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A lei da fé e a lei das obras

Que mérito é possível alguém aferir ao acreditar em uma palavra fiel e digna de aceitação? Nenhum. O mérito está na virtude daquele que chama os homens que vivem em trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 2:9).


A lei da fé e a lei das obras

“Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.” (Romanos 3:28);

Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé.” (Romanos 3:27).

Introdução

Muitos calvinistas afirmam que a fé é uma obra, argumentando que se a salvação implica na necessidade do pecador crer em Cristo, isso equivaleria a uma salvação por obras. Assim, eles defendem a ideia de que, antes de crer, a pessoa precisa ter sido eleita e predestinada a crer, ou seja, deve primeiro ser regenerada para então ser capacitada a exercer a fé.

Isso implica que, sempre que Jesus e os apóstolos destacaram a necessidade de as pessoas crerem em Jesus como o Cristo, os calvinistas sugerem que, implicitamente, essas pessoas deveriam compreender que é impossível crer a menos que tenham sido eleitas e predestinadas à salvação. Deus, então, as regeneraria para que pudessem adquirir a capacidade de acreditar em Cristo para a salvação.

Essa interpretação contradiz a mensagem anunciada por Cristo, como em Marcos 16:16: “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”. Os calvinistas inserem várias considerações nesta afirmação tão cristalina e simples. Para eles, se a pessoa crê porque ouviu o evangelho, isso seria equiparado a tornar o ato de crer uma obra humana, resultando na participação do homem em sua própria salvação e, consequentemente, na usurpação do mérito divino.

Será isso mesmo? Esse é o ensinamento das Escrituras? Analisemos!

 

Justificados pela fé

Após fazer uma exposição aos cristãos em Roma, o apóstolo Paulo dá a seguinte conclusão:

“Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.” (Romanos 3:28).

Para chegar a essa maravilhosa conclusão, a exposição paulina teve início com a seguinte abordagem:

“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.” (Romanos 1:16-17).

A temática central explorada pelo apóstolo Paulo é o evangelho de Cristo, caracterizado como o próprio poder de Deus para a salvação. O argumento é que somente no evangelho, tanto para judeus quanto para gentios, é possível descobrir a verdadeira justiça de Deus.

Essa perspectiva implica que a justificação do homem ocorre exclusivamente por meio do evangelho de Cristo, sem depender das obras estabelecidas na lei. O apóstolo Paulo enfatiza, ao longo de sua explanação, que o evangelho de Cristo supera a lei mosaica. Enquanto a lei não tem o poder de justificar o homem, o evangelho contém em si a própria justiça divina.

O desfecho magnífico dessa reflexão ressalta a superioridade do evangelho sobre a lei. Para o apóstolo dos gentios, o evangelho não apenas revela a insuficiência das obras da lei para justificar o homem, mas também enfatiza que a verdadeira justiça de Deus está incorporada no evangelho que contém o poder de criar o novo homem. Essa mensagem, portanto, destaca a centralidade d e Cristo, a fé manifesta, como o caminho para a salvação, superando qualquer dependência nas obras da lei.

“Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.” (Gálatas 2:16);

“E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé.” (Gálatas 3:11).

Quando o apóstolo Paulo contrapõe os termos ‘evangelho’ e ‘lei’, assim como ‘fé’ e ‘obra’, ele destaca claramente o poder salvífico do evangelho e a inutilidade da lei como meio de salvação. É relevante notar que Paulo utiliza diversas expressões para se referir à lei, tais como “lei”, “obras”, “obras da lei”, “lei das obras”, entre outras. Em contraste, o evangelho é apresentado com outras designações, tais como poder de Deus, fé, lei da fé, Cristo, e assim por diante.

Essa diversidade de termos usados por Paulo reflete a sua intenção de abordar as diferentes nuances e implicações relacionadas à lei e ao evangelho. Enquanto a lei é associada a um sistema no qual as pessoas acreditavam que podiam ser salvas pelas obras, o evangelho é caracterizado como a manifestação do poder divino que beneficia aqueles que creem em Cristo.

