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O termo ‘louco’ nas Escrituras é frequentemente utilizado para descrever o povo de Israel que rejeitava o conhecimento de Deus. Quando Jesus chamou os escribas e fariseus de ‘loucos’, fez isso porque eles não compreendiam o caminho e o juízo de Deus, embora afirmassem servi-Lo.


O Temor do Senhor e a loucura dos ímpios

“O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução” (Provérbios 1:7)

 

Introdução

Os seis primeiros versículos do livro de Provérbios estabelecem claramente o objetivo do livro: conceder aos seus leitores o conhecimento necessário para entender os adágios, parábolas, enigmas e proposições empregadas nos livros da Bíblia.

O versículo sete do primeiro capítulo contém a primeira proposição do pregador, que exige uma análise detalhada.

O que significa ‘o temor do Senhor’? Deus quer que os homens tenham medo dele? Quem são os loucos?

 

Entenda adágios, parábolas, enigmas e proposições

Para interpretar este provérbio, é necessário analisar os versos seguintes:

“Para fazeres o teu ouvido atento à sabedoria (…) se como a prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares, então entenderás o temor do SENHOR, e acharás o conhecimento de Deus” (Provérbios 2:2-5).

Com base no verso 5 do capítulo 2, verifica-se que o ‘temor’ não é um sentimento de inquietação, pavor, ou receio, mas refere-se a um conhecimento, um saber revelado por Deus que requer compreensão (ouvido atento) por parte do homem.

Observe o seguinte verso: “E disse Moisés ao povo: Não temais, Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, afim de que não pequeis” (Êxodo 20:20). Não ter medo de Deus é uma ordem: não temais! Essa ordem deixa claro que ‘o temor do Senhor’ não é ter medo (receio), visto que Ele assevera para não ter medo dele.

Qual é o temor que deveria estar diante do povo de Israel? Qual temor é o princípio da sabedoria? Ora, o ‘temor’ é um modo enigmático de se fazer referência à palavra de Deus, pois esta é a ideia que se depreende dos versos seguintes:

  • “No temor do SENHOR há firme confiança e ele será um refúgio para seus filhos” (Provérbios 14:26);
  • “Vinde, meninos, ouvi-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR” (Salmos 34:11);
  • “… pelo temor do SENHOR os homens se desviam do pecado” (Provérbios 16:6).

Estabelecer tais relações e comparações é essencial para compreender o provérbio. Ao comparar os dois versos a seguir, torna-se evidente o significado dos termos e a relação entre eles:

“Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Salmos 119:11);

“… e para que o seu temor esteja diante de vós, afim de que não pequeis” (Êxodo 20:20).

O salmista deixa claro que, para não pecar contra Deus, é necessário ter a palavra de Deus guardada no coração, e essa mesma palavra que se estabelecerá no coração através da compreensão também é chamada de temor.

A introdução ao livro de Provérbios (Provérbios 1:1-6) é melhor compreendida à luz dos versos abaixo:

“Então entenderás o temor do SENHOR, e acharás o conhecimento de Deus. Porque o SENHOR dá a sabedoria; da sua boca é que vem o conhecimento e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos. Escudo é para os que caminham na sinceridade…” (Provérbios 2:5-7).

Quem ouve a palavra de Deus (faz atento o ouvido) entenderá e encontrará conhecimento, pois da boca de Deus procede o conhecimento e o entendimento.

 

Cristo, o Verbo encarnado, como pedra de toque

O provérbio “O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento…” (Provérbios 1:6) é uma chave mestra que desvenda o mistério em torno da pessoa do Filho de Deus. Ele é uma referência implícita à pessoa de Cristo, pois em Cristo estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento:

“Porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento” (1 Coríntios 1:5);

“Em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.” (Colossenses 2:3).

Se o temor do Senhor procede da boca de Deus (Provérbios 2:6), é evidente que o temor do Senhor é uma referência implícita à pessoa de Cristo, pois Ele é a Palavra, o Verbo de Deus encarnado:

“Para que os seus corações sejam consolados, e estejam unidos em amor, e enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus e Pai, e de Cristo” (Colossenses 2:2).

Cristo é o Temor do Senhor, como Ele mesmo disse:

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (João 5:39).

Inequivocamente, podemos considerar que Cristo é o ‘Temor de Deus’, pois Ele é a sabedoria de Deus:

“Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Coríntios 1:30).

A Sabedoria mencionada em Provérbios 8:22 foi revelada no Novo Testamento, como está escrito em João 1:2-3. “No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus e era Deus”, ou seja, os livros de Provérbios e João utilizam terminologias diferentes para se referirem a Cristo: verbo = palavra = sabedoria.

Como todas as coisas foram feitas por Cristo (João 1:2-3), conclui-se que a Sabedoria personificada em Provérbios refere-se a Cristo.

“O SENHOR me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras. Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra” (Provérbios 8:22-23).

