Justificação

Como ultrapassar a justiça dos fariseus

Considerando a fala de Jesus no Sermão da Montanha, como o povo judeu poderia alcançar uma justiça superior à dos fariseus, se os fariseus baseavam suas práticas no que a religião judaica apresentava como melhor? Como alguém do povo, frequentemente rotulado como “multidão maldita” pelos líderes da religião judaica, seria capaz de obter uma justiça superior à de um fariseu como Saulo, que vivia rigorosamente de acordo com os preceitos da mais severa seita do judaísmo?


Como ultrapassar a justiça dos fariseus

“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20).

Introdução

Como exceder a justiça dos escribas e fariseus, se os escribas e fariseus eram considerados justos aos olhos do povo? (Atos 26:5) Como o povo da época de Cristo poderia adquirir uma justiça superior à dos escribas e fariseus, se estes eram referências de moralidade, religiosidade e serviço a Deus?

Observe o que um fariseu disse enquanto orava:

“Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo” (Lucas 18:11-12).

Um jovem príncipe judeu, ao ser questionado sobre os mandamentos, disse:

“Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?” (Mateus 19:20).

Acerca dos fariseus, Jesus disse:

“Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens…” (Mateus 23:28).

Considerando a fala de Jesus no Sermão da Montanha, como o povo judeu poderia alcançar uma justiça superior à dos fariseus, se os fariseus baseavam suas práticas no que a religião judaica apresentava como melhor? Como alguém do povo, frequentemente rotulado como “multidão maldita” pelos líderes da religião judaica, seria capaz de obter uma justiça superior à de um fariseu como Saulo, que vivia rigorosamente de acordo com os preceitos da mais severa seita do judaísmo?

“Sabendo de mim desde o princípio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu” (Atos 26:5);

“Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita” (João 7:49).

Considerando o alerta de Jesus: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20), como adquirir uma justiça maior que a dos fariseus, se suas práticas, como jejuns, orações, sacrifícios, dízimos, moral, comportamento, religiosidade e nacionalidade, não lhes garantiram o direito de entrar no reino dos céus?

Para alcançar uma justiça superior, seria suficiente redobrar as práticas dos escribas e fariseus? Aumentar a frequência dos jejuns, das orações, dos sacrifícios e dos dízimos proporcionaria uma justiça superior?

 

O povo e os fariseus

Aos olhos do povo, os escribas e fariseus eram considerados justos. Entretanto, apesar de sua conduta social ilibada, Jesus deixa claro que o reino dos céus estava vetado aos fariseus e escribas.

“Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade” (Mateus 23:28);

“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20).

Ao demonstrar que o reino dos céus estava vetado aos escribas e fariseus e exigir do povo uma justiça superior à dos mestres em Israel, Jesus, de modo polido, estava dando a entender aos seus ouvintes que tanto eles quanto os escribas e fariseus estavam destituídos do reino dos céus.

Se os fariseus não podiam entrar no céu, o que seria do povo? E, pior ainda, como e onde obteriam uma justiça superior? O que era necessário fazer para ter direito a entrar no reino dos céus? Ser descendente de Abraão não bastava? Ser israelita, prosélito, circuncidado, dizimista, guardar o sábado, ir ao templo e sacrificar, etc., não era suficiente?

 

O que fazer?

Para compreendermos o que Jesus exigiu do povo no Sermão da Montanha, é de grande ajuda comparar Mateus 5, verso 20, com João 3, verso 3:

“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20), e

“Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (João 3:3).

Escolhemos João 3, verso 3, para comparar com Mateus 5, verso 20 por causa da parte ‘b’ dos dois versículos:

“… de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20);

“… não pode ver o reino de Deus” (João 3:3).

Através dos dois versos, verifica-se que, para entrar no reino dos céus, é necessário:

a) nascer de novo, e/ou;

b) obter uma justiça que exceda a dos escribas e fariseus.

 

Como nascer de novo?

