Conhecimento, presciência, pré-conhecimento – O verbo προγινώσκω (proginóskó) e o substantivo πρόγνωσις (prognósis), foi impregnado com certa conotação fatalista, porém, uns apontam a soberania e outros a presciência divina como fator determinante da salvação.
Conhecimento, presciência, pré-conhecimento – προγινώσκω (proginóskó)
Conteúdo do artigo
“PEDRO, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia; Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas” (1Pe 1:1 -2)
Introdução
Ao comparar as traduções bíblicas abaixo se verifica que elas são divergentes quanto ao significado do termo grego πρόγνωσις (prognósis):
“Pedro apóstolo de Jesus Cristo a (os) eleitos forasteiros de (a) dispersão de (o) Ponto, de (a) Galácia, de (a) Capadócia, de (a) Ásia e de (a) Bitínia, segundo (a) presciência de Deus Pai em santificação de (o) Espírito para obediência e aspersão de (o) sangue de Jesus Cristo, graça a vós e paz seja multiplicada” (1Pe 1:1 -2 ) Novo Testamento Interlinear – Grego – Português – SBB.
“Pedro Apoftolo de Jefu Chirifto a os eftrangeiros efpalhados em Ponto, em Galacia, em Cappadocia, em Afia, e em Bythynia. Elegidos fegundo a providencia de Deus Pae, em fanctificaçaõ de Efpirito…” ( 1Pe 1:1 -2) Novo testamento, Companhia das Índias Oriental, cidade de Amsterdam, Bartholomeus Heynen e Joannes de Vooght, 1681.
“Pedro, um apóstolo de Jesus Cristo, aos (judeus) peregrinos da dispersão (do Ponto, da Galácia, da Capadócia, da Ásia e da Bitínia), Eleitos segundo o pré-conhecimento de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas” ( 1Pe 1:1 -2 ) Bíblia Literal do Texto Tradicional.
Os cristãos são eleitos segundo a ‘presciência’, ‘providência’ ou ‘pré-conhecimento’?
As traduções acima trazem concepções divergentes acerca da palavra grega πρόγνωσις (prognósis) traduzidas por ‘presciência’, ‘providência’ e ‘pré-conhecimento’.
Problemas de traduções à parte, para uma exegese segura do texto, em primeiro lugar faz-se necessário salientar que os versos 1 e 2 da primeira epístola do apóstolo Pedro não dão sustentação à doutrina da eleição e da predestinação, quer seja calvinista ou arminianista.
Em segundo lugar, não se deve ignorar que as passagens bíblica de Romanos 8:29 e 1Pedro 1:2 por conterem respectivamente o verbo grego προγινώσκω (proginóskó) e o substantivo πρόγνωσις (prognósis), sofreram influências doutrinárias ao longo dos séculos, o que demanda um esforço muito maior por parte do leitor para abstrair o sentido exato do texto.
O verbo προγινώσκω (proginóskó) e o substantivo πρόγνωσις (prognósis), foi impregnado com certa conotação determinista, fatalista, mecanicista, porém, uns apontam a soberania e outros a presciência divina como fator determinante da salvação.
Como resolver este problema com relação às traduções bíblicas que permita uma leitura correta do texto?
Ciente da complexidade que há em analisar o significado exato dos termos προγινώσκω (proginóskó) e πρόγνωσις (prognósis), quando inseridos em uma passagem bíblica, para não ser enlaçado por questões doutrinárias existentes é imprescindível o distanciamento das ideias que foram produzidas nos círculos acadêmicos ao longo dos tempos.
Em segundo lugar, a busca do significado dos termos empregados nas Escrituras deve restringir-se às Escrituras, o que atende a recomendação paulina de ‘comparar coisas espirituais com as espirituais’.
Em terceiro lugar, não desprezar que a escrita utilizada nas cartas do Novo Testamento sofreu influência do substrato cultural hebraico-greco-romano.
O termo ‘conhecer’
Se analisarmos o tema ‘conhecimento’ junto aos gregos, tudo o que envolve atividade intelectual, desde o mito até a filosofia, diz de ‘conhecimento’, pois envolve apreensão de ideias que surgem por intermédio de descrições, hipóteses, conceitos, teorias, princípios e procedimentos.
‘Conhecimento’, ‘ciência’, ‘sabedoria’ são termos seculares utilizados para descrever o ato ou efeito de abstrair uma ideia ou ter noção de alguma coisa. Quando olhamos para o vocábulo grego (gnosis, sophia, sunesis, phronesis, ginosko, eido, epistamai, suniemi ), somos surpreendidos pelo grande número de termos que permitem fazer referência ao ‘conhecimento’ e os seus múltiplos aspectos, como: sabedoria, ciência, ensino, aprendizado, prudência, instrução, saber, inteligência, compreensão, ignorância, etc.
Quando do inicio da análise dos termos gregos traduzidos por ‘Presciência’, ‘Pré-conhecimento’, ‘providência’, foi necessário observar a cultura judaica sob a ótica dos escritores do Novo Testamento, pois quando escreveram estavam de posse de um novo conhecimento. Enquanto os judeus consideravam como ‘ciência’, ‘conhecimento’ e ‘verdade’ o comdex divino entregue a Moisés, os apóstolos apontavam para Cristo como o ‘conhecimento’ de Deus “Instrutor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei“ ( Rm 2:20 ).
Entretanto, quando os apóstolos faziam referencia a ideia de ‘ciência’ pertinente aos judeus, eles utilizaram signos linguísticos próprio dos gregos. De igual modo, quando apresentavam Cristo como o ‘conhecimento’ de Deus, também utilizaram a língua dos gregos.
Apesar de a língua ser o idioma dos gregos, a matéria que trataram no Novo Testamento não possui vinculo com a ciência dos gregos e nem com a ciência dos judeus, visto que a disciplina abordada é o conhecimento de Deus revelado em Cristo.
Analisamos as palavras traduzidas por ‘conhecimento’ insertas no Novo Testamento buscando o seu significado exclusivamente através dos textos bíblicos, pois onde se lê ‘conhecimento’, podemos nos deparar com a ciência dos gregos, ou com a lei dos judeus, ou ainda com o evangelho de Cristo.
O verbo grego traduzido por ‘conhecer’ é ginosko (γινώσκω) e significa ‘saber’, ‘conhecer’, ‘vir a conhecer’ – Léxico do Novo Testamento grego – português, F. Wilbur Gingrich, Revisado por Frederick W. Danker, Tradução de Júlio Ρ. Τ. Zabatiero, Edições Vida Nova, pág. 46.
Strong assim define o termo:
“1097 γινωσκω ginosko forma prolongada de um verbo primário; TDNT – 1:689,119; v 1) chegar a saber, vir a conhecer, obter conhecimento de, perceber, sentir 1a) tornar-se conhecido 2) conhecer, entender, perceber, ter conhecimento de 2a) entender 2b) saber 3) expressão idiomática judaica para relação sexual entre homem e mulher 4) tornar-se conhecido de, conhecer” Strong, James Dicionário Bíblico Strong, Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong, Ed. Sociedade Bíblica do Brasil:2002.
Considerando os vários significados que os dicionários apresentam acerca da forma verbal ginóskó, apresentamos a seguinte questão: é possível ao homem ‘conhecer’ Deus?
A filosofia questiona a possibilidade de o homem conhecer Deus devido à transcendência da ideia em torno da divindade se analisado através da óptica da diversidade cultual e filosófica pertinente aos diversos povos. Alguns pressupostos epistemológicos quanto à natureza de Deus é utilizado pelos filósofos para afirmar ser Deus incognoscível e contrastam a natureza finita dos homens com a infinitude de Deus.
Mas, apesar de parecer incognoscível aos olhos da humanidade por ser eterno, onipresente, onipotente, onisciente, etc., Deus se deu a conhecer pelas coisas criadas, pois através delas é possível perceber o seu eterno poder ( Sl 19:1-6). Verdade é que a criação não torna ‘conhecidos’ os atributos da divindade como a justiça, bondade, amor, misericórdia, ira, etc, tais atributos são revelados através de sua palavra, em sentido pleno, Deus se deu a ‘conhecer’ através de Cristo.
Como ninguém nunca viu Deus, Ele, além da sua palavra anunciada por intermédio dos seus profetas, manifestou-se em carne, de modo a revelar-se aos homens ( Jo 1:18 ).
Deus apresenta-se no Antigo Testamento através de proposições simples, tais como: “Eu sou o Deus de Abraão, Isaque e Jacó”; “Eu sou Santo”; “Eu sou o Senhor”; “Eu Sou o que Sou”, etc., porém, não há uma definição que descreva toda a Sua essência a partir do invisível, intangível e imensurável, pois a compreensão do homem restringe-se ao espaço tempo.
Deus dá testemunho de Si mesmo quando trava uma relação pessoal com Abraão e toma Israel por seu povo. A prova de que Deus se deu a conhecer ao fazer uma aliança com Abraão está em que, apesar de Deus ter se apresentado através de proposições simples, Moisés tinha uma compreensão apurada da natureza de Deus.
Moisés, através das alianças que Deus estabeleceu com Adão, Noé, Abraão, Isaque e Jacó, faz a seguinte declaração acerca de Deus: “O SENHOR, o SENHOR Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade; Que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até a terceira e quarta geração” ( Ex 34:6 -7).
As Escrituras constituem-se um registro das alianças estabelecidas entre Deus e os homens que possibilita uma compreensão gradual de Deus, sendo que o clímax da revelação se dá quando o Verbo de Deus se fez carne na plenitude dos tempos.
Além das alianças, as Escrituras contém, primordialmente, o testemunho de Deus acerca do Seu Filho – Jesus Cristo – que faculta aos homens identifica-Lo como o Deus eterno encarnado enviado ao mundo como luz dos que habitavam as regiões da sombra da morte ( Jo 1:7 ; 1Pe 1:21 ).
Por sua vez, quando Jesus veio, não falou de Si mesmo, antes enfatizou o que o Pai havia dito acerca do Dele nas Escrituras, revelando que as Escrituras testificam (testemunham) do Cristo “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” ( Jo 5:39 ); “O meu ensino não é meu, e, sim, daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo” ( Jo 7:16 -17).
Ora, se há um testemunho, há uma mensagem cognoscível. Se há uma mensagem cognoscível é possível compreende-la e é possível ensiná-la. Neste sentido, a Bíblia contém um conhecimento que o termo grego ginóskó (γινώσκω) pode traduzir e representar.
Há na Bíblia um ‘conhecimento’, um ‘saber’ que torna possível ao homem ‘vir a conhecer’ Deus. Este ‘conhecimento’, este ‘saber’, na Bíblia, às vezes é apresentado como doutrina, mandamento, evangelho, Escrituras, fé, poder de Deus, sabedoria de Deus, palavra da cruz, entendimento, pregação, etc.
Este ‘conhecimento’ possui um ‘modelo’ que não deve ser conspurcado. O apóstolo Paulo recomenda a Timóteo que guarde em bom deposito o modelo das palavras que havia ouvido para retransmitir a outros a mesma ideia ( 2Tm 1:1:12 ).
O ‘conhecimento’ de Deus é possível ser ensinado, de modo que o que Timóteo ouviu do apóstolo Paulo devia retransmitir a homens fiéis e que fossem idôneos para ensinar ( 2Tm 2:2 ). Qualquer alteração quanto ao que foi ouvido, poderia fazer com que os aprendizes nunca chegassem ao ‘conhecimento’ (pleno) da verdade ( 2Tm 3:7 ).
O termo traduzido por ‘conhecimento’ em 2 Timóteo 3, verso 7 é ἐπίγνωσιν e o termo traduzido por ‘verdade’ é ἀληθείας, de modo que, se não for ensinado a doutrina de Cristo em conformidade com o que os apóstolo apresentaram é impossível chegar objetivamente a conhecer Deus com profundidade, clareza, plenitude ( Ef 4:18 -19).
Na primeira carta a Timóteo, o apóstolo Paulo faz um alerta acerca das palavras vazias e das contradições pertinentes ao ensinamento de homens que haviam se desviado da fé e, que, falsamente se autonomeavam ‘sabedoria’ (γνώσεως) ( 1Tm 6:20 ). Quem eram estes homens? Eram os judaizantes, homens que diziam professar a fé em Cristo, porém, se ocupavam com as fábulas judaicas, genealogias intermináveis, queriam ser mestre da lei e se entregaram a discursos vãos ( 1Tm 1:3 -7 ). Eles se alto intitulavam γνώσεως porque tinham a lei como forma da ciência e da verdade, mas tal sabedoria era falsa ( Rm 2:20 ).
O apóstolo Paulo fez referencia ao serviço dos judeus para com Deus como ‘zelo de Deus’, mas que tal zelo não era segundo o conhecimento preciso e correto (ἐπίγνωσιν), ou seja, a revelação de Deus em Cristo.
Através desta abordagem do apóstolo Paulo verifica-se que o evangelho de Cristo é uma disciplina, uma matéria, um conhecimento que, apesar de usar signos linguísticos pertinentes aos gregos e que contém inúmeras expressões e maneiras peculiares do idioma hebreu (hebraísmo), não deve ser confundido com a forma de ciência dos judeus e nem com a forma de filosofia dos gregos “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” ( Cl 2:8 ).
O conhecimento dos gentios é fruto do perquirir e do aprendizado natural do homem e, embora os judeus tenham recebido a revelação de Deus através dos seus profetas, seguiram os seus pensamentos. Não mudaram as suas concepções, não se transformaram à luz da revelação, antes se obscureceram na insensatez dos seus corações incrédulos.
A partir deste parágrafo passaremos a analisar a revelação de Deus, do evangelho. Um ‘conhecimento’ específico, completo, pleno e singular, pois pertence a deus. A Bíblia demonstra que Deus é sabedor de todas as coisas e, por definição teológica onisciente.
Ele conhece os corações dos homens “E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor dos corações de todos, mostra qual destes dois tens escolhido” ( At 1:24 ); “E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos” ( 1Co 3:20 ).
Mas, há um entrave na afirmação do apóstolo Paulo: “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus…” ( 2Tm 2:19 ). Ora, se Deus sabe de todas as coisas, como é possível Ele ‘conhecer’ somente os que lhe pertencem? Como é possível Jesus no trono da sua glória declarar aos iníquos que nunca os conheceu? Qual é o sentido do termo ‘conhecer’ quando se diz que ‘Deus conhece o caminho dos justos’?
Por que o apóstolo Paulo utilizou o termo grego ἔγνω (ginosko) no passado “ἔγνω κύριος τοὺς ὄντας αὐτοῦ”? Por que foi utilizado especificamente o termo ginosko, se havia palavras que podiam expressar melhor o saber de Deus, como: ειδω ou οιδα (eido ou oida), επιγινωσκω (epiginosko), επιγνωσις (epignosis).
Há outro entrave com relação ao verbo γινώσκω (ginosko)! Se γινώσκω significa ‘obter conhecimento de’, ‘entender’, ‘perceber’, ‘saber’, como é possível Deus ‘vir a conhecer’ alguém e permanecer imutável?
Como o Imutável pode ‘conhecer’ algo ou alguém e permanecer imutável?
Questionar a possibilidade de o homem finito conhecer a infinitude de Deus é um problema que a filosofia abraçou por seu, mas aplicar o verbo γινώσκω a Deus sem contrariar sua onisciência e imutabilidade, é um problema da teologia!
Quais são as implicações teológicas de se dizer que Deus onisciente é sujeito do verbo γινώσκω?
Onisciência diz de um dos atributos de Deus que, por toda eternidade agrega toda sabedoria, todo conhecimento e todo entendimento, sem demandar qualquer tipo de raciocínio ou pensamento.
Desde sempre Deus é o que é na sabedoria, no conhecimento e no entendimento, ou seja, Deus não evolui e nem regride nestes quesitos, pois é imutável. O que Deus sabe, sempre soube e saberá por toda a eternidade! Deus não é o homem que dependa de pensar, inquirir, perscrutar, raciocinar, etc.
O que significa dizer que desde sempre Deus sabe e conhece tudo e a todos, de modo que é impossível Deus ‘adquirir conhecimento de’, ‘ser informado’. Se entendermos que Deus agregou conhecimento, mesmo que minimamente, implica dizer que n’Ele houve sobra de variação, o que é impossível no Imutável.
A Bíblia afirma que Deus conhece os pensamentos dos homens que são efêmeros, ou seja, Ele é sabedor (ידע yada – conhece) do pensamento de todos os homens, pois não há ninguém que consiga esconder-se de Deus “O SENHOR conhece os pensamentos do homem, que são vaidade” ( Sl 94:11 ).
Mas, quando lemos: “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus…” ( 2Tm 2:19 ), temos que considerar que há aqueles que Deus ‘conheceu’, e há aqueles que Deus não ‘conheceu’. Como isto é possível?
