Jó achava que a sua justiça servia para se cobrir como que de um manto e um enfeite como um diadema, mas Deus o concita a se vestir de majestade e de glória, e que o seu enfeite fosse de excelência e grandeza…
Deus repreende Jó
Conteúdo do artigo
“Cinge agora os teus lombos como homem; eu te perguntarei, e tu me explicarás. Porventura também tornarás tu vão o meu juízo, ou tu me condenarás, para te justificares? Ou tens braço como Deus, ou podes trovejar com voz como ele o faz? Orna-te, pois, de excelência e alteza; e veste-te de majestade e de glória. Derrama os furores da tua ira, e atenta para todo o soberbo, e abate-o. Olha para todo o soberbo, e humilha-o, e atropela os ímpios no seu lugar. Esconde-os juntamente no pó; ata-lhes os rostos em oculto. Então também eu a ti confessarei que a tua mão direita te poderá salvar.” (Jó 40.7-14).
Introdução
Da mesma forma que o homem não consegue explicar os mistérios da natureza nas perguntas feitas por Deus a Jó, é impossível compreender a justiça de Deus sem Ele revela-la.
A ignorância acerca das coisas de Deus é o grande mal que submerge os homens. O Senhor Jesus Cristo ensina na parábola do semeador que, se não compreender a palavra, o maligno vem e arrebata o que foi semeado. (Mateus 13.19).
“Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração;” (Efésios 4.18).
Os cristãos, na sua grande maioria, desconhecem como Satanás atua, mesmo quando alertados sobre como ele é ardiloso (2 Coríntios 3.11).
O Livro de Jó foi escrito para como se dá a justiça divina e como o homem pode alcança-la, e subsidiariamente, é possível compreender como Satanás atua. Mas, o que ainda fascina as pessoas quando leem o Livro de Jó são as agruras pelas quais o justo Jó passou.
Note que, para ensinar acerca da justificação, Deus faz uso de um homem reto, integro e justo, isto porque, se fosse utilizado um homem menos virtuoso que Jó para ensinar acerca da justificação, ao final compreenderíamos tão somente o amor e a misericórdia de Deus.
Outros personagens bíblicos evidenciam quão grande é o amor de Deus para com o pecador, mas são personagens que não evidenciariam que justificação não está atrelada as boas ações dos homens.
Deus usou a vida de um homem integro e justo para ensinar aos homens que é Ele que justifica o homem, e que as boas ações dos homens, por mais despretensiosas que sejam, não passam de trapos de imundície.
Deus estabelece um contraste entre a justiça divina e a justiça do homem. Através da história de Jó é possível identificar a providência divina na justificação, e o quão desprezível são as boas ações do homem.
A trama ardilosa
Diante de tantas acusações dos seus amigos, Jó não percebeu que estava sendo induzido a se defender. Ao ver os amigos calados em um primeiro momento, Jó desabafou as suas mágoas e frustações, mas logo em seguida, foi compelido a se justificar.
A aflição de Jó era tamanha e as acusações tão contundentes que Jó não teve cuidado em mensurar as suas alegações. Jó podia reclamar da sua condição miserável, buscar consolo ao rever os amigos, mas nunca apresentar as suas boas ações para se justificar diante de Deus e dos seus amigos.
Jó se apegou a sua integridade e interpôs como justiça a sua conduta ilibada em detrimento da justiça que Deus lhe havia concedido, quando declarou:
– “Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal.” (Jó 1.8).
Jó não se deu conta que falava sem tem conhecimento (Jó 34.35), e a armadilha de Satanás induziu Jó a transgredir com a boca (Jó 34.37). Jó estava acostumado a se desviar do mal evitando ações que afetasse a vida de seus semelhantes, porém, as acusações mexeram com os sentimentos de Jó que se traduziram em palavras amargas e impensadas.
Os amigos de Jó foram contundentes ao dizerem que Jó estava sendo punido por Deus por causa de algum pecado, e Jó, por sua vez, tinha que se declarar justo diante de Deus para fazer calar os seus algozes.
“Lembra-te agora qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos? Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade, e semeiam mal, segam o mesmo. Com o hálito de Deus perecem; e com o sopro da sua ira se consomem.” (Jó 4.7-9).
Diante das acusações, Jó se esquivou dos seus amigos alegando que Deus não estava lhe tratando com justiça e que lhe negava o que era de direito, e acabou se esquecendo que Deus haveria de pedir conta das suas palavras.
