O Salmo 18 nem de longe trata de questões relacionadas ao salmista Davi ou de suas conquistas pessoais, antes, inspirado pelo Espírito Eterno ele profetizou cerca do Messias ( 2Sm 22). O Salmo 18 fala de como Deus retribuiria o Cristo segundo a pureza de suas mãos, visto que, Cristo é o único homem a não cometer pecado “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” ( 1Pe 2:22 ).
A angustia do Servo do Senhor
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Salmo 18
1 EU te amarei, ó SENHOR, fortaleza minha. 2 O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio. 3 Invocarei o nome do SENHOR, que é digno de louvor, e ficarei livre dos meus inimigos.
4 Tristezas de morte me cercaram, e torrentes de impiedade me assombraram. 5 Tristezas do inferno me cingiram, laços de morte me surpreenderam. 6 Na angústia invoquei ao SENHOR, e clamei ao meu Deus; desde o seu templo ouviu a minha voz, aos seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face.
7 Então a terra se abalou e tremeu; e os fundamentos dos montes também se moveram e se abalaram, porquanto se indignou. 8 Das suas narinas subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo que consumia; carvões se acenderam dele. 9 Abaixou os céus, e desceu, e a escuridão estava debaixo de seus pés. 10 E montou num querubim, e voou; sim, voou sobre as asas do vento. 11 Fez das trevas o seu lugar oculto; o pavilhão que o cercava era a escuridão das águas e as nuvens dos céus.
12 Ao resplendor da sua presença as nuvens se espalharam, e a saraiva e as brasas de fogo. 13 E o SENHOR trovejou nos céus, o Altíssimo levantou a sua voz; e houve saraiva e brasas de fogo. 14 Mandou as suas setas, e as espalhou; multiplicou raios, e os desbaratou. 15 Então foram vistas as profundezas das águas, e foram descobertos os fundamentos do mundo, pela tua repreensão, SENHOR, ao sopro das tuas narinas. 16 Enviou desde o alto, e me tomou; tirou-me das muitas águas. 17 Livrou-me do meu inimigo forte e dos que me odiavam, pois eram mais poderosos do que eu. 18 Surpreenderam-me no dia da minha calamidade; mas o SENHOR foi o meu amparo. 19 Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-me, porque tinha prazer em mim.