Este mesmo princípio aplica-se a este verso: “O SENHOR é bom, ele serve de fortaleza no dia da angústia, e conhece os que confiam nele” ( Na 1:7 ). Se Deus ‘conhece’ os que n’Ele confiam, implica em considerar que os que não confiam n’Ele, Ele não ‘conhece’.
Strong assim define o termo traduzido por ‘conhecer’:
“03045 yada uma raiz primitiva; DITAT – 848; v 1) conhecer; 1a) (Qal); 1a1) conhecer; 1a1a) conhecer, aprender a conhecer; 1a1b) perceber; 1a1c) perceber e ver, descobrir e discernir; 1a1d) discriminar, distinguir; 1a1e) saber por experiência; 1a1f) reconhecer, admitir, confessar, compreender; 1a1g) considerar; 1a2) conhecer, estar familiarizado com; 1a3) conhecer (uma pessoa de forma carnal); 1a4) saber como, ser habilidoso em; 1a5) ter conhecimento, ser sábio; 1b) (Nifal); 1b1) tornar conhecido, ser ou tornar-se conhecido, ser revelado; 1b2) tornar-se conhecido; 1b3) ser percebido; 1b4) ser instruído; 1c) (Piel) fazer saber; 1d) (Poal) fazer conhecer; 1e) (Pual).
Qual das definições acima é aplicável a Deus de modo a satisfazer as exigências pertinentes aos atributos da imutabilidade e onisciência divina?
Quando Cristo voltar no trono da sua glória, aos iníquos que O interpelarem dizendo ‘Senhor, Senhor!’, Ele dirá abertamente: – ‘Nunca vos conheci’.
Ora, Cristo virá em glória e poder, portanto, ‘conhecedor’ de todas as coisas. Quando é dito: ‘Nunca vos conheci’, implica que Ele ao menos soube do pensamento daqueles iníquos e, que ‘conhecia’ tais homens que diziam ‘Senhor, Senhor’.
Jesus Cristo é sabedor da condição e dos pensamentos deles, pois este é um ‘conhecimento’ essencial para que Ele possa dar o veredito: ‘Nunca vos conheci’ “E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” ( Mt 7:23 ).
Jesus Cristo é onisciente, e naquele dia dirá: – ‘Nunca vos conheci (ἔγνων ginóskó)’- apesar de saber tudo o que é possível saber acerca deles, até mesmo que eram ‘praticantes’ de iniquidades.
Certamente o Senhor não dará um falso testemunho dizendo ‘não conhecer’ o que Ele, na verdade ‘conhece’, portanto, há que se resolver este entrave com relação à palavra ‘conhecer’.
Se considerarmos Deus como o sujeito do verbo ‘conhecer’ como adquirir conhecimento e admitirmos que Deus não ‘conheceu’ os que não são seus, contrariamos a onisciência divina e se admitirmos que Deus ‘passou a conhecer’ os que creem no seu nome, contrariamos a imutabilidade divina, pois é impossível Deus agregar um novo conhecimento.
Então, qual deve ser o significado do termo hebraico yādha e do termo grego ginóskó que não contraria a onisciência divina e nem a imutabilidade do seu ser?
‘Conhecer’ com conotação carnal
Conforme se observa no clássico de referência bíblica, o verbo ‘conhecer’ também é contemplado com conotação carnal, ou seja, serve para descreve o ‘ato sexual’:
“Conhecer, conhecimento (No hebraico principalmente ידע, yādha‛, substantivo דּעת, da‛ath; no grego γινώσκω, ginōskō, οῖδα, oída; “conhecer/saber plenamente,” ἐπιγινώσκω, epiginṓskō, substantivo γνώσις, gnṓsis ἐπίγνωσις, epignōsis) (…) uma grande parte do uso necessariamente se relaciona com o conhecimento natural (às vezes com um conotação carnal, com Gen 4:1, 17), mas o mais importante está na possessão do conhecimento moral e espiritual” International Standard Bible Encyclopedia de James Orr, M.A., D.D., Editor General, publicado em 1939 (grifo nosso).
Na sua grande maioria os teóricos rejeitam a possibilidade de se aplicar a conotação carnal no uso das palavras yādha‛ e ginóskó quando o sujeito ou o objeto da oração é Deus.
O editor desta enciclopédia alerta que o termo refere-se ao conhecimento natural e, às vezes ao ato sexual, mas que a importância está em um conhecimento ‘moral e espiritual’, que a seu ver é superior ao conhecimento natural e a conotação sexual.
Mas qual o sentido de ‘conhecer’ no seguinte verso:
“Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” ( Gl 4:9 ).
O apóstolo, através do advérbio de tempo ‘agora’ demonstra que houve um tempo em que os cristãos não eram conhecidos por Deus. Daí a pergunta: como Deus não os conhecia se Ele é onisciente? Como é possível Ele não os conhecer anteriormente e agora passar a conhecê-los e permanecer imutável?
É inviável utilizar o termo ‘conhecer’ com relação ao Onisciente com a conotação ‘veio a conhecer algo’.
É em função deste entrave que é necessário analisar a possibilidade do termo ‘conhecer’ abrigar conotação carnal quando utilizado para com Deus. , apesar de os lexicógrafos rejeitarem a possibilidade.
A problemática em relação à conotação sexual do termo ‘conhecer’ quando aplicado a Deus se instalou devido à demonização da sexualidade, apesar de Deus ter criado o homem macho e fêmea, em outras palavras, dotado de sexualidade. Tal postura é contrária às Escrituras, é semelhante a demonizar a cognição humana, intelectualidade do homem, pois o mesmo Deus que dotou o homem de cérebro desenvolvido, dotou-o de genitais.
No Novo Testamento o termo grego γινωσκω (ginóskó) é empregado em Mateus 1, verso 25 e Lucas 1, verso 77 com a mesma conotação do termo hebraico yādha‛ quando empregado no Gênesis 4, verso 1 e 17. Ambos os termos são utilizados para fazer referencia ao ato sexual entre casais, no Gênesis Adão teve relação sexual com Eva e ela concebeu, e José não teve relação sexual com Maria até que ela deu à luz ao Cristo de Deus.
Ao considerar o que foi profetizado pelo profeta Oséias: “E desposar-te-ei comigo em fidelidade, e conhecerás ao SENHOR” ( Os 2:20 ), qual o significado do termo yādha‛ traduzido por conhecer?
O termo ‘conhecer’ foi utilizado aqui para demonstrar que Deus ‘desposará’ a nação de Israel. É na fidelidade de Israel estarão ligados a Deus. Neste verso o termo hebraico yādha‛ foi utilizado para demonstrar que, após Deus desposar a nação em fidelidade, na obediência ao mandamento haverá uma relação íntima e amorosa.
Os profetas de Deus, por diversas vezes acusaram Judá e Israel de infidelidade, e as figuras utilizadas expunham a infidelidade da nação para com Deus comparando-a com a infidelidade conjugal porque não obedeciam a palavra de Deus “E prostituiu-se Aolá, sendo minha; e enamorou-se dos seus amantes, dos assírios, seus vizinhos” ( Ez 23:5 ); “Foste como a mulher adúltera que, em lugar de seu marido, recebe os estranhos” ( Ez 16:32 e 7 -9).
Quando se lê: “De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; portanto eu vos punirei por todas as vossas iniquidades” ( Am 3:2 ), ou: “Eu te conheci no deserto, na terra muito seca” ( Os 13:5 ), devemos compreender que, dentre todas os povos, somente a Israel Deus tomou por ‘esposa’, mas a desobediência os arrojou para longe da comunhão com o Senhor.
Qualquer outra interpretação com relação ao termo ‘conhecer’ depõe contra a onisciência e imutabilidade divina, pois não há quem Deus não ‘conheça’ no sentido de ‘saber acerca de’.
Deus ‘conhece’ especificamente os que n’Ele confiam, ou seja, Ele não ‘conhece’ por meio de uma escolha unilateral ou através de um pré-conhecimento, presciência, ou prévio saber “O SENHOR é bom, ele serve de fortaleza no dia da angústia, e conhece os que confiam nele” ( Na 1:7 ); “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus…” ( 2Tm 2:19 ; 2Sm 7:20 ).
Em ambos os versos, os escritores enfatizam a figura da ‘comunhão íntima’ que advém da obediência. Seria sem propósito o apóstolo Paulo reduzir o ‘saber’ de Deus, que tudo efetivamente vê (sabe), dando a entender que Deus somente sabe acerca dos que são seus, e os que não são seus servos, Ele não sabe.
Um dos aspectos do termo ‘conhecer’ depreende-se da relação ‘senhor’ e ‘servo’, outra figura utilizada para fazer alusão à comunhão íntima.
Quando o apóstolo Paulo disse que o Senhor ‘conhece’ os que lhe pertencem, temos que compreender o ‘conhecer’ em função do termo grego κύριος traduzido por ‘senhor’ quando aplicado a Deus. O termo deve ser tomado no seu sentido aristocrático, com toda a sua severidade, e não conforme o abrandamento de nossos dias, visto que ‘senhor’ tornou-se um simples pronome de tratamento que, se quer, lembra os nobres que eram senhores de escravos ( Mt 25:26 ; Lc 17:10 ).
Quando lemos acerca da propriedade do Senhor: ‘… os que são seus…’, devemos ter em mente a ideia do que era um homem ser propriedade de outro e o que esta figura evidenciava aos leitores da época dos apóstolos. Por exemplo: se considerarmos a concepção da condição de um escravo através da visão dos gregos à época, um servo pertencia de um modo absoluto ao seu senhor como se fizesse parte dele ‘como um membro vivo faz parte do corpo’ A Política, Aristóteles, 384 -322 a. C., tradução Nestor Silveira Chaves. Ed. Especial. – RJ: Nova Fronteira, 2011, pág. 25.
Quando a Bíblia diz que os cristãos são membros do corpo de Cristo, não vem à tona a figura do servo como um membro vivo que faz parte do corpo do seu senhor e de que ele pertence ao seu senhor de um modo absoluto, pois a figura de um servo é distante da nossa sociedade.
O verso: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra” ( Jo 14:15 -21 e 23; Jo 15:10), deixa claro que a obediência é o que une Deus e os homens, o que se depreende da relação de um senhor com os seus servos. Exige-se obediência onde há mando, ordem. A obediência é requisito essencial para que o homem ‘conheça’ a Deus “Nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos” ( 1Jo 2:3 -5).
O termo grego ἀγαπάω (agapaó), comumente traduzido por amor, caridade, benignidade, etc., tem agregado em seu significado o sentido de ‘honra’. Por honra, tem-se o sentido de dever, que pode ser tanto o de cuidado quanto o de obediência.
Quando há mandamento de um lado, e obediência do outro, o ‘mando’ e a ‘obediência’ formam um vínculo perfeito ( Cl 3:14 ), daí a conclusão de que a obediência lança fora o medo “No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor” ( 1Jo 4:18 ); “E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição” ( Cl 3:14 ).
Uma boa análise da relação senhor e servo leva a conclusão de que o amor está para a obediência assim como o ódio para a desobediência, o que torna compreensível o seguinte verso:
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom” ( Mt 6:24 ).
Há junção perfeita entre o mandamento e a obediência, e é só na obediência ao mandamento de Deus que o homem se faz um com Ele.
Através do ato sexual o homem se torna um com sua mulher. O homem e a mulher fundem-se pelas genitálias, o homem em Deus pela obediência, de modo que a figura da união carnal serve para ilustrar a união do homem espiritual com o Espírito Eterno.
Somente no ato sexual o homem se torna um com sua mulher. O homem e a mulher fundem-se pelas genitálias, o homem em Deus pela obediência, de modo que a figura da união carnal serve para ilustrar a união do homem espiritual com o Espírito Eterno.
Deus tomará vingança dos que não O conhecem, o que indica que Ele ‘sabe’, ‘tem informação acerca de’ todos os homens, porém, os que não O conhece diz daqueles que não estão em comunhão íntima com Ele, pois não obedeceram ao evangelho de Cristo “Como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo” ( 2Ts 1:8 ).
Mas os que obedecem ao mandamento de Deus, crendo em Cristo, são ‘conhecidos’ de Deus, amigos de Deus assim como o crente Abraão “Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?” ( Mt 10:25 ); “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando“ ( Jo 15:14 ).
O termo ‘conhecer’ e a união conjugal
A palavra hebraica yādha‛ é utilizada para a intimidade conjugal (Ex.: Adão e Eva em Gn 4:1 ;17 e 25; Elcana e Ana em 1Sm 1:19), no Novo Testamento, o termo grego γινωσκω (ginóskó) é empregado para expressar a mesma ideia da expressão idiomática judaica, como se lê em Mateus 1, verso 25 e Lucas 1, verso 77. É em função desta expressão que dentro do contexto do Novo Testamento o termo grego ‘ginosko’ adquiriu mais um valor semântico, o de relação sexual.
Portanto, é necessário analisar com maior cuidado todas as vezes que o termo foi utilizado pelos apóstolos.
Após destacar que os cristãos são membros do corpo de Cristo, na carta aos efésios, o apóstolo Paulo citou um verso do livro de Gênesis, que diz: “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” ( Gn 2:24). Em seguida ele destacou: – “Grande é este mistério, contudo eu me refiro a Cristo e a igreja”.
Qual o mistério que se depreende de Gênesis 2, verso 24 e que diz respeito a Cristo e a igreja? Que relação há entre este mistério e o termo ‘conhecer’?
A resposta destas questões demanda discorrer sobre as nuances do casamento.
É significativo Adão ter dito: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” ( Gn 2:23 -24), antes de ter conjunção carnal com sua mulher, pois Eva fora feita à partir de uma costela sua, antes da conjunção carnal, ambos eram a mesma carne. Mas os seus descendentes, tornam-se uma só carne após o ato sexual.
O primeiro casal não possuía pai e mãe, entretanto, os demais homens teriam. É em função desta peculiaridade que Adão ordena aos seus descendentes que deixem pai e mãe quando unirem-se a sua mulher. Essa determinação tem por objetivo todos os nubentes estejam em igual condição ao primeiro casal quando se tornaram uma só carne.
Adão não teve pai e mãe quando Deus fez o primeiro casal, em semelhança, todos os outros casais devem deixar pai e mãe para concretizar uma nova união.
Ao comentar a passagem do Gênesis, o apóstolo Paulo disse: “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja” ( Ef 5:31 -32). Por que foi citado o dever de deixar pai e mãe para unir-se a mulher como uma figura que contém um grande mistério acerca de Cristo e a igreja? Porque assim como foi Deus quem deu a Adão a sua esposa, que foi tirada da sua carne e sangue enquanto dormia um profundo sono, semelhantemente a igreja foi formada do corpo de Cristo e é participante da sua carne e sangue.
Enquanto Eva foi chamada de mulher por ter sido tomada do homem, a igreja é chamada de esposa do cordeiro por ter sido formada da carne e do sangue de Cristo, e são ambos uma só carne.
A ação do homem em deixar pai e mãe, unindo-se à sua mulher, vai além das implicações de ordem sexual. É necessário desfazer o vínculo que o atrelava aos seus pais para estabelecer um novo vínculo.
O vínculo com pai e mãe pode e deve ser desfeito quando o homem unir-se à sua mulher, e este possui o testemunho de Deus: “Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” ( Mt 19:6 ).
Apesar de pais e filhos estarem unidos pelo vínculo familiar, tal união precisa ser desfeita visando um propósito específico: uma nova descendência, proveniente de um novo corpo, que resultará em uma nova geração. Esta nova união é ‘perfeita’ (considere o significado do termo grego ‘teleios’ de que a perfeição é funcional, visa um objetivo, e não o conceito que foi construído posteriormente de perfeição moral), pois tem por base o amor (que é o vinculo da perfeição), ou seja, não ‘pode’ ser desfeita, pois ambos tornaram-se um só corpo no ato sexual. O que consagra a união é o ato de o homem deixar pai e mãe unindo-se à sua mulher.
O mistério acerca de Cristo e a Igreja do qual o apóstolo faz referência quando cita o Gênesis, fala da união de Cristo com a Igreja em um só corpo, em um só espírito, pois em Cristo e a igreja temos a realidade de uma figura estabelecida através do primeiro casal.
O mistério que o apóstolo Paulo evidencia quando cita Gênesis 2, verso 24 ( Ef 5:31 ), diz da necessidade do homem deixar pai e mãe quando unir-se à sua mulher. O mistério é grande, pois os homens tem que deixar a geração de adão para se tornar geração de Cristo “Mas vós sois a geração eleita… “ ( 1Pd 2:9 ).
Quando descemos à sepultura, efetivamente deixamos pai e mãe. Ao tomar a própria cruz e seguir após Cristo até o calvário morrendo com Ele, o homem deixa o pecado e a mentira e une-se a Cristo, pois ao ressurgir, ressurge juntamente com Cristo e participante da mesma natureza ( Mt 10:37 -38).