“De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados.” (Gálatas 3:24).

Após afirmar categoricamente que ninguém será justificado diante de Deus pela observância da lei, o apóstolo Paulo esclarece o propósito fundamental da lei: conduzir os seres humanos a Cristo. Em uma formulação mais direta, podemos dizer que o objetivo último da lei é apontar para Cristo.

Essa declaração ressalta que a função primordial da lei não é proporcionar justificação, mas sim servir como um guia que direciona as pessoas a reconhecerem que estão sujeitas ao pecado e a necessidade de Cristo em suas vidas. Em outras palavras, a lei atua como um precursor, conduzindo os indivíduos ao entendimento de que é em Cristo que encontram a verdadeira justificação diante de Deus.

Essa compreensão define a perspectiva sobre a lei, destacando-a não como um fim em si mesma, mas como um meio que aponta para a centralidade de Cristo no plano divino de redenção. Dessa forma, o apóstolo Paulo reforça a importância de Cristo como o cumprimento último e a realização plena do propósito divino, transcendendo as limitações inerentes à busca da justiça mediante a observância estrita da lei.

“Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.” (Romanos 10:4).

Para elucidar o propósito da lei aos Gálatas, o apóstolo Paulo emprega uma figura de linguagem amplamente reconhecida, a metonímia. Nesse recurso linguístico, o escritor, entre várias possibilidades, utiliza a obra como representação do autor, visando enfatizar a mensagem que deseja transmitir. É interessante observar:

“Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar.” (Gálatas 3:23).

Nesse sentido, o apóstolo apresenta a fé como o Cristo, a fé que havia de se manifestar. Como Cristo é o autor e consumador da fé, o apóstolo se refere a Cristo como a fé que haveria de vir ou se manifestar.

Nesse contexto, é crucial notar que, quando se fala em fé, não se está apenas se referindo ao ato de crer, mas à própria mensagem do evangelho. Os calvinistas, ao interpretarem diversas passagens bíblicas, sobretudo as de Paulo, tendem a negligenciar inteiramente o fato de que o apóstolo utiliza o substantivo grego “pistis” (πιστις) muito mais frequentemente no sentido de mensagem, doutrina ou querigma, do que simplesmente aludindo ao ato de acreditar.

Isto significa dizer que, quando é dito: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.” (Romanos 3:28), o apóstolo está simplesmente afirmando que o homem é justificado pelo evangelho, em suma, por Cristo.

“Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti.” (Gálatas 3:8).

Quando Deus proclamou o evangelho primeiramente a Abraão, prometendo que “todas as nações serão abençoadas em ti”, estava antecipando a chegada de Cristo, o Descendente prometido a Abraão. Através de Cristo, a fé manifesta, os gentios seriam justificados. Essa promessa feita a Abraão apontava para o papel redentor de Cristo, que não apenas traria bênçãos aos descendentes físicos de Abraão, mas abrangeria toda carne, ou seja, as nações (judeus e gentios). Bastaria aos homens crerem na obra redentora de Cristo.

Na perspectiva paulina, é enfatizado que tanto judeus quanto gentios são justificados pela fé. Essa justificação não está atrelada à observância da lei, mas sim à fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. A universalidade desse princípio sublinha a igualdade diante de Deus, independentemente da origem étnica, destacando que a fé é o meio pelo qual tanto judeus quanto gentios podem alcançar a justificação divina.

 

As obras da lei

“Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado.” (Romanos 3:20).

De fato, há uma distinção clara entre o evangelho e as obras da lei. Enquanto o evangelho possui o poder de justificar tanto judeus quanto gentios, mesmo a observância rigorosa das obras da lei não é capaz de conferir justificação a nenhuma pessoa. A mensagem central do evangelho é a redenção através da fé em Cristo, que transcende as fronteiras étnicas e oferece justificação a todos que creem. Por outro lado, a dependência das obras da lei, que não possui qualquer relação com a fé em Cristo, não proporciona a justificação diante de Deus. Essa distinção ressalta a centralidade de Cristo como o fundamento da justificação, independentemente da origem étnica.

