Nos dias atuais, observa-se um crescimento vertiginoso de templos e um aumento expressivo no número de seguidores de diversas crenças e superstições. Isso poderia sugerir que haverá fé na terra quando Cristo voltar. No entanto, ao compreender que a fé a que Jesus se refere não está relacionada às crenças que os homens depositam em líderes religiosos, ídolos, promessas vazias ou mensagens de autoajuda, mas sim à fé que se manifestou para trazer salvação à humanidade que estava em trevas, a pergunta de Jesus sobre a existência de fé na terra em sua volta permanece sem uma resposta objetiva. Essa reflexão nos desafia a buscar uma fé autêntica e transformadora, que nos conduza à vida abundante prometida em Cristo, e não apenas a um sistema de crenças sem profundidade espiritual.
O que Entender por Vida Abundante?
Conteúdo do artigo
“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10:10).
A Palavra de Deus
Para compreender o que consiste e como alcançar a vida abundante prometida por Cristo, é necessário analisar alguns versículos bíblicos, como este em Deuteronômio: “… de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem” (Deuteronômio 8:3). E também: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna.” (João 6:47).
O profeta Moisés deixa claro que é a palavra de Deus que concede vida ao homem. A vida mencionada no versículo não é proveniente do alimento diário, pois, sobre este, está escrito que o homem ‘comerá do suor do seu rosto’ e, ao final, retornará ao pó da terra:
“Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.” (Gênesis 3:19).
O alimento diário não livra o homem do seu destino de voltar ao pó, mas, na palavra de Deus, encontra-se a promessa de vida (Gênesis 3:19). Se é a palavra de Deus que concede vida, segue-se que o homem alienado dessa palavra encontra-se morto diante de Deus, como afirma o apóstolo Paulo:
“Estando nós ainda mortos em nossas ofensas…” (Efésios 2:5).
Enquanto peregrinava pelo deserto, o povo de Israel se fixava em questões circunstanciais e materiais relacionadas à sobrevivência física. Porém, o profeta Moisés alertou que Deus os havia contristado no deserto para que entendessem que o que sai da boca de Deus concede vida àqueles que estão alienados d’Ele (Deuteronômio 8:3).
O povo de Israel deveria buscar a palavra de Deus para suprir sua carência espiritual, mas, frequentemente, buscava a Deus apenas em função de suas necessidades diárias, como água no deserto, carne, maná, roupas, etc. No entanto, esses elementos não produzem vida:
“Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram.” (João 6:49).
O profeta Habacuque vaticinou: “… o justo viverá da fé” (Habacuque 2:4), apontando a mesma verdade proclamada por Moisés: “… de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem” (Deuteronômio 8:3). Ou seja, o homem que vive pela palavra de Deus é declarado justo diante d’Ele.
Quando unimos a citação de Habacuque com a de Deuteronômio, temos a seguinte interpretação: “O homem justo viverá de toda a palavra que sai da boca de Deus (fé)”. A ‘fé’ apresentada por Habacuque refere-se a Cristo, a fé que havia de se manifestar, ou seja, a ‘palavra da boca de Deus’:
“Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar” (Gálatas 3:23; João 1:1, 14).
As Palavras de Jesus
O próprio Jesus afirmou que suas palavras são espírito e vida: “… as palavras que eu vos disse são espírito e vida.” (João 6:63). E o evangelho é o poder de Deus que vivifica o homem: “O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (2 Coríntios 3:6). Esse espírito vivificante refere-se à palavra de Deus, à fé que havia de se manifestar: Cristo!
Cristo, o Verbo encarnado, é a ‘fé’ que justifica o homem, pois é Ele quem vivifica a quem quer, ou seja, os que creem em Cristo: “Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer.” (João 5:21). E mais: “Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste.” (João 17:8).
O espírito que vivifica é a fé que se manifestou, trazendo salvação aos homens. Enquanto Adão foi criado alma vivente, Cristo foi feito espírito vivificante (1 Coríntios 15:22, 45). A vida concedida aos que creem está intimamente conectada à ressurreição de Cristo dentre os mortos:
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.” (1 Pedro 1:3).
Desta forma, podemos compreender a seguinte exposição do apóstolo Paulo:
“E qual a sobre-excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus.” (Efésios 1:19-20).
A grandeza desse poder sobre os cristãos opera segundo a força do poder de Deus, isto é, pelo evangelho, que é o poder de Deus para a salvação (Romanos 1:17). Esse mesmo poder foi manifesto em Cristo ao ressuscitá-lo dentre os mortos.
Vida Abundante
A proposta central do evangelho de Cristo está fundamentada na ressurreição do Messias. Porque Jesus ressuscitou, a fé é firme, pois o mesmo poder que operou n’Ele agora opera na vida dos que creem.
O salmista também destaca, em várias ocasiões, a palavra de Deus como agente vivificador: “A minha alma está pegada ao pó; vivifica-me segundo a tua palavra.” (Salmos 119:25; ver também os versículos 37, 40, 88, 107, 154, 156, 159). Esses testemunhos são coerentes com a afirmação de Pedro sobre o Espírito de Cristo nos profetas: “Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir.” (1 Pedro 1:11). E ainda: “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho.” (1 João 5:11).
Para alcançar a vida abundante que Cristo prometeu, basta crer, apoiar-se, descansar, ou seja, confiar na fé revelada. O apóstolo João enfatizou: “E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna.” (1 João 2:25). Aqueles que descansam nesta esperança proposta alcançam a vida eterna:
“Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:15);
“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna.” (João 6:47);
“Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.” (João 6:68);
“Para que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna.” (Tito 3:7);
“Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta; a qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até ao interior do véu…” (Hebreus 6:18-19).