Após alertar que quem ama pai, mãe, filho, filha mais do que o Cristo, não é digno d’Ele, Jesus aponta a cruz, o que representa morte para o mundo, para que o homem se torne digno de Cristo. Quando o homem crê em Cristo, morre para o mundo, é sepultado e ressurge uma nova criatura participante de uma nova família.
O mistério que o apóstolo Paulo evidência quanto a Cristo e a igreja depreendem-se do paralelo que há entre o primeiro e o último Adão, respectivamente Adão e Cristo:
- Assim como Deus concedeu ao primeiro Adão uma mulher, semelhantemente Deus concedeu ao último Adão, que é Cristo, a igreja ( 1Co 15:45 );
- Assim como Eva foi tirada da carne de Adão, semelhantemente a Igreja foi formada da carne de Cristo ( Gn 2:21 ; 1Co 11:24 );
- Assim como Deus fez cair um profundo sono sobre Adão para fazer-lhe uma adjuntora, semelhantemente Cristo desceu à sepultura, pois todos que ressurgem com Ele fazem parte da igreja ( Gn 2:21 );
- Assim como Adão estava só, Jesus também esteve só ( Is 59:16 );
- Assim como Adão disse: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne” ( Gn 2:23 ), semelhantemente a igreja é osso dos ossos de Cristo e carne da carne de Cristo: “Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos” ( Ef 5:30 );
- Assim como Deus disse: “Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-se-á à sua mulher, e serão os dois uma só carne” ( Gn 2:24 ; Mt 19:5 ; Mc 10:9 ), semelhantemente Jesus instituiu que: “Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” ( Lc 14:26 ); “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim” ( Mt 10:37 );
- Assim como Adão é terreno e a sua imagem é passada a todos os seus descendentes, semelhantemente, Cristo, o último Adão, é celestial e concede a sua imagem aos que d’Ele são gerados ( 1Co 15:46 -47), o que os tornam membros do seu corpo.
A Escritura apresenta o homem natural primeiro, para depois apresentar o espiritual, pois o natural (Adão) é figura do espiritual ( Rm 5:14 ), e Cristo, por sua vez, a realidade, a verdade “Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual” ( 1Co 15:46 ).
É em função do que está escrito: ‘serão dois numa só carne’ que, o que se ajunta a uma meretriz tornar-se uma só carne com ela e o que se ajunta ao Senhor torna-se um mesmo espírito com Ele “Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne. Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito” ( 1Co 6:16 -17).
Em que sentido foi utilizado pelo apóstolo Paulo o termo grego traduzido por ajuntar (κολλώμενος) em 1Corintios 6, verso 16? Ora, o ajuntar diz de relação íntima.
No verso 17 o apóstolo Paulo utiliza o mesmo termo κολλώμενος para demonstrar o vínculo que se estabelece entre Deus e o homem quando este crê em Cristo.
“2853 κολλαω kollao de kolla (”grude”); TDNT – 3:822,452; v 1) colar, grudar, cimentar, firmar 2) juntar ou firmar bem 3) juntar-se a, aderir a” Strong
O que adão disse sobre a união matrimonial visava a perpetuação do gênero humano sobre a face da terra, ou seja, formação de novas gerações do gênero humano conforme a determinação divina ( Gn 1:28 ), o que prefigurava a união de Cristo com a igreja, que teria como resultado uma nova geração proveniente de uma semente incorruptível que traz à existência homens espirituais.
A mulher foi formada da costela do homem para compor a geração dos homens, como se lê: “E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada” ( Gn 2:23 ), e a igreja é formada da carne e do sangue de Cristo composta de homens espirituais, pois a mulher é figura da igreja, assim como Adão é figura de Cristo.
Assim como Adão, a cabeça de uma família terrena teve a sua mulher tomada da sua carne e dos seus ossos, o que tornou Adão e Eva uma só carne, a noiva de Cristo também foi formada da carne e dos ossos de Cristo, o que torna ambos uma só carne, um só corpo “Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos” ( Ef 5:30 ).
Através da união do primeiro casal temos estabelecida uma geração, a geração de homens terrenos e carnais, sendo que, todos os descendentes de Adão tornaram-se tal qual Adão. Através da união de Cristo e a igreja, que é formada da carne e do sangue dele, é estabelecido a geração de homens celestiais e espirituais, e tal qual Cristo é são gerados os seus descendentes ( 1Co 15:48 ).
Jesus anunciou que: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim” ( Mt 10:37 ). Certo é que Ele não estava incentivando os seus seguidores a menosprezarem os seus pais segundo a carne, e nem que invalidassem a lei ( Mc 7:9 ), pois tudo o que ele falava, falava por parábolas “E sem parábolas nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos seus discípulos” ( Mc 4:34 ; Os 12:10 ).
Quando se compreende a parábola, verifica-se que Jesus estava ordenando aos seus ouvintes que cada um tomassem a sua própria cruz ( Mt 10:38 ), porém, tal convite não significava morte física, e sim, morrer com Cristo, rompendo com a geração de Adão.
Jesus demonstrou que todos os homens pertencem a uma família, a família dos descendentes de Adão, sobre os quais pesa uma condenação ( 1Co 15:21 -22). Mas, na plenitude dos tempos, na condição de pai de família, Jesus demonstra que estava inaugurando uma nova família e, qualquer que não ‘deixasse’ pai e mãe e não se unisse a Ele, não era digno d’Ele.
Qualquer que não morrer com Cristo, tornando-se participante da sua carne e do seu sangue, não possui comunhão com Ele “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” ( Jo 6:56 ). Ter comunhão com Cristo é ser participante da sua carne e do seu sangue, o que torna o homem membro do corpo de Cristo, ou seja, ligado à Videira ( Jo 15:4 -5).
Cristo é o último Adão, a cabeça de um corpo, ou o pai de família e, todos que desejam ser ‘mãe’ e ‘irmãos’ de Cristo, tem que deixar (morrer) a natureza carnal para tornarem (ressuscitar) homens espirituais “E, olhando em redor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos” ( Mc 3:34 ).
Qual o termo grego ou hebraico mais apropriado para descrever a comunhão entre Cristo e a igreja? Qual o termo que melhor descreve a união íntima e amorosa entre Cristo e a igreja? ( Ef 5:25 ) Qual termo é o mais apropriado para descrever a nova realidade do homem que é participante da carne e do sangue de Cristo, ou seja, o homem que permanece em Cristo e Cristo nele? “Estai em mim, e eu em vós” ( Jo 15:4 ; Ef 5:30 ).
Conhecendo a Deus
Na asserção: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” ( Jo 8:32 ), o termo traduzido por ‘conhecer’ (ginósko) quando isolado da frase indica o resultado da relação entre uma pessoa e um objeto, ou seja, desta relação não pode ir além de ‘ser informado acerca de’.
Quando da exposição: “E conhecereis a verdade…”, Jesus não estava invocando o sentido da palavra ‘conhecer’ que o latim cognoscere (co + gnos) apresenta, que é ‘saber’, ‘ter noção’, ‘informação de algo (matéria) ou alguém (pessoa)’, e nem o sentido grego de ‘chegar a saber’, ‘vir a conhecer’, ‘obter conhecimento de’, ‘perceber’, ‘sentir’, pois o que está em voga não são abstrações de cunho intelectual.
‘Saber’, ‘vir a conhecer’, ‘aprender’, ‘descobrir’, ‘compreender’, etc., deriva do pressuposto inicial: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos” ( Jo 8:31 ). O discípulo é aquele que descobre, aprende, conhece, entende, etc., a partir do que é ensinado pelo seu mestre.
Quando a mente do discípulo compreende e permanece no ensino do seu mestre ocorre o convencimento de cunho intelectual, que faz com que o aprendiz abandone os seus conceitos ao abraçar o ensino do seu mestre. Quando o discípulo se inteira do que é ensinado pelo mestre, ocorre o que em grego é designado μετανοέω (metanoéō), uma mudança de mente, de concepção.
O termo utilizado por Jesus que traduziram por ‘ensino’ é λόγος (logos), termo grego que está muito além de uma palavra, de um vocábulo, expressa a ideia que é transmitida em um discurso, ou seja, uma mensagem completa.
Quando Isaías profetizou acerca do Cristo, deixou registrado que com o seu ‘conhecimento’ o servo do Senhor justificaria a muitos ( Is 53:11 ). O termo hebraico utilizado para ‘conhecimento’ é ‘da àth’, é consequência da percepção, do discernimento, da compreensão e da sabedoria do servo do Senhor.
Após compreenderem a mensagem de Cristo e nela permanecerem, então os discípulos ‘conheceriam’ a ‘verdade’. O ‘conhecer’ deve ser interpretado em função da ‘verdade’. Cristo apresentou-se como a ‘verdade’, de modo que aquele que permanece no seu ensino torna-se um com Ele (conhece), o que torna o homem livre da sua condição herdada de Adão.
Se o homem não se tornar participante da carne e do sangue de Cristo, ou seja, não ‘conhecê-lo’, não há libertação do pecado, da mentira, do que é efêmero. Desde que nasce o homem é mentira na essência, divorciado da verdade, alienado de Deus, mas quando se torna participante de Cristo alimentando-se d’Ele, torna-se um só corpo com Cristo e o Pai, pois o Pai e o Filho é a verdade “E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um” ( Jo 17:22 ).
Cristo apresentou-se como o pão vivo que desceu dos céus e que dá vida ao homem, de modo que todo aquele que d’Ele se alimenta torna-se participante d’Ele. Jesus é luz, e todos quantos n’Ele estão são luz. Somente quando o homem torna-se verdade, luz, sal, justo, santo, filho, templo, casa, pedra espiritual, etc., ou seja, um só corpo com Cristo é verdadeiramente livre da corrupção que há no mundo ( Jo 14:6 ).
‘Conhecer’ a verdade é o mesmo que tornar-se conforme o que é real (verdade no latim é veritate, conformidade com o real, exatidão, autenticidade), no grego é realidade ‘aletheia’ e, no hebraico, significa integridade e fidelidade. É por isso que o apóstolo Paulo diz: “Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo” ( Cl 2:17 ).
O termo grego γινωσκω (ginóskó) é apropriado para demonstrar a união do homem com Cristo, pois no termo (ginóskó) contém a mesma ideia de uma expressão idiomática judaica que indica a relação íntima e amorosa entre o homem e a mulher, o que remete à ‘comunhão’, ao ‘amor’, pelo fato de duas pessoas formarem um só corpo em função da palavra de Deus que diz: “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” ( Gn 2:24 ).
Quando somos inteirados que a união de Cristo com a igreja é o mesmo que ‘conhecer’, ‘comunhão íntima’, visto que os que creem tornam-se “… membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos” ( Ef 5:30 ), resta-nos inferir que ‘conhecer’ a verdade não diz de ‘saber’, ‘vir a conhecer’, ‘aprender’, ‘descobrir’, ‘compreender’, ‘entender’, antes diz de ‘comunhão íntima’, ‘estar ligado a’, ‘conhecer’, ‘tornar-se um só corpo’ com Cristo, a verdade personificada “Portanto, assim como vocês receberam a Cristo Jesus, o Senhor, continuem a viver nele, enraizados e edificados nele, firmados na fé, como foram ensinados, transbordando de gratidão” ( Cl 2:6 -7).
A ideia de tornar-se uma só carne e um só corpo é inaceitável ao homem natural, pois faz referência a uma realidade de cunho espiritual que o mesmo não compreende. Quando Jesus ora ao Pai dizendo: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” ( Jo 17:21 ), Ele estava demonstrando comunhão íntima com os seus discípulos, ou seja, consequência direta dos cristãos viverem enraizados e edificados em Cristo.
O apóstolo João abordou diversas vezes a ideia de ‘comunhão’ expresso através do termo grego κοινωνία (koinónia), que apresenta um vínculo íntimo que une os cristãos, comunhão está comparável ao vínculo que une o marido à sua mulher, o que evidencia a unidade de um corpo, pois os cristãos são um só corpo, uma só carne “O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo” (…) Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai (…) como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ele vos ensinou, assim nele permanecereis” ( 1Jo 1:3 ; 2:24 e 27).
Que comunhão é esta que deriva do ‘permanecer’? Como ‘permanecer’ no Pai e no Filho? Ora, ‘permanecer’ só é possível quando o homem torna-se um com o Pai e o Filho.
‘Conhecidos’ por Deus e o ‘amor’ de Deus
O termo ginóskó também é empregado com relação a Deus: “Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele” ( 1Co 8:3 ). Se alguém que ama a Deus é ‘conhecido’ d’Ele ( Gl 4:9 ), significa que aquele que não ama não é conhecido d’Ele ( Mt 7:23 ).
O termo ginóskó é utilizado pelo apóstolo Paulo para fazer referência à comunhão, à intimidade que há entre Deus e os que obedecem ao seu mandamento. Para ser conhecido por Deus é necessário amá-lo (obedecer), o que demonstra que o termo traduzido por ‘conhecimento’ em primeira Coríntios 8, verso 3 não é de ‘saber acerca de’, pois Deus por toda a eternidade sabe e conhece todas as coisas ( Hb 4:13 ).
De igual modo, o apóstolo João demonstra que quem ama a Deus conhece a Deus, mas quem não O ama, não conhece a Deus, consequentemente, não é conhecido d’Ele ( 1Co 8:3 ).
O apóstolo João demonstra que os cristãos amam a Deus porque Ele os amou primeiro. Ora, o amor de Deus está exarado e vinculado ao Seu mandamento: “Deste um mandamento que me salva, pois tu és a minha rocha e a minha fortaleza” ( Sl 71:3 ).
Deus amou ‘primeiro’ porque primeiramente deu um mandamento que, por sua vez, demanda obediência por parte do homem. Primeiro veio o mandamento de Deus, depois vem a obediência do homem, de modo que os que obedecem ao mandamento obedecem porque primeiro foi lhes dado um mandamento que permite aos que creem viver por Cristo.
Enquanto amar a Deus é obedecê-lo, o amor de Deus revela-se para com os homens em seu mandamento “E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito” ( Jo 12:50 ; Jo 15:10 ).
Na explanação: “… porque ele nos amou primeiro” ( 1Jo 4:19 ), o ‘amou primeiro’ não possui a tão alardeada escolha de Deus de alguns para a salvação, antes o verso demonstra que só é possível obedecer a Deus porque Ele primeiramente deu um mandamento: crer naquele que Ele enviou ( 1Jo 3:23 ).
Como o homem se salvaria se não lhe fosse dado um mandamento? Como alcançar a salvação se não houvesse um mediador que apresentasse aos homens o que é agradável a Deus? ( Jó 33:23 )
Primeira epístola de João 4, verso 19 demonstra que Deus estabeleceu salvar os crentes, ou seja, todos que O obedecem, o que é diferente de qualquer concepção determinista de que Deus escolheu alguns para serem salvos. Só obedece quem crê no enviado de Deus, pois o mandamento de Deus é que creiam no enviado de Deus ( Jo 5:38 ; 1Jo 3:23 ); “E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem” ( Hb 5:9 ); “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” ( 1Co 1:21 ).
A colocação de João no verso 19 do capítulo 4 da sua primeira epístola nos remete a colocação paulina em Gálatas 4, verso 9. Compare:
“Aquele que não ama não conhece a Deus (…) Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro” ( 1Jo 4:19 );
“Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus…” ( Gl 4:9 ).
A mesma ideia defendida pelo apóstolo Paulo é defendida pelo apóstolo João, e os termos ‘amor’ e ‘conhecer’ possuem equivalência semântica dentro do contexto bíblico. Ora, o amor é o vínculo da perfeição ( Cl 3:14 ), e para efetivar a união perfeita entre Deus e os homens é imprescindível Cristo, o amor de Deus revelado e, que os homens, por sua vez, O obedeçam “E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele” ( 1Jo 4:16 ; Tt 3:4 ).
Ora, se o amor de Deus é guardar os mandamentos de Deus e o mandamento de Deus é crer em Cristo, o homem ama (obedece) a Deus porque Ele deu o Seu mandamento (amou) primeiro “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados” ( 1Jo 5:3 ; 2Jo 1:6 ); “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” ( 1Jo 3:23 ).
O cristão ‘reveste-se’ do novo homem criado em Cristo porque só desta maneira é possível conhecer a Deus. O ‘renovo’ é condição imprescindível para tornar-se um com Deus, pois através do renovo o homem torna-se segundo a semelhança de Deus “E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” ( Cl 3:10 ); “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo” ( Gl 3:27 ); “Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” ( 1Jo 4:7 ; Cl 2:2 ; Ef 3:19 ; 1Jo 3:2 ).
Quando o cristão se reveste do novo? Quando o cristão se renova segundo a imagem do que o criou? Quando crê em Cristo o homem é batizado na morte de Cristo, pois todos que são batizados na morte de Cristo, são sepultados e ressurgem uma nova criatura, criada segundo Deus em verdadeira justiça e santidade ( Rm 6:3 ; Ef 4:24 ).
