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A Bíblia afirma que a humanidade alienou-se de Deus desde a madre, e que todos os homens andam errados desde que nascem e falam mentiras segundo os seus corações  ( Sl 58:3 ; Mt 12:34 ). Segundo o Salmo 53, verso 2, dentre os filhos dos homens, mesmo os inocentes, não há ninguém que tenha entendimento e que busque a Deus. Interessante é que nem mesmo as crianças são apontadas como exceção a regra.


Um inocente também é justo?

“Se eu em Sodoma achar cinquenta justos dentro da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles” ( Gn 18:26 )

O Problema

É comum a ideia de que uma pessoa ‘inocente’ é igualmente ‘justa’, como se estas duas palavras ‘inocente’ e ‘justo’ fossem sinônimas. Entretanto, do ponto de vista bíblico, estabelecer uma correlação de equivalência entre essas duas palavras ‘inocente’ e ‘justa’ não é correto.

A Bíblia ensina que ser inocente é o mesmo que ser justo? Uma criança recém nascida é ‘inocente’ e, igualmente ‘justa’? Um inocente pode não ser justo? Um ímpio pode ser inocente?

Analisemos algumas passagens bíblicas para chegarmos a uma conclusão.

 

As Crianças de Sodoma e Gomorra

Observe este diálogo entre Deus e o patriarca Abraão:

“Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra? Então disse o SENHOR: Se eu em Sodoma achar cinquenta justos dentro da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles.” ( Gn 18:25- 26 ).

Este diálogo é muito conhecido, porém, não se questiona: Havia pessoas inocentes nas cidades de Sodoma e Gomorra? Se os adultos não eram, ao menos as crianças das cidades de Sodoma e Gomorra eram inocentes, e por que elas também foram destruídas? Isso significa que as crianças, apesar de serem inocentes, eram ímpias, vez que foram destruídas?

Consideremos o que Deus disse a Abraão:

“Se eu em Sodoma achar cinquenta justos dentro da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles. ( Gn 18:26 ).

Deus garantiu a Abraão que, se houvesse dentro dos portões das cidades de Sodoma e Gomorra pelo menos dez justos, as cidades de Sodoma e Gomorra não seriam destruídas! ( Gn 18:32 )

Como bem sabemos, as cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas, e as três pessoas justas que haviam na cidade foram retiradas apressadamente de lá. Ao retirar Ló e suas duas filhas da cidade, Deus evidenciou que jamais destrói o justo com o ímpio, pois como juiz de toda a terra efetivamente Ele faz justiça e não trata os justos como se trata os ímpios ( Gn 19:16 ).

Após observar as garantias que Deus concedeu a Abraão “Não a destruirei por causa dos dez” ( Gn 18:36 ), e o resultado final, a destruição de Sodoma e Gomorra ( Gn 19:25 ), chega-se a seguinte conclusão: diante de Deus, a condição de ‘inocente’ não equivale a condição de ser ‘justo’. Se os inocentes de Sodoma e Gomorra fossem justos, ambas as cidades não seriam subvertidas, levando-se em conta que havia inúmeras crianças naquelas cidades.

Neste mesmo diapasão, o que dizer de milhares de crianças ‘inocentes’ que foram mortas no dilúvio, sendo que somente Noé e sua família foram declarados ‘justo’ por Deus? ( Gn 6:9 ; Gn 7:1 ; Hb 11:7 )

Que dizer dos filhos de Acã? Eles também eram ímpios, apesar de serem inocentes? ( Js 7:24 ). Os primogênitos do Egito, principalmente os recém nascidos, não eram inocentes? ( Ex 12:29 ).

Através destes eventos é possível determinar que, ser inocente não e o mesmo que ser justo, e vice versa.

 

Os inocentes

Geralmente a Bíblia utiliza a palavra ‘inocente’ para designar uma pessoa ingênua ou desavisada, como se lê:

“O avisado vê o mal e esconde-se; mas os simples passam e sofrem a pena” ( Pv 27:12 ).

Adão foi alertado das consequências decorrentes de comer do fruto a árvore do conhecimento do bem e do mal que estava no meio do jardim.

“Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” ( Gn 2:17 ).

O alerta divino acerca das consequências em ser participante da árvore do conhecimento do bem e do mal tornou Adão um ‘avisado’, ou seja, Adão já não era simples, e não poderia alegar ‘inocência’, caso comesse.