A observação paulina é importantíssima, e repetida aos cristãos da Galácia:

“Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.” (Gálatas 2:16).

As “obras da lei” referem-se, no contexto bíblico, às práticas e observâncias prescritas pela lei de Moisés no Antigo Testamento. Isso inclui uma série de regulamentos e rituais específicos do judaísmo, conforme estabelecido na Torá. Algumas dessas práticas mencionadas, como genealogia, origem, circuncisão, observância rigorosa dos sábados (dias de festas) e rituais de purificação, fazem parte das obrigações detalhadas pela lei mosaica.

Em adição, o termo pode se estender para englobar tradições adicionais como instruções ou prescrições adicionais transmitidas pela tradição oral judaica, denominado “mandamentos de homens” que foram adicionados às práticas originais da lei.

“Depois perguntaram-lhe os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem o pão com as mãos por lavar? E ele, respondendo, disse-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim; Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens. Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens; como o lavar dos jarros e dos copos; e fazeis muitas outras coisas semelhantes a estas.” (Marcos 7:5-8);

Não dando ouvidos às fábulas judaicas, nem aos mandamentos de homens que se desviam da verdade.” (Tito 1:14).

Qualquer pessoa ligada ao judaísmo, sistema doutrinário que prega a salvação por meio das práticas dos elementos da lei, está sujeita a maldição. Isso porque a própria lei declara amaldiçoados aqueles que não praticarem TODAS as coisas do livro da lei. Em outras palavras, se alguém tropeçar em apenas um ponto da lei, torna-se culpado de toda a lei.

“Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.” (Gálatas 3:10).

Daí o alerta:

“Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei. Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.” (Gálatas 5:2-4).

A circuncisão é citada pelo apóstolo Paulo como uma das práticas da lei, e tudo o que está vinculado à lei é categorizado como obras da lei. Qualquer tentativa de mesclar práticas judaicas com o evangelho, na realidade, equivale a introduzir fermento, que inevitavelmente afetará a integridade do evangelho como um todo.

“Um pouco de fermento leveda toda a massa.” (Gálatas 5:9).

Chegamos a um ponto crucial! Tudo o que o apóstolo Paulo aborda tem o propósito de defender o evangelho, a fé que foi confiada aos santos, do ataque dos judaizantes (Filipenses 1:27, Judas 1:3). Manter o evangelho separado do judaísmo é preservar a fé cristã.

No entanto, ao longo dos séculos após a igreja primitiva, instituições surgiram, e o cristianismo passou por diversas transformações doutrinárias. Uma delas foi o surgimento da Igreja Católica, que introduziu práticas como indulgências, penitências, esmolas, dízimos, entre outras.

Quando o apóstolo Paulo pregava que ninguém seria salvo por meio de obras, a discussão era sobre as obras da lei, conforme o judaísmo, em contraste com a pregação da fé, que se refere ao evangelho. Ser salvo somente pela fé significa ser salvo exclusivamente pelo evangelho, sem qualquer associação com práticas derivadas da lei.

Com a Reforma Protestante, a leitura das Escrituras sofreu uma espécie de anacronismo, pois muitos intérpretes deixaram de considerar o contexto original do texto, adicionando elementos de um tempo distinto com desvios doutrinários diferentes.

Ao destacar que os homens são salvos pela fé (acreditar) em Cristo (fé manifesta) e não pelas obras da lei, o apóstolo Paulo contrastou o evangelho com o judaísmo. Com a Reforma Protestante, a doutrina da salvação somente pela fé assumiu uma nova forma, em resposta às práticas específicas da Igreja Católica. As praticas equivocadas do catolicismo como indulgências, penitências, esmolas, dízimos, entre outras. acabaram sendo consideradas obras, sendo contrastada com a ideia da salvação somente pela fé, em substituição as obras da lei.

