Perdoar o pecado do povo já era um pedido descabido por parte de Moisés, quanto mais a condição que estabeleceu: “…se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito” (Êx 32:32). Ao fazer essa oração, Moisés desconsiderou completamente o que foi dito por Deus aos filhos de Israel, quando estavam acampados ao pé do monte Sinai.
Terei misericórdia de quem me aprouver!
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“Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer, nem do que corre, mas de Deus, que usa de misericórdia” (Romanos 9:15-16)
Para compreender a palavra de Deus: “… terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer” (Êx 33:19), quando revelou a Sua glória a Moisés, temos de voltar alguns dias no tempo, no dia em que Deus anunciou a Lei aos filhos de Israel.
A idolatria dos filhos de Israel
Três meses após saírem do Egito, os filhos de Israel chegaram ao deserto do Sinai e acamparam diante do monte (Êx 19:1). No terceiro dia, após o povo se santificar, Moisés subiu ao cume do monte, quando Deus lhe disse, abertamente:
“Não te encurvarás a elas, nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos” (Êx 20:6).
Deus deixou muito claro ao povo de Israel que é Deus zeloso, ou seja, que vela sobre a sua palavra para cumpri-la (Jr 1:12). Isto posto, Deus dá a sua palavra de que não justifica o pecado daqueles que O odeiam, mas, que faz misericórdia aos que O amam, ou seja, aos que guardam os seus mandamentos.
Tomando por base a palavra de Deus dita a Moisés, no capítulo 20, verso 6, pergunta-se: – de quem Deus tem misericórdia? Deus tem misericórdia, única e exclusivamente, daqueles que O amam!
Essa verdade é inconspurcável e enfatizada repetidas vezes:
“Mas a misericórdia do SENHOR é desde a eternidade e até a eternidade sobre aqueles que o temem e a sua justiça sobre os filhos dos filhos; Sobre aqueles que guardam a sua aliança e sobre os que se lembram dos seus mandamentos, para os cumprir” (Sl 103:17-18);
“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos” (Dt 5:10);
“Saberás, pois, que o SENHOR teu Deus, ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia, até mil gerações, aos que o amam e guardam os seus mandamentos” (Dt 7:9);
“E orei ao SENHOR meu Deus, confessei e disse: Ah! Senhor! Deus grande e tremendo, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus mandamentos” (Dn 9:4).
Deus deixou estabelecido nas Escrituras que somente demonstra misericórdia aos que obedecem ao Seu mandamento, pois a misericórdia (amor) de Deus é que guardemos os seus mandamentos.
“Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados” (1 Jo 5:3).
Após Moisés anunciar estas palavras ao ouvido dos filhos de Israel e eles votarem a uma só voz que obedeceriam tudo o que o Senhor ordenou (Êx 24:7), bastou Moisés se ausentar por quarenta dias e quarenta noites para os filhos de Israel transgredirem o mandamento, adorando um bezerro de ouro (Êx 32:1).
“Então disse o SENHOR a Moisés: Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste subir do Egito, se tem corrompido e depressa se tem desviado do caminho que eu lhe tinha ordenado; eles fizeram para si um bezerro de fundição e perante ele se inclinaram, ofereceram-lhe sacrifícios e disseram: Este é o teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito” (Êx 32:7-8).
Uma oração impossível de ser atendida
No dia seguinte, após destruir o bezerro de ouro, Moisés subiu ao Senhor para rogar pelo povo e disse:
“Ora, este povo cometeu grande pecado fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa o seu pecado, se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito” (Êx 32:31-32).
Ora, segundo o que Deus já havia estabelecido: a) Deus visita a iniquidade dos que O odeiam, e; b) faz misericórdia aos que O amam, portanto, por esses dois motivos, a oração de Moisés, para perdoar o povo, não tinha como prosperar.
Em primeiro lugar Deus é Deus zeloso e a sua palavra não volta vazia. Em segundo lugar, Deus é justo, portanto, Ele não pode justificar o ímpio (Êx 23:7; Êx 34:7). Em terceiro lugar, a alma que pecar, essa mesma morrerá (Êx 32:33).
Perdoar o pecado do povo já era um pedido descabido por parte de Moisés, quanto mais a condição que estabeleceu: “…se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito” (Êx 32:32). Ao fazer essa oração, Moisés desconsiderou completamente o que foi dito por Deus aos filhos de Israel, quando estavam acampados ao pé do monte Sinai.
Como os filhos de Israel pecaram contra o Senhor odiando-O, Deus determinou a Moisés que conduzisse o povo como o ordenado, porém, ficou estabelecido que, no dia da visitação, Deus haveria de dar aos filhos de Israel a paga pela ofensa no deserto (Êx 32:34-35).
Terei misericórdia dos que me amam
Em seguida, Moisés roga a Deus que ande com os filhos de Israel (Êx 33:15), ao que Deus aquiesceu (Êx 33:17). Moisés roga a Deus que mostre a Sua gloria, Deus atende ao pedido e dá um aviso solene:
“Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti e proclamarei o nome do SENHOR diante de ti; terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer” (Êx 33:19).
