Compartilhar:

Deus concede do seu espírito e realiza maravilhas. Na lei, o homem encontra apenas obrigações, mas através da pregação do evangelho (fé), a ação é de Deus, que tem o poder de abundar a sua graça no homem, tornando-os filhos de Abraão.


Gálatas 3 – Os filhos de Abraão

Gálatas 2 – O apóstolo Pedro é repreendido

A insensatez dos Gálatas

1 Ó INSENSATOS gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós?

O evangelho alterado que foi apresentado por “inquietadores” aos Gálatas é descrito pelo apóstolo Paulo como uma obra de fascinação. A insensatez de alguns cristãos que se deixaram seduzir por esses “inquietadores” deixou o apóstolo perplexo. Eles foram alvos de um “encantamento”, influenciados pelo que viam exteriormente, uma vez que se apoiaram na “boa aparência” dos inquietadores que distorciam a verdade do evangelho de Cristo (Gálatas 5:12).

A inconstância de alguns cristãos da região da Galácia revela a sua loucura. Paulo estava perplexo e queria saber quem os havia fascinado a se desviarem da verdade do evangelho, especialmente porque a mensagem central era Cristo crucificado, o evangelho que é o poder de Deus para a salvação dos que creem (1 Coríntios 1:18).

“Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.” (1 Coríntios 1:23);

“Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.” (1 Coríntios 2:2).

Cristo crucificado é razão suficiente para que ninguém se apoie na “aparência” de outras pessoas. O poder de Deus está na mensagem de Cristo crucificado, onde o crente deve concentrar sua atenção (Hebreus 12:2). O foco do cristão deve ser em Cristo e nas coisas celestiais, não na aparência dos homens, que diante de Deus não tem valor (João 12:32; Colossenses 3:2). Por essa razão, o apóstolo Paulo os chamou de insensatos.

 

2 Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? 3 Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?

O apóstolo Paulo questiona de que maneira eles haviam recebido o espírito de Deus: foi por meio das “obras da lei” ou pela “pregação da fé”? Paulo anseia por uma resposta de seus interlocutores!

A resposta a essa pergunta de Paulo seria suficiente para esclarecer o quanto os Gálatas estavam equivocados (Gálatas 3:2).

Os cristãos receberam o Espírito Santo, o Consolador, uma experiência comum a todos os crentes (Atos 10:44-47). No entanto, este versículo não se refere à terceira pessoa da divindade, o Consolador, mas sim à mensagem do evangelho, também chamada de “espírito”.

“O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (2 Coríntios 3:6).

Essa distinção é crucial para a leitura e análise da epístola aos Gálatas, pois “espírito” pode se referir tanto um mensagem quanto a uma doutrina, como se observa:

“AMADOS, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo.” (1 João 4:1-3).

Quando é dito: “E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne…” (Joel 2:18), ou “O ESPÍRITO do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos…” (Isaías 61:1), o termo “espírito” refere-se à palavra de Deus. Nesse sentido, Jesus afirmou: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.” (João 6:63).

Paulo demonstra que, devido à sua insensatez, os Gálatas estavam regredindo. Estavam perdendo o que já haviam alcançado: começaram no espírito (o evangelho) e estavam caminhando para a carne (os mandamentos humanos).

Eles haviam recebido uma nova vida pela graça do evangelho, mas agora estavam se submetendo ao jugo da escravidão.

É plenamente factível que os cristãos se desviem da verdade quando dão ouvidos ao engano (Hebreus 2:1).

 

4 Será em vão que tenhais padecido tanto? Se é que isso também foi em vão.

O apóstolo Paulo procura envolvê-los emocionalmente, lembrando-lhes o quanto haviam sofrido por causa do evangelho.

Seria também em vão o sofrimento que tiveram em prol do evangelho?

 

5 Aquele, pois, que vos dá o Espírito, e que opera maravilhas entre vós, fá-lo pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?

Aquele que concede o espírito é Deus. Esta dádiva é concedida por meio da verdade do evangelho, pela “pregação da fé”, e não por meio das “obras da lei”.

É Deus que, através do Seu espírito, realiza maravilhas. Na lei, o homem encontra apenas obrigações, mas através da pregação fé, quem realiza a obra é Deus, que é poderoso para fazer abundante a Sua graça naquele que crê.

“AI dos filhos rebeldes, diz o SENHOR, que tomam conselho, mas não de mim; e que se cobrem, com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado;” (Isaías 30 : 1)

“E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra.” (2 Coríntios 9:8).

Percebe-se que da lei emanam inúmeras determinações:

“Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis, pois o homem que os cumprir, por eles viverá” (Levítico 18:5).

Na pregação da fé, o homem encontra a promessa daquele que é fiel e poderoso para realizar. Enquanto o homem não consegue viver à altura da lei, através da oferta da graça, ele consegue abundar em toda boa obra.

“E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra;” (2 Coríntios 9:8).

 

6 Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.

O apóstolo Paulo invoca a autoridade das Escrituras. Se não quiserem dar ouvidos ao apóstolo dos gentios, que ao menos considerem as Escrituras.