Aquele que ama a Deus também O conhece e, de igual modo, aquele que Deus ama é o que Deus também conheceu ( 1Jo 4:10 ). Não podemos entender o termo ‘amor’ quando empregado nestas passagens bíblicas como sentimento, afeição, antes como ‘cuidado’ e ‘obediência’, pois o termo também é empregado para descrever a relação aristocrática entre ‘senhor’ e ‘servo’, o que nos leva a concluir que o termo traduzido por ‘conhecer’ nas seguintes frases: ‘conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’, ‘agora, conhecendo a Deus, ou antes, sendo conhecido dele’ diz de ‘união’, ‘comunhão’ e não de conhecimento obtido por mera atividade intelectual.
Ora, o apóstolo Paulo não trata em Gálatas 4, verso 9 do ‘conhecer/saber acerca de’, visto que em seguida o mesmo termo é aplicado a Deus, que é onisciente “Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” ( Gl 4:9 ).
O verbo traduzido por ‘conhecendo’ na primeira parte de Gálatas 4, verso 9 não pode significar: ‘chegar a saber, vir a conhecer, obter conhecimento de, perceber, sentir, tornar-se conhecido, conhecer, entender, ter conhecimento de, saber, tornar-se conhecido de, conforme os significados que consta do dicionário Strong, pois o leitor acabará seguindo as mesmas questões filosóficas que atormentam e ocupa os pensadores cristãos desde os primeiros séculos da igreja dita cristã, visto que debatem variantes do seguinte pensamento: Deus é um ser incognoscível para a mente humana, visto que Ele é infinito e as suas criaturas finitas: – “Como compreender um ser infinito através de uma mente finita?’.
Agora, quando entendemos que ‘conhecer’ a Deus está relacionado a união que há entre Cristo e a igreja, e que os cristãos são um com o Pai e o Filho, efetivamente é possível – ao homem que crê – conhecer a Deus, mesmo não tendo visto o invisível, mesmo não tendo ideia da dimensão do imensurável, mesmo estando atrelado ao espaço/tempo.
Também é possível compreender a declaração paulina de que somente os que amam são ‘conhecidos por Deus’. Torna-se evidente que o termo não é empregado para dizer que Deus desconhecia tal pessoa, e somente agora ‘soube acerca de’, o que contrariaria a onisciência e a imutabilidade divina.
Deus é sabedor por toda a eternidade de todas as coisas e, concomitantemente, Ele ‘conhece’ somente os que lhe pertencem “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade” ( 2Tm 2:19 ).
O termo empregado pelo apóstolo em Gálatas 4, verso 9, jamais indicaria que Deus agregou um conhecimento novo, um saber que não possuía, pois Deus é imutável quanto ao saber por toda a eternidade. Ora, o ‘conhecer’ de Gálatas 4, verso 9 quando refere-se a Deus diz de comunhão íntima, de uma relação que se pauta pelo mandamento e obediência, ou seja, pelo amor. O que está em debate no verso através do termo γνωσθέντες são as benesses que resulta da comunhão entre Deus e o homem ao se tornar um com Ele (conhecê-Lo).
O disposto em Gálatas 4, verso 9 sobre o ‘conhecer’ a Deus, ou antes, ser ‘conhecido’ d’Ele, quando analisado como união ou comunhão íntima, não fere os questionamento próprio à filosofia, quando se entende que ‘conhecer’ a Deus, a verdade que liberta, é tornar-se membro do corpo de Cristo.
Somente deste modo ‘ser conhecido d’Ele’ é factível a um Deus imutável, que não possui variação quanto ao ‘saber’, ‘conhecer’. Somente deste modo é possível ao homem finito ‘conhecer a Deus’, pois ao tornar-se um com Ele é possível conhecê-Lo sem a necessidade de um homem finito compreender ou alcançar o infinito.
O termo foi empregado para demonstrar que o homem pode compartilhar da natureza divina ao unir-se a Cristo, pois passa a ser o corpo de Cristo, que é a igreja ( 2Pe 1:4 ).
É sugestivo o fato de o apóstolo Paulo demonstrar aos cristãos da Galácia que eles ‘conheceram’ a Deus, ou melhor, foram ‘conhecidos’ d’Ele, pois surge um paralelo entre o problema da perseguição que os filhos da carne impunham contra os filhos do Espírito e a oposição dos judeus que diziam crer em Cristo em no capítulo 8, verso 32 do evangelho de João.
A liberdade dos cristãos da Galácia nos remete a analisar a fala de Jesus “E Conhecereis a verdade e a verdade vós libertará” ( Jo 8:32 ), porque após os cristãos da Galácia verem-se livres, recomendou-se: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão” ( Gl 4:29 e 5:1 ).
Os cristãos da Galácia eram libertos, o que significa que ‘conheceram’ a verdade. Já os ouvintes de Cristo estavam presos e não ‘conheciam’ a Cristo, a verdade que liberta. Ora, a verdade é apresentada na pessoa de Cristo, pois a realidade encontra-se em Cristo, que é fiel!
Os ouvintes de Cristo, além de rejeitarem, perseguiram Jesus para matá-lo, semelhantemente, os ouvintes do apóstolo Paulo após libertos, foram perseguidos pelos judaizantes que, ardilosamente, queria submetê-los novamente ao jugo da servidão, ou seja, sujeitá-los ao pecado, consequentemente a morte.
Mas, por que os cristãos eram livres? Porque haviam morrido com Cristo e não mais viviam, antes Cristo vivia neles “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” ( GL 2:20 ).
Quando lemos: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” ( Jo 17:21 ), verifica-se que Deus é um com Cristo, assim como Cristo é um com Deus, porém, da mesma forma que Deus é um com o Filho, todos podem ser um com Deus, e vice-versa.
Pensando o termo ‘conhecer’ na passagem de Gálatas 4, verso 9, como: estar (intimamente) ligado a, conhecer (alguém), relacionar-se, ter comunhão, certo é que, tanto os homens podem figurar como sujeitos do termo prognõsis quanto o próprio Deus, desde que consideremos prognõsis como ‘comunhão íntima’, ‘relação amorosa’.
O termo ‘prognósis’ (presciência)
Na Bíblia temos o termo πρόγνωσις (prognósis) comumente traduzido por presciência ou pré-conhecimento que ocorre somente duas vezes no Novo Testamento na sua forma substantivada: At 2:23 e 1Pe 1:2.
É possível Deus antecipar um saber, antecipar um conhecimento? Sim! Quando Deus revela um fato futurístico ao homem, temos Deus antecipando um conhecimento, um saber.
Mas, com relação a Deus, é necessário que Ele antecipe algum saber ou algum conhecimento? Para respondermos é necessário analisarmos o seguinte versículo: “E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar” ( Hb 4:13 ).
O que significa que ‘todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos’ de Deus? Significa que Deus é onisciente.
Por onisciência Charles C. Ryrie define que ‘Deus sabe tudo, todas as coisas reais e possíveis, sem esforço e igualmente bem’. Ele aponta uma definição de Tozer de que Deus ‘nunca descobre nada, nunca se assusta e nunca se surpreende’.
Desde sempre e para sempre Deus é o que é na sabedoria, no conhecimento e no entendimento, ou seja, Deus não evolui e nem regride, porque o que Deus sabe, Ele sempre soube e saberá por toda a eternidade! Ele agrega toda sabedoria, todo conhecimento e todo entendimento, sem demandar qualquer tipo de raciocínio ou pensamento, pois não é como o homem que depende ser ensinado, de informação, tem que pensar, inquirir, perscrutar, raciocinar, etc.
Deus sabe e conhece tudo e a todos, de modo que é impossível Deus ‘vir a conhecer’, ‘obter conhecimento de’. O saber para Deus nunca é algo que possa ser antecipado, pois desde sempre Deus soube, sabe e é conhecedor de todas as coisas, portanto, Ele não agrega novos conhecimentos ou sabedoria. O saber para Deus não sofre ruptura em função do espaço, ou do tempo, pois o que era, o que é e o que será é o mesmo que já para Deus.
Após as considerações sobre a onisciência de Deus, não podemos incorrer no erro de entender que Deus ‘prevê’, ou seja, que Ele ‘antevê’ o futuro, como se antever o futuro fosse garantia de que Ele levará a efeito o seu propósito. Quando Deus antecipa um evento futuro aos homens por intermédio dos seus profetas, não significa que Deus tenha um atributo específico de antever eventos futuros, pois o correto é que Deus sabe todas as coisas igualmente bem, sejam elas passadas, presentes ou futuras.
‘Previsão’, ou o ‘saber de antemão’ é algo perseguido e de interesse dos homens em função de suas limitações quanto ao tempo e espaço, portanto, a tão alardeada ‘presciência’, que acabou elevada ao ‘status’ de atributo da divindade, não passa de um termo desnecessário que foi cunhado por alguns teólogos e que restringe a onisciência divina.
Os homens fazem prognósticos, analisam variáveis, lançam sorte, analisam possibilidades em busca de prever, compreender e antecipar o futuro, entretanto, Deus é sabedor de todas as coisas passadas, presentes e futuras, ou seja, o termo ‘presciência’ se aplicado a Deus reduz o que se entende por onisciência.
Alguns estudiosos, ao analisarem a doutrina da eleição e predestinação acabaram estabelecendo que “presciência” tanto se refere a um atributo quanto um ato de Deus.
“A palavra presciência tem dois significados. É um termo usado na teologia para expressar a ideia da previsão de Deus, isto é, Seu conhecimento do curso integral de acontecimentos que são futuros do ponto de vista humano. Ela também é usada com o sentido de pré-ordenação. No sentido de pré-conhecimento, ela é um aspecto da onisciência divina. O saber de Deus, de acordo com as Escrituras, é perfeito, isto é, Ele é onisciente” C. W. Hodge.
Mas, como ler o seguinte verso: “A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” ( At 2:23 )?
Para ler um versículo é necessário ler o seu contexto, pois quando o apóstolo Pedro disse estas palavras, respondia a zombaria e a perplexidade dos habitantes de Jerusalém.
Após negar que os cristãos estavam embriagados, o apóstolo citou o profeta Joel para demonstrar que tal evento se deu em conformidade as palavras dos profetas ( At 2:16 ).
Em seguida, ele lembra os seus interlocutores de Jesus de Nazaré e dos sinais que realizava. Ele demonstra que Jesus foi entregue nas mãos deles e, que Jesus foi morto segundo a vontade de Deus, pois a morte de Jesus foi estabelecida antes da fundação do mundo em conformidade com o conselho da Sua vontade ( Ef 1:11 ).
O conselho está relacionado ao que estava estabelecido acerca de Cristo “Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer” ( At 4:28 ).
Em outras passagens bíblica, conselho é sinônimo de ‘palavra de Deus’ “Mas os fariseus e os doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos, não tendo sido batizados por ele” ( Lc 7:30 ); “Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus” ( At 20:27 ).
O Cristo ser crucificado decorre do conselho de Deus, porém, este evento fora anunciado por boca de todos os profetas “Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer” ( At 3:18 ).
Em Atos 3, verso 18 temos certa similaridade com Atos 2, verso 23, pois o conselho de Deus estabeleceu que ‘o Cristo havia de padecer’. Mas, além de Deus estabelecer que o Cristo padeceria, antecipou tais eventos aos homens utilizando-se dos seus profetas conforme o que está registrado nas Escrituras.
“Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer” ( At 3:18 );
“A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” ( At 2:23 ).
As escrituras são de ‘per si’ um conhecimento de Deus, de modo que, quando lemos que os judeus possuíam zelo de Deus, porém, sem entendimento (Rm 10:2), significa que o zelo deles não era conforme o que Deus revelara nas Escrituras. O termo traduzido por entendimento é ἐπίγνωσιν (epignósis).
O termo epignosis é um cognato, de modo que a partícula επι intensifica o sentido do termo γνωσις. Ora, os judeus prestavam um serviço que não era aceito por Deus, por desprezarem o conhecimento que Deus revelou primeiramente a eles.
Ora, este ‘entendimento’ do qual os judeus não fizeram uso, mas que Deus primeiramente deu a eles, diz das Escrituras, o testemunho que Deus deu acerca do seu Filho ( Rm 9:4 ), o evangelho da paz ( Jo 5:39 ).
Na segunda carta de Pedro a todos os cristãos do mundo, o termo epignósis foi utilizado no verso 2 do capítulo 1 para fazer referência ao conteúdo do evangelho como o ‘conhecimento de Deus e de Jesus’ (ἐν ἐπιγνώσει τοῦ θεοῦ Ἰησοῦ τοῦ κυρίου ἡμῶν).
De modo que, o termo προγνώσει (presciência) Atos 2, verso 23 não deve ser compreendido como uma referencia a um atributo de Deus (presciência ou pré-conhecimento), antes deve se entendido como o vaticínio de Deus exarado nas Escrituras.
A profecia, o vaticínio diz de um conhecimento que Deus antecipou aos homens através dos seus profetas e que está contido nas Escrituras. De modo que, quando se lê: ‘καὶ προγνώσει τοῦ θεοῦ’ (e presciência de Deus), temos que ter em mente as diversas passagens bíblicas que apontam para o previsto e o contido nas Escrituras: “O qual antes prometeu pelos seus profetas nas santas escrituras” ( Rm 1:2 ); “Para que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas pelos santos profetas, e do nosso mandamento, como apóstolos do Senhor e Salvador” ( 2Pe 3:2 ); “Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança” ( Rm 15:4 ).
Quando uma preposição primária προ aparece em conexão com palavras como γνῶσις, a compreensão do termo cognato que surge deve ser definido pelo contexto das escrituras (individual), ou seja, o ‘conhecimento’ que os profetas ‘dantes’ anunciavam e que ‘anteriormente’ deixaram registrado nas Escrituras.
Ou seja, quando o evangelista Lucas escreveu a Teófilo as palavras do apóstolo Pedro que disse que Jesus foi entregue aos pecadores segundo o que Deus na eternidade estabeleceu segundo o conselho da sua vontade que Cristo seria morto, tal conselho foi anunciado de antemão pelos profetas e estava estampado nas Escrituras, que Cristo havia de dar a vida pelos pecadores, de modo que o termo προγνώσει (presciência) foi cunhado para dizer que tudo o que aconteceu com o Cristo se deu a partir do que foi dito previamente “Dizendo: Convém que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite” ( Lc 24:7 ).
“… a este, por o determinado plano e presciência de Deus entregue, por mãos de ímpios pregado (na cruz) (vós)matastes…” ( At 2:23 );
“Mas Deus as coisas que de antemão anunciou por boca de todos os profetas sofrer o Cristo dele (ele)cumpriu desta maneira” ( At 3:18 ) (Novo Testamento Interlinear Grego – Português .
Seria um demérito à onisciência divina o evangelista Lucas através da frase ‘καὶ προγνώσει τοῦ θεοῦ’ (e presciência de Deus) somente enfatizasse que Deus é conhecedor de eventos futuros, visto que Deus é conhecedor de todas as coisas. Porém, entender que προγνώσει (presciência) além de um atributo da divindade, é ato divino de pré-ordenar eventos futuros, é comprometer a verdade das Escrituras.
O termo προγνώσει não abriga a ideia do termo γινώσκω (ginóskó), pois este diz do ‘conhecer’ que aponta para uma relação intima e amorosa, ligação, tornando-se um só corpo, e aquele diz de um saber, de um conhecimento que surgiu através de eventos que se deram a partir de um vaticínio.
O termo πρόγνωσις (presciência) em 1Pe 1:2
“Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do SENHOR, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade” ( 2Ts 2:13 )
Mas, como ler primeira Pedro 1, versos 1 e 2?
O verso 13 da segunda epístola de Paulo aos Tessalonicenses, capítulo 2 nos auxiliará:
“Nós[2] Mas[1] devemos dar graças a Deus sempre por vós, irmãos amados por (o) Senhor, porque escolheu[2] a vós[3] Deus[1] (como)primícias para salvação em santificação de (o)Espírito e fé de (a)verdade, para o que [também] chamou a vós mediante o evangelho nosso para obtenção de (a)glória do Senhor[2] nosso[1] Jesus Cristo” ( 2Ts 2:13 ) Novo Testamento Interlinear Grego – Português, SBB.
“Pedro apóstolo de Jesus Cristo a (os) eleitos forasteiros de (a) dispersão de (o) Ponto, de (a) Galácia, de (a) Capadócia, de (a) Ásia e de (a) Bitínia, segundo (a) presciência de Deus Pai em santificação de (o) Espírito para obediência e aspersão de (o) sangue de Jesus Cristo, graça a vós e paz seja multiplicada” ( 1Pe 1:1 -2 ) Novo Testamento Interlinear – Grego – Português – SBB.
