Isaías

Nem os loucos errarão o caminho

Os “loucos” que não errarão o caminho, conforme diz Isaías: Nem os loucos errarão o caminho, representam o povo de Israel, historicamente descrito como insensato e rebelde por rejeitar a palavra de Deus e seguir seus próprios caminhos. A promessa refere-se à restauração futura de Israel, quando, eles anteriormente descritos como “loucos” serão guiados pelo “caminho santo” e não se desviarão mais.


Nem os ‘loucos’ errarão o caminho

“E ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão.” (Isaías 35:8).

Loucos por Cristo: Uma reflexão à luz das Escrituras

Nos últimos tempos, observa-se uma onda crescente de cristãos que se autodenominam “loucos por Cristo”. Mas será que essa atitude encontra respaldo nas Escrituras?

O apóstolo Paulo argumentou que o mundo não conheceu a Deus por sua própria sabedoria: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu” (João 1:10). Ele complementa, dizendo: “Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” (1 Coríntios 1:21). Para os judeus, Jesus era um escândalo; para os gregos, uma loucura: “Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos” (1 Coríntios 1:23).

Contudo, o que o mundo considera “loucura” é, na verdade, a sabedoria e o poder de Deus. O apóstolo enfatiza:

“Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1 Coríntios 1:25).

E é por isso que o apóstolo Paulo declarou que não se envergonhava do evangelho: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Romanos 1:16). Ele também exortou Timóteo a não se envergonhar do testemunho do Senhor, nem de sua condição como prisioneiro por causa do evangelho: “Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes, participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus” (2 Timóteo 1:8).

Para aqueles que perecem, a mensagem da cruz é loucura; mas para os que creem, ela é o poder de Deus: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (1 Coríntios 1:18). Diante do evangelho, o sábio, o escriba e o inquiridor deste século tiveram sua sabedoria desmascarada e reduzida a nada, pois Deus escolheu salvar os crentes por meio da pregação, que os sábios chamam de loucura. Como Paulo escreve:

“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Coríntios 2:14).

Os apóstolos: Loucos por amor a Cristo

Em certa ocasião, o apóstolo Paulo afirmou que os apóstolos eram “loucos por amor de Cristo”: “Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós desprezíveis” (1 Coríntios 4:10). De forma irônica, Paulo destacou o contraste entre os apóstolos e alguns cristãos que se apresentavam como nobres, fortes e ilustres.

Os apóstolos, por outro lado, enfrentavam fome, sede, nudez, injúrias e não tinham pousada certa. Trabalhavam arduamente, se deixavam gastar em prol do evangelho e, mesmo sob perseguição, resignavam-se e abençoavam. Quando injuriados, bendiziam; quando perseguidos, suportavam; quando difamados, consolavam. Como Paulo descreve: “Até agora, temos chegado a ser como o lixo deste mundo e como a escória de todos” (1 Coríntios 4:13). Tais atitudes poderiam ser vistas como loucura, mas eram, na verdade, uma expressão do amor por Cristo.

Loucura ou juízo?

O termo “loucura” foi utilizado para destacar o grau de comprometimento dos apóstolos ao servir a Deus. Contudo, Paulo esclarece que essa aparente loucura era para Deus, enquanto conservavam o juízo em função dos cristãos:

“Porque, se enlouquecemos, é para Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós” (2 Coríntios 5:13).

Poucos estão dispostos a enfrentar as agruras que os apóstolos suportaram por causa do evangelho, mas muitos se gloriam ao se apresentarem como “loucos por Cristo”, desconsiderando o contexto e o verdadeiro significado desse termo (2 Coríntios 5:12).

 

Erros na interpretação das Escrituras

Muitos erros doutrinários, incoerências e falsas interpretações decorrem do uso inadequado das Escrituras, frequentemente retiradas de seu contexto. É comum encontrar quem cite frases bíblicas como “E um ao outro ajudou e ao seu companheiro disse: esforça-te” (Isaías 41:6); “Maldito o homem que confia no homem” (Jeremias 17:5); “A letra mata, mas o espírito vivifica” (2 Coríntios 3:6); ou “Nem os loucos errarão o caminho” (Isaías 35:8), divorciando-as completamente de seu contexto original.

