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Haver uma verossimilhança entre a história de Isaque e Jesus não faz surgir uma verdade como a que se depreende de uma alegoria.


Geração de Isaque?

“Tomou Abraão a lenha do holocausto e a colocou sobre Isaque, seu filho; ele, porém, levava nas mãos o fogo e o cutelo. Assim, caminhavam ambos juntos.” (Gênesis 22.6)

Introdução

Olhando alguns artigos na internet, me deparei com um esboço de pregação em um sítio evangélico, cujo tema é: ‘Geração de Isaque’, tendo por base Gênesis 22, verso 1 a 8, que fala da provação de Abraão. Em seguida, descobri que esse esboço faz parte de um e-book vendido na internet com o título ‘80 Esboços de Pregação’, do Pr. Carlos Ribas.

Analisaremos o esboço à luz da Escrituras sob a premissa de ‘julgar os espíritos’, o que é um mandamento, sem emitir um julgamento acerca da pessoa do escritor, que desconheço, como ordena as Escrituras.

“Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.” (1 João 4.1);

“Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça.” (João 7.24).

Os cristãos são ministros do espírito, ou seja, ministros do evangelho, portanto, se devemos julgar algo, que seja a mensagem anunciada, e não a pessoa, até porque se julgarmos a pessoa, julgaremos segundo a aparência, e não segundo as Escrituras, que é a reta justiça.

Quem julga segundo a aparência corre o risco de cair nas garras dos falsos profetas, pois os falsos profetas têm aparência de ovelha e enganam facilmente um incauto. Como seguidores de Cristo, temos que analisar o fruto, que é o que sai pela boca do profeta, pois o fruto evidencia o que há no coração, e uma ‘árvore’ má não produz fruto bom.

“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus.” (Mateus 7.15-17).

 

Alegoria

Após citar Gênesis 22, verso 6, o escritor do esboço diz:

“Abraão personifica aqui ao Senhor, Pai de multidões. Isaque personifica à nós, aqueles que são entregues à morte continuamente. (Salmos 44:22 Mas, por amor de ti, somos entregues à morte continuamente, somos considerados como ovelhas para o matadouro).” Pr. Carlos Ribas, 80 Esboços de Pregação, e-book. < https://escola-ebd.com.br/geracao-de-isaque-esboco-de-pregacao/ > Consulta 13/01/21.

A mensagem foi construída através de uma espécie de ‘licença poética’[1] ao interpretar Genesis 22. Dizer que Abraão personifica Deus, e Isaque, os cristãos, é cometer duas incorreções.

Há quem entenda que o ato de Abraão depositar Isaque sobre o altar em obediência a ordem divina foi uma representação da morte de Cristo e, o seu livramento, uma representação da ressurreição.

Embora haja alguma verossimilhança[2] na narrativa histórica de Isaque e Cristo, não temos uma autorização bíblica para dizer que se trata de uma parábola ou alegoria, como são os personagens Adão e Cristo, Sara e Agar, Isaque e Ismael, etc.

Construir uma alegoria entre Deus e Abraão é temerário, pois apesar de Isaque e Cristo serem o Filho amado, e ambos terem sido gerados de modo sobrenatural, ainda assim Isaque é descendente da carne de Abraão, e Cristo, o Descendente prometido a Abraão gerado pelo Espírito Santo.

Diferentemente de Abraão, Deus deu seu Filho Unigênito por amor em resgate de muitos, enquanto Abraão, quando provado, ofereceu o seu filho em obediência a ordem de Deus.

Diferentemente de Cristo, Isaque foi conduzido ao matadouro sem saber o que estava acontecendo, Cristo, por sua vez, se entregou como servo obediente, e como cordeiro não abriu a sua boca.

Haver uma verossimilhança entre a história de Isaque e Jesus não faz surgir uma verdade como a que se depreende de uma alegoria.

 

Deus e Abraão

Se a base para a alegoria entre Deus e Abraão é ser pai de multidões, há um equívoco, pois Deus é pai somente daqueles gerados de novo, da semente incorruptível. Deus é Criador, tanto dos seres celestiais quanto dos seres terrenos, entretanto, por causa da queda, todos os homens são somente suas criaturas.

