas para a luz (salvos) por meio da fé em Cristo são eleitos de Deus para serem santos e irrepreensíveis.
Com relação à geração de Adão é certo que, quando deixam esta existência, seguem ao juízo de obras, pois estão condenados em decorrência da desobediência de Adão. É certo também que, dentre os gerados de Adão que creem no evangelho, são julgados e morrem com Cristo, são batizados na sua morte para que ressurjam uma nova criatura.
Deste modo, não há como Deus escolher da semente de Adão alguém para ser salvo, visto que:
a) se creem, morrem com Cristo para depois ressurgirem em uma nova criatura, e;
b) se não creem, seguem para a perdição.
Portanto, Deus não escolhe ninguém gerado da semente de Adão para ser salvo.
Outro ponto: A salvação em todos os tempos decorre da fé, porém, além de serem salvos, os nascidos de Cristo Jesus são os eleitos para ser santos e irrepreensíveis e predestinados a filhos por adoção. Todos quantos são gerados da semente incorruptível por meio de Cristo, a fé manifesta, são os eleitos, pois esta é a geração do Senhor, a geração eleita, separada para ser santa e irrepreensível!
Deus escolheu Cristo e a Sua geração! Cristo é a pedra eleita e preciosa “Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; E quem nela crer não será confundido” ( 1Pe 2:6 ). Como o último Adão é a pedra viva, eleita e preciosa, os cristãos também são pedras vivas, de igual modo, eleitos e preciosos para Deus ( 1Pe 2:4 e 5).
As teorias, calvinista e a arminianista, consideram que os eleitos são indivíduos que Deus escolheu para serem salvos, ou pela sua ‘soberania’ ou pela sua ‘presciência’ (A presciência como um ramo da onisciência é uma ilação teológica equivocada que não encontra respaldo nas Escrituras). Se tais posicionamentos fossem de todo correto, os salvos nunca pertenceriam ao conjunto dos perdidos, pois cada indivíduo nasce eleito ou rejeitado (soberanamente ou pré-cientemente) antes da fundação do mundo.
O que a Bíblia demonstra é a existência de duas gerações. Há a geração dos perdidos, pessoas geradas segundo a vontade da carne, a vontade do varão e do sangue, onde ninguém é eleito, pois diz de indivíduos que juntamente se extraviaram e destituídos estão da glória de Deus ( Rm 3:12 ; Rm 3:23 ). E há a geração dos salvos, que são pessoas geradas de novo segundo a vontade de Deus ( Jo 1:12 -13), que anteriormente pertenciam à geração dos perdidos.
Não há como pertencer à geração dos salvos sem antes pertencer à geração dos perdidos, visto que, primeiro é o carnal, para depois vir o espiritual ( 1Co 15:46 ). É neste ponto que Deus obra maravilhosamente, pois Ele utiliza a mesma ‘massa’ (perdidos) e faz dela um novo homem ( Rm 9:21 ), criação divina que gera um novo homem na condição de irmãos de Cristo, e Cristo, por sua vez, Primogênito entre muitos irmãos.
A Bíblia demonstra que, através de Cristo, o unigênito eleito introduzido no mundo, Deus traz à existência novos homens, nascidos da sua vontade e segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, para que Ele seja o primogênito dentre muitos irmãos ( Rm 8:29 ; Hb 2:10 ). Após morrer e ser sepultado com Cristo, Deus utiliza a mesma massa (barro) para fazer vasos para honra. Todos que morrem, ressurgem com Cristo: são de novo gerados, pois lhes é concedido um novo coração e um novo espírito. São novas criaturas por estarem em Cristo e, como tudo se torna novo (novo coração e novo espírito), agora são eleitos de Deus ( 2Co 5:17 ; Sl 51:10 ; Ez 36:26 ; Is 57:15 ).
O mistério da eleição resume-se na geração. É por isso que o apóstolo Pedro diz que os cristãos da dispersão eram eleitos: “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas” ( 1Pe 1:2 ). Por que os cristãos são eleitos segundo a ‘presciência’ (pré-conhecimento, pré-ciência)? A presciência diz do Descendente e, por conseguinte, dos seus descendentes. Assim como a morte reinaria entre os homens, de antemão Deus anunciou pelos seus santos profetas o triunfo de Cristo na cruz, o que O tornou precursor da nova geração, pois somente Ele conduziria muitos filhos à gloria de Deus ( Hb 2:10 ).
