No novo nascimento Deus não ‘transforma’ o coração do pecador, na verdade, Ele cria (bara) um novo homem, em verdadeira justiça e santidade.
Necessário vos é nascer de novo
Conteúdo do artigo
“Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade, te digo, que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” (João 3.3).
Introdução
Você faria um sermão sobre um tema que estivesse acima da sua capacidade? Teria coragem de fazer uma exposição, acerca de um tema misterioso? Espero que sua resposta seja não.
Entretanto, ao ler os primeiros parágrafos de um sermão do pregador Charles H. Spurgeon, me deparei com a seguinte confissão:
– “Não vou tentar explicar o mistério do novo nascimento – isso vai além da minha capacidade.” Charles Haddon Spurgeon, A Necessidade da Regeneração, Sermão nº 3121, pregado na noite de Domingo, de 29 de novembro de 1874, no Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres, republicado em 3 de Dezembro de 1908.
Apesar de considerar o novo nascimento um mistério e de não estar capacitado para explicar o tema, o pregador Spurgeon, há 146 anos, se lançou nessa aventura.
Por que aventura? Porque, já na parte introdutória, não soube discernir que a fala de Jesus com Nicodemos, príncipe dos judeus, era um intertexto[1] extraído do Livro de Eclesiastes.
“O vento assopra onde quer e ouves a sua voz, mas, não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim, é todo aquele que é nascido do Espírito.” (João 3.8);
“Assim, como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim, também, não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas.” (Eclesiastes 11.5).
Como falava a um mestre, Jesus demonstra que, assim, como é impossível aos homens saberem quais os caminhos dos ventos, também, seria impossível saberem quem é nascido de Deus, pois, nascer de novo é uma obra de Deus, que faz todas as coisas.
Como bom judeu, para Nicodemos, qualquer celeuma acerca de alguém, nascido de Deus, se resolvia através da genealogia. – “É nascido de hebreu?”; – “Pertence a qual tribo?”; – “É um prosélito? Já foi circuncidado? ”.
Mas, ao fazer referência à palavra dita pelo Senhor Jesus Cristo, acerca do vento, o pregador batista britânico Spurgeon, por não saber do que se tratava, passou a divagar sobre os mistérios da natureza, do que ele infere que não seria estranho haver mistérios no Reino de Deus.
A confissão de que estava, além, da sua capacidade explicar o novo nascimento, veio da seguinte conclusão, acerca da relação ‘vento’ e ‘mistério’:
“Assim é com os mistérios do Reino de Deus, embora não possamos entendê-los, o uso prático dos mesmos, é uma questão de tal simplicidade, que devemos sair bem ao aprendermos o que são eles.” Idem. (Grifo nosso).
A velha natureza
Pontuaremos a fala de Spurgeon, principalmente, nos pontos grifados, para que você, leitor, possa analisar o que foi dito, à luz das Escrituras. Observe esse trecho do sermão:
“Mas o que é nascer de novo? Eu já disse que eu não posso explicar como o Espírito de Deus opera sobre os não-regenerados, tornando-os em novas criaturas, em Cristo Jesus. Eu sei que Ele, geralmente, opera por meio da Palavra – através da proclamação da Verdade do Evangelho. Podemos afirmar que Ele trabalha na mente humana, de acordo com as leis da mente, primeiramente, iluminando o entendimento. Ele, então, controla o juízo, influencia a vontade e muda os afetos. Mas, acima de tudo, podemos descrever que há um poder maravilhoso que Ele exerce e que deve permanecer entre os mistérios insondáveis, mesmo que nunca possamos compreender. Esse mesmo poder produz um efeito maravilhoso que transforma o homem em um novo homem, como se ele tivesse voltado à sua insignificância nata e nascido de novo em uma esfera superior! Uma nova natureza é criada dentro dele, embora a velha natureza não seja totalmente erradicada. Ela acabará sendo destruída, mas, ela não é destruída, inicialmente. Então, uma nova natureza nasce dentro deste novo homem, uma natureza que odeia o que a velha natureza amava e ama o que a velha natureza odiava – uma nova natureza semelhante (consanguínea) à Natureza de Deus! Veja essa maravilhosa frase encontrada na segunda epístola de Pedro: ―para que por elas vocês se tornassem participantes da natureza divina (II Pedro 1:4). Em sua primeira epístola, Pedro escreve: ―vocês foram regenerados, não de uma semente perecível, mas imperecível, por meio da palavra de Deus, viva e permanente. (I Pedro 1:23). Essa semente viva é plantada dentro de nossos corações, então ela começa a crescer, ―primeiro o talo, depois a espiga e, então, o grão cheio na espiga‖ (Marcos 4:28). O novo nascimento é a implantação dessa semente da vida, dentro da alma – é a criação de uma vida nova, Divina e imortal, dentro de nós. Nós devemos ter essa vida ou, então, não poderemos ver ou, entrar, no Reino de Deus.” Idem. (Grifo nosso).
Embora, não soubesse explicar como Deus torna o homem não-regenerado uma nova criatura, Spurgeon diz que, geralmente, Deus opera por meio da palavra. Ora, a Bíblia é clara ao demonstrar que Deus opera única e, exclusivamente, por meio da sua palavra.