Citar as Escrituras sem compreender o significado completo de seus textos e ignorando seu contexto pode levar a erros graves. Assim, o chamado a ser “louco por Cristo” deve ser entendido não como uma licença para agir sem reflexão, mas como um convite ao compromisso profundo com o evangelho, ainda que o mundo considere essa entrega como loucura.

Os erros, as incoerências, as discrepâncias, as falsas doutrinas, etc., decorrem da má interpretação que fazem da Bíblia. E, tanto mais a passagem bíblica é citada, quanto mais é divorciada do seu contexto.

Há muitos que dispõe de uma facilidade sobrenatural em citar as escrituras fora do contexto, a exemplo do que fazem com as frases seguintes: ‘E um ao outro ajudou e ao seu companheiro diz esforça-te’; ‘maldito o homem que confia no homem’; ‘a letra mata, mas o espírito vivifica’, ou ‘nem os loucos errarão o caminho’, etc.

 

Quem são os “loucos” que não errarão o caminho? Qual é a loucura em questão?

A passagem de Isaías contém uma promessa fascinante: “E ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão” (Isaías 35:8). Para compreendermos essa declaração, devemos buscar respostas exclusivamente nas Escrituras.

O adjetivo hebraico אֱוִיל traduzido como “louco” no verso em questão refere-se a estultície, imprudência, ou aversão à prudência e ao entendimento. Não se trata de doença mental, mas de um comportamento caracterizado pela insensatez, frequentemente associado à teimosia e rebeldia (Êxodo 32:9).

A estultície de Israel

Os profetas de Deus frequentemente descreveram o povo de Israel como “loucos” por sua rebeldia.

“Recompensais assim ao SENHOR, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai que te adquiriu, te fez e te estabeleceu?” (Deuteronômio 32:6).

Jeremias, por exemplo, denunciou a loucura entre os falsos profetas, que falavam sem serem enviados por Deus:

“Nos profetas de Samaria bem vi loucura; profetizavam da parte de Baal, e faziam errar o meu povo de Israel (…) Assim diz o Senhor dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas, que entre vós profetizam; fazem-vos desvanecer; falam da visão do seu coração, não da boca do Senhor” (Jeremias 23:13, 16).

Isaías também declarou que Deus transtornava os inventores de mentiras e convertia sua sabedoria em loucura:

“Que desfaço os sinais dos inventores de mentiras, e enlouqueço os adivinhos; que faço tornar atrás os sábios, e converto em loucura o conhecimento deles (Isaías 44:25).

O salmista igualmente menciona os néscios, ou loucos, que rejeitam a Deus e negligenciam a verdade, apesar de terem contato com ela:

“DISSE o néscio no seu coração… (…) Acaso não têm conhecimento os que praticam a iniquidade, os quais comem o meu povo como se comessem pão? Eles não invocaram a Deus” (Salmos 53:1 e 4).

Num primeiro momento, poderia parecer que os néscios mencionados no Salmo são os ateus, especialmente devido à declaração: “Diz o néscio no seu coração: Não há Deus” (Salmos 53:1). No entanto, o contexto revela algo mais profundo. Os néscios referidos são, na verdade, líderes de Israel que, embora tivessem acesso à verdade de Deus, cometiam a loucura de negligenciá-la.

A néscia insensatez desses líderes não estava em uma mera negação intelectual da existência de Deus, mas em sua negligência com a palavra de Deus, que é alimento para a alma faminta. Eles desprezavam a aliança com o Senhor, rejeitavam Seu conhecimento e seguiam seus próprios caminhos, cometendo injustiças contra o povo que deveriam, calcados na palavra de Deus, proteger e guiar. O salmo descreve esses líderes agindo de forma brutal e insensata através de enigmas, sugerindo exploração e opressão ao povo de Deus, pois tinham contato com a verdade, cometiam a loucura de negligenciá-la.

O apóstolo Paulo, ao citar o Salmo 53, demonstrou que tanto judeus quanto gentios estão igualmente debaixo do pecado: “Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado” (Romanos 3:9). Ele concluiu dizendo: “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus” (Romanos 3:19). Essa declaração visava mostrar aos judaizantes que os próprios judeus se desviaram e não buscavam a Deus, mesmo sendo portadores da lei.

