Quando o homem vem ao mundo, está morto para Deus. Este fato não depende de conduta, tendências, propensão, vontade, etc. Todos quantos nascerem, nascem sob a égide do pecado, sob a égide da ofensa de Adão.
Vivificados com Cristo
Conteúdo do artigo
Introdução
Aqueles que já tiveram um contato com o comentário feito ao capítulo um de Efésios terão maior facilidade em assimilar os conceitos que aqui serão apresentados.
O capítulo um da carta de Paulo aos cristãos em Éfeso apresenta várias ideias que são detalhadas a partir do segundo capítulo.
Para início de nosso estudo, faremos um breve resumo do que já estudamos.
- As cartas de Paulo possuem um público alvo pré-definido: os cristãos. Em decorrência destas características das Epístolas Paulo utiliza várias vezes o pronome “nós”;
- Logo após a apresentação do remetente e saudações aos destinatários da carta, Paulo passa a agradecer a Deus pelas bênçãos recebidas;
- Para descrever a nova condição que os cristãos alcançaram em Cristo Jesus, Paulo utiliza a maioria dos verbos que fazem referência à ação divina no pretérito perfeito: abençoou, elegeu, predestinou, etc. Estes verbos no pretérito apontam para a nova condição dos cristãos no presente: Eles são abençoados, eleitos, predestinados, redimidos, etc “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas…” ( Ef 1:7 ); O verbo ter indica a nova condição dos cristãos no presente, e a desinência do verbo (-mos) indica que o apóstolo inclui-se entre os que alcançaram a redenção;
- Após agradecer a Deus, Paulo procura conscientizar os Cristãos da nova condição que eles haviam adquiridos em Cristo “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa…” ( Ef 1:13 );
- Por último, analisemos a oração de Paulo:
a) Paulo não cessava de agradecer a Deus pela vida dos novos cristãos;
b) Paulo passa a orar a Deus para que os olhos do entendimento dos cristãos fossem iluminados para que soubessem:
1. Qual a esperança da vocação divina;
2. Qual a riqueza da glória da herança divina nos santos, e;
3. Qual a suprema grandeza do poder de Deus para com todos.
Sobre o terceiro quesito que Paulo orou a Deus para que os cristãos conhecessem, ele demonstra que Deus manifestou a suprema grandeza do seu poder ressuscitando a Jesus Cristo.
“E qual a sobre excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, Que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos” ( Ef 1:19 -23).
A grandeza do poder de Deus foi manifesto em Cristo. Sobre nós, os que cremos está a operação da força do mesmo poder que atuou sobre Cristo.
O capítulo dois de Efésios é uma continuação precisa dos versículos acima.
Observe:
A sobre excelente grandeza do poder de Deus foi manifesto naqueles que creem em seu nome “E qual a sobre excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder…”, da mesma forma que a sobre excelente grandeza do poder de Deus foi manifesto em Cristo Jesus, ressuscitando-o dentre os mortos “… que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus…”.
Deste ponto continua o nosso estudo.
Veremos o capitulo dois de Efésios sob o prisma da declaração de Paulo aos cristãos em Roma:
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego” ( Rm 1:16 )
Ele enfatiza que o evangelho é poder de Deus para os que creem. Estudaremos a transformação que ocorre naqueles que são agraciados com este poder.
“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” ( Jo 1:12 )
A Condição sob o Pecado
1 E VOS vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados,
Paulo passa a demonstrar aos cristãos que todos foram vivificados por estarem em Cristo Jesus.
A sobre excelente grandeza do poder de Deus vivificou os cristãos “E vos vivificou…”. Antes de demonstrar os elementos pertinentes a operação do poder de Deus Paulo passa a falar da condição anterior a nova vida em Cristo “..estando vós mortos…”.
O que define o homem como morto ou vivo diante de Deus?
É impossível ao homem assumir as duas condições (vivo e morto) ao mesmo tempo diante de Deus. Ou se está morto ou se está vivo.
Quando o homem vem ao mundo, está morto para Deus. Este fato não depende de conduta, tendências, propensão, vontade, etc. Todos quantos nascerem, nascem sob a égide do pecado, sob a égide da ofensa de Adão.
Quando o homem está morto para Deus ele se encontra na condição de vivo para o mundo.
A condição de vivo para o mundo é em decorrência do pecado que herdamos de Adão e o salmista Davi assim diz: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” ( Sl 51:5 ).
Para o homem passar a viver para Deus necessariamente ele precisa morrer para o mundo. Isto só é possível após o homem ter um encontro com a cruz de Cristo. Após o encontro com Cristo, o homem morre para o mundo e passa a viver para Deus.
“Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor” ( Rm 6:11 );
“Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça” ( Rm 6:13 );
“Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” ( Cl 3:3 ).