Abraão foi justificado pela palavra de Deus, que é a fé, pois ele creu na promessa daquele que é poderoso e fiel para cumprir (Gênesis 15:6).

Deus deu do seu Espírito a Abraão quando previamente anunciou esta maravilha:

“E eis que veio a palavra do SENHOR a ele dizendo: Este não será o teu herdeiro; mas aquele que de tuas entranhas sair, este será o teu herdeiro. Então o levou fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência.” (Gênesis 15:4-5).

Essa maravilha anunciada, na qual Abraão creu e foi justificado, não veio por meio das obras da lei, pois a lei foi dada somente 430 anos mais tarde. Antes disso, ela veio pela palavra de Deus, a palavra digna de toda aceitação, pela qual o homem é justificado (1 Timóteo 4:9).

A justificação decorre da palavra de Deus, que é o firme fundamento, e não da capacidade do homem em acreditar em algo. Ser uma pessoa crédula não é o que justifica, mas crer naquilo que Deus anuncia é a causa da justificação.

Os filhos de Israel acreditavam na existência de Deus, mas não é essa crença que justifica. O que justifica é crer no testemunho que Deus deu acerca de seu Filho, Jesus Cristo de Nazaré (João 14:1).

 

7 Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão.

Alguns leitores das cartas do apóstolo Paulo citavam as Escrituras de memória por sua formação no judaísmo, mas é crucial entender que apenas os que pertencem à fé são verdadeiramente contados como filhos de Abraão, ou seja, filhos de Deus.

A filiação divina é recebida somente por aqueles que creem na palavra anunciada por Deus, da mesma forma que creu Abraão. Esses recebem poder para serem feitos filhos de Deus, como mencionado em João 1:12. É importante lembrar que para os seguidores da lei, ser filho de Abraão equivalia a ser filho de Deus, conforme João 8:39-41.

João Batista, ao ver que os escribas e fariseus que vinham ao batismo confiavam na sua descendência de Abraão para se considerarem filhos de Deus, alertou:

“E não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Mateus 3:9).

Jesus também abordou esse tema, declarando que os fariseus eram filhos do diabo, porque presumiam ser filhos de Deus baseados na sua descendência carnal de Abraão (para eles, a filiação estava na carne e no sangue) (João 8:44). Embora fossem descendentes carnais de Abraão (João 8:37), não eram verdadeiramente filhos de Deus, pois continuavam escravos do pecado, condição herdada de Adão (João 8:34). Assim, por serem escravos do pecado, os fariseus eram de fato filhos do diabo, e não de Deus (João 8:44).

 

A pregação da fé a Abraão

8 Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti.

O apóstolo Paulo utiliza a expressão “Escritura” para se referir ao Antigo Testamento e descreve um episódio onde Deus conversa com Abraão como uma “previsão”.

Paulo, conhecido como o apóstolo dos gentios, cita Gênesis para ilustrar como o evangelho foi anunciado primeiramente a Abraão, quando Deus prometeu: “…e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:3).

Essa promessa divina registrada em Gênesis é uma profecia sobre a justificação pela palavra de Deus a todos que creem, uma graça destinada a todas as famílias da terra, incluindo os gentios. Com a revelação de Jesus Cristo, o descendente prometido a Abraão, a bem-aventurança agora alcançou todas as famílias da terra.

A promessa de Deus a Abraão foi que todas as nações seriam abençoadas através do Descendente de Abraão, e Cristo é o Descendente prometido como registrado em Mateus 1:1. Assim como Abraão foi declarado justo por Deus, também homens de todas as nações seriam igualmente justificados. A palavra de Deus anunciada a Abraão trouxe bênção às famílias da terra, da mesma forma que os antigos alcançaram bom testemunho (Hebreus 11:2).

O evangelho é a promessa de Deus:

  • É independente da circuncisão física (alcança homens e mulheres);
  • É alcançado pela confiança em Cristo;
  • Resulta na morte do homem velho e na geração de um novo homem;
  • Deriva do poder e da fidelidade de Deus;
  • Foi crido por Abraão, que em função da promessa feita por Deus, considerou que Deus ressuscitaria Isaque;
  • Alcança todos os que creem, sem distinção de origem ou condição social.

Se os judaizantes entendessem e cressem apenas no descendente (Cristo), então seriam verdadeiramente livres e filhos de Abraão, ou seja, filhos de Deus (João 8:43).

 

9 De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão.

Deus não faz acepção de pessoas; Abraão foi justificado porque creu (fé) na palavra de Deus. Todos aqueles que creem na promessa divina estão debaixo da mesma bem-aventurança: serão benditos conforme o pai Abraão, ou seja, serão igualmente justificados.

Quando se considera se a justificação de Abraão foi posicional ou objetiva, é fundamental reconhecer que Deus declarou Abraão justo porque de fato o tornou justo. Deus não trata a questão da justificação como uma ficção ou um faz de conta. Ele é absolutamente verdadeiro e justo em todas as suas ações. Através da palavra de Deus, Abraão foi feito justo e declarado justo, porque ele creu na promessa divina. A justiça de Deus foi imputada a Abraão pela fé que ele depositou em Deus.