Nesse contexto, vários salmos protestam contra o comportamento do povo de Israel, rotulando-os como “loucos” ou insensatos. O salmista adverte: “Disse eu aos loucos: Não enlouqueçais; e aos ímpios: Não levanteis a fronte” (Salmos 75:4). Em outro lugar, descreve: “O homem brutal não conhece, nem o louco entende isto” (Salmos 92:6). Ainda questiona: “Atendei, ó brutais dentre o povo; e vós, loucos, quando sereis sábios?” (Salmos 94:8).

O profeta Jeremias também não poupou palavras ao denunciar a insensatez do povo de Israel. Ele declarou: “Deveras o meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios, e não entendidos; são sábios para fazer o mal, mas não sabem fazer o bem” (Jeremias 4:22). Em outra ocasião, afirmou: “Eu, porém, disse: Deveras estes são pobres; são loucos, pois não sabem o caminho do Senhor, nem o juízo do seu Deus” (Jeremias 5:4). Ele ainda acrescenta: “Mas eles todos se embruteceram e tornaram-se loucos; ensino de vaidade é o madeiro” (Jeremias 10:8).

Essas passagens ressaltam a insensatez do povo de Israel, que, embora tivesse acesso à revelação divina, rejeitava o conhecimento de Deus e seguia seus próprios caminhos. A loucura atribuída a eles é marcada pela desobediência, teimosia e recusa em buscar a sabedoria e o caminho do Senhor.

O contexto de Isaías 35

A promessa de Isaías 35 está inserida no contexto da restauração de Israel. Deus anuncia um tempo de refrigério, em que mesmo o povo de dura cerviz – frequentemente descrito como cego e surdo aos caminhos do Senhor – não errará mais o caminho: “Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde, que anda por caminho que não é bom, após os seus pensamentos” (Isaías 65:2; 59:10; Êxodo 32:9). Nesse dia, o povo de Israel deixará de ser guiado por profetas falsos e seguirá a verdade de Deus: “Assim diz o Senhor Deus: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito e que nada viram!” (Ezequiel 13:3).

A “loucura” mencionada em Isaías 35:8 refere-se à estultície e imprudência do povo de Israel, que por gerações rejeitou o conhecimento de Deus e seguiu os desvarios do coração e as mentiras dos líderes corruptos. Apesar disso, Deus promete um tempo de restauração, em que eles serão guiados por um “caminho santo” e jamais errarão novamente.

Os falsos profetas e sua influência

Jeremias e outros profetas denunciaram a insensatez dos falsos profetas e sacerdotes, que desviaram o povo do caminho correto: “Chegarão os dias da punição, chegarão os dias da retribuição; Israel o saberá; o profeta é um insensato, o homem de espírito é um louco, por causa da abundância da tua iniquidade, também haverá grande ódio” (Oséias 9:7). Esses líderes religiosos, que anunciavam mentiras em nome do Senhor, são frequentemente condenados: “Porquanto fizeram loucura em Israel, e cometeram adultério com as mulheres dos seus vizinhos, e anunciaram falsamente, em meu nome, uma palavra que não lhes mandei, e eu o sei e sou testemunha disso, diz o Senhor” (Jeremias 29:23).

A restauração prometida

A promessa de Isaías 35:8 aponta para um futuro em que Deus restaurará Israel. Nesse dia, até mesmo aqueles que antes eram descritos como “loucos” – insensatos e rebeldes – serão conduzidos pelo “caminho santo” e não mais se desviarão. Essa restauração não é mérito do povo, mas fruto da fidelidade e do poder de Deus, que guarda a promessa feita aos pais.

“O SENHOR não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; Mas, porque o SENHOR vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito.” (Deuteronômio 7:7-8).

 

Os Loucos de Israel e a sua Loucura

A “loucura” dos “loucos” de Israel consistia em seguir aquilo que Deus não ordenara e anunciar o que Deus não dissera. Este era o “adultério” que Deus condenava de forma veemente. A “mulher estranha” mencionada em Provérbios é uma figura alegórica que representa a nação de Israel, que utilizava palavras sedutoras, e não sensualidade, para desviar os simples da aliança com Deus:

“Para te afastar da mulher estranha, sim da estranha que lisonjeia com suas palavras; que deixa o guia da sua mocidade e se esquece da aliança do seu Deus” (Provérbios 2:16-17).