Por que a leitura bíblica sofreu esse anacronismo? Porque, na época do apóstolo Paulo, a Igreja Católica ainda não existia, e em nenhuma passagem de suas cartas a doutrina católica poderia ou foi contestada. A verdade é evidente: ninguém é salvo por pagar indulgências, praticar penitências, seguir os dogmas da igreja, pagar dízimos, dar esmolas, etc. No entanto, é importante destacar que essas práticas não são as mesmas obras que o apóstolo Paulo critica em suas epístolas.

Ao ler as cartas paulinas, o leitor deve ter em mente que as obras que o apóstolo Paulo destaca decorre exclusivamente do judaísmo.

“Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo. Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, e não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus. Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens;” (Colossenses 2:16-22).

 

A lei da fé e a lei das obras

Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé.” (Romanos 3:27);

“Porque a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.” (Romanos 8:2).

 Estamos diante de dois sistemas doutrinários: fé e obras, e ambos são leis (mandamentos).

O mandamento do evangelho tem por base a promessa feita a Abraão, e o mandamento da lei mosaica a maldição.

“Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão. Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las. E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé. Ora, a lei não é da fé; mas o homem, que fizer estas coisas, por elas viverá.” (Gálatas 2:8-12).

Todo mandamento requer obediência. Toda lei requer sujeição. É por isso que Jesus diz:

“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” (João 14:21);

“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:29-30).

Obedecer a Cristo é se fazer servo. Se submeter voluntariamente a Cristo é humilhar-se a si mesmo.

“Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça? Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.” (Romanos 6:16-18).

Na obediência, ou no amor não há como alguém se gloriar, ou jactar-se. Observe que na essência os termos obediência e amor se refere à sujeição:

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” (Mateus 6:24);

“Se me amais, guardai os meus mandamentos.” (João 14:15);

“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Deuteronômio 5:10).

Sobre o “amor sujeição” (ágape), o que é completamente diferente do “amor sentimento” (eros, philia, storge), o apóstolo Paulo registrou:

“O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.” (1 Coríntios 13:4).

O amor verdadeiro (obediência, sujeição) é submisso, suporta com paciência e é benevolente. Ele não alimenta inveja, nem age levianamente ou com soberba, antes se submete. Outros tipos de “amor” podem suspeitar, movidos por interesses próprios, propensos à irritação e a agir de maneira indecente.

“Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;” (1 Coríntios 13:4).

É por isso que o apóstolo João diz o seguinte sobre o amor bíblico, o “amor sujeição”:

“No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor.” (1 João 4:18).

Isso implica que na obediência (amor) não há espaço para o medo (temor). A obediência perfeita elimina o medo, e a explicação é notável: o medo (temor) está ligado à expectativa de punição, indicando que quem tem medo é porque não obedeceu verdadeiramente. Um exemplo claro desse medo pode ser observado na pessoa de Saul:

“Por que, pois, não deste ouvidos à voz do SENHOR, antes te lançaste ao despojo, e fizeste o que parecia mau aos olhos do SENHOR? Então disse Saul a Samuel: Antes dei ouvidos à voz do SENHOR, e caminhei no caminho pelo qual o SENHOR me enviou; e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e os amalequitas destruí totalmente; Mas o povo tomou do despojo ovelhas e vacas, o melhor do interdito, para oferecer ao SENHOR teu Deus em Gilgal. Porém Samuel disse: Tem porventura o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.  Então disse Saul a Samuel: Pequei, porquanto tenho transgredido a ordem do SENHOR e as tuas palavras; porque temi ao povo, e dei ouvidos à sua voz.” (1 Samuel 15:19-24).

A verdadeira compreensão da natureza do evangelho emerge quando reconhecemos que se trata de um mandamento, assim como a lei de Moisés, com a distinção crucial de que esta última foi dada sob a ameaça de maldição, enquanto o evangelho é concedido mediante promessa.

