Segundo o apóstolo Paulo ‘todas as coisas são lícitas’ para o cristão, e, se todas elas são lícitas, nada se excetua. Mas, apesar de tudo ser lícito, nem tudo convêm e nem tudo edifica.
O comportamento do cristão
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Consílio de Jerusalém
No Tratado de Lucas a Teófilo, temos uma pequena lista de recomendações aos crentes convertidos dentre os gentios:
“Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá” ( At 15:28 -29).
No concilio de Jerusalém onde estavam presentes os apóstolos e os anciões da igreja ( At 15:6 ), foi deliberado não impor encargo (ordenança, proibição) algum aos cristãos convertidos dentre os gentios, excetuando três questões: a) Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos; b) do sangue, e da carne sufocada, e; c) da prostituição.
O que foi determinado aos cristãos convertidos dentre os gentios foi classificado pelos apóstolos como o necessário e, sendo o necessário, isto significa que o que foi prescrito estava na medida certa, exata, ou seja, não é para impor nada mais.
Segundo o apóstolo Paulo ‘todas as coisas são lícitas’ para o crente e, se todas elas são lícitas, nada se excetua. O crente em Cristo pode fazer de tudo, pois é liberto do Senhor, porém, após demonstrar que todas as coisas são licitas, o apóstolo Paulo apela para a consciência dos seus interlocutores demonstrando que, apesar de tudo ser lícito, nem tudo convêm e nem tudo edifica “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam” ( 1Co 10:23 ).
Esta questão já havia sido abordada na mesma carta: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” ( 1Co 3:12 ). Ou seja, um cristão não pode se deixar dominar por nada, mesmo que tais coisas sejam lícitas.
O apóstolo Paulo não impõe nenhuma obrigação aos cristãos sobre o que podem ou não fazer, no entanto, faz-se necessário observarem o que o apóstolo dos gentios escreveu aos cristãos em Colossos: “Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” ( Cl 2:20 -23).
É de se estranhar que ainda em nossos dias muitos cristãos se sobrecarregam de inúmeras ordenanças tais como não tocar, não provar, não manusear, e deixam de considerar que tudo quanto o homem toca, prova ou manuseia não tem valor algum, antes o que é de valor é a obediência do evangelho “Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor” ( Gl 5:6 ).
À época do apóstolo Paulo os judaizantes impunham obrigações sobre os cristãos convertidos dentre os gentios, porém, estas obrigações não passavam de preceitos e doutrinas dos homens. Daí a pergunta: qual deve ser o porte do cristão na sociedade em que convive, visto que o padrão de comportamento muda de sociedade para sociedade e de tempos em tempos?
Primeiro o crente deve compreender que todos os homens, antes de crerem em Cristo, andavam segundo o curso deste mundo. Todos, antes de crerem em Cristo, possuíam um coração enganoso e estavam entregues as suas próprias paixões, aos sentimentos perversos e faziam o que era inconveniente.
É por isso que o profeta Miqueias deixou registrado que dentre os filhos da ira (filhos de Adão) o mais reto dos homens é como um espinho e o mais justo (religioso) pior que um sebe de espinhos ( Mq 7: 4 ). Por que o mais justo é pior que uma sebe de espinhos? Porque é duas vezes mais filho do inferno ( Mt 23:15 ).
Qual o curso do mundo? Andar nos desejos da carne (instinto), fazendo a vontade da carne e dos pensamentos ( Ef 2:3 ; Ef 4:22 ). Todos os homens sem Cristo estão corrompidos, ou seja, impróprios para a glória de Deus por causa da ofensa de Adão, e estes, por sua vez, se entregam aos seus instintos carnais e deleitam-se na vaidade dos seus pensamentos “E digo isto, e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade da sua mente. Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração; Os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para com avidez cometerem toda a impureza” ( Ef 4:17 -19).
Ao aceitar a Cristo como Salvador, o cristão é criado de novo em verdadeira justiça e santidade, pois em Cristo adquire um novo coração e um novo espírito. Apesar de o crente ter morrido com Cristo, ter sido sepultado e ressurgido dentre os mortos para a glória de Deus, quanto à mentalidade e maneira de interagir com as pessoas no mundo não houve uma mudança. A mudança que ocorrerá é gradativa, paulatina, pois demanda a renovação do entendimento ( Rm 12:2 ).