Desta forma devemos nos conscientizar que por estarmos vivos para Deus estamos mortos para o mundo. Aqueles que estão vivos para o mundo, estão mortos para Deus.
No passado, todos estavam mortos em ofensas e pecados, e hoje, os cristãos estão vivos em Cristo.
Há uma tênue diferença entre ofensa e pecado. Esta diferença é facilmente percebida ao lermos o capítulo cinco da carta aos Romanos.
Se observarmos as referências bíblicas, veremos que ofensa geralmente aponta para o pecado decorrente de Adão “E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação” ( Rm 5:16 ).
A ofensa em Adão (um só que pecou) trouxe juízo e condenação sobre toda a humanidade. Já o dom gratuito de Deus veio de muitas ofensas para a justificação.
A ofensa de Adão deixou a humanidade diante de Deus na condição de mortos. Por quê? Por que a determinação divina a Adão foi clara: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” ( Gn 2:17 ).
Na determinação divina vem incluso a lei, o juízo e a condenação: Não comerás – a lei; No dia em que dela comerdes – o juízo foi estabelecido no momento que comeram do fruto proibido; certamente morrerás – a sentença é morte.
Em decorrência desta condenação Jesus declara: “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” ( Jo 3:18 ). Se aquele que não crê já está condenado é porquê este homem já passou pelo juízo e condenação divino.
A morte pertinente ao velho homem é em decorrência da queda de Adão e resulta da condenação adquirida no Éden.
“Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça” ( Ef 1:7 );
“Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados” ( Cl 1:14 ).
Paulo coloca uma nota explicativa nas frases acima: A redenção pelo sangue é remissão das ofensas e dos pecados!
“Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)” ( Ef 2:5 ).
Geralmente a palavra ofensa vem em conexão com a condição de morto diante de Deus.
A palavra ‘pecado’ acaba por abranger duas perspectivas: a ofensa em Adão e a conduta do homem: “E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas” ( Cl 2:13 ).
A vivificação em Cristo ocorre quando as ofensas são perdoadas, quando o escrito de dívida que pesa sobre o homem é riscado.
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz” ( Cl 2:14 ).
Só é possível a vivificação em Cristo quando se tem um encontro com a cruz de Cristo. É necessário morrer com Cristo para que o homem possa ressurgir uma nova criatura, livre da ofensa e dos pecados.
“Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” ( 1Jo 1:7 ).
Andar em trevas é o mesmo que não praticar a verdade. A prática da verdade só é possível quando se anda, ou se comporta na luz.
Observe a exposição de João: Quando se diz que possui comunhão com Deus e não pratica a verdade, o homem anda em trevas, ou seja, é mentiroso ( Rm 3:7 ).
‘Mas…’, ou seja, se andar na luz, o mesmo que dizer que tem comunhão com Deus, segue-se que o sangue de Cristo purifica o homem de todo o pecado.
O pecado aqui está no singular. João não faz referência a conduta pecaminosa através da palavra pecado. A conduta pecaminosa é abordada através da expressão “andarmos em trevas”.
Quando se tem comunhão com Deus (se anda na luz), é porque o sangue de Jesus já purificou de todo o pecado (da morte decorrente das nossas ofensas).
Aquele que tem comunhão com Deus anda na luz; quem não tem comunhão, anda em trevas. Este princípio é semelhante ao da árvore: A árvore boa só produz bons frutos e a árvore má só produz frutos segundo a sua espécie: maus.
Se o homem disser que tem comunhão com Deus e anda em trevas, é mentiroso e não faz o que é verdadeiro. Por outro lado, se na luz andar, é o mesmo que dizer que tem comunhão com Deus, fato que leva a estar livre de pecado (nova condição).
Alguém pode pensar que o versículo compõe uma gradação para alcançar a libertação do pecado. Primeiro o homem teria que andar na luz, e; Segundo, ter comunhão com os irmãos, e, somente então, o sangue de Cristo haveria de purificar-lo dos pecados.
A ‘comunhão’ com os irmãos nunca livraria o homem do pecado, antes é a comunhão com Deus, por meio do sangue de Cristo, que torna o homem livre. A comunhão é um dos aspectos da nova vida com Deus, que demonstra efetivamente que o cristão prática a verdade. Para ter comunhão com os irmãos, primeiramente é necessário ter comunhão com Deus ( 1Jo 1:6 -7).
A ofensa de Adão é específica e nenhum outro homem teve ou terá a possibilidade de transgredir a mesma maneira de Adão “No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir” ( Rm 5:14 ).
Não existe a possibilidade de alguém pecar à semelhança da transgressão de Adão: Adão antes de pecar era santo, justo e bom. Perfeito diante de Deus. A determinação de não comer da árvore do conhecimento só foi feita a Adão, e não aos seus descendentes; o ambiente onde Adão estava era perfeito, etc.