20 Recompensou-me o SENHOR conforme a minha justiça, retribuiu-me conforme a pureza das minhas mãos.
21 Porque guardei os caminhos do SENHOR, e não me apartei impiamente do meu Deus.
22 Porque todos os seus juízos estavam diante de mim, e não rejeitei os seus estatutos.
23 Também fui sincero perante ele, e me guardei da minha iniquidade.
24 Assim que retribuiu-me o SENHOR conforme a minha justiça, conforme a pureza de minhas mãos perante os seus olhos.
25 Com o benigno te mostrarás benigno; e com o homem sincero te mostrarás sincero;
26 Com o puro te mostrarás puro; e com o perverso te mostrarás indomável.
27 Porque tu livrarás o povo aflito, e abaterás os olhos altivos.
28 Porque tu acenderás a minha candeia; o SENHOR meu Deus iluminará as minhas trevas.
29 Porque contigo entrei pelo meio duma tropa, com o meu Deus saltei uma muralha.
30 O caminho de Deus é perfeito; a palavra do SENHOR é provada; é um escudo para todos os que nele confiam.
31 Porque quem é Deus senão o SENHOR? E quem é rochedo senão o nosso Deus?
32 Deus é o que me cinge de força e aperfeiçoa o meu caminho.
33 Faz os meus pés como os das cervas, e põe-me nas minhas alturas.
34 Ensina as minhas mãos para a guerra, de sorte que os meus braços quebraram um arco de cobre.
35 Também me deste o escudo da tua salvação; a tua mão direita me susteve, e a tua mansidão me engrandeceu.
36 Alargaste os meus passos debaixo de mim, de maneira que os meus artelhos não vacilaram.
37 Persegui os meus inimigos, e os alcancei; não voltei senão depois de os ter consumido.
38 Atravessei-os de sorte que não se puderam levantar; caíram debaixo dos meus pés.
39 Pois me cingiste de força para a peleja; fizeste abater debaixo de mim aqueles que contra mim se levantaram.
40 Deste-me também o pescoço dos meus inimigos para que eu pudesse destruir os que me odeiam.
41 Clamaram, mas não houve quem os livrasse; até ao SENHOR, mas ele não lhes respondeu.
42 Então os esmiucei como o pó diante do vento; deitei-os fora como a lama das ruas.
43 Livraste-me das contendas do povo, e me fizeste cabeça dos gentios; um povo que não conheci me servirá.
44 Em ouvindo a minha voz, me obedecerão; os estranhos se submeterão a mim.
45 Os estranhos descairão, e terão medo nos seus esconderijos.
46 O SENHOR vive; e bendito seja o meu rochedo, e exaltado seja o Deus da minha salvação.
47 É Deus que me vinga inteiramente, e sujeita os povos debaixo de mim;
48 O que me livra de meus inimigos; sim, tu me exaltas sobre os que se levantam contra mim, tu me livras do homem violento.
49 Assim que, ó SENHOR, te louvarei entre os gentios, e cantarei louvores ao teu nome,
50 Pois engrandece a salvação do seu rei, e usa de benignidade com o seu ungido, com Davi, e com a sua semente para sempre.
Este salmo seria um louvor de Davi pelas súplicas respondidas? Seria um agradecimento pelas ‘graças alcançadas’?
Não! Este salmo não foi composto para tratar das mazelas do dia a dia de um rei, antes é uma previsão que retrata o Cristo na condição de Servo do Senhor.
O amor
O salmista previu que a relação do Cristo com o Pai seria equivalente a de um senhor com um filho obediente ou com o seu servo, uma relação de amor (sujeição)! “EU te amarei, ó SENHOR, fortaleza minha” (v. 1).
Quando lemos: “Eu te amarei, ó Senhor”, não podemos pensar com a mente do homem moderno. O verso não apresenta uma relação baseada em sentimento, antes uma relação estabelecida em obediência, submissão. O ‘amor’ do Servo do Senhor revela-se em obediência. Não diz de um sentimento, mas da disposição em cumprir tudo o que lhe foi determinado.
O amor do verso 1 diz da obediência descrita por Samuel a Saul: “Porém Samuel disse: Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros” (1Sm 15:22); “Porque eu quero o amor mais que os sacrifícios; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos” (Os 6:6).
Jesus disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama” ( Jo 14:21 ), e, de igual modo Jesus guardou os mandamentos do Pai (amou), pois Ele mesmo disse: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra” ( Jo 4:34 ).
O servo perfeito é aquele que obedece, e o servo que obedece é o que verdadeiramente ama. Cristo cumpriu a vontade do Pai, de modo que Ele foi o Servo perfeito “Quem é cego, senão o meu servo, ou surdo como o meu mensageiro, a quem envio? E quem é cego como o que é perfeito, e cego como o servo do SENHOR?” ( Is 42:19 ).
Cristo foi formado no ventre de Maria para ser o perfeito servo do Senhor “E agora diz o SENHOR, que me formou desde o ventre para ser seu servo, para que torne a trazer Jacó; porém Israel não se deixará ajuntar; contudo aos olhos do SENHOR serei glorificado, e o meu Deus será a minha força” ( Is 49:5 ).
Na condição de servo, Jesus se socorreu da palavra de Deus, ou seja, fortaleceu-se na força do Pai (v. 30 -31). A força de Cristo é o próprio Deus por intermédio da sua palavra que não volta vazia! ( Is 55:11 ).
O Salmista como profeta do Senhor evidencia: “O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio” (v. 2 compare com Is 49:5 ). O profeta Isaías evidencia as mesmas características pertinentes ao Servo do Senhor.
Invocar é o mesmo que confiar. O que confia invoca, e o que invoca é porque confia. O Senhor Jesus glorificava o Pai quando O invocava. Por confiar em Deus, ficou livre de seus inimigos “Invocarei o nome do SENHOR, que é digno de louvor, e ficarei livre dos meus inimigos” (v. 3).
Uma profecia acerca de Cristo
Há quem diga que o salmista adorou a Deus através deste salmo quando venceu Saul e os seus inimigos, porém, tal composição poética é profética e aponta para a vida, condição e os sentimentos de Jesus de Nazaré, o Filho de Deus.
Quando lemos: “Tristezas de morte me cercaram, e torrentes de impiedade me assombraram. Tristezas do inferno me cingiram, laços de morte me surpreenderam” ( v. 4 e 5), não podemos pensar que o rei Davi estava compondo um ode às suas batalhas.
As ‘tristezas de morte’ que cercaram o Cristo diz da angustia que antecedeu a sua prisão no Getsêmani “Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo” ( Mt 26:38 ). O salmo 94 descreve os opositores de Cristo como sendo homens que, com intrépido se arremetem contra a vida do Justo, e condenam o sangue inocente a pretexto de uma lei ( Sl 94:21 -22).