Jó olhou para o seu passado e se gloriou de ter se desviado do mal, e não se deixar levar pelas práticas e condutas comum a todos os homens. Ele atribuiu culpa a Deus pelo seu estado. Em sua defesa, Jó se declara um homem justo, e Deus o tratava como se injusto fosse.
“Há os que removem os limites, roubam (…) Mas Deus a ninguém acusa de maldade”. (Jó 24.2 e 12).
A repreensão de Deus
A repreensão de Deus é contundente:
“Porventura também tornarás tu vão o meu juízo, ou tu me condenarás, para te justificares?” (Jó 40.8).
Jó estava tão envolto em seus problemas e nas acusações feitas pelos amigos que, em dado momento, lançou mão daquilo que ele acreditava ser justiça, mas que não passava de trapo de imundície, e acusou o Criador para se defender de homens.
“Vestia-me da justiça, e ela me servia de vestimenta; como manto e diadema era a minha justiça.” (Jó 29.14).
Jó fez da sua integridade um manto, e passou se cobrir da sua justiça como se fosse um manto real, mas estava se cobrindo com trapos de imundície. Diante de seus amigos exibiu o fato de se desviar do mal como se fosse um diadema, a ponto de desclassificar a justa balança de Deus.
Após ingressar na vida cristã, por certo o cristão faz um ajuste na sua conduta, e passa a viver em sociedade segundo valores mais altruísta. Com o passar do tempo, o cristão deve ter o cuidado de não interpor práticas que julga correta aos seus próprios olhos como se essa fosse a justiça estabelecida por Deus.
Interpor caridade para com os semelhantes, feitos memoráveis, voluntariedade em ajudar, ações humanitárias, etc., não chega aos pés da integridade e do engajamento social de Jó, e se Deus não aceitou as ações de Jó, não aceitará tais feitos de quem quer que seja.
Através de Jó, o pináculo das boas ações humanas, Deus estabelece um contraste entre a justiça divina e humana e evidencia o quanto é impossível ao homem se justificar.
Após o silêncio de Eliú, Jó foi surpreendido pelo Criador, que lhe dirigiu a palavra de um redemoinho:
“DEPOIS disto o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho, dizendo: Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Agora cinge os teus lombos, como homem; e perguntar-te-ei, e tu me ensinarás.” (Jó 38.1-3).
Ao questionar: ‘Quem é este que escurece a minha vontade com palavras sem conhecimento’, Deus se revela superior, mas que estava aberto a ouvir os motivos de Jó. Se como homem Jó tinha algo a ensinar, que se aprontasse cingindo os lombos, pois Deus estava pronto a aprender de um homem.
Para alguém que considerava que teria argumentos diante de Deus para defender a sua causa, a pergunta: ‘Quem é esse?’ é de emudecer qualquer razão, principalmente quando se descobre que não tinha conhecimento.
“Ah, se eu soubesse onde o poderia achar! Então me chegaria ao seu tribunal. Exporia ante ele a minha causa, e a minha boca encheria de argumentos. Saberia as palavras com que ele me responderia, e entenderia o que me dissesse.” (Jó 23.3-5).
Deus faz algumas perguntas diretas e simples, e Jó tinha que responder onde estava quando Deus criou a terra. Se Jó se considerava inteligente, ou se as coisas de Deus podem ser aprendidas tendo por base a inteligência, com a inteligência que possuía, que respondesse onde estava quando Deus criou a terra.
Deus declara: Eu fundei a terra, e onde você estava? Se Jó pudesse fizer onde estava enquanto Deus criava a terra, talvez pudesse dizer quem mediu a terra e qual a base de sustentação da terra.
A poesia hebraica dá graciosidade as perguntas, e ao mesmo tempo estabelece uma trava lógica que impede que impede transtornar o que foi perguntado. Se alguém estabeleceu as medidas, esse alguém também estendeu o cordel. Se há uma base para a fundação da terra, certo é que há uma pedra de esquina (v. 5 e 6).
Se Jó soubesse dizer onde estava quando Deus criou a terra, por certo teria visto os seres celestiais cantarem jubilosos ante a obra da criação (v. 7).
Deus facilita em algumas perguntas: Quem encerrou o mar com portas? A resposta era obvia: Deus! Mas, o difícil era Jó responder onde estava quando o mar nasceu (rompeu a madre), ou quando Deus pôs a nuvem como embrulho e utilizou a escuridão como faixa.
Se Jó soubesse dizer onde estava quando Deus criou a terra, poderia responder quando Deus traçou limites ao mar, como se o prendesse com portas e ferrolhos, como se colocasse freio às ondas impetuosas do mar (v. 8-11).
