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A parábola do credor incompassivo

Através da parábola do Credor incompassivo é possível compreender a importância da comunhão dos membros do corpo de Cristo, que é a igreja.


A parábola do credor incompassivo

“Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos; E, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos; E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse. Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves. Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara. Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.” (Mateus 18.23-35).

 

Introdução

A interpretação da parábola do ‘credor incompassivo’ é completamente distinta da parábola do ‘Samaritano compassivo. Enquanto a parábola do credor incompassivo tinha por objetivo conscientizar os discípulos sobre o dever de perdoar os irmãos, a parábola do Samaritano compassivo tinha por objetivo corrigir a má leitura que certo mestre da lei fazia da Escritura.

“Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete. Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos;” (Mateus 18.21-23);

“E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? (…) Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.” (Lucas 10.25 e 29-30).

A parábola do ‘Credor incompassivo’ é prescritiva de comportamento aos discípulos de Jesus, diferentemente da parábola do ‘Samaritano compassivo’, cujo objetivo era corrigir o doutor da lei, que ao tentar se justificar, perguntou quem seria o próximo.

A má compreensão da parábola do ‘Samaritano compassivo’ fez surgir uma grande massa de cristãos preocupados e socorrer pobres, desvalidos, sem tetos, famintos, etc., mas a parábola prescritiva de comportamento, a do ‘Credor incompassivo’ não surte o mesmo efeito, visto a gama de cristãos que não perdoam os seus irmãos em Cristo.

 

Devemos perdoar quantas vezes?

É interessante notar que em Mateus 18, versículo 17, Jesus utilizou pela segunda vez o termo grego ἐκκλησία (ekklésia). A primeira vez que o termo ekklésia foi utilizado por Jesus, foi quando Ele declarou que edificaria a sua igreja.

“Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela;” (Mateus 16.18).

O que seria a igreja de Cristo?

O apóstolo Paulo define a igreja como o corpo de Cristo, e Cristo é apresentado como a cabeça da igreja.

“E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja,” (Efésios 1.22; Colossenses 1.18).

Os cristãos são o corpo de Cristo, entretanto, individualmente são membros uns dos outros.

“Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros.” (Romanos 12.5).

Isto significa dizer que, a igreja é uma assembleia constituída de iguais, assim como eram as assembleias dos gregos. É por isso que o apóstolo Paulo destacou em suas cartas que, em Cristo, todos os cristãos eram filhos de Deus por causa do evangelho, de modo que no corpo de Cristo não havia grego, judeu, circuncisão, incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre.

“Onde não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos.” (Colossenses 3.11);

“Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito.” (1 Coríntios 12.13);

“Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3.28).

Após instruir os discípulos acerca de como repreender um irmão que cometeu um erro (Mateus 18.15), Jesus deixa claro que se trata de um erro que surgiu dentre os membros da sua igreja, ao recomendar que, caso o repreendido na presença de duas testemunhas não acatar a instrução, que o considere como um gentio e publicano (Mateus 18.17).

“Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe.” (Lucas 17.3).

Após essa instrução, Simão Pedro fez a seguinte pergunta:

“Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?”

O discípulo Pedro queria saber qual o limite de perdões a ser dispensado para o irmão que comete vários erros. Na concepção de Simão, sete seria um limite razoável a se perdoar.

A resposta de Jesus extrapolou a medida razoável de Pedro!

“Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.” (Mateus 18.22).

Através do ensinamento de Jesus, Pedro tinha que olhar para si mesmo e, sem se preocupar com a disposição do irmão, obedecer. Simão Pedro, por sua vez, considerou a displicência do irmão, e assim, queria um limite palpável de vezes para perdoar.

Se houver arrependimento por parte do irmão quando repreendido, perdoe.

“Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe.” (Lucas 17.3).

 

A parábola do Credor incompassivo

O Senhor Jesus estabelece um comparativo entre o reino dos céus e um certo rei que cobra a dívida de seus servos. Ao começar a cobrança, foi lhe apresentado um dos servos que devia dez mil talentos (Mateus 18.24). Como esse servo não dispunha de meios para quitar a dívida, o rei de determinou que aquele servo, bem como esposa, filhos e tudo que dispunha, fossem vendidos para que a dívida fosse paga (Mateus 18.25).