Nesse contexto, notamos a observação do apóstolo Paulo sobre o mandamento do evangelho, utilizando os termos “fé” e “amor” que, respectivamente, significam “mandamento” e “obediência” no contexto do versículo:

“Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor.” (Gálatas 5:6).

O evangelho opera pela obediência, ou seja, a bênção prometida no evangelho não alcança os desobedientes.

“Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?” (1 Pedro 4:17);

“Mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé;” (Romanos 16:26);

“Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida.” (1 Timóteo 1:5).

O objetivo do mandamento é a obediência, ou seja, o amor que envolve coração, consciência e confiança:

“Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças.” (Deuteronômio 6:5).

Quando a pessoa obedece a Deus de todo o coração, alma e forças, o que só é possível através da lei da fé, a qual foi anunciada primeiramente a Abraão: em ti serão benditas todas as famílias da terra, a jactância é excluída, diferentemente da lei das obras que procura estabelecer uma justiça própria e abre mão da justiça de Deus.

Quando alguém obedece a Deus de todo coração, alma e forças, o que é possível somente através da lei da fé, inicialmente anunciada a Abraão – “em ti serão benditas todas as famílias da terra” -, a jactância é excluída. Isso difere da lei das obras, que busca estabelecer uma justiça própria e abre mão da justiça de Deus.

“Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé.” (Romanos 3:27).

 

A obra da fé

Da mesma forma que a lei tem obras, a fé também tem. Qual a obra da fé, ou a obra do evangelho? É bem clara a obra da fé:

“Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.” (João 6:29);

“Responderam, e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão.” (João 8:39).

Por que a obra da fé é crer em Cristo? Por causa do mandamento implícito no evangelho:

“E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento.” (1 João 3:23).

A lei da fé, ou a lei perfeita da liberdade requer obediência, e crer no testemunho que Deus deu do seu filho é a obediência requerida.

“Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito.” (Tiago 1:25).

O mesmo que a lei requeria, o evangelho também requer: obediência. Compare essas duas passagens:

“Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.” (Romanos 2:13);

“Por isso, rejeitando toda a imundícia e superfluidade de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada (evangelho), a qual pode salvar as vossas almas. E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural;” (Tiago 2:21-23).

O único dilema apresentado pela lei reside no fato de que ninguém conseguia cumpri-la integralmente; uma falha em um único ponto implicava no descumprimento de toda a lei. No entanto, tanto a lei quanto o evangelho demandam obediência, ou seja, requer uma obra.

As diversas formas de obra realizadas pelo homem recebem diferentes nomes, tais como crer, confiar, descansar, invocar, perseverar, ouvir, entre outros. Deus não impõe demandas difíceis, e o que o ser humano precisa fazer é confiar. Invocar a Deus exige confiança nele, e a promessa associada é a salvação:

“Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo.” (Romanos 10:13);

“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?” (Romanos 10:14);

Na Palavra de Deus, sempre há poder, razão pela qual Sua palavra não deve ser desprezada. Adão menosprezou a palavra que declarou: “… porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2:17). O pecado, aproveitando-se de algo que era santo, justo e bom – o mandamento -, trouxe a morte ao homem pelo bem, evidenciando sua natureza maligna. Em virtude da lei que afirmava “certamente morrerás”, o homem, através da morte, ficou subjugado ao pecado.

“Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.” (1 Coríntios 15:56).

Adão não depositou confiança na palavra de Deus, e o poder inerente a ela transformou-se na força do pecado, de modo que a morte prende o homem ao pecado. Adão realizou uma obra contraria ao aviso divino: comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.

No que se refere à salvação, o homem não precisa realizar nada, pois ela é concedida graciosamente por Deus. Para alcançá-la, basta ao homem crer, confiar, invocar, ouvir, descansar, etc., em Cristo, ou seja, realizar a obra do Senhor.

Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as firmes beneficências de Davi.” (Isaías 55:3).