Deus pergunta desde quando Jó deu ordem à madrugada, de modo que fizesse despontar a alva, pois só assim seria possível a Jó segurar a terra como um lençol e sacudir os ímpios dela (v. 12-13).
Se tinha poder de moldar a face da terra como o barro se amolda ao selo, dando lhe aspectos diferentes, também poderia desviar dos ímpios a luz e abater a força dos altivos (v. 14-15).
Deus instiga Jó a responder se acaso teria ido até o mais profundo dos mares, ou se visualizou as entradas misteriosas da morte. Ou se, pelo fato de ser inteligente, percorreu às extremidades da terra (v. 16-18).
Seria o caso de Jó saber onde a luz e as trevas residem, pois só assim poderia por termo a ambos, luz e trevas, e conhecer o caminho que percorrem (v. 19 -20).
Como era próprios aos sábios à época argumentarem que a sabedoria e o conhecimento estavam com os mais velhos, Deus lembra Jó que, para ter o conhecimento exigido, era certo que, quando tudo foi criado e estabelecido, Jó já era nascido, e agora, os seus dias eram incalculáveis (v. 21).
Ao inquirir Jó, Deus fala do local onde a neve e a saraiva ficam reservadas, sendo que a saraiva está reservada para o tempo da angustia, quando haverá uma grande batalha, um vaticínio acerca de ventos futuros (v. 22-23).
Deus indaga Jó acerca do aminho da alva, os caminhos do vento, o curso dos rios e o percurso dos relâmpagos e trovões, demonstrando que Deus tem controle sobre os eventos da natureza, até mesmo onde é inabitado e inóspito (v. 24-27).
Os fenômenos naturais como a chuva, o orvalho, o gelo, a geada é a tônica da primeira bateria de perguntas, e com o seu parco conhecimento, Jó não conseguiria responde como as águas congelam, quer seja debaixo de uma pedra ou na superfície dos mares (v. 28-30).
Deus questiona se Jó tinha poder de coordenar o universo, como reunir as maravilhas do Sete-estrelo, ou separar o que une as estrelas dos Órion. Ou se acaso tinha poder para criar as constelações dos céus e estabelecer o curso da Ursa e as demais estrelas (v. 31-32).
Deus pergunta se Jó saberia dizer quais as leis que regem o universo, e como tais leis influenciavam a terra, o que era grandioso demais para Jó, e ainda o é para os homens do nosso tempo (v. 33).
Deus questiona se Jó tinha como comandar às nuvens, ou os raios, através de um simples comando, para que se apresentassem (v. 34-35).
Embora alguns tradutores vertam o verso 36 para sabedoria e entendimento como se trata do homem, o contexto dá a entender que a sabedoria está relacionada à nuvem ou algum evento nos céus.
Seria possível a alguém como Jó enumerar as nuvens, ou a quantidade de água nas nuvens, bem como fazer chover, de modo a baixar a poeira e tornar o pó em torrões de barro?
Deus questiona se Jó providenciava alimento tanto para a leoa quanto para os seus filhotes, quando estes ficam acomodados no covil à espera de comida. Ou, se Jó alimentava o corvo e seus filhotes (v. 39-41).
Em seguida, Deus pergunta se Jó acompanhava a reprodução das cabras montesas, e se sabia quando as cabras tinham filhotes. Se era possível Jó saber o tempo em que as cabras levavam para se reproduzir. Tanto as cabras quanto as cervas cruzavam, parem seus filhotes, que crescem fortes e não voltam para visitar a mãe (Jó 39.1-4).
Ou se Jó sabia quem deu carta de alforria ao jumento montês e deu liberdade ao asno, que habitam o deserto e a terra inóspita. São animais selvagens que não possuem vinculo com as cidades e seus moradores, pois pastam nas montanhas (v. 5-8).
No mesmo diapasão, Jó é indagado se queria ser servido por um boi selvagem, ou se era possível prende-lo no curral? Se tinha como Jó colocar ao arado e conduzir o boi selvagem, de modo a abrir sulcos na terra? Ou quando a terra produzisse, se confiaria ao boi selvagem carregar a produção do campo? (v. 9-11)
Acaso Jó cuidava da avestruz, que apesar de ter asas, não alça voo? Ou dos ovos que ela deixa na terra para chocar e nem se preocupa com predador ou que pode pisar? É rígida com os filhotes, como se não fosse seus. Apesar de não ser possível tirar proveito do seu trabalho, não tem medo, pois diferentemente de outros animais, é privada de sabedoria. Mas, quando se põe a correr, deixa o cavalo e seu cavaleiro para trás (v. 13-18).