Ambos os apóstolos, Paulo e Pedro apresentam o mesmo assunto, porém, cada um de um modo peculiar. Enquanto o apóstolo Paulo agradece a Deus visto que os cristãos são ‘eleitos’, constituídos primícias, o apóstolo Pedro saúda os eleitos, que embora primícias dentre as criaturas, estavam dispersos entre os povos.
Há uma diferença discrepante entre:
‘… por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação…’ ( 2Ts 2:13 ) ACF;
‘… porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação…’ ( 2Ts 2:13 ) ARA, e;
‘… porque escolheu[2] a vós[3] Deus[1] (como)primícias…’ ( 2Ts 2:13 ) Novo Testamento Interlinear – Grego-Português.
Qual das traduções é a correta? Deus elegeu desde o ‘princípio’ para salvação, ou ‘Deus tomou para si’ os cristãos como ‘primícias’? Há uma grande diferença entre ‘princípio’ e ‘primícias’, e ‘eleger’ e ‘tomar para si’.
Veja o que diz Strong:
‘138 αιρεομαι haireomai provavelmente semelhante a 142; TDNT – 1:180,27; v 1) tomar para si, preferir, escolher 2) escolher pelo voto, eleger para governar um cargo público’;
‘536 απαρχη aparche de um composto de 575 e 756; TDNT – 1:484,81; n f 1) ofertar primícias ou primeiros frutos 2) tirar os primeiros frutos da produção da terra que era oferecida a Deus. A primeira porção da massa de farinha, da qual os pães sagrados eram para ser preparados. Daí o uso do termo para pessoas consagradas a Deus para sempre. 3) pessoas que superam aos outros da mesma classe em excelência’.
Porque o mesmo termo traduzido por ‘princípio’ em 2Ts 2:13 na ARA e ACF é traduzido por ‘primícias’ em Tg 1:18?
O termo traduzido por ‘princípio’ na ARA e na ACF é απαρχη e está definido desta forma na concordância Strong:
“536 απαρχη – ofertar primícias ou primeiros frutos”.
A ARA e a ACF troca o termo απαρχη por αρχη, que na concordância Strong possui o seguinte significado:
“746 αρχη arche de 756; TDNT – 1:479,81; n f 1) começo, origem 2) a pessoa ou coisa que começa, a primeira pessoa ou coisa numa série, o líder 3) aquilo pelo qual algo começa a ser, a origem, a causa ativa 4) a extremidade de uma coisa 4a) das extremidades de um navio 5) o primeiro lugar, principado, reinado, magistrado 5a) de anjos e demônios”.
Trocar ‘primícias’ por ‘princípio’ já é pernicioso, porém, acrescer ao texto bíblico uma preposição essencial ‘desde o’, ligando os termos εἴλατο e απαρχη de modo a situar o termo απαρχη no tempo (eleitos desde o princípio) é transtornar completamente o sentido do texto.
‘Desde o princípio’ remete a que princípio? Remete ao Éden? O único princípio possível é o do Éden, onde e quando se deu a queda do homem, pois não há que se falar em princípio em relação a Deus.
Se adotarmos a ideia de que desde o princípio Deus escolheu alguns para a salvação, quer seja soberanamente ou pré-cientemente, tem-se que admitir uma ideia de ‘princípio’ em conexão com a divindade, que é sabido, não têm princípio.
Qual é o princípio para Deus quando ocorreu a eleição ‘desde o princípio’?
Se tomarmos o homem como referencia para ‘princípio’, tem-se que levar em conta que os homens não são pré-existentes para que pudessem ser submetidos a uma escolha em um princípio anterior à criação no Gênesis.
Vê-se que há na tradução ‘… por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação …’ uma forte influência determinista, mecanicista, mas, diante de tais influências, como ler 2Ts 2:13? Precisamos nos socorrer de outras passagens bíblicas!
O irmão Tiago demonstra que Deus decidiu gerar os cristãos através do evangelho para que fossem primícias das suas criaturas “Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas” ( Tg 1:18 ). O apóstolo Pedro demonstra que os cristãos foram de novo gerados mediante o evangelho, a semente incorruptível, ou seja, purificados através da obediência a verdade ( 1Pe 1:3 e 22 -23).
Ora, é através da obediência ao evangelho que os cristãos são gerados de novo mediante a ressurreição de Jesus. Quando Jesus foi ressurreto dentre os mortos tornou-se as primícias dentre os mortos, e os cristãos como são gerados de novo mediante a ressurreição de Jesus também são primícias “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” ( 1Pe 1:3 ); “Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem” ( 1Co 15:20 ).
Este é o princípio apontado pelo apóstolo Paulo: “E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são” ( Rm 11:16 ), visto que ‘primícias’ equipara-se à primogenitura “À universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados” ( Hb 12:23 ); “Feriu também a todos os primogênitos da sua terra, as primícias de todas as suas forças” ( Sl 105:36 ).
Ora, Cristo é o primogênito, as primícias dentre os mortos, e todos que ressurgem dentre os mortos serão conforme a imagem de seu Filho, pois é deste modo que Cristo passou a ocupar a posição de primogênito, por ter muitos irmãos semelhantes a Ele “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” ( Rm 8:29 ; 1Jo 3:2 ).
É em função desta peculiaridade que os cristãos são designados ‘primícias’ ( Rm 16:5 ; 1Co 16:15 ), e o apóstolo Paulo nomeou os cristãos de Tessalônica de primícias. A melhor leitura de 2 Tessalonicenses é a de que os cristãos deveriam dar graça a Deus porque Deus os tomou para si (138 αιρεομαι haireomai – Strong) como ‘primícias’. A preposição εἰς é empregada após αιρεομαι para enfatizar o propósito da salvação: estabelecer os cristãos como primícias, porém, a salvação se dá única e exclusivamente segundo a santificação pela palavra ( 2Ts 2:10 -12).
Apesar do problema relativo ao emprego do termo αιρεομαι em 2Ts 2:13 e do termo πρόγνωσις em 1Pe 1:2, ambos os versos apontam que a santificação é pelo espírito. Ora, a santificação se da pela palavra da verdade, ou seja, pelo espírito, pois os cristãos são ministros do espírito ( 2Co 3:6 ).
Jesus disse que os cristãos são santificados pela fé n’Ele, ou seja, santificados na verdade “E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade” ( Jo 17:19 ); “Para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão de pecados, e herança entre os que são santificados pela fé em mim” ( At 26:18 ).
Jesus também disse que as suas palavras são espírito e vida, de modo que os seus discípulos estavam limpos pelas palavras que Cristo havia falado ( Jo 6:63 ; Jo 15:3 ).
Deus havia tomado os cristãos para Si como primícias em virtude da salvação que é através do lavar regenerador da palavra (santificação do espírito e fé na verdade), pois através do evangelho dos apóstolos, além da salvação da condenação que há no mundo, os cristãos adquirem a glória de serem semelhantes a Cristo.
Observe que Deus tomará vingança contra aqueles que não O conheceram, ou seja, dos que não obedeceram ao evangelho de Cristo ( 2Ts 1:8 ). Quando Jesus se manifestar desde os céus, virá para ser glorificado nos seus santos e se fará admirável naquele dia em todos os que creram no testemunho dos apóstolos ( 2Ts 1:10 ). Neste tempo cumprir-se-á a profecia de Isaías que diz: “Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime” ( Is 52:13 ), pois ele se manifestará como a cabeça de um corpo formado de homens semelhantes a Ele ( 1Jo 3:2 ). Desta forma Ele será admirável através dos que creram, pois entre os sublimes Cristo será proeminente, pois Ele é a cabeça da igreja.
Quando o apóstolo Pedro escreveu aos eleitos de Deus que estava dispersos em várias partes do mundo, escreveu aos que foram santificados, purificados na obediência à verdade ( 1Pe 1:22 ). Ora, quando os forasteiros dispersos creram, eles foram de novo gerados de uma semente incorruptível, a palavra de Deus. Obtiveram uma viva esperança pela ressurreição de Cristo dentre os mortos, pois foram gerados de novo ( 1Pe 1:3 ).
Os apóstolos Paulo e Pedro nomeiam os cristãos de eleitos em função do propósito eterno de Deus que é fazer Cristo preeminente em todas as coisas. Todos os que creem são de novo gerados pela ressurreição de Cristo dentre os mortos, ou seja, constituídos primícias dentre os mortos, gerados para serem conforme a semelhança de Cristo.
A eleição é segundo o propósito eterno: tornar Cristo primogênito entre muitos irmãos, o que remete ao exposto por Tiago: “Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas” ( Tg 1:18 ). Tiago demonstra que os cristãos foram gerados de novo pela palavra da verdade, pois a vontade de Deus é tornar os cristãos ‘primícias’ “Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem” ( 1Co 15:20 ).
Deste modo, a base da eleição é Cristo, pois deste a eternidade Ele é o eleito de Deus. Sendo Cristo o eleito, a geração d’Ele tornou-se escolhida “Mas vós sois a geração eleita…” ( 1Pe 2:9 ), por conseguinte, os que de novo são gerados em Cristo Jesus eleitos de Deus para serem santos e irrepreensíveis. O propósito eterno de Deus é fazer o Cristo primogênito entre muitos irmãos e, através da geração de Cristo, muitos filhos são conduzidos à glória de Deus e são conforme a imagem de Cristo.
Deus escolheu especificamente a Cristo e os seus descendentes – os cristãos -, ou seja, a escolha de Deus nunca recai sobre indivíduos descrentes. Somente os ‘amados’ pelo Senhor, ou seja, os ressurretos com Cristo, as primícias das suas criaturas, a geração de Cristo, são nomeados eleitos do Senhor. Mas, para se tornarem os eleitos, foi necessário os filhos da ira e da desobediência ouvir a palavra da verdade e crer, sendo santificados pela palavra.
Os cristãos são eleitos por Deus ‘em Cristo’ para serem primícias, visto que aceitaram o convite do evangelho que os torna participante da glória de Cristo, sendo que, para alcançarem a condição de primícias, foram salvos mediante a santificação do Espírito e fé na verdade. O apóstolo demonstra que, além dos cristãos serem salvos por intermédio do evangelho, também foram designados eleitos, em função do propósito de Deus, que é a primogenitura de Cristo.
Pelo fato de os cristãos serem gerados de novo, tornaram-se eleitos, visto que a geração segundo Cristo (geração eleita) foi escolhida antes que houvesse mundo para serem primícias, ou seja, para serem conforme a imagem de Cristo. Mas, para fazerem parte da geração eleita em Cristo, é necessário ter sido gerado de novo através da água (obediência, fé na verdade) e do Espírito. Mediante o evangelho, que é a verdade e a fé revelada, o homem é santificado por Deus, o Espírito eterno, para ser participante da glória de Cristo.
Já vimos que em Atos 2, verso 23, o termo ‘proginwskw’ (presciência) em decorrência do contexto deve ser lido como ‘vaticínio’ que se cumpriu segundo as Escrituras, pois Cristo foi entregue segundo a vontade de Deus e em consonância ao que estava previsto nas Escrituras, pois é isto que se depreende de Atos 3, verso 18: “Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer” ( At 3:18 ).
‘As coisas que foram anunciadas de antemão por boca dos profetas’ (προκαταγγέλλω) diz de um conhecimento específico, porém o termo προγνώσει (preciencia) em Atos 2, verso 23, foi utilizado para designar eventos que se deram em conformidade com o que dantes fora predito nas Escrituras, ou conforme designado por Deus na eternidade, conforme se depreende de Atos 15, verso 18, em que é dado aos desígnios de Deus pertinentes a eternidade como gnóstos (conhecimento – γνωστὰ).
O termo πρόγνωσις em primeira Pedro 1, verso 2 deve ser lido conforme Atos 2, verso 23, pois as Escrituras contém o ‘conhecimento’ de Deus de questões pertinentes ao que foi determinado por Deus na eternidade e que dantes foi predito pelos profetas. O termo πρόγνωσις, que é traduzido por pré-conhecimento, presciência, de antemão conheceu, etc., foi cunhado para fazer referencia a eventos que se deram em conformidade com as profecias contidas nas Escrituras.
Para ler com segurança 1 Pedro 1, verso 2, temos de nos socorrer da carta de Paulo a Tito, capítulo 1, versos 1 à 4 e comparar 1 Pedro 1, versos 1 e 2 com 1 Pedro 1, verso 17 à 22.
“Paulo servo de Deus, apóstolo [2] e[1] de Jesus Cristo segundo (a)fé de (os) eleitos de Deus e (o) conhecimento de (a) verdade segundo (a) piedade em (a) esperança de (a) vida eterna, a qual prometeu o que não mente[2] Deus[1] antes de (os) tempos eternos, manifestou[2] e[1] em (os) tempos próprios a palavra dele em (a) proclamação, (de) a qual fui incumbido eu segundo (o) mandato do Salvador[2] nosso[1], Deus, a Tito genuíno filho segundo comum[2] (a) fé[1], graça e paz da parte de Deus (o) Pai e de Cristo Jesus o Salvador[2] nosso[1]” (Tt 1:1 -4) Novo Testamento Interlinear – Grego – Português – SBB.
“Pedro apóstolo de Jesus Cristo a (os) eleitos forasteiros de (a) dispersão de (o) Ponto, de (a) Galácia, de (a) Capadócia, de (a) Ásia e de (a) Bitínia, segundo (a) presciência de Deus Pai em santificação de (o) Espírito para obediência e aspersão de (o) sangue de Jesus Cristo, graça a vós e paz seja multiplicada” (1Pe 1:1 -2 ) Novo Testamento Interlinear – Grego – Português – SBB.
Observe que ambos se identificam: “Paulo servo de Deus, apóstolo [2] e[1] de Jesus Cristo…”; “Pedro apóstolo de Jesus Cristo…”.
Ambos identificam os destinatários: “… a Tito genuíno filho”; “a (…) forasteiros de (a) dispersão de (o) Ponto, de (a) Galácia, de (a) Capadócia, de (a) Ásia e de (a) Bitínia…”.
A saudação é idêntica: “…graça e paz da parte de Deus (o) Pai e de Cristo Jesus o Salvador[2] nosso[1]”; “…graça a vós e paz seja multiplicada”.
Ambos nomeiam os cristãos: “…de (os) eleitos de Deus…”; “…. a (os) eleitos…”.
O apóstolo Paulo demonstra que foi posto por apóstolo segundo a fé que é pertinente aos cristãos designados eleitos, a mesma fé que tornou Tito um verdadeiro filho. O termo πίστιν (pistis – fé) neste verso não diz de algo subjetivo como a crença do apóstolo Paulo, antes é a fé manifesta, objetiva e da qual todos os cristãos são participantes, conforme Gálatas 3, verso 23: “Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar” ( Gl 3:23 ).
A fé dos eleitos de Deus é a fé anunciada ( Rm 1:8 ), a fé mutua ( Rm 1:12 ), ou seja, diz da palavra de Cristo que é dada aos seus seguidores ( Jo 8:31 ). A fé diz do ‘conhecimento’ (testemunho) pertinente à verdade (ἐπίγνωσιν ἀληθείας), que se o discípulo permanecer tornar-se-á liberto por Cristo, ‘conhecerá’ (γνώσεσθε – ginóskó) a verdade, ou seja, será um com Cristo ( Jo 8:32 ).
A matéria que o apóstolo Paulo está abordando é tão importante que ele repete a ideia apontada pelos termos πίστιν (pistis – fé) e ἐπίγνωσιν (epignósis – conhecimento) através do termo εὐσέβειαν (eusebeia – piedade).
Qual é a piedade (εὐσέβειαν) em esperança de vida eterna?
‘Piedade’ é outra forma utilizada pelo apóstolo Paulo para fazer referencia ao evangelho de Cristo, como se vê: “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória” ( 1Tm 3:16 ).
Encontramos esta forma peculiar do apóstolo fazer referencia ao evangelho quando ele trata com Timóteo. Ao alertar acerca dos obreiros fraudulentos, o termo piedade é utilizado em substituição a palavra ‘evangelho’ “Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te” ( 2Tm 3:5 ); “Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais” ( 1Tm 6:5 ); “Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir” ( 1Tm 4:8 ).
E este era um termo que o apóstolo Pedro também conhecia, pois ao falar do evangelho, demonstra que por meio dele Deus concedeu aos homens tudo o que diz respeito à vida (comunhão com Cristo) e piedade (fidelidade, submissão a Deus).
Ora, a vida eterna está em Cristo ( 1Jo 5:11 ), e qualquer que está em Cristo é fiel ( Cl 1:2 ; Ef 1:1 ), ou seja, submisso, ‘piedoso’ ao mandamento de Deus ( 1Jo 5:13 ).
Sobre este aspecto também escreveu o apóstolo João: ‘…διάνοιαν ἵνα γινώσκομεν ..’. Deus deu ‘entendimento’ (διάνοιαν), ou seja, o raciocínio pleno, completo da doutrina de Cristo, διάνοιαν (entendimento) que os judeus não possuíam ( Rm 10:2 ), que os faria ‘conhecedores’ (γινώσκομεν = um só corpo, um só espírito) de Deus “E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” ( 1Jo 5:20 ).