Por causa do alerta solene Adão deixou de ser ‘inocente’, porém, continuava sendo um homem justo e sem conhecer o bem e o mal. Enquanto permaneceu sem comer do fruto, Adão era livre de culpa, e após desobedecer, Adão deixou de ser justo e culpável, mas, no quesito conhecimento, passou a ser como Deus: conhecedor do bem e do mal.

Adão deixou de ser justo após desobedecer porque se sujeitou a pena estabelecida no mandamento. O que o tornou culpável diante de Deus não foi o fato de se tornar como Deus: conhecedor do bem e do mal, em decorrência de ser participante (comer) da árvore do conhecimento do bem e do mal, e sim por ter desobedecido e ter sofrido a penalidade estabelecida: certamente morrerás.

Se o avisado tem por obrigação se esconder por precaução, temos que Adão nunca foi inocente (simples), pois ele foi avisado por Deus do mau, mas resolveu por si mesmo passar (comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal), e, como consequência, sofreu a pena.

Quando lemos:

“Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.” ( Ex 20:7 ).

O texto evidencia que, após receber o alerta solene “Não tomarás o nome do Senhor em vão”, o avisado deixa de ser “simples”, e caso utilizasse o nome de Deus em vão, não mais seria considerado “inocente”, no sentido de ‘culpável’.

Devemos divisar o significado de “inocência”. Há o inocente por não ter conhecimento, desconhecer, e há o inocente por não ser sujeito de uma penalidade. Adão antes de desobedecer e se tornar conhecer o bem e o mal, era inocente por se livre da penalidade, mas não era inocente porqe não desconhecia as consequências de comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.

Salomão alertou mais de uma vez:

“O avisado vê o mal e esconde-se; mas os simples passam e sofrem a pena.” ( Pv 27:12 );

“O prudente prevê o mal, e esconde-se; mas os simples passam e acabam pagando.” ( Pv 22:3 ).

O aviso torna o homem apto para ver o mal, e este, por sua vez, deve se esconder. Em contra partida, o simples, o desavisado, o inocente, passa e sofre a pena! Por quê?

É comum os homens atinarem que o inocente jamais deveria ser sujeito de uma pena, mas a Bíblia evidencia que mesmo o simples não está livre de certa consequências por não ter relação direta com os eventos que se desenrolam a sua volta.

Projéteis (balas) de arma de fogo atingem crianças, uma consequência trágica que afeta alguém que é simples (inocente). Se alguém é alertado que está tendo um tiroteio, deve evitar transitar pelo local apontado, pois mesmo não tendo relação com o entrevero, poderá sofrer as consequências de não acatar o avido.

Mesmo os inocentes são passíveis de sofrer as consequências de ações que não foram suas. A ação de Adão em comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal atingiu toda a humanidade, não importando se criancinhas inocentes ou adultos, pois por causa da ofensa de Adão todos são ímpios diante de Deus e sofrem a pena: destituídos estão da glória de Deus.

 

Uma Criança pode ser considerada justa?

Após esta abordagem inicial, surgem várias perguntas: Como é possível uma criança não ser justa, se ela é inocente? Há uma idade que uma criança é considerada ímpia? Qual é a base da justiça de Deus para destruir juntamente crianças e adultos em Sodoma e Gomorra? Etc.

As alegações de Abraão são verdadeiras: “Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” ( Gn 18:25 ), pois Deus mesmo diz: “De palavras de falsidade te afastarás, e não matarás o inocente e o justo; porque não justificarei o ímpio” ( Ex 23:7 ).

  • O juiz de toda a terra faz justiça;
  • Ele faz distinção entre justos e ímpios;
  • Deus não mata o justo com o ímpio, e;
  • Deus não declara (justifica) o ímpio como se fosse justo.

Quando recomendou ao povo de Israel algumas questões de direito, Deus orientou para que guardassem da falsa acusação, e que a pena capital não devia ser aplicada tanto ao inocente quanto ao justo.

“De palavras de falsidade te afastarás, e não matarás o inocente e o justo; porque não justificarei o ímpio.” ( Ex 23:7 ).

Este verso estabelece uma diferença significativa entre justo e inocente, pois se ‘justo’ e ‘inocente’ fossem maneiras distintas de fazer referência a uma mesma condição, Deus não estabeleceria a distinção entre inocente e justo, ao dizer: não matarás o inocente e o justo ( Ex 23:7 ).