Basta ao homem dar ouvidos à palavra de Cristo para passar da morte para a vida:
“Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” (João 5:24).
A morte mencionada por Cristo refere-se à condição espiritual do homem alienado da vida em Deus devido à desobediência de Adão. Não se trata da morte física, mas da condição de separação espiritual, enquanto Deus é luz:
“Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.” (1 Coríntios 15:21-22).
A vida com Cristo refere-se à nova condição do homem unido ao Criador. Por ter sido gerado de novo, pela semente incorruptível da palavra de Deus, o homem passa a compartilhar da glória de Deus. Quem crê em Cristo passou da morte para a vida, vivendo pelo espírito, ou seja, pela fé:
“Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.” (Gálatas 5:25);
“O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” (João 3:8; ver também Habacuque 2:4).
Vida dentre os mortos! Esta é a promessa de Cristo, motivo pelo qual o cristão deve regozijar-se, pois seu nome está escrito no livro da vida: “… alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus.” (Lucas 10:20). Essa é a esperança proposta: a vida eterna. Portanto, o cristão deve alegrar-se nessa promessa (Romanos 12:12). Cristo nos ofereceu vida para que possamos compartilhar da natureza divina e da glória de Deus:
“E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um.” (João 17:22).
É porque os salvos alcançaram as riquezas da graça decorrentes da salvação em Cristo, que se manifestarão plenamente com Ele em glória quando Ele se revelar, sendo semelhantes a Ele em tudo, que o apóstolo Paulo exorta os salvos a buscarem e pensarem nas coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus.
” PORTANTO, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória.” (Colossenses 3:1-4);
“AOS presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar:” (1 Pedro 5:1).
Riquezas versos Vida Abundante
Entretanto, muitos cristãos são atraídos pelo adjetivo “abundante” referente à vida concedida por Cristo (João 10:10). Interpretam “vida abundante” como qualidade de vida econômica ou social e esquecem-se de que o reino de Deus não é comida nem bebida:
“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17).
Há aqueles que proclamam que a vida “abundante” ofertada por Cristo refere-se ao alívio dos sofrimentos causados pela pobreza, enfermidades, condições opressoras de trabalho, injustiças sociais, abusos dos direitos civis, entre outros problemas. Defendem que a promessa de vida feita por Cristo visa melhorar questões de ordem moral e chegam a afirmar que a “vida” seria para a eternidade, enquanto a “vida em abundância” seria uma promessa para o presente. Contudo, tal visão contradiz as palavras de Cristo:
“No mundo tereis aflições.” (João 16:33).
Contraria o que foi ensinado pelos apóstolos:
“Ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo.” (1 Pedro 5:9).
Em que consiste a abundância?
Jesus afirmou: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” (João 10:10). Essa promessa não se refere às condições materiais ou existenciais do homem, mas sim à vida eterna, que é, por definição, abundante. Não se trata de garantir longevidade ou bem-estar físico, pois, como escreveu o salmista: “Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e, se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta, e vamos voando” (Salmos 90:10). Além disso, o homem foi condenado a comer do suor do seu rosto, o que implica trabalho árduo e cansaço físico.
A promessa de Cristo é que os que creem serão fartos de justiça: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mateus 5:6). Essa fartura não é de bens materiais, mas de alegria, consolo, paz e justiça, como bem expressa Isaías:
“E vós com alegria tirareis águas das fontes da salvação.” (Isaías 12:3; João 4:10).
A vida abundante refere-se ao que o reino de Deus proporciona: justiça, paz e alegria no Espírito Santo. O apóstolo Paulo ensina: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” (Romanos 14:17). Em Cristo, os cristãos foram enriquecidos “… em toda a palavra e em todo o conhecimento.” (1 Coríntios 1:5) e desfrutam da plenitude da inteligência para conhecer o mistério de Deus: “Para que os seus corações sejam consolados, e estejam unidos em amor, e enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus e Pai, e de Cristo.” (Colossenses 2:2).
Além disso, Paulo enfatiza que os cristãos são abençoados com todas as bênçãos espirituais: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Efésios 1:3). O salmista também reforça essa verdade: “Temei ao SENHOR, vós, os seus santos, pois nada falta aos que o temem.” (Salmos 34:9).
Se a vida abundante tivesse como foco questões econômicas e sociais, Cristo não teria alertado seus seguidores a não se preocuparem com o dia de amanhã: “Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?” (Mateus 6:31). Ele também enfatizou que a vida de um homem não consiste na abundância de bens:
“Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.” (Lucas 12:15).
O apóstolo Paulo não teria ensinado para os cristãos se acomodarem as coisas humildes:
“Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos;” (Romanos 12:16);
“Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” (1 Timóteo 6:6-10).
Os perigos dos cuidados deste mundo
Por que Cristo prometeria riquezas terrenas, sabendo que os cuidados deste mundo tornam os homens infrutíferos, podendo até levá-los à separação de Deus? Ele alertou:
“Mas os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas, e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera.” (Marcos 4:19).
É justamente contra esses “pseudo-evangelhos” que distorcem a mensagem de Cristo que sua pergunta ecoa:
“Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura achará fé na terra?” (Lucas 18:8).
Fé e a vida prometida
Nos dias de hoje, há um crescimento vertiginoso de templos e de seguidores de diversas crenças e crendices. À primeira vista, isso poderia sugerir uma resposta positiva à pergunta de Jesus. Contudo, ao compreender que a fé mencionada por Cristo não diz respeito às crenças que os homens depositam em líderes religiosos, ídolos, promessas vazias ou autoajuda, mas à fé que foi manifesta para trazer salvação à humanidade que jazia em trevas, percebe-se que a pergunta de Jesus permanece sem uma resposta objetiva:
“Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar” (Gálatas 3:23; ver também João 1:1, 14).