É assente entre alguns teólogos que Deus declara o homem ‘como se fosse’ justo por meio da fé em Cristo, ou seja, estabeleceram uma ressalva. Para alguns, e dentre eles destacamos o Dr. Scofield, ‘Deus declara o pecador como sendo justo’, ou seja, ele afirma que Deus ‘não torna o homem justo’.
Deus é justo e justificador
A palavra ‘justificação’ (Dikaiosis) quando empregada pelo apóstolo Paulo refere-se ao que é verdadeiro, da mesma forma que o salmista Davi utiliza a palavra ‘justificação’ (hitsdik) para fazer referência a Deus porque Ele é verdadeiramente Justo.
O apóstolo Paulo utiliza uma palavra grega que tem o mesmo sentido da palavra hebraica ‘justificação’ para fazer referência aos cristãos porque eles são verdadeiramente justos “…de modo que és justificado quando falas…” ( Rm 3:4 ; Sl 51:4 ). Os que creem são de novo criados em uma condição nova e específica: em verdadeira justiça e santidade ( Ef 4:24 ).
Os termos usados no Novo Testamento para justificação, no grego, são: Dikaios (justo); Dikaiosis (justificação, defesa, reclamação de um direito), e; Dikaioo (ter ou reconhecer como justo). No Velho Testamento o termo é hitsdik, que significa declarar judicialmente que alguém está em conformidade com a lei ( Ex 23:7 ; Dt 25:1 ; Pv 17:15 ; Is 5:23 ).
Quando Deus declara que o homem é justo, ou seja, justifica, declara o que é verdadeiro, pois Deus não pode mentir.
Por que a afirmação acima? Porque é assente entre alguns teólogos que Deus declara o homem ‘como se fosse’ justo por meio da fé em Cristo, ou seja, faz uma ressalva. Para alguns, e dentre eles destacamos o Dr. Scofield, ‘Deus declara o pecador como sendo justo’, ou seja, ele afirma categoricamente que Deus ‘não torna o homem justo’.
“O pecador crente é justificado, isto é, tratado como justo (…) A justificação é um ato de reconhecimento divino e não significa tornar uma pessoa justa…” Bíblia de Scofield com Referências, Rm 3:28 , pág. 1147.
Ora, Deus jamais declararia que o homem é justo, sendo que efetivamente não está na condição de justo. É inconcebível Deus declarar e tratar como justo aquele que Ele não torna justo. Como Deus poderia reconhecer algo que não é como se fosse?
Sabemos que Deus tem poder de chamar a existência as coisas que não são como se elas já fossem ( Rm 4:16 ), porém, jamais declararia como sendo justo o pecador “De palavras de falsidade te afastarás, e não matarás o inocente e o justo; porque não justificarei o ímpio” ( Ex 23:7 ).
Se Deus não justifica o ímpio, como é possível que o pecador seja declarado justo?
Bem afirmou o apóstolo Paulo, que ‘o justificado do pecado está morto’ ( Rm 6:2 -7). Se a primeira proposição é verdadeira, a segunda também o é, visto que a segunda depende da primeira.
Desta forma a palavra ‘justificado’ traduz uma ideia verdadeira, visto que, todos que creram morreram com Cristo.
Quando o apóstolo Paulo utiliza a palavra ‘justificação’, tem em mente algo que é verdadeiro, ou seja, aquele que está morto está plenamente justificado do pecado!
Se o velho homem foi crucificado com Cristo, quem é justificado (declarado justo) por Deus?
Sabemos que Cristo foi entregue por causa dos pecados da humanidade, e que, quando creem n’Ele, morrem e são sepultados.
Sabemos que Jesus ressurgiu dentre os mortos, e, que, com Ele os que creram ressurgiram “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus” ( Cl 3:1 ).
A ‘justificação’ (declaração de justo) recai sobre o novo homem que ressurge com Cristo dentre os mortos. Somente a nova criatura é declarada justa perante Deus, pois foi de novo criada em verdadeira justiça e santidade.
O pecador jamais será declarado justo, pois o velho homem, que é o pecador, será crucificado com Cristo “Pois sabemos isto, que o nosso velho homem foi com ele crucificado…” ( Rm 6:6 ). O pecador nunca será justificado perante Deus, antes morre através da cruz de Cristo.
O pecador que aceita o sacrifício de Cristo por meio da fé (evangelho) morre juntamente com Ele, e quando ressurge, ressurge uma nova criatura (criada) segundo Deus em verdadeira justiça e santidade. Este novo homem é declarado justo diante de Deus.