Tudo começou com Adão, o primeiro pai da humanidade. Através da ofensa de Adão, a humanidade lançou mão de uma condição miserável. Por causa da ofensa de um só homem, Adão, todos os homens foram feitos pecadores, e em um só evento, todos juntamente se desviaram de Deus e se fizeram imundos ( Sl 14:3 ).

Adão foi criado por Deus santo, justo e bom, ou seja, ele compartilhava da natureza de Deus. Adão existia em comunhão com a Vida e compartilhava da glória de Deus.

Apesar da bonança que cercava o primeiro homem, Adão foi avisado por Deus que, no dia em que comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal, que estava no meio do jardim, certamente haveria de morrer ( Gn 2:17 ).

Embora santo, justo e bom, Adão nunca foi inocente (ingênuo), pois foi alertado quanto as consequências de sua decisão.

“O avisado vê o mal e esconde-se; mas os simples passam e sofrem a pena.” ( Pr 27:12 ).

Adão foi avisado e não se escondeu do mal, ou seja, por ter sido avisado, ele já não era simples, ou seja, inocente.

Há diferença entre ‘inocência’, do ponto de vista da ingenuidade e pureza, e ‘inocência’, que é estado de quem não é culpado, significado que é próprio aos tribunais. Não podemos confundir os significados da designação ‘inocência’, pois é essencial para a interpretação bíblica.

Para o Dr. Scofield, no Éden existiu a dispensação da inocência, como se lê:

“O homem foi criado em inocência, colocado em um ambiente perfeito (…) e advertido das consequências da desobediência” Bíblia de Scofield com Referências, explicação a Gn 1:28 .

Ora, como foi alertado por Deus sobre as consequências de comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, Adão já não era mais ‘simples’ (inocente, ingênuo), embora não fosse culpado, segundo a linguagem utilizada nos tribunais hoje, Adão era ‘inocente’.

Deus criou o homem do pó da terra ( Gn 2:7 ), colocou-o no Jardim do Éden para lavrar e guardar ( Gn 2:15 ), e foi alertado por Deus quanto a árvore que estava no meio do jardim ( Gn 2:17 ). Adão foi criado puro (inocente, inculpável), santo e bom, e alertado (não mais inocente) quanto ao perigo de se comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.

Apesar de avisados, tanto a mulher quanto o homem preferiram dar ouvidos à serpente: “Certamente não morrereis” ( Gn 3:4 ). Não dar ouvidos (crédito) a palavra de Deus alienou (extraviou) o homem do seu Criador. Após atender a palavra de Satanás, o homem deixou de compartilhar da vida e da glória que há em Deus.

O Homem morreu conforme a palavra do Senhor ( Gn 2:17 )! A justiça divina não tardou: o homem foi julgado e apenado com a morte.

“Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens, para condenação…” ( Rm 5:18 ).

A morte é alienação de Deus. Por causa da lei santa justa e boa que diz: ‘… certamente morrerás’ ( Gn 2:17 ), o pecado encontrou ocasião na força da lei estabelecida por Deus, e, por ela, aprisionou o homem ( 1Co 15:56 ). Sem a lei que diz: ‘certamente morrerás’ ( Gn 2:17 ), não existia para o homem a possibilidade de alienação de Deus, ou seja, o pecado estaria morto ( Rm 7:8 ).

 

Os ímpios

Por que os infantes de Sodoma e Gomorra, mesmo sendo inocentes, mentalmente e fisicamente incapazes de fazerem o bem ou o mal, não foram poupados por Deus? Por que aquelas crianças não foram tidas por justas?

É fato: Deus prometeu que se houvessem dez justos nas cidades de Sodoma e Gomorra não a destruiria, porém, apesar de inúmeros inocentes, a cidade foi completamente destruída, o que nos deixa uma mensagem clara: diante de Deus aquelas crianças não eram justas, apesar de serem inocentes!

As cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas porque todos os homens foram formados em iniquidade e todos foram concebidos em pecado ( Sl 51:5 ).

O salmista Davi profetizou dizendo que todos os homens se desviaram e que juntamente se fizeram imundos ( 1Cr 25:1 ; Sl 53:3 ). Mas, onde e quando ocorreu o desvio, ou seja, a alienação da humanidade de Deus? Qual a idade que o homem passa a estar alienado de Deus?

A Bíblia afirma que os homens alienaram-se de Deus desde a madre, andam errados desde que nascem, e segundo os seus corações, falam mentiras ( Sl 58:3 ; Mt 12:34 ).