A ‘presciência’ de Deus refere-se ao ‘conhecimento’, a ‘mensagem’ de Deus anunciada previamente pelos seus santos profetas de que Cristo seria morto na plenitude dos tempos em função do beneplácito da vontade de Deus, pois Cristo é o Cordeiro de Deus morto deste a fundação do mundo, ou seja, a ‘presciência’ ou o ‘pré-conhecimento’ diz dos eventos que se sucederam com relação à vida e morte de Cristo em conformidade com as Escrituras “E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” ( Ap 13:8 ).
Deus estabeleceu de antemão que haveria de entregar o seu único Filho, pois somente o sangue imaculado, incontaminado de Cristo resgataria os homens do domínio do pecado. Pelas profecias foi anunciado que o cordeiro de Deus seria morto na plenitude dos tempos, e esta mensagem anunciada previamente pelos profetas é o pré-conhecimento, a pré-ciência, e não a ‘presciência’ como ramo da onisciência. O sangue do Cordeiro já era conhecido ainda antes da fundação do mundo, porém, tal sacrifício só tornou-se ‘conhecido’ dos homens na plenitude dos tempos, mas o que fora anunciado é a pré-ciência ou, seja, o pré-conhecimento “A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” ( At 2:23 ); “Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” ( 1Pe 1:19 -20 ; Hb 9:26 ).
De antemão (antes de vir a existência) Deus elegeu a descendência do último Adão, ou seja, a descendência de Cristo (do Descendente). Tal descendência diz de todos os que creem no evangelho, o que os torna santos e irrepreensíveis diante d’Ele ( Ef 1:4 ).
Ciente desta eleição, o apóstolo Pedro bendiz a Deus: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós” ( 1Pe 1:2 -3). O apóstolo Pedro explica que, pela ressurreição de Jesus dentre os mortos, Deus novamente gerou homens na condição de filhos de Deus ( Ef 1:19 -20).
E como se dá esta nova geração? Deus purificou os homens mediante a obediência à verdade “Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade…” ( 1Pe 1:22 ). Tal purificação foi retratada por Ezequiel: “Então aspergirei (Espírito) água pura (obediência à verdade) sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo…” ( Ez 36:25 -26 ; Jo 15:3 ).
É certo que o homem já foi gerado uma vez, proveniente da semente que o Pai não plantou ( Mt 15:13 ). Agora, por intermédio de Cristo, o último Adão, os homens são novamente gerados pela palavra de Deus, que é Cristo, o Verbo encarnado, tornando-se árvores de justiça “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” ( 1Pe 1:23 ).
Como os cristãos se achegaram a Cristo, a Pedra Viva, eleita e preciosa, agora também são pedras vivas, pois são casa espiritual e sacerdócio santo ( 1Pe 2:5 ). Agora, por terem sido gerados de novo, os cristãos são a geração eleita. Observe a diferença: antes não eram povo, ou seja, não eram escolhidos, agora são povo de Deus, pois são a geração eleita.
É por isso que ao escrever a segunda epístola, o apóstolo Pedro recomenda aos cristãos que, pelas grandíssimas e preciosas promessas do evangelho, tornaram-se participantes da natureza divina ( 2Pe 1:4 ), acrescente a fé à virtude, e à virtude a ciência, etc. Por que? Para não se tornarem ociosos ( 2Pe 1:8 ). Neste diapasão, o cristão torna mais firme o seu chamamento e eleição, o que evita de tropeçar nalguma coisa ( 2Pe 1:10 ; Tg 3:2 ).
Se a eleição é para salvação, não há que se falar em torná-la mais firme. Mas, se a eleição é condição conferida pela nova geração a que o novo homem pertence, quando o cristão se aplica a mensagem do seu chamamento (evangelho=vocação), este fica mais firme, ou seja, livre de coxear entre dois pensamentos e da ação dos falsos mestres. Qualquer que assim age, será concedida entrada ampla nos céus! ( 2Pe 2:11 ), o que não condiz com o pressuposto da doutrina calvinista e arminianista da eleição, de que a salvação é para alguns escolhidos, não importando se atendem ou não ao chamado.
O apóstolo Paulo demonstrou que a eleição de Israel decorre dos pais: Abraão, Isaque e Jacó ( Rm 11:28 ), diferente da eleição de alguns remanescentes judeus que se tornaram cristãos, que é a eleição proveniente da graça ( Rm 11:5 ). O que vem a ser a eleição da graça?
