Interpretação bíblica

Desvendando as Escrituras: Um guia para a pregação expositiva

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Uma pregação expositiva coloca o Senhor Jesus Cristo como o ponto central de qualquer passagem da Escritura, fazendo da graça de Deus revelada em Cristo o cerne da mensagem, tanto para os não crentes que necessitam de salvação quanto para os crentes que precisam perseverar na fé.


Desvendando as Escrituras: Um guia para a pregação expositiva

Introdução

Em um mundo dinâmico e em constante transformação, muitos procuram nas Escrituras orientação para enfrentar os desafios cotidianos. A pregação expositiva emerge como um farol confiável, iluminando o caminho dos ouvintes através das vicissitudes da vida, com o propósito claro de conduzi-los ao porto seguro que é Jesus.

O objetivo primordial da pregação expositiva é revelar aos indivíduos a sabedoria de Deus manifestada em Cristo, cuja importância transcende as questões temporais, pois o propósito divino em Cristo é eterno.

O evangelho de Deus, primeiramente anunciado a Abraão, não se deixa influenciar pelas variáveis culturais do passado, presente ou futuro, mas concentra-se na promessa:

“… e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:3).

 

Desvendando a sabedoria das Escrituras

A pregação expositiva não se limita a abordar ou explicar questões contemporâneas, nem busca criticar o modo de vida das sociedades antigas. Seu propósito vai além de uma mera leitura de versículos ou capítulos; ela deve reconhecer que as Escrituras testemunham de Cristo, oferecendo aos seres humanos a vida eterna (João 5:24; 39; 1 João 1:2).

Segundo as Escrituras, o propósito (fim) da lei de Moisés era apontar para Cristo, revelando que ela foi dada por causa das transgressões e constituindo apenas como sombra dos bens futuros (Romanos 10:4; Gálatas 3:19; Hebreus 10:1). Da mesma forma, a Lei, os Profetas e os Salmos têm um mesmo espírito, antecipando aos homens o conhecimento que se manifestou na pessoa de Cristo.

Jesus enfatizou que todas essas coisas escritas acerca dele deveriam ser cumpridas, conforme declarado nas palavras:

“São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos.” (Lucas 24:44).

Enquanto os judeus consideravam a lei como um meio de adquirir conhecimento e verdade, Cristo foi designado por Deus como a verdade e a sabedoria, conforme testemunhado tanto pela lei quanto pelos profetas (Romanos 2:20; 3:21).

“Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus.” (1 Coríntios 1:24).

Assim, a pregação expositiva não apenas explana o texto bíblico, mas revela seu propósito central: apontar para Cristo como o cumprimento das promessas divinas e o caminho para a vida eterna.

 

Desvendando o significado original

Na pregação expositiva, o pregador se dedica a revelar o significado profundo dos textos bíblicos, buscando transmitir aos ouvintes o sentido que o autor original pretendia comunicar ao seu público. Enquanto textos históricos frequentemente têm uma narrativa direta e clara, que não deixa margem para interpretações ambíguas, as profecias e os Salmos são mais complexos.

Os profetas do Antigo Testamento frequentemente transmitiam mensagens cujo entendimento completo era obscuro até mesmo para eles mesmos. Eles recebiam revelações sobre eventos futuros, como os sofrimentos de Cristo e sua glória vindoura, e muitas vezes indagavam sobre o tempo e as circunstâncias em que esses eventos se cumpririam.

“Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar.” (1 Pedro 1:10-13).

Muitos pregadores, ao analisarem um texto bíblico, focam nas nuances históricas e culturais da época em que foi escrito, porém é crucial lembrar que os autores escreveram sobre o “hoje”, um tempo oportuno e aceitável, a plenitude dos tempos em que Cristo é apresentado como Senhor e Salvador do mundo. Investigar aspectos culturais, históricos e crenças da época não é suficiente para compreender a mensagem inspirada e autêntica, pois o que os profetas anunciaram não tem paralelo nas histórias ou culturas existentes, pois refere-se ao mistério de Deus revelado em Cristo.

“Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.” (Isaías 55:9).

O verdadeiro expositor bíblico deve ser capaz de extrair do texto bíblico a mensagem de salvação que os profetas buscaram e trataram com diligência. Isso permite que os ouvintes não apenas compreendam, mas também experimentem as riquezas insondáveis de Cristo em toda a sua profundidade e amplitude.

“Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória;” (Colossenses 1:27);

“O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus.” (Filipenses 4:19).