Deus questiona se Jó concedia força ao cavalo, ou se ao menos revestia o pescoço do animal com crinas. Se podia espantar um cavalo como se faz com gafanhotos, sendo o cavalo um animal forte, destemido e não teme sair à guerra. Um animal que não teme a espada, não se espanta com a lança ou o dardo e não retrocede ao som da buzina. Quando convocado pelas buzinas, tem faro de longe da guerra e do caos da batalha (v. 19-25).
Se Jó havia concedido inteligência ao gavião que se orienta ao ir para o sul, ou se a águia o obedecia quando constrói seu ninho no alto dos penhascos, e se põe à espreita da presa, avistando-a de longe? (v. 28-30).
Após as perguntas demonstrando a pequenez de Jó ante o Criador e o universo, Deus questiona Jó se, acaso, contender com quem detém todo poder era sabedoria. Ou seja, quem se atreve a fazer objeções como Jó ao Criador, que respondesse aquelas perguntas (Jó 40.1).
Jó por sua vez, reconhece a sua insignificância, se colocando como servo, ao dizer: – ‘Eis que sou vil’. Quando Jó reconhece a sua inferioridade ante a majestosa grandeza de Deus, ele enfatiza a realeza e a nobreza de Deus. Jó não era vil por ser maldoso, ou leviano, antes era vil por ser baixo, mentiroso, ralé.
Jó não tinha o que responder, e por isso se calou (ponho a minha mão à boca). Embora houvesse falado, não ousava replicar. Mesmo após ter multiplicado suas palavras, Jó reconhecia que não podia prosseguir (v. 3-5).
Como Jó se calou, reconhecendo sua culpa, Deus novamente lhe dirige a palavra, e ordena que cingisse os lombos com homem, pois seria indagado e Jó teria que se explicar.
Mas, por quê Deus insiste que Jó cingisse os lombos como homem? Porque durante a conversa com seus amigos, Jó havia se cingido com o que é próprio a Deus, e não aos homens. Jó tinha essa potência? Era Jó que livrava o miserável e o órfão? Não havia quem socorresse o necessitado?
“Os moços me viam, e se escondiam, e até os idosos se levantavam e se punham em pé; Os príncipes continham as suas palavras, e punham a mão sobre a sua boca; A voz dos nobres se calava, e a sua língua apegava-se ao seu paladar. Ouvindo-me algum ouvido, me tinha por bem-aventurado; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim; Porque eu livrava o miserável, que clamava, como também o órfão que não tinha quem o socorresse. A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e eu fazia que rejubilasse o coração da viúva. Vestia-me da justiça, e ela me servia de vestimenta; como manto e diadema era a minha justiça. Eu me fazia de olhos para o cego, e de pés para o coxo. Dos necessitados era pai, e as causas de que eu não tinha conhecimento inquiria com diligência.” (Jó 29.8-16).
Jó havia se cingido de um manto que não lhe pertencia, embora fosse inegável que ele era um filantropo.
“Porque ele livrará ao necessitado quando clamar, como também ao aflito e ao que não tem quem o ajude.” (Salmos 72.12).
Acaso Jó queria anular a justiça de Deus, condenando-O para se declarar justo? Seria esse um posicionamento reto e equilibrado?
Qual o posicionamento de um homem diante de Deus? Não seria o mesmo posicionamento do profeta Davi?
“Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares.” (Salmos 51.4);
“De maneira nenhuma; sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso; como está escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras, E venças quando fores julgado.” (Romanos 3.4).
Diante de Deus, não importa o comportamento, se como Davi ou Jó, que reconheça que é pecador, mesmo se é alguém que se desvia do mal.
“Na verdade que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque.” (Eclesiastes 7.20).
As perguntas formuladas nos dois capítulos anteriores têm seu clímax no verso 9, ou antes foram feitas para demonstrar a finitude de Jó. A repreensão divina é um discurso uno e coeso, que conduz Jó a pergunta principal:
“Acaso tens um braço semelhante ao de Deus e uma voz troante como a dele?” (Jó 40.9).
Se o propósito de Jó era condenar Deus para se justificar, que tivesse braço como o de Deus: forte e poderoso! Que com sua voz Jó reinasse sobre as muitas águas (povos)!
“A voz do SENHOR ouve-se sobre as suas águas; o Deus da glória troveja; o SENHOR está sobre as muitas águas.” (Salmos 29.3);
“Tu tens um braço poderoso; forte é a tua mão, e alta está a tua destra.” (Salmos 89.13);
“E o SENHOR fará ouvir a sua voz majestosa e fará ver o abaixamento do seu braço, com indignação de ira, e labareda de fogo consumidor, raios e dilúvio e pedras de saraiva.” (Isaías 30.30).
Se Jó soubesse que o seu Redentor, aquele que vive e havia de se levantar sobre a terra, era o braço do Senhor desnudado perante os povos, compreenderia a justiça de Deus.
“Perto está a minha justiça, vem saindo a minha salvação, e os meus braços julgarão os povos; as ilhas me aguardarão, e no meu braço esperarão.” (Isaías 51.5);
“O SENHOR desnudou o seu santo braço perante os olhos de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus.” (Isaías 52.10);
“QUEM deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do SENHOR?” (Isaías 53.1).
Jó achava que a sua justiça servia para se cobrir como que de um manto e um enfeite como um diadema, mas Deus o concita a se vestir de majestade e de glória, e que o seu enfeite fosse de excelência e grandeza (v. 10). Que retribuísse aos altivos com vingança, abatendo o soberbo (v. 11).
“Pois vestiu-se de justiça, como de uma couraça, e pôs o capacete da salvação na sua cabeça, e por vestidura pôs sobre si vestes de vingança, e cobriu-se de zelo, como de um manto.” (Isaías 59.17);
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor.” (Romanos 12.19).
Basta um olhar de Deus para humilhar o soberbo e esmagar o ímpio. Um simples olhar de Deus é suficiente para abater o arrogante, e Jó tinha que ter esse esplendor e glória! (v. 11.12).
Que Jó fizesse o soberbo e o ímpio descerem à sepultura, ocultando os seus rostos, e Deus, então, haveria de admitir que a mão direita de Jó tinha poder para salvá-lo (v. 14).
O Valente que se veste de glória e majestade
A repreensão de Deus é tão enfática, que Deus apresenta duas possibilidades para Jó se justificar:
- condenando o Criador de todas as coisas;
- possuir braço como o de Deus.
Que problema insolúvel que foi apresentado a Jó! Só assim é possível compreender porque é impossível ao homem se salvar.
“Os seus discípulos, ouvindo isto, admiraram-se muito, dizendo: Quem poderá, pois salvar-se? E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível.” (Mateus 19.25-26).
A criatura teria que condenar o seu Criador para tentar se justificar, ou deveria ter os atributos da divindade atrelado ao seu braço para poder se salvar.
A intenção de Jó não era condenar o Criador para se justificar, mas ao responder os seus amigos, o argumento de Jó em sua defesa vilipendiou a glória de Deus. Deus assevera nas Escrituras que a Sua glória não se dará a outro. O poder de Deus salvar o homem é uma das glórias que só pertence a Deus, assim como a sua vingança.
Ao lançar mão de uma justiça própria, o homem diz que Deus não é poderoso e glorioso o bastante para nós salvar. É o mesmo que chamar Deus de mentiroso, pois Ele disse: “Minhas mãos não estão encolhidas…” (Isaias 59.1).
Se a intenção de Jó era se justificar diante de Deus, que se cingisse com vestes que reis deste mundo não conseguiriam ostentar. Precisaria de ornamento de glória e majestade, atributos que o homem não possui e nem consegue contemplar ou mensurar.
Quando não se compreende a doutrina da justificação, invariavelmente o homem estabelecerá os seus princípios e filosofias como essencial à salvação. Lançar mão de princípios humanos que surgem da religiosidade ou de filosofias é rejeitar a salvação que vem de Deus.
Deus é salvador, e Ele é o garantidor da salvação. Deus é justo e justificador dos que creem, o que se contrapõe ao pensamento que reina no mundo, que para se salvar é preciso angariar perfeição moral através do sofrimento, das encarnações, do carma, do purgatório, da caridade, etc., como se fosse necessário pagar um preço ou dar algo em troca da salvação.
Da mesma forma que a glória, a salvação pertence somente a Deus. Por este motivo, a glória de salvar os homens foi dada a Cristo, o Senhor, pois Jesus Cristo homem é o Emanuel, o Deus forte, o filho de Deus, por quem foi feito o mundo e tudo que nele há.