Dentre os filhos dos homens não há ninguém que tenha entendimento e que busque a Deus ( Sl 53:2 ), nem mesmo as crianças são apontadas como exceção a regra. Vale destacar que esse Salmo tinha por alvo os judeus, evidenciando que mesmo sendo descendentes da carne de Abraão, não eram exceção a regra.

Profeticamente o salmista Davi escreve uma oração ao Senhor que retrata o anseio do Messias:

“Ó Senhor, com a tua mão, livra-me dos homens do mundo, cuja porção está nesta vida. Enche-lhes o ventre da tua ira entesourada. Fartem-se delas os seus filhos, e deem ainda os sobejos aos seus pequeninos.” ( Sl 17:14 ).

Os ‘homens deste mundo’ referem-se a descendência da carne de Abraão, que em ultima instância eram filhos de Adão, e tudo que possuíam restringia-se a este mundo. A ira de Deus está reservada aos homens que detinha a justiça do evangelho em injustiça, conforme demonstra o apóstolo Paulo.

“Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça.” ( Rm 1:18 ).

A informação acima é de conhecimento geral, porém, o mais interessante é a informação a seguir: “Fartem-se delas os seus filhos, e deem ainda os sobejos aos seus pequeninos.” ( Sl 17:14 ).

Os filhos dos homens deste mundo também se fartarão da ira de Deus, e mesmo os seus pequeninos, sobejarão da ira entesourada por Deus.

 

Julgamento e Condenação

O apóstolo Paulo traz a lume que a humanidade foi julgada e está sob condenação: “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens, para condenação…” ( Rm 5:17 ), o que difere de qualquer sistema religioso, pois todas as religiões dão conta que o juízo de Deus ainda está por vir.

Através de uma única ofensa, Adão trouxe o juízo de Deus sobre todos os homens para condenação, ou seja, em Adão todos os homens se desviaram de Deus e juntamente se fizeram imundos ( Sl 53:3 ).

Todos os homens, sem exceção: homens e mulheres, crianças e velhos, ricos e pobres, judeus e gentios, etc., se tornaram imundos e sob condenação.

A ofensa  foi não crer na palavra de Deus que lhe preservaria a vida, o que  levou Adão a comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal e o tornou como Deus, conhecendo o bem e o mal. A ofensa se deu antes de Adão ter adquirido o conhecimento do bem e do mal, pois pela desobediência lanço mão do fruto, portanto, a condenação não depende da consciência, ou da capacidade do homem em realizar o bem e o mal.

Quando a Bíblia afirma que o homem é escravo do pecado, evidencia que, assim como os filhos de escravos eram escravos, todos os descendentes de Adão também foram feitos escravos. Não importa a idade ou condição social, se criança ou velho, uma vez descendente de Adão são escravos do pecado.

A escravidão era condição imposta a homens, mulheres, jovens e crianças, sem exceção, e da mesma forma o pecado sujeitou todos os homens. Não é porque as criancinhas de Sodoma e Gomorra não possuíam consciência e nem dispunham de condições para realizarem bem ou mal, que seriam justas. Embora inocentes, simples, as crianças de Sodoma e Gomorra sofreram a mesma pena imposta aos adultos, pois ao virem ao mundo já pesava sobre elas a condenação à perdição pelo fato de serem descendentes de Adão, e, portanto, servas do pecado (ímpios).

Que ação, que entendimento, que compreensão, ou qual a capacidade de um infante para nascer escrava? Bastava simplesmente nascer de pais escravos para muitas crianças serem escravas. Mesmo sem praticar qualquer ação ou omissão, as crianças descendentes de pais escravos se tornavam escravas, e neste aspecto, todos os descendentes de Adão se tornam escravos do pecado.

A condição de sujeição ao pecado é própria a todos os homens, e não se vincula as questões de méritos ou vícios. O apóstolo Paulo ao falar da condição do homem quando em sujeição ao pecado utiliza o vocábulo ‘doulos’, indicando escravidão em oposição à condição do homem livre, que é ‘eleutheria’.

‘Doulos’ é um termo que não trás em seu bojo conotação moral ou ética, e que data de um período histórico anterior a Sócrates, e que, portanto, seu significado era bem conhecimento do apóstolo. O apóstolo Paulo preferiu o vocábulo ‘doulos’ em lugar de ‘eleutheria’, o que demonstra que a escravidão ao pecado não depende de questões morais ou comportamentais.

