Gálatas

Gálatas 5 – A liberdade dos salvos em Cristo

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Ao analisar sistematicamente as Escrituras, percebe-se que a liberdade em Cristo abrange tanto a libertação do pecado, herdada da ofensa de Adão, quanto o livramento da morte, penalidade imposta pela desobediência no Éden. Para os judeus, além da libertação do pecado e da morte, há também a libertação da lei de Moisés, que estava enferma (Romanos 8:2).


Gálatas 5 – A liberdade dos salvos em Cristo

 

Introdução

A Carta aos Gálatas, embora direcionada a uma comunidade cristã na região grega da Galácia, foca principalmente nas questões que envolvem judeus convertidos ao cristianismo, ao invés dos gentios. Os judaizantes estavam perturbando os cristãos na Galácia, persuadindo-os a seguir um evangelho mesclado a preceitos do judaísmo (Atos 15:1). Paulo responde a essa situação defendendo a pureza do verdadeiro evangelho e alertando os cristãos sobre os riscos de acrescentar ao evangelho preceitos da lei judaica (Gálatas 5:9). Ele se empenha em refutar diversos pontos da doutrina judaica utilizando as Escrituras como base.

Muitos temas abordados na carta não são diretamente relevantes para os cristãos convertidos dos gentios, pois o foco principal está nos convertidos de origem judaica. Paulo inclui a si mesmo na exortação, discutindo não apenas sua condição antes de sua conversão a Cristo, mas também a dos demais cristãos convertidos do judaísmo.

Embora a carta seja dirigida à igreja, composta tanto por judeus quanto por gentios, Paulo confronta especificamente aqueles que seguem o judaísmo. Sua defesa do evangelho visa desmascarar a fragilidade dos argumentos dos judaizantes à luz das Escrituras, destacando a superioridade do evangelho de Cristo.

A exposição dos capítulos 1 e 2 da epístola mostra, através do exemplo do apóstolo Paulo, que os cristãos, tanto judeus quanto gentios, não deveriam se intimidar com a presença de cristãos de outras origens étnicas ou condições sociais, nem se deixar influenciar por ensinamentos desalinhados com o verdadeiro evangelho de Cristo.

Os argumentos apresentados no final do capítulo 2 e nos capítulos subsequentes devem ser analisados à luz do versículo chave: “Nós somos judeus por natureza, e não pecadores dentre os gentios” (Gálatas 2:15). Este versículo reflete a abordagem de Paulo, que repreende os cristãos convertidos do judaísmo que estavam tentando impor preceitos judaicos e o estilo de vida dos judeus aos cristãos convertidos dos gentios (ver Gálatas 2:14-15).

Ao destacar que as Escrituras encerraram todos debaixo do pecado para que a promessa da fé fosse dada aos crentes (Gálatas 3:22), Paulo evidencia implicitamente que, sem Cristo, tanto judeus quanto gentios estão sujeitos ao pecado. No versículo seguinte, ele enfatiza a antiga condição dele e dos demais cristãos convertidos dentre os judeus, que, por causa da lei, estavam sob a tutela de um “aio”, comparando essa situação à de um menino herdeiro que não podia desfrutar plenamente da herança.

Após elucidar o significado do batismo na morte de Cristo, Paulo faz uma declaração significativa que reflete o conceito do termo grego traduzido por “igreja”, conforme entendido pelos gregos como uma assembleia de iguais. Ele argumenta que aqueles que estão revestidos de Cristo não são diferenciados por sua origem étnica (judeu ou grego), posição social (servo ou livre) ou gênero (macho ou fêmea). Em Cristo, os cristãos formam uma assembleia de iguais, todos sendo um em Cristo Jesus, compartilhando da mesma condição: são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa (Gálatas 3:28-29).

Ao ler as epístolas de Paulo, é crucial observar o contexto em que ele utiliza o pronome na primeira pessoa do plural “nós”. Em muitos casos, ele se refere à unidade da igreja em Cristo, onde a identidade cristã transcende as distinções étnicas ou sociais. No entanto, em outros momentos, especialmente ao discutir questões específicas relacionadas à lei judaica e à tradição, ele pode estar se referindo à sua própria experiência e à dos cristãos convertidos do judaísmo.

“Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo. Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” (Gálatas 4:3-5).

“Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permanecei firmes e não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão.” (Gálatas 5:1).

Neste versículo, Paulo enfatiza a liberdade que os crentes têm em Cristo, contrastando com a escravidão da lei ou de qualquer sistema que busque justificação por méritos próprios.

Nos versículos 3 a 5 do capítulo 4 de Gálatas, Paulo utiliza o pronome “nós” para se referir à antiga condição dele e dos cristãos convertidos do judaísmo. Ele descreve como eles estavam sob a tutela da lei como crianças sob um aio, aguardando o tempo da maturidade para herdar plenamente as promessas de Deus. Aqui, Paulo está contrastando a condição anterior à fé em Cristo com a liberdade e a filiação que os cristãos alcançaram em Jesus.

Portanto, ao analisar esses versículos, é importante perceber que Paulo utiliza o “nós” de maneira contextualmente específica: no capítulo 4, ele se refere à experiência compartilhada dos convertidos do judaísmo sob a lei; já no capítulo 5, ele amplia seu discurso para incluir todos os crentes, destacando a liberdade em Cristo que é desfrutada por todos os que creem, independentemente de sua origem étnica ou religiosa anterior.

 

A liberdade providencial do evangelho

“ESTAI, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.”

Desde o capítulo três, Paulo procura demonstrar aos cristãos da Galácia que o evangelho de Cristo trouxe plena liberdade, contrastando essa condição com a daqueles que viviam sob a lei. A pior forma de escravidão é acreditar que se é livre quando, na verdade, se está preso. Os seguidores do judaísmo estavam sujeitos ao pecado e acreditavam estar livres por seguirem os preceitos da lei (João 8:33). Para eles, a ignorância é uma maldição (Provérbios 27:12).

Os gentios sem Cristo também são escravos do pecado, mas, por não estarem iludidos pela lei, sua condição é menos grave. No caso dos seguidores do judaísmo, sua condição é ainda mais severa, sendo considerados “duas vezes filhos do inferno” (Mateus 23:15).

Ao analisar sistematicamente as Escrituras, percebe-se que a liberdade em Cristo abrange tanto a libertação do pecado, herdada da ofensa de Adão, quanto o livramento da morte, penalidade imposta pela desobediência no Éden. Para os judeus, além da libertação do pecado e da morte, há também a libertação da lei de Moisés, que estava enferma (Romanos 8:2).

Considerando a condição da humanidade sem Cristo, todos estavam sob condenação devido à ofensa de Adão, que trouxe a morte sobre todos, razão pela qual “todos pecaram” (Romanos 3:23; 5:12, 15-19). Nesse aspecto, não há diferença entre judeus e gentios, pois todos são reprováveis diante de Deus devido à condenação de Adão.

Quando Paulo afirma em Gálatas 5:1 que “Cristo nos libertou para que sejamos de fato livres”, ele enfatiza especificamente a libertação providencial da lei. Embora essa libertação também implique em ser livre do pecado e da morte, o contexto da carta e o momento do discurso de Paulo indicam que a recomendação “ESTAI, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou…” decorre da conclusão em Gálatas 4:31: “De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.”

Paulo está ressaltando que, como filhos da promessa e herdeiros da liberdade em Cristo, os cristãos não devem se submeter novamente ao jugo da escravidão da lei. A liberdade que Cristo trouxe é completa e verdadeira, marcando a distinção entre ser filhos da escrava, que representa a lei e a escravidão, e ser filhos da livre, que simboliza a graça e a liberdade em Cristo.

 

Perseverança no evangelho

A perseverança é um dos aspectos essenciais do evangelho. Após crer em Cristo, que é a obra da fé, resta ao crente perseverar, acreditando nas verdades contidas na mensagem do evangelho (2 João 1:9; Tiago 1:25). A recomendação: “ESTAI, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou…” é um apelo à perseverança. Neste versículo, a “liberdade com que Cristo nos libertou” remete ao evangelho, que Tiago denomina como a “lei da liberdade” (Tiago 1:25; 2:12).

