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Ao ler a parábola do samaritano, temos que nos deparar com a misericórdia de Deus, e não com questões de ordem humanitária.


A parábola do viajante samaritano

“E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.” (Lucas 10:25-37).

 

Introdução

A parábola do samaritano indulgente que socorre um homem desconhecido caído à beira do caminho tem por objetivo corrigir a interpretação que certo mestre do judaísmo fazia da lei mosaica.

A parábola foi contada por Jesus com um único objetivo: desconstruir a má leitura que o mestre da lei fazia da Escritura, e que, naquele evento, estava induzindo o Mestre dos mestres a cair nalguma contradição a respeito das inúmeras questões da lei (Lucas 10.25).

Jesus não procurou estabelecer através da parábola do samaritano um modo de vida ou de comportamento que fosse a marca registrada dos seus seguidores, de modo que, é um desserviço ao evangelho compreender a parábola como prescrição de práticas assistencialistas, ou que Jesus estivesse implantando um movimento humanitário de socorro aos viajantes que sofressem algum revés durante uma viagem.

Qualquer leitura da parábola que seja prescritiva de comportamento é distorção da ideia apresentada por Jesus, pois ao final da parábola restou uma lição ao mestre da lei, a mesma recomendada aos escribas e fariseus:

“Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento.”  (Mateus 9.13).

É comum os pregadores citarem a parábola do samaritano recriminando uma mentalidade egoísta, de alguém que lança mão do que pertence ao outro sem se ressentir. Nesse diapasão, também utilizam a parábola para denunciar a religiosidade hipócrita, apontando para aqueles que se dizem religiosos, mas que não se importam com as mazelas dos outros.

Seria essa a abordagem de Jesus? Não!

O objetivo deste artigo é evidenciar a questão maior que se deve responder através da parábola do samaritano. Ao final, faremos a mesma pergunta que Jesus fez ao doutor da lei:

“Que está escrito na lei? Como lês?”, ou seja, como você entende? Como você interpreta e compreende a lei?

Nesse sentido, há uma grande diferença em como se lê a parábola do samaritano caridoso, da mesma forma que há uma grande diferença em como se lê e interpreta a lei.

 

O teste do doutor da lei

“E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (Lucas 10:25).

O doutor da lei procurou ‘experimentar’ o conhecimento de Jesus para apanhá-Lo em alguma contradição. Lisonjeiro, tratou Jesus como se fosse alguém em pé de igualdade: – ‘Mestre’. O doutor da lei, ao utilizar o adjetivo ‘mestre’, deu a entender: De mestre para mestre, que farei para herdar a vida eterna?

A resposta que esperava ouvir, era: – ‘Nada’! Ou, que fosse inquirido: – ‘Você é descendente de hebreu, de uma das tribos de Israel e circuncidado ao oitavo dia, és um legitimo filho de Abraão, portanto, não precisa fazer mais nada’.

Qualquer mestre em Israel seria categórico: – ‘Se você tem por pai Abraão, já é herdeiro da vida eterna’! Os doutores da lei em Israel presumiam de si mesmos que eram salvos por terem Abraão por pai.

“E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Mateus 3.9).

Se Jesus respondesse segundo o que o mestre da lei queria ouvir, cairia na tentação, pois a resposta não seria segundo a reta justiça, ou seja, segundo a Escritura. Jesus seria louvado pelo mestre da lei e rejeitado pelo Pai.

“Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça.” (João 7.24).

Perceba que, mesmo sabendo que Jesus não aceitava a aparência das pessoas, os religiosos judeus tentavam pegar Jesus nalguma contradição enfatizando essa verdade:

“E, observando-o, mandaram espias, que se fingissem justos, para o apanharem nalguma palavra, e o entregarem à jurisdição e poder do presidente. E perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, nós sabemos que falas e ensinas bem e retamente, e que não consideras a aparência da pessoa, mas ensinas com verdade o caminho de Deus.” (Lucas 20.20-21).