É somente através da renovação do entendimento que o cristão deixará de agir conforme o mundo. O crente em Cristo é apto para ir morar no céu no dia em que crê na mensagem do Evangelho, porém, se não for instruído segundo a palavra da verdade, não saberá discernir entre o bem e o mal, não sofrerá a correção necessária “Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal” ( Hb 5:14 ); “E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela” ( Hb 12:11 ); “Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz” ( Cl 1:12 ).
O cristão não deve conformar-se (amoldar-se) com o mundo, mas qual é a regra que estabelece o comportamento do cristão no mundo?
Amar o próximo como a si mesmo
O apóstolo João evidencia que os mandamentos de Deus não são pesados ( 1Jo 5:3 ), e os mandamentos d’Ele se resumem em dois: a) crer em Cristo como o enviado de Deus, e; b) que os que n’Ele creram amem o próximo segundo o mandamento que Ele nos deu “Ora, o seu mandamento é este, que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, como ele nos ordenou” ( 1Jo 3:23 ).
Isto significa que, se obedecemos a Deus, devemos anunciar Cristo ao próximo, pois Cristo é o amor que Deus concedeu à humanidade, e é concedendo (anunciando) Cristo aos outros que amamos os nossos semelhantes ( Jo 3:16 ; 1Jo 4:14 -16 ). O evangelista João enfatizou que os mandamentos de Deus não são pesados, visto que o mandamento de Deus é crer em Cristo, e após crer, resta ao cristão anunciar ao próximo que Jesus Cristo é o Senhor.
A Bíblia não impõe regras, antes aponta princípios, como:
Humildade cristã
Tudo que o crente faz deve ser realizado por ‘humildade’. De acordo com o apóstolo Paulo, ‘humildade’ significa obediência a Deus. Veja: “humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” ( Fl 2:8 ).
O conceito de humildade em nossos dias possui diversos significados por causa do pensamento do homem da atualidade. Por exemplo: em nossa sociedade é humilde a pessoa sem luxo, apática, sem brilho, simples. Por causa deste conceito as pessoas procuram humildade nas vestes, no carro, na casa, na fala, etc. Esta não é a humildade bíblica.
Para muitos, humildade é sinônimo de quem não tem boa condição financeira. Outros entendem a humildade como despojamento, aquele que não faz caso dos bens que possui. Alguns entendem que humildade é reconhecer seus próprios limites, ou ser modesto. Há até aqueles que entendem que a humildade decorre de um sentimento de inferioridade, fraqueza diante de algo ou alguém.
No entanto, a humildade que a Bíblia prescreve é humilhar a si mesmo, ou seja, oferecer-se a Deus voluntariamente como servo. Aquele que voluntariamente se sujeita a obedecer a Deus se humilhou, ou seja, tornou-se escravo. Aquele que abre mão da sua condição social (livre) para tornar-se escravo humilhou-se a si mesmo.
Se o cristão quer ser discípulo de Cristo, deve imitar o nosso Senhor: obedecendo a Deus. Daí a ordem: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo” ( Fl 2:3 ). Ora, tudo é lícito, porém, nada deve ser feito por contenda ou por vanglória, antes por humildade (em obediência ao seu senhor).
É por isso que o apóstolo Paulo roga aos cristãos na condição de prisioneiro de Cristo que andem com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando uns aos outros ( Ef 4:2 ). Os verbos amar e suportar não são contraditórios. Quem suporta é porque ama (obedece), mesmo que a afeição não seja suficiente, pois a obediência a Deus supre a falta de afeição.
Ser humilde, manso e longânime é o modo digno da vocação celestial. O que é exigido do cristão em sociedade é superior à moral e à ética exigida pela sociedade. O cristão deve portar-se de modo a não dar escândalo a judeus, gregos e nem a igreja de Deus “Não dando nós escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado” ( 2Co 6:3 ; 1Co 10:32 ).