Nas palavras dos escribas e fariseus havia verdadeiros laços de morte. As palavras deles eram comparáveis ao laço do passarinheiro, pois buscavam acusar o Cristo de qualquer modo, porém, Jesus não foi enlaçado por eles.
Estes versos do Salmo 18 retratam o momento que antecede a crucificação, e o triunfo de Cristo estabelecido na cruz, pois confiou continuamente no Pai “Na angústia invoquei ao SENHOR, e clamei ao meu Deus; desde o seu templo ouviu a minha voz, aos seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face” (v. 6). É este quadro que o Salmo 22 apresenta no verso 24: “Porque não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem escondeu dele o seu rosto; antes, quando ele clamou, o ouviu” ( Sl 22:24 ).
Como homem Jesus estava fraco, emitia gemido de dores e o coração aterrorizado pelas agruras que haveria de passar ( Sl 38:8 -11; Mc 14:33 ; Lc 22:44 ), mas a sua confiança no Pai permaneceu firme conforme o descrito no verso 2.
A promessa de Deus para o Cristo foi específica: “Porquanto tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei; pô-lo-ei em retiro alto, porque conheceu o meu nome. Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei” ( Sl 91:14 – 15).
No salmo 18 o Filho promete honrar (obedecer, amar) o Pai, já no salmo 91, o Pai promete livrá-lo, pois encarecidamente o obedeceu ( Sl 18:1 compare com Sl 91:14 ). Jesus confiou no Pai e entregou-se à morte, não fazendo caso da grande angustia ( Jo 10:17 -18). Ele enfrentou a paixão da morte, porém, a certeza da proteção do Pai foi consolo bem presente na angustia.
Quando o Filho em obediência ao Pai cumpriu o seu mandamento “… eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai” ( Jo 10:18 ), ocorreu o descrito nos versos 7 à 13: “Então a terra se abalou e tremeu; e os fundamentos dos montes também se moveram e se abalaram, porquanto se indignou. Das suas narinas subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo que consumia; carvões se acenderam dele. Abaixou os céus, e desceu, e a escuridão estava debaixo de seus pés. E montou num querubim, e voou; sim, voou sobre as asas do vento. Fez das trevas o seu lugar oculto; o pavilhão que o cercava era a escuridão das águas e as nuvens dos céus. Ao resplendor da sua presença as nuvens se espalharam, e a saraiva e as brasas de fogo. E o SENHOR trovejou nos céus, o Altíssimo levantou a sua voz; e houve saraiva e brasas de fogo”.
Estes versos descrevem a ação sobrenatural de Deus vindo em socorro do seu Filho. Diante da indignação do Todo-poderoso, a criação não resiste. O verso 8 descreve a divindade na sua ira, indignação, pronto a tomar vingança.
O socorro é instantâneo segundo o poder contido no ecoar da voz do Pai.
Quando Jesus rendeu o seu espírito, muitos viram os seguintes eventos: “E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras; E abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados” ( Mt 28:51 – 52).
O salmo 144 dá elementos para compreendermos a visão magnifica que o salmista teve. Após questionar quem era o Filho do homem e o motivo pelo qual o tem em alta estima, o salmista no Salmo 144, verso 4, demonstra que os dias do Messias na terra seriam curtos ( Is 53:8 ).
Em seguida, temos a palavra profética do Cristo de Deus clamando para que Deus abaixe os céus e venha em seu socorro ( Sl 144:5 ). Que Deus estenda as suas mãos e o retire das muitas águas, das mãos dos que não conhecem ao Senhor ( Sl 144:6 ; Ap 13:1 ).
Já o salmo 97 apresenta o Cristo glorificado e assentado no trono da sua majestade. Os mesmos elementos que há no salmo 18 e 144 aplicam-se ao Senhor que retornou à sua glória e está entronizado. O Senhor Jesus é descrito como possuindo um fogo que vai adiante transformando os seus inimigos em carvão ( Sl 97:3 ). A sua glória é descrita como a luz dos relâmpagos, o que faz os moradores da terra tremerem. Os montes se derreteram, ou seja, as nações se derretem na presença do Senhor, a quem pertence a terra e toda a sua plenitude ( Sl 97:5 ).