Adão, o primeiro homem foi criado do pó da terra, e Cristo, o último Adão, é o primeiro homem gerado de Deus, e todos quantos creem em Cristo são gerados por meio do evangelho, portanto, filhos de Deus.

“Com efeito, ainda que tivésseis dez mil mestres em Cristo, não tendes muitos pais; ora, fui eu que vos gerei em Cristo Jesus pelo Evangelho.” (1 Coríntios 4:15);

“Por sua vontade é que nos gerou pela palavra da verdade, a fim de que sejamos como que as primícias das suas criaturas.” (Tiago 1:18);

“pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.” (Romanos 8:14);

“porque todos sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo.” (Gálatas 3:26).

Abraão, por sua vez, é o pai da fé e foi constituído por Deus como pai de vários povos, de modo que os termos apresentados pelo Pr. Ribas não guardam qualquer paralelo que dê para subsidiar uma alegoria.

“Este é o pacto que faço contigo: serás o pai de uma multidão de povos. De agora em diante não te chamarás mais Abrão, e sim Abraão, porque farei de ti o pai de uma multidão de povos. Tornar-te-ei extremamente fecundo, farei nascer de ti nações e terás reis por descendentes.” (Gênesis 17:4-6).

 

Isaque e a Igreja

Isaque tem relação com a Igreja por ele ser filho da livre, Sara, a mulher de Abraão, contrastando com Ismael, o filho da escrava, Agar.

“A Escritura diz que Abraão teve dois filhos, um da escrava e outro da livre. O da escrava, filho da natureza; e o da livre, filho da promessa. Nestes fatos há uma alegoria, visto que aquelas mulheres representam as duas alianças: uma, a do monte Sinai, que gera para a escravidão, é Agar.” (Gálatas 4:22-24).

Agora, dizer que Isaque personifica a igreja (nós) pelo que consta no Salmo 44, verso 22, é desconhecer a interpretação do Salmo e a relação da Igreja com Isaque.

O Salmo 44 é uma oração de Coré em forma de poesia que descreve o opróbrio que se abateu sobre os filhos de Israel por terem abandoado a Deus. Do verso 1 ao 8, Coré ora a Deus lembrando das conquistas do povo de Israel quando Deus os tirou da terra do Egito e os introduziu na terra da promessa. Do verso 9 em diante, Coré narra as desventuras que se abateram sobre os filhos de Israel, como se Deus tivesse se esquecido deles.

Na verdade, Deus os havia entregue nas mãos dos povos vizinhos, como anunciado por Moisés, caso abandonassem a aliança com Deus.

“Entregastes-nos como ovelhas para o corte, e nos dispersastes entre os pagãos.” (Salmos 44:11);

“E ,assim como o Senhor se comprazia em vos fazer bem e em vos multiplicar, assim se comprazerá em vos fazer perecer e em vos exterminar. Sereis arrancados da terra em que entrardes para possuí-la. O Senhor te dispersará entre todas as nações, de uma extremidade a outra da terra, e lá renderás culto a outros deuses, deuses de pau e de pedra, que nem tu nem teus pais conheceram.” (Deuteronômio 28:63-64);

Eu os dispersarei como palha que o vento do deserto arrebata.” (Jeremias 13:24).

Foi Deus quem dispersou os filhos de Israel entre as nações, de modo que acabaram sendo nomeados pelos profetas de ‘ovelhas perdidas’.

“Era meu povo qual rebanho de ovelhas perdidas. Seus pastores as tinham perdido ao azar das montanhas; caminhavam por montanhas e colinas, esquecendo-se de seu aprisco.” (Jeremias 50:6).

Nesse sentido, Coré ora a Deus para ter misericórdia, visto que, ‘por causa de Deus’, o povo de Israel estava sendo entregue aos outros povos para serem mortos todos os dias e eram tratados como ovelhas destinadas ao matadouro.

“Se houvéramos olvidado o nome de nosso Deus e estendido as mãos a um deus estranho, porventura Deus não o teria percebido, ele que conhece os segredos do coração? Mas por vossa causa somos entregues à morte todos os dias e tratados como ovelhas de matadouro.” (Salmos 44:20-22).