 

Exemplo de pregação expositiva em Pedro

O primeiro discurso do apóstolo Pedro no dia de Pentecostes é realmente um exemplo magnífico de pregação expositiva. Ele começa dirigindo-se à multidão que se reuniu para a festa, composta tanto por judeus quanto por gentios, tornando claro que seu público-alvo é diversificado.

“Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a sua voz, e disse-lhes: Homens judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.” (Atos 2:14).

O apóstolo Pedro, ao se dirigir à multidão, apresenta uma exposição cuidadosa das Escrituras do Antigo Testamento, interpretando o que estava acontecendo à luz da profecia e dos eventos recentes, como a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele conecta os pontos entre as profecias messiânicas e sua realização em Cristo, demonstrando como Jesus é o cumprimento das promessas de Deus ao povo de Israel e, igualmente, ao mundo inteiro.

No evento de Pentecostes descrito em Atos 2, o Espírito Santo desceu sobre os discípulos de Jesus reunidos em Jerusalém, capacitando-os a falar em línguas que não conheciam anteriormente. Isso atraiu a atenção de uma multidão diversificada que havia vindo a Jerusalém para a festa judaica.

Quando as pessoas ouviram os discípulos falarem em suas próprias línguas nativas, ficaram perplexas e curiosas. Eles não conseguiam entender como pescadores e outros galileus simples poderiam falar idiomas estrangeiros sem terem aprendido. Esse fenômeno miraculoso abriu a porta para o discurso do apóstolo Pedro, que aproveitou a oportunidade para contextualizar o que estava acontecendo aos seus ouvintes.

O apóstolo Pedro começa seu discurso explicando que o que estavam testemunhando era o cumprimento da profecia de Joel, onde Deus prometia derramar seu espírito sobre toda a carne, resultando em profecias, sonhos e visões para homens e mulheres.

“Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel:” (Atos 2:15-16).

O exemplo do apóstolo Pedro em Pentecostes, ao citar o profeta Joel e interpretar os eventos sob a luz da profecia, ilustra a importância de entender a essência da mensagem profética ao fazer um esboço para uma mensagem expositiva.

O apóstolo Pedro não apenas reconheceu que os eventos de Pentecostes eram o cumprimento das palavras proféticas de Joel, mas também foi capaz de explicar isso com plena certeza e autoridade aos seus ouvintes. Ele não se limitou a contextualizar o público presente, embora isso fosse crucial, mas também penetrou na essência da profecia para mostrar como Deus estava agindo naquele momento específico da história.

Da mesma forma, ao fazer um esboço para uma mensagem expositiva, o pregador deve ir além de simplesmente conhecer seu público-alvo e o contexto histórico dos textos bíblicos. É essencial compreender profundamente a essência da mensagem profética ou escritural que está sendo exposta. Isso envolve discernir como Deus revelou sua vontade e propósito através das Escrituras, especialmente no que se refere ao seu cumprimento em Jesus Cristo.

“E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens terão visões, E os vossos velhos terão sonhos; E também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e profetizarão; E farei aparecer prodígios em cima, no céu; E sinais em baixo na terra, Sangue, fogo e vapor de fumo. O sol se converterá em trevas, E a lua em sangue, Antes de chegar o grande e glorioso dia do Senhor; E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Atos 2:17-21).

Se o pregador não compreender que o “derramar do Espírito” se refere à essência do evangelho inicialmente anunciado a Abraão, conforme está escrito: “… e em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:3; Gálatas 3:8), e que “toda carne” inclui toda a humanidade, ficará limitado ao explicar a passagem bíblica.

O expositor deve entender que o “espírito derramado sobre toda carne” representa a doutrina de Deus, que deve ser como a chuva suave sobre a erva. Ao perceber que toda carne, tanto judeus quanto gentios, é como a erva que necessita do orvalho da doutrina de Deus, ele compreenderá que a manifestação da glória do Senhor refere-se ao Verbo encarnado, o derramamento do espírito sobre toda a humanidade.

Cristo manifesto é a glória do Senhor visível a todos os povos, conforme profetizado por Isaías. O “espírito derramado sobre toda carne”, por sua vez, é conforme profetizado por Joel.

“Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva.” (Deuteronômio 32:2);

“E a glória do SENHOR se manifestará, e toda a carne juntamente a verá, pois a boca do SENHOR o disse. Uma voz diz: Clama; e alguém disse: Que hei de clamar? Toda a carne é erva e toda a sua beleza como a flor do campo. Seca-se a erva, e cai a flor, soprando nela o Espírito do SENHOR. Na verdade o povo é erva. Seca-se a erva, e cai a flor, porém a palavra de nosso Deus subsiste eternamente. Tu, ó Sião, que anuncias boas novas, sobe a um monte alto. Tu, ó Jerusalém, que anuncias boas novas, levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas, e dize às cidades de Judá: Eis aqui está o vosso Deus.” (Isaías 40:5-9).

O apóstolo Pedro, em sua primeira epístola, condensa e sintetiza passagens tanto de Deuteronômio quanto de Isaías:

“Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro; Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre. Porque Toda a carne é como a erva, E toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; Mas a palavra do SENHOR permanece para sempre. E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada.” (1 Pedro 1:22-25).

Muitos expositores frequentemente enfatizam a necessidade de conhecer o contexto histórico ao interpretar textos como o Cântico de Moisés em Deuteronômio 32 ou o capítulo 40 de Isaías. No entanto, eles às vezes deixam de lado o fato de que tanto Moisés quanto Isaías estavam profetizando a vinda do Messias, o descendente de Abraão que traria bênçãos para toda a humanidade.

O mote central da mensagem do apóstolo Pedro, como destacado em seus escritos, é Jesus de Nazaré — aquele que foi crucificado, morto e ressuscitou. Pedro enfatiza não apenas os sinais miraculosos ou eventos sobrenaturais, mas a pessoa de Jesus Cristo, o homem de Nazaré. Observe que a ênfase do sermão não está nos sinais de línguas, nos milagres, no sobrenatural, no que é impossível, nas questões demoníacas, ou em outros aspectos secundários, mas sim na pessoa do homem de Nazaré.

“Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela;” (ATOS 2:22-24).

Conforme o texto:

  • O homem de Nazaré foi aprovado por Deus entre os israelitas por meio de prodígios, sinais e maravilhas.
  • Ele foi entregue de acordo com a vontade de Deus e conforme anunciado antecipadamente pelos profetas.
  • Pelas mãos dos romanos, os judeus prenderam, crucificaram e mataram o Nazareno.
  • No entanto, Deus o ressuscitou, e a base para essa afirmação é a profecia de que a morte não poderia retê-lo.

“Porque dele disse Davi: Sempre via diante de mim o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja comovido; Por isso se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; E ainda a minha carne há de repousar em esperança; Pois não deixarás a minha alma no inferno, Nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção; Fizeste-me conhecidos os caminhos da vida; Com a tua face me encherás de júbilo.” (Atos 2:25-28; Salmo 16:8-11).

Muito perspicaz, o apóstolo Pedro citou os Salmos para contextualizar o evento da morte e ressurreição de Jesus, sem necessidade de aprofundar-se no contexto histórico em que o salmista e rei Davi escreveu o cântico.

Ao fazer isso, Pedro demonstrou uma leitura das Escrituras alinhada com o ensinamento de Jesus.

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;” (João 5:39).

Ao fazer o sermão expositivo aos israelitas que o ouviam, o apóstolo Pedro destaca que o Salmo não se referia especificamente ao patriarca Davi, pois a sepultura deste último era conhecida e ele permaneceu na sepultura após a sua morte. Além disso, Pedro enfatiza que Davi era profeta e, através da promessa divina, tinha conhecimento de que um de seus descendentes seria o Cristo, levantado para governar sobre o reino de Israel.

No Salmo 16, Davi profetizou sobre Jesus de Nazaré, que não seria deixado na sepultura.

“Nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção. Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis.” (Atos 2:31-33).

No seu sermão expositivo, o apóstolo Pedro demonstra que Davi profetizou sobre a ressurreição de Jesus. Ele enfatiza que todos os seus ouvintes eram testemunhas vivas de que Deus ressuscitou Jesus. A ressurreição foi a exaltação de Jesus de Nazaré, que de posse da promessa do Espírito Santo, Ele derramou do seu espírito, e todos podiam testemunhar através das pessoas falando em outras línguas.

Ao encerrar o sermão, Pedro destaca que Davi, embora tenha descido à sepultura e não subido aos céus, profetizou que o Senhor disse ao seu Senhor para se assentar à sua direita. Isso demonstra que o Salmo não se referia a Davi, mas prefigurava Jesus. Como Jesus ressuscitou dos mortos, Ele está verdadeiramente à direita do Altíssimo, feito Senhor e Cristo por Deus.

“Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés. Saiba, pois, com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.” (Atos 2:34-36).

