Salmos I

Salmo 3 – Descansando em Deus

O Salmo 3, assim como o Salmo 22, deve ser visto da perspectiva do aflito de Deus, uma vez que o povo de Israel, a quem primeiramente Jesus foi enviado, acabou reputando-O como aflito e ferido de Deus (Isaías 53:4).


Salmo 3 – Descansando em Deus

 

  1. Senhor, como se têm multiplicado os meus adversários! São muitos os que se levantam contra mim.
  2. Muitos dizem da minha alma: Não há salvação para ele em Deus. (Selá.)
  3. Porém tu, Senhor, és um escudo para mim, a minha glória, e o que exalta a minha cabeça.
  4. Com a minha voz clamei ao Senhor, e ouviu-me desde o seu santo monte. (Selá.)
  5. Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou.
  6. Não temerei dez milhares de pessoas que se puseram contra mim e me cercam.
  7. Levanta-te, Senhor; salva-me, Deus meu; pois feriste a todos os meus inimigos nos queixos; quebraste os dentes aos ímpios.
  8. A salvação vem do Senhor; sobre o teu povo seja a tua bênção. (Selá.) 

Salmos 3:1-8

 

Introdução

Na sua grande maioria, os intérpretes descrevem o Salmo 3 como uma oração do rei Davi em uma situação extrema de perigo e angústia. Para um leigo, essa pode ser a interpretação, mas para alguém que observa com acuidade, verá que não se trata de uma oração por questões pessoais.

Considerando que o rei Davi era profeta, a melhor interpretação é aquela que não se centra na pessoa do profeta, mas sim em uma terceira pessoa. Um profeta não profetiza acerca de questões próprias; antes, como mensageiro de Deus, torna conhecidos os seus mistérios aos homens.

Na qualidade de profeta, Davi anunciou aos filhos de Israel, antecipadamente, o nascimento, as maravilhas, o sofrimento, a morte e a ressurreição de Cristo, o Seu Filho segundo a carne.

Em suma, Davi, como profeta, anunciava o que foi descrito pelo apóstolo Pedro:

“Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar.” (1 Pedro 1:10-12);

“Sendo, pois, ele (Davi) profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono,” (Atos 2:30).

Em virtude dessa peculiaridade dos Salmos, é que Jesus disse aos discípulos que os Salmos se cumpriam n’Ele, da mesma forma que se cumpriram a lei de Moisés e os profetas:

“E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos.” (Lucas 24:44).

 

Os adversários do Messias

O Salmo 3 de Davi é a expressão da confiança de Cristo em Deus ao enfrentar seus opositores. É um Salmo messiânico que evidencia a confiança do Messias em Deus em meio às adversidades, assim como muitos outros Salmos.

¹ Senhor, como se têm multiplicado os meus adversários! São muitos os que se levantam contra mim.

² Muitos dizem da minha alma: Não há salvação para ele em Deus. (Selá.)

A oração do Salmo 3 contém uma constatação: o volume de inimigos! É admirável a quantidade de adversários que se opõem à pessoa tratada no Salmo. Por ser algo incontável, o Salmo 69 destaca que o número dos inimigos é maior que a quantidade de cabelos da cabeça.

“Aqueles que me odeiam sem causa são mais do que os cabelos da minha cabeça; aqueles que procuram destruir-me, sendo injustamente meus inimigos, são poderosos; então restituí o que não furtei.” (Salmos 69:4). 

Os inimigos da pessoa da qual o salmista profetiza decorrem de uma única causa: essa pessoa de quem o salmista profetiza segue o que é bom, e eles, por sua vez, retribuem o bem com o mal.

“Os que dão mal pelo bem são meus adversários, porquanto eu sigo o que é bom.” (Salmos 38:20).

Cristo é o único que seguiu o que é bom, ou seja, obedeceu ao Pai em tudo. O restante da humanidade não tem como declarar tal virtude (Salmo 53:3).

 “… pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente.” (1 Pedro 2:23).

A quantidade de inimigos multiplicou-se por incitação dos líderes judeus, como se lê:

“Mas os principais dos sacerdotes incitaram a multidão para que fosse solto antes Barrabás. E Pilatos, respondendo, lhes disse outra vez: Que quereis, pois, que faça daquele a quem chamais Rei dos Judeus? E eles tornaram a clamar: Crucifica-o. Mas Pilatos lhes disse: Mas que mal fez? E eles cada vez clamavam mais: Crucifica-o.” (Marcos 15:11-14).

O julgamento das pessoas que acompanharam a crucificação era de que não havia salvação para o Cristo em Deus, cumprindo-se o que profetizou Isaías:

“Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.” (Isaías 53:4).

A declaração dos filhos de Israel ao pé da cruz evidencia a ideia de que Cristo foi abandonado por Deus.

“ Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus.” (Mateus 27:43).

 

A exaltação de Deus

³ Porém tu, Senhor, és um escudo para mim, a minha glória, e o que exalta a minha cabeça.

⁴ Com a minha voz clamei ao Senhor, e ouviu-me desde o seu santo monte. (Selá.)

A oposição dos adversários, mesmo sendo eles seus concidadãos (familiares), jamais abalaria o Messias (Miquéias 7:6; Mateus 10:36). O motivo de tal confiança é o Senhor, que proporciona proteção (escudo) e vitória (glória).

É o Senhor que exalta o Messias ao constituí-lo como cabeça da igreja, concedendo-lhe um nome acima de todos os nomes que se nomeiam no presente século e no vindouro.

“Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra…” (Filipenses 2:9-10).

Sobre o fato de Deus exaltar o Cristo, foi predito:

“Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória.” (Salmos 24:7).