O servo, por sua vez, ajoelhou-se perante o rei, e reverenciando, clamou: – ‘Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei’ (Mateus 18.26). O rei, movido de compaixão, soltou o servo e perdoou-lhe a dívida.

O servo que foi solto e que estava livre da dívida, ao encontrar um dos seus conservos que devia cem talentos, lançou mão do devedor e, sufocando-o, exigiu que a dívida fosse paga (Mateus 18.28). O devedor do servo que teve a dívida perdoada, prostrou-se ao pé do companheiro, e implorou: – ‘Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.’ (Mateus 18.29).

O Servo incompassivo não se condoeu da condição do seu companheiro, e o encerrou na prisão até que pagasse a dívida (Mateus 18.30). Os outros conservos ao ver o que acontecerá, se entristeceram, e anunciaram ao rei o que o servo incompassivo fizera (Mateus 18.31).

O rei mandou chamar o Credor incompassivo, e disse:

‘Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?’ (Mateus 18.32-33).

O rei, indignado com o servo malvado, o entregou aos atormentadores, até que tudo o que devia fosse pago.

 

Aplicação prática da parábola do Credor incompassivo

Da parábola narrada por Jesus aos seus discípulos, a suma é:

“Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.” (Mateus 18.35).

Considerando que cada cristão individualmente é membro um dos outros, e que a igreja é o corpo de Cristo (Efésios 1.22; Colossenses 1.18; Romanos 12.5), para preservação e crescimento da igreja é imprescindível aos cristãos que perdoem cada qual a seu irmão as ofensas.

Esse ensinamento de Jesus é direcionado a todos os seus discípulos! As ofensas que devem ser perdoadas não dizem de questões financeiras, como apresentado na parábola, e sim, de todas as questões possíveis e imagináveis que pode tolher a comunhão entre os membros do corpo de Cristo.

É importante frisar que a salvação se dá por meio do evangelho de Cristo (Efésios 1.13), e que o perdão dos pecados se dá somente pela pregação da fé. Isso significa que a salvação não se dá quando perdoamos as ofensas dos irmãos. É antibíblico afirmar que o perdão é a chave que abre as portas do reino dos céus, visto que Cristo é a porta pela qual os homens devem entrar e o único caminho que conduz o homem a Deus.

“Filhinhos, escrevo-vos, porque pelo seu nome vos são perdoados os pecados.” (1 João 2.12).

A certeza de salvação está no espírito que Deus nos concedeu, ou seja, o evangelho de Cristo.

“E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento. E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós, pelo Espírito que nos tem dado.” (1 João 3.23-24);

“Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito.” (1 Coríntios 12.13);

Nos dois versos acima, o termo ‘espírito’ tem o significado de evangelho, mensagem, querigma, como se verifica nos versos a seguir:

“Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis.” (2 Coríntios 11.4);

“AMADOS, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo.” (1 João 4.1-3);

“Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro.” (I João 4.6).

Há quem diga que a parábola do Credor incompassivo ensina que só é possível experimentar a certeza do perdão dos pecados por Deus, se o cristão estiver disposto a perdoar as ofensas dos outros. Tal posicionamento é um engodo, pois não é o que diz a parábola.

Se a salvação se dá por intermédio de Cristo, por que será punido o cristão que não perdoar de coração o seu irmão?

A parábola do Credor incompassível visa a comunhão dos membros da igreja de Cristo. A salvação é por meio da pregação da fé, mas a comunhão entre os irmãos só é possível quando o crente discerne o corpo de Cristo.

Essa temática é abordada pelo apóstolo Paulo ao escrever aos cristãos de Corintos, quando ele destaca os elementos da ceia do Senhor. O cálice de vinho quando servido na ceia após ser abençoado pelos cristãos, representa a comunhão do sangue de Cristo. E o pão que é partido após ser abençoado pelos cristãos, representa a comunhão do corpo de Cristo (1 Coríntios 10.16).

O cálice representa o sangue do Novo Testamento que foi derramado por muitos para remissão dos pecados (Mateus 26.28), o pão, por sua vez, representa o corpo de Cristo (Mateus 26.26). Com base no ensinamento de Jesus (1 Coríntios 11.23-25), o apóstolo Paulo destaca que, apesar de os cristãos serem muitos, são um só pão e um só corpo, visto que todos participam do mesmo pão.

“Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão.” (1 Coríntios 10.17).

Ora, quem não compreende (discerne) no que consiste o corpo de Cristo, come do pão e bebe do cálice indignamente, e por esse motivo será culpado do corpo e do sangue de Cristo. Deste modo, cada qual deve examinar a si mesmo, e verificar se compreende que todos que creem em Cristo são membros do corpo de Cristo, e assim coma do pão e beba do cálice.

“Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do SENHOR.” (1 Coríntios 11.27-29).

Ser digno ou indigno de ser participante do cálice e do pão tem relação com a compreensão do corpo de Cristo. Se o cristão não compreender que o corpo de Cristo é uma assembleia de iguais, ou seja, que ser judeu, grego, servo, livre, rico, pobre, homem, mulher, etc., são diferenças que não são levadas em conta quando se tem bebido do espírito de Cristo (1 Coríntios 12.13).

O crente tem que reverenciar o seu irmão em Cristo, e não o pão, que o representa. Ao ter o irmão em alta conta, honramos o sangue da Nova Aliança.

“Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.” (Filipenses 2.3).

Em benefício da igreja, o corpo de Cristo, o amor e o perdão deve ser a base da relação entre os cristãos:

“Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.” (Efésios 4.32);

“Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também.” (Colossenses 3.13).

Jesus ensinou que, caso o teu irmão te ofender, repreende-o em particular. Se ele aquiescer a repreensão, conquistou o teu irmão. Se o teu irmão não ouvir, por precaução, leve consigo duas testemunhas e o repreenda novamente, e se não te atender, notifica o ocorrido à igreja.

Por que notificar o ocorrido à igreja? Porque a proposta da reconciliação entre os membros do corpo é a comunhão. A proposta é sempre ganhar o irmão, e não o rechaçar. Ao final, a solução da questão é da igreja, pois se não escutar a igreja, que todos o considerem como um gentio e publicano.

“Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano.” (Mateus 18.15-17).

Sobre as demandas que surgem entre os cristãos, ensinou o apóstolo Paulo:

“OUSA algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos? Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, pondes para julgá-los os que são de menos estima na igreja? Para vos envergonhar o digo. Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos? Mas o irmão vai a juízo com o irmão, e isto perante infiéis. Na verdade é já realmente uma falta entre vós, terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano? Mas vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano, e isto aos irmãos.” (1 Coríntios 6.1-8).

O apóstolo Paulo assevera que já é uma falta um cristão ter demandas contra o seu irmão em Cristo, e ele sugere que, melhor é sofrer o dano ou a injustiça. Mas, o que se via na igreja de Coríntios eram demandas uns contra os outros, e faziam injustiça e causavam dano aos irmãos.

A essência da parábola do Credor incompassivo pouco é apregoada nas igrejas, tanto que o que mais se vê nos dias atuais é o aumento de demandas na justiça pleiteadas por cristãos contra cristãos.

Em nossos dias pouco se anuncia acerca do cuidado para com a igreja de Deus.

“Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus.” (1 Coríntios 10.32).

O que Jesus ordenou à sua igreja é posto de lado, mas o que foi ensinado a um mestre da lei, o que não falta é pregações, parábolas, teatro, representação, danças, etc., sobre o Samaritano compassivo.

A parábola do Samaritano compassivo foi contada para alguém que perguntou: – ‘Quem é o meu próximo’, tentando se justificar diante de Cristo. Mas, muitos a leem como se, através da parábola, Jesus ordenou expressamente aos cristãos saírem às ruas das cidades recolhendo mendigos, bêbados, famintos, marginalizados, dementes, etc., mas, quando se deparam com a parábola do Credor incompassivo, veem somente um símile de menor importância, visto que perdoar o irmão em Cristo tornou-se um peso a muitos cristãos.

 

A parábola do Credor incompassivo e a parábola do Sermão do monte

No Sermão da montanha Jesus apresenta aos seus interlocutores, os judeus, o espírito inatingível da lei para que aceitasse a Cristo como o enviado de Deus.