Sobre os religiosos judeus, o apóstolo Paulo fez o seguinte comentário aos cristãos da Galácia:

“E, quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais tenham sido noutro tempo, não se me dá; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicaram;” (Gálatas 2.6).

Observe que, para não serem perseguidos, muitos falsos cristãos buscavam evidenciar ‘boa aparência na carne’, ou seja, impor a circuncisão aos cristãos para não serem perseguidos por causa do evangelho.

“Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo.” (Gálatas 6.12).

O mestre da lei pensava de si mesmo que, por ser nascido de hebreus, pertencer a umas das tribos de Israel e ter sido circuncidado segundo a lei de Moisés, estava de posse de todos os elementos imprescindíveis à salvação, e que por isso seria louvado por Jesus. Estava completamente engando!

Não são os filhos da carne de Abraão que são os filhos de Abraão, e sim, o que tem a mesma fé de Abraão.

“Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência.” (Romanos 9.7-8);

“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo.” (Gálatas 3.16).

A promessa que Deus fez a Abraão no Gênesis dizia da descendência de Abraão, mas o mestre da lei interpretava a passagem como se a promessa se referia às descendências de Abraão, como se Deus falasse de muitas, porém, a Escritura tratava de Cristo, o descendente prometido.

 

A pergunta de Jesus

“E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?” (Lucas 10.26).

A pergunta de Jesus desconstrói a tentativa do mestre da lei de pegá-Lo nalguma contradição. O mestre da lei deve ter se questionado, como aquele homem se atrevia a perguntar algo acerca da lei. Temos que lembrar que os doutores da lei consideravam a multidão maldita, pois consideravam que os homens comuns do povo desconheciam as questões afetas a lei.

“Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita.” (João 7.49).

Jesus tira o mestre da lei do campo das lisonjas e passa a tratar da reta justiça: a Escritura! Neste ponto Jesus evidencia duas questões importantíssimas a todo leitor da Escritura:

a) O que está escrito?

b) Como lês?

É necessário saber o que está registrado na Escritura e, ao mesmo tempo, saber interpretar o que está escrito. A resposta do mestre da lei evidencia que ele sabia o que estava escrito:

“E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.” (Lucas 10.27).

É uma habilidade maravilhosa decorar passagens da Escritura, no entanto, saber de cor não é o mesmo que saber interpretar. O mestre da lei citou Êxodo e Levítico, combinando as duas passagens:

Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças.” (Deuteronômio 6.5);

“Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR.” (Levítico 19.18).

Ao combinar as duas passagens, o mestre da lei demonstrou perspicácia, e exibiu o conhecimento adquirido ao longo de uma carreira acadêmica.

Aquele mestre se encaixa na seguinte descrição do apóstolo Paulo:

“Eis que tu que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; E sabes a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei; E confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, instrutor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei;” (Romanos 2.17-20).

A pergunta de Jesus evitou responder o mestre da lei segundo a perspectiva judaica, pois se Jesus passasse a analisar a genealogia do seu interlocutor e as inúmeras questões entorno da lei, tornar-se-ia semelhante a ele. Quando Jesus pergunta acerca da Escritura, corrige o foco do diálogo, demonstrando que a palavra de Deus é de suma importância, e que o seu interlocutor era sábio aos seus próprios olhos.

“Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia; para que também não te faças semelhante a ele. Responde ao tolo segundo a sua estultícia, para que o tolo não seja sábio aos seus próprios olhos.” (Provérbios 26.4-5).

Como a estultice do mestre da lei decorria de má leitura da lei, ao ser instado a cumpri o que acabara de citar, teve uma resposta segundo a sua estultice, e ao questionar quem era o seu próximo na tentativa de se justificar, ficou evidente que se julgava sábio aos seus próprios olhos.

Após recitador a lei, Jesus parabeniza o mestre da lei, e recomenda que ele a pratique, para que pudesse obter vida.

“E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.” (Lucas 10.28).