Como temos dois sistemas doutrinários: fé e obra, espírito e letra, evangelho e carne, etc., e que exigem confiança e serviço:

“Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne.” (Filipenses 3:3);

“Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra.” (Romanos 7:6);

“O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (2 Coríntios 3:6).

Servir a Deus em espírito implica em servir através do evangelho, que é espírito e vida. Ao confiar em Cristo, aqueles que foram salvos se gloriam em Cristo, ao contrário daqueles que buscam servir a Deus através da lei (letra), os quais se gloriam na carne (elementos da lei). Confiar no espírito (evangelho) é completamente diferente de confiar na carne, que incorpora elementos da lei.

“Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível.” (Filipenses 3:4-6);

“O que digo, não o digo segundo o SENHOR, mas como por loucura, nesta confiança de gloriar-me. Pois que muitos se gloriam segundo a carne, eu também me gloriarei. Porque, sendo vós sensatos, de boa mente tolerais os insensatos.  Pois sois sofredores, se alguém vos põe em servidão, se alguém vos devora, se alguém vos apanha, se alguém se exalta, se alguém vos fere no rosto. Envergonhado o digo, como se nós fôssemos fracos, mas no que qualquer tem ousadia (com insensatez falo) também eu tenho ousadia. São hebreus? também eu. São israelitas? também eu. São descendência de Abraão? também eu.” (2 Coríntios 11:17-22).

Note que aqueles que creem em Cristo, além de realizarem a obra de Deus, se gloriam em Cristo, isto é, se gloriam no escândalo da cruz de Cristo (Gálatas 6:14). Por outro lado, aqueles que confiam na lei de Moisés apenas demonstram zelo por Deus, mas sem entendimento, e se gloriam na carne (elementos pertinentes à lei): hebreus, israelitas, descendência de Abraão, circuncisão, etc. (Romanos 10:1-2).

 

Salvação: obra de Deus

“Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne. Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” (Gálatas 6:13-14).

Analisando a abordagem do apóstolo Paulo, percebemos que alguém poderia se gloriar na carne (por ser descendente de Abraão) ou na carne alheia (por alguém ter se circuncidado). No entanto, os cristãos se gloriam na cruz de Cristo. A circuncisão era um motivo para os judaizantes se vangloriarem, enquanto o evangelho era motivo de glória para o apóstolo Paulo. Por esse motivo, ele não se envergonhava do evangelho de Cristo.

“Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne.” (Filipenses 3:3).

O cristão pode se gloriar por ter crido em Cristo, pois pela lei da fé a jactância é excluída. Isso difere da lei das obras, que se manifesta na carne. Jactar-se ou gloriar-se era algo praticado pelos judaizantes, cuja glória residia na circuncisão, na descendência, na genealogia, no culto, nos profetas, nas alianças, nas promessas, etc. (Romanos 3:1; 9:3-5).

Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé.” (Romanos 3:27).

“Porque eu mesmo poderia desejar ser anátema de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne; Que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto, e as promessas; Dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém.” (Romanos 9:3-5).

Todos os elementos elencados pelo apóstolo Paulo, segundo a carne, eram motivos para os seguidores do judaísmo se vangloriarem, ao contrário da palavra anunciada a Abraão. De todos os itens mencionados pelo apóstolo Paulo, Abraão não possuía nenhum; ele não era circuncidado, e a lei ainda não havia sido dada. Por isso foi dito:

“Que diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus.” (Romanos 4:1-2).

“E fosse pai da circuncisão, daqueles que não somente são da circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé que teve nosso pai Abraão, que tivera na incircuncisão. Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão, ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé.” (Romanos 4:12-13).

Existe um temor difundido pelos calvinistas de que, se o cristão confessar que creu em Cristo simplesmente por ter ouvido as boas novas de salvação (evangelho), estaria se glorificando por ser copartícipe da salvação e tirando de Deus o devido crédito por salvar o homem.