Pecado não envolve questões relativo a conduta. A ofensa refere-se ao pecado (desobediência) de Adão, e por ele todos os homens pecaram. O sangue de Cristo foi derramado para que a humanidade fosse redimida da ofensa herdada de Adão ( Ef 1:7 ).
Desta forma a palavra ‘pecado’ é genérica e abrange tanto as ofensas quanto o pecado de conduta: “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados” ( Cl 1:14 ).
A remissão dos pecados refere-se a toda transgressão contra Deus. Ou seja, a remissão engloba tanto o pecado em Adão, que subjugou toda a humanidade, quanto às condutas errôneas dos homens que haverão de ser julgadas perante o Grande Trono Branco.
Mudou o Calendário para os Cristãos
2 Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência.
Paulo fala de outro tempo. Percebe-se que ele fala do passado dos cristãos pelo fato de o verbo ‘andar’ estar no passado (andastes).
Por que Paulo fala do passado desta maneira: “…noutro tempo…”? Porque os cristãos vivificados nunca viveram o tempo do pecado. Ou seja, os cristãos vivificados, regenerados, que foram criados segundo Deus em verdadeira justiça e santidade nunca viveram sob a égide do pecado.
Como? Noutro tempo existia o velho homem, escravo do pecado e sem Deus no mundo. Este velho homem ao ter um encontro com Cristo morreu. Foi crucificado com Cristo. Ao ressurgir, é criado por Deus um novo homem.
O novo homem vive num novo tempo: tempo de gozo, paz e amizade com Deus.
Observe que Paulo faz referência ao passado como se tal tempo não fosse o passado dos cristãos “Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no SENHOR; andai como filhos da luz” ( Ef 5:8 ); “Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne…” ( Ef 2:11 ).
Da mesma forma que o nascimento de Cristo mudou a contagem do tempo, o nascimento da nova criatura estabelece um novo tempo de vida e paz no Espírito Santo para os que recebem um novo coração e um novo espírito ( Sl 51:10 ).
Compare este versículo com o versículo dez.
Os cristãos, quando ainda não eram cristãos, haviam andado segundo o curso deste mundo e segundo o maligno. O curso deste mundo é morte. O príncipe das potestades do ar é o diabo. O espírito que opera nos filhos da desobediência e o engano.
Andar refere-se a conduta. Observe o que Paulo escreveu na carta aos Gálatas: “Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito” ( Gl 5:25 ). Paulo exorta a todos que nasceram de Deus, e que agora vivem em Deus, a também se comportarem como filhos de Deus.
Para se viver em Espírito, necessário é nascer do Espírito, conforme Jesus diz a Nicodemos: “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” ( Jo 3:6 ).
O andar em Espírito diz da conduta da nova criatura: “Andemos honestamente, como de dia; não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências” ( Rm 13:13 -14).
‘Viver em Espírito’ não é o mesmo que ‘andar em Espírito’. Este não ocorre em consequência daquele. A ordem é dupla: revesti-vos do Senhor e não tenhais cuidado com a carne ( Rm 13:14 ).
Desta maneira podemos verificar que, se o homem viver em Cristo, também precisa andar em Espírito.
O viver em Espírito é o mesmo que ser revestido de Cristo, ou o despojar da carne ( Cl 2:11 ). O andar no Espírito refere-se ao cuidado diário que os cristãos precisam se aplicar para não praticar o que é pertinente à carne. Não é o cuidado que santifica o homem, porém, como o cristão foi santificado por estar em Cristo (nova criatura), esta é a vontade de Deus para a nova condição alcançada em Cristo.
“Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no SENHOR; andai como filhos da luz” ( Ef 5:8 )
Há principados e potestades dos céus e principados e potestades do ar ( Ef 2:2 e Ef 3:10 ). Existem anjos e também existem demônios. Posteriormente aprofundaremos o estudo sobre os seres celestiais.
Os filhos da desobediência são atraídos e engodados pelo engano e este é o espírito que sobre eles opera. Mas, ‘nós’ (os cristãos), os que cremos em Cristo, temos a verdade do evangelho e o Espírito Santo de Deus.
3 Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.
Entre os filhos da desobediência, todos os cristãos, tanto judeus quanto gentios, antes andavam no desejo da carne.
Quando Paulo diz: ‘…todos nós também (…) como os outros também…’, ele esta fazendo referência a judeus e gentios. Está é uma das maneiras que Paulo utiliza para incluir os judeus na mesma condição dos gentios antes de terem um encontro com Cristo.
Os Judeus convertidos também andaram nos desejos da carne e eram também filhos da ira como os demais (gentios).
Paulo fala sobre o desejo da carne. Todos os homens antes de terem um encontro com Cristo andam nos desejos da carne. É possível ao homem desvencilhar-se do desejo da carne sem a cruz de Cristo? Não!