O apóstolo João deixa claro que todos os que creem em Cristo recebem poder para serem feitos (criados) filhos de Deus (João 1:12). Ora, para receber esse poder é imprescindível crer que o Filho do Homem, Jesus de Nazaré, desceu do céu (João 3:13).

Crer em Cristo como o Verbo que se fez carne é o mesmo que recebê-Lo: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” (João 1:12). Que ‘poder’ é concedido aos que creem? O poder é o evangelho, como diz o apóstolo Paulo:

“Não me envergonho do evangelho, que é poder de Deus” (Romanos 1:16).

Recebe a Cristo quem crê que o Filho do Homem tinha que ser crucificado (João 3:14); recebe quem crê nas palavras proferidas pelo Filho do Homem (João 3:15); recebe quem crê que Deus entregou o seu Filho Unigênito (João 3:16); recebe quem crê que o Filho do Homem foi entregue para salvar o mundo, e não para condená-lo (João 3:17); recebe a Cristo quem crê que a condenação é rejeitar Cristo (João 3:18); e recebe a Cristo quem crê que praticar a verdade é o mesmo que estar em Cristo (João 3:19).

Sobre esta verdade, disse o apóstolo Paulo:

“Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio. Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo” (Gálatas 3:25 -27).

Uma análise apurada demonstra que, para nascer de novo, é necessário crer na mensagem do evangelho, as boas novas anunciadas por Cristo, que é semente incorruptível e poder de Deus (1 Pedro 1:3 e 23). Não basta crer em milagres, no impossível, ou mesmo em Deus; é imprescindível crer em Cristo como o enviado de Deus que tira o pecado do mundo (João 14:1 e 11; Tiago 2:19).

 

Como alcançar justiça superior a dos escribas e fariseus?

Jesus orientou seus ouvintes a buscarem o reino de Deus e a justiça proveniente desse reino: “Mas buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33). Ora, sabemos que Cristo é o reino de Deus entre os homens (Lucas 11:9-10, 20-21).

Certa vez, a multidão perguntou acerca da obra de Deus, e Jesus respondeu: “A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” (João 6:29). Qualquer que crê no enviado de Deus realiza a obra de Deus, de modo que excede a justiça dos escribas e fariseus.

“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20).

Diante da pergunta: “Creu nele porventura algum dos principais ou dos fariseus?” (João 7:48), tem-se a resposta: não! Ora, se não creram no enviado de Deus, certamente não executaram a obra exigida; se não ‘buscaram’ o reino de Deus, consequentemente não alcançaram a justiça que vem do alto.

Com base na obra exigida por Deus, que é crer em Cristo, verifica-se que ser justo não decorre de ações tais como não roubar, furtar, adulterar, matar, etc., mas sim da condição própria dos filhos de Deus.

“O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano” (Lucas 18:11);

“Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tito 3:5).

A obra exigida por Deus não se refere às obras da lei, mas sim à obra da fé: crer no enviado de Deus (Gálatas 3:2). As obras que os fariseus realizavam baseavam-se em preceitos de homens, portanto, jamais entrariam no reino dos céus.

“Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mateus 15:8).

Com base nos versos que analisamos, verifica-se que:

– Para nascer de novo é necessário crer em Cristo.
– Crer em Cristo é a obra exigida por Deus.
– Quem crê executa uma obra maior do que a dos escribas e fariseus, alcançando assim uma justiça superior.

O advento do novo nascimento é o que estabelece uma justiça superior à dos escribas e fariseus, e ter uma justiça superior à dos escribas e fariseus só é possível para aqueles que nascerem de novo. Todos os que são gerados de novo pela fé em Cristo são criados em verdadeira justiça e santidade (Efésios 4:24).

Quem crê em Cristo possui a mesma fé que o crente Abraão, que, após ouvir a promessa, creu que em seu Descendente todas as famílias da terra seriam abençoadas (Gálatas 3:8). Quem crê em Cristo está em posse da mesma ‘fé’ que Abraão e, portanto, é recebido como filho de Abraão por crer em Cristo.

“E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa” (Gálatas 3:29).