Embora Deus tenha concedido a Moisés ver a Sua glória, Moisés precisava compreender que Deus teria misericórdia de quem Lhe aprouvesse! Para Moisés não se esquecer da palavra que havia sido anunciada ao povo, quando acampado ao pé do monte Sinai, evidenciar a Sua vontade e evitar equívocos, Deus utiliza um espécie de trocadilho.
De quem Deus tem misericórdia? Daqueles que O amam! Deus tem misericórdia dos que O obedecem! Aprouve a Deus ter misericórdia dos que O amam! Quando é dito: ‘Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia’, Deus está trazendo à memoria a sua vontade expressa: aprouve-me ter misericórdia dos que me amam!
De quem aprouve a Deus ter compaixão? Dos que O amam, ou seja, daqueles que Lhe obedecem! Lembrando que, nas Escrituras, os termos amor e ódio, dependendo do contexto, estão respectivamente para obediência e desobediência, dedicação e desprezo, questão que não envolve sentimento.
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom” (Mt 6:24).
Com base na ideia de que Deus tem misericórdia de quem ele quer, e de que Ele tem misericórdia dos que O amam, o apóstolo Paulo citou essa passagem, para enfatizar que Deus cumpriu a sua palavra anunciada a Abraão, mesmo que nem todos os pertencentes à nação de Israel sejam, de fato, israelitas (Rm 9:6-8).
“Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas; Nem por serem descendência de Abraão, são todos filhos” (Rm 9:6-7).
O apóstolo destaca, desde o verso 7, que a palavra de Deus é firme e que, portanto, deve ser interpretada corretamente.
A descendência de Abraão
Por que é necessária a interpretação? Porque, não basta ser descendente da carne de Abraão, para ser considerado filho de Abraão, pois, a palavra de Deus indicava que, em Isaque, seria chamada a descendência de Abraão, não, propriamente, em Abraão.
O apóstolo cita as Escrituras: ‘mas: em Isaque será chamada a tua descendência’ e, em seguida, dá a interpretação: ‘Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas, os filhos da promessa é que são contados como descendência’. Deus não afirmou que Isaque seria a descendência de Abraão, mas, que, em Isaque, a descendência seria chamada!
A palavra da promessa era: ‘Por este tempo virei e Sara terá um filho’, no entanto, essa não era a única palavra, pois, também, foi dito a Rebeca: ‘O maior servirá o menor’. E por que Deus disse a Rebeca que o maior serviria o menor? Resposta: – Porque Deus amou a Jacó e odiou a Esaú!
Dai a pergunta: há injustiça da parte de Deus, por que Ele disse que amou a Jacó e que odiou a Esaú? Ou, porque o maior servirá o menor? Ou, porque nem todos os que são de Israel são israelitas? Ou, porque, mesmo sendo descendência de Abraão, não eram todos seus filhos?
Para demonstrar que não há injustiça em Deus, nas perguntas formuladas acima (Rm 9:14), antes, que a palavra de Deus não falhou, o apóstolo Paulo cita a palavra de Deus a Moisés, demonstrando que Deus é Deus zeloso:
“Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” (Rm 9:15).
Deus tem misericórdia, especificamente, dos que O amam, pois Ele teve misericórdia de Abraão, porque cumpriu todos os Seus mandamentos e, por isso, foi chamado de amigo de Deus.
“Porquanto, Abraão obedeceu à minha voz e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis” (Gn 26:5; Is 41:8).
Deus elegeu Abraão para ordenar a sua descendência (casa), a fim de que os seus descendentes guardem os mandamentos do Senhor e, em contra partida, o Senhor faria vir sobre Abraão, o que acerca dele havia falado, demonstrando, assim, que Deus tem misericórdia dos que obedecem à sua palavra.
“E disse o SENHOR: Ocultarei eu a Abraão o que faço, visto que Abraão, certamente, virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra? Porque eu o tenho conhecido e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do SENHOR, para agir com justiça e juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado” (Gn 18:17-19).
Esaú e Jacó
Se a promessa de Deus, dada a Abraão, tivesse se cumprido na palavra: “Por este tempo virei e Sara terá um filho”, seria desnecessária a palavra de Deus anunciada a Rebeca: “O maior servirá o menor”, que concebeu de Isaque, também, pai dos judeus (Rm 9:10).
O apóstolo Paulo também demonstra que a perspicácia de Rebeca em obedecer a Deus é semelhante à de Abraão e, por isso, foi dada a palavra a Rebeca: “O maior servirá ao menor”.
Ora, quando foi dito que o maior servirá ao menor, Deus não estava escolhendo entre indivíduos: Esaú e Jacó, mas, sim, entre dois povos, o que contraria o pensamento calvinista e arminianista da eleição e da predestinação. Deus não estava escolhendo Jacó para a salvação, mas, determinando que o Cristo viria da sua descendência.