Salmo 104 e Salmo 18
A mesma descrição do salmo 18 que se refere a Deus é aplicada ao Cristo glorificado no salmo 104, o que indica a divindade de Cristo “Ele se cobre de luz como de um vestido, estende os céus como uma cortina. Põe nas águas as vigas das suas câmaras; faz das nuvens o seu carro, anda sobre as asas do vento. Faz dos seus anjos espíritos, dos seus ministros um fogo abrasador” ( Sl 104:2 -4).
Enquanto os algozes de Cristo pensavam que eram vitoriosos pela empreitada que deu cabo da existência do Filho do homem neste mundo, Deus estabeleceu a vitória do seu Ungindo e dos seus servos ( Is 53:8 ). Oculto dos olhos dos homens, enquanto os montes se moviam e se abalavam, Deus tomou vingança contra os inimigos do seu Ungido.
Nos versos 16 e 17, a previsão do salmista descreve como Cristo foi socorrido. Deus enviou socorro do alto e tirou-o da turba que se insurgiu contra Ele (águas). Quando Cristo morreu na cruz, ficou livre dos seus opositores, que naquele momento eram mais fortes e descritos como touros de Basã “Muitos touros me cercaram; fortes touros de Basã me rodearam” ( Sl 22:12 ; Sl 18:16 e 17; At 4:27). Neste verso, ‘águas’ refere-se aos homens, conforme se depreende do paralelismo existente na seguinte citação: “Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza (…) Os gentios se embraveceram; os reinos se moveram; ele levantou a sua voz e a terra se derreteu” ( Sl 46: 3 e 6; Sl 124:2 e 3; Sl 144:7 ; Ap 17:15 ).
Apesar da calamidade que se abateu sobre Cristo, o Senhor foi o seu amparo ( Sl 18:18 ). Apesar da morte de cruz, Cristo foi arrancado do lamaçal e os seus pés posto em lugar firme e espaçoso “… livrou-me, porque tinha prazer em mim” (v. 19; Sl 40:2 ). O livramento que o Pai lhe proporcional se deu porque Cristo era aprazível ( Mc 1:11 ).
Deus retribuiu o seu Filho amado segundo a sua retidão. Segundo a pureza de suas mão, o Cristo de Deus foi recompensado ( Sl 18:20 ; Sl 15 ; Sl 24:4 ). Cristo deleitou-se em fazer a vontade do Pai ( Sl 40:8 -10), ou seja, cumpriu tudo o que estava predito nas Escrituras.
Cristo foi o único homem que se apresentou diante de Deus com mãos puras, pois permaneceu no caminho do Senhor, não rejeitou os seus decretos, foi sincero e guardou-se da iniquidade ( Sl 18:24 ). O salmo 26 descreve a condição do Messias, o único que pode clamar ao Senhor para ser provado e examinado, pois foi integro e justo em todos os seus caminhos “Lavo as minhas mãos na inocência (…) Mas eu ando na minha sinceridade; livra-me e tem piedade de mim” ( Sl 26:6 e 11 ).
Somente o Cristo-homem foi bom, sincero e puro diante de Deus. Estas qualidades não são próprias dos homens gerados de Adão, pois com relação aos nascidos segundo a carne não há quem faça o bem (v. 25- 26).
Se todos os homens juntamente se desviaram e não há se quer um que faça o bem, como Davi poderia considerar que era puro de mãos e merecedor da benignidade de Deus conforme a sua própria bondade? ( Sl 14:3 ; Sl 51:5 ; Sl 58:3 ).
O salmista apresenta um princípio inviolável: “Com o benigno te mostrarás benigno; e com o homem sincero te mostrarás sincero; Com o puro te mostrarás puro; e com o perverso te mostrarás indomável” ( Sl 18:25 -26), o mesmo que foi dito a Moisés: “Porém ele disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do SENHOR diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer” ( Êx 33:19 ).
Estes versos são mal compreendidos, pois utilizam para enfatizar a soberania de Deus, mas, o que eles evidenciam é a justiça de Deus. Tais versos foram interpretados pelo apóstolo Paulo: “Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo” ( 2Tm 2:11 -13).
Deus se mostra benigno para os que O obedecem, mas para os que se apartam de Deus, não há compaixão. Deus só tem misericórdia dos misericordiosos, de modo que Ele se compadece dos que O obedecem.
O salmo enfatiza que Deus salva os humildes, os aflitos, porém, abate os soberbos, os altivos. Ora, os humildes são aqueles que reconhecem a sua miséria e invocam o Senhor em busca de salvação. Já os altivos, são aqueles que confiam na força dos seus braços, que faz da carne a sua salvação. Estes são aqueles que confiam que são salvos por serem descendentes da carne de Abraão (v. 27).
