Evangelho Mateus

O Sermão da Montanha e o espírito inatingível da lei

A expressão ‘os tristes’ bem-aventurados não possui relação com o sentimento de desilusão frente aos infortúnios da vida e nem decorre  das emoções em ebulição a que todos homens estão sujeitos. Os ‘tristes’ é figura que compõe um quadro profético, e possui conexão com o advento do Messias, que, segundo o profeta Isaías, foi ungido para apregoar boas novas nos seguintes termos: a tristeza substituída por glória, gozo e louvor, com o objetivo de Deus ser glorificado.


As Bem-aventuranças – Parte I

“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e dos fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20)

Como compreender o Sermão da Montanha? Nele, Jesus apresenta princípios éticos e morais[1] do seu reino? O núcleo da mensagem do Sermão da Montanha é de cunho sociocultural? Além dos mandamentos cunhados na lei mosaica, Jesus apresentou novos mandamentos?

Antes de explicarmos algumas nuances pertinentes ao ensino de Cristo à multidão, primeiro faremos análise de alguns textos, que são essenciais à leitura do Sermão da Montanha.

Essa análise é imprescindível à leitura do Sermão da Montanha, vez que trará o conhecimento essencial de algumas peculiaridades pertinentes às Escrituras, que possibilitam a compreensão do discurso de Jesus à multidão.

 

Parábolas

Uma característica intrínseca à mensagem anunciada pelos profetas da Antiga Aliança era as visões, as parábolas e os enigmas: “Falei aos profetas e multipliquei a visão; e pelo ministério dos profetas propus símiles” (Os 12:10).

Os profetas anunciavam visões, propunham parábolas ou apresentavam enigmas, pelo fato de Deus não falar abertamente ao povo. Moisés era exceção à regra, visto que, nem mesmo os profetas, tinham o privilégio de falar cara a cara, boca a boca com Deus, a não ser por sonhos: “Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do SENHOR; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés?” (Nm 12:8).

Nas Escrituras, encontramos alguns profetas que foram taxados pelo povo de contadores de parábolas, entretanto, os profetas se resignavam em falar estritamente o que Deus ordenou: “Então disse eu: Ah! Senhor DEUS! Eles dizem de mim: Não é este um proferidor de parábolas?” (Ez 20:4); “Filho do homem, propõe um enigma e profere uma parábola para com a casa de Israel” (Ez 17:2).

Deus falou, muitas vezes, ao povo de Israel, utilizando-se dos seus mensageiros, e, na plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho Unigênito para anunciar aos homens as boas novas (Hb 1:1-2), porém, algo não mudou: assim como os profetas da Antiga Aliança, Jesus falou ao povo utilizando parábolas: “E falou-lhe de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear” (Mt 13:3).

Por que Jesus falava por parábolas? Uma das pistas é o anunciado pelos profetas:

“Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem” (Mt 13:13).

Falar à multidão por parábolas é uma das características mais importantes a se observar nos discursos de Jesus. O evangelista Marcos é contundente: Jesus só falava ao povo por parábolas! Esta observação do evangelista nos obriga a analisar com cuidado todos os discursos de Jesus, principalmente, quando identificamos o público alvo da mensagem: “E sem parábolas nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos seus discípulos” (Mc 4:34).

Se o discurso de Jesus tem como público a multidão, os escribas ou os fariseus, provavelmente, haverá uma parábola ou um enigma a ser interpretado.

Se o discurso tem os discípulos como público alvo, faz-se necessário analisar se Jesus falou abertamente ou expôs uma parábola: “E ele disse-lhes: a vós vos é dado saber os mistérios do reino de Deus, mas aos que estão de fora, todas estas coisas se dizem por parábolas” (Mc 4:11).

Para fixar o que foi exposto, faça a seguinte análise: leia o capítulo 13 de Mateus, analise a mensagem de Jesus e qual era o público alvo. O discurso é uma parábola? Jesus estava falando com os discípulos, os escribas, os fariseus, os pecadores, a multidão? Seria possível compreender a mensagem de Jesus, sem a explicação que foi dada em particular aos discípulos?

O evangelista Mateus, assim como Marcos, deixou registrado que Jesus nada dizia à multidão, sem fazer uso de parábolas e, em seguida, apresenta o motivo: “Tudo isto disse Jesus, por parábolas à multidão e nada lhes falava sem parábolas. Para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta, que disse: Abrirei em parábolas a minha boca; Publicarei coisas ocultas, desde a fundação do mundo” (Mt 13:34-35); “Abrirei a minha boca numa parábola; falarei enigmas da antiguidade” (Sl 78:2); “Inclinarei os meus ouvidos a uma parábola; declararei o meu enigma na harpa” (Sl 49:4).

Através da explicação do evangelista Mateus, conclui-se que o Salmo 78 não se refere ao salmista, antes que o Salmo é uma predição que aponta para o Messias. O salmista predisse que o Messias abriria a boca propondo parábolas e enigmas: “Abrirei a minha boca numa parábola; falarei enigmas da antiguidade” (Sl 78:2 compare com Mt 13:35).

Atentar para o público alvo da mensagem é de tamanha importância para a compreensão da mensagem, que até os discípulos questionaram se a mensagem era para todos, ou só para eles: “E disse-lhe Pedro: Senhor, dizes essa parábola a nós, ou também a todos?” (Lc 12:41).

Diante do que foi exposto, o leitor deve considerar se o que foi dito no Sermão da Montanha é um discurso ‘aberto’, ou se o discurso é uma grande parábola composta de enigmas e símiles, tendo em vista o público alvo tratar-se de uma multidão.

Certa vez, Deus mandou Moisés reunir os filhos de Israel ao pé do Monte Sinai para quando Deus falasse com Moisés, eles também pudessem ouvir. Quando o povo viu o monte fumegando, trovões e relâmpagos, se retiram do local onde deviam ficar reunidos e disseram a Moisés: “Fala tu conosco e ouviremos: e não fale Deus conosco, para que não morramos” (Ex 20:18-21).

O povo ficou com medo de morrer quando vislumbraram a glória do Altíssimo, evidenciando o quanto eram rebeldes, incrédulos e descrentes. Tremenda injustiça não confiar naquele que é imutável e que não mente, ao que Moisés disse: “Não temais, Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, afim de que não pequeis” (Ex 20:20).

Deus se relaciona com o homem através da sua fidelidade, e o homem pela confiança, portanto, não pode ter medo de Deus. Deus somente estava colocando eles à prova, para apresentar a sua palavra (temor) para que não pecassem contra o Senhor.