A resposta estava certíssima, porém, faltava ao mestre da lei cumpri-la. Com essa resposta, Jesus declara abertamente que o mestre da lei não era salvo, antes estava morto em delitos e pecados (Efésios 2.1).

Do mesmo modo que Nicodemos precisava nascer de novo, aquele mestre da lei tinha que nascer de novo (João 3.3). Do mesmo modo que a multidão do Sermão da Montanha tinha que entrar pela porta estreita, aquele mestre da lei tinha que entrar pela porta estreita (Mateus 7.13).

Para alguém que achava que era salvo por ser descendente da carne de Abraão, a resposta de Jesus foi contundente: – ‘De fato você não é herdeiro da vida eterna, mas se deseja ser herdeiro da vida eterna, terá que obedecer ao que Deus ordenou’!

Sobre os judeus, deixou registrado o apóstolo Paulo:

“Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.” (Romanos 2.13).

Os judeus eram bons ouvintes da lei, mas Deus protestou contra eles, dizendo que não cumpriam o determinado:

“E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza. E eis que tu és para eles como uma canção de amores, de quem tem voz suave, e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra.” (Ezequiel 33.31-32).

O temor que os filhos de Israel seguiam não passava de mandamentos de homens, coisas aprendidas por rotina:

“Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;” (Isaías 29.13).

Jesus declarou ao mestre da lei somente o que constava da lei:

“Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis; os quais, observando-os o homem, viverá por eles. Eu sou o SENHOR.” (Levítico 18.5);

“E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem.” (Deuteronômio 8.3);

“E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.” (Lucas 10.28).

Qual o propósito de Deus em ter dado a lei por intermédio de Moisés, se os judeus entendiam que eram os herdeiros da promessa feita a Abraão? Se os judeus tinham por pai Abraão, e por isso se entendiam salvos, por que lhes foi dada a lei?

Através da lei dada a Moisés, ninguém seria justificado, pois ela foi dada sob maldição:

“Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.” (Gálatas 3.10).

O justo vive em função da palavra de Deus, e por isso é dito: o justo viverá da fé. A lei não tem a mesma natureza da fé, pois enquanto esta decorre da promessa, bastando o homem crer na palavra anunciada, aquela exige que o homem faça tudo o que está estabelecido para que possa alcançar vida.

“Ora, a lei não é da fé; mas o homem, que fizer estas coisas, por elas viverá.” (Gálatas 3.12).

A palavra da fé é promessa divina, pois é Ele quem disse a Abraão, em ti serão benditas todas as famílias da terra, para que por meio de Cristo, o Descendente prometido, os homens alcançassem a bem-aventurança da vida eterna. Mas, como os interpretes de Israel prevaricaram na sua atribuição, visto que entenderam que eram benditos por descenderem da carne de Abraão, a lei foi dada como aio até que viesse a posteridade, a quem a promessa foi feita:

“Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgressões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido feita; e foi posta pelos anjos na mão de um medianeiro.” (Gálatas 3.19).

Mesmo sendo descendentes de Abraão, Deus acusa os filhos de Israel de rebeldes, declarando-os como uma mancha, e não filhos (Deuteronômio 32.5-6). Quando lhes foi dada a lei, os filhos de Israel deveriam considerar que eram iguais aos gentios, pecadores, pois o propósito da lei é disciplinar os injustos e obstinados. Mesmo sendo alertados de que não eram melhores que as nações que seriam expulsas da terra prometida, os filhos de Israel continuaram apegados a ideia de que eram justos por descenderem da carne de Abraão e entraram na terra da promessa.

“Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente; Sabendo isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas, para os devassos, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina, conforme o evangelho da glória de Deus bem-aventurado, que me foi confiado.” (1 Timóteo 1.8-11);

“Quando, pois, o SENHOR teu Deus os lançar fora de diante de ti, não fales no teu coração, dizendo: Por causa da minha justiça é que o SENHOR me trouxe a esta terra para a possuir; porque pela impiedade destas nações é que o SENHOR as lança fora de diante de ti. Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela impiedade destas nações o SENHOR teu Deus as lança fora, de diante de ti, e para confirmar a palavra que o SENHOR jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó.” (Deuteronômio 9.4-5).