O povo de Israel era culpado do mal que lhes sobreveio, mas a abordagem do salmista Coré, visando o arrependimento do povo, soa como se fosse uma acusação contra Deus pelo mal que lhes sobreveio, de modo a fazer o povo se conscientizar que estavam sendo responsabilizados.

Daí, a necessidade de questionar se o Salmo 44 se refere a Igreja de Cristo. A Igreja de Cristo está sendo entregue ao matadouro como ovelha? Cristo não tem cuidado do seu corpo?

“Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo.” (Efésios 5:23).

A oração de Coré depõe contra os filhos de Israel como um povo de dura servis que não compreendeu a finalidade do castigo de Deus, e não consideram a palavra de Deus anunciada pelos profetas para se arrependerem.

“Ai, nação pecadora, povo carregado de iniquidade, descendência de malfeitores, filhos corruptores; deixaram ao SENHOR, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás. Por que seríeis ainda castigados, se mais vos rebelaríeis? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco.” (Isaias 1:4-5);

“E todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído; porquanto não ouviste à voz do SENHOR teu Deus, para guardares os seus mandamentos, e os seus estatutos, que te tem ordenado; E serão entre ti por sinal e por maravilha, como também entre a tua descendência para sempre.  Porquanto não serviste ao SENHOR teu Deus com alegria e bondade de coração, pela abundância de tudo.  Assim servirás aos teus inimigos, que o SENHOR enviará contra ti, com fome e com sede, e com nudez, e com falta de tudo; e sobre o teu pescoço porá um jugo de ferro, até que te tenha destruído.  O SENHOR levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra, que voa como a águia, nação cuja língua não entenderás;” (Deuteronômio 28:45-49).

Embora Deus tenha estabelecido por sinal e maravilha a guerra e a deportação, quando Deus a executou, não acreditaram.

“Vede entre os gentios e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque realizarei em vossos dias uma obra que vós não crereis, quando for contada. Porque eis que suscito os caldeus, nação amarga e impetuosa, que marcha sobre a largura da terra, para apoderar-se de moradas que não são suas.” (Habacuque 1:5).

O que era sinal e maravilha por parte de Deus evidenciando que se desviaram, consideram assim com expressa o Salmo 44 que Deus era o culpado por seus infortúnios, e não suas transgressões.

“Tudo isto nos sobreveio; contudo não nos esquecemos de ti, nem nos houvemos falsamente contra a tua aliança. O nosso coração não voltou atrás, nem os nossos passos se desviaram das tuas veredas; Ainda que nos quebrantaste num lugar de dragões, e nos cobriste com a sombra da morte. Se nós esquecemos o nome do nosso Deus, e estendemos as nossas mãos para um deus estranho, Porventura não esquadrinhará Deus isso? Pois ele sabe os segredos do coração.” (Salmo 44:17-21).

Observe a contradição entre essa oração de Coré e a oração de Daniel:

“E orei ao SENHOR meu Deus, e confessei, e disse: Ah! Senhor! Deus grande e tremendo, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus mandamentos; Pecamos, e cometemos iniquidades, e procedemos impiamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos; E não demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que em teu nome falaram aos nossos reis, aos nossos príncipes, e a nossos pais, como também a todo o povo da terra. A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós a confusão de rosto, como hoje se vê; aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, e a todo o Israel, aos de perto e aos de longe, em todas as terras por onde os tens lançado, por causa das suas rebeliões que cometeram contra ti.” (Daniel 9:4-7).

O cântico de Coré representa uma oração que refletia o pensamento do povo de Israel:

“Todavia me procuram cada dia, tomam prazer em saber os meus caminhos, como um povo que pratica justiça, e não deixa o direito do seu Deus; perguntam-me pelos direitos da justiça, e têm prazer em se chegarem a Deus, Dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas, e tu não o sabes? Eis que no dia em que jejuais achais o vosso próprio contentamento, e requereis todo o vosso trabalho.” (Isaías 58:2-3).

Pois consideravam que sacrifícios afastaria o mal decorrente da desobediência:

“Que direito tem a minha amada na minha casa, visto que com muitos tem cometido grande lascívia? Crês que os sacrifícios e as carnes santificadas poderão afastar de ti o mal? Então saltarias de prazer.” (Jeremias 11:15).