O contexto da lei era para instruir o povo judeu em justiça, mas, dali em diante, Deus continuou enviando os seus santos profetas que utilizavam parábolas e enigmas. Jesus veio com o mesmo propósito: revelar Deus aos homens, por isso utilizou as mesmas figuras e parábolas anunciadas pelos profetas.

As parábolas e os enigmas serviam para facilitar a compreensão, mas os filhos de Israel rejeitavam a doutrina de Jesus “E com muitas parábolas tais lhes dirigia a palavra, segundo o que podiam compreender” (Mc 4:33).

Portanto, para uma boa interpretação do Sermão da Montanha é imprescindível essa análise inicial!

 

Divisões e títulos

As Bíblias oferecem o recurso de divisões em capítulos e versículos para facilitar a localização e citação de determinadas passagens, desde o Século XIII[2]. Embora úteis à localização e indicação de uma citação, não faz parte do original, portanto, o leitor não pode se pautar nessas divisões e subdivisões para determinar quando inicia ou encerra um assunto ou argumento.

Hoje, além das divisões em capítulo e versículo, introduziram títulos e subtítulos que, invariavelmente, influencia a leitura, ou acaba sugerindo ao leitor uma mudança de assunto ou desmembramento do discurso.

O palavra de Jesus no Sermão da Montanha é una e coesa, com começo meio e fim. Com a introdução de divisões, subdivisões, títulos e subtítulos, a ideia inicial que se tem é de que se trata de um discurso fragmentado, que aborda diversos temas, portanto, sem coesão.

A concepção de que Jesus aborda diversas questões ao longo do Sermão da Montanha é totalmente perniciosa para uma boa interpretação do discurso.

 

As bem-aventuranças

“1 E JESUS, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;

2 E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:

3 Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;

4 Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;

5 Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;

6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;

7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;

8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;

9 Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;

10 Bem-aventurados os que sofrem perseguição, por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;

11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa.

12 Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas, que foram antes de vós” (Mateus 5:1-12).

 

Após subir em um monte, por causa da multidão, Jesus assentou-se –  ação que indicou a todos que iria ensinar – quando se aproximaram dele os seus discípulos (Lc 4:20).

Jesus iniciou o seu discurso apresentando nove características essenciais aos bem-aventurados: pobres de espírito, tristes, mansos, famintos e sedentos de justiça, misericordiosos, puros de coração, pacificadores, perseguidos por causa da justiça e injuriados (Mt 5:3-11).

Todas estas características decorrem de parábolas e figuras utilizadas pelos profetas do Antigo Testamento, portanto, registradas nas Escrituras, ou seja, Jesus não inventou nenhuma delas.

‘Pobre de espírito’ é uma figura que remete a uma peculiaridade do bem-aventurado, assim como triste, manso, faminto e sedento de justiça, etc. É impossível ser manso e não ser pacificador. As peculiaridades do bem-aventurado são indissociáveis, pois os pobres de espírito também são identificados como aqueles que choram, ou que tem sede e fome de justiça, ou por serem puros de coração, ou por serem mansos, etc.

Considerando alguns aspectos do ministério de Jesus e o que foi anunciado pelos profetas, conclui-se que as bem-aventuranças anunciadas não visavam questões de cunho social. É um equívoco considerar que a bem-aventurança anunciada por Jesus, visava alcançar os pobres e marginalizados do seu tempo.

Quando Jesus anunciou as Bem-aventuranças, na verdade estava fazendo referência às profecias incrustadas nas Escrituras, ou seja, utilizou alguns elementos principais das profecias, como sujeito da promessa, para fazer o povo lembrar das promessas que apontavam um tempo de refrigério pela presença do Messias (At 3:19-20).

Como Deus anunciou a Abraão, que, em sua descendência, seriam benditas todas as famílias da terra (At 3:25), e essa promessa foi reiterada diversas vezes pelos profetas, e foram utilizados diversos recursos como figuras, parábolas, enigmas, símiles, etc., portanto, uma simples referência fez com que o povo se lembrasse das beatitudes decorrentes da presença do Cristo.

A abordagem de Cristo no Sermão da Montanha não possui viés socioeconômico ou de reestruturação política, pois a bem-aventurança anunciada no discurso decorre da promessa feita a Abraão, que Deus cumpriu quando ressuscitou o Senhor Jesus Cristo dentre os mortos.

 

Quem são os pobres de espírito?

“Porque a minha mão fez todas estas coisas e assim todas elas foram feitas, diz o SENHOR; mas para esse olharei, para o pobre e abatido de espírito e que treme da minha palavra” (Is 66:2; Is 57:15).

Segundo o profeta Isaías, o ‘pobre’, o ‘abatido’ ou o ‘humilde’ de espírito é aquele que obedece (treme) a palavra de Deus. Ao dizer: “Bem-aventurados os pobres de espírito”, Jesus está anunciado que Deus é favorável (olharei) àqueles que Lhe obedecem (Mt 7:24).

Aquele que obedece (inclina o ouvido) o mando de Deus alcança vida, pois lhe é concedido por Deus as firmes beneficências prometidas a Davi: o Cristo, o reino dos céus: “Inclinai os vossos ouvidos e vinde a mim; ouvi e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as firmes beneficências de Davi” (Is 55:3; Mt 10:7).

O que Deus prometeu a Davi? Um descendente! A aliança eterna de Deus com os que inclinam os ouvidos (atende, obedece) é conceder o Cristo, o Filho de Davi, poderosa salvação na casa (descendência) de Davi (Lc 1:69).

Através da definição dada pelo profeta Isaías, é possível compreender quem são os pobres de espírito, quesito essencial para compreender o símile: “Bem-aventurado os pobres de espírito…”, visto que Jesus nunca falava abertamente ao povo, somente por parábolas (Mt 13:34).

Através do profeta Isaías verifica-se que Jesus não está tratando de questões sociais, políticas ou econômicas. Na verdade, Ele está tratando, tanto com pessoas ricas, quanto com pessoas pobres, do ponto de vista econômico, tanto com servos, quanto com reis, do ponto de vista social, tanto sábios, quanto com ignorantes, do ponto de vista cultural (Sl 49:2), para que reconheçam, através da mensagem de Cristo, que são miseráveis, necessitados, pobres.

A miserabilidade socioeconômica não dá ao homem a condição de pobre, abatido ou humilde diante de Deus. Deus reconhece o homem como pobre, abatido ou humilde, quando o homem se submete a Ele na condição de servo, ou seja, obediente. É humilde, ou antes, se humilha aquele que deixa de se guiar pela vaidade dos seus pensamentos e que se apresenta diante de Deus, na condição de servo, para obedecê-lo.