O desejo da carne refere-se à ofensa ocorrida em Adão. Só através do novo nascimento o homem torna-se livre do desejo pertinente à carne.
Qual é o desejo da carne? Paulo ao escrever aos Gálatas demonstrou que o desejo da carne é contrário ao desejo do Espírito de Deus “Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis” Ef 5. 17.
Em que o desejo da carne se opõe ao Espírito? A oposição entre a carne e o Espírito se resume em morte e vida “Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz” ( Rm 8:6 ).
Desta maneira o apóstolo Paulo esclarece o que ocorre quando se está na carne: “Porque, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte” ( Rm 7:5 ).
Quando se está no Espírito a inclinação do novo homem é amizade com Deus (vida), sendo certo que o novo homem produz exclusivamente fruto para Deus ( Rm 7:4 e Rm 8:7 ).
Só é possível andar no desejo da carne quando se está efetivamente na carne. Andar no desejo da carne só é possível àqueles que, por natureza, são filhos da ira, ou seja, é condição pertinente a todos aqueles que não tiveram um encontro com Cristo.
Todos os cristãos antes de terem um encontro com Cristo andavam no desejo da carne. Agora, em Cristo, não mais se anda no desejo da carne.
“… antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos”
“… quando estávamos na carne” é o mesmo que dizer “antes andávamos nos desejos da carne”.
Por estar na carne o homem faz a vontade da carne e dos pensamentos.
Qual a diferença entre desejos da carne, vontade da carne e vontade do pensamento?
“Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons” ( Mt 7:18 )
Os fariseus faziam boas obras perante os olhos de seus semelhantes, entretanto, por rejeitarem a Cristo, continuavam sob o pecado de Adão e tudo o que produziam era segundo a natureza pecaminosa que possuíam.
Jesus ilustra a condição dos fariseus através da relação fruto – árvore. É pertinente à natureza das árvores boas produzirem frutos bons, e as árvores más produzirem frutos maus.
Por mais que os fariseus procurassem fazer as obras estipuladas na lei, não conseguiam realizar o bem, visto que a natureza deles era má. Eles não haviam nascido de novo, e, por tanto, eram filhos da ira, e tudo o que produziam eram frutos para a morte ( Rm 7:5 ).
Jesus dá o veredicto: “Toda árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo” ( Mt 7:19 ). Não há exceção. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo.
Quando Jesus falou a Nicodemos, ele demonstrou que para ver o reino dos céus necessariamente o homem precisa nascer de novo, e neste aspecto também não há exceção.
Os fariseus diziam: “Senhor, Senhor…”, mas, nem todos que assim dizem entrarão no reino dos céus, visto que estes não fazem a vontade de Deus.
Os fariseus não entrariam nos céus por não creem naquele que Deus enviou, pois esta é a vontade do Pai “E a sua palavra não permanece em vós, porque naquele que ele enviou não credes vós” ( Jo 5:38 ); “Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” ( Jo 6:29 ).
O que determina a qualidade do fruto é a natureza da árvore. Se alguém crê em Cristo, o seu fruto é bom. Como os fariseus não criam em Cristo, eles permaneciam em seus pecados, e por tanto, os seus frutos eram maus “Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados” ( Jo 8:24 ).
João Batista disse aos fariseus que lhes era necessário produzirem frutos dignos de arrependimento. Frutos dignos de arrependimentos são boas obras? Não! As obras que os fariseus faziam eram ‘superiores’ as obras do povo, no entanto, eles não produziam frutos dignos de arrependimento “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” ( Mt 5:20 ). Quem pensa que basta dizer que tem por pai Abraão que está salvo, não produz fruto digno de arrependimento ( Mt 3:9 ).
João Batista alerta: “E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo” ( Mt 3:10 ). Todas as árvores que não produzem bom fruto devem ser cortadas e destruídas.
Em contra partida, todos os que têm um encontro com Cristo também morrem para poderem ressurgir. Estes ressurgem e fazem parte da oliveira verdadeira e dão bom fruto “Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” ( Jo 15:5 ).
Os fariseus vieram ao mundo em pecado, e por tanto, andavam no desejo da carne. Eram filhos da ira, filhos da desobediência, filhos de Adão por natureza “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira” ( Jo 8:44 ), ou se preferir, filhos do diabo.
Os fariseus por não nascerem de novo andavam segundo o curso deste mundo, ou seja, andavam nos desejos da carne “Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência” ( Ef 2:2 ).
Os fariseus eram árvores não plantadas pelo Pai, como Jesus disse: “Toda planta que meu Pai celestial não plantou, será arrancada” ( Mt 15:13 ).
Fazendo a vontade da carne
“E tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão presos“ ( 2Tm 2:26 )
As obras da carne são conhecidas: “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia…” ( Gl 5:19 ).