Considere a declaração de Scofield sobre este assunto:

“A justificação é um ato de reconhecimento divino e não significa tornar uma pessoa justa (…) Ele declara justamente e trata como justo…” Bíblia Scofield de referências, Romanos 3:28, p. 1147.

Entendemos pelas Escrituras que Abraão foi efetivamente justificado por Deus, pois a palavra traduzida por ‘justificar’ e ‘justificação’ significa ‘tornar justo’, ‘declarar justo’, ‘declarar reto’, ou ‘declarar livre de culpa e de merecimento de castigo’.

Alguns teólogos podem ter uma visão diferente, argumentando que Deus não “torna” o homem justo, mas é claro que, segundo as Escrituras, todos os que creem em Cristo são de fato criados em verdadeira justiça e santidade (Efésios 4:24). Pela fé em Cristo, o homem recebe de Deus o poder para ser feito (ou criado) filho de Deus (João 1:12).

Nos versículos 9 e 10, o apóstolo Paulo estabeleceu um comparativo entre aqueles que “pertencem” à fé e os que “pertencem” à lei.

 

10 Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.

Os seguidores do judaísmo, que se dedicavam às obras da lei, viviam sob, como as Escrituras indicam ao afirmar que é maldito todo aquele que não cumpre fielmente tudo o que está escrito na lei (Deuteronômio 27:26).

Inclusive aqueles que se consideravam cristãos, mas tentavam alterar o evangelho de Cristo introduzindo elementos da lei, também estavam sujeitos à mesma maldição.

Os adeptos do judaísmo muitas vezes não compreendiam que a natureza espiritual da lei contrasta com a condição do ser humano sem Deus. Eles não percebiam que é impossível ao homem cumprir integralmente a lei, pois qualquer violação de um único quesito torna o indivíduo culpado de toda a lei (Tiago 2:10). Para ser justificado pela lei, seria necessário cumprir cada uma de suas prescrições detalhadas. Os legalistas não consideravam que a lei não promete bênçãos, mas sim traz maldição sobre aqueles que não a observam.

Como já explicamos, na lei o homem deve realizar tudo o que é prescrito, enquanto na fé (que é uma promessa), é Deus quem se propõe a salvar, convidando o homem a descansar unicamente n’Ele.

 

11 E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé.

O apóstolo Paulo argumenta que é evidente que ninguém pode ser justificado pela lei porque a própria Escritura testifica isso. Ele cita a declaração do profeta Habacuque: “O justo viverá pela fé.” (Habacuque 2:4).

Essa citação de Habacuque é fundamental porque mostra que a justiça não é alcançada por meio da observância meticulosa da lei, mas sim pela confiança na promessa de Deus. Habacuque ensina que a vida do justo decorre da palavra de Deus, assim como observado por Moisés:

“E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem.” (Deuteronômio 8:3).

Habacuque ilustra que é impossível para o homem ser justo sem a vida alcançada pela confiança (crer) na promessa de Deus (fé). A condição de justo é proveniente da nova natureza em comunhão com Deus, pertencente à nova criatura.

O justo vive por meio da palavra de Deus (fé), ou seja, a semente incorruptível é que trás a existência um justo. O homem natural existe por intermédio do nascimento natural, a semente corruptível de Adão, e o justo vem a existência por intermédio da palavra de Deus, a esperança proposta (fé).

Observe que a condição de ser justo é constante, como afirma: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que brilha mais e mais até ser dia perfeito.” (Provérbios 4:18). O que se transforma é o caminho do justo, não sua condição de justiça. A comparação é com o percurso dos justos, não com a sua justiça intrínseca.

Portanto, para tornar-se justo, o homem precisa necessariamente nascer de novo. Por quê? Porque todos os que creem na palavra do evangelho recebem de Deus o poder para serem criados de novo em verdadeira justiça e santidade (João 1:12; Efésios 4:24). Após o novo nascimento, o novo homem que emerge em Cristo é declarado justo por Deus, ou seja, é justificado! A justificação refere-se à declaração divina que é concedida ao que crê somente após o novo nascimento (regeneração). Somente o novo homem criado em Cristo recebe essa declaração, como um bom testemunho (Hebreus 11:2).

A justiça de Deus é alcançada pela esperança oferecida por Ele em Cristo, pois para ser justo é essencial passar pelo novo nascimento (Hebreus 6:18). É através desse novo nascimento que o homem se torna justo e começa a viver para Deus, tornando-se como uma árvore de justiça plantada por Deus para que Ele seja glorificado (Isaías 61:3).