  • “Vigiai justamente e não pequeis; porque alguns ainda não têm o conhecimento de Deus; digo-o para vergonha vossa” (1 Coríntios 15:34) – Qual é o conhecimento de Deus? Cristo (2 Coríntios 4:6);
  • “Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10:5) – Cristo é a verdade, o conhecimento de Deus “Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:4);
  • “Agora, pois, seja o temor do SENHOR convosco; guardai-o, e fazei-o; porque não há no SENHOR nosso Deus iniquidade nem acepção de pessoas, nem aceitação de suborno” (2 Crônicas 19:7) – Este verso equipara o Temor do Senhor ao Senhor Deus, ou seja, o Temor é personificado – “Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o temor de Isaque não fora comigo, por certo me despedirias agora vazio. Deus atendeu à minha aflição, e ao trabalho das minhas mãos, e repreendeu-te ontem à noite” (Gênesis 31:42);
  • “E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência” (Jó 28:28) – Cristo é a sabedoria de Deus, portanto, o Temor do Senhor e, somente através d’Ele o homem aparta-se do mal estabelecido em Adão;
  • “Servi ao SENHOR com temor, e alegrai-vos com tremor” (Salmos 2:11) – Quando se lê que se serve ao Senhor com temor, isto implica servi-lo por intermédio de Cristo, o que os judeus não compreendiam (Romanos 9:2);
  • “O temor do SENHOR é limpo, e permanece eternamente; os juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente” (Salmos 19:9) – Sabemos que a palavra do Senhor permanece para sempre: “Mas a palavra do SENHOR permanece para sempre. E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada” (1 Pedro 1:25).

 

Quem são os “loucos”?

Sendo Cristo a própria sabedoria de Deus, é correto identificá-lo como o ‘temor do Senhor’. Resta então entender quem são os ‘loucos’ aos quais o verso 7 faz referência:

“O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução” (Provérbios 1:7).

Quando consideramos que “tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz…” (Romanos 3:19), é claro que a lei, os Salmos, os Provérbios e os Profetas tinham como público-alvo os judeus. Portanto, os que desprezavam a sabedoria e a instrução são aqueles que viviam sob a lei (judeus). Como declarou Jeremias:

“Eu, porém, disse: Deveras estes são pobres; são loucos, pois não sabem o caminho do SENHOR, nem o juízo do seu Deus (Jeremias 5:4).

O termo ‘louco’ nas Escrituras é frequentemente utilizado para descrever o povo de Israel que rejeitava o conhecimento de Deus. Quando Jesus chamou os escribas e fariseus de ‘loucos’, fez isso porque eles não compreendiam o caminho e o juízo de Deus, embora afirmassem servi-Lo.

“Loucos! Quem fez o exterior não fez também o interior?” (Lucas 11:40);

“E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!” (Lucas 24:25).

Esse uso do termo ‘louco’ estava relacionado ao desvio do povo de Israel, uma expressão comum entre os profetas de Deus. O profeta Jeremias, ao falar em nome do Senhor, acrescentou:

“Deveras o meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios, e não entendidos; são sábios para fazer mal, mas não sabem fazer o bem” (Jeremias 4:22).

O povo de Israel estava desorientado por desprezar a palavra de Deus, o conhecimento e a instrução. Não conhecer o seu próprio Deus é loucura.

Ser néscio é o oposto de ser entendido. Qualquer um que despreze o temor do Senhor também despreza o conhecimento.

“O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução” (Provérbios 1:7).

O apóstolo Paulo, ao mencionar os instrutores em Israel, os denominou como instrutores dos néscios. Esses mestres poderiam ser considerados também como “mestres de crianças”, ou seja, guias dos líderes da nação.

Instrutor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei” (Romanos 2:20);

“E dar-lhes-ei meninos por príncipes, e crianças governarão sobre eles.” (Isaías 3:4).

A conclusão paulina em Efésios 5:15, “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios…”, é um alerta para que os leitores sejam cuidadosos em permanecer no evangelho, ou seja, em andar no espírito (Romanos 8:1; Colossenses 2:6), em contraste com a insensatez que caracterizava o povo de Israel, o qual não compreendia nem obedecia a Deus.

“Recompensais assim ao SENHOR, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai que te adquiriu, te fez e te estabeleceu?” (Deuteronômio 32:6).

Ao aceitarem a Cristo como a Sabedoria de Deus, os cristãos são agraciados com conhecimento, o que os diferencia do comportamento dos ímpios, os quais não têm conhecimento de Deus (cf. Salmos 53:1-3). Aqueles que não seguem os caminhos do Senhor são considerados insensatos, pois servem a Deus sem uma verdadeira compreensão (cf. Romanos 9:2).

Os cristãos se tornam sábios ao obedecerem ao evangelho, ao passo que o povo de Israel tem seguido os mandamentos dos homens, conforme as tradições recebidas de seus mestres. É fundamental temer ao Senhor, seguindo o princípio da sabedoria, e evitar cair na loucura dos ímpios, os quais não conhecem o caminho da paz.

“Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;” (Isaías 29:13);

“Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; Cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; E não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos.” (Romanos 3:12-18).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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