A humanidade num todo andava segundo o desejo da carne: mortos em delitos e pecados. As obras da humanidade seguia o curso estipulado pela natureza perniciosa “Não há quem faça o bem, não há nem um só” ( Rm 3:12 b).
A pratica pecaminosa é uma constante na vida dos homens, pois fazem a vontade da carne. Fazem a vontade da carne, pois ela não é sujeita a lei de Deus “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” ( Rm 8:7 ).
Fazendo a vontade do pensamento
Qual era o pensamento dos escribas e fariseus? Eles pensavam que eram filhos de Abraão, e que, portanto, eram filhos de Deus.
E o que João Batista disse? “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão” ( Mt 3:9 ).
Os homens sempre presumem de si mesmo que é preciso fazer algo para alcançar a salvação. O jovem rico é um exemplo: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” ( Mc 10:17 ). O homem sempre presume de si mesmo que para agradar a Deus é necessário fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Este é um dos maiores erros do pensamento humano.
Certa feita Jesus foi interpelado sobre o que deveriam fazer para fazer a obra de Deus: “Disseram-lhe, pois: Que faremos para executarmos as obras de Deus?” ( Jo 6:28 ).
Os pensamentos do homem se estruturam na religião, na justiça própria, no conhecimento humano e na consciência.
“Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” ( Rm 2:15 )
Paulo ao escrever aos Romanos demonstrou que a obra que deriva da lei sempre esteve presente no coração dos homens. Os gentios, mesmo não tendo a lei de Moisés, sempre praticaram as obras da lei naturalmente.
Por quê? Porque os homens sempre se guiaram por meio de seus pensamentos tendo como parâmetro a consciência.
Desta maneira os homens seguem o que presumem “Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte” ( Pv 14:12 ).
A vontade do homem é guiada pelas obras da lei. Muitos não se salvam por meio da crença em Cristo por se guiarem através da consciência e do pensamento. Estes se sentem seguros por estarem pautados na própria consciência (quer acusando ou defendendo), e continuam perdidos em decorrência da concupiscência do engano.
Aqueles que seguem a vontade do pensamento acabam por se sentirem ‘certinhos’ e com direito a salvação. Estes pensam que a salvação se dá por meio de boas obras e procuram respaldo e orientação em suas consciências. Ledo engano! Caem no engano do diabo.
O desejo da carne é que o homem faça a vontade da carne e do pensamento. Já a vontade do Espírito é que façamos a vontade do Espírito.
A luta entre carne e Espírito é para que não façamos a nossa vontade “…para que não façais o que quereis”, antes, devemos fazer a vontade de Deus, que é crer naquele que Ele enviou, e que nos amemos segundo o seu mandamento.
“Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem” ( Rm 7:18 ).
Quando o apóstolo Paulo diz: “… na minha carne, não habita bem algum…”, ele faz referência ao desejo da carne. Não há bem algum na natureza decorrente da queda e condenação de Adão. Através da queda de Adão os homens passaram a ser filho da ira, filho da desobediência, e não há bem algum nesta natureza.
Quando Paulo diz: “…com efeito o querer está em mim…”, ele faz referência a vontade do pensamento, o que é pertinente a todos os homens. Todos os homens querem e procuram fazer o bem, mas se não nascerem de novo é impossível fazerem o bem, visto que a carne não é sujeita a lei e Deus.
Quando Paulo diz que: “…não consigo realizar o bem”, ele faz referência a vontade da carne que decorre do desejo da carne.
O pecado de Adão tornou todos os homens escravos do pecado. Por mais que o homem queira realizar o bem, isto só fica na vontade. Por quê? Porque tudo aquilo que o escravo produz, produz para o seu senhor.
Há outra ilustração desta verdade: a árvore má não pode produzir bons frutos, isto porquê bons frutos não derivam de uma má árvore.
“… e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também”
A natureza de filhos da ira foi transmitida a todos os homens por meio da ofensa de Adão. Não podemos nos esquecer que filhos de Adão, filhos da desobediência e filhos da ira fazem referência a transgressão no Éden.
Faz-se necessário observarmos a estrutura de texto que Paulo construiu.
Paulo ora a Deus para que fosse dado aos cristãos: ‘…em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação’;
Segue-se que Deus iluminou os olhos do entendimento dos cristãos, para que:
- Soubessem qual a esperança da vocação;
- Quais as riquezas da glória da sua herança, e;
- Qual a sobre-excelente grandeza do seu poder.
O poder de Deus foi manifesto em Cristo ( Ef 1:20 ), e este mesmo poder vivificou os cristãos ( Ef 2:1 ).
“E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar no lugares celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela benignidade para conosco em Cristo Jesus” ( Ef 2:6 -7).
“… segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” ( Ef 1:19 -21).