 

12 Ora, a lei não é da fé; mas o homem, que fizer estas coisas, por elas viverá.

A lei impõe obrigações, enquanto a fé se baseia em promessas. Na fé, aguardamos confiantemente que Deus cumpra o que foi prometido, enquanto na lei o homem deve cumprir todas as determinações prescritas para viver (Levítico 18:5). No entanto, cumprir toda a lei é impossível para o homem. O propósito da lei era guiar os homens a Cristo, mas mesmo essa função se tornou inviável devido à fraqueza da lei por causa das tradições e mandamentos dos homens (Romanos 10:4; Romanos 8:3).

Quando o homem crê em Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos, ele recebe vida, vivendo pela confiança (fé) naquele que fez a promessa.

 

13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;

Cristo nos resgatou com um único objetivo: libertar a humanidade da lei, do pecado e da morte. Ele realizou isso ao tomar sobre Si a maldição que pesava sobre nós, morrendo pendurado no madeiro (Deuteronômio 21:23).

Mesmo sem pecado, Cristo cumpriu as exigências da lei ao assumir a condição de maldito. Dessa forma, Ele estabeleceu um novo e vivo caminho para que os homens possam se aproximar de Deus, concedendo aos homens a bem-aventurança prometida a Abraão.

Assim como o juízo e a condenação vieram por meio de um homem, Adão, somente por meio de outro homem perfeito e obediente, Cristo, veio a vida e a justificação (Romanos 5:16). Assim como todos morreram em Adão, todos os que creem em Cristo morrem com Ele para que possam ressurgir dentre os mortos com Ele (2 Coríntios 5:14).

Portanto, Cristo nos resgatou com um único objetivo: oferecer redenção completa e vida eterna através da fé Nele.

 

14 Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito.

A entrega de Cristo na morte foi fundamental para que a bênção de Deus prometida a Abraão pudesse ser estendida aos gentios. Da mesma forma como Abraão recebeu a promessa e creu, ou seja, descansou na esperança proposta, os cristãos também recebem a promessa do evangelho (espírito) ao crer (Gálatas 3:2-3 e 5).

Assim como Abraão foi justificado por crer em Deus, os cristãos são justificados por crer na mensagem do evangelho.

 

Apelo fraterno

15 Irmãos, como homem falo; se a aliança de um homem for confirmada, ninguém a anula nem a acrescenta.

O apóstolo Paulo demonstra que, segundo as leis humanas, não é possível anular ou alterar o que foi estabelecido em um testamento. Ele utiliza um raciocínio baseado no conhecimento humano ao falar sobre alianças e testamentos.

No contexto humano, uma aliança confirmada por um homem não pode ser revogada ou modificada, quanto mais a aliança estabelecida por Deus.

 

16 Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo.

O apóstolo busca destacar a interpretação correta das Escrituras, mostrando que quando se menciona que a promessa foi feita a Abraão e à sua descendência, isso não significa que todos os seus descendentes seriam abençoados em Abraão (Romanos 9:7).

É crucial entender que a Escritura não se refere à descendência de Abraão no sentido de muitos indivíduos, mas a um descendente específico, uma pessoa em particular.

Por exemplo, em Gênesis 22:17-18, é dito: “A tua descendência tomará posse das cidades dos teus inimigos, e em tua descendência serão benditas todas as nações…” Este versículo enfatiza que a bênção para todas as nações viria por meio de um descendente específico de Abraão, não por todos os seus descendentes de maneira geral.

Se a promessa se referisse a todos os descendentes carnais de Abraão, então a linhagem de Esaú não poderia ser rejeitada, como está registrado:

“E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú.” (Romanos 9:10-13).

Para que o homem possa participar das bênçãos prometidas a Abraão, é essencial crer na promessa do evangelho da mesma forma que Abraão creu na palavra de Deus. Através da pregação da fé, aqueles que creem se tornam participantes de Cristo, tornando-se assim herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, como está escrito:

“E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” (Romanos 8:17).

Como adquirir a mesma fé que Abraão? Abraão creu na palavra de Deus sobre o Descendente (Cristo), e isso lhe foi creditado como justiça. Qualquer pessoa que crê na mensagem do evangelho, que se refere ao Descendente (Cristo) possui, portanto, a mesma fé que o crente Abraão.

O cristão é considerado descendente de Abraão segundo a promessa porque está em Cristo, ou seja, porque é uma nova criação. Ao crer no evangelho, o homem recebe de Deus o poder para se tornar filho de Deus, sendo criado à imagem de Cristo e recebendo a natureza divina (João 1:12; Colossenses 2:10; 2 Pedro 1:4).

 

17 Mas digo isto: Que tendo sido a aliança anteriormente confirmada por Deus em Cristo, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a invalida, de forma a abolir a promessa.

O apóstolo Paulo destaca que a aliança de Deus com os homens foi confirmada em Cristo (o Descendente prometido). Nem mesmo a lei, dada por Deus ao povo de Israel 430 anos após a promessa feita a Abraão, possui o poder de abolir ou invalidar essa aliança estabelecida por Deus.

Todo evento subsequente à promessa não pode anular sua validade. Ou seja, como a lei foi dada após a promessa, ela não pode de forma alguma anulá-la.