Por interpretar essas passagens sob uma perspectiva moral e comportamental, o povo de Israel se distinguia das outras nações por sua religiosidade e moralidade aparentes. Contudo, honravam a Deus apenas com palavras e rituais exteriores, enquanto seus corações permaneciam distantes da Sua palavra, tornando-se adúlteros espirituais: “Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído” (Isaías 29:13). E ainda: “Ouvi-me, ó duros de coração, os que estais longe da justiça” (Isaías 46:12).

Esses “loucos” seguiam caminhos que os conduziam à destruição. Sua estultícia era evidente, mas as gerações seguintes continuavam a aprovar e seguir as palavras e práticas de seus pais, perpetuando o erro:

“Este caminho deles é a sua loucura; contudo a sua posteridade aprova as suas palavras” (Salmos 49:13).

A solução estava em ouvir a palavra do Senhor, que os desviaria da loucura e os conduziria à salvação:

“Escutarei o que Deus, o Senhor, falar; porque falará de paz ao seu povo e aos seus santos, para que não voltem à loucura” (Salmos 85:8).

A repreensão de Jesus aos “loucos” de Israel

Jesus, ao enfrentar fariseus, escribas e saduceus, também os chamou de “loucos” e “néscios”. Ele os repreendeu por sua hipocrisia e cegueira espiritual: “Loucos! Quem fez o exterior não fez também o interior?” (Lucas 11:40). Nesse ato, Cristo não apenas corrigia seus interlocutores, mas também afirmava sua autoridade divina, identificando-se como Aquele que havia falado por intermédio dos profetas.

Enquanto os profetas falavam em nome do Senhor, Cristo, com autoridade própria, diretamente nomeava os líderes religiosos de “loucos” e “insensatos”. Em suas palavras, denunciava a inversão de valores e a falta de entendimento espiritual:

“Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro, ou o templo, que santifica o ouro?” (Mateus 23:17).

Até mesmo os dois discípulos no caminho de Emaús, por não crerem em tudo o que os profetas haviam dito, foram chamados de “loucos” por Jesus, isso por serem judeus:

“E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!” (Lucas 24:25).

O apóstolo Paulo também destacou que os líderes de Israel se consideravam instrutores de néscios, mas eram faltos de entendimento espiritual.

“Instrutor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei” (Romanos 2:20).

Em contrapartida, exorta os cristãos:

“Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios” (Efésios 5:15).

Jesus chamou os líderes de Israel de “raça de víboras” em alusão ao vinho espiritual que produziam, descrito por Moisés como “ardente veneno de serpentes e peçonha cruel de víboras” (Deuteronômio 32:33). Como estavam em um caminho de destruição, Jesus utiliza “Sodoma” e “Gomorra” como figura, apontando para o juízo que lhes estava reservado: “Eu vos digo, porém, que haverá menos rigor para os de Sodoma, no dia do juízo, do que para ti” (Mateus 11:24). Isaías ecoa essa acusação: “Ouvi a palavra do Senhor, vós poderosos de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra” (Isaías 1:10). Jeremias também denuncia:

“Mas nos profetas de Jerusalém vejo uma coisa horrenda: cometem adultérios, e andam com falsidade, e fortalecem as mãos dos malfeitores, para que não se convertam da sua maldade; eles têm-se tornado para mim como Sodoma, e os seus moradores como Gomorra” (Jeremias 23:14).

O vinho da contenda que leva ao erro

O erro persiste nos dias de hoje. Muitos afirmam estar cheios do Espírito, profetizam, operam sinais e maravilhas e orientam seus seguidores a buscarem tal plenitude, mas falham em discernir o verdadeiro significado do vinho que o apóstolo Paulo instrui os cristãos a evitarem. Esse vinho não é literal, mas se refere ao vinho espiritual mencionado por Moisés, do qual participava um povo louco e ignorante:

“Recompensais assim ao Senhor, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai que te adquiriu, te fez e te estabeleceu? (…) Porque são gente falta de conselhos, e neles não há entendimento. Quem dera eles fossem sábios! Que isto entendessem, e atentassem para o seu fim! (…) Porque a sua vinha é a vinha de Sodoma e dos campos de Gomorra; as suas uvas são uvas venenosas, cachos amargos têm. O seu vinho é ardente veneno de serpentes, e peçonha cruel de víboras” (Deuteronômio 32:6, 28-29, 32-33).