Crer em Cristo é alcançar o reino dos céus e sua justiça. A justiça do reino de Deus é superior, pois é de origem celestial.(Mateus 7:33).

 

A justiça nos Salmos

Onde o homem buscará justiça?

O homem buscará justiça na mão direita de Deus, que está plena de justiça. Tudo o que foi dito pelos profetas sobre Deus, o homem encontra em Cristo.

“Como ouvimos, assim o vimos na cidade do SENHOR dos Exércitos, na cidade do nosso Deus. Deus a confirmará para sempre” (Salmos 48:8).

O salmista profetizou que tudo o que ouviram, assim viram na cidade de Jerusalém. O evangelista João confirma isso quando diz:

“O QUE era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida” (1 João 1:1).

Cristo se apresentou diante da multidão com as mãos repletas de justiça, pois veio e cumpriu o que foi ordenado pelo Pai (Salmo 48:11). Ele enfatizou ser o completo cumprimento do que foi predito, sendo a realização plena da lei (Mateus 5:17-18).

Existe uma má interpretação das palavras de Jesus quando ele disse que veio cumprir a lei. Muitos entendem que Jesus veio cumprir o sábado, a circuncisão, os jejuns, as luas novas, as festas, e assim por diante. No entanto, a interpretação correta é que Ele é o cumprimento total da lei e dos profetas. Em Cristo, tudo foi cumprido, até o menor detalhe. Embora Jesus se associasse com pecadores e cobradores de impostos, não jejuasse como os fariseus, nem guardasse o sábado como seus compatriotas, Ele era a personificação da lei e dos profetas (Mateus 9:14; João 9:16).

Por fim, o salmista profetiza que Cristo será o guia daqueles que nele confiam até a morte: “Porque este Deus é o nosso Deus para sempre; ele será nosso guia até à morte” (Salmo 48:14). Como? Jesus não veio para livrar o homem da morte? Não seria mais apropriado um guia que livrasse o homem da morte?

Não! Na verdade, para que a justiça de Deus fosse estabelecida, é necessário que o devedor receba o seu prêmio: a morte. Deus estabeleceu: “A alma que pecar, essa mesma morrerá”, de modo que a pena não ultrapasse a pessoa do transgressor (Ezequiel 18:4).

Devido a esse obstáculo, Jesus convida os homens a assumirem sua própria cruz e segui-lo. Todo aquele que crê em Cristo toma sua cruz; quem crê segue após Cristo, sendo crucificado e morto. Cristo enfrentou a morte física como o Cordeiro de Deus, em lugar de todos os pecadores. No entanto, todos os que creem morrem com Ele para que a justiça de Deus seja estabelecida. Somente então, um novo homem é criado, ressurgindo como uma nova criatura.

“Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados” (1 Pedro 2:24).

Quando o homem morre com Cristo, Deus é justo. Quando o homem ressurge dentre os mortos, Deus é justificador, pois declara aquele que ressurgiu com Cristo como justo. O homem regenerado é proclamado justo porque foi recriado participante da natureza divina: justo (1 Pedro 1:4). Apenas os nascidos de Deus são justos e praticam a justiça. Praticar a justiça é característica dos nascidos de Deus, assim como pecar é próprio dos escravos do pecado.

“Se sabeis que ele é justo, sabeis que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele” (1 João 2:29).

Apenas aqueles que se aproximam de Cristo (a luz) praticam a verdade. Como é a obra de Deus fazer o homem crer em Cristo, a obra de quem crê é realizada em Deus. Aquele que crê professa a verdade do evangelho, de modo que suas obras são evidentes.

“Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (João 3:21).

Confessar que Jesus de Nazaré é o Cristo de Deus, tendo a certeza de que Deus o ressuscitou dentre os mortos, é o artigo de fé pelo qual o homem é salvo. Aquele que crê nesta verdade alcança a justiça, e sua boca revela a obra realizada por Deus.

“A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido” (Romanos 10:9-11).

 

Para saber mais:

A justiça do Reino de Deus

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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