Por que a lei não pode invalidar a promessa? Porque a promessa de Deus é irrevogável. Não depende da ação humana para ser cumprida; ela se fundamenta no poder, na imutabilidade e na fidelidade de Deus.

“Por isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento;” (Hebreus 6:17).

 

18 Porque, se a herança provém da lei, já não provém da promessa; mas Deus pela promessa a deu gratuitamente a Abraão.

O raciocínio é simples: a lei e a promessa são mutuamente exclusivas. Se a herança é baseada na lei, então automaticamente exclui a promessa, e vice-versa.

É crucial entender que a herança foi concedida a Abraão de forma gratuita, sem qualquer relação com a lei, porque se tratava de uma promessa. A bênção vem da promessa feita a Abraão, não da pessoa de Abraão em si. Portanto, a promessa é garantida por Deus.

 

19 Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgressões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido feita; e foi posta pelos anjos na mão de um medianeiro.

Em última instância, qual é a razão de ser da lei?

A lei foi estabelecida até que Cristo viesse ao mundo, por meio de quem a promessa seria concedida a todas as famílias da terra.

No entanto, a lei foi estabelecida por três razões principais:

  • Evidenciar a condição pecaminosa dos filhos de Israel (Deuteronômio 9:5; 32:5);
  • Servir como um “aio” (tutor) para conduzir os filhos de Israel a Cristo;
  • Tornar evidente que é impossível para o homem, mesmo sendo descendente de Abraão, salvar-se a si mesmo.

Para compreender bem o motivo de ter sido dada a lei, é fundamental considerar o seguinte princípio:

“Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus.” (Romanos 3:19).

Através da lei, os filhos de Israel deveriam tomar consciência de que eram pecadores e incapazes por si mesmos de escapar da condenação estabelecida em Adão. No entanto, por serem descendentes da carne de Abraão e por terem recebido a lei, muitos deles se consideravam justos.

Na verdade, a lei foi dada porque os israelitas eram transgressores e não faziam um uso legítimo da lei.

“Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente; Sabendo isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas, para os devassos, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina,” (1 Timóteo 1:8-10).

O evento na história do povo de Israel, logo após terem sido resgatados do Egito, esclarece o motivo de ter sido dada a lei.

Após os filhos de Israel serem reprovados na prova do Maná, Deus determinou a Moisés que o povo fosse reunido para que Ele falasse diretamente com eles (Êxodo 16:4; 19:9). Quando o povo viu os trovões, relâmpagos, o barulho das buzinas e o monte fumegando, eles temeram e se afastaram. Pediram a Moisés que ouvisse a voz de Deus e transmitisse a eles (Êxodo 20:19-20). Eles não confiaram em Deus; temeram que seriam mortos. Moisés, por sua vez, seguiu adiante e entrou nas densas trevas onde Deus estava.

Mesmo após terem sido salvos do Egito, o povo ainda não confiava plenamente em Deus. Eles questionaram se aquele Deus que os resgatara da escravidão os mataria em seguida.

A lei foi concedida ao povo para que aprendessem mais sobre a natureza divina. Era necessário que eles aprendessem a confiar e não ter medo. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, mas o medo demonstra falta de confiança no Deus que é amor eterno (Êxodo 21:1).

O povo não confiava em Deus, que os havia resgatado do Egito. Eles solicitaram a Moisés que intermediasse a comunicação entre eles e Deus, com medo da morte. Moisés explicou que Deus veio ao povo não para matá-los, mas para testá-los. Se eles ouvissem a voz de Deus, viveriam (Êxodo 20:19; Isaías 55:2).

Com medo dos raios e trovões, o povo se afastou de Deus e se colocou à distância, demonstrando que não confiavam na palavra de Deus que anteriormente foi anunciada: “Faço misericórdia…” (Êxodo 20:6). Eles também não consideraram que, se Deus os havia resgatado do Egito, era para preservá-los em vida e não para matá-los (Hebreus 12:18-28).

A lei foi ordenada por causa das transgressões até que viesse a posteridade (o Descendente), para quem a promessa foi feita. Ela foi promulgada devido às transgressões do povo e entregue por um intermediário, conforme solicitado pelo próprio povo:

“E disseram a Moisés: Fala tu conosco, e ouviremos: e não fale Deus conosco, para que não morramos.” (Êxodo 20:19).

A lei não foi entregue por seres celestiais (anjos); Moisés a recebeu diretamente do Anjo do Senhor, que falava com ele no monte Sinai junto aos pais de Israel. Observe:

“E todo o monte Sinai fumegava, porque o SENHOR descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente.” (Êxodo 19:18).

A lei não foi entregue por anjos celestiais, mas sim pelo próprio Anjo do Senhor, que é identificado como Cristo. Somente o Anjo do Senhor possui a semelhança divina e desempenharia esse papel.

“Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do SENHOR; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés?” (Números 12:8; Atos 7:38).

Somente o Anjo do Senhor é onipresente, e acampa ao redor de todos que o temem e os livra.

“O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra.” (Salmos 34:7).