De Jesus Cristo é dito:
“Ó SENHOR, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus! Tu ordenaste força da boca das crianças e dos que mamam, por causa dos teus inimigos, para fazer calar ao inimigo e ao vingador. Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; Que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites? Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: Todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo…” (Salmo 8.1-7);
“Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um vestido; como roupa os mudarás, e ficarão mudados. Porém tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim.” Salmo 102.25-27);
“Cinge a tua espada à coxa, ó valente, com a tua glória e a tua majestade. E neste teu esplendor cavalga prosperamente, por causa da verdade, da mansidão e da justiça; e a tua destra te ensinará coisas terríveis. As tuas flechas são agudas no coração dos inimigos do rei, e por elas os povos caíram debaixo de ti. O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de equidade. Tu amas a justiça e odeias a impiedade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros.” (Salmo 45.3-7).
Pareciam impossível um homem reunir os méritos e as qualidades que Deus exigiu de Jó para se justificar diante d’Ele, porém, se o homem olhar para Cristo, o Verbo encarnado, verá que o Senhor Jesus é o homem (valente) que se cingiu de glória e majestade, tem domínio sobre toda a criação, fundou a terra e o tempo da sua existência é incalculável.
“NO princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” (João 1.1-3).
Jó não tinha como responder a pergunta: – ‘Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência.’, mas o Filho podia rogar ao Pai:
“E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.” (João 17.5).
Jesus é a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo, pois ao entrarem no mundo todo homem jaz em trevas por causa da ofensa e condenação de Adão (João 1.9). Jesus esteve no mundo, o mundo foi feito por ele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, mas os seus irmãos segundo a carne não O receberam (João 1.10-11).
Os escribas e fariseus não tinham o mesmo testemunho que Deus deu de Jó: – “Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal.” (Jó 1.8), e para parecerem justos aos olhos dos homens, se ocupavam em mudar o exterior das pessoas (Mateus 23.25), sendo eles mesmos semelhantes aos sepulcros pintados com cal, mas eram imundos (Mateus 23.27-28).
Para se justificarem, os escribas e fariseus e alegavam que quem não tinha a mesma origem de sangue e não adotavam as mesmas práticas tendo por pretexto a lei, que eram pecadores, e assim julgavam e condenavam os seus semelhantes.
Jó, por sua vez, tinha testemunho de Deus de que era justo e, diferentemente dos fariseus, que acusavam os seus semelhantes de serem pecadores, Jó para se justificar diante de seus amigos acusou Deus de, no seu caso em particular, não observar a justiça.
Para emitir juízo, Jó estava se guiando por questões circunstanciais: sofrimento, doença, morte, desprezo, acusações, etc., e entendeu que não era merecedor daquela situação que, ao seu ver, Deus lhe havia infringido.
Jó comete o erro de exigir para si uma balança que fosse fiel, como se Deus necessitasse de balança para estabelecer o que é justo. Para se justificar, Jó não acusou Deus diretamente de injusto, mas se lhe fosse dada uma balança precisa, os seus amigos veriam que Jó era justo.
“(Pese-me em balanças fiéis, e saberá Deus a minha sinceridade),” (Jó 31.6).
Jó desconhecia que já havia sido pesado e Deus tinha um veredito: não havia ninguém na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal!
Mas, apesar de toda integridade e retidão, Jó dependia de Deus para ser declarado justo. É por isso que ao falar a multidão que reputavam que os escribas e fariseus eram justos, Jesus disse que era impossível entrar nos céus se eles não tivessem obras superior à dos seus mestres.
“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” (Mateus 5.20).
A justiça que Jesus exige da multidão superava em muito a justiça da lei, um padrão elevado a altura do comportamento de Jó. Mas, se Jó não podia se justificar, que se dirá da multidão e dos escribas e fariseus.
Os fariseus estavam tão entenebrecidos no entendimento que viram a salvação de Deus cara a cara e não se arrependeram. Estavam sempre julgando Jesus tendo por pretexto a lei, e se justificavam a si mesmos.
“Este recebe pecadores e come com eles” (Lucas 15.2);
“Porventura o trono de iniquidade te acompanha, o qual forja o mal por uma lei?” (Salmos 94.20).
Certa feita certo da intenção dos corações dos fariseus, Jesus propôs a parábola das cem ovelhas e, através dela, os repreendeu, dizendo:
“Haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”. (Lucas 15.7).
A parábola das cem ovelhas, que tem os fariseus como as 99 ovelhas no deserto, foi uma crítica ácida de Jesus aos fariseus, que se repete na parábola das dracmas e do filho pródigo. Os religiosos judeus não reconheceram que precisavam mudar de concepção acerca de como alcançar a justificação de Deus, pois estavam diante da salvação preparada por Deus a toda humanidade e, mesmo assim, continuavam confiando em mandamentos de homens.