A pregação do apóstolo Pedro é expositiva porque ele expõe a intenção do texto bíblico e o aplica ao contexto atual de seus ouvintes. Sua abordagem incluiu o Antigo Testamento e conectou os eventos da Nova Aliança aos ensinamentos dos profetas, revelando o significado dos textos abordados. Essa interpretação de Pedro não apenas esclarece o significado profético dos Salmos em relação a Jesus, mas também confirma a exaltação e o senhorio de Jesus como cumprimento das Escrituras e promessas divinas.

 

Apresentando a verdade da salvação para um público contemporâneo

Uma pregação expositiva transcende barreiras temporais e culturais, de modo a garantir que a Palavra de Deus continue a ressoar com poder e relevância em cada geração, portanto, o discurso do pregador não deve se imiscuir em questões contemporâneas.

Na sua pregação expositiva, o apóstolo Pedro estabeleceu um elo entre o passado e o presente, destacando o que foi anunciado pelos profetas e como isso se cumpriu em Cristo. Ele guiou seus ouvintes em uma jornada de descoberta, conectando a promessa eterna das Escrituras com sua realização na pessoa de Jesus.

Pedro não se deteve nos desafios imediatos ou dilemas cotidianos de seus ouvintes, como a dominação romana ou a restauração do reino de Israel. Em vez disso, ele transcendia essas questões temporais e culturais para assegurar que a Palavra de Deus ressoasse com poder e relevância em cada geração.

Uma verdadeira pregação expositiva não se distrai com questões contemporâneas passageiras, mas mantém o foco na mensagem duradoura das Escrituras. Isso assegura que a Palavra de Deus ressoe com poder e relevância em cada geração.

 

Transformando vidas através da aplicação prática

A pregação expositiva busca provocar uma transformação intelectual, levando os ouvintes a mudarem seu entendimento sobre determinado assunto. Essa mudança de compreensão é conhecida como arrependimento (metanoia), uma transformação decorrente de Cristo, o Reino dos Céus entre os homens.

Os ouvintes do apóstolo Pedro provavelmente viam os Salmos como poesias e expressões das experiências pessoais dos salmistas. No entanto, Pedro fez uma exposição visando provocar uma mudança na compreensão deles, introduzindo a pessoa de Cristo como o cumprimento das profecias e promessas contidas nos Salmos.

Dúvidas como as que o etíope eunuco tinha, sendo um mordomo-mor da rainha dos etíopes, Candace, e superintendente de todos os seus tesouros, poderiam ser esclarecidas através de uma mensagem expositiva. Pedro, assim como Filipe fez com o etíope eunuco (Atos 8:26-40), procurou conectar as Escrituras ao cumprimento em Cristo, oferecendo entendimento e levando à transformação de compreensão sobre as verdades espirituais.

“E, respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro?” (Atos 8:34).

O grande desafio do pregador é renovar a compreensão intelectual dos seus ouvintes sobre como interpretar a Lei, os Salmos e os Profetas, de modo que possam compreender plenamente o evangelho de Cristo. Isso requer não apenas explicar o significado literal dos textos, mas também mostrar como esses textos apontam para Cristo e seu papel central na redenção da humanidade.

A interpretação correta das Escrituras do Antigo Testamento à luz do Novo Testamento é crucial para os cristãos entenderem a continuidade e o cumprimento das promessas de Deus em Jesus Cristo. O pregador expositivo deve apresentar essa conexão de forma clara e convincente, ajudando seus ouvintes a verem como cada parte das Escrituras contribui para o entendimento mais profundo e abrangente do evangelho.

Além disso, o pregador enfrenta o desafio de superar interpretações errôneas ou distorcidas das Escrituras, oferecendo uma abordagem fiel e contextualizada que ressoe com a verdade do evangelho e conduza à transformação intelectual dos ouvintes.

Portanto, ao renovar a compreensão intelectual dos ouvintes sobre como entender a Lei, os Salmos e os Profetas, o pregador não apenas educa, mas também sedimenta a fé dos seus ouvintes em Cristo (Tito 2:12).

Ouvindo alguém a palavra do reino, e não a entendendo, vem o maligno, e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho.” (Mateus 13:19).

O pregador deve se dedicar a expor o evangelho de Cristo, que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, independentemente de ser judeu ou gentio. O poder transformador reside no fruto dos lábios do pregador que confessa a Cristo como Senhor. Esse fruto contém a semente que, ao germinar no coração do ouvinte, o transforma numa árvore de justiça, uma plantação de Deus destinada a glorificá-Lo (cf. Hebreus 13:15).