Quando Cristo se assentar na condição de rei, as pessoas que ocupam os lugares próprios para aqueles que exercem o domínio (portas) deverão se levantar de seus assentos em sinal de respeito (levantar as cabeças), pois Cristo se apresentará como o Rei da Glória.

“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória;” (Mateus 25:31).

No momento, para a humanidade, Cristo ainda está assentado à direita da Majestade nas Alturas (Hebreus 2:8), até o tempo determinado pelo Pai.

“Desde agora o Filho do homem se assentará à direita do poder de Deus.” (Lucas 22:69);

“DISSE o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.” (Salmo 110:1). 

Nessa predição em forma de oração, a certeza do Messias é que clamaria ao Pai e seria atendido (v. 4). Essa verdade é anunciada no Salmo 22:

“Porque não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem escondeu dele o seu rosto; antes, quando ele clamou, o ouviu.” (Salmos 22:24).

O Salmo 3, assim como o Salmo 22, deve ser visto da perspectiva do aflito de Deus, uma vez que o povo de Israel, a quem primeiramente Jesus foi enviado, acabou reputando-O como aflito e ferido de Deus (Isaías 53:4). No entanto, ambos os Salmos evidenciam que Deus não desprezou nem virou as costas para o seu Filho – o aflito – quando clamou na cruz (Salmo 22:1).

 

O Senhor sustenta o seu Ungido

⁵ Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou.

⁶ Não temerei dez milhares de pessoas que se puseram contra mim e me cercam.

⁷ Levanta-te, Senhor; salva-me, Deus meu; pois feriste a todos os meus inimigos nos queixos; quebraste os dentes aos ímpios.

⁸ A salvação vem do Senhor; sobre o teu povo seja a tua bênção. (Selá.) 

Os quatro versos finais do Salmo 3 se resume na seguinte premissa:

“Na angústia invoquei ao SENHOR, e clamei ao meu Deus; desde o seu templo ouviu a minha voz, aos seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face.” (Salmos 18:6).

Cristo clamou e foi ouvido, pois essa foi a ordem e a promessa do Pai:

“E invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.” (Salmos 50:15).

O Salmo 3 aponta para a morte e ressurreição de Cristo, assim como os Salmos 91 e 121:

“Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei.” (Salmos 91:15);

“O SENHOR guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre.” (Salmos 121:8).

O Salmo 121 fala do nascimento (entrada) e da morte (saída) de Cristo, enquanto o Salmo 91 aborda a crucificação (angústia), morte (retirarei) e ressurreição (glorificarei). O Salmo 3 evidencia a confiança do Messias no Pai, comparando sua morte ao ato de deitar e dormir, pois o Pai seria seu sustento, ressuscitando-O (acordei) dentre os mortos.

“Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.” (Salmos 16:10);

“Mas Deus remirá a minha alma do poder da sepultura, pois me receberá. (Selá.)” (Salmo 49:15);

“Andando eu no meio da angústia, tu me reviverás; estenderás a tua mão contra a ira dos meus inimigos, e a tua destra me salvará.” (Salmo 138:7);

“Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; eu me satisfarei da tua semelhança quando acordar.” (Salmo 17:15).

Embora os inimigos de Cristo se tenham multiplicado (v. 1), algo semelhante a dez milhares, Cristo não se intimidaria, pois o Pai era o seu sustento (Salmo 91:7; Salmo 142:5). 

“O Senhor é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O Senhor é o meu refúgio; quem me poderá atacar?” (Salmos 27:1);

“Direi do SENHOR: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei.” (Salmo 91:2).

Enquanto anunciava as boas novas de salvação, Cristo era intrépido e falava com autoridade, mas quando os seus concidadãos se lhe opuseram, a partir desse momento, Cristo clama por salvação, pois cabia a Ele confiar no Pai, e ao Pai cabia derrotar os seus inimigos (v. 7).

Antes de entrar neste mundo, o Verbo eterno, que estava no princípio com Deus e habitava no esconderijo do Altíssimo (João 1:1-2), na plenitude dos tempos se fez carne e passou a descansar à sombra do Onipotente (Salmo 91:1).

Enquanto no mundo dos homens, Cristo esteve ao abrigo da sombra do Onipotente, ou seja, guardado como à menina do olho, protegido por Deus sob as suas asas (sombra). Por serem numerosos, Cristo esteve cercado, e é nesse momento que o Pai livra o seu Filho segundo a sua palavra.

“Guarda-me como à menina do olho; esconde-me debaixo da sombra das tuas asas, Dos ímpios que me oprimem, dos meus inimigos mortais que me andam cercando. Na sua gordura se encerram, com a boca falam soberbamente. Têm-nos cercado agora nossos passos; e baixaram os seus olhos para a terra; Parecem-se com o leão que deseja arrebatar a sua presa, e com o leãozinho que se põe em esconderijos. Levanta-te, SENHOR, detém-no, derriba-o, livra a minha alma do ímpio, com a tua espada;” (Salmo 17:8-13).

A oração que profeticamente apresenta a vitória do Messias termina com uma confissão: a salvação vem do Senhor. Se é o Senhor quem salva, basta ao Aflito do Senhor aguardar em Deus que será socorrido, e por fim, será exaltado (v. 3).

“O que me livra de meus inimigos; sim, tu me exaltas sobre os que se levantam contra mim, tu me livras do homem violento.” (Salmos 18:48).

A imprecação de bênção sobre a nação de Israel é sinal de que a misericórdia de Deus se renova a cada manhã, e a promessa feita a Abraão e Davi não será esquecida, apesar de a cidade de Sião ter-se tornado covil de homens violentos que se assemelham a leões (Salmo 18:50).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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