Os filhos de Israel não eram justos quando entraram na terra prometida, antes Deus só estava cumprindo a promessa feita a Abraão, mas eles continuaram apegados ao erro de que entraram na terra prometida por serem justos e melhores que os povos ao redor.

 

Justiça própria

“Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?” (Lucas 10.29).

O mestre da lei se aproximou de Jesus para tenta-Lo, buscando fazer com que o Mestre dos mestres caísse nalguma contradição. Mas, o posicionamento de Jesus acabou com a estratégia do doutor da lei, visto que Jesus enfatizou que não bastava conhecer os mandamentos, antes que era necessário cumprir a lei se quisesse obter vida eterna.

Jesus elogiou o mestre da lei pelo seu conhecimento, e ao mesmo tempo, enfatiza que o mestre da lei precisava de salvação:

“E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.” (Lucas 10.28).

O mestre da lei, procurando justificar-se a si mesmo, fez uma pergunta a Jesus: – “E quem é o meu próximo?”, dando a entender que, se faltava cumprir algum quesito da lei, seria com relação ao amor ao próximo, vez que, na sua perspectiva, amava a Deus de todo o coração, alma, forças e entendimento.

O posicionamento do mestre da lei se assemelha ao do jovem rico, que diante da ordem para guardar os mandamentos para entrar na vida, disse que guardava todos os mandamentos desde a mocidade, e resoluto, questionou: que me falta ainda?

“Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?” (Mateus 19.20).

Ao questionar: que é o meu próximo, o mestre da lei estava relutante em aceitar que não cumpria os mandamentos. Se havia algo a cumprir, talvez com relação ao próximo, pois para com Deus, o mestre da lei se achava justificado.

Um vislumbre da oração do mestre da lei se assemelharia a oração do fariseu que foi ao templo orar, mas que não foi justificado:

“O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo. “ (Lucas 18.11-12).

 

A parábola do samaritano indulgente

Ao tentar justificar a si mesmo com a pergunta: ‘- Quem é o meu próximo?’, Jesus contou ao mestre da lei uma pequena parábola:

“E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.” (Lucas 10.30-35).

A parábola possui quatro personagens principais, fora os salteadores e um hospedeiro de uma estalagem.

Dois dos personagens são identificados pela função que exerciam na religião judaica: sacerdote e levita, sendo ambos da tribo de Levi e descendentes de Arão, e o terceiro apresentado pela sua nacionalidade: um samaritano. Estranhamente, o quarto personagem da parábola é descrito somente como um homem, sem qualquer referência a sua nacionalidade ou oficio.

A narrativa é enigmática quanto diz: ‘Descia um homem de Jerusalém para Jericó…’ (Lucas 10.30), pois como é desconhecida a nacionalidade e o oficio do homem que descia de Jerusalém para Jericó, poderia ser de qualquer nacionalidade.

Seria um Romano? Um grego? Um Bárbaro? Um Judeu? Etc. Não é possível determinar se este homem era de Jerusalém ou de Jericó, mesmo que a distância entre as cidades seja, aproximadamente, 27 quilômetros uma da outra.

O homem não era um viajante como o samaritano, antes descia de Jerusalém para Jericó, mas mesmo assim, é impossível determinar a nacionalidade do homem.

Em dado momento, o homem foi atacado por salteadores, que além de roubarem, espancaram, deixando-o desfalecido à beira da morte.

Por acaso, um sacerdote fez o mesmo caminho, e ao avistar aquele homem caído e a beira da morte, passou de largo. Um levita, de igual modo, passou pelo homem desfalecido, e passou de largo. Mas, um samaritano que estava de viagem, ao avistar o moribundo, se compadeceu daquele homem. O samaritano se aproximou do homem caído, atou as feridas, tratou com azeite e vinho, e após colocá-lo sobre a sua cavalgadura, conduzi-o até uma estalagem e cuidou dele.

