O Deus que ultrapassa nossa compreensão

Deus infinito Se deu a conhecer em Cristo, convém aos Seus santos bendizê-Lo, não pelo que compreendem, mas por tudo o que Ele é.
Deus: O Ser Singular, Transcendente e Incomparável
“Senhor, Tu tens sido o nosso refúgio de geração em geração. Antes que os montes nascessem ou que formasses a terra e o mundo, de eternidade a eternidade Tu és Deus.” (Salmo 90:1-2).
Deus não é simplesmente “a força suprema” nem uma versão ampliada do ser humano. Não há, em toda a criação, qualquer parâmetro que se compare a Ele. Ele é singular e absolutamente transcendente— está além do tempo, do espaço, da matéria e daquilo que chamamos realidade. Ele é o Eu Sou, Aquele que é por Si mesmo, eterno e imutável.
Embora Deus se revele com atributos como amor, justiça, misericórdia, santidade e sabedoria — qualidades que nos são comunicadas em alguma medida —, Sua personalidade não pode ser confundida com a estrutura psicológica humana. Diferentemente de nós, Deus não é um ser sujeito a pensamentos, sentimentos ou decisões graduais. Ele não pensa, não raciocina, não deduz, não conclui, pois tudo sabe, desde sempre e para sempre.
A Onisciência: Plenitude que não evolui
A Bíblia revela atributos comunicáveis de Deus — amor, bondade, justiça, misericórdia, santidade, sabedoria —, mas Seus modos não se confundem com as limitações da “personalidade” humana. Deus não “pensa” como pensamos. Ele é onisciente: sabe todas as coisas simultaneamente, plena e perfeitamente (1 João 3:20). Seu conhecimento não cresce, não muda, não falha; passado, presente e futuro estão igualmente abertos diante d’Ele.
A mente humana opera com limitação, tempo e aprendizado. Deus, por ser onisciente, não pensa como nós pensamos. Seu saber é pleno, eterno e imutável. Nada Lhe escapa, nada Lhe surpreende, nada Lhe é acrescentado. Sua onisciência não é previsão de fatos futuros, mas presença eterna em todos os tempos. Para Deus, o que para nós é futuro, já é — porque diante Dele tudo está patente.
Quando a Escritura anuncia fatos ainda não ocorridos, não é porque Deus “preveja”, mas porque Ele já contempla tais eventos. Ao revelá-los aos profetas, concede-nos vislumbres dessa onisciência; chamamos isso de presciência (Isaías 46:10). A presciência não significa que Deus “antevê” o futuro — Ele apenas o comunica.
“A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos;” (Atos 2:23).
Portanto, afirmar que Deus “prevê” o futuro é um reducionismo. O correto é dizer que Deus conhece eternamente todas as coisas. Quando revela algo aos Seus profetas, está manifestando um conhecimento de antemão (presciência), não porque aprendeu, anteviu ou descobriu, mas porque tudo Lhe pertence desde sempre.
Onipotência, Onipresença e Imutabilidade
Deus é onipotente: criou todas as coisas do nada e sustenta o universo por Sua Palavra. Antes Dele nada existia, e sem Ele nada existiria (Romanos 11:36). Seu poder não sofre variação; criou o universo sem diminuir-Se. O mesmo poder que formou os céus e a terra permanece imutável e absoluto.
Ele é também onipresente: não confinado ao tempo ou ao espaço. Deus não está “em todo lugar” como se estivesse espalhado, mas está plenamente presente em todos os lugares e tempos, simultaneamente. Por ser o Espírito Eterno, não está sujeito às leis físicas, nem à sucessão temporal (João 4:24). O universo inteiro, com todas as suas eras, está diante Dele como um só instante.
“Os céus, sim, o céu dos céus, não Te podem conter” (1 Reis 8:27).
Não sujeito à emoção ou moral humana
É um erro projetar sobre Deus nossas emoções, sentimentos e critérios morais. Deus não é passível às mesmas experiências que afetam os homens. Deus não é afetado por flutuações de humor nem movido por impulsos. A Bíblia declara: “Eu, o Senhor, não mudo” (Malaquias 3:6). Ele é imutável em Seu ser. Seu amor, justiça e misericórdia não são reações, mas expressões constantes do Seu ser. Sua justiça não é uma aplicação de valores humanos elevados — é a própria medida de todo juízo. Seu amor não é uma emoção oscilante — é a expressão eterna do Seu cuidado, justiça e imutabilidade.