Em outras epístolas, o apóstolo Paulo faz a mesma recomendação:

“Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.” (Romanos 5:2);

“Vigiai, estai firmes na fé; portai-vos varonilmente, e fortalecei-vos.” (1 Coríntios 16:13);

“Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça;” (Efésios 6:14);

“PORTANTO, meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados.” (Filipenses 4:1);

“Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido…” (Colossenses 1:23);

“Porque agora vivemos, se estais firmes no Senhor.” (1 Tessalonicenses 3:8);

“Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.” (2 Tessalonicenses 2:15);

“Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina…” (Tito 1:9);

“Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu.” (Hebreus 10:23).

Estar firme na liberdade providenciada por Cristo é não se desviar da verdade do evangelho, pois voltar às práticas da lei é colocar-se novamente debaixo do jugo da escravidão. Com esse alerta, o apóstolo Paulo contrapõe o evangelho e a lei, ressaltando o que cada um proporciona aos seus seguidores: liberdade e servidão, respectivamente.

Considerando uma leitura sistemática das Escrituras, sabemos que Cristo livra todos os que creem (judeus e gentios) da velha natureza herdada de Adão, que é condenável e repreensível diante de Deus, e concede uma nova natureza, pela qual os salvos são declarados filhos de Deus pela fé em Cristo (Gálatas 3:26).

No contexto geral da epístola aos Gálatas, além de destacar o livramento dado por Cristo aos cristãos convertidos do judaísmo, que, em pé de igualdade com os cristãos convertidos dos gentios, se tornaram filhos de Deus, Paulo procura destacar o livramento dos convertidos do judaísmo, incluindo ele próprio. Por serem judeus, estiveram retidos debaixo da lei (Gálatas 3:23).

O apóstolo Paulo solicita aos cristãos que mantenham uma postura firme em relação ao que foi conquistado, o que implica rejeitar qualquer fascínio pelas práticas da lei, pois, em última instância, essas práticas os levariam de volta ao jugo da escravidão. Isso significa que, ao seguirem qualquer aspecto da lei, estariam se submetendo a um antigo e tirânico senhor: a lei, que conduz ao conhecimento do pecado e, consequentemente, à morte, seu aguilhão.

 

A circuncisão destrói a liberdade em Cristo

Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei.

O apóstolo Paulo apresenta uma prática específica da lei que levaria os cristãos a se submeterem novamente ao jugo da escravidão: a circuncisão. A adoção dessa prática judaica pelos cristãos demonstra claramente uma falta de confiança na obra redentora de Cristo. Qualquer adoção de práticas decorrentes da lei, seja na esperança de se achegar a Deus ou como ato de devoção voluntária, é anátema.

Muitos cristãos desejavam usufruir da liberdade oferecida pelo evangelho de Cristo, mas também queriam acrescentar alguns aspectos exteriores da lei para obter prestígio junto à comunidade judaica. A importância desse assunto é tão grande que o apóstolo Paulo reitera seu pensamento insistentemente, destacando que todo homem, judeu ou gentio, que se circuncidasse estaria obrigado a guardar toda a lei.

A prática da circuncisão, aparentemente inofensiva, exclui a liberdade concedida por Cristo. A tentativa de misturar a graça do evangelho com práticas da lei, sob qualquer pretexto, não traz qualquer benefício ao cristão. A própria lei não permite a submissão a apenas algumas práticas, antes, ela requer submissão completa.

 

Queda da graça

“Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.”

O mesmo apóstolo que diz aos cristãos em Roma que nada pode separar o cristão do amor que está em Cristo Jesus, afirma que aquele que busca se justificar pela lei está separado de Cristo. Nenhuma criatura ou evento pode tirar os vencedores das mãos de Cristo, mas se o próprio indivíduo se afastar do evangelho, ele se lança para fora da presença de Cristo.

“Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 8:37-39).

Paulo destaca que a segurança do crente está firmemente ancorada no amor de Cristo, do qual nada externo pode separá-lo. No entanto, ele adverte que a busca por justificação através da lei é uma escolha pessoal que leva a separação de Cristo.