Neste ponto, o evangelho não se propõe a sujeitar o homem a Deus, através de ritos, leis e formas impostos pela religião. O evangelho não se propõe a controlar a existência do homem em sociedade, quanto ao que comer, beber, vestir, casar, procriar, comprar, vender, trabalhar, etc., antes, em que o homem creia que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, que havia de vir ao mundo.

O humilde de espírito, no advento da Nova Aliança, é aquele que se sujeita à seguinte ordenança de Deus:

“E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” (1Jo 3:23).

Príncipes, cavalos, cavaleiros, força, violência, braço, etc., são figuras utilizadas pelos profetas para apontar os soberbos, altivos, ricos, abastados, etc. (Sl 49:13), mas, qualquer que confia no Senhor, é descrito como oprimido, faminto, pobre, abatido, etc., figuras utilizadas pelos profetas para propor símiles e compor parábolas (Sl 146).

Não há ninguém (rico ou pobre, judeu ou gentil) que possa dar o resgate por sua própria alma ou de outrem (Sl 49:6-8). Todos os homens necessitam da salvação providenciada por Deus, portanto, todos precisam de reconhecer que são necessitados. Os judeus, por sua vez, não reconheciam que eram necessitados, pobres, etc., antes se comportavam como ricos, abastados, etc., pois se vangloriavam da descendência (somos filhos de Abraão), se vangloriavam da carne (circuncisão) e se vangloriavam da lei (Moisés).

Quem obedece a Deus, se posiciona diante d’Ele, na condição de humilde, necessitado e pobre, portanto, é agradável ao Senhor, como fez o publicano:

“O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lc 18:13); “O SENHOR se agrada dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia” (Sl 147:11; Mt 9:13).

‘Esperar’ na misericórdia, significa ‘confiar’. Para o homem alcançar a misericórdia de Deus, basta obedecê-Lo. Quando o homem obedece a Deus, demonstra, efetivamente, que espera em Deus, ou seja, que confia na sua palavra, que diz: “E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos” (Êx 20:6).

 

Quem são os que choram?

“A apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes. A ordenar acerca dos tristes de Sião, que se lhes dê glória, em vez de cinza, óleo de gozo, em vez de tristeza, vestes de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantações do SENHOR, para que ele seja glorificado” (Is 61:2-3).

Quando é dito que os tristes são bem-aventurados, os ouvintes de Jesus deveriam lembrar-se da promessa de alegria registrada pelo profeta Isaías aos tristes!

A expressão ‘os tristes’ bem-aventurados não possui relação com o sentimento de desilusão frente aos infortúnios da vida e nem decorre  das emoções em ebulição a que todos homens estão sujeitos.

Os ‘tristes’ é figura que compõe um quadro profético, e possui conexão com o advento do Messias, que, segundo o profeta Isaías, foi ungido para apregoar boas novas nos seguintes termos: a tristeza substituída por glória, gozo e louvor, com o objetivo de Deus ser glorificado. (Ef 1:12).

O anúncio da bem-aventurança dos que choram indica a chegada do tempo de refrigério (salvação). A mensagem de boas novas anunciada por Cristo aos pobres era para possibilitar aos seus ouvintes elementos para que identificassem, pelas Escrituras, o reino de Deus, em meio aos homens: Cristo. “Respondendo, então, Jesus, disse-lhes: Ide e anunciai a João o que tendes visto e ouvido: que os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o evangelho” (Lc 7:22).

Ao dizer ‘Bem-aventurados os tristes…’, Jesus estava dando a entender que a profecia de Isaías naquele dia se cumpriu nos ouvidos dos que ali estavam e produziria refrigério naqueles que dessem crédito: “Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos” (Lc 4:21); “O ESPÍRITO do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos pobres; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; A apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes” (Is 61:1-2); “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos” (Is 57:15).

Os tristes bem-aventurados são os quebrantados, o mesmo que contritos de espírito “Perto está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de espírito” (Sl 34:18; Sl 51:17). O ‘quebrantado’ é aquele que deixa de ser ‘altivo’ e se faz ‘servo’, ou seja, obedece ao mandamento de Deus, que, na nova aliança, é crer em Cristo: “A minha alma está quebrantada de desejar os teus juízos em todo o tempo” (Sl 119:20).

 

Quem são os mansos?

“Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho” (Sl 25:9; Mt 11:29).

Os mansos são aqueles que se deixam instruir como as crianças e aprendem de Cristo: o humilde e manso de coração. Os mansos são os humildes de espírito e vice-versa: “Melhor é ser humilde de espírito com os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos” (Pv 16:19).

O Senhor convida os ‘meninos’ à instrução (Sl 34:11), não os ‘tolos’, porque diferente do tolo, a criança se deixa instruir. O mesmo Senhor, em outra passagem, diz: “Eis-me aqui, com os filhos que me deu o SENHOR, por sinais e por maravilhas em Israel, da parte do SENHOR dos Exércitos, que habita no monte de Sião” (Is 8:18); “Vinde, meninos, ouvi-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR” (Sl 34:11); “Ainda que repreendas o tolo como quem bate o trigo com a mão de gral entre grãos pilados, não se apartará dele a sua estultícia” (Pv 27:22); “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da correção a afugentará dela” (Pv 22:15).

Daí o imperativo: “Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como menino, não entrará nele” (Lc 18:17).

Os mansos são os que obedecem a Deus, ou seja, que põem por obra o seu mandamento: “Buscai ao SENHOR, vós todos os mansos da terra, que tendes posto por obra o seu juízo; buscai a justiça, buscai a mansidão; pode ser que sejais escondidos no dia da ira do SENHOR” (Sf 2:3).

 

Quem são os que tem fome e sede de justiça?

“E será para nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos perante o SENHOR nosso Deus, como nos tem ordenado” (Dt 6:25).

Aquele que se acorrenta a uma árvore defendendo uma causa ecológica? Quem abraça uma causa social? Que levanta uma bandeira à não beligerância? Não!

Na verdade, tem fome e sede de justiça aquele que anseia por obedecer ao mandamento de Deus, pois está escrito: Se cuidar em cumprir o mandamento como foi ordenado é justiça, ou seja, quem anseia por justiça é aquele que obedece, tem ‘fome’ e ‘sede’ de cuidar em cumprir como foi ordenado!

Quem tem fome e sede e justiça crê no enviado de Deus, pois este é o seu mandamento: “Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” (Jo 6:29); “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” (1Jo 3:23).