Tudo o que é concernente à vida e a piedade foram dados graciosamente pelo conhecimento (ἐπιγνώσεως), ou seja, pelo testemunho que há no evangelho, ‘conhecimento’ adquirido diretamente de Cristo, que chamou os que creem para sua própria glória e virtude. É no ‘conhecimento’ (ἐπιγνώσεως), que as promessas estão contidas, e é por meio deste ‘conhecimento’ que o homem torna-se participante da natureza divina “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude” ( 2Pe 1:3 ).
A promessa de Deus em Cristo é de vida eterna “E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna” ( 1Jo 2:25 ). Como Aquele que prometeu não mente ( Tt 1:2 ), certo é que a promessa é antes do tempos eternos, mas Deus manifestou a sua promessa no devido tempo mediante a proclamação do evangelho ( Tt 1:3 ; Gl 3:23 ).
O evangelho foi proclamado por Deus no seu devido tempo quando a fé se manifestou ( Gl 3:23 ), mas a mensagem que os cristãos ouviram ‘desde o princípio’, ou seja, o que eles ouviram de Cristo e dos apóstolos devia ser guardado intacto, segundo o modelo que ouviram, para que permanecessem no Pai e no Filho segundo a promessa “Portanto, o que desde o princípio ouvistes permaneça em vós. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai” ( 1Jo 2:24 ).
Em grego, ‘Vós o que ouvistes desde (o) princípio, em vós permaneça’ é assim redigido: “ὑμεῖς ὁ ἠκούσατε ἀπ’ ἀρχῆς ἐν ὑμῖν μενέτω”. ‘Ouvistes’ é ἠκούσατε, ‘a partir de’ é ἀπ’ e ‘princípio’ é ἀρχῆς.
O que os cristãos ‘ouviram’? Eles ouviram a mensagem, o evangelho, o testemunho, o entendimento, ou seja, o ‘conhecimento’ de Deus. E significa que deveriam manter intocada a mensagem inicial a partir do momento que tiveram o primeiro contato com o ‘conhecimento’ (ἀρχῆς).
Este verso nos remete a 2 Pedro, capítulo 3, verso 2:
“… para vos lembrardes das previamente faladas[2] palavras[1] por os santos profetas e do (dado por) os[6] apóstolos[8] vossos[7] mandamento[1] do[2] Senhor[3] e[4] Salvador[5]” ( 2Pe 3:2 ) Novo Testamento Interlinear – Grego – Português – SBB.
“μνησθῆναι τῶν προειρημένων ῥημάτων ὑπὸ τῶν ἁγίων προφητῶν καὶ τῆς τῶν ἀποστόλων ὑμῶν ἐντολῆς τοῦ κυρίου καὶ σωτῆρος” Westcott/Hort with Diacritics
O que os cristãos precisavam lembrar? Das palavras previamente ditas pelos profetas!
O termo ‘προειρημένων’ é assim definido por Strong:
“4280 προερεω proereo de 4253 e 2046, usado como substituto de 4277; v 1) dizer antes 1a) dizer o que precede, falar sobre 1b) dizer antes, i.e., antes, anteriormente 1c) dizer de antemão, i.e., antes do evento: profecia”
E o que os profetas falaram? Falaram as palavras (ῥημάτων) de Deus, o conhecimento (ἀρχῆς) de Deus, o mandamento (ἐντολῆς) de Deus.
Quando lemos: “… κατὰ πρόγνωσιν θεοῦ…” ( 1Pe 1:2 ), entende-se que o apóstolo Pedro estava escrevendo aos cristãos, que apesar de estarem dispersos como forasteiros, foram eleitos segundo (κατὰ) o ‘conhecimento’ (γνωσις) de Deus anunciado anteriormente (πρό) pelos seus profetas, conforme Atos 2, verso 23.
O ‘πρόγνωσιν’ está relacionado ao testemunho dos profetas que, de antemão tornou conhecido aos homens os sofrimentos de Cristo, a salvação por meio da fé e a glória concedida aos que haveriam de crer “… buscando saber para qual ou que tipo de tempo apontava o em [3] eles[4] Espírito[1] de Cristo[2] testemunhando (ele) de antemão (προμαρτυρόμενον) os para[2] (o) Cristo[3] sofrimento[1] e as depois de[2] estas coisas[3] glórias[1]” ( 1Pe 1:11)
Os profetas exortavam de antemão como testemunhas de Deus acerca de eventos futuros pertinente aos sofrimentos de Cristo. O termo πρόγνωσιν foi cunhado para fazer menção ao ‘conhecimento’ de Deus que tornou os cristãos eleitos de Deus, pois os profetas de antemão anunciaram que os homens seriam resgatados da vaidade (mentira) quando através do sangue precioso de Cristo se tornassem um com Ele, ou seja, quando conhecessem o cordeiro de Deus, ou antes fossem conhecidos (προεγνωσμένου) do cordeiro sem mancha e sem defeito ( 1Pe 1:19 -20).
O termo προεγνωσμένου em 1Pe 1:20 possui a mesma ideia do termo προέγνω em Rm 8:29, que será explicado posteriormente.
Do ponto de vista secular, ‘conhecimento’, ‘ciência’ possui relação com o ato ou efeito de abstrair ideia ou noção de alguma coisa.
Do ponto de vista bíblico ‘conhecimento’, ‘ciência’ decorre da revelação de Deus conforme o evangelho de Cristo, ou do que foi anunciado pelos seus profetas nas Santas Escrituras. Porém, em função de uma expressão idiomática construída através do termo yadá, o termo grego ginóskó traduzido por conhecimento assume a conotação de conhecimento íntimo e amoroso, de modo que aquele que crê no ‘conhecimento’ revelado no evangelho torna ‘conhecido’ de Deus, participante de Deus.
O que foi abordado pelo apóstolo Pedro no prefácio e na saudação da sua primeira carta é abordado no transcorrer da sua exposição aos seus interlocutores.
O apóstolo Pedro escreveu aos ‘estrangeiros’ da Dispersão (1Pe 1:1 ), e, no verso 17, do capítulo 1 da sua primeira carta ele faz referência ao tempo em que os cristãos permaneceriam como peregrinos no mundo, pois durante este período de tempo deveriam andar ‘em temor’.
Os cristãos da dispersão deveriam saber que foram resgatados da inutilidade que herdaram de Adão quando foram santificados pela obediência a palavra (Espírito) que proporciona a aspersão do sangue ( 1Pe 1:2 e 19), e a comunhão com Cristo.
No verso 20 o apóstolo evidencia que Cristo é o cordeiro de Deus antes da fundação do mundo, conforme foi vaticinado pelos profetas, mas nestes últimos tempos Cristo foi manifestado “… mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” ( 1Pe1:20 ). A promessa é antes dos tempos dos séculos, mas Deus manifestou a sua promessa no devido tempo mediante a proclamação do evangelho, visto que Ele não mente ( Tt 1:2 -3 ; Gl 3:23 ).
A purificação da alma se dá em obediência a verdade ( 1Pe 1:22 ), segundo o ‘conhecimento’ (κατὰ πρόγνωσιν) de Deus anunciado pelos santos profetas, que leva a conhecer a Deus ou, conhecido previamente por Ele (προεγνωσμένου).
O apóstolo Pedro escreveu aos eleitos segundo o ‘pré-conhecimento’ de Deus. E como se deu o ‘pré-conhecimento’? Em santificação do Espírito para obediência e aspersão do sangue de Cristo, ou seja, por intermédio do evangelho, tendo em vista que as palavras de Cristo são espírito e vida.
O apóstolo demonstrou aos cristãos que eles eram eleitos em função da santificação do Espírito, o que remete às palavras de Cristo: ‘vós estais limpos pela palavra que eu vos tenho falado’. Crer na palavra promove a aspersão do sangue de Cristo, o que tornou os cristãos ‘conhecidos’ de Deus.
O termo πρόγνωσιν remete ao testemunho dos profetas que profetizaram acerca da união com Cristo, requisito essencial para ser um dos eleitos. Sem a comunhão com o Pai e o Filho, que só ocorre através do lavar regenerador da palavra da fé ( 1Pe 1:3 ), é impossível ser ‘eleito’.
‘Eleito’ (ἐκλεκτοῖς – eklektos) é o nome que se dá àquele que está de posse de uma condição que deriva de Cristo, o eleito.
Quando os apóstolos falam da eleição no tempo passado (ἐξελέξατο), fazem referencia a Cristo, pois os cristãos foram eleitos (nos elegeu n’Ele) em Cristo para serem santos e irrepreensíveis.
Ser santo e irrepreensível é condição exclusiva da geração de Cristo, mas para ser geração de Cristo é necessário crer em Deus através de Cristo que o ressuscitou dentre os mortos. Quando o homem crê em Cristo, ao mesmo tempo crê em Deus que deu testemunho do seu Filho “E Jesus clamou, e disse: Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou” ( Jo 12:44 ).
É a mesma verdade anunciada pelo apóstolo Pedro:
“E por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus; Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade…” ( 1Pe 1:21 -22 ).
O homem só pode crer em Deus por intermédio de Cristo, e ao obedecer à verdade do evangelho, a fé manifesta, o homem tem a sua alma purificada pela aspersão do sangue de Cristo. A purificação da alma se dá única e exclusivamente por intermédio da obediência a palavra do evangelho, a fé dos eleitos de Deus ( Tt 1:1 ).
A má leitura surge quando o leitor não distingue a ‘santificação do Espírito’ da ‘ação do Espírito Santo’. O cristão é ministro do Espírito, da palavra ( 2Co 3:6 ), e o que purifica o homem diz da palavra de Cristo, que é espírito e vida ( Jo 6:63 ).
Muitos comentaristas bíblicos, por não compreenderem a necessidade do homem crer em Cristo para ‘conhecer’ a Deus (união íntima), geralmente utilizam o termo prognwsin, para dar ao tema ‘eleição’ uma conotação determinista.
É comum as traduções bíblicas verterem o termo πρόγνωσις por presciência, mas os adeptos da soberania divina na eleição procuram apresentar o termo πρόγνωσις com a conotação de pré-ordenação para contrapor a concepção arminianista da eleição pela presciência.
Apresentar como leitura alternativa ao termo πρόγνωσις a ideia de ‘pré-ordenação’, ou ‘pré-conhecer com objetivo benigno’, de que Deus pre-conheceu alguns para serem salvos e os restantes permaneceriam destinados à perdição não encontra respaldo nas Escrituras.
“Embora, a presciência de Deus no sentido de pré-conhecimento seja assegurada no N. T., este não é o mesmo significado quando usada para traduzir as palavras gregas “proginoskein” e “prognosis”. Estas palavras que, às vezes são traduzidas como pré-ordenação, significam muito mais que a mera presciência ou previsão intelectual. Ambas as formas, verbal e substantiva, aproximam-se da ideia de pré-ordenação e são intimamente ligadas às passagens onde se encontram” C. W. Hodge
A ‘presciência’ de Deus não deve ser tomada como a onisciência de Deus, ou como previsão intelectual, ou como pré-ordenação. As palavras gregas “proginoskein” e “prognosis” quando aplicada a Deus refere-se aos eventos que se dão em conformidade com o que foi dito previamente por intermédio dos seus profetas.
O apóstolo Pedro designou os irmãos da dispersão de ‘eleitos’ de Deus porque este é o resultado de se tornarem um com o Pai e o Filho em virtude da santificação que se dá por intermédio da palavra de Cristo, que é espírito e vida, a mesma palavra que foi anunciada previamente pelos profetas.
Por certo que um arminianista prefere agrupar as várias frases que compõe o versículo segundo a sua concepção, considerando que no grego não há sinais de pontuação, de que a eleição se dá segundo uma previsão divina (ou, presciência), e deixa de considerar que a eleição se deu em Cristo.
Outros, que não aderem à concepção arminianista, mas a calvinista, preferem pensar a ‘presciência’ em função da soberania divina como se fosse ‘pré-ordenação’.
Porém, de acordo com as Escrituras, a eleição não é segundo a ideia de ‘presciência’ calvinista e arminianista, antes é em Cristo, em quem o propósito eterno de Deus foi estabelecido “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo (…) Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em Cristo” ( Ef 1:4 e 9).
Ora, se é segundo o propósito eterno estabelecido em Cristo que os cristãos foram eleitos para serem semelhantes a Cristo, a eleição não é resultado de uma escolha segundo a onisciência ou de um determinismo segundo a onipotência visando a salvação de alguns e a perdição de outros!
Tanto o apóstolo Pedro quanto o apóstolo Paulo utilizam o dativo preposicionado ‘em Cristo’ ao escreverem acerca da eleição, uma característica própria à sintaxe cristã primitiva quando faziam uso da língua grega. O dativo preposicionado ‘em Cristo’ tornou-se o mesmo que ‘nova criatura’, pois ‘aquele que está em Cristo, nova criatura é’ ( 2Co 5:17 ).
O apóstolo Paulo disse que os cristãos foram eleitos ‘em Cristo’, portanto, não é segundo a presciência, o que nos remete a ‘santificação do Espírito’.
A santificação do Espírito ocorre pela palavra do evangelho, ou seja, ’em santificação do Espírito’ (santificação pela palavra), pois Cristo é o Verbo de Deus, a palavra da vida encarnada, pois as palavras de Cristo são Espírito e vida “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida” ( Jo 6:63 ) e por intermédio da sua palavra Cristo santificou a sua igreja “Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra” ( Ef 5:26 ).
A comunhão do corpo de Cristo promove a eleição, e a conotação do termo ‘proginwskw’ refere-se ao fator preponderante na eleição, pois a eleição fundamenta-se em Cristo, visto que só há uma geração eleita. A união do homem com Cristo na sua morte e ressurreição é o fator que distingue um indivíduo específico do restante da humanidade.
Os cristãos são eleitos em Cristo, ou seja, através de uma íntima comunhão com Deus, pois aqueles que O amam, Deus tornou-se um com eles, ou ‘antes’, foram ‘conhecidos’ d’Ele em função da comunhão íntima estabelecida em Cristo. A descendência de Cristo Deus predestinou desde os tempos eternos para ser conforme a imagem de Cristo. Todos que ‘conheceram’, ou seja, que estão em comunhão plena com Deus tendo por base o seu amor, que é Cristo, além de serem salvos da condenação herdada de Adão, também foram predestinados a serem conforme a imagem de Cristo. Deste modo, o apóstolo Pedro escreveu aos eleitos que estavam dispersos em várias regiões da Ásia e Europa, pessoas que foram santificadas em função de crerem nas palavras de Cristo.
É importante destacar que o significado de προγινωσκω (pré-conhecer) não tem de per si conotação teológica, pois o termo em todas as passagens bíblicas quando isoladas do texto significa estritamente “saber algo previamente”, “conhecer o fato de antemão”.
O maior problema para a leitura de passagens bíblicas como Romanos 8:29 e 1Pedro 1:2 se deve as propensões teológicas dos tradutores, pois alguns querem dar ao termo ‘proginwskw’ o um sentido determinista, e outros o sentido de conhecimento prévio.
Para interpretar o texto é necessário certo distanciamento do pensamento e do debate teológico que foi produzido ao longo dos tempos. É necessário considerar outras passagens bíblicas, o que dará elementos para definirmos um significado seguro ao termos traduzido por presciência.
Por não levarem em consideração o mistério que há na igreja, em que os crentes constituem um só corpo em Cristo, e que em função desta comunhão íntima foram escolhidos para serem santos e irrepreensíveis – destinados a serem filhos de Deus para que Cristo seja primogênito entre muitos irmãos – muitos teólogos não veem no termo conhecer o sentido de comunhão íntima.
Se conhecessem que é imprescindível ter comunhão com Deus para ser nomeado ‘eleito’, certamente perceberiam que o termo γνωσθέντες ganhou um novo valor semântico no contexto dos evangelhos e das cartas, como é o valor semântico de Rm 11:2, Rm 8:29 e Gl 4:9: ‘dantes conheceu’ ou ‘antes conhecidos’.
Os cristãos são designados eleitos por causa da fé, ou seja, porque seguem a Cristo, a fé manifesta ( Gl 3:23 ). Tornaram-se eleitos por receberem a fé, de modo que o termo ‘eleito’ está intimamente ligado à fé, à palavra da verdade, pois demanda obediência por parte do homem para que seja aspergido o sangue de Cristo ( Tt 1:1 ).
Em Romanos 9, verso 23, o apóstolo Paulo utiliza o termo προετοιμαζω para demonstrar que os cristãos são vasos de honra, preparados de antemão para a glória “Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou” ( Rm 9:23 ). O versículo demonstra que os cristãos servem para tornar conhecida, evidente, palpável, etc., a riquezas da glória de Deus.