Abraão foi justificado porque creu na palavra, mas a palavra que disse que Abrão creu em Deus somente se cumpriu quando Abraão ofereceu Isaque em holocausto, obra (obediência) realizada segundo a ordem de Deus. Isso significa dizer que Abraão não dizia somente crer em Deus como diziam os judaizantes, antes ele ofereceu Isaque, o que os judaizantes não faziam, que era crer em Cristo. Considerando que a obra é crer em Cristo, o homem é justificado pelas obras, e não somente por dizer (honrar com a boca) que crê em um único Deus.

Abraão foi justificado porque creu na palavra de Deus, mas a confirmação de que Abraão realmente creu em Deus aconteceu quando ele ofereceu Isaque em holocausto, uma obra (obediência) realizada de acordo com a ordem divina. Isso significa que Abraão não apenas declarava acreditar em Deus, como faziam os judaizantes; pelo contrário, ele ofereceu Isaque, algo que os judaizantes não faziam, vez que não criam em Cristo.

Considerando que a obra da fé é crer em Cristo, podemos dizer que o homem é justificado por suas ações, e não apenas por proferir (honrar com a boca) sua fé em um único Deus, como observado por Tiago:

“Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus. Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.” (Tiago 2:21-24).

A jactância que os calvinistas temem só surge das obras relacionadas à lei, e é por isso que o apóstolo Paulo adverte:

Não vem das obras, para que ninguém se glorie;” (Gálatas 2:9).

O apóstolo Paulo alertou que a salvação não vem das obras porque sabia que os cristãos de Éfeso enfrentariam ataques dos judaizantes, que enfatizavam a circuncisão. Os gentios, chamados de incircuncisão pelos circuncidados na carne, eram anteriormente encontrados em uma condição desfavorável: sem Cristo, separados da comunidade de Israel, estranhos às alianças, sem esperança e sem Deus no mundo (Efésios 2:12). Esses aspectos eram motivos para a glória dos circuncidados, mas o apóstolo destaca que a parede de separação foi removida, e dos dois povos foi feito um, a igreja (Efésios 2:13-14).

O verso 9 não se refere a boas ações, indulgências, esmolas, dízimos, penitências, etc., que a abordagem dos reformadores rotula como obras. Ninguém será salvo por essas ações, mas o apóstolo Paulo fala da lei dos mandamentos quando diz: não vem das obras, ordenanças que Cristo desfez em Sua carne (Efésios 2:15).

Algumas pessoas equivocadamente fazem uma lista de ações que chamam de “obras da fé”, como oração, jejum, hospitalidade, generosidade, adoração, estudo da Bíblia, obediência, humildade, evangelismo, confissão de pecados, perdão, serviço, etc. Essas não são obras da fé. A verdadeira obra da fé é crer que Jesus é o Cristo.

Todo mérito pela obra da salvação, em cada etapa do processo, pertence a Deus. Ele anunciou o evangelho a Abraão e trouxe salvação poderosa na casa de Davi, Seu servo. O crente não tem mérito em crer na mensagem de salvação; o mérito está na fidelidade de Deus, que deu Sua palavra de que salvaria todo aquele que O invocasse.

Há mérito no crente ter crido na mensagem de salvação? Não! Na verdade, o mérito reside em quem deu Sua palavra de que salvaria a qualquer que O invocasse. O mérito de alguém crer na mensagem do evangelho está na fidelidade de Deus:

Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.” (1 Timóteo 1:15);

“Esta palavra é fiel e digna de toda a aceitação;” (1 Timóteo 4:9).

Que mérito alguém pode atribuir a si mesmo ao acreditar em uma palavra fiel e digna de aceitação? Nenhum. O mérito está na virtude daquele que chama os homens que vivem em trevas para a Sua maravilhosa luz (1 Pedro 2:9).

A palavra digna de toda aceitação diz:

“Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo.” (Romanos 10:13).

E, como invocarão se não crerem? E as perguntas não para por aí:

“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?” (Romanos 10:14).