É no evangelho que se descobre a justiça de Deus, e somente nele é possível ao homem que tem sede e fome de justiça ser saciado!

A fome e a sede são figuras que remetem ao pobre, ao necessitado de espírito. O órfão, a viúva e o estrangeiro também são figuras que remetem aos necessitados, aos pobres de espírito, aqueles a quem Deus toma por filhos “Pai de órfãos e juiz de viúvas é Deus, no seu lugar santo” (Sl 68:5).

Deus fartará os necessitados, segundo a promessa que foi feita a Davi: o Cristo, como bem reitera o profeta no Salmo 132:

“O SENHOR jurou com verdade a Davi e não se apartará dela: Do fruto do teu ventre porei sobre o teu trono. Se os teus filhos guardarem a minha aliança e os meus testemunhos, que eu lhes hei de ensinar, também os seus filhos se assentarão perpetuamente no teu trono. Porque o SENHOR escolheu a Sião; desejou-a para a sua habitação, dizendo: Este é o meu repouso para sempre; aqui habitarei, pois o desejei. Abençoarei abundantemente o seu mantimento; fartarei de pão os seus necessitados” (Sl 132:11-15).

 

Quem são os misericordiosos?

“Saberás, pois, que o SENHOR teu Deus, ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia, até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos” (Dt 7:9)

As pessoas que nutrem um sentimento de dor e de solidariedade em relação a alguém que sofre uma tragédia pessoal ou que caiu em desgraça? Dó? Compaixão? Piedade?

Quando Saul desobedeceu a Deus e deixou de eliminar Agague, rei dos amalequitas, bem como, o melhor do interdito, o que foi que Deus disse? Obedecer é melhor do que sacrificar, ou seja, melhor era exterminar todos os amalequitas que apresentar a Deus bois e ovelhas! (1Sm 15:22).

Essa passagem bíblica de Saul evidencia que a misericórdia de Deus decorre da obediência à Sua palavra, e não a um sentimento de solidariedade, compaixão ou piedade “Todas as veredas do SENHOR são misericórdia e verdade para aqueles que guardam a sua aliança e os seus testemunhos” (Sl 25:10).

Quando poupou a vida de Agague, Saul não exerceu misericórdia. Ele estava sendo misericordioso, enquanto estava exterminando os amalequitas, estava cumprindo o mandamento de Deus, que diz: Misericórdia quero! “Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos” (Os 6:6).

Deus deixa claro a quem a sua misericórdia e amor é direcionado: “E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos” (Êx 20:6), ou seja: “Eu amo aos que me amam, e os que cedo me buscarem, me acharão” (Pv 8:17).

A misericórdia de Deus é só para os que O obedecem, portanto, os ‘misericordiosos’ bem-aventurados, que alcançam misericórdia, são os que ‘amam’ a Deus, ou seja, que O obedecem.

Deus já havia instruído Israel, quando disse a Moisés que teria misericórdia de quem Ele tivesse misericórdia, um trocadilho para evidenciar que Deus tem misericórdia dos que O obedecem.

Os que obedecem a Deus são recebidos como filhos, portanto, são nomeados misericordiosos, assim como o Pai Celeste é misericordioso.

A misericórdia de Deus foi evidenciada a todos os homens, inclusive aos gentios, na pessoa do seu Filho – Jesus Cristo – entretanto, os desobedientes, iníquos e pérfidos não estão sob o abrigo da misericórdia de Deus: “Tu, pois, ó SENHOR, Deus dos Exércitos, Deus de Israel, desperta para visitares todos os gentios; não tenhas misericórdia de nenhum dos pérfidos que praticam a iniquidade. (Selá.)” (Sl 59:5).

 

Quem são os limpos de coração?

“Tal é a geração daqueles que o buscam, daqueles que buscam a tua face, ó Deus de Jacó” (Sl 24:6).

O Salmo 24 tem resposta para essa pergunta!

Os limpos de coração são aqueles que buscam a face do Senhor, ou seja, os gerados de novo da semente incorruptível (1Pd 1:23). É através do novo nascimento que o homem se torna geração do Senhor, portanto, limpo de coração, tal qual Ele é neste mundo “Nisto é perfeito o amor para conosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos nós também neste mundo” (1Jo 4:17).

São limpos de coração, porque foram circuncidados pelo Pai celeste! Através da circuncisão de Cristo o coração de pedra é extraído e Deus concede um novo coração de carne limpo: “E dar-vos-ei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra e vos darei um coração de carne” (Ez 36:26).

É através da aspersão da água pura, pelo Espírito Eterno, que o homem alcança um coração novo e limpo, ou seja, o homem nasce de novo da água e do Espírito, pois Deus diz: “Então aspergirei água pura sobre vós e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei” (Ez 36:25).

Os que creem veem a salvação de Deus, pois Deus se manifestou ao mundo na pessoa do seu Filho (Jo 1:18), pois Cristo veio revelar o Pai aos homens: “E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão e temerão e confiarão no SENHOR” (Sl 40:3); “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14:21); “E a glória do SENHOR se manifestará e toda a carne juntamente a verá, pois a boca do SENHOR o disse” (Is 40:5); “O SENHOR desnudou o seu santo braço, perante os olhos de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus” (Is 52:10).

É através do resplendor do rosto de Cristo – o Senhor que escondeu a sua face da casa de Israel – que o homem é salvo: “Faze-nos voltar, ó Deus, e faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos” (Sl 80:3); “Esconderei, pois, totalmente, o meu rosto naquele dia, por todo o mal que tiver feito, por se haverem tornado a outros deuses” (Dt 31:18); “E esperarei ao SENHOR, que esconde o seu rosto da casa de Jacó e a ele aguardarei” (Is 8:17).

 

Quem são os pacificadores?

“Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos, então seria a tua paz como o rio e a tua justiça como as ondas do mar!” (Is 48:18).

Qualquer que dá ouvidos (crédito, obedece) ao mandamento de Deus é pacificador!

Aquele que se deixa instruir pelo Senhor Jesus, que é manso e humilde de coração, cumpre o mandamento de dar ouvidos ao anunciado por Deus, portanto, são filhos ensinados do Senhor, e a paz deles é abundante: “E todos os teus filhos serão ensinados do SENHOR; e a paz de teus filhos será abundante” (Is 54:13); “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mt 11:29).