Ora, pela misericórdia de Deus os crentes alcançam salvação, já as riquezas da glória refere-se as benesses que os cristãos herdam por serem participantes do corpo de Cristo, ou seja, as riquezas da glória refere-se ao eterno propósito estabelecido em Cristo “Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus” ( Ef 2:7 ).
Os vasos de misericórdia foram preparados com antecedência? Ora, a exposição do apóstolo Paulo não enfatiza através da figura dos vasos como e quando são confeccionados. A ênfase da abordagem das figuras dos vasos está na destinação dos vasos, sendo que os vasos de misericórdia estavam desde sempre destinados (de antemão) à glória, e os vasos da ira à perdição eterna.
Como a glória é pertinente a Deus, os vasos são preparados para evidenciar a glória de Cristo, que após ressurgir dentre os mortos tornou-se o primogênito de Deus, e os vasos de hora os muitos irmãos pelos quais Cristo tornou-se primogênito.
Os vasos para ira são confeccionados em Adão, pois os descendentes de Adão são filhos da ira, filhos da desobediência. Já os vasos da misericórdia são todos quantos forem chamados dentre os judeus e gentios e aceitam a misericórdia de Deus, e como vasos são destinados à glória de Deus, portanto, vasos para honra.
Em Romanos 11, verso 2, o termo προέγνω é utilizado com relação ao povo de Israel. Lembrando o que diz Strong, temos:
‘4267 προγινοσκω proginosko de 4253 e 1097; TDNT – 1:715,119; v 1) ter conhecimento de antemão 2) prever 2a) daqueles que Deus elegeu para a salvação 3) predestinar’.
Quando lemos: “Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo:” ( Rm 11:2 ), em que sentido Deus ‘antes conheceu’ o seu povo?
Ora, seria sem sentido o apóstolo Paulo dizer que Deus teve ‘conhecimento de antemão’, ou que ‘previu’ o seu povo, visto que Ele é onisciente e, nada há que não soubesse desde a eternidade, portanto, não há em Deus a necessidade de antever o futuro, pois desde sempre todas as coisas estão nuas e patentes aos seus olhos.
Por outro lado, não há como considerar que Deus tenha escolhido ou predestinado Israel para a salvação, pois o próprio contexto demonstra que eles não alcançaram a salvação, visto que ser descendente da carne de Abraão no concede ao homem ser filho de Abraão ( Rm 9:7 -8; Rm 10:1 ).
Se o termo πρόγνωσιν indicasse eleição e predestinação para salvação em 1Pe 1:2, consequentemente, em Rm 11:2 teríamos que admitir que Israel foi eleito e predestinado para salvação, porém, certo é que Israel foi eleito e predestinado para trazer o Cristo e não para a salvação.
Conhecer, predestinar, chamar, justificar e glorificar
Em Romanos 8, verso 29, no que consiste ‘dantes conhecer’?
“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” ( Rm 8:28 -30).
Para compreender estes três versos, temos que relembrar que ‘aqueles que amam a Deus’ são os que cumprem os seus mandamentos “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele” ( Jo 14:21 ). O amor neste verso não é devoção, afeição, sentimento. Os que amam são aqueles que cumprem o mandamento de Deus.
E qual é o mandamento de Deus para que o homem possa cumprir? O evangelista João responde: “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” ( 1Jo 3:23 ).
Todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que ‘creem em Cristo’, pois crer em Cristo é ‘obedecer ao mandamento de Deus’ e ‘amá-Lo’.
Entretanto, os que amam a Deus crendo em Cristo são aqueles que são chamados segundo o propósito de Deus. O que isto significa? Os ‘chamados’ (kletos) neste verso decorre do exposto no capítulo 1, versos 6 à 8 da carta aos Romanos: “Pelo qual recebemos a graça e o apostolado, para a obediência da fé entre todas as gentes pelo seu nome, Entre as quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo. A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” ( Rm 1:6 -8).
O apóstolo Paulo foi nomeado (chamado) apóstolo porque fora separado para anunciar o evangelho de Deus ( Rm 1:1 ), e os cristãos, por sua vez, são nomeados (chamados) santos, porque são amados de Deus, ou seja, condição distinta da dos filhos da ira, dos filhos da desobediência.
Ora, o apóstolo Paulo era servo de Jesus, o Jesus que havia sido prometido pelas Escrituras ( Rm 1:2 ). O apóstolo recebeu de Cristo a graça (salvação) por amar o nome de Jesus, ou seja, por crer n’Ele e, respectivamente o apostolado (missão) para que todos os gentios também obedecessem a fé (evangelho) que se manifestou ( Rm 1:5 e Gl 3:23 ).
A missão de Paulo era apregoar a ‘obediência da fé’ entre todos os gentios, o que incluía também os cristãos de Roma, apesar do dissabor de não ter tido a boa ocasião demonstrada no verso 10 e 13. Ora, os cristãos de Roma foram chamados (convocados) como os demais gentios a pertencerem a Cristo, ou seja, para pertencer a Cristo é necessário amá-Lo obedecendo à fé.
Aqueles que obedecem à fé pertencem a Cristo e são guardados por Ele ( Jd 1:1 ). Judas demonstra que aqueles que são ‘preservados para Jesus Cristo’, ou seja, guardados, significa que o Pai os salvaguardou porque estão em união com seu Filho, são membros de seu corpo.
‘Chamado’ como adjetivo κλητοις (klêtois) não significa chamamento, convocação, antes descreve alguém na qualidade de ‘convidado’. Neste sentido, ‘chamados’ é um sinônimo de cristão, ou outro nome que se nomeia os santos.
Ora, o apóstolo Paulo no verso 29 de Romanos 8 demonstra que os que amam a Deus são os convidados de Deus (klêtois) segundo o Seu propósito. E significa que neste verso, o chamado ao propósito de Deus decorre da obediência ao mandamento de Deus, que é crer em Cristo.
O ‘convite’ que há no evangelho é um mandamento que demanda obediência: ‘Entrai pela porta estreita’, e após obedecer ao mandamento de Deus o homem faz parte do seu propósito na qualidade de convidado.
O apóstolo Paulo alcançou a graça da salvação por crer em Cristo e todas as coisas concorriam para o bem dele, até mesmo as perseguições e o espinho na carne. Assim como o apóstolo Paulo após receber a graça pela obediência (amor) ao nome de Cristo foi nomeado apóstolo, posto que foi separado para anunciar o evangelho, os cristão são designados ‘chamados’, ‘convidados’, porque foram separados para serem participantes do propósito de Deus em Cristo.
Mas, o que é o propósito do qual o cristão é participante na condição de convidado (klêtois)? O propósito refere-se à preeminência de Cristo sobre todas as coisas “E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” ( Cl 1:18 ).
Para estabelecer a preeminência de Cristo, Deus constituiu um corpo, a igreja, do qual Cristo é a cabeça. Além de Cristo ser o princípio ( Jo 1:1 ), passou a ser o primogênito dentre os mortos, visto que a igreja é constituída de homens que morreram, foram sepultados com Cristo e ressurgiram com Ele. O propósito de Deus é convergir em Cristo todas as coisas ( Ef 1:9 e Ef 3:11 ).
Ora, os que amam a Deus são os que conhecem a Deus, ou antes, são conhecidos d’Ele, e foi justamente os que Deus ‘conheceu’ (comunhão íntima) que foram destinados a serem conforme a expressa imagem de Cristo, pois este é o propósito de Deus: Cristo, o primogênito entre muitos irmãos ( 1Jo 5:3 ; 1Jo 2:3 ).
Só conhece a Deus aquele que guarda os seus mandamentos, portanto, só conhece a Deus, ou antes, só é conhecido de Deus aquele que crê em Cristo. Ora, conhecendo o homem a Deus, ou seja, em comunhão íntima e amorosa com Deus o homem é klêtois ao seu propósito. Estando previamente em comunhão íntima com Deus, ou seja, previamente conhecendo a Deus (dantes conheceu), não há outro destino para o cristão: será conforme a imagem do seu Filho, pois há a necessidade de muitos irmãos para que Cristo figure como primogênito.
Os que Deus previamente conheceu também:
Glorificou – o ato da ‘glorificação’ está no pretérito, diz de um evento já ocorrido para aqueles que ‘previamente’ Deus ‘conheceu’: ‘… a estes também glorificou”. O verbo ‘glorificou’ decorre do exposto no verso 17, do capítulo 8: “E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados”. ‘Glorificou’ refere-se à ressurreição com Cristo, conforme Colossenses 3, verso 1, e não diz da ‘glorificação’ futura que se dará quando o que é mortal se revestir da imortalidade, ou seja, da adoção “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus (…) Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória” ( Cl 3:1 -3; Rm 8:23 ).
Neste verso estar ‘glorificado’ é o mesmo que estar ‘ressurreto’ com Cristo, e não diz da glorificação futura quando o cristão será manifesto com Cristo em glória. Através do termo ‘glorificou’ no pretérito, o apóstolo aponta uma condição própria aos cristãos enquanto na carne, ou seja, antes que sejam revestidos da incorruptibilidade na vinda de Cristo em glória ( 1Co 15:53 ). ‘Glorificou’ é o mesmo que ‘ressurretos com Cristo’, ‘compartilhando da glória de Deus’, ‘assentados nas regiões celestiais’, etc! Desta verdade decorre o estar assentado nas regiões celestiais em Cristo ( Ef 1:3 ), pois Cristo nos concedeu da sua glória ( Jo 17:22 ).
A interpretação do termo ‘glorificou’ decorre do verso 17, visto que, ser ‘glorificado’ concede aos cristãos a condição de filhos, pois os cristãos padeceram com Cristo (morreram) e foram glorificados com Ele (ressurgiram) “E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” ( Rm 8:17 ; Fl 3:10 );
Justificou – ‘justificou’ refere-se ao ato de Deus criar o justo e declarar esta nova criatura justa. O novo homem que ressurgiu com Cristo em função de ter morrido com Cristo é declarado justo, diferente da velha criatura que foi gerada segundo o pecado, que jamais é declarada justa. Para que Deus seja justo e justificador, primeiro o homem precisa morrer com Cristo, pois só aquele que está morto está justificado do pecado. Neste ponto evidencia-se que Deus é justo, pois a alma que pecar esta deve morrer. E em consequência da morte com Cristo, o homem é sepultado e, em seguida, através do poder de Deus, é criado um novo homem, ressurreto, glorificado com Cristo, pois para isso Cristo ressurgiu, para a justificação do homem. Neste quesito evidencia-se que Deus é justificador, pois declara justo o novo homem criado em verdadeira justiça e santidade. O velho homem jamais é justificado por Deus, pois Ele mesmo disse que não justifica o ímpio, porém quando Ele cria o novo homem em verdadeira justiça e santidade, este novo homem é declarado justo, pois Deus declara justo somente o justo ( Ef 4:24 ; Cl3:1 -3);
Chamou – O ‘chamado’ expresso neste verso no pretérito perfeito ‘chamou’, não diz do convite à salvação. O ‘chamado’ deste verso não diz e nem se estende aos homens quando perdidos em delitos e pecados, antes diz da eleição em Cristo. Enquanto no verso 29 o chamado é klêtois, neste verso os chamados é eklektos, ou seja, Deus elegeu, escolheu aqueles que previamente conhecerem a Deus, e que, portanto, já havia sido glorificados e justificados.
Este chamado (eklektos) é para os que previamente conheceram a Deus por serem um com Cristo, e tem em vista o propósito eterno de Deus, que já demonstramos, é fazer Cristo preeminente em tudo. Os cristãos por estarem em Cristo foram eleitos para serem santos e irrepreensíveis diante de Deus ( Ef 1:4 ). Antes da fundação do mundo, Deus elegeu a descendência de Cristo como santa e irrepreensível diante d’Ele, portanto, todos que são nova criaturas são eleitos de Deus, santos e inculpáveis ( 1Pe 2:9 ).
Os eleitos que previamente Deus conheceu são aqueles que amam a Deus, ou antes, são aqueles que primeiramente Deus amou ( 1Jo 4:19 ). Neste verso os eleitos são aqueles que amam a Deus, ou seja, que são conhecidos d’Ele, e não se pode confundi-los com os ‘muitos chamados e poucos escolhidos’ ( Mt 20:16 );
Predestinou – o termo predestinar significa destinar com antecedência, destinar de antemão. Com relação aos cristãos, por estarem unidos a Cristo, todos foram destinados desde antes da fundação do mundo a serem conforme a imagem de Cristo. Deus estabeleceu antes dos tempos dos séculos que, a geração de Cristo haveria de ser constituída de filhos para louvor e glória da sua graça e que todos seriam conforme a expressa imagem de Cristo ( Ef 1:5 ). E significa que, todos que creem em Cristo não possuem outro destino possível: são constituídos filho de Deus e serão semelhantes a Cristo na adoção ( 1Jo 3:2 );
O propósito – O propósito de Deus foi estabelecido em si mesmo, e por isso mesmo é um propósito eterno ( Ef 1:9 ). Na eternidade Deus propôs estabelecer a sua palavra acima de todo o seu nome e, para isso, enviou a sua palavra ao mundo. Após a sua palavra ter cumprido tudo que lhe era aprazível, constituiu Cristo preeminente em tudo, o Verbo que se fez carne, o nome que é sobre todo o nome ( Ef 3:11 ; Sl 138:2 ; Fl 2:9 ).
O apostolo Paulo deixa claro que os cristãos sabiam que todas as coisas juntamente contribuíam para o ‘bem’ daqueles que amam a Deus. Sem entrar no mérito do que é ‘bem’ e ‘bom’, certo é que ‘os que amam a Deus’ são aqueles que guardam os seus mandamentos, e o mandamento de Deus é especifico: que creiam naquele que Ele enviou ( 1Jo 5:3 ; 1Jo 3:23 e 1Jo 4:16 ).
Quem crê em Cristo ama a Deus, e quem crê é chamado segundo o propósito que Deus estabeleceu: Cristo preeminente em tudo.
Quando o apóstolo Paulo diz que tudo contribui juntamente para o bem dos que amam a Deus, significa que tudo concorre para o bem daqueles que creram em Cristo, que singularmente é o mesmo que ‘conheceram’ a Deus “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor” ( 1Jo 4:8 ).
Ora, os que ‘amam a Deus’ são os mesmos que foram ‘chamados’ segundo o propósito de Deus, ou vice-versa: os chamados são os mesmos que amam. Tautologicamente (lógica), ser ‘conhecido de Deus’ e ‘cumprir os seus mandamentos’ é o mesmo que ‘amar a Deus’. ‘Cumprir o mandamento de Deus’, que é ‘crer em Cristo’, torna o homem ‘conhecido de Deus’ devido à comunhão íntima, que remete ao vínculo perfeito estabelecido entre Deus e os homens: os cristãos em Deus e Deus neles em virtude do mandamento e da obediência.
O capítulo 8 de Romanos enfatiza que o cristão definitivamente está em Cristo e andam segundo o Espírito ( Rm 8:1 ; 4 e 9), pois Deus os estabeleceu como casa espiritual e passou a habitar os que creram ( Rm 8:11 ). Quando o apóstolo enfatiza que os cristãos foram ‘conhecidos’, ele tem em mente a união dos cristãos com Cristo, ou seja, a unidade do corpo e do Espírito no vínculo da paz, pois só há um corpo e um só Espírito, um só chamado e uma só esperança ( Ef 4:3 -6), de modo que nada separará o cristão do amor de Deus. ‘Conhecer’ demonstra uma união indissolúvel entre Cristo e a igreja, que em última instância só é possível aos que creram ( Rm 8:35 e 39).
Lembrando que o propósito eterno de Deus foi estabelecido sobre Ele mesmo ( Ef 1:9 ; Ef 3:11 ), pois Ele quis, segundo o conselho da sua vontade, promover a sua palavra acima de todo o seu nome ( Sl 138:2 ), por isso o Seu Filho unigênito foi encarnado, morto, ressurreto e assumiu a posição de primogênito entre muitos irmãos.
Os irmãos de Cristo serão semelhantes a Ele, e sendo o corpo (igreja) constituído por semelhantes a Ele, Cristo como cabeça é maior, preeminente entre os seus semelhantes ( 1Jo 3:2 ). Entre os sublimes Cristo é o mais sublime, pois foi do agrado do pai engrandecer “Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime” ( Is 52:13 ). Cristo, o servo do Senhor, é o sublime, porém, na sua exaltação tornou-se mui sublime, pois é a cabeça dos sublimes!
Dentre todas as criaturas de Deus, os ressurretos dentre os mortos ocuparão o mais alto posto da hierarquia dos seres celestiais, entretanto, Cristo ocupará a posição mais elevada. Para que o Verbo de Deus alcançasse posição superior a todos os nomes, Deus estabeleceu na eternidade que, todos os gerados de novo pela fé em Cristo Jesus seriam destinados a serem filhos por adoção ( 1Pe 2:9 ).