No capítulo primeiro da carta, Paulo faz referência à operação do poder de Deus sobre aqueles que creram (v. 19). Em seguida Paulo demonstra que o poder de Deus foi manifesto em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos.
É característica própria às cartas de Paulo fazer um adendo contendo aspectos importantes acerca de Cristo.isto.
Na carta aos Efésios Paulo descreve a ação do poder de Deus em estabelecer a glória que Jesus tinha antes de haver mundo ( Ef 1:20 -23; Jo 17:5 ). Na carta aos Colossenses Paulo descreve a pessoa de Cristo, a imagem do Deus invisível ( Cl 1:15 -20).
Em seguida Paulo traz a lembrança dos leitores a condição passada ( Ef 2:1 ). Paulo demonstra que Deus vivificou os cristãos e a condição pecaminosa na qual se encontravam.
Do versículo quatro em diante Paulo passa a descrever o que o poder de Deus fez aos cristãos. Observe que a estrutura de texto que Paulo utiliza para descrever a ação divina na vivificação dos cristãos é semelhante ao que foi realizado em Cristo na ressurreição.
4 Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,
No capítulo anterior o apóstolo Paulo demonstrou que os cristãos haviam crido segundo a operação da força do poder de Deus e que este mesmo poder foi manifesto ao ressuscitar Jesus dentre os mortos ( Ef 1:19 -23).
Quando Paulo fala do poder de Deus manifesto em Cristo, ele passa a descrever o que aconteceu com Cristo após a ressurreição.
Logo em seguida, Paulo passa a falar da ação de Deus sobre os cristãos: “Ele vos vivificou…”. Mas, antes de falar da vivificação Paulo faz um adendo e fala da condição do homem no pecado ( Ef 2:1 -3).
Agora, no versículo quatro Paulo volta ao tema que teve início no capítulo um, versículo dezenove: vivificou!
Apesar da condição pecaminosa do homem, Deus é riquíssimo em misericórdia. A expressão ‘riquíssimo em misericórdia’ se deve ao grande amor demonstrado aos homens.
5 Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo ( pela graça sois salvos ),
Observe que a morte decorre da ofensa.
O poder de Deus que foi manifesto em Cristo ressuscitando-o dentre os mortos e por meio deste poder os cristãos creram e foram vivificados juntamente com Cristo.
“E qual a sobre-excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder” ( Ef 1:19 ).
6 E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;
Os cristãos foram ressuscitados (vivificados) juntamente com Cristo “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” ( 1Pe 1:3 ).
Cristo ao ressurgir assentou-se a destra de Deus nos céus e nos fez assentar nos lugares celestiais.
Os cristãos foram abençoados com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo; é o mesmo que estar assentado nos lugares celestiais ( Ef 1:3 ; Ef 1:20 e Ef 2:6 ).
7 Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.
O objetivo dos cristãos terem ressurgido com Cristo é específico: “… mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus” ( V. 7).
Cristo assentou-se a destra de Deus acima de todo principado, autoridade, poder, domínio e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas no vindouro.
Jesus, além de receber todo domínio e poder, também demonstrará nos séculos vindouros as abundantes riquezas da graça de Deus.
8 Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
Pela graça somos salvos, por meio da fé.
Paulo retorna ao versículo dezenove do capítulo um: os cristãos haviam crido segundo a operação da força do poder de Deus “E qual a sobre-excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do teu poder” ( Ef 1:19 ).
A salvação é por meio da fé segundo a força do poder de Deus. Como? A salvação é por meio da fé segundo a pregação do evangelho:
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego” ( Rm 1:16 )
E novamente:
“Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” ( 1Co 1:18 )
Desta maneira conclui-se que: “A fé vem pelo ouvir…” .
A salvação é graça, pois foi dada aos homens por promessa. Deus prometeu salvação poderosa a todos os homens através do descendente de Abraão
“Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós…” ( Rm 4:16 ; Gl 3:16 ).
Primeiro Deus prometeu a Abraão o descendente e só após ouvir a promessa Abraão creu, sendo a sua fé em Deus imputada como justiça. Foi por graça a promessa. Abraão nada fiz e Deus lhe prometeu o descendente.
A promessa refere-se a graça de Deus dada aos homens por intermédio de Abraão e do descendente, que é Cristo.
“… mas Deus pela promessa a deu gratuitamente a Abraão” ( Gl 3:18 ).
A promessa foi concedida por Deus. A promessa é dom de Deus. Não foi o homem que conquistou a salvação, mas Deus a deu gratuitamente.
9 Não vem das obras, para que ninguém se glorie;
A salvação vem da promessa e não das obras. Caso a salvação fosse concedida por meio daquilo que produzimos, haveria motivo para alguém se posicionar de maneira altiva: “Eu conquistei a minha salvação. Fiz por merecer”.
10 Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.