‘Doulos’ possui sentido diferente de ‘enkráteia’, que é um conceito socrático, que introduziu na filosofia grega o conceito de liberdade ética. Este conceito estabelece a liberdade como possuidora de senhorio sobre a existência orgânica e psíquica do homem, indicando a virtude como sendo ‘conhecimento’ e fundamentando a liberdade do homem no conhecimento e na racionalidade: conhecer o bem implica praticá-lo.

Observe:

“Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues” ( Rm 6:17 ).

O homem é servo do pecado sem qualquer conotação moral, uma vez que o apóstolo dos gentios utiliza o vocábulo ‘doulos’ e despreza o termo ‘eleutheria’.

 

O Caminho Largo

Quando Jesus orientou os seus ouvintes a entrarem por Ele: “Entrai pela porta estreita” ( Mt 7:13 ), ou seja, que deveriam nascer de novo ( Jo 3:3 ), Ele também alertou acerca da porta larga.

Jesus é o último Adão, sendo necessário ao homem nascer de novo para ser participante da natureza divina ( 1Pe 1:2 e 22 -23 ; 1Co 15:45 ).

Entretanto, como primeiro não é o espiritual, senão o animal (o terreno), pois primeiro os homens carnais são gerados através da carne e o sangue. Segue-se que que Adão é a porta larga por quem todos os homens entram ao acessar este mundo. Adão é o primeiro Adão, a porta larga que todos entram ao vir ao mundo, e depois é necessário entrar pela porta estreita, que é Cristo, o último Adão.

“… porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela.” ( MT 7:13 );

“Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante.” (1 Coríntios 15:45).

Jesus alertou que a porta é larga e que o caminho que conduz à perdição é espaçoso. Ir à perdição não depende da vontade, da consciência, do conhecimento ou da vontade do indivíduo. O que conduz à perdição é o caminho largo que o homem se encontra após ter nascido segundo a vontade da carne, do sangue e da vontade do varão ( Jo 1:12 ).

De modo semelhante, é Cristo, o último Adão, o caminho que conduz o homem a Deus, e, portanto, é necessário nascer de novo para trilhar o novo e vivo caminho.

 

Conclusão

Deus destruiu Sodoma e Gomorra porque não havia dez justos naquelas cidades, e não há como esquecermos que haviam milhares de infantes que nelas habitavam.

Como Deus garantiu que não destruiria as cidades de Sodoma e Gomorra se houvesse nelas dez justos, e Ele acabou subvertendo Sodoma e Gomorra, conclui-se que, para Deus, aquelas crianças não eram justas, embora fossem inocentes (simples).

Devemos considerar que a palavra inocente no Antigo Testamento tem o sentido de alguém ‘simples’, ‘desavisado’, diferente do sentido que passou a predominar ao longo dos anos, devido aos tribunais, para designar alguém livre de culpa.

A ação de Deus no Antigo Testamento reitera a declaração do Salmista Davi, que diz:

“E não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente.” ( Sl 143:2 ).

O apóstolo Paulo reitera: “Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.” ( Rm 3:10 ), e ele não apresenta exceções, caso fosse diferente a condição dos infantes.

Em nenhuma das referências bíblicas excetuam-se as crianças, que embora sejam inocentes, diante de Deus, por causa da ofensa de Adão, são ímpias.

“Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida.” (Romanos 5:18).

Esta distinção entre ser “justo” e “inocente” se fez necessária porque muitos cristãos, embora admitam que a humanidade sem Cristo esteja condenada ao inferno por causa da natureza pecaminosa herdada de Adão, acabam considerando que os infantes não se enquadram neste quesito. Muitos cristãos entendem que os infantes não são suficientemente lúcidos e, por não possuírem consciência para diferenciar o bem do mal, ou por não poderem praticar uma ação ou omissão contrária a moral humana, que Deus não os condenaria a perdição eterna.

Tal posicionamento contraria totalmente a mensagem de Cristo, de que os homens são sujeitos do verbo ‘hamartia’, ou seja, pecam, porque são escravos do pecado, e não o contrário: são pecadores por causa de suas ações e omissões, ou por não terem consciência. Um servo do pecado é gerado na condição de pecado, estando ou não consciente, pois essa era a condição dos escravos.

“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado.” (João 8:34).

Qual era a condição dos inocentes de Sodoma e Gomorra?

“Se eu em Sodoma achar cinquenta justos dentro da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles.” ( Gn 18:26 ).

Todas elas, apesar de inocentes (simples), eram ímpias, pois Abraão argumentou, e Deus retirou os três justos da cidade.

“Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” ( Gn 18:25 ).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.