Esse é o veredito:

“Plantaste-os, e eles se arraigaram; crescem, dão também fruto; chegado estás à sua boca, porém longe dos seus rins. Mas tu, ó SENHOR, me conheces, tu me vês, e provas o meu coração para contigo; arranca-os como as ovelhas para o matadouro, e dedica-os para o dia da matança.” (Jeremias 12:2-3).

 

Se Deus é por nós

Após considerarmos o conteúdo da oração de Coré, temos elementos para analisar a citação que o apóstolo fez do Salmo:

“Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 8:31-39).

Ao citar o versículo 22 do Salmo 44, o apóstolo Paulo estava dizendo que a Igreja de Cristo está sendo entregue à morte todo dia? Que os cristãos são ovelhas destinadas a matança? Não!

O apostolo estava destacando o seu cuidado para com a Igreja, tendo em vista que ‘todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus’. Assim como o povo de Israel ao ver a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, e a espada só entendia que foram abandonados, justamente nesses eventos Deus estava demonstrando a sua longanimidade e tolerância aos desvios do povo pela promessa feita aos pais, de modo que em todos os eventos que leve os membros do corpo de Cristo a pensar que está sendo entregue como ovelhas ao matadouro, deve-se ver que em todas essas coisas são mais que vencedores por Cristo.

O apóstolo Paulo cita a perspectiva do povo de Israel que não considerava o fato da misericórdia do Senhor que estabeleceu as perseguições e guerras como sinal e maravilhas em Israel.

“As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim;” (Lamentações 3:22);

“Se o SENHOR dos Exércitos não nos tivesse deixado algum remanescente, já como Sodoma seríamos, e semelhantes a Gomorra.” (Isaías 1:9);

“Porque ainda que o teu povo, ó Israel, seja como a areia do mar, só um remanescente dele se converterá; uma destruição está determinada, transbordando em justiça.” (Isaías 10:22).

 

Somos o sacrifício?

A história de Abraão e Isaque destaca o prelúdio da promessa que Deus fez lá no Éden, que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente, estabelecendo o Descendente de Abraão como aquele que traria bem-aventurança a todas as famílias da terra.

“E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gênesis 3:15).

Se Deus estava avisando por meio do cordeiro providenciado por Deus que o Seu Filho viria à terra como sacrifício pelo pecado do povo, como é possível a afirmação de que ‘nós somos o sacrifício’[3]?

Não há na Bíblia suporte para o argumento de que os cristãos, ou o homem, são o sacrifício.

Ao citar que ‘o salário do pecado é a morte’, o Pr. Ribas quis dar suporte ao seu argumento de que os cristãos são o sacrifício, e por isso mesmo seriam entregues à morte. Entretanto, o salário pago pelo pecado aos seus servos não diz de sacrifícios e nem de ser entregue à morte todos os dias. O salário do pecado diz do aguilhão que prende o homem ao pecado por força da lei que diz: ‘certamente morrerás’ (Gênesis 2:17).

“Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.” (1 Coríntios 15:56).

Quando na cruz, Jesus declarou que a obra que o Pai deu para Ele realizar estava consumada, e por isso mesmo Ele é o provedor de eterna salvação para os que creem (João 19:30).

“E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem;” (Hebreus 5:9).

A Igreja de Cristo, ou os seus membros em particular, não são Isaque contemporâneos!

“Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular.” (1 Coríntios 12:27).

Nenhum membro do corpo de Cristo é concitado a carregar lenha até o local do sacrifício, até porque quem estaria sendo posto à prova? Isaque só carregou a lenha porque Abraão estava sendo provado, nada mais.

Quando Jesus disse: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.” (Mateus 10:37-38), não se socorreu da figura de Isaque, antes teve em mente o predito pelos profetas:

O seu cadáver não permanecerá no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto o pendurado é maldito de Deus; assim não contaminarás a tua terra, que o SENHOR teu Deus te dá em herança.” (Deuteronômio 21:23; Gálatas 3:13);

“Pois me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores me cercou, traspassaram-me as mãos e os pés.” (Salmo 22:16);

“E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;” (João 3:14);

“E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. E dizia isto, significando de que morte havia de morrer. Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu que convém que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem?” (João 12:32-34).