Para justificar a si mesmo, o jovem rico perguntou a Jesus: “Quem é o meu próximo?”. O homem que tenta se justificar diante de Deus não admite a sua condição: morto, e que precisa obedecer a Deus para obter vida.
“E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.” (Lucas 10.25-28).
Quem está completamente perdido na religiosidade não considera que é necessário se fazer servo de Deus obedecendo-O, e se volta para o próximo para tentar se justificar.
O homem pode figurar como credor de Deus?
“Quem, pois, é aquele que ousa erguer-se diante de mim? Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu.” (Jó 41.10-11)
Após repreender Jó pelo seu posicionamento com relação a justiça divina, Deus continua a inquirir Jó, e pede para trazer a lembrança o Beemonte, uma das criaturas de Deus, assim como Jó.
Presumir qual é o animal descrito por Deus não traz maior riqueza ao texto. O nome traduzido por Beemonte é o plural do hebraico בהמה (bəhēmāh), um “animal” que se destaca por ser grande. Seria um animal extinto? Um hipopótamo? Saber qual é o animal não altera a essência do texto.
O Beemonte é descrito como herbivaro, assim como o boi, porém, com mais força muscular e densidade óssea. Deus descreve o animal como uma obra prima, se comparado aos outros animais. Os montes eram seu pasto, porém, o local de descanso a margem dos rios coberto com as lótus e cercado de salgueiros (v. 21).
O Beemonte não temia o transbordar das águas do Jordão, e não se apressava em deixa-lo. Pelo seu tamanho, algum homem seria capaz de enfrenta-lo e passar uma argola nas ventas?
Neste mesmo diapasão, Deus questiona Jó se lhe era possível fisgar um animal das profundezas do mar com anzol ou prender a língua com uma corda. Não se sabe qual a semelhança do Leviatã citado, mas o que se sabe é que o homem não tinha como domá-lo.
Se o homem fosse capaz de furar as ventas do Leviatã e passar um gancho pela mandíbula, acaso o animal se tornaria dócil, ou seria domesticado? Seria possível faze-lo trabalhar como o boi, ou deixar preso como um pássaro para diversão dos filhos? (v. 2-5).
O Leviatã é descrito como aterrador, de modo que passar a mão sobre ele tem o mesmo terror de uma batalha, de modo que tentar prende-lo era uma esperança sem fundamentos. Ninguém dentre os filhos dos homens se atreveria despertá-lo do sono, em função das consequências (v. 6-10).
Se ninguém se atreveria a importunar um Leviatã, quem seria tolo o bastante para ousar se levantar perante Deus.
“… quem, pois, é aquele que ousa erguer-se diante de mim?” (v. 10).
Jó mesmo disse:
“Clamo a ti, porém, tu não me respondes; estou em pé, porém, para mim não atentas.” (Jó 30.20).
Jó esperava ser retribuído segundo a sua integridade, e por isso aguardava em pé, mas Deus o cala com o seguinte argumento:
“Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu.” (v. 11).
Qual seria a base de Jó para achar que Deus estava em dívida? Se tudo embaixo dos céus pertence a Deus, teria alguém na face da terra que teria dado algo a Deus, de modo que agora seria credor do Altíssimo?
A doutrina da prosperidade não resiste ao argumento divino, pois filantropia, ou contribuições para uma ordem eclesiástica, não dá direito ao homem de cobrar algo de Deus. Que se dirá de orações descabidas no sentido de pressionar Deus a retribuir por alguém ter ofertado.
Baruque, o escriba a serviço do profeta Jeremias, é um exemplo de alguém que espera ser retribuído por prestar um serviço a Deus. Enquanto escrevia as palavras de Deus por intermédio do profeta Jeremias, Baruque, filho de Nerias, considerou: – ‘Ai de mim agora, porque me acrescentou o SENHOR tristeza sobre minha dor! Estou cansado do meu gemido, e não acho descanso.’.
Veio a palavra de Deus a Jeremias, que disse a Baruque:
“Eis que o que edifiquei eu derrubo, e o que plantei eu arranco, e isso em toda esta terra. E procuras tu grandezas para ti mesmo? Não as procures; porque eis que trarei mal sobre toda a carne, diz o SENHOR; porém te darei a tua alma por despojo, em todos os lugares para onde fores.” (Jeremias 45.4-5).