“E todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado.” (Isaías 60:21; 61:3);

“Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.” (João 15:8).

A pregação expositiva não busca promover mudanças de caráter moralizantes, nem tem como objetivo alterar a forma como os indivíduos se relacionam com o mundo ao seu redor. Seu propósito principal é reconciliar o ouvinte com Deus.

A essência do evangelho é conceder ao ouvinte a natureza divina, não se limitando a impor práticas e costumes externos, que são apenas uma forma de limpeza superficial, como faziam os escribas e fariseus. A mensagem não deve visar a aparência de justiça aos olhos dos homens, mas sim a justificação verdadeira diante de Deus, que é alcançada pelo seu amor e graça.

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniquidade. Fariseu cego! limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.” (Mateus 23:25-28)

Se a mensagem estiver repleta de determinações e práticas que impõem encargos aos ouvintes segundo filosofias e sutilezas vãs, segundo tradições humanas e os rudimentos do mundo, não trará liberdade; ao contrário, tornará os ouvintes presas.

“Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo;” (Colossenses 2:8);

“Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá.” (Atos 15:28-29).

 

A importância da pregação expositiva na atualidade

Na atualidade, os púlpitos estão frequentemente saturados com mensagens superficiais e promessas vazias. Por isso, a pregação expositiva de um texto bíblico se destaca como um tesouro inestimável.

Mensagens que se assemelham a horóscopos, como: “Hoje você será honrado”; “O seu cativeiro vai mudar”; “Vejo a chave da vitória”, entre outras, não estão alinhadas com a promessa feita por nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

“E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna.” (1 João 2:25).

A exposição fiel do texto bíblico levará os ouvintes a concentrarem-se na promessa da vida eterna, colocando em perspectiva as questões da vida moderna como de menor importância diante da grandeza da salvação.

Compreenderão que para aqueles que creem em Cristo, a essência é permanecer firmes no evangelho, sem se desviarem do que foi anunciado por Jesus e os apóstolos.

“Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro.” (Colossenses 1:23);

“Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” (Romanos 8:18).

A mensagem expositiva não apenas exorta à perseverança, mas também fortalece os cristãos por meio de alimento sólido, em contraste com o leite espiritual mencionado em passagens como 1 Pedro 2:2, Hebreus 5:12-13 e 1 Coríntios 3:2. Isso permite que deixem de ser crianças espirituais, vulneráveis aos ventos de doutrinas (Efésios 4:14).

“Vigiai, estai firmes na fé; portai-vos varonilmente, e fortalecei-vos.” (1 Coríntios 16:13).

Através de uma pregação expositiva bem elaborada, os crentes são equipados com a armadura de Deus, capacitando-os a serem fiéis soldados em defesa da verdade do evangelho (Judas 1:3; Filipenses 1:27).

“No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça; E calçados os pés na preparação do evangelho da paz; Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus;” (Efésios 6:10-17).

O cristão deve estar fortalecido no Senhor e na força do seu poder, crescendo em tudo em Cristo, que é a cabeça da Igreja. Cada parte da armadura de Deus — cingir os lombos com a verdade, vestir a couraça da justiça, calçar os pés com o preparo do evangelho da paz, tomar o escudo da fé, colocar o capacete da salvação e empunhar a espada do Espírito, que é a palavra de Deus — refere-se à Palavra de Deus.

“Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,” (Efésios 4:15).

Uma exposição bíblica não deve se envolver com os mistérios da arqueologia nem se aprofundar nas questões da paleontologia. Mesmo quando os cristãos enfrentam desafios, não devem buscar fornecer respostas teológicas para questões da metafísica. A Bíblia não se propõe desvendar os segredos da física quântica ou as teorias da astronomia.

Tentar integrar a revelação bíblica como um campo da filosofia pode distorcer a essência da doutrina cristã, desviando o foco das coisas celestiais e levando a uma preocupação excessiva com transformações socioculturais (cf. Colossenses 3:1-2).

 

É possível fazer da Escritura um guia prático para o dia a dia?

Muitos pregadores hoje em dia buscam interpretar as Escrituras à luz de uma perspectiva contemporânea, argumentando que uma leitura bíblica profunda requer compreensão do contexto histórico e cultural para extrair uma mensagem prática para o dia a dia. No entanto, a verdadeira relevância da mensagem bíblica reside na atemporalidade da promessa, ancorada na imutabilidade e fidelidade de Deus, que transcende as barreiras multiculturais e permanece relevante em qualquer sociedade e em qualquer tempo. Essa promessa fundamental aborda a necessidade universal da salvação do pecado, que afeta todos os seres humanos indiscriminadamente.