“E o SENHOR lhe disse: Duas nações há no teu ventre e dois povos se dividirão das tuas entranhas e um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor” (Gn 25:23).
Pela palavra que ouviu, Rebeca não ficou passiva, mas, abordou o seu filho Jacó e o orientou a enganar seu próprio pai e, diante do medo que Jacó teve de uma possível maldição, ela se interpôs: “Meu filho, sobre mim seja a tua maldição; somente obedece à minha voz, vá e traze-os” (Gn 27:13) e, assim, garantiu que a bênção prometida a Abraão ficasse na casa de Jacó e não na casa de Esaú (Ml 1:1-3).
Haveria injustiça em Deus, ao amar a Jacó e, em aborrecer a Esaú? Não! Pelo fato de Esaú ter desprezado o direito de primogenitura, ele não alcançou misericórdia, pois a misericórdia é para os que obedecem. Diferentemente, de Esaú, Jacó alcançou misericórdia, porque buscou para si o direito de primogenitura. Esaú não achou lugar de arrependimento porque só existe um primogênito, direito que ele vendeu a Jacó.
“E ninguém seja devasso ou, profano, como Esaú, que, por uma refeição, vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele, ainda, depois de herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que, com lágrimas o buscasse” (Hb 12:16-17).
Deus não teve misericórdia de Esaú porque ele foi devasso, vez que profanou o estabelecido por Deus, quanto ao direito de primogenitura. Jacó, por sua vez, amou o estabelecido por Deus no direito de primogenitura e buscou o direito para si, comprando-o. E, por isso, foi recompensado pela sua diligência!
O apóstolo Paulo disse que desejava ser separado de Cristo, por amor aos seus irmãos, mas, o desejo do apóstolo não muda a palavra de Deus, de que Ele tem misericórdia dos que O amam (Rm 9:3). Esaú desejou herdar a bênção e, com lágrimas a buscou, mas, não achou lugar de arrependimento. Moisés queria que Deus exercesse misericórdia sobre os filhos de Israel, mas, o exercício da misericórdia de Deus, não dependia de Moises querer ou correr, mas de Deus, que usa de misericórdia para os que O amam, ou, seja, aos que guardam o seu mandamento.
“Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer, nem do que corre, mas de Deus, que usa de misericórdia” (Rm 9:15-16).
Os crentes e a loucura da pregação
Da mesma forma que Deus tem misericórdia de quem Ele aprouver, aprouve a Deus salvar os crentes, pela loucura da pregação:
“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve, a Deus, salvar os crentes, pela loucura da pregação“ (1 Co 1:21).
Não aprouve a Deus salvar a quem Ele quisesse pelo fato de ser soberano, antes, soberanamente, aprouve a Ele salvar os crentes, por meio do evangelho. O evangelho é a graça de Deus, segundo a sua misericórdia, e para o homem ser salvo, é necessário amar a Deus, crendo em Cristo.
Ao crer em Cristo, o homem ama a Deus, portanto, Deus terá misericórdia de quem crê em Cristo, pois, ele obedeceu ao mandamento de Deus:
“Pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes e crestes que saí de Deus” (Jo 16:27).
A misericórdia de Deus é manifesta no seu mandamento, possibilitando ao homem obedecer e ser salvo. Obediência ao mandamento resulta na perfeita obra de Deus.
“Jesus respondeu e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” (Jo 6:29);
“Sê tu a minha habitação forte, à qual possa recorrer continuamente. Deste um mandamento que me salva, pois tu és a minha rocha e a minha fortaleza” (Sl 71:3).
Quando Deus disse a Faraó: “Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra” (Rm 9:18; Êx 9:16). Assim, Deus já tinha demonstrado a sua misericórdia, ao ordenar: – “Deixa o meu povo ir”, mas, Faraó se recusou a obedecer.
Através da palavra do Senhor dada a Faraó, conclui-se que Ele compadece de quem quer, ou seja, dos que obedecem à sua palavra. Logo, Ele endurece, ou, resiste a quem quer, ou seja, aos soberbos, aos desobedientes, etc.
“Logo, pois, compadece-se de quem quer (quem lhe apraz) e endurece a quem quer (quem não lhe apraz)” (Rm 9:18);
“Antes, ele dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg 4:6; 1 Pe 5:5).
A palavra de Deus, para alguns, é salvação e para outros, perdição:
“E, em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas, para vós, de salvação, e isto de Deus” (Fl 1:28).
Correção ortográfica: Pr. Carlos Gasparotto
Que palavra bem redigida, inspirada pelo Espírito Santo,… norteada pelas escrituras sagradas. Que saborosa nutrição espiritual,.. Parabéns pela publicação, parabéns pela iniciativa tão bela de divulgar o entendimento preciso da “misericórdia de Deus”,.. nosso Pai. Obrigado meu irmão.
QUE TEXTO ESCLARECEDOR!! MARAVILHOSO!! QUE DEUS CONTINUE ABENÇOANDO A SUA VIDA.