O profeta Isaías também descreve os efeitos desse vinho espiritual: “Mas também estes erram por causa do vinho, e com a bebida forte se desencaminham; até o sacerdote e o profeta erram por causa da bebida forte; são absorvidos pelo vinho; desencaminham-se por causa da bebida forte; andam errados na visão e tropeçam no juízo” (Isaías 28:7). Ele ainda acrescenta: “Tardai, e maravilhai-vos, folgai, e clamai; bêbados estão, mas não de vinho, andam titubeando, mas não de bebida forte” (Isaías 29:9).

Em nossos dias, muitos se declaram cheios do Espírito Santo, mas, se isso fosse verdade, seriam capazes de discernir, compreender e interpretar as Escrituras – Salmos, Profetas e a Lei – assim como o apóstolo Pedro fez, ao anunciar Cristo aos seus compatriotas utilizando-se dos Salmos:

“Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo para o assentar sobre o seu trono… Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés” (Atos 2:30-35).

O vinho da contenda e os loucos

Não é coerente estar cheio do Espírito e desconhecer que o “vinho da contenda” simboliza a doutrina dos “loucos”, conforme adverte o apóstolo Paulo: “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Efésios 5:18). Aqueles que andam segundo o Espírito devem reconhecer que os sensuais e carnais – que causam dissensão e contendas – são aqueles que não possuem o Espírito que vivifica:

“Estes são os que causam divisões, sensuais, que não têm o Espírito” (Judas 1:19).

Ainda mais grave é não compreender que a “letra que mata” refere-se à antiga aliança, aos ensinos legalistas e carnais dos “loucos”, que rejeitam o evangelho de Cristo. O apóstolo Paulo esclarece:

“O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata e o Espírito vivifica” (2 Coríntios 3:6).

E Jesus afirmou:

“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida” (João 6:63).

O espírito que vivifica é Cristo

Qualquer que não reconhece que o Espírito que vivifica é Cristo – o poder de Deus, o Verbo encarnado, o Espírito de profecia, a palavra que procede da boca de Deus, a fé manifesta – não é de Cristo, ainda que aparente santidade ou humildade:

“Estas coisas têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não têm valor algum contra a satisfação da carne” (Colossenses 2:23).

Ser cheio do Espírito é o mesmo que ter a palavra de Cristo habitando abundantemente no coração:

“Habite ricamente em vós a palavra de Cristo, em toda a sabedoria” (Colossenses 3:16);

“E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Efésios 5:18-19).

Como alguém pode afirmar estar cheio do Espírito e não reconhecer que as palavras de Cristo são Espírito e vida?

A verdadeira comparação espiritual

Muitos hoje comparam comportamentos com comportamentos e pessoas com pessoas, sem entender que “comparar coisas espirituais com espirituais” significa comparar as palavras de Cristo, que são Espírito e vida, com as palavras dos profetas, pois o Espírito de profecia, que é Cristo, falava por meio deles:

“As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando coisas espirituais com espirituais” (1 Coríntios 2:13);

“Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava” (1 Pedro 1:11).

Se não compreendem as Escrituras, o que aprenderam do Espírito Santo? Com pode o Espírito de Deus estar neles se não compreendem as escrituras?

Jesus prometeu:

“Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós” (Mateus 10:20);

“Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade” (João 16:13).

Será que aprenderam do Espírito Santo que o homem maldito não é aquele que confia em seu próximo, mas sim aquele que confia em si mesmo? Será que ainda não percebem que o homem que deposita sua confiança na força do seu próprio braço e rejeita a força, a salvação que vem do Senhor, é o retrato dos “loucos” de Israel?

O profeta Jeremias adverte: “Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor” (Jeremias 17:5). Este maldito não é aquele que confia no seu semelhante, mas aquele que confia em sua própria força, rejeitando a suficiência e o poder de Deus.

Os “loucos” de Israel, mencionados em várias passagens das Escrituras, representam aqueles que, confiando em si mesmos, rejeitam a palavra do Senhor e trilham caminhos de destruição. Salomão também descreve comportamentos abomináveis que o Senhor odeia, que derivam da falta de compreensão da vontade do Senhor:

“Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente (…) e o que semeia contendas entre irmãos” (Provérbios 6:16-19).

A verdadeira sabedoria e segurança estão em confiar no Senhor, não em nossas próprias capacidades ou julgamentos.