No outro dia, antes de partir, o samaritano deu dois dinheiros ao hospedeiro, e determinou que cuidasse daquele homem, e se houvesse um gasto maior, quando voltasse, pagaria o que fosse gasto.

Neste ponto da parábola, temos que nos questionar: Jesus estava estabelecendo que os seus seguidores têm que acolher os pobres, os feridos, os estrangeiros, os marginalizados, etc., que vivem ao derredor?

Qual a questão maior da parábola? Se desvencilhar do egoísmo?

Não! Definitivamente este não é o objetivo da parábola, antes ela foi contada com o fito de demonstrar o quão equivocado estava o mestre da lei ao tentar justificar a si mesmo com a pergunta: – ‘Quem é o meu próximo’?

De nada adiantava não matar, não roubar, não furtar, etc., se o mestre da lei nem mesmo sabia quem era o seu próximo, visto que quem disse: – ‘Não matarás’, também disse: – ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’.

“Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos. Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei.” (Tiago 2.10-11).

Após contar a parábola, Jesus interpela o mestre da lei:

“Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” (Lucas 10.36).

A resposta torna-se obvia com a ilustração, de modo que o mestre da lei não teve como considerar a origem dos atores da parábola, se eram judeus, samaritanos, gregos, romanos, bárbaros, etc., e sim, que a questão do próximo foi determinada pela ação do samaritano em socorrer aquele homem desconhecido.

Quem é o próximo daquele que foi roubado e espancado pelos salteadores?

“E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele.” (Lucas 10.37).

Ao tentar justificar a si mesmo com a pergunta: – ‘Quem é o meu próximo?’, o mestre da lei acabou descobrindo que qualquer homem, independentemente de suas origens, se judeu ou gentio, é o próximo de quem usa de misericórdia. O mestre da lei não devia se preocupar com quem era o seu próximo, e sim, em usar de misericórdia.

 

A misericórdia devida

“Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.” (Lucas 10.37).

Que contraditório! O mestre da lei tentou Jesus com a pergunta: ‘Mestre, que farei para herdar a vida eterna’?, convencido que Jesus iria reputá-lo como herdeiro da vida eterna por ser descendente da carne de Abraão, portanto, distinto dos demais homens, pobres pecadores.

Após o debate com Jesus, acabou por descobrir que para alcançar o direito à vida eterna tinha que obedecer a lei, que consistia em amar a Deus e ao próximo como a si mesmo, próximo este que podia ser qualquer homem.

Será que considerar os outros homens como pecadores, e se convencer que era justo e melhor que os demais homens somente por descender da carne de Abraão, era amar o próximo?

Quando Jesus ordena: – ‘Vai, e faze da mesma maneira’, não estava ordenando ao mestre da lei a sair recolhendo pessoas moribundas caídas à beira dos caminhos, antes ao considerar que era melhor que os demais homens, não usava de misericórdia, portanto, era reprovável diante da lei, e não tinha direito a vida eterna.

Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela impiedade destas nações o SENHOR teu Deus as lança fora, de diante de ti, e para confirmar a palavra que o SENHOR jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó.” (Deuteronômio 9.5).

Se o mestre da lei amava os seus concidadãos mais que os demais homens, e se refugiava no argumento de que amava a Deus, na verdade não amava a Deus, pois fazia distinção entre os homens, considerando os judeus superiores aos demais.

Ora, pela Escritura certo era que a salvação viria dos judeus, mas isso não significava que os demais homens para serem salvos tinham que ser prosélitos (João 4.22).

Se o mestre da lei queria amar o próximo como a si mesmo, primeiro tinha que amar a Deus de todo o coração, alma, força e entendimento, e só então estaria apto a exercer misericórdia ao próximo.

Deus falou aos filhos de Israel por intermédio do cântico de Moisés, que a Sua doutrina tinha que ser gotejada como a chuva e destilada como o orvalho, como o chuvisco sobre a erva e como gostas de água sobre a relva. Os filhos de Israel obedeceram ao ide de Deus? Não! Antes se fecharam em si mesmos, alegando que somente os descendentes da carne de Abraão eram salvos, sendo que a salvação está na palavra de Deus.

“INCLINAI os ouvidos, ó céus, e falarei; e ouça a terra as palavras da minha boca. Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva.” (Deuteronômio 32.1-2).

Mesmo quando os profetas passaram a anunciar que toda carne é erva, ou seja, que não havia diferença entre judeus e gentios, os interpretes de Israel continuaram equivocados, e negavam aos povos a misericórdia de Deus.

“Uma voz diz: Clama; e alguém disse: Que hei de clamar? Toda a carne é erva e toda a sua beleza como a flor do campo. Seca-se a erva, e cai a flor, soprando nela o Espírito do SENHOR. Na verdade o povo é erva. Seca-se a erva, e cai a flor, porém a palavra de nosso Deus subsiste eternamente.” (Isaías 40.6-8).

A palavra de Deus destinava-se a toda carne, sem distinção alguma. É por isso que Deus prometeu derramar do seu espírito sobre toda carne, de modo que qualquer que invocar o nome do Senhor será salvo.

“E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões (…) E há de ser que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como disse o SENHOR, e entre os sobreviventes, aqueles que o SENHOR chamar.” (Joel 2.28-32).

A questão levantada pelo mestre da lei tinha a vida eterna como tema, e a resposta de Jesus não fugiu do tema abordado. Ao ler a parábola, se faz necessário considerar que proposta de Cristo tem por alvo a salvação, que decorre da misericórdia de Deus.

A premissa em questão é: Deus é misericordioso com qualquer que O ama, ou seja, com qualquer que guardar os seus mandamentos.

“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.” (Êxodo 20.6).

A misericórdia de Deus não é dispensada a um povo em particular, e sim, a milhares dos que O amam. Como amar a Deus? Sujeitando-se a Ele na condição de servo.

A questão em debate é a salvação, e por isso Jesus já havia ordenado aos escribas e fariseus, amigos do mestre da lei, que fosse e aprendessem o significado de: ‘Misericórdia quero, e não sacrifícios’.

“Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento.” (Mateus 9.12.13);

“Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos.” (Oseias 6.6).

A missão de Jesus não foi promover o assistencialismo, e sim, a salvação. Ao ler a parábola do samaritano, temos que nos deparar com a misericórdia de Deus, e não com questões de ordem humanitária.

Não se pode ler a Escritura e compreende-la segundo parâmetros humanos. O mestre da lei por diversas vezes leu o profeta Isaías, por causa da sua formação, mas não atentava para o protesto divino, que dizia:

“Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa misericórdia é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa. Por isso os abati pelos profetas; pelas palavras da minha boca os matei; e os teus juízos sairão como a luz, porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos. Mas eles transgrediram a aliança, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim.” (Oseias 6.4-7).

Jesus foi enviado para redimir os pecadores, mas como os transgressores de Israel seriam salvos, se por serem descendentes da carne de Abraão se reputavam justos? Qual seria a misericórdia dos filhos de Israel que é passageira como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada que rapidamente se extingue?

O termo do aramaico traduzido por misericórdia é חסד (checed), e no grego βηθεσδα (Betesda), que significa bondade, benignidade, fidelidade, ou reprovação e vergonha.

Quando Deus diz: ‘misericórdia quero’, a ordem deriva do que foi anunciado por intermédio de Moisés: “E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.” (Êxodo 20.6). Se Deus faz misericórdia aos que O amam, ou seja, aos que guardam o seu mandamento, certo é que a misericórdia que Deus quer é que O obedeçam.