No quesito regeneração, disse o apóstolo Pedro:
“Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas, da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre. (…) Mas, a palavra do SENHOR permanece para sempre. E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada.” (1 Pedro 1.23 e 25).
A palavra que foi anunciada aos cristãos é a semente incorruptível e é por ela que os cristãos foram e são de novo gerados.
Realmente, a verdade do evangelho trabalha na mente humana, porém, não da forma como é descrito pelo eminente pregador Spurgeon.
A verdade do evangelho expressa a fidelidade e o poder de Deus, de modo que a palavra de Deus é digna de total aceitação. Ao ouvir a mensagem, a fidelidade de Deus nos constrange a considerarmos o seu poder e que Ele é fiel para cumprir o que prometeu, de modo que a fidelidade e o poder de Deus é o que faz com que aquele que ouve o evangelho atente para a salvação proposta.
“Esta é uma palavra fiel e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.” (1 Timóteo 1.15).
“Esta palavra é fiel e digna de toda a aceitação;” (1 Timóteo 4.9).
A virtuosidade da palavra está na fidelidade e no poder de Deus, portanto, não há mérito no homem quando crê, pois, as garantias que dão suporte à palavra é mais que suficiente para que o homem creia.
Crer, decorre da fidelidade de Deus e do poder de Deus, como vemos em Sara e Abraão:
“Pela fé, também, a mesma Sara recebeu a virtude de conceber e deu à luz, já fora da idade, porquanto teve por fiel Aquele que lhe tinha prometido.” (Hebreus 11.11);
“Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas, ofereceu o seu unigênito. Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até, dentre os mortos, o ressuscitar;” (Hebreus 11.17-18).
Crer é atentar para a palavra de Deus ou, seja, não olhar para as impossibilidades, como Sara e Abraão, que já estavam com o corpo amortecido, antes, repousar na fidelidade e no poder de Deus.
“E não enfraquecendo na fé, não atentou para o seu próprio corpo, já amortecido, pois era já de quase cem anos, nem, tampouco, para o amortecimento do ventre de Sara.” (Romanos 4.19).
Observe que Deus deu ordens a Abraão e ele se firmou na promessa decorrente da ordem, não em suas impossibilidades. Abraão não duvidou da promessa, antes, se fortificou na palavra (fé) dita por Deus, de modo que estava convicto de que Deus era poderoso para executar o prometido.
“E não duvidou da promessa de Deus, por incredulidade, mas, foi fortificado na fé, dando glória a Deus, e estando certíssimo de que o que Ele tinha prometido, também, era poderoso para o fazer.” (Romanos 4.2-19).
Em momento algum Deus influenciou a mente ou controlou o juízo, a vontade e os afetos de Abraão. O que levou Abraão à sua convicção, foi a fidelidade e o poder de Deus, não a chamada graça irresistível, como dizem os seguidores da doutrina reformada. Ao se fortificar na fé, que é a palavra de Deus, Abraão deu glória a Deus ou, seja, em estar certíssimo de que Deus era poderoso para executar o prometido; portanto, não havia mérito em Abraão, mas, sim em Deus.
Apesar de considerar o novo nascimento um mistério, Spurgeon alega poder afirmar que Deus opera na mente do indivíduo, em um primeiro momento ‘iluminando o entendimento’ e, posteriormente, passa a controlar o juízo, influenciar a vontade e muda os afetos do indivíduo. Não contente, em afirmar uma espécie de possessão divina, volta a afirmar que, o que acabara de explicar, diz de ‘um poder maravilhoso que Ele exerce e que deve permanecer entre os mistérios insondáveis, mesmo que nunca possamos compreender’.
Deus, apesar de magnífico em poder, jamais suplantaria o juízo, a vontade e o afeto do homem. Na verdade, Deus apela ao entendimento do homem, quando enviou os seus profetas e apóstolos. A igreja de Cristo é composta de embaixadores que, da parte de Cristo, conclama aos homens que se reconciliem com Deus.
“De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus.” (2 Coríntios 5.20).
O apelo divino para que os homens se reconciliem, em outras passagens bíblicas, é reproduzido através de uma ordem:
“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, poucos há que a encontrem.” (Mateus 7.13-14).
Outras vezes, o apelo vem em forma de convite:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mateus 11.28).
Desde a Antiga Aliança, Deus sempre apelou ao intelecto do homem, jamais tolhendo o juízo, a vontade ou, os afetos, pois, o que vincula o homem ao pecado é a lei que disse a Adão ‘certamente morrerás’, não o entendimento, o juízo, a vontade ou, os afetos do homem.
“Inclinai os vossos ouvidos e vinde a mim; ouvi e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as firmes beneficências de Davi.” (Isaías 55.3).
A força do pecado não está no entendimento, no juízo, na vontade ou, nos afetos do homem, mas na lei. O Novo Nascimento, na verdade, se refere a uma nova criação, visto que o velho homem, que teve origem em Adão, é crucificado, morto e sepultado. Como o velho homem estava preso ao pecado, por causa da lei, que disse ‘certamente morrerás’, o velho homem foi morto com Cristo, para estar justificado do pecado e, ao ser de novo criado, o novo homem é justificado por Deus.