Baruque queria ser reconhecido, ter posição social e as benesses decorrente do status, mas Deus o repreende e lhe deu um presente: a vida como despojo, em qualquer lugar que fosse. Se achava que tinha que ser retribuído pelo serviço que prestava a Jeremias, Baruque foi aquinhoado com sua vida.
Se a integridade de Jó não lhe dava direito diante de Deus, que se dirá do homem mediano. Se recebesse de Deus segundo o que merecesse, o homem sairia de mãos vazias.
Como Jó ousou erguer-se diante do Criador de todas as coisas, Deus continua descrevendo o Leviatã, evidenciando o atrevimento de Jó (v. 12-34).
Jó se arrepende
Geralmente as pessoas pensam o arrependimento como mudança de atitude, ou de comportamento. Qual deveria se a atitude que Jó teria que adotar doravante para indicar que se arrependeu, se era um homem integro e que se desviava do mal?
Jó sentiu a sua insignificância diante de Deus (me abomino) e se arrependeu completamente (no pó e na cinza). O que seria o arrependimento de Jó? (Jó 42.6)
Diante da cobrança divina, Jó se conscientizou mais ainda que Deus tudo podia, e que os propósitos de Deus não podem ser frustrados. Para Deus não há impossível!
Jó responde uma única pergunta:
– Quem é este, que sem conhecimento encobre o conselho? (v. 3)
Ao admitir que falou do que não entendia, e que o que não compreendia era inescrutável, Jó se declara como aquele que encobriu sem conhecimento o conselho de Deus, que faz tudo segundo a sua vontade.
Jó queria falar, e esperava que Deus o escutasse, pois teria perguntas e esperava ser ensinado (v. 4). Até aquele momento Jó só havia ouvido acerca de Deus, mas daquele momento em diante podia contemplar Deus, o que o levou ao arrependimento.
O arrependimento é mudança de concepção à vista de um novo conhecimento. Abandona-se o conhecimento antigo, e passa a viver segundo o novo conhecimento.
O arrependimento segundo o evangelho tem as mesmas bases, pois diante do conhecimento de Deus revelado no evangelho, o homem deve abandonar as suas convicções sobre como ser justo diante de Deus, e deve viver segundo as premissas do evangelho: crendo que Jesus é o Cristo.
Os fariseus que iam ao batismo de João Batista não se arrependeram, pois diante das boas novas do arauto de Cristo, continuavam presos ao antigo entendimento, pois continuavam confessando que tinham por pai Abraão.
“E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Mateus 3.7-9).
Quem compreende que a história de Jó evidencia a justiça de Deus, e não questões humanas acerca do sofrimento e a origem do mal, compreenderá que o sofrimento de Cristo tem em vista a justificação dos que creem, o que diverge da compreensão do homem natural, que só vê as agruras que cercaram um homem justo.
Da história de Jó podemos tirar outra lição:
“Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes. Vigiai justamente e não pequeis; porque alguns ainda não têm o conhecimento de Deus; digo-o para vergonha vossa” (1 Co 15:33-34).
O apóstolo alerta aos cristãos com o fascínio das más conversações (associações), pois elas deturpavam os bons costumes (ἤθη). Estar em companhia, ou ter comunhão com quem se diz servo de Cristo, mas que não detém o conhecimento de Deus, é pernicioso para a verdade do evangelho e pode fazer com que o crente se demova do evangelho.
“Ninguém vos engane com palavras vãs, porque, por estas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais seus companheiros” (Ef 5:6-7; 2 Ts 3:6).
O termo grego traduzido por ‘costume’ (ηθος-ethos) diz da mensagem do evangelho, que é a residência habitual, o abrigo, o recanto dos cristãos, da qual não se pode demover (1 Co 15:11; 2 Ts 2:15). O termo ‘costume’ transtorna a ideia do texto, visto que, ao ler a passagem, muitos compreendem que se trata do modo de pensar e agir próprio a um grupo social.
O conhecimento de Jó acerca de Deus era parco, e dos seus amigos, ainda mais. Quando se reuniram, se deixarem iludir pela situação, e se deixarem enganar , e da má associação (comunhão) corrompeu-se o que estava estabelecido, passaram a acusar Jó de pecado.
A companhia, a relação ou a comunhão (conversações) com aqueles que não tem o conhecimento de Deus compromete a verdade do evangelho, e só quem detém o conhecimento da verdade pode se defender das ciladas do inimigo.
“Mas ele, virando-se, e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-te de diante de mim, Satanás; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são dos homens.” (Marcos 8 : 33)