Por isso, não se fala em “caráter” de Deus como se fala de um ser humano, mas em atributos perfeitos e imutáveis. O que em nós é virtude mesclado a vícios, Ele é a perfeição eterna.
A eternidade não tem origem — Deus é sua causa
Muitos indagam: “Quem criou Deus?”. Essa pergunta revela uma mente ainda cativa ao tempo. Deus não foi criado. Ele é — desde antes de tudo o que existe, inclusive o próprio tempo. Deus não está dentro da eternidade; Ele é a origem e a causa daquilo que chamamos eternidade. Nada O limita, nada O antecede, nada O define — Ele é incomparável. Perguntar “quem criou Deus” é inverter a ordem: Deus é a Causa da própria eternidade; tudo depende Dele, e Ele de ninguém.
Em Gênesis 1:1 está escrito: “No princípio, Deus criou os céus e a terra.” Ou seja, Ele já existia antes do “princípio”. Em Apocalipse 1:8, declara: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o que é, o que era e o que há de vir, o Todo-Poderoso.”
Sobre o Verbo eterno, João testemunha: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus” (João 1:1-2). Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez.
O foco das Escrituras: o Filho
A Bíblia não é um ensaio filosófico para provar a existência de Deus; por isso, não tenta provar a existência de Deus; antes, ela revela o Deus que existe e dá testemunho de Seu Filho, Jesus Cristo (João 5:39). O Verbo eterno, que estava com Deus “no princípio” (Jo 1.1-2), tornou-Se carne para revelar quem Deus é e reconciliar o mundo Consigo mesmo.
Aplicação devocional
Se esse Deus infinito Se deu a conhecer em Cristo, convém aos Seus santos bendizê-Lo, não pelo que compreendem, mas por tudo o que Ele é. Embora ultrapasse os limites da nossa lógica e entendimento, podemos — pela fé — nos sujeitar a Ele, crendo em Cristo e irrompendo em louvor, assim como fez o salmista:
“BENDIZE, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome.” (Salmo 103:1);
“BENDIZE, ó minha alma, ao SENHOR! SENHOR Deus meu, tu és magnificentíssimo; estás vestido de glória e de majestade.” (Salmo 104:1).
Esses dois salmos revelam algo precioso: bendizer não é o mesmo que glorificar. Glorificar está intimamente ligado àquilo que Deus realiza e manifesta por meio da Sua criação (Salmo 19). Ele nos plantou novamente em Cristo Jesus, a fim de que o Seu nome fosse glorificado.
Cada vez que um cristão dá fruto — o fruto dos lábios que confessam o nome de Cristo (Hebreus 13:15) —, Deus é glorificado, pois está trazendo à existência novas criaturas, formadas em Cristo para o louvor da Sua glória.
“E todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado.” (Isaías 60:21);
“Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.” (João 15:8).
Por isso, bendiga ao Senhor — não porque Ele possa ser compreendido, mas porque Ele é digno; não porque caiba em nossas definições, mas porque nos convida, em Cristo, a participar do Seu eterno propósito.
Bendizer, por sua vez, é o reconhecimento consciente das criaturas diante da grandeza e magnificência de Deus. É a expressão de louvor de quem contempla Sua glória e, em adoração, entoa cânticos, confessa Seu nome e proclama tudo o que Ele é e tudo o que Ele faz.
“E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor,” (Efésios 3:9-11).
Deus é insondável, eterno, glorioso — e, ainda assim, Se revela. Não para que O examinemos intelectualmente, mas para que O reconheçamos no Filho e n’Ele tenhamos vida.
“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!” (Romanos 11:33).
Curvemos nosso entendimento e prostremo-nos em fé diante d’Aquele que sempre foi, sempre é e sempre será.

É sempre muito edificante estes estudos bíblicos.
Que Deus continue lhe usando em sua obra, sabendo que a recompensa vem do Senhor.