As palavras traduzidas por ‘justificar’ e ‘justificação’ significa ‘tornar justo’, ‘fazer justo’, ‘declarar justo’, ‘declarar reto’ ou ‘declarar livre de culpa e de merecimento de castigo’. Quando Deus cria o novo homem em verdadeira justiça e santidade, executa todas as ações descritas nos verbos acima.
Somente aquele que é criado justo pode receber esta declaração da parte de Deus, ou seja, só o novo homem, criado segundo Deus pode receber de Deus a declaração: este é justo.
“E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade…” ( Ef 4:24 ).
O novo homem criado por Deus, por meio de Cristo Jesus, ou seja, que ressurgiu dentre os mortos, é criado em verdadeira justiça e santidade, portanto, quando Deus o declara justo, fala do que é verdadeiro, de uma condição plena e efetiva hoje.
“Ele foi entregue por nossos pecados, e ressuscitou para a nossa justificação” ( Rm 4:25 );
“… porque aquele que está morto está justificado do pecado” ( Rm 6:7 )
Ao observar estes dois versículos, percebe-se que Jesus foi entregue por causa do pecado dos pecadores (se a humanidade não houvesse pecado, não haveria a necessidade de Cristo morrer), e ao morrerem com Ele, cumpre-se a justiça de Deus, visto que o pecador recebe o que está determinado pela justiça de Deus: a morte.
Em seguida, aquele que está morto é gerado de Deus e ressurge para a glória de Deus Pai, uma vez que, os que creem ressurgem com Cristo. Desta forma é justificado, ou declarado justo, pois para esse fim Cristo ressurgiu dentre os mortos: ‘ressurgiu para a nossa justificação’ ( Rm 4:25 ).
Se alguém não aceitar a argumentação de que os cristãos são de fato justos, deve concluir também que Cristo não ressurgiu. Se Cristo ressurgiu, é fato que os cristãos ressurgiram com Ele, e são declarados justos.
Quando o velho homem morre com Cristo, Deus é justo. Quando Deus cria o novo homem Ele é justificador. Sem contradição alguma: Ele é justo e justificador.
A Bíblia diz que todos quantos creem em Jesus recebem poder para serem feitos (criados), filhos de Deus. O velho homem foi crucificado, morto, sepultado e dentre os mortos ressurge um novo homem. Este novo homem é declarado justo.
Paulo expressou que ‘aquele que está morto para o pecado é justo diante de Deus’ porque a condição de morto para o pecado é o mesmo que estar ‘vivo’ para Deus. Aquele que é criado de novo por meio do evangelho, que é poder de Deus para todo aquele que crê, é justificado (declarado justo), pois é uma nova criatura criada em verdadeira justiça e santidade.
Pois isso mesmo Paulo declara: “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” ( Rm 4:25 ).
O homem que é declarado justo diante de Deus não é aquele que morreu, antes o que ressurgiu dentre os mortos, ou seja, a nova criatura gerada de novo em Cristo.
Quando o apóstolo Paulo fala que aquele que está morto está justificado do pecado, tem em mente a ideia do versículo seguinte: “Pois é Cristo quem morreu, ou antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós” ( Rm 8:34 ).
Quem está morto para o pecado, (ou antes) aquele que ressurgiu com Cristo foi justificado, ou seja, declarado justo perante Deus.
Alguns pensam que a declaração de justiça por parte de Deus há de se efetivar no futuro, e que, no presente, o homem só possui uma declaração do que posteriormente se dará. Não é assim a justificação.
“A justificação é uma declaração de Deus a respeito da condição da nova criatura perante Ele”
Todos quantos crerem recebem poder para serem feitos filhos de Deus, filhos nascidos não da vontade da carne, nem da vontade do varão ou do sangue. Estes são nascidos do Espírito, criados segundo Deus em verdadeira Justiça e Santidade ( Jo 1:12 -13).
Visto que, somente aqueles que nascem em justiça e santidade são verdadeiros, são declarados justos diante de Deus ( Ef 4:24 ). Deus é justificador daqueles que creem em Cristo.
O salmista só podia reconhecer os seus erros como forma de declarar a justiça de Deus. Qualquer homem não pode ir além do que fez o salmista.
Deus, porém, antes de declarar o homem justo faz algo extraordinário: a pena predeterminada é aplicada sobre os culpados (morte), gera uma nova criatura por meio do seu poder (o evangelho), e declara o novo homem justo diante d’Ele.
Através da justificação a multiforme sabedoria de Deus torna-se conhecida entre os principados e potestades!