Em nossos dias também há muitos ‘altivos’. São pessoas que não confiam em Deus que salva, antes depositam a sua confiança em prática tais como jejuns, orações, sacrifícios, votos, etc.
O verso 28 demonstra que Cristo não confiaria da carne como os seus compatriotas, antes repousaria em Deus, que é Luz. É Deus que manteve a candeia do Cristo e o guiaria em meio às trevas. Como homem Jesus dependeu inteiramente do Pai, sendo luz para o seu povo e para os gentios “Ali farei brotar a força de Davi; preparei uma lâmpada para o meu ungido” ( Sl 132:17 ). Certo é que a palavra de Deus é lâmpada para os pés ( Pv 6:23 ; Sl 119:130 ).
Neste verso, ‘luz’ deve ser interpretada como entendimento, compreensão, e ‘trevas’ deve ser interpretado como ‘ignorância’, ‘simplicidade’, ‘inocência’ (v. 28); “Aos justos nasce luz nas trevas; ele é piedoso, misericordioso e justo” ( Sl 112:4 ).
Com o auxilio do Pai, Jesus esteve no meio de um exército de inimigos. Em meios aos seus inimigos Jesus não voltou atrás na missão de cumprir a vontade de Deus. Fazer a vontade do Pai era a comida de Cristo “Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra” ( Jo 4:34 ).
É por isso que o profeta Davi predisse: “Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda” ( Sl 23:5 ). Ir ao calvário diz da mesa preparada na frente dos inimigos do Cristo, pois ali Jesus estava fazendo a vontade de Deus. Como fazer a vontade do Pai era a comida de Jesus, e o calvário era da vontade do Pai, morrer na cruz era uma mesa posta na presença dos inimigos de Cristo.
O sacrifício do cordeiro de Deus que tira ao pecado do mundo era uma mesa farta preparada aos olhos dos inimigos. Ele foi o escolhido de Deus para beber do cálice que o Pai apresentou “E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” ( Mt 26:39 ).
Todos que aceitarem a Cristo tornam-se participantes da mesa posta, ou seja, da obediência de Cristo e fazem a vontade de Deus “E eles lhe disseram: Podemos. Jesus, porém, disse-lhes: Em verdade, vós bebereis o cálice que eu beber, e sereis batizados com o batismo com que eu sou batizado” ( Mc 10:39 ). Como a morte de Cristo foi em obediência ao Pai, houve substituição de ato, obediência pela desobediência, e tragada foi a morte na vitória: o último Adão obedeceu, todos que dele são gerados herdam a benesse de viver eternamente, contrapondo ao primeiro Adão, que desobedeceu, e todos que dele são gerados estão mortos em delitos e pecados ( Rm 5:18 ).
A oposição da multidão não impediu que Cristo realizasse a vontade de Deus ( Lc 4:29 -30). O que Deus estabeleceu é perfeito, pois a sua palavra é pura e serve de escudo para os que confiam em Deus ( Sl 91:4 ).
O Servo obediente
Por submeter-se ao Pai, Cristo é o perfeito caminho. A palavra provada e fiel. Ele é escudo para os que n’Ele confiam. Cristo é a rocha para os n’Ele confiam. Ele é a fé pela qual o justo viverá. Ele é o firme fundamento, e prova das coisas que se esperam.
Daí o testemunho das escrituras da divindade de Cristo: “Porque quem é Deus senão o Senhor?”. É o Pai que ordena ao Filho que se assente à sua direita nas alturas ( Sl 110:1 ).
As possibilidades atinentes ao Messias advinham de Deus, em quem Ele confiava, de modo que estava revestido da armadura de Deus (v. 32 ; Ef 6:10 ). Assim como o caminho dos justos é comparável à luz da aurora, que vai brilhando até a perfeição, em Deus está a plenitude (v. 32).
É Deus que protege os pés, adestra as mãos e alça o seu Filho à vitória por intermédio da sua palavra ( Sl 18:33 -35 ; Is 59:17 ). A descrição deste salmo demonstra que Jesus foi participante de todas as fraquezas pertinente aos homens e em tudo foi tentado, porém, sem pecado ( Hb 4:15 e Hb 5:7 ).