Não há como a salvação ser pelas obras. Por quê? Porque somos feituras de Deus.
Observe a grandeza da exposição de Paulo: antes de conhecermos a Cristo todas as nossas obras pertencia por direito ao pecado. Éramos escravos do pecado, e por tanto, tudo o que produzíamos pertencia ao pecado.
Por mais que o homem trabalhe e se esforce em fazer boas obras, elas não poderão salvá-lo, visto que tais obras não lhe pertencem.
Um escravo não adquire bens. Um escravo não ajunta fortuna. Como é possível a um escravo adquirir a própria liberdade se ele não possui recursos? Tudo o que se produz pertence ao seu senhor! O escravo é propriedade de seu senhor.
O trabalhador escravo do pecado só tem um salário estipulado: a morte!
A salvação não vem das obras porque há a necessidade de se nascer de novo. O novo homem é criado em Cristo, e só a partir de então é que se produz a boa obra.
A obra realizada por meio da antiga natureza não é contada como algo necessário para a existência da nova criatura. O salário que o pecador recebe é morte.
A vinda a existência da nova criatura fica na pendência única e exclusiva do poder de Deus. Primeiro há a regeneração e após as obras. Não há como inverter os fatores.
Não é por obras, visto que o novo homem é criado em Cristo; todos os que creem recebem poder para serem feitos filhos de Deus com o objetivo de produzirmos boas obras.
São poucas as citações do antigo testamento, mas Paulo buscou em Isaías esta última declaração:
“SENHOR, tu nos darás a paz, porque tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras” ( Is 26:12 ).
O profeta vaticinou o recebimento da paz que excede a todo entendimento. Há paz para aqueles que estão em Cristo Jesus, pois estes não necessitam realizar qualquer obra para alcançar a salvação.
Tudo que havia para ser feito foi realizado.
“Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo…” (v. 2);
“Não vem das obras (…) Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus…” (v. 10)
Por ser feitura de Deus, criado em Cristo, houve ‘um’ outro tempo em que o cristão não era feitura de Deus. Neste tempo a nova criatura (os cristãos) nunca existira.
Os versículos seguintes são conclusivos. Todo arcabouço doutrinário demonstrado nos versículos anteriores é utilizado como base para tocar o pensamento dos leitores.
Com base nos elementos doutrinários Paulo conclui: “Portanto…”
Gentios e Judeus
11 Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão dos homens;
O apóstolo reiterou aos seus leitores que eles haviam sido vivificados dentre os mortos.
Até o versículo anterior o apóstolo expõe questões de ordem doutrinária. Deste versículo em diante Paulo utiliza-se das questões doutrinárias para tratar do relacionamento entre gentios e judeus que se tornaram cristãos.
Os cristãos gentios não deveriam esquecer que ‘noutro tempo’ eles eram gentios na carne, ou seja, noutro tempo eles não pertenciam a Deus. Ser gentio na carne refere-se à descendência, a origem do indivíduo quando separado da comunidade de Israel.
Deus estabeleceu uma distinção entre gentio e judeu quando escolheu Abraão e lhe fez promessa. Esta distinção tinha a finalidade de preservar a linhagem que introduziria Cristo ao mundo.
Porém os judeus não entenderam este contexto e se achavam melhores que os outros povos simplesmente por terem o rito da circuncisão. Tinham na circuncisão um elemento de salvação, visto que, através dela, avocavam a filiação de Abraão com direito a promessa.
Por isso os judeus nomeavam os gentios de incircuncisos. Os judeus nomeavam os gentios de ‘incircuncisão’ e se auto-intitulavam de ‘circuncisão’.
Com a classificação feita por Paulo entendemos que os judeus são carnais, visto que eles não aceitaram a Cristo “… pelos que na carne …”.
A circuncisão dos judeus é caracterizada por Paulo de: “… feita pela mão dos homens”, para diferenciar da circuncisão realizada por Cristo ( Cl 2:11 ).
12 Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo.
Paulo aponta cinco situações diferentes em que se encontravam os gentios:
a) Sem Cristo;
b) Separados da comunidade de Israel;
c) Estranhos às alianças da promessa;
d) Não tendo esperança, e;
e) Sem Deus no mundo.
Neste versículo Paulo refere-se ao ‘outro’ tempo através da afirmação: “naquele tempo”. A qual tempo o apóstolo se refere? A outro tempo, o que é diferente quando se refere ao passado.
Paulo enumera estas cinco situações de maneira peculiar: no tempo em destaque, os cristãos ainda eram incrédulos. As situações enumeradas por Paulo retroagem no tempo: os gentios estavam sem Cristo, condições sanadas quando creram na mensagem do evangelho.
Somado a situação de não terem Cristo, os gentios também estavam à parte da comunidade de Israel como conseqüência de não serem participantes das alianças.