O apóstolo João na sua terceira carta deixou registrado ao irmão Gaio que em tudo ele procedeu fielmente no que fazia para com os irmãos e para com os estranhos ( 3Jo 1:5 ). O fato de Gaio permanecer na fé e ensina-la aos homens é amar, e proceder fielmente em tudo o que fazia para com os irmãos e para com os estranhos é o modo é digno de se portar. Para andar de modo digno é necessário pautar-se em valores nobres como honra e dignidade, portanto não se deve levar em conta diferenças de nacionalidade, povo, língua, condição social, etc.
Através da leitura da terceira carta do evangelista João ao irmão Gaio é possível perceber que ele dispensava o mesmo tratamento a todos os congregados, que fossem gentios ou judeus ( 3Jo 1:7 ), o que permitiu ao evangelista escrever solicitando que providenciasse o necessário para a viagem de alguns cristãos, visto que eles não quiseram receber a contribuição providenciada por cristãos convertidos dentre os gentios, o que indica que eram judeus que creram em Cristo e que precisavam viajar ( 3Jo 1:7 ).
Um cristão sabedor de que tudo é lícito pode comer todo e qualquer tipo de carne que se vende no açougue ( 1Co 10:25 ). Este conhecimento também faculta ao cristão comer até mesmo as carnes sacrificadas aos ídolos, pois é instruído de que o ídolo nada é ( 1Co 8:4 ). No entanto, apesar da plena liberdade de decidir entre comer e não comer, o cristão não deve assentar-se à mesa dos ídolos, pois induzirá quem não tem o conhecimento necessário a comer.
Quais seriam as conclusões de quem não tem maturidade ao assentar-se na mesa dos ídolos? Tal atitude não faria perecer o irmão de consciência fraca? ( 1Co 8:10 -11). O cristão pode comer de tudo o que se vende no mercado! Olha a extensão da liberdade cristã. Mas, apesar da liberdade, o cristão não deve usar da liberdade para dar ocasião à malicia, de modo que se comer carne escandaliza o irmão, a regra é nunca mais comer carne.
Nunca mais comer carne evitando que o irmão se escandalize é o mesmo que o crente apresentar o seu corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Como? Tal atitude é render um culto racional a Deus, pois o crente transformou o seu comportamento à medida da renovação do entendimento ( Rm 12:1 -2). Não causar escândalo algum tanto aos gentios, quanto aos judeus e a igreja de Cristo é render um culto racional. Quando o cristão porta-se de modo digno do evangelho diante dos homens e sabe discernir o corpo do Senhor, na verdade está oferecendo um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus.
Outro exemplo: se uma pessoa que não crê em Cristo convida um cristão para uma refeição, e ele desejar ir, não há nenhuma proibição. Primeiro porque o cristão pode comer de tudo o que for posto na mesa, e segundo porque não há a necessidade de questionar de onde veio o alimento, ou como foi processada a bebida, ou quais os ingredientes do molho, etc. ( 1Co 10:27 ). Mas, se alguém alertar que aquela comida foi ofertada aos ídolos, o cristão não deve comer. Não deve comer, não porque Deus proibiu, ou porque é pecado, antes não deve comer por causa da consciência de quem avisou ( 1Co 10:28 ).
Mas, se o cristão se assentar a mesa sabendo que é ofertada a ídolos e comer para contender ou para se vangloriar da liberdade que possui, não o fez por humildade, pois a Bíblia nos ensina quando o cristão não deve fazer coisa alguma, apesar de tudo ser lícito: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo” ( Fl 2:3 ).
O crente não deve agir por disputa! Em uma disputa o outro é considerado oponente. A Bíblia informa claramente quem é o oponente do cristão, o inimigo de nossas almas, portanto, com certeza os seus semelhantes não são os seus oponentes “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” ( Ef 6:12 ).
O que se opõe ao cristão é todo engano e mentira de demônios que surge para deturpar a verdade do evangelho de Cristo.
O objetivo de quem é contencioso é desarticular, humilhar ou até mesmo destruir o oponente. A contenda não aceita soluções de paz. A contenda é como fogo, enquanto houver combustível não para de se alastrar, destruindo tudo à sua volta “Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens” ( Rm 12:18 ).
Quando o cristão lida com os irmãos em Cristo, tem que ter em mente que somos membros uns dos outros, logo, não deve haver contendas entre nós. E, quando lidamos com o pecador, sabemos que Cristo derramou sua alma na morte para resgatá-los do pecado, portanto não há lugar onde o servo de Deus possa agir por contenda.