O termo grego ἄγγελος (ággelos), usado pelo apóstolo Paulo na Epístola aos Gálatas, pode ser traduzido como “anjo” ou “mensageiro”, dependendo do contexto bíblico. No versículo 19, de Gálatas 3, Paulo faz referência ao Antigo Testamento, onde o termo hebraico correspondente é אֱלֹהִים (elohim). Este termo hebraico pode ser traduzido de várias maneiras, como “deuses”, “anjos”, “nobres”, “juízes”, “poderosos”, “governantes” e outros.

Quando o Senhor desceu sobre o monte Sinai em fogo e como Moisés via a “semelhança do Senhor”, uma teofania pode ter ocorrido. Compreende-se que Moisés, como mediador, recebeu a lei pela mão de אֱלֹהִים (elohim), que pode ser considerado um hebraísmo, indicando uma manifestação divina em forma de anjo ou mensageiro.

Em suma, Moisés foi estabelecido como mediador no processo de entrega da lei ao povo, pois o povo não confiou em Deus para ouvi-Lo diretamente.

 

20 Ora, o medianeiro não o é de um só, mas Deus é um.

O apóstolo Paulo argumenta que não há somente um medianeiro, somente um Deus. Deus é um só tanto na Antiga como na Nova aliança, mas agora com a Nova Aliança, há um mediador superior.

Com a vinda de Cristo, mudou-se o mediador ( Hb 12:24 ). Enquanto Moisés “…foi fiel em toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar” ( Hb 3:5 ), (o que se havia de anunciar é o evangelho de Cristo), ele entregou ao povo a lei (aio), que teve a função de conduzir o povo a Cristo, porém, o povo estava assombrado com a visão do monte Sinai ardente, com as tempestades, com as trevas e o ressoar das buzinas ( Hb 12:18 -21).

 

O apóstolo Paulo argumenta que não há somente um medianeiro, mas somente um Deus. Deus é único tanto na Antiga quanto na Nova Aliança, porém, com a vinda de Cristo, há um mediador superior (Hebreus 12:24).

Enquanto Moisés foi fiel como servo em toda a casa de Deus, testemunhando das coisas que seriam anunciadas (Hebreus 3:5) — o evangelho de Cristo — ele entregou a lei ao povo de Israel como um “aio”, cuja função era conduzi-los a Cristo. No entanto, o povo somente ficou atemorizado diante da visão do monte Sinai em chamas, das tempestades, das trevas e do som das buzinas (Hebreus 12:18-21).

Cristo é o mediador entre Deus e os homens, proporcionando acesso ao Pai. Através dele, os homens se aproximam de Deus e têm entrada na Jerusalém Celestial. Os crentes se tornam parte da assembleia universal e da igreja dos primogênitos que ressuscitaram com Cristo dentre os mortos e estão inscritos nos céus (Hebreus 12:22-28).

 

21 Logo, a lei é contra as promessas de Deus? De nenhuma sorte; porque, se fosse dada uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei.

O apóstolo Paulo espera que seus leitores reconheçam que a lei não invalida a promessa de Deus, pois ela veio depois da promessa. A promessa é firmemente estabelecida por Deus e não depende das obras humanas. A lei, sendo posterior à promessa, apenas evidencia a incapacidade humana de alcançar a justiça divina. Tudo o que a lei exige esbarra na incapacidade do homem em cumpri-la.

É importante observar que o propósito da promessa está intimamente ligado à justiça e à vivificação em Deus (Isaías 57:15). A lei não pode realizar isso pelo homem, uma vez que é o homem quem deve obedecê-la.

Os cristãos têm a promessa de Deus de que, através da fé no evangelho, Ele concede vida e justificação, pois “o justo viverá pela fé”. Primeiramente, o homem recebe a vida que Deus lhe concede, e então é declarado justo — este é o cerne da doutrina da justificação.

 

A escritura, a lei e a fé

22 Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes.

Na época em que o apóstolo Paulo escreveu esta carta, os evangelhos e as cartas dos apóstolos ainda não eram considerados como parte definida das Escrituras, como são reconhecidos hoje. Ele faz referência principalmente ao Antigo Testamento, que inclui a Lei, os Profetas e os Salmos.

Paulo argumenta que a Lei como parte das Escrituras encerra tudo debaixo do pecado, indicando que ela não faz exceções para os judeus. Isso significa que a Lei não isenta os judeus da condição de pecadores; pelo contrário, ela revela a universalidade do pecado, abrangendo tanto judeus quanto gentios.

“Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus. Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado.” (Romanos 3:19).

O apóstolo destaca a Escritura porque os Salmos fazem parte dela, e os Salmos não excluem os judeus ao tratar do pecado. Essa inclusão demonstra que todos, tanto judeus quanto gentios, estão sob o reconhecimento da realidade do pecado conforme revelado nas Escrituras.

“Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus.” (Romanos 3:9-11).