“Ora, o aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a lei.” (1 Coríntios 15.56).
Equivocadamente, Spurgeon e os reformadores colocaram a regeneração à frente da morte com Cristo, dando a entender que ser declarado justo (justificação) por Deus antecede o evento de ser justificado (livre) do pecado, na morte com Cristo. Os reformadores, em todas as suas literaturas, não abordam a necessidade de o homem se desvincular do pecado, antes de ser regenerado, como se o evento de estar justificado (livre) do pecado fosse o mesmo que ser justificado (declarado justo).
“Porque aquele que está morto, está justificado do pecado.” (Romanos 6.7);
“O qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação.” (Romanos 4.25).
Os dois versos acima, tratam de eventos diferentes, sendo que Romanos 4, verso 25 evidencia Deus como justificador e Romanos 6, verso 7, evidencia Deus como justo, de modo que não há conflito nos atributos da divindade.
“Para demonstração da sua justiça, neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Romanos 3.26).
A confusão de Spurgeon é homérica, pois, ele apresenta três possibilidades, acerca do efeito do poder de Deus, decorrente da regeneração:
- Esse mesmo poder produz um efeito maravilhoso que transforma o homem em um novo homem…;
- como se ele tivesse voltado à sua insignificância nata e nascido de novo em uma esfera superior! ;
- Uma nova natureza é criada dentro dele, embora a velha natureza não seja totalmente erradicada. Ela acabará sendo destruída, mas, ela não é destruída, inicialmente.
Na regeneração, Deus transforma o homem em um novo homem, que nasce de novo, em uma esfera espiritual ou, uma nova natureza é criada, dentro do homem, que, ainda, permanece com a velha natureza, ou, são todas as premissas anteriores?
Na regeneração, Deus não ‘transforma’ o coração do pecador, antes, Deus cria (bara) um novo homem, em verdadeira justiça e santidade. Diz de uma nova criação, e não de um reformular, de uma transformação ou, de uma evolução. Deus faz uso da mesma massa que o velho homem foi criado, para fazer um novo homem em uma nova condição: vaso para honra.
“Ou, não tem o oleiro poder sobre o barro, para, da mesma massa, fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou, com muita paciência, os vasos da ira, preparados para a perdição; Para que, também, desse a conhecer as riquezas da sua glória, nos vasos de misericórdia que, para glória, já dantes preparou,” (Romanos 9.21-23).
O homem não retorna a uma insignificância, antes, morre com Cristo, para ser criado de novo, participante da natureza divina, que, por isso, é chamado de um dos filhos de Deus. Nascido de novo e em uma nova condição, pois, tudo se faz novo! Anda em novidade de vida.
Ser regenerado, é ser criado, novamente, portanto, não dá para aquiescer, de uma ideia derivada do pensamento platônico[2], de que o homem comporte mais de uma natureza, uma nova, infundida dentro de um homem com uma velha natureza. A natureza refere-se à essência do homem e está, intrinsecamente, ligado ao que o homem é, de modo que é impossível duas naturezas conviverem no homem, assim, como é impossível a uma árvore produzir dois tipos de frutos diferentes.
Por desconhecer o que é o novo nascimento, Spurgeon não havia definido o novo nascimento, após citar o apóstolo Pedro.
“Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas, da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre.” (1 Pedro 1.23).
Spurgeon se esqueceu de que a palavra de Deus é essa semente viva, plantada no coração do homem, e define o novo nascimento, como a implantação da palavra de Deus dentro da alma.
Se o novo nascimento é a implantação da palavra de Deus na alma, o nascimento no pecado, por semelhança, tem de ser a implantação de uma semente corruptível, que ‘cria’ uma morte, mas, sabemos que não é assim.
O apóstolo Pedro comparou a palavra de Deus a uma semente, pelo poder latente a semente abriga. Na queda da humanidade, não foi Deus e nem Satanás que ‘plantou’ uma semente corruptível no coração ou, na alma do homem, de modo que produziu morte. Na verdade, o pecado tomando ocasião pelo mandamento dado no Éden, operou toda concupiscência e, ao enganar o homem, o matou. Assim, como no evangelho, há poder, no mandamento dado no Éden, também, havia poder e o pecado se evidenciou, excessivamente maligno, pois, pelo mandamento que era para vida, operou a morte no homem, pelo bem.
Isso significa dizer que o pecado nunca teve poder sobre o homem, mas, em função do mandamento bom, que trazia consigo a liberdade, o conhecimento e a proteção do homem, o pecado fez uso do poder latente na palavra de Deus e matou o homem.
“E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás, livremente, mas, da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gênesis 2.16-17).
Ora, não é dito que a morte foi introduzida no homem ou, que uma natureza ‘velha’ foi criada no homem, antes, é dito que o homem, na sua plenitude, passou à condição de alienado da glória de Deus, passou, efetivamente, à condição de morto.
“Logo, o bom se tornou em morte? De modo nenhum; mas, o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em mim a morte pelo bem; a fim de que, pelo mandamento, o pecado se fizesse excessivamente maligno.” (Romanos 7.13).
Como Adão lançou mão do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal? Foi porque alguém implantou uma semente corruptível na alma dele? Não! Foi porque o homem conheceu o pecado pelo
mandamento, que dizia para não comer do fruto da árvore, do conhecimento do bem e do mal, de sorte que, foi gerada no homem a concupiscência e a concupiscência deu à luz o pecado.
“Mas, cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado e o pecado, sendo consumado, gera a morte.” (Tiago 1.14-15).
Através da concupiscência dos olhos e da soberba da vida, Adão e Eva foram engodados e a concupiscência levou ao pecado e o pecado à morte.
Como o mundo já está condenado, Jesus veio anunciando o mandamento de Deus, que é para vida, pois, no mandamento que há em Cristo, só há promessa de vida, sem qualquer previsão de punição. No mandamento de Deus, a semente incorruptível tem liberdade, conhecimento e cuidado, com promessa de vida plena.
Basta ao homem lançar mão dessa semente incorruptível, que o poder latente nela contido executará o que é aprazível a Deus: a criação de um novo homem, e não, como diz a doutrina reformada, que o novo nascimento é a implantação da semente incorruptível em quem está morto para Deus.
Na verdade, o novo nascimento ocorre quando o homem recebe a Cristo como Senhor, a semente incorruptível, e como para germinar a semente tem de morrer, o velho homem que recebeu a Cristo morre e é sepultado, à semelhança de Cristo, para que possa ressurgir uma nova criatura.
“Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também, o seremos na da sua ressurreição; Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado.” (Romanos 6.5-6).
O homem só é regenerado (criado de novo, gerado de novo, novo nascimento, nova vida) depois que o corpo do pecado é desfeito, pois, enquanto o corpo estiver vivo para o pecado, o homem continua sob o domínio do pecado.
A semente incorruptível, que é a palavra de Deus, é anunciada ao homem, enquanto sob domínio do pecado, antes da regeneração. Embora estivesse falando da ressurreição dos mortos, o apóstolo Paulo apresentou um princípio que se aplica aqui:
“Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer.” (1 Coríntios 15.36).
Quando se semeia a palavra de Deus ao homem no pecado, se o pecador crer em Cristo, em seguida morre com Cristo, pois o homem se torna participante da carne e do sangue de Cristo. Só será regenerado, se primeiro morrer, pois, é na morte que o homem está justificado do pecado.
Conhecimento das Escrituras
O posicionamento de Spurgeon mina a confiança do leitor das Escrituras, principalmente, de quem se dispõe a estudá-la.
“Além disso, Nicodemos era um homem sábio, conhecia as Escrituras. Para ser um rabino era necessária uma educação completa nas Escrituras do Antigo Testamento e, sem dúvida, Nicodemos era igual ao resto do Sinédrio, à qual ele pertencia. Mas, o estudo das Escrituras, por mais admirável que seja, não salvará a alma humana, sem o novo nascimento. Não se trata, meramente, da leitura a respeito de Cristo, mas, ter Cristo formado em nós, a esperança da Glória, que realmente irá nos salvar. Foi o Espírito de Deus que escreveu as Palavras deste livro abençoado e é este mesmo Espírito que deve escrever essas Verdades em nosso coração ou, então, essas mesmas Verdades, o que diz respeito à salvação, não terá nenhum valor para nós. (…) Lembre-se, também, daquilo que o próprio Evangelho exige dos homens. Os homens podem ouvir o Evangelho, pois, eles têm ouvidos, mas eles não podem compreendê-lo, até que o Espírito de Deus abra suas mentes e corações para recebê-lo. Até o dia em que acontecer isso aos homens, assim, como foi nos dias de Cristo, que, embora eles terem ouvidos, não ouvem e, embora nós falamos, eles não percebem, pois como pode o homem carnal entender as coisas espirituais? O coração não-regenerado não consegue compreender o Evangelho, assim, como um cavalo não pode compreender a astronomia – isso é totalmente além da compreensão do homem carnal! (…) Mesmo que você se dedique, diligentemente, no estudo das Escrituras, ainda, assim, você precisa nascer de novo. Você já percebeu a importância que Cristo colocou na questão de examinar as Escrituras? Leia corretamente, o texto diz: ―’Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna e são elas que de mim testificam; E não quereis vir a mim, para terdes a vida’ (João 5:39,40). Muitos leitores da Bíblia se contentam com suas leituras bíblicas, mas, eles nunca vão a Cristo! Assim, examinar a Bíblia apenas não é suficiente para a salvação, ―Você precisa nascer de novo” . Idem. Grifo nosso.
Spurgeon afirmou que Nicodemos era muito sábio e que conhecia as Escrituras, pois, para ser um rabino, era indispensável ser versado na Torá e nos profetas. Dependendo da perspectiva, pode-se dizer que Nicodemos era ‘sábio’ e, ao mesmo tempo, não era, pois, o próprio Senhor Jesus contestou o conhecimento e a sabedoria de Nicodemos, ao dizer:
“Jesus respondeu e disse-lhe: Tu és mestre de Israel e não sabes isto?” (João 3.10).