Após descrever a força que Deus lhe proporcionou, de modo que submeteu debaixo dos seus pés os seus inimigos (v. 36 -40 ), no verso 41 fica claro que os inimigos do Messias são os filhos de Jacó, pois eles clamaram a Deus, porém, não foram atendidos “Clamaram ao Senhor, mas ele não lhes respondeu” ( Sl 18:41 ).
Cristo os esmiuçou ( Mt 21:44 ). Cristo foi livre dos ataques do povo e foi feito cabeça das nações ( Is 42:6 ; Is 49:6 e At 13:47 ). Um povo que Ele não conhecia, passaram a servi-lo. Esta profecia tem duplo cumprimento: a) através da igreja, e; b) no milênio, como rei das nações ( Sl 2 ).
Cristo é a cabeça da igreja, que é o seu corpo. A igreja é o povo escolhido dentre gentios e judeus, formado para louvor e glória de Deus.
O salmo deixa claro que a vingança pertence ao Cristo glorificado, que após perseguir velozmente os seus inimigos, abateu a todos (v. 37 -38). Este feito foi profetizado no Salmo 110, verso 1. É Deus quem sujeita os povos a Cristo. É Deus que livrou o Cristo do levante dos homens violentos, ou seja, daqueles que fazem da sua carne o seu braço, a sua força (violento).
O apóstolo Paulo aplica o Salmo 18 à pessoa de Cristo quando cita o verso 49: “Digo, pois, que Jesus Cristo foi ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus, para que confirmasse as promessas feitas aos pais; E para que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericórdia, como está escrito: Portanto eu te louvarei entre os gentios, E cantarei ao teu nome. E outra vez diz: Alegrai-vos, gentios, com o seu povo. E outra vez: Louvai ao Senhor, todos os gentios, E celebrai-o todos os povos. Outra vez diz Isaías: Uma raiz em Jessé haverá, E naquele que se levantar para reger os gentios, Os gentios esperarão” ( Rm 15:8 -12; Sl 18:49 ).
Deus dá vitórias ao rei que Ele elegeu “Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião” ( Sl 2:6 ). Deus usou de benignidade para com o seu Ungido, que é Cristo. Também usou de benignidade para cm Davi, pois da casa de Davi veio o Cristo. Deus usa de benignidade para com os descendentes do seu Ungido, pois é esta a promessa que Ele fez “Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as firmes beneficências de Davi” ( Is 55:3 ; Sl 18:50 ).
Todos que ouvem e aprendem de Cristo, que é humilde e manso de coração, tornam-se participantes das firmes beneficências prometidas a Davi. Cristo é o servo do Senhor que produz descendência a Abraão. Cristo é a semente que produz filhos a Deus “Porém tu, ó Israel, servo meu, tu Jacó, a quem elegi descendência de Abraão, meu amigo” ( Is 41:8 ).
Para compreendermos esta colocação de Isaías, temos que nos socorrer do apóstolo Paulo, que disse: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo” ( Gl 3:16 ).
O Israel servo do Senhor, ou o Jacó eleito, diz de Cristo, o descendente de Abraão. É por Isso que o evangelista Mateus diz que a profecia de Oséias fez referencia a Cristo “E esteve lá, até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta, que diz: Do Egito chamei o meu Filho” ( Mt 2:15 ); “QUANDO Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei a meu filho” ( Os 11:1 ).
Muitos entendem que Deus amou especificamente o povo de Israel, porém, esquecem que dos que saíram do Egito, somente dois não pereceram no deserto. Quando o verso diz que Deus amou Israel, significa que Deus cuidou, preservou a Israel, visto que Deus fez aliança com os patriarcas “O SENHOR não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; Mas, porque o SENHOR vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito (…) e para confirmar a palavra que o SENHOR jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó” ( Dt 7:7 -8 e Dt 9:5 ).
O sentido da profecia é: Deus cuidou (amou) de Israel para que fosse possível trazer o seu Filho a existência, pois esta foi a promessa feita a Abraão. Deus não prometeu salvar os filhos da carne de Abraão, antes que traria a existência, por meio da carne de Abraão, o seu Filho Jesus Cristo.
Em outras palavras, quando Israel foi formado, Deus cuidou (amou) deles resgatando-os do Egito, de modo que o ato de resgatar o povo de Israel é o que proporcionou trazer o seu Filho Jesus Cristo a existência, confirmando a promessa feita aos pais.
Após analisar o Salmo 18, lembremos-nos das palavras de Cristo: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” ( Jo 5:39 ). O que me leva a concluir que, assim como muitos outros salmos, o Salmo 18 é um testemunho vivo de quem é o Cristo de Deus.