Anterior a tudo isto, os gentios não tinham esperança, visto que a humanidade perdeu o vínculo com Deus em Adão.
13 Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.
Porém, no tempo presente, o agora, os cristãos estavam em Cristo. O estar em Cristo remete a nova natureza, visto que aqueles que estão em Cristo, são novas criaturas “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” ( 2Co 5:17 ).
“…vós, que antes estáveis longe…” refere-se aos gentios.
O sangue de Cristo aboliu o pecado que fazia a separação entre Deus e os homens, e a lei, que fazia separação entre judeus e gentios. Desta maneira os gentios se achegaram a Deus.
14 Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio,
Cristo é a paz de Deus dada aos homens. Os que receberam a paz de Deus passam a fazer parte do grupo que Paulo intitula como sendo ‘nós’. Jesus é a nossa paz, visto que por meio da igreja ele uniu judeus e gentios em um único corpo ( Ef 3:6 ).
15 Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz,
Na carne de Cristo foi desfeita a inimizade entre os homens e Deus. Sabemos que a lei só pode disciplinar a carne, sem valor algum para o espiritual. Conforme esta verdade, Cristo ofereceu a sua carne na morte, e com ela desfez a lei dos mandamentos.
Todos quantos creem em Jesus também se desfazem da carne e tornam-se espirituais, pois se conformam com Cristo na as morte ( Cl 2:11 ), e não mais estão sujeitos a lei, pois ela só tem poder sobre aqueles que vivem na carne.
Ao destruir a barreira de inimizade, Cristo criou em si mesmo dos dois povos um novo homem, e estabeleceu a paz.
16 E pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.
Reconciliar ambos, judeus e gentios, com Deus. É o mesmo que matar na cruz as inimizades. A cruz é o elemento reconciliador dos homens com Deus. Por quê? Porque por meio dela o homem morre para o mundo e é criado um novo homem que vive para Deus.
Quando Paulo aponta as inimizades, ele tem em mente a inimizade entre Deus e os homens pecadores, e a inimizade que existia entre judeus e gentios, visto que o véu do templo rasgou-se de alto a baixo.
17 E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto;
Paulo demonstra que Jesus não fez acepção de pessoas ao anunciar o evangelho da paz. Ele anunciou aos gentios e aos judeus a paz que excede todo entendimento.
18 Porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito.
Por que paz? Porque por Jesus, tanto judeu quanto gentio, tem acesso a Deus em um mesmo Espírito. Alguém poderia contestar onde estaria a paz evangelizada, e Paulo aponta a paz no acesso que ambos, judeus e gentios, têm acesso a Deus.
19 Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus;
Antes, os gentios eram estrangeiros e forasteiros. Em Cristo os gentios tomaram a posição de cidadãos e pertencentes à família de Deus.
20 Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina;
O apóstolo aponta a solidez no qual os elementos que foram adquiridos em Cristo sustentam a condição anterior. Cristo é a pedra onde podemos construir um edifício a Deus “Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina” ( At 4:11 ); “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” ( 1Pe 2:5 ).
21 No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor.
Em Cristo, a Principal Pedra de Esquina, está sendo construído um só edifício, e o edifício cresce bem ajustado para habitação de Deus ( Is 57:15 ).
22 No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito.
Paulo aponta para os gentios demonstrando que eles também estavam incluídos no edifício destinado à morada de Deus em Espírito “…vós juntamente sois edificados…” (judeus e gentios).
O elemento ‘comunhão’ é essencial para a construção deste edifício ( Jo 1:7 ).
Gostei muito do estudo amado irmão todavia essa passagem de salmos 51 do pecado de Davi onde ele diz que foi gerado em pecado não se refere a humanidade mas uma coisa pessoal dele. Graça e paz de Cristo Jesus.
Olá, amado..
Temos que considerar que os salmos são profecias.
https://estudobiblico.org/salmo-51-em-iniquidade-fui-formado-e-em-pecado-me-concebeu-minha-mae/
Att
Olá, Crismacleiton..
recomendo este artigo:
https://estudobiblico.org/salmo-51-em-iniquidade-fui-formado-e-em-pecado-me-concebeu-minha-mae/
Att.
Parabéns pela qualidade e profundidade do estudo. Estou vivendo um aprofundamento da palavra para fins de dicipulado e no decorrer de minhas pesquisas o seu estudo se supera em todos os aspectos. Deus seja louvado pela sua vida, sendo usado como instrumento de propagação e entendimento do estudo da palavra de Deus.
Muito proveitoso.
Grato pelo esclarecimento.
Tu fala que nascemos separados de Deus, mas e as crianças, sendo que o Senhor Jesus disse que elas são do céu?
Olá, Nilson..
Jesus não disse o que você disse… Ele disse que o reino dos céus pertencem aqueles que se achegam a Ele, por isso o alerta: não as impeçais.
Att