Observe que é impossível invocar se não crer, e crer não é determinado por eleição ou predestinação, mas sim, por ouvir! Daí a necessidade de que alguém pregue a mensagem de boas novas.

“E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas. Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: SENHOR, quem creu na nossa pregação?” (Romanos 10:15-16).

Quando a Bíblia diz que pela graça sois salvos, refere-se à graça de Deus manifesta em Cristo, que trouxe salvação a todos os homens (Gálatas 2:8). Quando se menciona todos os homens, entende-se todas as famílias da terra, ou seja, sem distinção de língua, tribo ou nação. Todos os homens incluem judeus e gentios, sem distinção.

“Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens,” (Tito 2:11).

Isso significa que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito (João 3:16).

Entretanto, a salvação é por meio da fé, ou seja, por meio do evangelho, a pregação da fé. Nesse versículo, não é abordada a necessidade de crer, mas sim o meio de salvação: o evangelho. A palavra “fé” no versículo “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé refere-se à palavra da verdade digna de toda aceitação, o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se veem (Hebreus 11:6).

“Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?” (Gálatas 3:2);

Novamente se faz necessário destacar que a pregação da fé é mandamento que deve ser obedecido:

“Mas a seu tempo manifestou a sua palavra pela pregação que me foi confiada segundo o mandamento de Deus, nosso Salvador;” (Tito 1:3);

“Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram.” (Hebreus 4:2).

A graça refere-se a Cristo, à palavra da pregação, e sendo Ele o autor e consumador da fé, o apóstolo Paulo cita a obra pelo autor, pois não há outro nome pelo qual devamos ser salvos.

“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (Atos 4:12).

Salvos por Cristo, salvos pelo evangelho e salvos por meio da fé são formas de se referir a mesma verdade.

“Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa.” (Efésios 1:13);

“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.” (Romanos 1:16-17).

A salvação está na palavra de Deus, e por isso é dito que o homem não viverá apenas de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. Em outras palavras, o justo viverá pela palavra de Deus. É por isso que é dito:

“Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura. Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as firmes beneficências de Davi.” (Isaías 55:2-3).

Quando é dito: “inclinai os vossos ouvidos”, fica claro que a fé (verdade, fidelidade) vem pelo ouvir, e “ouvi e a vossa alma viverá”, certamente se refere à palavra de Deus, onde se descobre a justiça de Deus, pois o justo viverá da fé.

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie;” (Gálatas 2:8-9).

Na abordagem do apóstolo Paulo aos Gálatas, o termo “fé” não se refere ao ato de crer, invocar, ouvir, descansar, comer, beber, etc. (João 5:25; 6:51 e 57-58; 11:25). Ao contrário, a fé trata-se da lei da fé, onde a jactância é excluída, ao contrário do que ocorre com a lei das obras.

A lei da fé é um mandamento, e é impossível gloriar-se ao obedecer, ao sujeitar-se, tornando-se servo. Mesmo quando o homem realiza a obra de Deus crendo que Jesus é o Cristo, Deus opera a Sua obra: Ele cria um novo homem em verdadeira justiça e santidade, novas criaturas isentas de qualquer condenação, aptas ao propósito que Deus estabeleceu em Cristo.

O cristão é servo e, por isso, serve a Deus em novidade de espírito, ou seja, no evangelho, na palavra, na fé, ao contrário dos judaizantes, que serviam a Deus na velhice da letra, na lei, nos mandamentos de homens, nas obras.

“Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra.” (Romanos 7:6).

Ao descansar em Cristo, o salvo se gloria na cruz de Cristo, eliminando assim qualquer motivo de jactância. Ao invocar a Cristo como Senhor, não há mérito algum na salvação; ao contrário, torna-se obediente ao mandamento de Deus. Aqueles que tentam servir a Deus através das obras da lei se gloriam na carne, mas aqueles que servem a Deus em novidade de espírito, ou seja, no evangelho, se regozijam no escândalo da cruz.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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