Por causa do patriarca Abraão, os seus descendentes eram eleitos a pertencerem à nação de Israel ( Dt 10:15 ; Is 41:8 ), de modo que eleição sempre aparece na Bíblia em conexão com filiação, descendência. Mas, a promessa de bem-aventurança não deriva da eleição dos pais, antes diz da eleição do Descendente prometido a Abraão, do qual só é participante os que d’Ele são gerados. Portanto, a eleição tem relação com a geração: houve a eleição segundo os pais, e há a eleição segundo o descendente, que é Cristo ( Is 65:9 ). Em ambos os casos, para ser eleito é necessário ser descendente, uma questão ligada à geração.
O apóstolo Paulo nomeia os cristãos de Éfeso de santos e fiéis, ou seja, pertencentes à família de Deus pelo evangelho de Cristo ( Ef 2:19 ), condição que remete ao fato de terem sido gerados de Deus ( Ef 5:8 ). Neste verso: “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” ( Ef 1:4 ), não se pode concluir que Deus elegeu indivíduos para serem salvos, antes deve considerar que todos os cristãos (nos) foram eleitos (elegeu) em Cristo antes da fundação do mundo em função de serem gerados segundo Cristo.
Antes da fundação do mundo Deus escolheu a descendência de Cristo para ser santa e irrepreensível diante d’Ele. O apóstolo Paulo faz referência a um evento que tem no seu escopo o fato de os cristãos serem descendentes de Cristo, porque foram criados de novo ( Ef 2:10 ), tendo Cristo como a pedra de esquina e, os cristãos edificados sobre Ele como templo santo ( Ef 2:20 -22), o mesmo conceito exposto pelo apóstolo Pedro ( Ex 19:5 -6).
Na eternidade Deus elegeu a descendência do Senhor Jesus Cristo (do Descendente prometido a Abraão), sendo assim, o apóstolo Paulo utilizou o verbo eleger no passado ‘elegeu’ para demonstrar a atual condição dos cristãos: eleitos de Deus ( Ef 1:3 ).
Ao escrever aos Filipenses, o apóstolo Paulo faz uma distinção clara entre a condição pertinente à geração dos filhos de Deus e a geração deste mundo “Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo” ( Fl 2:15 ).
Cristo nomeia a geração dos escribas e fariseus de uma geração má e adultera “Mas ele lhes respondeu, e disse: Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém, não se lhe dará outro sinal senão o do profeta Jonas” ( Mt 12:39 ; Sl 78:8 ), mas esta característica não se aplica somente aos fariseus à época de Cristo, antes diz da geração dos ímpios.
Desde quando peregrinava por quarenta anos no deserto até Cristo, Deus protesta contra a nação de Israel, que se constitui em um povo que erra de coração, pois não tem conhecido os caminhos do Senhor ( Sl 95:10 ). Várias ‘gerações’ se passaram, porém Deus protesta contra uma mesma geração, a geração que teve origem na desobediência de Adão ( Is 43:27 ). Por causa de Adão os filhos de Jacó eram maus e adúlteros, e permaneciam fiados na ideia de que eram geração de Abraão.
Mas, a promessa de Deus diz da geração de Cristo, que é semente poderosa na terra “A sua semente será poderosa na terra; a geração dos retos será abençoada” ( Sl 112:2). A geração de Cristo é plantação do Senhor, árvores de Justiça ( Is 61:3 ).
Esta promessa não era para a geração de Adão, mas para a geração futura, do povo que Deus havia de criar para louvor da glória de Deus “Isto se escreverá para a geração futura; e o povo que se criar louvará ao SENHOR” (Sl 102:18 ; Is 61:3 ; Ef 4:24 e Ef 1:12 ).
Tudo que é concernente à eleição é proveniente da seguinte promessa: “Fiz uma aliança com o meu escolhido, e jurei ao meu servo Davi, dizendo: A tua semente estabelecerei para sempre, e edificarei o teu trono de geração em geração” ( Sl 89:3 ; Ef 2:12 ).
Assim como a Bíblia apresenta duas portas, dois caminhos, duas sementes, dois vasos, dois senhores, apresenta também duas gerações, sendo a geração de Adão rejeitada, e a geração de Cristo a eleita, pois tal qual Ele é são os que creem Nele aqui neste mundo: eleitos de Deus, a geração do Senhor! ( 1Jo 4:17 ; Sl 24:6 e Sl 15:1 ; 1Co 15:48 ).
Somente uma semente, a palavra de Deus, traz a existência uma nova geração eleita do Senhor “Uma semente o servirá; será declarada ao Senhor a cada geração” ( Sl 22:30 ), eleição que os tornam santos “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade” ( Cl 3:12 ).
Palavra de ampla revelação Deus continue abençoando os irmãos.