O termo grego ειρηνοποιος, traduzido por ‘pacificador’, significa ‘que ama a paz’, ou seja, que honra, que obedece a paz, e Cristo é a nossa paz (Ef 2:14). Cristo concede filiação divina a todos os que O recebem: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” (Jo 1:12); “Aparta-te do mal e faze o bem; procura a paz e segue-a” (Sl 34:14).

Cristo é o tema da mensagem de paz anunciada pelos ‘pacificadores’: paz para os que estão longe (gentios) e paz para os que estão perto (judeus): “Eu crio os frutos dos lábios: paz, paz, para o que está longe; e para o que está perto, diz o SENHOR, e eu o sararei” (Is 57:19); “Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio” (Ef 2:13-14); “Escutarei o que Deus, o SENHOR, falar; porque falará de paz ao seu povo, e aos santos, para que não voltem à loucura” (Sl 85:8); “Muita paz tem os que amam a tua lei, e para eles não há tropeço” (Sl 119:165).

Aqueles que têm fome e sede de justiça são pacificadores, pois Deus diz: “Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil e o campo fértil será reputado por um bosque. E o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no campo fértil. E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre” (Is 32:15-17); “SENHOR, tu nos darás a paz, porque tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras” (Is 26:12).

 

A quem pertence o reino dos céus?

“E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2Tm 3:12)

O reino dos céus pertence a todos quantos sofrem perseguição, por causa da justiça, ou seja, do evangelho de Cristo. Todos quantos são injuriados e perseguidos, ou que, mentindo, disserem em desfavor deles toda sorte de mal, são bem-aventurados por causa de Cristo: “Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados” (1Pd 3:14-16).

As bem-aventuras decorrem de Cristo, pois Ele é a justiça de Deus e o rei estabelecido para reinar em Sião: “Eu, porém, ungi o meu Rei, sobre o meu santo monte de Sião. Proclamarei o decreto: o SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Sl 2:6-7); “Porque o trono se firmará em benignidade, e sobre ele, no tabernáculo de Davi, se assentará, em verdade, um que julgue e busque o juízo e se apresse a fazer justiça” (Is 16:5); “EIS que reinará um rei com justiça e dominarão os príncipes segundo o juízo” (Is 32:1); “Justiça e juízo são a base do teu trono; misericórdia e verdade irão adiante do teu rosto” (Sl 89:14; Sl 97:2; Sl 98:2).

Cristo é o louvor e a mão direita (destra) de Deus cheia (plena) de justiça, o santo braço desnudado perante todos os povos: “Segundo é o teu nome, ó Deus, assim é o teu louvor, até aos fins da terra; a tua mão direita está cheia de justiça” (Sl 48:10); “Do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre; o zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto” (Is 9:7); “Perto está a minha justiça, vem saindo a minha salvação e os meus braços julgarão os povos; as ilhas me aguardarão e no meu braço esperarão” (Is 51:5); “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça e paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14:17).

Quando anunciou as beatitudes, Jesus fez uso de algumas figuras utilizadas pelos profetas da Antiga Aliança, que fazem referência àqueles que obedecem a Deus.

Pobres, tristes, mansos, famintos e sequiosos de justiça, misericordiosos, limpos de coração, pacificadores, perseguidos, são figuras que remetem aos obedientes.

As beatitudes são um anúncio de que as profecias das Escrituras estavam se cumprindo.

Observe o que foi profetizado por Isaías:

“E naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro e dentre a escuridão, dentre as trevas, os olhos dos cegos as verão. E os mansos terão gozo sobre gozo no SENHOR; e os necessitados entre os homens se alegrarão no Santo de Israel. Porque o tirano é reduzido a nada e se consome o escarnecedor e todos os que se dão à iniquidade são desarraigados; Os que fazem culpado ao homem por uma palavra e armam laços ao que repreende na porta e os que sem motivo põem de parte o justo. Portanto, assim diz o SENHOR, que remiu a Abraão, acerca da casa de Jacó: Jacó não será agora envergonhado, nem agora se descorará a sua face. Mas, quando ele vir seus filhos, obra das minhas mãos no meio dele, santificarão o meu nome; sim, santificarão ao Santo de Jacó e temerão ao Deus de Israel. E os errados de espírito virão a ter entendimento e os murmuradores aprenderão doutrina” (Is 29:18-24).

Jesus Cristo é o Senhor que foi convidado a se assentar à destra da Majestade nas alturas (Sl 110:1), a quem os filhos de Israel deveriam santificar o nome, conforme profetizou Isaías e o apóstolo Pedro evidenciou ao falar da perseguição que sofre os que seguem a Cristo: “Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis; Antes, santificai ao SENHOR Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1Pe 3:14-15); “Não chameis conjuração a tudo quanto este povo chama conjuração; e não temais o que ele teme, nem tampouco vos assombreis. Ao SENHOR dos Exércitos, a Ele santificai; e seja Ele o vosso temor e seja Ele o vosso assombro” (Is 8:12-13).

É impossível alguém ser manso e não ser misericordioso ou ter o coração limpo e não ser pacificador, pois as beatitudes são características que remetem à pessoa que ouve a doutrina de Cristo e a pratica (Mt 7:24). Todas essas figuras se complementam e remetem àqueles que se sujeitam a Deus, como servo, crendo em Cristo como o enviado de Deus.

Os profetas utilizaram essas figuras para anunciarem a vinda do Cristo, pois Cristo é a base da nova aliança, perpétua, estabelecida por Deus com os povos, segundo o que foi prometido a Davi: um Renovo justo, o rebento da raiz de Jessé, o Descendente, etc., sendo que todos os profetas da Antiga Aliança foram perseguidos por falarem a seus compatriotas dessa Nova Aliança: “Inclinai os vossos ouvidos e vinde a mim; ouvi e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as firmes beneficências de Davi” (Is 55:3; Jr 31:31-34; Hb 8:13).

Os profetas, ao darem testemunho de Cristo, utilizaram as mesmas figuras que Cristo empregou, quando anunciou as beatitudes. Os profetas da Antiga Aliança somente sabiam (porque foi revelado a eles), que o que ministravam não pertencia a Israel e por isso se questionavam sobre o tempo, ou ocasião de tempo, que se dariam as maravilhas anunciadas (1Pe 1:10 -12).

Esta é a essência do Sermão da Montanha:

“E dizendo: O tempo está cumprido e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1:15).

No Sermão da Montanha, Jesus revela ao povo, através das figuras utilizadas pelos profetas, que o tempo de refrigério que constava nas Escrituras foi inaugurado pela presença do reino de Deus em meio aos homens – Cristo – que anunciava o reino dos céus, um reino que não era desse mundo: “Ao qual disse: Este é o descanso, dai descanso ao cansado; e este é o refrigério; porém não quiseram ouvir” (Is 28:12); “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do SENHOR” (At 3:19).