Daí o trocadilho: ‘terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia’ (Êxodo 33.19), ou seja, Deus tem misericórdia dos que O amam, e jamais terá misericórdia dos desobedientes.

“Saberás, pois, que o SENHOR teu Deus, ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos. E retribui no rosto qualquer dos que o odeiam, fazendo-o perecer; não será tardio ao que o odeia; em seu rosto lho pagará. Guarda, pois, os mandamentos e os estatutos e os juízos que hoje te mando cumprir.” (Deuteronômio 7.9-11).

O termo ‘amor’ e ‘ódio’ nos versos acima está para obedecer e desobedecer, respectivamente, da mesma forma que foi utilizado na parábola dos dois senhores:

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.”  (Mateus 6.24).

Quando ordenou: – ‘Vai, e faze o mesmo’, Jesus estava dando a entender ao mestre da lei que, para ser salvo, ele precisava obedecer a Deus, guardando os seus mandamentos e estatutos que foram ordenados.

Mas, se o mestre da lei persistisse em se auto justificar, só restava a ele o seguinte veredicto:

“AI dos filhos rebeldes, diz o SENHOR, que tomam conselho, mas não de mim; e que se cobrem, com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado;” (Isaías 30.1).

Sob a Antiga Aliança, ninguém seria salvo através das obras da lei, e por isso, os filhos de Israel para serem salvo, tinham que crer na palavra de Deus como fez Abraão, que ao ser ordenado que sacrificasse o seu único filho, creu que Deus era poderoso para trazer dos mortos o seu único filho com Sara, Isaque, por causa da promessa que dizia: em Isaque será chamada a tua descendência. Se Isaque ainda não era a descendência, antes, em Isaque seria chamada a descendência, em quem seriam benditas todas as famílias da terra, creu Abraão em Deus e não se fez de rogado, pois fiel é o que prometeu e poderoso para realizar.

Quando é dito ‘pela fé’, deve-se ler: ‘pela palavra de Deus’, pois o justo viverá da fé, ou seja, da palavra de Deus. Quando é dito: “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque”, devemos entender que, pela palavra que disse: ‘Em Isaque será chamada a sua descendência’, ofereceu Abraão a Isaque:

“Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito.  Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar; E daí também em figura ele o recobrou.” (Hebreus 11.17-19).

“Porém Deus disse a Abraão: Não te pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a tua descendência. (Gênesis 21.12).

“O qual, em esperança, creu contra a esperança, tanto que ele tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência. E não enfraquecendo na fé, não atentou para o seu próprio corpo já amortecido, pois era já de quase cem anos, nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara. E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus, e estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso para o fazer. Assim isso lhe foi também imputado como justiça.” (Romanos 4.18-22).

Fortificar-se na fé é buscar forças na palavra de Deus. Por isso é dito que o homem é justificado pela fé, ou seja, pela palavra de Deus. O mérito da justificação não estava em Abraão que creu, e sim, na palavra de Deus, que é fiel e firme, de modo que Deus é justo e justificador dos que acreditam n’Ele.

“Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.”  (Romanos 3.26).

Jesus poderia ter se apresentado ao mestre da lei como o Descendente prometido, assim como fez com a mulher samaritana (João 4.26), caso Ele tivesse a mesma crença que a mulher samaritana:

“A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo.” (João 4.25).

Mas, como o mestre da lei estava focado em se auto promover e se auto justificar, Jesus teve que respondê-lo segundo a sua estultícia:

“Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia; para que também não te faças semelhante a ele. Responde ao tolo segundo a sua estultícia, para que o tolo não seja sábio aos seus próprios olhos.”  (Provérbios 26.4-5).

Diante da pergunta do mestre da lei, Jesus indagou: – “Que está escrito na lei? Como lês?”, ou seja, como está escrito, como você interpreta e compreende a lei? De igual modo, devemos nos questionar: ‘O que está escrito na parábola do samaritano, como você interpreta e como se compreende a parábola’? A boa interpretação faz toda diferença!

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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