Podemos enumerar as consequências funestas para aqueles que tentam se apoiar na lei:

  • Submissão a um jugo e retorno à escravidão do pecado: Ao tentar se justificar pela lei, o crente se submete novamente ao jugo pesado da lei, que não pode salvar, mas apenas revelar o pecado e a incapacidade humana de cumprir a vontade de Deus.
  • Perda da filiação de Deus e do direito à herança: A tentativa de se justificar pela lei implica na rejeição da filiação divina recebida pela fé em Cristo, resultando na perda do direito de herança como filhos de Deus.
  • Obrigação de cumprir toda a lei, resultando em maldição: A lei exige obediência completa. Qualquer falha em cumprir toda a lei resulta em maldição, pois ninguém é capaz de cumprir perfeitamente todos os seus preceitos.
  • Submissão à ira de Deus: Buscar justificação pela lei coloca o indivíduo sob a ira de Deus, pois rejeita a graça oferecida por Cristo e tenta alcançar a justiça por meio de esforços humanos, o que é impossível e desagradável a Deus.

Essas consequências mostram a seriedade e o perigo de tentar misturar a graça do evangelho com as obras da lei. A verdadeira liberdade e segurança estão em depender completamente da obra redentora de Cristo, que cumpre a lei em nosso lugar e nos oferece a justiça pela fé.

 

Pregação da fé

“Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça.”

O substantivo grego πνεῦμα (pneuma), traduzido como “espírito,” está frequentemente associado ao anúncio de uma mensagem. Através da pregação do evangelho, a fé que foi manifesta, cada cristão deve aguardar com esperança a justiça (Gálatas 3:2).

O evangelho, as boas novas de salvação, quando proclamado, pode ser referido como “espírito.” Essa peculiaridade na linguagem é observada em outras passagens, onde a ênfase está na pregação de uma mensagem.

“AMADOS, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo.” (1 João 4:1-3).

As palavras anunciadas por Cristo são espírito e vida, ou seja, uma mensagem proclamada (João 6:63).

O ministro é aquele que divulga a Nova Aliança aos homens, sendo assim, ele é um ministro do espírito, um propagador da mensagem que vivifica.

“O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (2 Coríntios 3:6).

Quando foi previsto que o espírito de Deus estaria sobre Jesus (Isaías 61:1; Lucas 4:18), quando o espírito seria derramado sobre toda carne (Joel 2:28), o termo “espírito” é utilizado para indicar a mensagem proclamada pelo profeta.

A fé anunciada por um ministro é a palavra de Deus em ação, ou seja, a doutrina, quando pronunciada pelo profeta, é chamada de espírito.

“Faz dos seus anjos espíritos, dos seus ministros um fogo abrasador.” (Salmos 104:4).

Essencialmente, é pela promessa de Deus que o homem aguarda a justiça divina. Dada a fidelidade de Deus, cabe ao crente manter firme a confissão de nossa esperança, que é Cristo, a esperança da glória.

“Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória;” (Colossenses 1:27);

“Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu.” (Hebreus 10:23);

“Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.” (Romanos 5:2).

Como se descobre no evangelho a justiça de Deus, a esperança da justiça decorre do evangelho (Romanos 1:16).

 

“Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro.” (Colossenses 1:23).

 

“Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor.”

Após crer em Cristo, o que resta ao crente é aguardar a “esperança da justiça”, pois, em Jesus Cristo, questões como circuncisão ou incircuncisão não têm importância diante de Deus. O que realmente importa em Cristo é “a fé que opera pelo amor”.

Mas qual é o significado dessa frase? Nesse contexto, “fé” deve ser entendida como “evangelho” ou “mensagem”, e “amor” como “obediência” ou “sujeição”. Portanto, só tem valor diante de Deus a mensagem do evangelho que, através da obediência, promove a salvação dos homens.

“Pelo qual recebemos a graça e o apostolado, para a obediência da fé entre todas as gentes pelo seu nome,” (Romanos 1:5).

“Mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé;” (Romanos 16:26).

Essa interpretação da frase: “… mas sim a fé que opera pelo amor.”, só é possível quando se compreende a seguinte premissa:

“Se me amais, guardai os meus mandamentos. (…) Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou.” (João 14:15 e 23-24).

No contexto do Novo Testamento, amar está para obedecer, assim como odiar está para desprezar.

“Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” (Lucas 16:13).

Enquanto os judaizantes se preocupavam com a circuncisão e perturbavam os gentios por serem incircuncisos na carne, o que realmente tem valor diante de Cristo é a obediência da fé, que alcança todas as famílias da terra.

“A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus.” (1 Coríntios 7:19);

“Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura.” (Gálatas 6:1).

Estes dois versículos deixam bem claro que o amor é obediência e que a fé é a mensagem do evangelho, pois, para ser uma nova criatura, é necessário crer em Cristo, o que significa obedecer ao mandamento de Deus.

“E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento.” (1 João 3:23).

 

“Corríeis bem; quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade? Esta persuasão não vem daquele que vos chamou. Um pouco de fermento leveda toda a massa.”

O apóstolo Paulo testemunha que os cristãos da Galácia estavam caminhando em direção ao alvo almejado, a esperança da justiça. Em seguida, ele os repreende, questionando quem estava colocando empecilhos para que não obedecessem à verdade.

No contexto, “verdade” equivale ao evangelho. Os termos usados para se referir ao evangelho são diversos e, ao longo de sua exposição, Paulo os substitui de forma estilística e aleatória na escrita da epístola.

Após grande parte de sua argumentação na carta, o apóstolo Paulo retoma o que destacou no capítulo 3, verso 1, da epístola aos Gálatas:

“Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós?” (Gálatas 3:1).

A persuasão dos judaizantes não procedia de Jesus Cristo, Aquele que chama os homens ao arrependimento por meio da verdade do evangelho. A máxima: “Um pouco de fermento leveda toda a massa” contextualiza a repreensão, indicando que, mesmo uma pequena porção da doutrina do judaísmo misturada ao evangelho, corrompe completamente a mensagem de Cristo.

“Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós.” (1 Coríntios 5:6-7).

Qualquer tentativa em mesclar, um pouco que fosse, a lei ao evangelho, acabaria comprometendo todo o evangelho de Cristo. A lei não se une ao evangelho. O que serviu de ‘aio’ para se chegar a Cristo não pode tomar o lugar que só a Ele pertence. A lei não pode substituir, ou acompanhar a graça de Cristo.

Esta posição Jesus estabeleceu ao declarar que não se coloca vinho novo em odres velhos, e que não se costura remendo novo em vestidos velhos. O evangelho de Cristo que é simbolizado pelo vinho, a nova aliança, só é comportado por um novo homem, gerado de novo através do Espírito. Ambos se conservam. O novo homem e a nova aliança sempre andarão juntos.

Não há como inserir o vinho velho, ou a antiga aliança no novo homem! A lei compromete a vida do novo homem gerado em Cristo Jesus.

“Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha, porque semelhante remendo rompe a roupa, e faz-se maior a rotura. Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.” (Mateus 9:16-17).

 

“Confio de vós, no Senhor, que nenhuma outra coisa sentireis; mas aquele que vos inquieta, seja ele quem for, sofrerá a condenação.”

O apóstolo Paulo expressa confiança de que seus interlocutores não teriam outra compreensão acerca do evangelho de Cristo. Ele ressalta que a pessoa que perturbava os cristãos com imposições doutrinárias oriundas do judaísmo, independentemente de quem fosse, seria alvo do juízo de Deus. O argumento “seja lá quem for” sugere que essa pessoa possuía uma posição de destaque entre os seguidores do judaísmo.

 

“Eu, porém, irmãos, se prego ainda a circuncisão, por que sou, pois, perseguido? Logo o escândalo da cruz está aniquilado.”

Através do argumento “se prego ainda a circuncisão”, fica evidente que os seguidores do judaísmo, que queriam distorcer o evangelho de Cristo, levantavam falso testemunho contra o apóstolo Paulo, como se ele ainda fosse defensor da circuncisão.

Se, de fato, o apóstolo Paulo pregasse a circuncisão, ele não deveria ser perseguido pelo sinédrio e pelos seguidores do judaísmo. Caso pregasse a circuncisão, o escândalo da cruz não existiria, pois o apóstolo Paulo pregava justamente a Cristo crucificado.

 

“Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando.”

As pessoas que perturbavam os cristãos deveriam ser excluídas da comunhão da igreja, de modo a não mais participarem do ajuntamento solene.

“Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis.” (2 João 1:10).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

One thought on “Gálatas 5 – A liberdade dos salvos em Cristo

  • Agradeço a Deus por mais um estudo bíblico para edificação da igreja.

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