Embora, os seguidores do judaísmo ‘estudassem’ as Escrituras, não tinham o conhecimento de Deus, pois, liam as Escrituras, mas, obedeciam aos mandamentos de homens.
“Porque o Senhor disse: Pois, que este povo se aproxima de mim, com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas, o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;” (Isaías 29.13).
Nicodemos e o Sinédrio, apesar de lerem as Escrituras, preferiam seguir os seus próprios pensamentos.
“Estendi as minhas mãos o dia todo a um povo rebelde, que anda por caminho, que não é bom, após os seus pensamentos;” (Isaías 65.2).
Ora, Nicodemos era sábio aos seus próprios olhos, de modo que os seguidores do judaísmo se diziam sábios, mas, na verdade, eram loucos.
“Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.” (Romanos 1.22).
Já, na Torá, Deus protestava contra os filhos de Israel como loucos e faltos de entendimento.
“Recompensais, assim, ao SENHOR, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai, que te adquiriu, te fez e te estabeleceu? (…) Porque são gente falta de conselhos, neles não há entendimento. “ (Deuteronômio 32.6 e 28).
Por causa da falta de conhecimento, o povo de Israel foi destruído.
“O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também, eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também, eu me esquecerei de teus filhos.” (Oseias 4.6).
Se os filhos de Israel tivessem o conhecimento, não seria necessário um novo profeta, uma predição acerca de Cristo.
“Eis que lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.” (Deuteronômio 18.18).
Isso significa que os seguidores do judaísmo estudavam as Escrituras, mas, não tinham o conhecimento de Deus, e, por isso, Deus protestava contra eles, dizendo:
“Deus olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e, juntamente, se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não, nem sequer um. Acaso, não têm conhecimento os que praticam a iniquidade, os quais comem o meu povo, como se comessem pão? Eles não invocaram a Deus.” (Salmo 53.2-4).
Um seguidor do judaísmo, ao ler o Salmo 53, considerava os gentios loucos e faltos de entendimento, porém, o salmista profetizava acerca dos filhos de Jacó e não dos gentios.
Os hebreus achavam que eram os gentios que se desviaram, porém, o texto é inclusivo, demonstrando que, inclusive, os judeus se desviaram. Todos, portanto, se desviaram, judeus e gentios.
Verdade é que sem Cristo, analisar as Escrituras não salva. O objetivo das Escrituras é evidenciar Cristo e o objetivo de Cristo era evidenciar o Pai. Ler a Bíblia somente como regra de conduta e moral não salva o homem, mas, se o homem, por meio das Escrituras, entender que é pecador e que precisa de Cristo para ser salvo, se crer, será salvo.
O que é necessário para o homem crer? Uma graça irresistível? Não! É necessário somente que se anuncie a palavra da fé, pois, é por essa palavra, o ouvir e o ouvir pela palavra de Deus.
“Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, (…) Mas, nem todos têm obedecido ao evangelho; pois, Isaías diz: SENHOR, quem creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Deus.” (Romanos 10.8 e 16-17).
Basta a palavra da fé para o homem obedecer, pois, se obedece quando há a pregação da palavra da fé. Abraão obedeceu, quando ouviu a palavra de Deus, pois, sem a palavra de Deus, não haveria como obedecer, consequentemente, não haveria promessa. Mas, nem todos tem crido em Cristo, o que evidencia que crer está atrelado a uma pregação, que está atrelada a uma mensagem, que, por sua vez, demanda um pregador.
Mas, um calvinista dirá:
“Os homens podem ouvir o Evangelho, pois, eles têm ouvidos, mas, eles não podem compreendê-lo, até que o Espírito de Deus abra suas mentes e corações para recebê-lo. Até o dia em que acontecer isso aos homens, assim, como foi nos dias de Cristo que, embora eles terem ouvidos, não ouvem e embora nós falamos, eles não percebem, pois como…” Idem.
Outra má leitura da Escrituras e tendenciosa. Eles pegam a citação que Jesus fez do profeta Isaías, que diz: “Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, faze-lhe pesados os ouvidos e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os seus olhos e não ouça com os seus ouvidos, nem entenda com o seu coração, nem se converta e seja sarado. Então disse eu: Até quando Senhor? E respondeu: Até que sejam desoladas as cidades e fiquem sem habitantes, as casas sem moradores e a terra seja de todo assolada.” (Isaías 6.9-11), para dizer que é impossível ao pecador ouvir a mensagem do evangelho e crer sem a tal regeneração, que seria o envio de uma graça irresistível.
Ora, a passagem de Isaías não trata do pecador que ouve a mensagem do evangelho, mas, do povo de Israel, que seria ‘endurecido’ até o término do tempo dos gentios.
“Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado.” (Romanos 11.25).
O endurecimento veio sobre o povo de Israel, pois, eles ouviram a palavra de Deus de malgrado, não sobre os gentios. Quando Jesus citou Isaías aos discípulos, evidenciou que fala por parábolas ao povo de Israel, para se cumprir o predito por Isaías e não que os gentios não podiam compreender a verdade do evangelho, quando anunciada.
“Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem e, ouvindo, não ouvem, nem compreendem.” (Mateus 13.13);
“E, quando se achou só, os que estavam junto dele com os doze, interrogaram-no, acerca da parábola. E ele disse-lhes: A vós vos é dado saber os mistérios do reino de Deus, mas, aos que estão de fora todas estas coisas se dizem por parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não se convertam e lhes sejam perdoados os pecados.” (Marcos 4.10-10-12).
Se os homens não podem entender o evangelho, como dizem os calvinistas, não haveria necessidade de Jesus falar aos judeus por parábolas. É um contrassenso utilizar parábolas para que não se compreenda uma mensagem, se o ouvinte da mensagem nem mesmo poderia entender se a mensagem fosse anunciada, abertamente.
Enquanto Jesus falava de um povo que não quis ouvir a voz de Deus, os calvinistas aplicam o texto aos gentios.
“Porque o coração deste povo está endurecido, ouviram de mau grado com seus ouvidos e fecharam seus olhos; Para que não vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, compreendam com o coração e se convertam e eu os cure.” (Mateus 13.15);
“Estendi as minhas mãos o dia todo a um povo rebelde, que anda por caminho que não é bom, após os seus pensamentos;” (Isaías 65.2).
O povo de Israel não podia ‘compreender’ a palavra de Deus? Podia, porém, preferia seguir, após os seus próprios pensamentos.
“Mas, para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.” (Romanos 10.21).
Embora os filhos de Israel ouvissem de mau grado, Deus anunciou que foi achado por aqueles que não O procuraram, ou seja, os gentios:
“Mas, digo: porventura Israel não o soube? Primeiramente, diz Moisés: Eu vos porei em ciúmes com aqueles que não são povo, com gente insensata vos provocarei à ira. E Isaías, ousadamente, diz: Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que por mim não perguntavam.” (Romanos 10.19-20).
Spurgeon e muitos calvinistas fazem uso de uma passagem bíblica que enfatiza a rejeição de Israel a Cristo, para enfatizar que é impossível ao homem crer sem ser ‘regenerado’, aos moldes da doutrina reformada.
Muitas vezes, os Católicos erram a interpretação de um texto por má leitura, mas, os seguidores da doutrina calvinista, às vezes e dolosamente, interpretam algumas passagens, para enfatizar o erro que estabeleceram.
Quando disse: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, são elas que de mim testificam e não quereis vir a mim, para terdes a vida” (João 5.39-40), Jesus destacou o costume dos seguidores do judaísmo, em ler as Escrituras, bem como a essência das Escrituras: testificar do Cristo. E, parafraseando, Jesus conclui: – “Vocês não querem vir a mim para obter vida, mesmo as Escrituras testificando de mim”.
Mesmo as Escrituras testificando de Cristo, os ouvintes de Jesus não se rendiam, porque temiam os líderes judeus, tinham medo de serem expulsos das sinagogas, preferiam glória de homens ou, tinham inveja de Jesus.
Porém, a despeito do comportamento dos Judeus em rejeitar o Verbo da vida, o texto bíblico jamais tem a conotação de que os ouvintes de Jesus não podiam (impossibilidade) se achegar a Cristo.
“Veio para o que era seu, mas, os seus não o receberam. Porém, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome;” (João 1.11-12).
A Bíblia não aponta uma impossibilidade no homem, de se achegar ao seu Mediador, pois, a impossibilidade estava em se achegar a Deus. Ao providenciar um mediador, Deus estabeleceu um acesso para o homem, para se achegar a Ele, de modo, que não há qualquer barreira entre o homem e Cristo, o sumo sacerdote e advogado da humanidade.
Embora, os concidadãos de Jesus não o aceitarem, a todos que o receberam, Deus lhes concedeu o poder de serem feitos filhos de Deus.
Arrependimento e fé
A má leitura de Spurgeon, além de recair sobre o novo nascimento, também, afeta a doutrina do ‘arrependimento’ e da ‘fé’:
“A Graça perceptível no coração do Evangelho está totalmente acima do alcance do homem. O Evangelho diz: ―Arrependei-vos. O homem não regenerado ama seus pecados e não vai se arrepender deles. Ele só carrega em seu peito e, até que sua natureza seja alterada, ele nunca vai olhar para eles com horror e tristeza. O Evangelho diz: ―Acredite, jogue fora toda confiança em seus próprios méritos e creiam em Jesus. Mas, a mente carnal é orgulhosa e ela diz: ―Por que eu deveria crer e ser salvo pelas obras de outra pessoa? Eu quero fazer alguma coisa por mim mesmo, para que eu possa ter algum crédito por isso, seja por boa intenção ou, por boas orações ou, por boas obras de algum tipo. Arrependimento e fé são desagradáveis para os não regenerados – eles preferem repetir mil orações formais do que uma lágrima solitária de verdadeiro arrependimento!” Idem. Grifo nosso.
A Bíblia afirma, categoricamente, a impossibilidade dos homens se salvarem, porém, é um equivoco afirmar que a graça de Deus não está ao alcance dos homens. Por que a graça está ao alcance dos homens?
“Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens,” (Tito 2.11).
Se, pela graça de Deus é impossível ao homem se salvar, porém, a graça evidenciada no evangelho está ao alcance do homem, pois, o próprio Deus manifestou a graça em Cristo e trouxe salvação a todos os homens. Cristo é a graça de Deus manifesta e Ele trouxe salvação sobre todos, sem qualquer exceção ou, distinção (todos os homens).
O primeiro erro de Spurgeon, com relação ao arrependimento, é considerar que João Batista e os apóstolos pregavam arrependimento de pecado, sendo que o arrependimento era em função da chegada do reino dos céus.
“E dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.” (Mateus 3.2);
“Desde então começou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.” (Mateus 4.17).
O motivo do arrependimento é a chegada do reino dos céus, Jesus Cristo, e não os erros de condutas ou, de ‘pecados’. A pregação de João Batista não era deixar certos comportamentos, antes, o arrependimento era mudança de concepção, acerca de como se salvar. A narrativa dos seguidores do judaísmo deveria ser transformada, de modo que parasse de dizer ‘temos por pai Abraão’, para passarem a confessar a Cristo, o Senhor.
Os pecados que Spurgeon afirma que o tal homem não regenerado ama, se refere às condutas errôneas, do ponto de vista do comportamento e da moral humana. O pensamento de que as pessoas não olham para os seus erros com horror e tristeza é equivocada, pois, muitos são consumidos pela culpa, mas, esse não é o arrependimento bíblico.
De nada adianta o homem odiar a sua natureza ou, o seu comportamento desregrado, pois, o pecado é um senhor mau, que não dá foro aos seus escravos. É por isso que é impossível ao homem se salvar, por si mesmo, pois, não há nada que o homem faça que o livre do pecado, como senhor.
O homem não será livre do pecado porque odeia o pecado, pois, a morte é a única coisa que livra o homem do senhor, chamado pecado. Assim, como a mulher só está livre da lei do marido, quando esse morre, o pecador só é livre do pecado, quando morre (Romanos 7.2).
É nesse sentido que, só quando morto, o homem está justificado (livre) do pecado (Romanos 6.7). As afirmações de Spurgeon são frívolas e não refletem a verdade das Escrituras, pois, ele não compreendeu o que é arrependimento (metanoia) e nem o que é pecado.
O segundo erro nesse parágrafo diz da fé, pois, ele reputa fé como crer, sendo que a fé que justifica, diz do evangelho, que é o poder de Deus para a salvação. A salvação está em Cristo e não em crer. Crer é obedecer, se sujeitar à ordem divina para salvação: quem crer será salvo, porém, o que salva é o evangelho, que é poder de Deus.
“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus, pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.” (1 Coríntios 1.21).
Deus salva por intermédio da ‘loucura da pregação’, não porque o homem crê. Na verdade, Deus propôs salvar os crentes na mensagem do evangelho, que é a justiça e a fidelidade de Deus expressa como boas novas.
O verdadeiro arrependimento produz confissão, segundo a verdade do evangelho, e não lágrimas ou, tristeza.
Evidências da regeneração
“Alguém pergunta: ―Como vou saber se sou nascido de novo? Bem, uma das primeiras evidências de regeneração é a fé em Jesus Cristo, onde quer que haja uma sincera confiança em Jesus Cristo, o novo nascimento deve ter sido experimentado. Esta crença foi descrita por Cristo como ―a obra de Deus. Quando ele foi questionado: ―Que faremos para executarmos a obras de Deus? (João 6:28), Ele respondeu: ―A obra de Deus é está: que creias naquele que ele enviou (João 6:29). Para Nicodemos, Jesus disse: ―Quem crê nEle não será condenado. (João 3:18). Para os judeus que procuravam matá-lo, Ele disse: ―Em verdade, em verdade, vos digo que, quem ouve a minha palavra e crê nAquele que me enviou, tem a vida eterna. (João 5:24). Então essa fé é a evidência da posse da nova vida, que durará para sempre – essa vida que é transmitida na regeneração. (…) Outra evidência do novo nascimento é o arrependimento. Tristeza pelo pecado é um dos claros sinais da nova natureza. O recém-nascido cristão odeia os pecados que ele antes amava e continua a odiá-los. E, quanto mais ele vive, mais ele lamenta por aqueles que ele cometeu. Seu ódio ao pecado cresce com seu crescimento na graça divina e o pecado é tão odioso para um homem, quando ele é mais santificado, plenamente. Quanto mais nos aproximamos do Céu, mais envergonhados seremos, por termos sidos culpados, diante de Deus. (…) Oração sincera é outra evidência de certeza da regeneração. O que foi dito a Ananias sobre Saulo de Tarso, como uma prova de que ele era ―um vaso escolhido para o Senhor? ―eis que ele está orando (Atos 9:11). Não foi em um encontro de oração que ele estava orando, mas, orava sozinho – e o homem que tem o hábito de comunhão com Deus em oração secreta é um homem vivo, pois, a oração é a respiração vital da alma. Um dos sinais que uma criança recém-nascida está viva é o choro – quando um homem, em sua própria alma, chora diante de Deus, você sabe que ele é uma criança viva do Deus vivo.” Idem. Grifo nosso.