O que aquela multidão esperava? O que foi ensinado pelos escribas e fariseus: que o reino de Israel seria restaurado com a vinda do Messias! Para os judeus, profecias como a de Joel: “PORQUE, eis que naqueles dias e naquele tempo, em que removerei o cativeiro de Judá e de Jerusalém” (Jo 3:1), se cumpriria com o advento do Cristo.

Mas, não foi o que ocorreu, pois a restauração prevista nas Escrituras não era primeiramente nacional, mas sim, para os gentios, para que se cumprisse a bem-aventurança prometida a Abraão, que diz: “… e em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:3); “E, respondendo ele, disse-lhes: Em verdade, Elias virá primeiro, e todas as coisas restaurará; e, como está escrito do Filho do homem, que ele deva padecer muito e ser aviltado” (Mc 9:12).

Quando anunciou que faria casa (descendência) a Davi, Deus anunciou que o Descendente de Davi edificaria uma casa a Deus e, em seguida, prometeu que estabeleceria o trono do descendente dado a Davi para sempre.

Como Deus não habita em casa feita por mãos de homens, o Descendente prometido a Davi – Cristo – está a edificar a Sua Igreja como templo santo ao Senhor, do qual todos os que creem se constituem ‘pedras vivas’ edificadas sobre a pedra angular, para morada de Deus em Espírito.

Somente após o advento da igreja, quando se dará o encerramento do tempo dos gentios, que será restaurado o reino prometido a Israel (1Sm 7:13). O povo de Israel estava tão fixo na promessa de restauração do reino de Israel, que se esqueceu de que havia uma promessa a Abraão, acerca de todas as famílias da terra.

Quando Jesus veio, João Batista o precedeu – o Elias – e a restauração implementada não era de um reino visível, mas, sim, de um reino que não era deste mundo, do qual todos os que creem em Cristo, não importando a nação, podem ser participantes.

Mas, como mudar a concepção de um povo que estava fito na promessa: “À tua semente darei esta terra” (Gn 12:7), e não dava ouvidos à voz de Deus, para que o juramento feito aos pais fosse confirmado? (Jr 11:4-5). Como mudar a concepção de um povo que, por circuncidar o prepúcio da carne, mas não deixava Deus circuncidar o coração, achava que era melhor que as nações vizinhas? (Jr 9:26) Como mudar o entendimento de um povo que tinha a lei de Moisés chegada à boca, mas longe do coração? (Jr 12:2; Is 29:13).

A mensagem do Sermão do Monte visa produzir uma mudança de concepção (metanóia) no povo, por isso, Jesus não deu testemunho abertamente de Si mesmo, dizendo: “Eu sou o Cristo”, antes, teve que anunciar por parábolas e símiles o testemunho que Deus deu acerca do Filho do homem. Os filhos de Israel deveriam comparar a doutrina de Cristo com as Escrituras e reconhecer que Jesus era o enviado de Deus, por conseguinte, reconhecendo Cristo como o Filho de Davi, estariam crendo no testemunho de Deus “Jesus lhes respondeu, e disse: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo” (Jo 7:16-17).

Enquanto o povo aguardava o reino messiânico, Jesus – o Renovo Justo prometido a Davi – se apresenta como a justiça, pela qual os seus seguidores seriam perseguidos e injuriados: “Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e agirá sabiamente e praticará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias Judá será salvo e Israel habitará seguro; e este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA” (Jr 23:5-6).

Nas entrelinhas, Jesus se revela como a justiça, que dá direito ao reino dos céus, e qualquer perseguido por causa d’Ele seria recompensado: “Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão” (Hb 10:35), mas, a multidão pensava, equivocadamente, que o reino estava na iminência de se manifestar, quando Jesus chegou próximo de Jerusalém. Por causa da cegueira espiritual, não perceberam que o reino de Deus já estava manifesto: “E, ouvindo eles estas coisas, ele prosseguiu e contou uma parábola; porquanto estava perto de Jerusalém, e cuidavam que logo se havia de manifestar o reino de Deus” (Lc 19:11).

A causa de Cristo é a causa da justiça e todos que seguirem a Cristo serão perseguidos e injuriados, do mesmo modo que os profetas foram perseguidos: “E neste teu esplendor cavalga prosperamente, por causa da verdade, da mansidão e da justiça; e a tua destra te ensinará coisas terríveis” [assombrosas] (Sl 45:4).

 

As similitudes

“13 Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens.

14 Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;

15 Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador e dá luz a todos os que estão na casa.

16 Assim, resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 5:13-16).

A leitura que se faz das similitudes deve ser extensão das beatitudes, portanto, o entendimento de que as ‘figuras’ (sal, luz) aplicadas aos discípulos não decorrem das bem-aventuranças, como se o discurso de Jesus fosse estruturado em divisões e subdivisões, como se não fosse coeso e uno, não é uma boa leitura.

Na verdade, as características enumeradas nos versos 3 ao 9: pobre, triste, manso, faminto e sedento por justiça, misericordioso, puro, pacífico, definem os seguidores da doutrina de Cristo, ou seja, aqueles que serão perseguidos e injuriados por causa de Cristo, mas que serão recompensados entrando no reino dos céus.

Vale destacar que Abel foi perseguido por Caim; Isaque foi perseguido por Ismael; Jacó foi perseguido por Esaú, etc., eventos que servem de alegoria, pois com os seguidores de Cristo não é diferente, serão perseguidos por serem filhos da promessa: “Dei-lhes a tua palavra e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo” (Jo 17:14; Gl 4:29).

As características pertinentes aos bem-aventurados descrevem os obedientes, os humildes, os servos, portanto, a obediência a Cristo é o que torna os seus seguidores ‘sal da terra’ e ‘luz do mundo’.

Na lei, estava estabelecido que todas as vezes que fossem ofertados alimentos a Deus, que a oferta deveria ser temperada com sal: “E todas as tuas ofertas dos teus alimentos temperarás com sal; e não deixarás faltar à tua oferta de alimentos o sal da aliança do teu Deus; em todas as tuas ofertas oferecerás sal” (Lv 2:13).

As ofertas de alimentos eram voluntárias, pois Deus nunca requereu holocaustos e sacrifícios dos filhos de Israel, porém, quando, voluntariamente, fossem oferecer algo a Deus, o sal era obrigatório. A oferta era voluntária, mas o sal era obrigatório! Por que? Porque é a obediência que torna o ofertante agradável e aceito por Deus, consequentemente, a oferta será aceita (Gn 4:4-5).