A recomendação de Paulo e o erro dos “loucos”

Aqueles que não seguem a recomendação de “não ir além do que está escrito” mostram que estão “inchados” em sua compreensão carnal: “Para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito” (1 Coríntios 4:6); “E não se detém na cabeça, do qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus” (Colossenses 2:18).

Por isso, o apóstolo João advertiu:

“Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1 João 4:1).

Após observar que o termo “louco” nas Escrituras aplica-se aos judeus por sua estultícia em rejeitar a palavra de Deus, concluímos que não é coerente um cristão se auto intitular “louco”. O apóstolo Paulo instrui os cristãos a evitarem comportamentos que levem os incrédulos a tal impressão:

“Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão, porventura, que estais loucos?” (1 Coríntios 14:23).

Reflexão

Essas passagens revelam que o “vinho” descrito simboliza doutrinas dos judaizantes, ensinamentos e práticas que desviam o povo de Deus do caminho correto, conduzindo-os à destruição. O “povo louco” mencionado nos textos é a nação de Israel, que não é apenas insensato, mas espiritualmente cego e incapaz de discernir a verdade. Somente ao ouvir a palavra de Deus (evangelho) e seguir (obedecer, crer) a Sua justiça (Jesus) é que poderiam se livrar dessa loucura e encontrar salvação.

 

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

7 thoughts on “Nem os loucos errarão o caminho

  • GOSTEI MUITO DESSE ESTUDOS MUITO BOM LEGAL

    Resposta
  • Que loucura de ensino . Porque nunca viveu entre loucos, como meu irmão , que não tinha escolha alguma , mas o sanatório a gente via loucos crentes e salvos . Crente pode morrer do coração , fígado , e outros órgãos . Doentes da cabeça também podem morrer até no suicídio . Você precisa entender mais da Graça e Justiça de Deus em Jesus.
    Pior é que tem muitos ministros e frequentadores de palcos e mestres que carecem de Salvação .

    Resposta
    • Olá, Ricardo..

      acho que vc não leu o artigo.. o texto não aborda questões relacionadas a quem sofre de doença mental.

      O texto aborda uma figura que se aplica aos filhos de Israel, que por não confiarem em Deus são nomeados loucos, néscios..

      Att

      Resposta
  • sim. é isso aí. ele leu o artigo e não entendeu,
    muito obrigado pele estudo irmão força 💪 continua a alimentar o povo de Deus com esse pão 🥖 que é a palavra.

    Resposta
  • Amado, a matéria excelente exegese. o AMado foi preciso com riquezas de detalhes, ate´muito fundamentou com marguemntos fartos. Com efeito, o Amado (Ricardo Rezende) acima, parece que leu , porém, não entendeu o contexto em que o texto está inserido.

    Concordo plenamente com os argumetos bíblicos utilzados, de impar clarividente.

    Contudo, o irmão RIcardo se atende a um fato, afora do contexto, pois, ainda que tenha loucos de fato, com sua saúde mental pertubada, estes também podem serem curados por Deus. Caso Deus e compadeça dele, sema cura mental não há em se falar em pessoas que possam entender o evangelho de Cristo. Asssi como um pai nãopode pedir para seu filho de cinco anos pear dois sacos de cimentos de 50 kilogamas, assim Deus ous eSeu Jesus não poderá exigir de um doente mental, no caso louco, literalmente, obedecer seus madamentos.

    Ademias, gaostaria de sugerir que os homens podem ser de duas maneiras: um agente moral ou um agente necessáro, o primeiro é provido de (intelecto, senbildade e livre arbítrio) ou segundo, de desprovido de aus faculdades mentasi (não tem intelecto, nem livre arbitrio, pois, só agem em uma mesma direção).

    Que Des abençõe a todos.

    Resposta
  • Deus abençoe a sua vida por nos proporcionar um alimento tão saboroso e nutritivo.

    Resposta
  • Em tempos estranhos e de difícil entendimento por parte daqueles que deveriam defender a verdade a todo custo e ao contrário procuram preencher o ego dos que querem apenas obter as coisas de terrenas onde a traça e a ferrugem consome. Que Deus dê vida, saúde e muita sabedoria para você continue defendendo o verdadeiro evangelho de Cristo sem fermento. Que ao contrário da palavra de Cristo só cresce e não alimenta.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *