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Enquanto a Bíblia enfatiza que o trabalho é necessário para obter o pão terreno e crer na palavra de Deus é essencial para alcançar a vida eterna, há obreiros fraudulentos que induzem os seus adeptos a acreditem que Deus lhes proporcionará alimento e riquezas materiais.


Prosperidade

Não dá para negar que vivemos em uma época de inversão de valores, onde muitas vezes as pessoas querem apenas “consumir” o evangelho para obter benefícios materiais, enquanto relegam a um segundo plano a verdadeira mensagem de transformação espiritual. As pessoas querem “comer” do evangelho e “trabalhar” para “viver” diante de Deus.

Muitas mensagens e pregações evangélicas atualmente se concentram exageradamente na prosperidade material, apresentando as promessas bíblicas como garantias de riqueza e sucesso financeiro. O evangelho é muitas vezes reduzido a um mero investimento, com chamados para semear dinheiro no reino de Deus em troca de bênçãos materiais.

Alguns chegam ao extremo de afirmar que o propósito de Deus para os cristãos é a excelência financeira, liderança e abundância, usando o argumento de que os cristãos são embaixadores do reino de Deus na terra.

No entanto, é crucial voltar sempre para o que a Bíblia realmente diz sobre o assunto.

Por causa da desobediência de Adão, Deus foi claro: “… maldita é a terra por tua causa; com dor comerás dela todos os dias da tua vida” (Gênesis 3:17), ou seja, a terra há de produzir dificuldades (espinhos e abrolhos) e do suor do rosto foi estabelecido que o homem coma o seu alimento até que torne ao pó da terra (Gênesis 3:19).

Desta determinação divina, destacam-se três elementos:

1. Com dor, ou seja, do suor do rosto, da fadiga, da labuta diária, o homem conseguiria se alimentar.
2. A fadiga, a dor decorrente do trabalho traz alimento e não vida.
3. Tal determinação é para todos os dias da existência do homem sobre a terra.

O profeta Moisés, ao instruir o povo de Israel, que invocava a Deus somente quando estavam com fome e não buscavam o alimento que concede vida, disse:

“E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem” (Deuteronômio 8:3).

Para que o povo de Israel pudesse compreender que o alimento cotidiano não traz vida ao homem, mas que a verdadeira vida provém da palavra de Deus, Ele permitiu que os filhos de Jacó passassem fome no deserto e os sustentou com o maná.

Enquanto a Bíblia enfatiza que o trabalho é necessário para obter o pão terreno e crer na palavra de Deus é essencial para alcançar a vida eterna, há obreiros fraudulentos que induzem os seus adeptos a acreditem que Deus lhes proporcionará alimento e riquezas materiais.

Essa distorção das Escrituras leva muitos líderes a instigar seus seguidores a testarem a Deus. Eles induzem à dúvida, questionando: “Se você é realmente filho de Deus, por que então vive na miséria?”

Esses líderes estão ensinando doutrinas contrárias à verdade, pois quando o diabo tentou Cristo, que, apesar de ser o filho de Deus, exercia a profissão de carpinteiro, ele usou a fome como um argumento, tentando convencer Jesus a agir contra a vontade do Pai:

Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pão.” (Mateus 4:3).

Naquela ocasião, se Cristo tivesse transformado as pedras em pão, a humanidade estaria condenada, pois:

  1. Cristo demonstraria que estava em dúvida se realmente era o Filho de Deus;
  2. Ele teria desafiado a vontade e o decreto do Pai, que determinou que os seres humanos comessem do suor do rosto, e;
  3. Haveria engano na boca de Cristo, evidencia de que havia engano em seu coração, ou seja, pecado.

Aqueles que creem em Cristo para terem vida, ou seja, para terem comunhão com Deus, entendem que o evangelho de Cristo é a vida. Cristo é o Verbo encarnado, segundo a palavra anunciada pelos profetas (João 1:1).

Jesus próprio afirmou:

“As palavras que eu vos disse são espírito e vida” (João 6:63).

Um cristão bem instruído entende que:

  • O Senhor nos concede forças para trabalhar e adquirir bens neste mundo (Deuteronômio 8:18);
  • Nesta vida terrena, tanto justos quanto injustos enfrentam as mesmas circunstâncias (Eclesiastes 9:2);
  • A prosperidade financeira não é um sinal definitivo da bênção do Senhor (Salmos 73:3-5);
  • Deus nos auxilia em nossas necessidades (Filipenses 4:19);
  • Não devemos nos preocupar com coisa alguma (Mateus 6:31);
  • Devemos ter suficiência em todas as coisas (2 Coríntios 9:8);
  • Devemos estar contentes (1 Timóteo 6:8);
  • Não devemos ambicionar coisas grandiosas (Romanos 12:16);
  • Não devemos acumular tesouros onde a traça e a ferrugem corroem (Mateus 6:49);
  • Devemos compreender que o evangelho não é uma fonte de lucro ou investimento pessoal (1 Timóteo 6:5).

Porque é necessário que o cristão compreenda o exposto acima? Eis a resposta:

“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” (1 Timôteo 6:10).

Mesmo quando Deus enviou o maná no deserto para testar os filhos de Israel, eles tiveram que trabalhar, pois Deus nunca vai contra a sua própria palavra. Todos tiveram que sair ao campo, colher, moer e assar o pão que lhes foi dado para comer (Êxodo 16:4, 23, 31).

Os milagres que Deus realizou no deserto foram para fortalecer a fé dos filhos de Israel na sua palavra, pois todas as maravilhas foram realizadas de acordo com o que Deus havia prometido.

“Com tudo isto ainda pecaram, e não deram crédito às suas maravilhas. (Salmos 78:32).

Se alguém que se diz cristão necessita de milagres para crer, é evidente que ainda não possui uma fé sólida (1 Coríntios 1:22; 1 Coríntios 14:22), pois os sinais foram concedidos para que as pessoas creiam que Jesus é o Filho de Deus. Se alguém ainda está buscando o “maná”, ainda não compreendeu plenamente que Cristo é o alimento vivo enviado dos céus para conceder vida ao homem.

Aquele que deseja ser sustentado de forma milagrosa por Deus em suas aflições e necessidades cotidianas está agindo de forma semelhante aos filhos de Jacó no deserto, que duvidaram da provisão de Deus. Não compreenderam que Deus deseja dar vida ao homem, o que é diferente de sustento material (Deuteronômio 8:3).

“E tentaram a Deus nos seus corações, pedindo carne para o seu apetite. (Salmos 78:18).

Quando um pregador utiliza o argumento de que Deus providenciou um banquete ao povo de Israel no deserto e, portanto, na condição de filho de Deus, também pode exigir que Deus lhe conceda riquezas, está, na verdade, encorajando seus seguidores a desafiarem Deus, seguindo o exemplo dos filhos de Israel.

Essa interpretação distorcida das Escrituras leva as pessoas a exigirem de Deus bênçãos materiais, ignorando o propósito maior de Deus em dar vida espiritual. Em vez de buscar a verdadeira comunhão com Deus e uma pátria celestial, estão no engano ao tentarem manipular Deus para obterem vantagens terrenas.

“E falaram contra Deus, e disseram: Acaso pode Deus preparar-nos uma mesa no deserto? Eis que feriu a penha, e águas correram dela: rebentaram ribeiros em abundância. Poderá também dar-nos pão, ou preparar carne para o seu povo?” (Salmos 78:19 -20).

Enquanto o evangelho é de fé em fé, os pregadores da prosperidade baseiam sua mensagem em busca de milagres, enganando e sendo enganados, como previsto em 2 Timóteo 3:13:

“Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados”.

Assim como a multidão que seguia Jesus de cidade em cidade, muitos não O buscavam por reconhecerem a sua divindade, mas sim porque foram alimentados com pão físico, como mencionado em João 6:26. Nos dias de hoje, muitos ainda se aproximam de Cristo em busca de benefícios materiais, negligenciando o verdadeiro alimento espiritual que Ele oferece, como destacado em João 6:41.

Enquanto alguns se esforçam para obter apenas o alimento que perece, Jesus instrui a buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça, prometendo que todas as outras coisas necessárias serão acrescentadas (Mateus 6:33).

Se os seguidores de Cristo realmente escutassem suas palavras, encontrariam vida (Isaías 55:3). Se prestassem atenção ao que Ele dizia, desfrutariam do que é bom e se deliciariam com o que é excelente (Isaías 53:2). No entanto, em contradição ao apelo divino, eles desperdiçavam suas energias buscando em Cristo algo que não lhes conferia vida eterna. A multidão buscavam Jesus somente por causa de alimento perecível.

Porque gastais o dinheiro naquilo que não é pão e o produto do vosso trabalho naquilo que nãopode satisfazer?” (Isaías 55:2 ).

Enquanto as pessoas seguiam Jesus de cidade em cidade em busca do pão físico que se esgota, Ele era o cumprimento das palavras do profeta Isaías:

“Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.” (Isaías 55:1; João 6:27).

Aqueles que buscam a Cristo serão saciados com bens, pois o Filho do Homem oferece alimento que perdura para a vida eterna.

“Que farta a tua boca de bens, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia.” ( Salmos 103:5 ).

A bênção do Senhor é uma glória imensa, muito diferente das riquezas terrenas que exigem esforço diário para serem adquiridas, trazendo consigo dores e dificuldades, como foi estabelecido por Deus desde o Éden.

“A bênção do SENHOR é que enriquece; e não traz consigo dores. (Provérbios 10:22);

“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.(1 Timóteo 6:10);

“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente.” (2 Coríntios 4:17).

Na atualidade, é fundamental que os cristãos estejam alertas. Mensagens que interpretam textos bíblicos com o pretexto de que uma vida abundante se resume a bens materiais devem ser examinadas à luz da promessa que Jesus fez:

“E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna.” (1 João 2:25);

“Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.” (João 10:10).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

5 thoughts on “Prosperidade

  • Obrigado pelo estudo amado irmão.
    Uma pergunta .
    Uma vez de posse do evangelho , crendo em Jesus conforme as escrituras e descansando na promessa da vida eterna , sabendo que em Cristo estou completo e pleno , indôneo para participar da herança dos santos . Posso na minha vida terrena buscar bens materiais e riquezas por meio do meu trabalho ? Ou Deus não si agrada dessa minha busca ?

    Resposta
    • Olá, João

      Claro que pode.. é ordem divina: o homem comerá do suor do seu rosto. Ter bens ou buscá-los é próprio à vida humana, todos nos temos que trabalhar para sobreviver.

      “Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade.” (Efésios 4 : 28)

      “A esses tais, porém, mandamos, e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão.” (II Tessalonicenses 3 : 12)

      “Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também.” (II Tessalonicenses 3 : 10).

      Att

      Resposta
  • Obrigado por me responder irmão. Ainda ficou uma duvida em minha mente . Quanto as necessidades básicas, eu entendi que é uma ordem divina(suor do rosto) e que comida e bebida e vestimenta o necessário , o Senhor sabe que necessitamos destas coisas . Mas caso eu queira enriquecer , ter em abundância , ou seja , mais do que o necessário, mansão , carros importados , desfrutar das melhores coisas que o dinheiro pode comprar , e trabalhar duro para isso . Como o Senhor vê isso ? Pois Paulo disse para não ambicionar coisas elevadas , também disse que tendo o necessário para nossa sobrevivência, já deveríamos estar satisfeitos , porque nada trouxemos neste mundo , e nada levaremos . Jesus disse para não ajuntarmos tesouros na terra . Estou confuso . Desejo trabalhar para enriquecer muito , por outro lado , tenho medo de não estar de acordo com a biblia . Muitos homens falam que é desejo de Deus que eu seja rico , mas tenho dúvida se isso é verdade mesmo .
    Enfim , estou pressionado em minha mente quanto essas coisas . É como se estivesse buscando uma autorização divina para enriquecer na terra , sabendo que o Senhor estará comigo nesse sonho . Pode me ajudar irmão ?

    Resposta
    • Sem problema querer enriquecer.. só precisa estar ciente que vai ter que trabalhar muito (muitas dores).
      Se for só um objetivo, ótimo.. o problema quando envolve uma cobiça, o que pode levar alguns a se desviarem. Há quem consiga enriquecer sem se desviar, e aqueles que nem conseguiram ser ricos e já se desviam do evangelho.

      “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” (I Timóteo 6 : 10)

      Resposta
      • Muito obrigado por sua ajuda Claudio . Seus estudos são maravilhosos . Comparo com as sagradas escrituras e impressiona o nível de assertividade e coerência. Estou ciente que terei que trabalhar muito ( dores ) , mas desde que não me desvie da verdade do evangelho estará tudo bem .

        Resposta

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