É sem valor querer mostrar ou provar superioridade quando se está em Cristo, pois em Cristo ninguém é melhor ou pior “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” ( Gl 3:27 -28).
Portanto, nada se deve fazer por vanglória! O dicionário descreve vanglória como presunção infundada de valor próprio “Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” ( 1Co 4:7 ). Quando a motivação é mostrar superioridade, o cristão não se deve fazer.
Nenhum crente é isento de ser tentado a agir por vanglória, mas deve resistir a esta tentação porque a vanglória é maligna “Mas agora vos gloriais em vossas presunções; toda a glória tal como esta é maligna” ( Tg 4:16 ). Agir por vanglória é aceitar a sugestão de Satanás, portanto, se for se gloriar, que se glorie no Senhor “… Aquele que se gloria glorie-se no Senhor” ( 1Co 1:31 ); “Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém” ( 1Pd 4:11 ).
O adversário, continuamente, lança setas contra os cristãos. ‘Setas’ são mensagens malignas que procuram distorcer a compreensão do cristão no que tange à verdade das Escrituras. Assim como Satanás tentou dissuadir o Senhor Jesus, até mesmo nos últimos segundos de vida, de morrer na cruz por nós, igualmente ele tenta dissuadir os cristãos de experimentarem a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Deus quer compartilhar a sua glória com o homem, mas o adversário do crente tenta minar o entendimento com questões desta vida para que permaneça com o que é passageiro. A glória do homem é efêmera, passageira: “… não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva” ( 2Co 10:18 ); “Porque Toda a carne é como a erva, E toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor” ( 1Pd 1:24 ).
Embora bom comportamento não torne o homem pior nem melhor diante de Deus, quem prima por um bom comportamento terá uma existência neste mundo mais aprazível. Sabemos que quando o homem crê em Cristo, Deus cria um novo homem em verdadeira justiça e santidade. Mas, com relação ao comportamento da nova criatura é necessário transformar-se, o que é gradativo. Fica a cargo do crente se desfazer do comportamento que era pertinente ao velho homem que foi crucificado e sepultado com Cristo, o que demanda instrução segundo a palavra de Deus para que haja mudança de entendimento. Somente através de uma mudança continua do entendimento é que o cristão transforma o seu comportamento em sociedade “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” ( Rm 12:2 ; ).
Comportamento familiar do cristão
Certa feita o apóstolo Pedro juntamente com os demais apóstolos disseram: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” ( At 5:29 ), isto porque as autoridades judaicas estavam proibindo os cristãos de anunciarem o Evangelho de Cristo ( At 5:27 -28), porém, a tônica da vida cristã não é a insurgência sociopolítica “TODA a alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus” ( Rm 13:1 ).
É muito importante notar que apóstolo Pedro falou esta frase porque as autoridades religiosas do povo o proibiram de anunciar as Palavras de Cristo, quando horas antes um anjo retirou o apóstolo da prisão e mandou que anunciasse a palavra do Evangelho exatamente ali no templo onde estavam. Os apóstolos não utilizaram a fala “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” para fugir de suas obrigações junto aos irmãos e a sociedade “Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior” ( 1Pd 2:13 ).
Porém, em nossos dias muitos filhos de Deus utilizam este verso para ‘injustamente’ desobedecer a Deus. Por exemplo: não cabe à mulher desobedecer ao marido, pois há uma ordem direta de Deus às mulheres com relação aos maridos. Alegar que: – “Obedeço a Deus e não o homem (marido)”, ou “Todas as coisas me são licitas…”, de nada adianta diante de Deus “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao SENHOR” ( Ef 5:22 ); “De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos” ( Ef 5:24 ).
A mulher deve obedecer ao marido por causa da ordem dada aos maridos “Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo” ( Ef 5:28 ); “Assim também vós, cada um em particular, ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o marido” ( Ef 5:33 ). O marido cuida da esposa com o objetivo de apresenta-la a si mesmo em obediência a palavra de Deus. O que está em voga é o objetivo da ordem: a obediência, e não o mérito da mulher: vou cuidar se ela for obediente. Os homens propõe cuidar com base no mérito (se a mulher merecer eu cuido) invertendo a responsabilidade.