Como saber se sou nascido de novo? O evangelista João é claro:
“E aquele que guarda os seus mandamentos nEle está e Ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós, pelo Espírito que nos tem dado.” (1 João 3.24).
Que espírito é esse que Deus deu? O espírito da fé ou, seja, a mensagem da fé, o evangelho!
“Porque nós, pelo Espírito da fé, aguardamos a esperança da justiça.” (Gálatas 5.5).
É pelo evangelho que conhecemos se somos nascidos de Deus ou, não.
“Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas, recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai.” (Romanos 8.14-15).
É por isso que os cristãos são ministros do espírito ou, seja, de uma nova aliança.
“O qual nos fez, também, capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas, do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (2 Coríntios 3.6).
As palavras de Cristo são espírito e vida e Jesus é espírito vivificante, de modo que aquele que é nascido da palavra de Cristo, é espírito.
“O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito, é espírito.” (João 3.6);
“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.” (João 6.63);
“Assim, está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante.” (1 Coríntios 15.45).
Qual a evidência da regeneração? A confissão de que Cristo é o Senhor, conforme o evangelho. O fruto dos lábios é a evidência da regeneração, pois, só quem está ligado a Cristo, a videira verdadeira, pode produzi-lo.
“Portanto, ofereçamos, sempre por ele, a Deus, sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome.” (Hebreus 13.15);
“Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (João 15.5).
É através do fruto que se identifica a árvore, de modo que é possível identificar aquele que é nascido de Deus, e o que não é.
“Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois, não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos.” (Lucas 6.44);
“Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.” (Mateus 7.20).
Não basta professar ‘Senhor’, ‘Senhor’, antes é necessário escutar e praticar. Dizer ‘Senhor’, ‘Senhor’ e não pôr por obra, é ser ouvinte negligente.
“E, eis que tu és para eles, como uma canção de amores, de quem tem voz suave e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra.” (Ezequiel 33.32);
“Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas, fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito.” (Tiago 1.25).
Quando a multidão questionou Jesus, acerca do que fazer para executar a obra de Deus, somente queriam pô-lo à prova. A obra de Deus era os homens crerem naquele que Ele enviou: Cristo. A multidão, apesar dos vários sinais miraculosos, após ser informada da obra de Deus, quis mais sinais.
“A obra de Deus é está: que creias naquele que ele enviou” (João 6:29).
Por isso que, ao escrever a cristãos convertidos, dentre os judeus, Tiago disse que a fé sem obras é morta, pois, muitos judaizantes diziam crer em Deus, mas, não criam em Cristo, como o enviado de Deus.
‘Crer’ não é a vida transmitida na regeneração, antes, a regeneração diz de uma nova vida, decorrente de uma nova criação. ‘Crer’ é próprio ao indivíduo, de modo que não é evidência de salvação, antes, é o espírito que evidencia a salvação.
João Batista cria e confessou: – ‘Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!’ Evidência de salvação? Quando estava preso, mandou seus discípulos indagarem Jesus:
“E João, chamando dois dos seus discípulos, enviou-os a Jesus, dizendo: És tu aquele que havia de vir ou, esperamos outro?” (Lucas 7.19).
Agora, Cristo manifesto é salvação, o espírito do Senhor, derramado sobre toda carne!
“E toda a carne verá a salvação de Deus.” (Lucas 3.6);
“E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos e os vossos jovens terão visões.” (Joel 2.28).
A chamada ‘tristeza pelo pecado’ e a dita ’oração sincera’ não passam de invencionices de alguém que se propõe explicar algo, que vai além da sua capacidade. Que parâmetro objetivo se tem para mensurar a chamada oração qualificada de sincera? O quanto se deve sentir de tristeza pelo pecado?
Diante de tanta falácia, fique com o fruto dos lábios, pois, foi Deus quem criou o fruto dos lábios:
“Eu crio os frutos dos lábios: paz, paz, para o que está longe; e para o que está perto, diz o SENHOR, e eu o sararei.” (Isaías 57.19).
Cristo é o fruto dos lábios, pois, Ele é a paz, tanto para os gentios, quanto para os judeus!
“Mas, agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.” (Efésios 2.13).
Correção ortográfica: Pr. Carlos Gasparotto
[1] Intertextualidade é a relação que se estabelece entre um texto e uma citação implícita, de modo que um texto influência um novo texto ou uma exposição.
[2] No diálogo intitulado Fedro, Platão (427 a.C – 347 d.C.) teoriza sobre a imortalidade da alma, e discorre sobre sua natureza tríplice, e faz uma analogia simbólica, como se a natureza do homem fosse composta por um carro puxado por dois cavalos e dirigido por um auriga. Um dos cavalos é garboso e o outro problemático. O condutor do carro representa o intelecto, a razão ou a parte da alma que tenta impedir que os cavalos sigam direções opostas, mas sigam rumo à verdade; o cavalo garboso representa o impulso racional ou moral ou a parte positiva da paixão, já o cavalo problemático representa as paixões irracionais da alma, o apetite ou a natureza concupiscente.