O esboço do sermão só faz alusão a lenha levada por Isaque para enfatizar a frase: ‘Peça a Deus para não deixar a chama se apagar em você!’ Contraditório, pois em um momento do discurso o cristão é o sacrifício posto sobre a lenha, e no outro, o cristão já é a lenha posta embaixo do sacrifício, já que ‘a chama não pode se apagar’ no cristão.

A ordem dada ao povo de Israel não visava a lenha para o fogo, e sim a obediência do povo em prover a lenha necessária pra a chama não se extinguir (Levítico 6:13). Quem mantinha o fogo aceso era as pessoas, e não a lenha.

O crente jamais deve ser visto como sacrifício, antes Cristo foi o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O crente é pedra viva, sacerdócio santo, povo adquirido, geração eleita, altar, etc., mas jamais o sacrifício.

“Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. (…) Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;” (1 Pedro 2:5 e 9).

O apóstolo Paulo se comparou a libação do sacrifício, e não ao sacrifício, pois o único sacrifício é o vicário.

“E, ainda que seja oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós.” (Filipenses 2:17);

“ROGO-VOS, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” (Romanos 12.1).

O cristão oferece sacrifício vivo, diferente de ser sacrifício.

“Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome.” (Hebreus 13:15).

Por fim, restam três argumentos no esboço:

  1. O diabo nos vê também como um sacrifício;
  2. Deus amou o mundo mais do que à Seu Próprio Filho;
  3. O cordeiro de Deus é a solução para os nossos problemas.

Cristo é a solução para o que era impossível aos homens: a salvação! Como era impossível aos homens se salvarem, Deus enviou o Seu Filho como cordeiro que tira o pecado do mundo, e não como solucionador de problemas triviais que surgem durante a existência humana.

Como é possível entender que o diabo vê os cristãos como sacrifício, se ele é homicida. Homicídio não tem relação com sacrifício, e vice versa. Tal argumento não tem respaldo bíblico.

O diabo quer sacrificar os cristãos, mas ‘Deus coloca Jesus em nosso lugar’?[4] Se Jesus só morreu uma vez, de onde surgiu tal afirmação?

“De outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo.” (Hebreus 9:26).

 

Cuidado!

Seja como os Bereianos! Não sai a cata de sermões e esboços na internet ou livros, antes medite na palavra do Senhor. É grande o número de cristãos que querem ensinar, mas em vez de estudarem as Escrituras, consultam o Google.

“Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” (Atos 17:11).

O Espírito Santo só fará você lembrar oque aprendeu, e se quer fazer uma exposição sem medo do juízo (Tiago 3:1), que traga bagagem que permita o Espírito Santo atuar.

“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” (João 14:26).

 

[1] Licença poética é uma incorreção de linguagem permitida na arte, tornando aceitáveis opiniões, afirmações, teorias e situações que não seriam aceitáveis fora do campo da literatura.

[2] “Chama-se verossimilhança ou verosimilhança, em linguagem coerente ao atributo daquilo que parece intuitivamente verdadeiro, isto é, o que é atribuído a uma realidade portadora de uma aparência ou de uma probabilidade de verdade, na relação ambígua que se estabelece entre imagem e ideia” Wikipédia.

[3] “Deus estava avisando por meio disso que Jesus viria à terra como sacrifício vicário pelos pecados do povo. Nós somos o sacrifício. O salário do pecado é a morte. Todos os dias somos entregues à morte por causa disso, mas o Senhor proveu o Cordeiro que morreu de uma vez por todas no madeiro por nós.” Pr. Carlos Ribas, 80 Esboços de Pregação, e-book. < https://escola-ebd.com.br/geracao-de-isaque-esboco-de-pregacao/ > Consulta 13/01/21.

[4] “Mas, GLÓRIAS AO SENHOR, que!! Deus coloca Jesus em nosso lugar. Deus não deixa que uma gota do nosso sangue se perca… Ele já fez com que TODO O SANGUE de Seu Filho fosse jorrado.” Idem.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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