Nenhum um cristão pode utilizar a Palavra de Deus para justificar sua rebeldia contra as autoridades instituídas, principalmente a estabelecida na família.
Na Bíblia a ideia de autoridade está atrelada ao dever de cuidar, portanto, não se deve conceber a ideia bíblica de autoridade segundo o curso deste mundo que é: buscar regalias negligenciando o dever. O princípio da autoridade na Bíblia não contempla arbitrariedades e abusos.
Na Bíblia autoridade e obediência são faces de uma mesma moeda, de modo que o marido é apresentado positivamente como tendo autoridade sobre a mulher porque tem o dever de cuidar. A mulher tem o dever de obediência, pois a obediência fará com que ela usufrua do cuidado do marido.
Da mesma maneira, os filhos devem obediência aos pais. Quando o filho casa deve obediência às autoridades constituídas e ao pastor. Já a mulher deve obediência ao marido e as autoridades constituídas, não mais aos pais ou aos pastores, pois um corpo só possui uma cabeça.
Homens cristãos
Os homens são instruídos a obedecerem aos seus pastores. A obediência que os homens devem aos pastores é concernente à palavra de Deus, pois é dever do pastor zelar pelas almas como aqueles que hão de dar conta delas a Deus. O cuidado não está em determinar o que o cristão precisa comprar, vender, investir, etc. “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil” ( Hb 13:17 ).
Com relação as questões desta vida o pastor deve instruir os cristãos em como cuidar das esposas, educar os filhos, ser fiel no trato, etc. O pastor orienta, diferente de impor ou determinar o que fazer.
Mulheres e Filhos cristãos
As mulheres são instadas a obedecerem aos seus maridos, como se obedecessem ao Senhor “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao SENHOR; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos” ( Ef 5:22 -23); “Vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que também, se alguns não obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos sem palavra” ( 1Pe 3:1 e 5).
Os filhos devem obediência aos pais, pois os pais tem o dever de cuidado sobre os filhos “VÓS, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra” ( Ef 6:1 -2).
Servos / empregados cristãos
Os servos deviam obediência aos seus senhores, de modo que os empregados devem obediência aos seus empregadores “Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo; não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens. Sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre” ( Ef 6:5 -8); “TODOS os servos que estão debaixo do jugo estimem a seus senhores por dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados. E os que têm senhores crentes não os desprezem, por serem irmãos; antes os sirvam melhor, porque eles, que participam do benefício, são crentes e amados. Isto ensina e exorta” ( 1Tm 6:2 ); “Exorta os servos a que se sujeitem a seus senhores, e em tudo agradem, não contradizendo, Não defraudando, antes mostrando toda a boa lealdade, para que em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador” ( Tt 2:10 ); “Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus” ( 1Pe 2:18 ).
Todos os cristãos
O apóstolo Pedro instrui a todos os cristãos, quer sejam servos, ou livros, ricos ou pobres, judeus ou gentios, homens e mulheres a sujeitarem-se a toda ordenação humana por obediência ao Senhor “Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior; quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens insensatos; como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus. Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai ao rei” ( 1Pe 2:13 -17).
Por que esta ordenança a todos os cristãos? Porque surgiriam homens que, por presidirem um ajuntamento de cristãos, utilizariam a sua posição para barganhar prestigio politico e social neste mundo. Outros apoiariam revoluções sociopolíticas em nome de Deus, outros estabeleceriam impérios corporativos, etc. O cristão busca as coisas que são de cima porque não mais pertence a este mundo “Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia” ( Jo 15:19 ).
A ordem é clara a todos: “E não nos cansemos de fazer bem, porque à seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido” ( Gl 6:9 ).
Há cristãos que desprezam os deveres domésticos, como o dever de cuidado do marido para com a esposa e a esposa o dever de obediência para com o marido, mas devemos ter em mente que o apóstolo Paulo, quando falou dos deveres domésticos, fez o seguinte alerta: “Sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis” ( Cl 3:24 ).
É bem verdade que em nossos dias cumprir com deveres não é agradável, pois o pensamento que domina as sociedades da atualidade é a grita por direitos, mas todo filho de Deus não agrada a si mesmo, antes deve agradar aquele que o alistou para a guerra!