Acrescer sal à oferta demandava obediência por parte do ofertante, uma ordenança para que os filhos de Israel entendessem que Deus quer a obediência, mais que o sacrifício, assim como o fato de os filhos de Israel permaneceram 40 anos no deserto, sendo guiados por Deus, para que entendessem que o homem vive pela palavra de Deus “Assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios e comei carne. Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios” (Jr 7:21 -22); “E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o SENHOR teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não. E te humilhou,  te deixou ter fome e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem” (Dt 8:2-3; Sl 50:9; Mq 6:6-7).

Vale destacar que Deus se agrada da obediência, pois obedecer é melhor que o sacrifício “Porém, Samuel disse: Tem porventura o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros” (1Sm 15:22).

A ordenança acerca do sal demonstra que a obediência é superior ao sacrifício, pois a aliança é selada pela obediência e o homem aceito por Deus, porém, através do sacrifício ninguém é aceito por Deus.

O profeta Miquéias ilustra essa questão:

“Com o que me apresentarei ao SENHOR e me inclinarei diante do Deus altíssimo? Apresentar-me-ei diante dele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a benignidade e andes humildemente com o teu Deus?” (Mq 6:6-8).

A determinação para acrescer sal ao alimento ofertado remetia o ofertante a não se esquecer de, diligentemente, guardar a aliança. Toda ação voluntariosa em apresentar a Deus oferta, holocausto, sacrifício, etc., no momento de adicionar sal, o ofertante estava sendo instruído sobre o que Deus realmente requer do homem: obediência: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha” (Êx 19:5); “Disse, mais, o SENHOR a Moisés: Escreve estas palavras; porque conforme ao teor destas palavras tenho feito aliança contigo e com Israel” (Êx 34:27).

Assim como o sal era imprescindível à oferta de alimentos, a obediência é imprescindível ao homem, para estar sob a proteção da aliança. O que preserva o homem é a aliança estabelecida por Deus e não uma oferta, mesmo que temperada com sal.

O ‘sal’ que o ofertante não deveria deixar faltar ao sacrifício era a obediência à aliança estabelecida por Deus, o que refletiria no ato ímpar de não se esquecer de acrescentar sal à oferta.

Exemplo vivo de obediência encontramos nos patriarcas, pois foi a aliança de Deus que preservou Noé durante o dilúvio (Gn 6:18), que, sendo justo, sujeitou-se à ordem de Deus para construir uma arca e se abrigar nela. Quando entrou na arca que construíra sob ordem de Deus, Noé honrou a aliança, o que demonstra a sua plena confiança em Deus: “Portanto, diz o SENHOR Deus de Israel: Na verdade, tinha falado eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim, perpetuamente; porém, agora, diz o SENHOR: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram honrarei, porém os que me desprezam serão desprezados” (1Sm 2:30).

De nada serviria o trabalho árduo de construir a arca e aguentar a oposição dos pecadores, se no momento em que Deus ordenasse a Noé entrar na arca, ele deixasse de entrar sob o argumento de que Deus era poderoso para preservá-lo, mesmo fora da arca.

Deus ordenou a Abraão que saísse de sua parentela, sob a promessa de que seria grandemente recompensado. Abraão obedeceu ao Senhor (Gn 12:4) e Deus firmou uma aliança com juramento (Gn 26:4-5). Abraão foi escolhido para ordenar os seus filhos e a sua casa para obedecerem a Deus, pois só quando o homem honra a Deus como Senhor e Pai é que se alcança a bênção de Deus, contida na promessa (Gn 18:19).

Já os filhos de Israel desprezaram a aliança e foram levados cativos, ou seja, não foram ‘preservados’, porque não permaneceram sob a aliança (Ex 6:4: Jz 2:20-22; Sl 78:10; Jr 11:8; Jr 31:32).

O sacrifício do qual Deus se agrada, é um espírito quebrantado, ou seja, um coração contrito, obediente à palavra de Deus, portanto, o ofertante não poderia esquecer o sal da aliança, ou seja, de obedecer: “E todas as tuas ofertas dos teus alimentos temperarás com sal; e não deixarás faltar à tua oferta de alimentos o sal da aliança do teu Deus; em todas as tuas ofertas oferecerás sal” (Lv 2:13).

Quando foi dito: “Vós sois o sal da terra…”, Jesus estava apontando para os seus discípulos e dizendo: “Vocês são os que obedecem a Deus na terra”! “Vocês ouviram as minhas palavras e as praticam”! (Mt 7:24)

Quando foi dito: “e se o sal for insípido, com que se há de salgar?”, temos uma breve alusão aos desobedientes – à nação de Israel. Como não obedeceu à aliança, a nação de Israel foi rejeitada e lançada fora, uma alusão à dispersão de Israel, quando perdeu a proteção de Deus e passou a ser governada pelos gentios: “E persegui-los-ei com a espada, com a fome e com a peste; e dá-los-ei para deslocarem-se por todos os reinos da terra, para serem uma maldição, um espanto, um assobio e um opróbrio entre todas as nações para onde os tiver lançado” (Jr 29:18; Hb 4:6 e 11;1Pd 2:8).

Com relação aos sacerdotes, por estatuto Deus deu todas as ofertas dos filhos de Israel a eles, visto que não possuíam possessão de terra e nem herdade, a não ser o próprio Deus (Nm 17:20). Essa aliança estabelecida com os sacerdotes foi chamada de ‘aliança perpétua de sal’, ou seja, que Deus havia dado as coisas santas ofertadas pelos filhos de Israel para preservá-los: “Todas as ofertas alçadas das coisas santas, que os filhos de Israel oferecerem ao SENHOR, tenho dado a ti e a teus filhos e a tuas filhas contigo, por estatuto perpétuo; aliança perpétua de sal perante o SENHOR é, para ti e para a tua descendência contigo” (Nm 18:19).

Pelas Escrituras, verifica-se que as alianças que Deus fez com os homens, tinham o fito de preservá-los, dando mandamentos para que observassem cuidadosamente. Mas, o cuidado de Deus somente é efetivo sobre a vida dos homens que são obedientes, de modo que, através da obediência, o homem fica sob a aliança.

Deus disse: “Eu amo aos que me amam, e os que cedo me buscarem, me acharão” (Pv 8:17), e também: “…porém, agora, diz o SENHOR: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram honrarei, porém os que me desprezam serão desprezados” (1Sm 2:30), pois aquele que cumpre o mandamento de Deus – que na Nova Aliança é crer que Jesus é o Filho de Deus – em si mesmo tem sal, como foi dito: “Bom é o sal; mas, se o sal se tornar insípido, com que o temperareis? Tende sal em vós mesmos e paz uns com os outros” (Mc 9:50).

Na palavra de Deus está expresso o cuidado de Deus pelo homem e em obedecê-la, o homem se coloca debaixo da proteção de Deus. O sal representa tanto o cuidado de Deus quanto o dever de obediência, pois onde há mandamento tem que haver obediência.

O cuidado de Deus pela humanidade foi manifesto em Cristo e todo o que crê será salvo. Os apóstolos testemunharam a vinda do Filho de Deus ao mundo e eles testificaram acerca dessa verdade, de sorte que qualquer que também confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus: “Vimos e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo. Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele e ele em Deus” (1Jo 4:14 -15).

Quem crê em Cristo, deve militar pelo evangelho, pois no evangelho se descobre a justiça de Deus – Cristo – ou seja, aquele que crê e anuncia ao mundo o evangelho de Cristo é sal da terra. Se o crente não desempenha a sua função de levar Cristo ao mundo, torna-se insípido e será lançado fora, assim como o sal, quando perde a sua propriedade: “Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (Jo 15:2; Lc 14:34-35).

A perseguição por causa do evangelho de Cristo, revela aqueles que são o sal do mundo e a luz do mundo. A perseguição por causa do evangelho vem somente sobre aqueles que levam a preciosa semente incorruptível: “Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina!” (Is 52:7).

Os pacificadores são filhos de Deus e, como filhos da Luz, são luz no Senhor, portanto, luz do mundo: “Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz. Estas coisas disse Jesus e, retirando-se, escondeu-se deles” (Jo 12:36); “Porque, noutro tempo, éreis trevas, mas agora sois luz no SENHOR; andai como filhos da luz” (Ef 5:8).

Assim como o sal tem a sua serventia, a luz também. Assim como é impossível esconder uma cidade quando edificada sobre um monte, também é impossível deixar um crente em Cristo camuflado aos olhos do mundo.

Da mesma forma que uma lamparina (candeia) não é colocada debaixo do alqueire (pote, vaso, vasilhame) ou debaixo da cama, mas no velador, assim é com os seguidores de Cristo: são luz que alumiam no mundo que está em densas trevas: “LEVANTA-TE, resplandece, porque vem a tua luz e a glória do SENHOR vai nascendo sobre ti; Porque eis que as trevas cobriram a terra e a escuridão os povos; mas sobre ti, o SENHOR virá surgindo e a sua glória se verá sobre ti. E os gentios caminharão à tua luz e os reis ao resplendor que te nasceu” (Is 60:1-3); “O povo que andava em trevas, viu uma grande luz e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz” (Is 9:2).

Todos os que creem em Cristo são feitos filhos da luz e, por conseguinte, despenseiros de Deus (1Co 4:1-2; 1Pe 4:10), portanto, quando abrem a boca para anunciar o evangelho, faz com que a sua luz brilhe diante dos homens: “E se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita; então, a tua luz nascerá nas trevas e a tua escuridão será como o meio-dia” (Is 58:10); “Atendei-me, povo meu e nação minha, inclinai os ouvidos para mim; porque de mim sairá a lei e o meu juízo farei repousar para a luz dos povos” (Is 51:4).

A boa obra que Jesus ordena ao cristão, para que deixe os homens verem, não se refere ao comportamento do cristão – embora um despenseiro da glória de Deus deva ter um bom comportamento diante dos homens – mas, sim, manifestar ao mundo a boa nova que o Senhor realizou ao manifestar Cristo ao mundo: “O SENHOR trouxe a nossa justiça à luz; vinde e contemos em Sião a obra do SENHOR, nosso Deus” (Jr 51:10); “SENHOR, tu nos darás a paz, porque tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras” (Is 26:12).

O bom porte do crente não se refere ao bom perfume de Cristo, que é o mesmo que a boa obra, que se refere ao que Deus realizou: “Jesus respondeu e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” (Jo 6:29); “E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem” (2Co 2:14-15).

É Deus que deu Cristo – a paz – portanto, Ele realizou no crente todas as obras, de modo que, a obra que o mundo vê no crente refere-se ao testemunho que Deus deu acerca do seu Filho Jesus Cristo. Só é luz do mundo aquele que fala segundo a palavra de Deus, ou seja, aquele que anuncia as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” (Is 8:20).

A leitura do verso: “Assim, resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5:16), demanda uma compreensão da linguagem judaica, pois ‘obra’ refere-se ao resultado do cumprimento de um mandamento, de modo que crer em Cristo é uma obra.

Jesus mesmo disse: “A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” (Jo 6:29). Qualquer que atenta para o evangelho, a lei perfeita da liberdade, e persevera, ou seja, crê que Jesus é o Filho de Deus, é bem-aventurado, pois executou a obra: “Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito” (Tg 1:25).

A obra está ligada às palavras que os homens proferem: “Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas” (3 Jo 1:10). Portanto, a boa obra que os homens devem ver naqueles que são luz é o anúncio desta verdade:

“Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque, todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (Jo 3:17:21).

Continua: As bem-aventuranças e o ministério de Jesus Cristo


[1] “Todos iam a Ele para ouvir sobre o Reino; Jesus, em vez disso, falava sobre o estilo de vida daqueles que queriam viver no Reino. 0 Sermão do Monte contém a essência do ensinamento moral e ético de Jesus” O novo comentário bíblico NT, com recursos adicionais — A Palavra de Deus ao alcance de todos. Editores: Earl Radmacher, Ronald B. Allen e H.Wayne House, Editora Central Gospel, Rio de Janeiro: 2010, Pág. 27.

[2] Os judeus utilizavam as letras PE e SAMECH para apontar os parágrafos há muito tempo. Já na era cristã, primeiro foi introduzida uma divisão por capítulos pelo Arcebispo Estêvão Langton e outra pelo Cardeal Hugo de Sancto Caro, ambas realizadas no século XIII, porém, a divisão do Arcebisbo Langton, realizada em 1205 acabou prevalecendo. Somente 300 anos mais trade foi introduzida a divisão em versículos pelo italiano Santi Pagnini (1470-1541), e em 1551, Roberto Estienne propôs uma divisão diferente que acabou prevalecendo, sendo aplicada na sua edição grega do Novo Testamento e depois na versão em francês de 1553, e é utilizada até hoje.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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