Da mesma forma que Nicodemos, um rabino e fariseu, precisava nascer de novo para poder entrar no reino dos céus, à multidão precisava de uma justiça que fosse superior à dos seus mestres, os escribas e fariseus, pois também estava vetado à multidão o reino dos céus.

“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” (Mateus 5.20).

Para demonstrar que a multidão estava perdida, Jesus cita vários pontos da lei, como o homicídio, adultério, perjúrio, etc., evidenciado que, por mais que procurassem a justiça decorrente da lei, jamais estariam à altura da exigência divina.

Para a multidão compreender que o objetivo da lei era conduzir o homem a Cristo, vez que os seus mestres não se utilizavam da lei de modo legítimo (Romanos 10.4; 1 Timóteo 1.7-10), Jesus destacou trechos da lei, como: ‘Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.’ (Mateus 5.43), e em seguida, determinou:

“Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos (Mateus 5.44-45).

Por que Jesus dá essa ordem à multidão? Para destacar que tudo o que a multidão fazia em conformidade com a lei não tornava a tornava melhores que os publicanos e pecadores, pois tudo os ouvintes de Jesus fazia, que era amar os que os amavam e saudar os seus irmãos segundo a carne, os publicanos e pecadores faziam igualmente.

“Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?” (Mateus 5.46-47).

Se a multidão queria entrar no reino dos céus, que fizessem ações meritórias superior à dos escribas e fariseus, de modo que, se estava escrito ‘olho por olho, dente por dente’, quem não resistissem os seus opositores, sendo que quando ferido em uma face, que dessem a outra (Mateus 5.38-39).

Se a multidão queria seguir a lei e os profetas, que fizessem aos outros tudo o desejassem que os outros lhes fizesse (Mateus 7.12), mas se queriam justiça maior que a dos escribas e fariseus (Mateus 5.20), precisavam entrar pela porta estreita.

“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” (Mateus 7.13-14).

A grande parábola do Sermão da montanha tinha por objetivo causa uma mudança de pensamento (arrependimento) na multidão, de modo que deixassem de acreditar que eram salvos por descenderem da carne de Abraão, e que por isso lhes fora dada a lei.

“Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado;” (Romanos 3.9).

Sabemos por meio do evangelho que só são feitos filhos de Deus aqueles que creem que Jesus é o Cristo, e que nada alcança quem dá ambas as faces a ser esbofeteada. Deus exalta os que se humilham debaixo das potentes mãos de Deus, ou seja, que é humilhado com bofetadas em ambas as faces não será exaltado.

“E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado.” (Mateus 23.12).

Essa introdução se faz necessário por causa do que Jesus disse logo após a oração do Pai nosso:

“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas.” (Mateus 6.14-15).

A parábola do Credor incompassivo, que tem por alvo a igreja, Jesus ordena que os cristãos perdoem as ofensas dos irmãos. Diferentemente, a observação que Jesus faz logo após a oração do Pai nosso, tem por alvo a multidão constituída de judeus, que por terem sido conquistados pelos gentios, jamais perdoariam os romanos, gregos, medos, persas, babilônios, etc.

Se queriam ser salvos, os judeus tinham que fazer algo diferente dos demais homens, que eram considerados por eles como pecadores, e, por isso mesmo, deveriam perdoá-los. Mas, há uma porta e um caminho – Cristo – cuja justiça é proveniente de Deus, portanto, uma justiça superior à dos escribas e fariseus.

“Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus.” (Romanos 10.3).

Para os cristãos, a recomendação paulina é:

“Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens.” (Romanos 12.18).

 Mas, com relação aos irmãos, membros do corpo de Cristo, a ordem é:

“Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe.” (Lucas 17.3);

“Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (Efésios 4.32).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

2 thoughts on “A parábola do credor incompassivo

  • Discordo da parte em que vc fala que o cristão pode experimentar o real perdão de Deus mesmo não perdoando os outros, Deus só irá nos perdoar de verdade se perdoarmos de verdade.

    Resposta
    • Olá Everton..

      Perdoar uma ofensa é próprio aos homens. Se perdoarem a ofensa de um semelhante, isso não dá direito a salvação. Só crendo em Cristo somos agraciados com o perdão divino. É possível crer em Cristo e não perdoar o outro. Por isso o apóstolo Paulo recomenda suportar uns aos outros.

      Att

      Resposta

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