Deus propôs na eternidade que os regenerados (ressurretos) dentre os filhos de Adão não teriam outro destino: seriam constituídos filhos de Deus por adoção ( Cl 3:1 ). Há uma enorme diferença entre ser predestinado para ser salvo e predestinado para ser filho. Enquanto a ideia da predestinação para salvação contraria a justiça de Deus, predestinar a geração do último Adão (Cristo) para serem conforme a imagem do seu Filho demonstra a base do propósito eterno.
Somente os salvos, da nova aliança, são declarados filhos de Deus pela ressurreição de Cristo dentre os mortos, pois fazem partem da igreja, o corpo de Cristo, sendo eleitos e predestinados para serem conforme a imagem de Cristo, de modo que somente os crentes em Jesus serão semelhantes a Ele. É por isso que o apóstolo Paulo diz que toda a criação geme na expectativa da revelação dos filhos de Deus, pois na adoção serão todos os cristãos semelhantes a Cristo ( Rm 8:21 ). A esperança dos salvos durante a Antiga Aliança é terrena, e a esperança do salvos na dispensação da graça é celestial.
Para o homem ser conforme a imagem do Filho é essencial que esteja dentro do rol de predestinados e, para ser predestinado é necessário primeiramente ‘conhecer’ a Deus, ou seja, ‘dantes ser conhecido’ d’Ele. Em outras palavras: “Aquele que não ama não conhece a Deus (…) Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro” ( 1Jo 4:19 ), ou seja, Deus primeiramente se deu a conhecer ao enviar o seu Filho e dar o seu mandamento (amor) e, todos que creem no amor que Deus nos têm, passa a ser um com o Pai e o Filho, pois foi Deus que propôs em Si mesmo unir-se ao homem para constituir o Cristo primogênito entre muitos irmãos semelhantes a Ele.
Quando o homem crê em Cristo, cumpriu o mandamento de Deus, ama a Deus e conheceu a Deus, tendo comunhão com o Pai e o Filho. Quando passou a ‘conhecer’ a Deus, o homem é computado no rol dos predestinados a filhos, pois de antemão, antes dos tempos dos séculos, Deus determinou que, todos os que cressem em Cristo seriam semelhantes a Cristo.
Ou seja, Deus não predestinou alguns perdidos a serem salvos, antes estabeleceu na eternidade de antemão que aqueles que se tornassem um com Cristo, também haveriam de ser conforme a imagem de Cristo.
O texto de primeira João 4, verso 19 comparado ao de Gálatas 4, verso 9, por dedução lógica, nos leva a concluir que o termo ‘previamente conheceu’, ou ‘dantes conheceu’ em Romanos 8, verso 29 faz referência ao resultado da regeneração em Cristo, pois somente os nascidos de Deus são conhecidos por Deus, somente os de novo gerados tem comunhão intima, somente a nova criatura tem comunhão com o Pai e o Filho “Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” ( 1Jo 4:7 ; Cl 2:2 ; Ef 3:19 ).
Na salvação, quem tem perfeita comunhão com Deus é nascido e conhece a Deus, porém, quando falamos do propósito eterno, há que se fazer referência a um ‘conhecimento’ prévio, visto que, só é predestinado a ser conforme a imagem de Cristo os que primeiramente foram gerados de novo.
Por outro lado, Deus amou a humanidade primeiro, visto que o seu amor foi manifesto em Cristo ( 1Jo 4:9 ). Ele nos amou porque enviou Cristo, e não que o homem o tenha amado ( 1Jo 4:10 ). Agora, cada cristão em particular que está em Cristo, o amor de Deus manifesto, está em Deus e Deus nele ( 1Jo 4:16 ), pois comungamos da palavra de Cristo ( 1Jo 3:24 ). Quando se esta em Deus e Deus no homem, tem-se perfeita comunhão, o que exclui o medo ( 1Jo 4:17 -18). Conclui-se então que, os que creem amam a Deus porque Deus os amou primeiro, pois primeiro é o mandamento para que haja a obediência. Sem a fé é impossível obediência, portanto é necessário a pregação da fé para que os homens obedeçam ( Rm 8:39 ; Rm 1:5 ; Gl 3:23 ).
A palavra traduzida por primeiro deve ser considerada, não somente na questão cardinal, pois o contexto quer demonstrar segurança. Quando João diz que Deus ‘primeiro’ conheceu, ele quer contrastar a segurança do evangelho com a impossibilidade da velha aliança ( 1Jo 4:9 -19).
Em que ‘Deus nos amou’ deve se firmar a confiança do crente ( 1Jo 4:17 ). O termo traduzido por ‘aperfeiçoar’ o amor remete à confiança plena, obediência, o que exclui o temor, pois há segurança no fato de Deus se dispor em sacrificar o seu próprio Filho para estar unido ao homem quando estes ainda eram pecadores ( Rm 5:8 ).
O que entender por ‘primeiro’ no verso seguinte? “Com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo” ( Ef 1:12 ). Quantos ‘primeiro’ existem? É possível mais de um primeiro? Ora, o verso aponta para os discípulos? Diz dos apóstolos? Dos cristãos em Éfeso? É certo que os cristãos de Éfeso não são os primeiros, pois antes deles houveram muitos outros cristãos.
O povo de Israel não foram os primeiros, antes somente os participantes da igreja são os primeiros que se refugiaram em Cristo, de modo que ‘os primeiros’ perde a conotação cardinal e passa a contrapor os ‘derradeiros’ que é Israel, evidenciando a condição privilegiada da igreja: “E eis que derradeiros há que serão os primeiros; e primeiros há que serão os derradeiros” ( Lc 13:30 ).
O termo traduzido por ‘primeiro’, ‘antes’, ‘dantes’, ‘antemão’, em alguns contextos remete à segurança em Cristo, a ‘fé’ manifesta ( Gl 3:23 ), pois Ele “…, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios…” ( Rm 5:6 ). Se o crente creu em Cristo, tem por segurança o fato de que Cristo morreu a seu tempo (primeiramente) pelos ímpios, o que remete a segurança expressa em Romanos 5, verso 10: “Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida”; “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” ( Rm 5:8 ).
Jesus demonstrou o porquê os derradeiros foram os escolhidos, contrastando-os com os primeiros que foram chamados: enquanto os últimos (igreja) receberam a Cristo e tornaram-se os primeiros, sendo predestinados e eleitos, segue-se que os primeiros (judeus) tropeçaram na pedra de tropeço, e foram postos por últimos, de modo que o critério para a eleição não foi por presciência e nem por soberania, mas por aquele que chama e disse: “Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente” ( Rm 10:21 ); “Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” ( Mt 20:16 ).
Se Israel tivesse ouvido a voz de Deus quando fugiram, seriam os eleitos ( Ex 19:6 ), porém, a incredulidade os arrojou de ter comunhão com Deus ( Ex 20:19 ).
A doutrina reformada erra por não distinguir ‘salvação’ do ‘propósito eterno de Deus’. Enquanto o propósito eterno é algo ‘egoístico’ visando o próprio Deus, a salvação é parte deste propósito, porém, certo é que Deus não salvará os homens indefinidamente.
Quando a Bíblia diz que é essencial que se ame ao próximo como a si mesmo ( Mc 12:33 ), tal princípio aplica-se a Deus, pois o seu projeto eterno visa a Si mesmo, e foi do seu agrado compartilhar tal propósito grandioso com os homens.
Ora, se os que amam a Deus são os que cumprem os seus mandamentos e, especificamente, os que cumpriram o seu mandamento é que foram conhecidos por Deus, e estes são os que foram chamados por causa do propósito que Deus estabeleceu em si mesmo, temos que, a maior garantia de que Deus predestinou os que cumpriram o seu mandamento a serem conforme a imagem de seu Filho está em que Ele nós amou primeiro enviando o seu Filho ao mundo. O apóstolo demonstra a segurança em Cristo pelos termos em que se deu a reconciliação: amor, comunhão ( Rm 5:10 ).
Esta garantia não vem expressa na doutrina calvinista e nem na arminianista (soberania ou presciência), pois ambas dizem que Deus escolheu e determinou algumas pessoas para serem salvas e outras à danação eterna antes que houvesse mundo, enquanto a Bíblia afirma que, quem quiser se salvar, basta entrar pela porta “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens” ( Jo 10:9 ).
A garantia de eterna redenção firma-se no fato de que, ‘nós’ que ‘primeiro’ esperamos em Cristo ( Ef 1:12 ), nos tornamos um com o Pai e o Filho, e os ‘derradeiros’ que buscavam interpor uma justiça própria não. Não por obras de justiça que houvéssemos feito, mas porque Deus nos amou sendo ‘nós’ ainda pecadores pelo fato de ter entregado o seu Filho ( Rm 5:8 ).
O verso 30, de romanos 8 serve para reafirmar a segurança quanto ao fato de o cristão fazer parte do que Deus propôs em Cristo. Os que nasceram de novo, único modo de ‘conhecer’ a Deus (1Jo 4:7 ), estão destinados a serem conforme a imagem de Cristo, pois somente assim Cristo é o primogênito entre muitos irmãos (predestinação) e o propósito eterno é levado a cabo.
Neste verso o chamado é a eleição. A geração de Cristo é a geração eleita, pois na eternidade foi elegida, nomeada segundo o propósito de Deus, o que contrasta com a geração de Adão, que foi rejeitada. A geração eleita é a que foi convocada (chamada) para ser conforme a imagem do Primogênito de toda a criação.
Mas, para que o homem segundo a geração de Adão fosse chamado segundo o propósito eterno e predestinado a ser conforme a imagem de Cristo, primeiro foi necessário Deus justificá-lo. Ora, o único meio do homem ser justificado é ressurgindo dentre os mortos com Cristo (glorificado).
Com base no seguinte verso: “Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos” ( Rm 6:8 ), podemos afirmar que o cristão foi justificado, pois aquele que está morto está justificado, e Jesus ressurgiu dentre os mortos para a nossa justificação, certamente ressurgimos com Ele ( Rm 6:7 e Rm 4:25 ).
O apóstolo demonstra que, todos que amam a Deus, ou seja, que creram em Cristo, foram glorificados (ressurgiram com Cristo), e em seguida declarados justos (pois foram criados em perfeita justiça e santidade) e, em decorrência desta nova condição foram chamados para fazer parte do propósito eterno, uma vez que não há outro destino para os que estão em Cristo: são filhos por adoção para que Cristo seja o primogênito de Deus entre muitos irmão.
Outro quesito quanto à interpretação do texto decorre da ordem dos eventos apontados no verso 30. Embora que costumeiramente muitos entendem que a ordem correta é:
1) predestinar; 2) chamar; 3) justificar, e; 4) glorificar;
A ordem correta é:
1) glorificou (ressurreição com Cristo); 2) justificou (nova criatura é criada e declarada justa); 2)chamou (propósito eterno em Cristo), e; predestinou (conforme a imagem de Cristo).
Só é possível ser justificado após ter sido ressurreto com Cristo (glorificado), e só é chamado ao propósito eterno os que foram justificados, pois Deus determinou de antemão (predestinou) que os gerados de novo em Cristo seriam filhos por adoção para que Cristo se tornasse o primogênito entre muitos irmão.
Uma peculiaridade dos escritos paulinos, é que ele O apóstolo Paulo geralmente aborda primeiro a condição e as bênçãos que é pertinente aos cristãos no tempo presente, e depois ele regride no tempo contrapondo a antiga condição dos cristãos quando sob a égide do pecado.
Deste modo, conclui-se que o termo “dantes conheceu” (προέγνω) empregado em Romanos 8, verso 29 não possui qualquer ideia de determinismo, seja segundo a onisciência ou a onipotência de Deus, antes refere-se a união intima entre o crente e Cristo. No termo προέγνω há a ideia de ser um só corpo, unido a Deus por intermédio do corpo de Cristo.
Já o termo πρόγνωσιν (pré-conhecer) é diferente de ‘dantes conheceu’, pois se refere aos eventos que se deram com o Cristo em conformidade com o que havia sido anunciado previamente por Deus através dos profetas.
Bom dia,
Entenda o absurdo do suposto futuro real em ato. Suponhamos que Deus queira saber de algo no futuro. Como Ele fará? Você acha que Ele viajará no tempo e irá até o futuro para descobrir algo que Ele não sabia, voltar ao passado, e então nos relatar em profecia? Se assim for, responda: Quem colocou essa informação no futuro a fim de que Deus fosse até ela? Você certamente responderá: “O próprio Deus!”. Então eu te pergunto: Se Deus colocou tal informação no futuro, por que ele precisa ir até ela para relembrar o que ele mesmo já sabia? Ainda: Como pode Deus ter uma presciência seletiva, se Ele mesmo criou a informação que está no futuro? Começou a entender o absurdo que isso causa? É muito simples: Se o futuro existe em realidade, não há presciência seletiva. Se não há presciência seletiva, Deus sempre soube que o anjo X se tornaria o Diabo e que Adão e Eva pecariam. A crença de que o futuro existe em ato, e que Jeová viaja no tempo para lá e para cá, coloca Jeová no patamar de um E.T. intergaláctico viajante do tempo – é um absurdo!
Embora muitos não entendam, é importante deixarmos claro: o futuro não existe em ato. E, sendo isso verdade, Jeová não pode olhar para o futuro a fim de obter uma informação externa que ele não possuía. Ora, mas não é Jeová onisciente? Sim. Mas ser onisciente não significa ser capaz de ver o que não existe – isso é um absurdo lógico, assim como ser onipotente não significa ser capaz de fazer coisas logicamente impossíveis, como transformar um quadrado em circulo e ele continuar sendo um quadrado. (Deuteronômio 6:4, Hebreus 6:18) Assim como Jeová não pode criar alguém indestrutível e logo após destruí-lo, Ele também não pode ver em realidade, em ato, algo que não existe.
Portanto, o futuro não pode existir em realidade. E se o futuro não existe em realidade, Jeová tem 2 maneiras de saber o futuro:
•Por ler os eventos no presente e saber o que virá a seguir (causa e consequência);
•Por conduzir ou causar os eventos que Ele se propõe;
Att
Denis
Olá, Denis… O texto em questão não é arminianista, muito menos calvinista. Tive a impressão, pelo comentário, que vc entendeu que defendo o arminianismo. Só que não. Deus é onisciente, conhecedor de todas as coisas, quer do presente, passado ou futuro. Presciência não é atributo de Deus, antes um reducionismo da onisciência.
Por ler os eventos no presente e saber o que virá a seguir (causa e consequência); ??? permita entender? então Deus observaria o presente e iria prever o futuro (ação/ reação)? foi isso que entendi?
Se Deus não sabe o futuro relacionado a vida humana; como explicar que Deus sabe até quais são as palavras que ainda não sairam de nossa boca?
porque se for isso que quis falar, terei que discordar; pois a falha seria certa; pois cada ser humano reaje de forma diferente frente aos fenomenos; nisso entra a subjetividade humana.
quanto ao texto do autor, muito bom, parabens; mas não concordo que “presciencia” reduz a onisciência; a questão de tempo, passado, presente e futuro só está ligado ao reino dos homens, o campo espiritual é atemporal; para Deus, o que é futuro para nós, para Ele não é; simples assim.
Olá, Clayton.
Desculpe-me, mas o seu comentário não reflete o abordado no artigo. Destaco que não sou arminianista e nem calvinista, pois esses dois seguimentos são iguais no que propõe, apesar de ser apresentado ao mundo acadêmico como antagônicos.
Deus não trabalha com previsão, no sentido de conhecer eventos do presente a tal ponto de prever eventos futuros.
Deus conhece o presente, o passado e o futuro igualmente, bem como todos os eventos da eternidade.
Isto posto, Deus conhece objetivamente todos os indivíduos no seu mais profundo, ou seja, a subjetividade humana.
Outro equivoco, não digo que a presciência reduz a onisciência. Na verdade, Deus é onisciente, e ponto. A presciência é um subterfúgio humano para fazer referencia a ideia de que Deus de ante mão conhece eventos futuros, sendo que na onisciência o futuro já está englobado.
O que eu disse foi: propor a ideia de presciência é um reducionismo da onisciência. Aquele que é onisciente não precisa ser presciente, pois o onisciente é onipresente, portanto, não há nada que escapa ao seu conhecimento.
O termo presciência na Bíblia geralmente é utilizado para fazer referencia aquilo que Deus antecipou aos homens por intermédio dos seus profetas, e não, como dizem alguns, que se refere a um conhecimento de eventos futuros.
Att.
Olá a todos.
Minha percepção e entendimento ao ler as escrituras, é que Deus é atemporal e não podemos colocar Ele preso a nossa temporalidade.
Para mim tudo o que ocorre em nosso passado, presente e futuro, Nele é simultâneo.
Ou seja, para Deus todas as coisas são presentes porque Nele não existe a linearidade do tempo.
Ele não precisa viajar nem para passado, nem para futuro. Ele É!