O apóstolo Paulo argumenta que a Escritura (a lei) mostrou claramente que todos (judeus e gentios) estão debaixo do pecado e, portanto, necessitados da promessa que vem pela fé em Jesus Cristo. Quanto à promessa feita a Abraão em Gênesis 12:3, de que em sua descendência seriam benditas todas as famílias da terra, isso indica que antes da vinda do Descendente (Cristo), todos estavam de fato sob a maldição do pecado. A promessa é concedida aos que creem em Cristo, pois é pela fé que os crentes são livres da maldição do pecado e se tornam benditos como Abraão, conforme está escrito em Gênesis 22:18.

Portanto, Paulo argumenta que a lei (Escritura) revela a condição de pecado de todos os homens, incluindo os judeus, e que a promessa de bênção é realizada através da fé em Cristo, não pela observância da lei.

Ao aprouver a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação, segue-se que a promessa pela fé em Cristo foi concedida aos crentes (1 Coríntios 1:21). Para aqueles que creem, a mensagem considerada loucura é o poder de Deus para a salvação para os crentes, de modo que a salvação é operada através de uma mensagem que roga por reconciliação, e não por uma deliberação com base na soberania ou presciência divina (Romanos 1:16).

“De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus.” (2 Coríntios 5:20).

 

23 Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar.

Antes de Cristo se manifestar, os homens de Israel estavam sob a guarda do curador, que é a lei. No entanto, não deveriam confiar no tutor (lei) para receber a herança (justificação), mas sim crer na palavra de Deus, como fez o crente Abraão, aguardando o tempo determinado pelo Pai e confiando na promessa do Descendente.

A promessa seria cumprida na plenitude dos tempos com a vinda do Descendente, que é Cristo, não sendo a lei o meio para isso, mas sim o instrumento para conduzi-los a Cristo.

Agora, na plenitude dos tempos, Cristo foi revelado aos homens, a graça de Deus foi concedida por meio do evangelho. Portanto, o homem não pode permanecer sob a lei; ele deve agora aceitar o que foi proposto pelo evangelho que foi anunciado ao crente Abraão.

Observe a relação entre a ‘fé que havia de vir’ e a ‘fé que havia de se manifestar’. A ‘fé que se manifestou’ é Cristo, o Descendente, em quem Abraão creu. E a ‘fé que havia de vir’ refere-se à verdade do evangelho (Gálatas 3:23).

 

24 De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados.

O apóstolo Paulo demonstra a utilidade da lei: ela serve para conduzir os homens a Jesus, aquele que tem o poder de justificá-los.

Pela fé em Cristo, o homem é justificado, e a função da lei deixa de existir (Hebreus 7:18). Não é mais necessário ser guiado pelo ‘aio’, uma vez que já se alcançou, pela fé, o Descendente (Romanos 10:4).

Através da lei no Éden que declara: ‘certamente morrerás’, o homem conheceu o pecado. O termo ‘conhecer’ implica estar intimamente ligado a algo, e o homem, ao pecar, passou a estar unido ao pecado (Romanos 3:23). Pela lei de Moisés, os filhos de Israel deveriam tomar consciência de sua condição diante de Deus, pois ela revelou que todos estavam debaixo do pecado (Gálatas 3:22).

O homem é levado a Cristo de modo que, ao crer nele, é justificado. O homem é justificado por meio de Cristo, a fé que havia de vir.

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” (Efésios 2:8).

 

25 Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio.

Após a chegada da fé, representada pelo evangelho de Cristo, não há mais lugar para a lei, uma vez que a fé promove a promessa que precedeu a lei.

É importante observar que o evangelho foi anunciado primeiramente a Abraão (Gálatas 3:8). Com a vinda de Cristo, o autor e consumador da fé, a graça de Deus se manifestou a todos os homens. Cristo foi revelado a todas as nações para que obedecessem ao evangelho da fé, como está escrito:

“Mas que agora foi manifestado e, pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, foi dado a conhecer a todas as nações para obediência da fé.” (Romanos 16:26).

O apóstolo Paulo passa a descrever a nova condição dos cristãos ao afirmar que “… já não estamos debaixo de aio” (Gálatas 3:25). Tanto Paulo quanto os cristãos de Galácia deveriam reconhecer que não precisam mais da lei.

 

26 Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus.

Este verso complementa o anterior: “Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio, porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo” (Gálatas 3:25). O versículo 26 explica por que os cristãos não estão mais debaixo da lei.

Os judaizantes acreditavam que alcançavam a filiação divina por serem descendentes de Abraão e que a entrega da lei os distinguia diante de Deus, ou que Deus os favorecia em relação aos gentios.

O apóstolo Paulo enfatiza que a lei não tem mais lugar na vida dos cristãos, pois todos são filhos de Deus ao estarem unidos ao Descendente (Cristo) de Abraão. Em Cristo, os cristãos são qualificados para participar da herança dos santos e não precisam mais de um tutor como a lei (Colossenses 1:12).

Mesmo depois de Abraão ter sido justificado por Deus através da fé, seus descendentes segundo a carne não eram automaticamente filhos de Deus. Eles continuaram a ser gerados segundo a carne, pela vontade humana e não pela vontade de Deus (João 1:13), portanto, os descendentes de Abraão não são filhos de Deus por nascimento natural.