Portanto, o pregador não deve escolher um problema contemporâneo e buscar na Escritura uma resposta que apenas satisfaça a curiosidade humana ou que pretenda resolver as vicissitudes específicas de seus ouvintes. Pautar a pregação em ideologias, como se todo cristão, ao abraçar o evangelho, tivesse que seguir determinadas agendas, não está de acordo com as Escrituras.

Um sermão expositivo verdadeiro coloca o Senhor Jesus Cristo como o ponto central de qualquer passagem da Escritura, fazendo da graça de Deus revelada em Cristo o cerne da mensagem, tanto para os não crentes que necessitam de salvação quanto para os crentes que precisam perseverar na fé.

Em resumo, um sermão bíblico expositivo expõe o significado de uma passagem específica da Escritura, destacando aos ouvintes sua relevância dentro do propósito eterno de Deus que Ele propôs em Cristo.

“A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor, no qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele.” (Efésios 3:8-12).

Através do evangelho, os homens são convidados à salvação, como se Deus, por meio de seus embaixadores, rogasse aos homens que se reconciliem com Ele (2 Coríntios 5:20). Todos aqueles que aceitam esta reconciliação são chamados ao propósito eterno estabelecido em Cristo. Eles serão conformados à expressa imagem e semelhança de Cristo, de modo que Ele seja o primogênito de Deus entre muitos irmãos semelhantes a Ele em tudo.

“Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso SENHOR, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus, que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos;” (2 Timóteo 1:9).

No presente século, Deus concede a salvação através do evangelho, pois este é o tempo sobremaneira oportuno de salvação (2 Coríntios 6:2). Aquilo que foi estabelecido por Deus antes dos tempos eternos, segundo o Seu propósito e graça em Cristo, é concedido aos salvos com uma santa vocação.

“Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial.” (2 Coríntios 15:48-49).

Poucos cristãos compreendem que, por terem sido salvos em Cristo Jesus, agora como filhos amados fazem parte da geração eleita, sendo considerados santos e irrepreensíveis diante de Deus. Além disso, foram predestinados a serem conformados à imagem de Cristo, segundo o propósito de Deus em Cristo.

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Romanos 8:29);

“Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade;” (Efésios 1:11).

 

Conclusão

Um dos desafios da pregação expositiva é garantir uma aplicação prática ao final da mensagem. Embora a Bíblia contenha muitos textos históricos, a promessa de Deus feita no Éden à mulher, reiterada a Abraão e Davi, evidencia que esse tema continua profundamente relevante para a humanidade.

Embora os patriarcas e os profetas tenham enfrentado problemas e conflitos específicos de sua época, suas mensagens transcendem essas circunstâncias temporais ao abordar questões universais, como a profunda necessidade humana de salvação.

Os apóstolos, em sua época, enfrentaram valores sociais diferentes dos atuais, mas sua mensagem persiste: permanecer fiel ao evangelho. Esta deve ser a proposta do pregador também: apontar Cristo como o autor e consumador da fé, exortando os ouvintes a não desviarem o olhar dele.

“Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.” (Hebreus 12:2).

Ao escolher um texto como o Salmo 23, por exemplo, é crucial considerar sua natureza profética. Davi, sendo profeta, antecipou eventos que apontam para Jesus, como Messias. Portanto, antes de fazer conjecturas na aplicação do Salmo, é fundamental discernir se ele trata das experiências pessoais de Davi ou se revela aspectos profundos sobre Cristo.

No caso do Salmo 23, não se trata apenas da confiança de um homem no Senhor nos momentos difíceis, mas também de uma visão messiânica onde o Messias, o Ungido de Deus, encontra consolação e segurança na vontade do Pai, mesmo no vale da sombra da morte. Jesus, ao consumar a obra na cruz, participou da mesa preparada por Deus na presença de seus algozes, tomando o cálice transbordante que lhe foi dado por ser o Ungido de Deus.

Portanto, ao interpretar as Escrituras e preparar uma exposição bíblica, é essencial não apenas considerar o contexto histórico e cultural, mas também reconhecer que todo o Antigo Testamento aponta para Cristo como o cumprimento das promessas de Deus. Essa compreensão não apenas enriquece a exposição bíblica, mas também revela a centralidade de Cristo na história da redenção e na mensagem do evangelho para toda a humanidade.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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