A promessa de se tornar filho de Deus só se tornou possível através do Descendente, que é Cristo. Somente Ele pode conduzir muitos filhos a Deus. Por meio de Cristo, o autor e consumador da fé, o homem alcança a filiação divina.

 

27 Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo.

O apóstolo Paulo destaca que o batismo na morte de Cristo equivale a se revestir d’Ele. Todos os cristãos já passaram pelo batismo na morte de Cristo, e o apóstolo dos gentios lembra o significado desse batismo (Romanos 6:3).

Como os cristãos foram batizados? Foi ao crerem em Cristo e ao se conformarem com Ele na Sua morte, ou seja, foram sepultados com Cristo. Ao se tornarem participantes da Sua morte e ressurreição, os cristãos emergem com Cristo como novas criaturas para a glória de Deus Pai.

Primeiramente, o homem precisa ser sepultado com Cristo (o batismo em águas simboliza essa realidade), para então se revestir d’Ele, ou seja, alcançar a plenitude n’Ele ao ressurgir dentre os mortos (Colossenses 2:10; João 1:16).

Como se alcança a filiação? É através da morte e ressurreição com Cristo. O cristão morre e ressuscita com Cristo para a glória de Deus Pai. É gerado de novo da semente incorruptível, a palavra de Deus.

Se o cristão foi batizado, é porque morreu para aquilo que o aprisionava: a lei. Ao morrer, o cristão não está mais sujeito ao que o retinha: o pecado (Romanos 7:6).

A força do pecado está na lei, que declara: “Certamente morrerás” (Gênesis 2:17). Por isso, o homem precisa morrer com Cristo, pois aquele que morreu está justificado (livre) do pecado (Romanos 6:7). A morte é o aguilhão do pecado, mas ao morrer com Cristo, o homem recebe uma nova vida, sendo libertado da condição pertinente ao velho homem.

“Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei” (1 Coríntios 15:56).

Ao se revestir de Cristo, o cristão não mais pertence ao pecado, mas agora pertence a Cristo, o Senhor!

 

28 Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.

Quando alguém se reveste de Cristo, passa a fazer parte do corpo de Cristo, que é a igreja. A Bíblia ensina que há um só corpo (a igreja) e um só Espírito (o evangelho) (Efésios 4:4).

As distinções estabelecidas pela lei não têm lugar diante da promessa, que é anterior à lei. Em Cristo, não há mais diferenças entre homem e mulher, escravo e livre, judeu e gentio, e assim por diante. Todos os cristãos formam um único corpo em Cristo.

Os cristãos são identificados como:

  • Templo e morada do Espírito Santo;
  • Um corpo unido em Cristo;
  • Participantes do mesmo pão;
  • Filhos de Deus;
  • Herdeiros das promessas divinas;
  • Capacitados a receber e desfrutar da herança celestial;
  • Luz;
  • Sacerdócio real;
  • Pedras vivas, formando o edifício espiritual da igreja;
  • Etc.

29 E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.

Os cristãos alcançaram a filiação divina não por meio da descendência física de Abraão, mas sim pela união com Cristo (Romanos 9:8; Gálatas 3:26). Segundo a promessa de Deus, os cristãos são herdeiros dele. Por pertencerem ao Descendente (Cristo), os cristãos são considerados filhos de Abraão, herdeiros conforme a promessa (Efésios 1:11, 14).

Existem três aspectos importantes para os cristãos:

  • Eles pertencem a Cristo, sendo propriedade exclusiva de Deus (1 Pedro 2:9).
  • Cristo é o Descendente, e os cristãos, ao nascerem de novo, tornam-se descendentes de Abraão espiritualmente. Não são filhos por laços de sangue, mas pela semente incorruptível (a promessa de Deus), que os gerou para uma nova esperança viva (João 1:12-13).
  • Em Cristo, os cristãos receberam a herança como herdeiros (Colossenses 1:12).

Quando a Bíblia fala que os cristãos obtiveram herança, refere-se às garantias que Deus concede a todos os que creem em Cristo. Este direito não se trata de bens materiais, mas da herança dos santos na luz (Colossenses 1:12), que são bênçãos espirituais e eternas. As bênçãos recebidas pelos cristãos estão enumeradas em Efésios 1:3, onde o apóstolo Paulo afirma que receberam “todas” as bênçãos espirituais.

Portanto, não é correto pensar que os cristãos podem exigir ou devem buscar bens materiais de Deus por se considerarem filhos. As promessas de Deus estão centradas em bênçãos eternas e espirituais, não em riquezas terrenas.

 

Gálatas 4 – A plenitude dos tempos

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

One thought on “Gálatas 3 – Os filhos de Abraão

  • Excelente comentário, transparente. Segurança para todo estudante que queira tirar dúvidas sobre o obedecer e viver em função da Lei, ou obedecer ao Evangelho da Graça.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *