Malaquias

Malaquias descreve o amor de Deus

Deus instrui o povo: Não darás a primogenitura ao filho da amada, preferindo-o ao filho da desprezada. O que Deus demonstra? Que era vetado favorecer um filho em detrimento do outro. Deus ensina por meio da lei que é vetado negar o que é de direito a um filho. E quanto ao que ocorreu com Isaque e Esaú? Deus favoreceu a Jacó? Da relação fraterna entre Esaú e Jacó (Não era Esaú irmão de Jacó?) é possível determinar como se dá o amor de Deus. Leia e descubra!


Malaquias descreve o amor de Deus

1 Peso da palavra do SENHOR contra Israel, por intermédio de Malaquias.
2 Eu vos tenho amado, diz o SENHOR. Mas vós dizeis: Em que nos tem amado? Não era Esaú irmão de Jacó? disse o SENHOR; todavia amei a Jacó,
3 E odiei a Esaú; e fiz dos seus montes uma desolação, e dei a sua herança aos chacais do deserto.
4 Ainda que Edom diga: Empobrecidos estamos, porém tornaremos a edificar os lugares desolados; assim diz o SENHOR dos Exércitos: Eles edificarão, e eu destruirei; e lhes chamarão: Termo de impiedade, e povo contra quem o SENHOR está irado para sempre.
5 E os vossos olhos o verão, e direis: O SENHOR seja engrandecido além dos termos de Israel.

Pouco se sabe a respeito deste servo do Senhor, mas as profecias que Malaquias entregou ao povo de Israel nos dizem muito!

As profecias que foram entregue por ele nos dizem muito porque nelas estão descrita a maneira pela qual Deus se relaciona com suas criaturas.

Outra característica do livro de Malaquias que é importante observar são os parâmetros que o livro nos permite traçar e destacar quanto a interpretação bíblica.

 

Característica do livro

O livro é um misto de perguntas e respostas diretas.

Em cada ciclo de perguntas e respostas temos uma ideia central a ser analisada. Neste primeiro ciclo a ideia em destaque é o amor de Deus para com o seu povo Israel.

As perguntas e respostas apontam para o presente. O ‘agora’ do escritor e dos destinatários. Elas fazem referência a alguns elementos do passado, mas a aplicabilidade dos ensinos é para o momento em que o profeta está passando a mensagem presente Ex: ( Ml 1:2 -4).

Em todos os ciclos de perguntas e respostas encontramos uma profecia que aponta para um futuro distante, e que serve de consolo àqueles que receberam de bom grado o peso do Senhor Ex: ( Ml 1:5 ).

Para interpretar o livro de Malaquias, precisamos nos socorrer das referências feitas no novo testamento, e das citações de certos personagens que o escritor faz.

Ao lermos a passagem: “Amei a Jacó, e aborreci a Esaú”, devemos verificar os elementos que compõe a história de Esaú e Jacó, sem no esquecermos das referências e aplicabilidade feita pelos apóstolos no novo testamento.

Este é o nosso objetivo, encontrar a ideia que as passagens procuram transmitir.

 

A sentença

Peso da palavra do SENHOR contra Israel, por intermédio de Malaquias ( Ml 1:1 )

O livro de Malaquias contém várias sentenças proferidas por Deus repreendendo o povo de Israel.

O público alvo deste livro é o povo de Israel. Eles eram os destinatários exclusivos da mensagem divina quanto ao peso.

Deus usou o profeta Malaquias para entregar uma mensagem contra Israel.

Diante desta característica do livro se faz necessário um cuidado maior quanto a interpretação das mensagens nele contida.

É necessário a quem interpreta o livro observar estes aspectos, pois eles delineiam o caminho para uma interpretação segura.

Observe: A mensagem do livro é especifica para Israel, mas alguns dos aspectos da mensagem demonstram de que maneira Deus se relaciona com suas criaturas. A mensagem é especifica a Israel, mas a maneira que Deus se relaciona com suas criaturas é pertinente a todos os homens.

Através da mensagem entregue pelo profeta é possível compreendermos em que se baseia o amor de Deus.

 

“Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao SENHOR; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra” ( Os 6:3 )

 

O povo de Israel

Israel, alvo da mensagem.

É o povo escolhido por Deus para fazer conhecido o seu nome a todas as nações. Como nação foi escolhida para a importante missão de demonstrar o maravilhoso nome de Deus a todos os homens.

Por intermédio do povo de Israel Deus revelou poderosa salvação a todos os homens.

Paulo demonstrou aos cristãos em Roma que ao povo de Israel (a nação) foi dado a lei, o culto, as promessas, os patriarcas e Cristo Jesus segundo a carne ( Rm 9:3 -4).

A escolha de Israel não foi para promover a salvação individual de cada homem desta nação, ou seja, a escolha da nação de Israel não é comparável à missão da igreja.

Por Deus agir de forma poderosa ao tirar o povo do Egito, conduzindo-o pelo deserto, Israel tornou-se conhecido a todos os povos.

Os grandes feitos realizados por Deus em prol de Israel tornou conhecido o nome do Deus de Israel ( Ex 14:17 -19; Ex 15:14 ).

Esta foi a missão pela qual o povo de Israel foi escolhido em meio a outras nações ( Dt 7:7 ). Um homem torna-se uma nação através do cuidado especial do seu Deus.

“E correu de ti a tua fama entre os gentios, por causa da tua formosura, pois era perfeita, por causa da minha glória que eu pusera em ti, diz o Senhor DEUS” ( Ez 16:14 ).

Israel era e continuará sendo o povo de Deus com uma missão específica.

Mas a escolha para a missão não proporcionou salvação aos israelitas ( Rm 9:6 ).

Para alcançarem a salvação de Deus os israelitas deviam crer na mensagem apregoada pelos seus profetas.

E qual era a mensagem apregoada desde Moisés, que é essencial a salvação individual?

 

“Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz” ( Dt 10:16 )

Recapitulando: Observe que Deus escolheu e tirou Israel do Egito, mas logo em seguida, quase todos aqueles que tinham acima de 20 anos acabaram perecendo no deserto! O salmista bem retrata este quadro no salmo 78:

 

“Não refrearam o seu apetite. Ainda lhes estava a comida na boca, Quando a ira de Deus desceu sobre eles, e matou os mais robustos deles, e feriu os escolhidos de Israel. Com tudo isto ainda pecaram, e não deram crédito às suas maravilhas. Por isso consumiu os seus dias na vaidade e os seus anos na angústia” ( Sl 78:30 -33).

 

Deus feriu no deserto os escolhidos de Israel. Seriam os escolhidos para a salvação? Não! Deus feriou os escolhidos que executavam a importante missão de fazer conhecido o nome do Senhor.

Se a escolha de Deus fosse para promover a salvação eterna de todos que saíram do Egito, eles não teriam sido consumidos no deserto “…pois não creram em Deus, nem confiaram na sua salvação” ( Sl 78:22 ).

A salvação de Deus não foi dada à nação, mas para alcançá-la bastava ao povo darem ouvido a voz do Senhor: “Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração..”.

Após esta breve análise verifica-se que a sentença de Deus proferida por Malaquias contra Israel tem como objetivo repreender a nação, visto que a nação toda havia se distanciado da presença do Senhor.

Por isso o livro inicia-se assim: “Peso da palavra do Senhor contra Israel…” A sentença é especifica ao povo de Israel, pois todos se desviaram cada um após os seus próprios caminhos.

“…também estes escolhem os seus próprios caminhos, e a sua alma se deleita nas suas abominações” ( Is 66:3 ).

Resumindo: Israel foi escolhido para a missão de tornar conhecido o nome de Deus a todos os povos, mas a salvação de Deus só é alcançada individualmente por meio da fé ( Sl 78:22 ).

 

O motivo do peso do Senhor

É histórica a obstinação do povo de Israel em não atender o seu Deus. Desde que foram tirados do Egito, o povo sempre oscilou em seus caminhos perante o Senhor.

Parecia um ciclo vicioso: o povo pecava, Deus os repreendia e eles se arrependiam “Porque conheço a tua rebelião e a tua dura cerviz; eis que, vivendo eu ainda hoje convosco, rebeldes fostes contra o SENHOR; e quanto mais depois da minha morte?” ( Dt 31:27 ).

O peso, ou a sentença de Deus para um determinado povo, geralmente é proferido quando a medida de transgressão de um povo é completa.

O povo de Israel se arrependia quando estava em dificuldade, mas o livro de Malaquias evidencia um novo comportamento do povo frente a mensagem divina.

Eles deixaram de considerar os seus pecados, e passaram a questionar a mensagem entregue pelos seus profetas.

O peso do Senhor é contra a condição pecaminosa que estavam e por passarem a questionar a mensagem do Senhor.

O povo restaurado do cativeiro tornou-se mais reclusos em seus pecados. Este é o motivo do peso do Senhor.

Verificamos que a mensagem de Deus é específica ao povo de Israel e que só alguns aspectos da mensagem dizem respeito a toda humanidade. Verificamos também que Israel foi comissionado para uma missão, o que não dá direito a salvação.

Por último, nos inteiramos do motivo pelo qual Deus declara a sua sentença contra Israel.

 

Deus declara o seu amor

Os cinco primeiros versículos do livro de Malaquias tratam especificamente do amor de DEUS para com o seu povo.

A mensagem do livro destina-se ao povo de Israel, mas como o amor de Deus também é direcionado a toda humanidade, estes cinco versículos nos ajudarão a compreender alguns aspectos deste amor.

No novo testamento lemos o seguinte:

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” ( Jo 3:16 ).

Do livro de Malaquias extraímos a seguinte afirmação:

“Eu vos tenho amado, diz o SENHOR” ( Ml 1:2 ).

Analisaremos a declaração de amor que Deus fez ao povo de Israel com base no versículo seguinte:

“Agora, pois, seja o temor do SENHOR convosco; guardai-o, e fazei-o; porque não há no SENHOR nosso Deus iniquidade nem acepção de pessoas, nem aceitação de suborno ( 2Cr 19:7 ).

Este versículo nos revela três verdades que são imutáveis. Se estas verdades são inalteradas, elas servem de base para a nossa análise.

Em Deus não há:

a) Pecado, pois Ele é santo;

b) Acepção de pessoas;

c) Ele não aceita suborno (não corrompe o direito).

Deus é santo, pois a ninguém oprime. Ou seja, Deus não pode ser tentado pelo mal “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” ( Tg 1:13 ).

É nestes termos que se revela a santidade de Deus: apesar de sua soberania, Deus não oprime as suas criaturas.

Segue-se que este princípio refere-se a todos, pois ele não faz acepção de pessoas. Independente de origem, raça, nação, comportamento, etc. Deus não faz acepção. Trata a todos de igual modo.

É da natureza divina a retidão, a justiça e o juízo. Deus não corrompe o direito de ninguém, e aliado a isso, ele não faz acepção de pessoas.

Estas são verdades eternas que não podem ser mudadas. Não importa o povo a época, as pessoas, o comportamento dos homens, por que: Deus não faz acepção de pessoas, e ama a todos os homens.

Da mesma maneira que Deus ama a todos os homens indistintamente, Deus amava a cada um dos integrantes do povo de Israel ( Dt 4:37 ; Dt 7:7 -8 ; Dt 10:15 ; Dt 23:5 ).

Este é o primeiro parâmetro que utilizaremos para analisar a afirmação de Deus: “Eu vos tenho amado…”.

Da mesma forma que Deus amou ao povo de Israel, ele amou o mundo, isto porque ele não faz acepção de pessoas. Precisaremos deste raciocínio para interpretar o restante do texto.

A afirmação de Deus é categórica ao povo de Israel: “Eu vos tenho amado”. Esta afirmação não pode ser tomada de forma relativa, ou de maneira parcial. O amor de Deus é pleno conforme Ele mesmo afirma.

 

A queixa de um povo

Esta foi a resposta leviana do povo: Em que nos tem amado?” ( Ml 1:2 ).

É plausível a pergunta do povo de Israel?

Uma nação decadente como conseqüência direta de seus pecados pergunta sem ao menos observar os grandes feitos de Deus no passado.

“Oh geração! Considerai vós a palavra do SENHOR: Porventura tenho eu sido para Israel um deserto? Ou uma terra da mais espessa escuridão? Por que, pois, diz o meu povo: Temos determinado; não viremos mais a ti?” ( Jr 2:31 )

A declaração de amor que Deus fez ao povo é uma resposta às queixas constantes do povo de Israel. Eles constantemente diziam: “Em que nos amaste?” Com esta pergunta o povo queria que fosse revelado onde Deus demonstrou o seu amor, visto que a condição do povo era miserável e deprimente frente às outras nações.

A queixa constante “Em que nos amastes” é que traz a declaração divina: “Eu vos amei, diz o Senhor”.

 

Deus dá provas do seu amor

A pergunta: “Não era Esaú irmão de Jacó? Disse o SENHOR” nos dá os elementos essenciais para compreendermos o amor de Deus para com o homem.

Da relação fraternal entre Esaú e Jacó destacamos os seguintes elementos que devem ser analisados:

1. Esaú e Jacó: filhos de Isaque;

2. Ambos nasceram milagrosamente;

3. Eram gêmeos;

4. A primogenitura;

5. A linguagem utilizada.

Só é possível compreendermos a prova de amor que Deus apresenta após analisarmos minuciosamente estes cinco elementos que existem na relação fraternal de Esaú e Jacó.

 

A história

Deus prometeu a Abraão que dele faria uma grande nação e que nele seriam benditas todas as nações da terra “E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra!” ( Gn 12:2 -3).

Apareceu o Senhor novamente e prometeu a Abraão que a sua semente daria as terras de Canaã “E apareceu o SENHOR a Abrão, e disse: À tua descendência darei esta terra. E edificou ali um altar ao SENHOR, que lhe aparecera” ( Gn 12:7 ).

Até aqui Deus prometeu a Abraão que dele seria feito uma grande nação, que eles possuiriam a terra de Canaã e que de Abraão todas as famílias da terra seriam benditas.

Mas, algo preocupava Abraão: ele não tinha filhos.

Ele questionou o Senhor: “O Senhor Deus, o que me darás, se continuo sem filhos?” ( Gn 15:2 ).

Abraão apresentou o seu servo damasceno Eliézer como solução por não ter um filho, foi então que Deus prometeu: “…aquele que das tuas entranhas sair será o teu herdeiro”. Abraão creu, e isto foi lhe imputado como justiça.

Por que a fé de Abraão foi lhe imputada como justiça?

A explicação é simples: Se Abraão creu que Deus é poderoso para dar-lhe o que prometeu (neste caso um filho de suas entranhas), é porque ele cria na providência divina. Como a salvação nada mais é do que a providência divina a toda humanidade, Abraão foi justificado.

Logo em seguida, Sara, a mulher de Abraão, quis ter um filho por meio da sua escrava egípcia, Hagar. Foi quando nasceu Ismael.

Novamente Deus aparece e reitera as suas promessas a Abraão, e ele apresenta Ismael diante do Senhor, pois se achava velho para ter um filho ( Gn 17:17 -18).

 

Deus cumpriu a sua promessa e Isaque nasceu

Mas, Sara viu o filho da escrava zombando de seu filho e mandou Abraão despedir a escrava com o seu filho; Abraão ficou ressabiado, pois Ismael, segundo a sua concepção, era o seu primogênito. Deus disse a Abraão: “Não te pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a tua descendência” ( Gn 21:12 ).

A promessa de Deus não se refere à descendência carnal de Abraão, como foi o caso de Ismael e os filhos das concubinas de Abraão ( Gn 25:5 -6). A promessa se concretizou na descendência proveniente da própria promessa – Isaque.

A promessa de Deus diz respeito a Isaque, e não a Ismael.

Os filhos de Abraão e de Isaque haveriam de herdar a terra porque Deus prometeu. Haveria de adquiri-la por meio da fé? Não! Eles tinham direito a terra prometida, pois Deus a concedeu a descendência de Abraão por promessa.

Mas, e quanto à salvação? Eles haveriam de adquirir a salvação pelo simples fato de serem descendência e herdeiros de Abraão “Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos…” ( Rm 9:7 ). Herdar a terra prometida é o mesmo que alcançar a salvação de Deus? Não!

A promessa de salvação feita por Deus refere-se aos que creem no descendente de Abraão, que é Cristo “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo” ( Gl 3:16 ).

Paulo complementa: “Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência” ( Rm 9:8 ).

Para ser filho da promessa o homem precisa crer na providência divina, e então será justificado como foi o patriarca Abraão ( Jo 1:11 -12).

Deus havia prometido a Abraão que em Isaque seria chamada a sua descendência ( Gn 21:12 ). Quando a Abraão e Sara parecia impossível terem um filho, nasceu Isaque.

De Isaque nasceram Esaú e Jacó, ambos herdeiros.

Observe que tanto Esaú quanto Jacó tinham plenos direitos de herdarem de Isaque.

Ao fazer referência ao termo ‘herdar’, estamos fazendo referencia a um direito terreno. Já a promessa faz referencia a bens eternos.

 

A Promessa

Da promessa sabemos que ela refere-se ao DESCENDENTE, que é Cristo, pois nele são benditas todas as famílias da terra.

“E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” ( Gn 12:3 ).

“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo” ( Gl 3:16 ).

Observe que a promessa foi feita a Abraão e a sua descendência, que é Cristo; desta promessa fundamenta-se o evangelho, pois a Abraão foi anunciado o evangelho primeiramente ( Gl 3:8 ).

O fato de em Abraão serem benditas todas as famílias da terra nos dá parâmetros para entendermos a base do evangelho.

Abraão creu em Deus, e isto lhe foi imputado como justiça.

Conclui-se que, como Deus não faz acepção de pessoas, aqueles que crerem na justiça de Deus (providenciada e demonstrada aos homens), serão justificados como o crente Abraão ( Gl 3:6 -9).

A promessa é por graça, pois Abraão não realizou obra alguma que merecesse a justiça divina, mas ao crer que Deus poderia realizar tudo o que prometerá, foi justificado! Observe que Deus pode realizar muito mais do que aquilo que pensamos ou pedimos ( Ef 3:20 ).

Abraão pensava em sua descendência quando recebeu a justiça de Deus.

Segue-se que a promessa diz respeito àqueles que são da fé, ou seja, daqueles que são filhos de Deus; daqueles que tem a mesma fé que teve Abraão.

Por outro lado, tanto Esaú quanto Jacó eram filhos de Abraão segundo a carne, e se a promessa fosse por descendência, ambos deveriam ser filhos da promessa. Mas não é assim a promessa ( Rm 9:8 ).

 

Herdeiros

Com relação a herdar de Isaque, Esaú e Jacó tinham direito.

Com relação à promessa ambos precisavam crer para alcançá-la, mas com relação à herança, ambos tinham direito.

Com relação ao direito a herança de Abraão, nem o jovem Damasceno, nem Ismael puderam herdar ( Gn 15:2 -3 e Gn 21:10 ). Observe que aos filhos das concubinas Abraão deu presente, mas a Isaque, Abraão deu tudo que possuía ( Gn 25:4 -5).

Abraão queria de várias formas constituir um herdeiro para si, mas Deus lhe prometeu que teria um filho de Sara sua mulher ( Gn 17:19 ).

Nasceu Isaque que tornou-se herdeiro de Abraão, e nele também foi chamada a descendência de Abraão conforme a promessa.

Como Isaque era único não houve qualquer discórdia acerca das questões em torno da primogenitura. Com Esaú e Jacó tal discussão é diferente.

Esaú, Jacó e Isaque eram filhos de Abraão; Esaú, Jacó e Isaque eram herdeiros de Abraão; Isaque era descendente segundo a promessa, mas de Esaú e Jacó não podemos dizer o mesmo.

Da mesma maneira que Esaú e Jacó nasceram de uma estéril, o que demonstra um milagre de Deus, Isaque também nasceu. Mas ter direito a herança e nascer de uma concepção milagrosa não faz de ninguém filho da promessa.

Porém, há um elemento diferenciador: enquanto Isaque era filho único, Esaú e Jacó eram gêmeos. Deste fato surge o direito decorrente da primogenitura.

 

A Primogenitura

Sobre a primogenitura a lei de Moisés diz o seguinte:

“Será que, no dia em que fizer herdar a seus filhos o que tiver, não poderá dar a primogenitura ao filho da amada, preferindo-o ao filho da desprezada, que é o primogênito. Mas ao filho da desprezada reconhecerá por primogênito, dando-lhe dobrada porção de tudo quanto tiver; porquanto aquele é o princípio da sua força, o direito da primogenitura é dele” ( Dt 21:16 ).

Segue-se que o direito de primogenitura já existia antes mesmo da lei; mas, a lei além de instituí-la, dá os parâmetros para executar a partilha da herança.

Em primeiro lugar precisa-se observar que, para existir o direito de primogenitura, há a necessidade de se ter filhos “…fizer herdar a seus filhos…”. Isto porque não há como se preitear o direito de primogenitura quando se é filho único, e este foi o caso de Isaque.

O primogênito é o filho da primeira gestação, e tal direito não havia como ser passado do irmão mais velho ao mais novo. Era um direito decorrente do nascimento.

Agora pergunto: Como Jacó conseguiu aprovação de Deus ao adquirir o direito de primogenitura de Esaú?

Observe que Esaú e Jacó não eram frutos de gestações diferentes. Eles nasceram quase que simultaneamente, e de um único parto. Não houve interrupção no parto de Esaú e Jacó.

Jacó nasceu ligado ao calcanhar de Esaú, o que sinaliza que não houve interrupção no parto. Isto demonstra que ambos tinham direitos à primogenitura.

Segue-se que se Jacó tivesse nascido de uma segunda gravidez seria impossível ele adquirir o direito de primogenitura.

Mas, como Esaú e Jacó eram provenientes de uma mesma gestação, e nasceram na seqüência, neste caso em específico foi possível a Jacó comprar o direito de primogenitura.

 

A linguagem

Outro fator importante a se observar quando se interpreta um texto está na linguagem utilizada pelo escritor. Observe:

“…não poderá dar a primogenitura ao filho da amada, preferindo-o ao filho da desprezada, que é o primogênito” ( Dt 21:16 ).

Filho da amada refere-se aquele que o pai tem preferência; já o filho da desprezada refere-se àquele que tem o direito a primogenitura, mas que não tem a preferência do pai.

Desta maneira podemos concluir que o amor do homem é tendencioso. Um exemplo claro de amor tendencioso é o de Isaque: “E amava Isaque a Esaú, porque a caça era de seu gosto, mas Rebeca amava a Jacó” ( Gn 25:28 ).

O amor do homem é sentimental. Basta que algo lhe agrade que estará favorecendo o seu semelhante. O homem no trato com os seus semelhantes geralmente tem preferência entre um e outro.

Esta passagem de Deuteronômio bem representa a maneira que o homem prefere um em detrimento de outro. Por gostar mais de uma de suas mulheres, o homem quando da partilha dos bens, acabava por favorecer o filho da mulher que ele mais amava.

Desta maneira Deus instrui o povo: Não darás a primogenitura ao filho da amada, preferindo-o ao filho da desprezada. O que Deus demonstra? Que era vetado favorecer um filho em detrimento do outro.

Deus ensina por meio da lei que é vetado negar o que é de direito a um filho. E quanto ao que ocorreu com Isaque e Esaú? Deus favoreceu a Jacó?

Da relação fraterna entre Esaú e Jacó destacamos os elementos enumerados anteriormente. Todos os elementos são implícitos da relação estabelecida: “Não era Esaú irmão de Jacó?”.

Há uma linguagem própria ao tema; há um direito que não pode ser negado; ambos eram herdeiros e nasceram de uma única gravidez, etc.

Todas as considerações em torno dos irmãos Esaú e Jacó nos leva a entender o amor de Deus, tanto para com Israel, como para a humanidade.

“Contudo, amei a Jacó…”

Quando Deus pergunta ao povo: “Não era Esaú irmão de Jacó?” é porque a resposta do povo serve de sustentação a argumentação seguinte.

A pergunta nos remete a um ‘sim’ como resposta. É necessário que consideremos a história que permeia a vida destes dois personagens, pois a pergunta divina nos remete a relação fraternal de Esaú e Jacó.

Eles não eram irmãos? Ou seja, eles não nasceram de Isaque? Ambos não eram filhos de Abraão? Eles não eram gêmeos? A resposta é sim! Esaú e Jacó eram irmãos.

Através deste argumento Deus prova que sempre amou o povo de Israel.

Como? Através dos cinco elementos anteriores podemos compreender de que maneira Deus amou a Jacó.

“Todavia amei a Jacó…”

Jacó tornou-se alvo do amor de Deus, apesar de Esaú e Jacó serem irmãos.

Como? Como Deus amou a Jacó?

 

Passemos à resposta:

Isaque, que tinha gosto por caça, amava a Esaú, pois ele era homem do campo e um perito caçador.

O gosto de Isaque e a qualidade de caçador de Esaú são fatores que combinados influenciaram o amor do patriarca.

“E cresceram os meninos, e Esaú foi homem perito na caça, homem do campo; mas Jacó era homem simples, habitando em tendas. E amava Isaque a Esaú, porque a caça era de seu gosto, mas Rebeca amava a Jacó” ( Gn 25:26 -27).

Isaque amava a Esaú. Observe que o amor de Isaque tinha em preferência Esaú; observamos um amor tendencioso.

Esaú era caçador e Jacó um homem sossegado que habitava em tendas. Segundo a visão e o sentimento de Isaque, Jacó não tinha as mesmas afinidades, o que o levou a preferir Esaú.

A bíblia registra várias vezes declarações de amor de Deus para com o seu povo Israel. Observe:

 

“E, porquanto amou teus pais, e escolheu a sua descendência depois deles, te tirou do Egito diante de si, com a sua grande força” ( Dt 4:37 );

“O SENHOR não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; Mas, porque o SENHOR vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito” ( Dt 7:7 -8);

“Tão somente o SENHOR se agradou de teus pais para os amar; e a vós, descendência deles, escolheu, depois deles, de todos os povos como neste dia se vê” ( Dt 10:15 );

“Porém o SENHOR teu Deus não quis ouvir Balaão; antes o SENHOR teu Deus trocou em bênção a maldição; porquanto o SENHOR teu Deus te amava ( Dt 23:5 ).

 

Ao ler os versículos acima, verifica-se que o amor de Deus para com o povo de Israel não é igual ao amor de Isaque para com os seus filhos.

O amor de Isaque era segundo o gosto que ele tinha pela caça; já o amor de Deus é segundo a sua vontade. Isaque amava a Esaú por causa da qualidade de caçador; Israel não tinha nenhuma qualidade, no entanto Deus ama a Israel ( Dt 9:6 ).

Observe que a declaração de Deus a Israel vem atrelada ao amor para com os patriarcas e com a promessa que a eles foi realizada.

Deus amou aos pais e escolheu a descendência dos patriarcas ( Dt 4:37 ). Não foram as qualidades do povo que fez surgir o amor de Deus, antes o amor de Deus para com os patriarcas é quem deu origem ao povo de Israel. Segue-se que Deus teve prazer em Israel e os escolheu porque os amava e para guardar a aliança feita com os pais ( Dt 7:7 -8).

Deus reitera o seu amor para com Israel dizendo: “Tão somente o Senhor se agradou de teus pais para os amar”; O fato de Deus se agradar dos patriarcas é que deu causa ao amor de Deus. Como?

Retornemos ao fato de Deus chamar o patriarca Abraão. Deus falou a Abraão: “Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” ( Gn 12:1 -3).

A proposta de bênção a Abraão partiu de Deus, ou seja, Deus se agradou de Abraão. Como Abraão correspondeu à proposta divina saindo da sua parentela, Deus passou a cumprir a sua proposta, o que demonstra o amor de Deus.

 

“O amor de Deus é demonstrado em santidade, retidão e justiça”

O amor do homem é demonstrado em favoritismo pessoal.

Já o amor de Deus é demonstrado em justiça. Como pode ser isso?

“Não era Esaú irmão de Jacó? disse o SENHOR; todavia amei a Jacó …”

Esaú e Jacó eram irmãos, mas apesar da relação fraternal entre os gêmeos, Deus amou a Esaú.

De que maneira Deus amou a Jacó?

Deus favoreceu Jacó em detrimento de Esaú? Isto seria amor? Não haveria acepção?

É isto que a relação fraternal evidenciada demonstra:

a) Deus é santo;

b) Não faz acepção de pessoas;

c) Não perverte o direito.

Quem era Jacó?

A bíblia descreve Jacó como sendo um homem de personalidade sossegada. O estilo de vida de Jacó era o de habitar em tendas.

A bíblia também descreve o nascimento de Jacó: um milagre! Raquel era estéril, mas concebeu após Isaque ter orado insistentemente ao Senhor. Raquel concebeu gêmeos e durante o parto Jacó saiu grudado ao calcanhar de seu irmão ( Gn 25:26 ).

Jacó durante a sua mocidade se mostrou oportunista comprando o direito de primogenitura do seu irmão ( Gn 25:29 -34).

Quando Isaque procurou abençoar os seus filhos, Jacó foi sutil e recebeu a bênção que antes pertencia a seu irmão ( Gn 27:35 ).

Diante da história de Jacó, pode-se afirmar que Deus só amou Jacó?

Não! Por quê? Porque Deus é santo e não faz acepção de pessoas! Deus amou e ama a todos os homens de igual modo.

Tanto Esaú quanto Jacó foram alvos do amor de Deus.

Mas, por que a bíblia diz que ‘Deus amou a Jacó’, se ele ama a todos? Por que Deus não perverte o direito, e um exemplo claro é a declaração: Deus não aceita suborno.

Jacó adquiriu legalmente o direito de primogenitura, e em decorrência do direito adquirido, Jacó foi ‘amado’ do Senhor. Ou seja, Deus concedeu a Jacó o que lhe era de direito.

Responda as perguntas seguintes acerca da declaração de Deus:

• Deus amou mais a Jacó do que Esaú? Não!

• Jacó era melhor que Esaú? Não!

• Jacó foi abençoado em decorrência da sua fé? Não!

• Deus favoreceu a Jacó em detrimento de Esaú? Não!

 

No caso de Esaú e Jacó não entra em voga questões pessoais como qualidades, moral, comportamento e vontade, antes o fator em evidência é o direito adquirido.

O amor de Deus foi revelado quando foi concedido a Jacó o que lhe era de direito.

Neste ponto entram em questão os cinco elementos enumerados no início da análise:

• A linguagem;

• O direito de primogenitura;

• O direito de herdar;

• A promessa, e;

• A história.

A linguagem utilizada por Malaquias para anunciar o sentimento divino é totalmente pertinente a linguagem bíblica.

Quando o profeta Malaquias transmite ao povo a seguinte mensagem: “Todavia amei a Jacó…”, a declaração é realizada em uma linguagem própria a ideia que se procurou transmitir.

A bíblia registra que Isaque amou a Esaú, mas de que forma?

Com base em preferências pessoais! A bíblia registra que Isaque amava a Esaú pelo simples fato dele gostar de caça “E amava Isaque a Esaú, porque a caça era de seu gosto, mas Rebeca amava a Jacó” ( Gn 25:28 ).

Se dependesse de Isaque a bênção decorrente do direito de primogenitura seria dada a Esaú ( Gn 27:1 -4).

Note que antes de abençoar a Esaú, Isaque queria satisfazer uma necessidade pessoal.

Seguindo o mesmo estilo de linguagem, a lei mosaica demonstra que o amor do homem não deve ser de acordo com uma preferência pessoal “Será que, no dia em que fizer herdar a seus filhos o que tiver, não poderá dar a primogenitura ao filho da amada, preferindo-o ao filho da desprezada, que é o primogênito” ( Dt 21:16 ).

A linguagem utilizada pelos dois versículos com relação ao amor aponta para preferência pessoal. Desta maneira a palavra ‘amor’ tem no seu bojo a ideia de gosto e preferência.

Observe que a expressão ‘filho da amada’ refere-se aquele filho que o pai tem preferência em decorrência de algum gosto em especial.

Como a bíblia registra que em momento algum se deve favorecer alguém que não tenha o direito, a análise da declaração: ‘Todavia amei a Jacó’, deve demonstrar que em Deus não há qualquer tipo de favoritismo pessoal.

Em momento algum Deus teve preferência ou favoreceu Jacó em detrimento de Esaú.

Deus amou a Jacó, ou seja, a linguagem utilizada e analisada dentro do contexto, que demonstra que Deus concedeu o que era de direito a Jacó.

Homem decide-se com base em gostos pessoais, e Deus se compraz naquilo que é justo e reto. A ‘preferência’ de Deus é a justiça.

A relação fraternal entre Esaú e Jacó foi utilizada para retratar de que forma está estabelecido o amor de Deus para com o povo de Israel.

Lembre-se que a mensagem divina é para o povo de Israel: “Eu vos tenho amado, diz o SENHOR. Mas vós dizeis: Em que nos tem amado?”. Ou seja, por meio da mensagem entregue por Malaquias Deus procurou demonstrar ao povo de Israel que eles estavam sob o cuidado divino devido a promessa feita aos pais “Mas, porque o SENHOR vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais” ( Dt 7:7 -8).

A mensagem é simples: Deus faz o que é justo ao preservar o povo de Israel (este é o amor de Deus), isto porque de maneira alguma Ele voltará atrás no juramento que fez aos pais.

Ao ler a história de Israel, muitos reputam que Deus sempre favoreceu o povo de Israel em detrimento dos outros povos.

Mas assim não é! Por quê? A resposta é simples: Deus não faz acepção de pessoas; Deus não aceita suborno e Ele é Santo.

Deus havia prometido aos pais, que de Israel faria uma grande nação, e por intermédio do cumprimento desta promessa que se revela o cuidado e o amor de Deus para com Israel.

Após a conscientização de que o contato com a linguagem utilizada por Malaquias também pode transmitir ou enfatizar uma ideia, passemos ao próximo ponto.

“E estas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” ( 1Co 10:6 ).

“Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” ( 1Co 10:11 ).

“Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus” ( Hb 9:24 ).

Para prosseguirmos em nosso estudo precisaremos observar o alerta de Paulo aos cristãos da igreja em Corintios.

O objetivo do apóstolo Paulo é alertar os cristãos, mas deste alerta nos cabe uma grande lição.

O apóstolo demonstra que todos aqueles que saíram do Egito passaram pelas mesmas experiências. Todos foram batizados na nuvem e no mar; todos comeram da mesma comida; todos beberam da mesma bebida, mas Deus não se agradou da maioria deles.

Por quê? Por que todos os homens que saíram do Egito, exceto dois, não puderam adentrar a terra prometida? Todos não beberam da mesma água e não comeram da mesma comida? ( Nm 14:30 ).

O que ocorreu com o povo de Israel serve de alerta para as nossas vidas, ou seja, ‘estas coisas foram-nos feitas em figuras’ e estão escritas para aviso, para que não venhamos a incorrer em erros ( 1Co 10:1 -6).

E quanto ao povo de Israel, o povo que nos serve de figuras?

Todos os elementos que estão presentes na história dos patriarcas e de Israel nos transmitem mensagens por figuras.

O fato de Israel ter estado debaixo da nuvem e ter passado pelo mar demonstram que todos foram batizados em Moisés ( 1Co 10:1 ); o fato de todos comerem da mesma comida e beberam da mesma bebida representa que todos se tornaram participantes de Cristo ( 1Co 10:4 ).

Moisés ao construir o tabernáculo no deserto seguiu um modelo, figura do verdadeiro tabernáculo que estava nos céus “Estava entre nossos pais no deserto o tabernáculo do testemunho, como ordenara aquele que disse a Moisés que o fizesse segundo o modelo que tinha visto” ( At 7:44 ).

Quase todos os elementos que foram apresentados no Antigo Testamento contêm uma ideia transmitida por figuras.

A primogenitura apresenta uma das mais importantes das figuras bíblicas.

Quando Moisés construiu o tabernáculo, o fez com base em um modelo; a lei não apresentava a imagem exata das coisas, antes era só uma sobra das coisas futuras “Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam” ( Hb 10:1 ).

E o que a primogenitura nos apresenta? Após entendermos a primogenitura, poderemos verificar a que se refere esta importante figura bíblica.

As figuras fazem referência a bens futuros e eternos. Nestas figuras contém elementos que nos faz perceber certos aspectos pertinentes ao que é permanente (eterno).

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” ( Rm 8:29 ).

Sabemos que Deus faz todas as coisas segundo o seu propósito. Deus propôs fazer convergir em Cristo todas as coisas para louvor de sua graça e glória.

Ao falar do propósito eterno de convergir em Cristo todas as coisas na plenitude dos tempos, Deus falou ao rei Davi assim: “Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho” ( 2Sm 7:14 ). Ou seja, Deus demonstra a Davi qual seria a relação entre Deus e o descendente de Davi.

Deus estabelece a relação de Pai e Filho ao falar de Jesus ao rei Davi. Por que Deus estabelece esta relação? Porque antes de existir mundo, na eternidade, não havia a relação Pai e Filho na divindade. Mas, ao ser introduzido o ‘Deus forte’ no mundo dos homens, passou a existir a relação Pai e Filho.

Quando na glória, sabemos que Cristo criou todas as coisas “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” ( Cl 1:16 -17), mas ao ser introduzido Cristo no mundo, pela relação que estava pré-estabelecida na eternidade, é dada a ordem: “E outra vez, quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem” ( Hb 1:6 ).

Por que se fez necessário se estabelecer a relação de Pai e Filho quando o ‘Deus forte’ foi introduzido no mundo? “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” ( Is 9:6 ). “Os restantes se converterão ao Deus forte, sim, os restantes de Jacó” ( Is 10:21 ).

Porque Cristo é o unigênito do Pai, mas havia em Deus o propósito eterno de fazê-lo primogênito de toda a criação. Sabemos que Cristo é o unigênito de Deus em poder e glória, e isto não será alterado ao longo da eternidade, pois a ele glória e majestade para o todo sempre.

Mas, para que Cristo se tornasse o primogênito de toda a criação, torna-se premente a existência de irmãos. Não há como existir a primogenitura se há só um Filho.

Aqui se revela a multiforme sabedoria de Deus, em que Cristo foi feito um pouco menor que os anjos, porém todas as coisas lhe são sujeitas; e, por meio de Cristo, Deus trouxe à glória muitos irmãos (que somos nós, a igreja), cumprindo-se o propósito eterno de Cristo ser o primogênito de toda a criação.

Como? Quando Cristo ressurgiu dentre os mortos, Ele tornou-se o primogênito dentre os mortos, e quando o cristão morre e ressurge com Cristo, também se torna um dos filhos de Deus, e Cristo vindica a posição sobre excelente de primogênito.

Por quê? “Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles” ( Hb 2:10 ).

Por meio de Cristo tudo existe, mas convinha que Ele levasse à glória muitos irmãos, ou seja, filhos gerados de Deus. Como conseqüência direta de Jesus ter introduzido muitos filhos à glória, passou a existir a preeminência de Cristo: o primogênito dentre os mortos: “E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” ( Cl 1:18 ).

Todos os que estão em Cristo, ou seja, que morreram e ressurgiram com Ele, não possuem alternativa. Haverão de ser filhos de Deus, predestinados, serão conforme a imagem de Cristo, com o único objetivo de Cristo ser primogênito dentre muitos irmãos “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” ( Rm 8:29 ).

Em decorrência destas verdades eternas é que se estabeleceu o direito de primogenitura. No primeiro momento temos a impressão que o direito de primogenitura não tem relação com estas verdades eternas, porém ao observarmos as declarações do apóstolo Paulo, nos inteiramos da seguinte verdade: a primogenitura foi estabelecida por Deus aos homens como figura de verdades eternas.

Por isto faz-se necessário observarmos a relação fraternal entre Jacó e Esaú, pois nela temos que considerar o direito que decorre da primogenitura.

Se olharmos a primogenitura do ponto de vista secular, geralmente ela é analisada como sendo regras pertinentes à sucessão hereditária, o que envolve deveres para com a família e direitos quanto a bens patrimoniais.

Todas as vezes que se lê na bíblia que ‘fulano’ era o primogênito, a única relação que se estabelece é com relação ao direito do mais velho receber porção dobrada da herança.

Mas, após verificarmos que a primogenitura é figura de conceitos espirituais, muda a maneira de se observar o porquê a bíblia enfatiza o direito proveniente da primogenitura.

Paulo ao escrever aos cristãos em Roma faz referência a Esaú e Jacó da seguinte maneira:

“E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma” ( Rm 9:11 -14).

O propósito inicial de nosso estudo é compreender os argumentos utilizados por Paulo para nos fazer chegar a conclusão de que não há injustiça da parte de Deus.

Justamente a citação de Malaquias: “Amei a Jacó e aborreci a Esaú”, que muitos usam para afirmar que Deus foi parcial em favor de Jacó é o texto que Paulo utiliza para demonstrar que não há injustiça em Deus.

Não há de maneira alguma injustiça da parte de Deus! Esta é a conclusão de Paulo. Mas, como chegar a tal conclusão diante dos argumentos que ele utilizou?

Quando Paulo cita a história de Esaú e Jacó, ele faz referência a eventos que ocorreram antes do parto. Destes eventos ele destaca que os gêmeos ainda não haviam nascido (o que demonstra que eles não haviam feito bem ou mal), e Deus anunciou a Rebeca que o maior haveria de servir o menor.

É certo que Deus adiantou a Rebeca que Esaú serviria a Jacó por meio de sua onisciência, no entanto, a onisciência não é a base da eleição.

Da mesma forma a soberania de Deus não é a base para a eleição, visto que a eleição é a base para o seu propósito.

Não! Não foi por meio destes elementos que Deus fez conhecido a Rebeca que Esaú serviria a Jacó.

1º Não foram as ações de Jacó que determinaram o amor de Deus;

2º Deus não tem preferência por suas criaturas, visto que ele não faz acepção de pessoas, é santo e não aceita suborno.

Quais são os elementos que o apóstolo Paulo utiliza para afirma que não há injustiça da parte de Deus? Que por intermédio da onisciência divina, Deus antecipou a Rebeca que o maior serviria o menor, o que é a base do que foi dito por intermédio de Malaquias: “Amei a Jacó, e aborreci a Esaú”.

Observe a análise de Paulo:

“Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos, pois? Que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma” ( Rm 9:11 -14).

Com base no que está escrito em Malaquias (com base em seu amor) é que Deus disse a Rebeca que o maior haveria de servir o menor. Se o amor é a base, não há como considerar que a soberania ou a ideia equivocada acerca da ‘presciência’* de Deus é que demonstra a justiça de Deus.

Por que é segundo o amor de Deus? Porque o amor de Deus é demonstrado em justiça e não em favoritismo pessoal.

Com base nestes elementos Paulo conclui: “Que diremos, pois? Que há injustiça da parte de Deus?”.

Novamente: Que elementos? Observe:

“(para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama)”

 

Qual o propósito de Deus?

“Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” ( 2Tm 1:9 ).

O propósito e a graça de Deus são antes de se estabelecer os tempos que se mensura através de unidades de medidas tão exíguos como é o caso do ‘século’ (II Pd 3. 8). O propósito foi estabelecido na eternidade e na pessoa de Cristo Jesus. Aqui Paulo falou do tempo em que Deus estabeleceu o seu propósito e por meio de quem ele levou a efeito tal propósito – Jesus Cristo.

“Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” ( Ef 1:9 -10).

Qual o propósito, ou qual a vontade de Deus, que nos é revelado em Cristo? O propósito de Deus é o de reunir em Cristo todas as coisas “…tanto as que estão nos céus como as que estão na terra”.

Para este propósito Deus nos fez agradáveis a si por meio de Cristo; perdoou os nossos pecados, nos redimiu etc ( Ef 1:3 -10).

Além de congregar em Cristo todas as coisas, o propósito de Deus também inclui a preeminência em tudo “E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” ( Cl 1:18 ).

Novamente vemos que quando Cristo ressurgiu dentre os mortos, ele se tornou o primogênito de Deus, visto que para alcançarmos a filiação divina nos é necessário nascer de novo. Só a ressurreição em Cristo proporciona esta nova condição ao crente.

“Mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para mim, a quem traspassaram; e pranteá-lo-ão sobre ele, como quem pranteia pelo filho unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito” ( Zc 12:10 ).

O profeta Zacarias lança esclarecimento sobre as duas condições pertinentes a Cristo. Em um futuro próximo Israel olhará para aquele aquém crucificaram da seguinte maneira:

a) Chorarão pelo unigênito de Deus. Este versículo demonstra a divindade de Cristo! Ou seja, chorarão cientes de que crucificaram o filho unigênito de Deus;

b) Da mesma forma chorarão pelo primogênito, pois está é a condição daquele que ressurgiu dentre os mortos.

Morreu na cruz o unigênito filho de Deus! Ressurgiu dentre os mortos o primogênito de Deus, isto porque ele conduz a glória muitos irmãos.

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou” ( Jo 1:14 e 18).

“Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos” ( 1Jo 4:9 ).

O apóstolo João é enfático ao falar da condição de Cristo:

a) O Filho unigênito revelou e nos fez conhecer o Pai;

b) O Filho foi enviado ao mundo;

c) Foi possível reconhecer que a glória do Pai estava sobre o unigênito.

 

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” ( Rm 8:29 );

“O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” ( Cl 1:15 );

“E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” ( Cl 1:18 );

“E outra vez, quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem” ( Hb 1:6 );

“E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Aquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados” ( Ap 1:5 ).

 

Paulo é enfático ao falar da primogenitura de Cristo: Ele é o primogênito de toda a Criação!

Mas, para Cristo obter a condição de primogênito, fez-se necessário que muitos irmãos viessem a existência. Como?

Todos aqueles que creem em Deus e em Cristo conforme diz as escrituras, estes nascem de Deus, e se tornam seus filhos “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” ( Jo 1:12 -13).

“Porque, ainda que foi crucificado por fraqueza, vive, contudo, pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos com ele pelo poder de Deus em vós” ( 2Co 13:4 ).

O mesmo poder que trouxer Cristo dentre os mortos é o que opera em nós, os que cremos!

“E qual a sobre excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus” ( Ef 1:18 -19).

O poder de Deus foi manifesto em Cristo, quando da ressurreição dentre os mortos. Este poder é que em nós opera.

Todos estes elementos reunidos nos fazem filhos de Deus e irmãos de Cristo. Desta maneira ele é o primogênito dentre muitos irmãos!

Vimos por meio dos versículos citados acima que Deus aprovou (beneplácito) o propósito que tivera em si de fazer convergir em Cristo todas as coisas. Para isto, o Filho unigênito foi entre por todos nós “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?” Rm 8. 32, e após a ressurreição de Cristo, muitos filhos foram conduzidos a glória “Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles” ( Hb 2:10 ).

“(para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama)”

Mas, por que o propósito de Deus é segundo a Eleição?

Paulo estava falando de que maneira se alcança a filiação divina: pela promessa se é contado como descendência de Abraão (filho de Deus). E qual foi a palavra da promessa? “Por este tempo virei, e Sara terá um filho” ; da mesma forma a palavra da promessa foi dita a Rebeca, o que demonstra o propósito de Deus em constituir filhos para si.

Paulo já havia falado do propósito de Deus em alguns versículos anteriores.

Paulo havia demonstrado que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que são chamados (aqueles que amam a Deus) segundo o seu propósito ( Rm 8:28 ). Estes foram predestinados para serem conforme a imagem de Cristo, com o fim último de Cristo ser primogênito ( Rm 8:29 ).

Temos o propósito de Deus de maneira evidente: Cristo ter a preeminência e Deus muitos filhos.

Mas há uma ressalva para tudo isto: o propósito é segundo a eleição!

O texto demonstra a onisciência divina: antes de Esaú e Jacó nascerem foi dito a Rebeca que o maior haveria de servir o menor. Mas, o que foi dito à Rebeca não é com base na ideia equivocada de presciência ou soberania de Deus. O que foi dito a Rebeca é conforme o que está escrito: “Amei a Jacó e aborreci a Esaú”.

Se o que foi dito a Rebeca é conforma Malaquias 1. 2- 3 resta a conclusão: Não há injustiça da parte de Deus!

Observe ainda:

“O maior servirá o menor” é conforme o que está escrito: “Amei a Jacó e aborreci a Esaú”. Que diremos Pois? Que não há injustiça da parte de Deus!

Por quê? Por que na fase: “Amei a Jacó…” está implícito como é o amor de Deus! Ou seja, para compreender a frase: “Amei a Jacó…”, só é possível se considerarmos a relação fraternal de Esaú e Jacó “Não foi Esaú irmão de Jacó? Todavia..”.

 

O propósito de Deus é segundo a eleição

Este tópico nos remete ao início do estudo.

A eleição de Deus é desta forma:

“Não foi Esaú irmão de Jacó? Todavia amei a Jacó e aborreci a Esaú” ( Ml 1:2 -3)

A eleição do homem é da seguinte maneira:

“E cresceram os meninos, e Esaú foi homem perito na caça, homem do campo; mas Jacó era homem simples, habitando em tendas. E amava Isaque a Esaú, porque a caça era de seu gosto, mas Rebeca amava a Jacó” ( Gn 25:27 -28).

O que este dois textos demonstram? Que o amor do homem é tendencioso, segundo preferências pessoais (gosto). Isaque amava Esaú por ele ser caçador. Rebeca amava Jacó por ele habitar em tendas e ser sossegado.

O amor do homem é propenso, inclinado a favorecer aquele que mais o agrada.

E como se dá a escolha de Deus? Com base em seu amor!

Daí surge os três elementos: Deus é santo; não perverte o direito e não faz acepção de pessoas.

Deus amou a Jacó, ou seja, fez o que lhe era de direito, conferindo a ele o direito de primogenitura. Em momento algum Deus oprimiu a Esaú para que colocasse a venda o direito de primogenitura – Demonstra a santidade de Deus. Em momento algum Deus preferi a Jacó em detrimento de Esaú – Demonstra que Deus não tem ninguém em preferência. Por mais que Esaú buscou reaver o seu direito, não foi possível – Deus não corrompe o direito; as lágrimas não podem subornar aquele que é justo e reto “Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou” ( Hb 12:17 ).

Por que Esaú não achou lugar de arrependimento? Porque não há como duas pessoas compartilharem o direito que decorre da primogenitura.

Não podemos confundir: Esaú não achou lugar de arrependimento por não ter como ele reaver o direito de primogenitura. Mas, se ele se arrependesse dos seus pecados, sempre haveria lugar, pois na questão relativo a salvação o que impera é a promessa.

Comentamos a linguagem utilizada por Malaquias e as questões decorrentes do direito de primogenitura. O próximo passo é comentarmos o direito e a herança.

“E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” ( Rm 8:17 ).

A nossa análise inicia-se com a argumentação paulina: “…se nós somos filhos…”. Vimos que antes mesmo de haver mundo Deus aprovou o seu próprio propósito de estabelecer a preeminência de seu Filho; para isso foi introduzido o Unigênito do Pai no mundo, que após ser entregue e morto em prol da humanidade, ressurgiu e se assentou a destra de Deus.

O filho de Deus retornou a sua glória, aquela que Ele possuía antes mesmo de haver mundo conduzindo muitos filhos a glória de Deus, e alcançou a condição de primogênito dentre os mortos, visto que todos os seus irmãos ressurgem dentre os mortos com ele.

Resumindo: o direito de primogenitura decorre de um propósito eterno em Deus.

“E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” ( Rm 8:17)

A nossa análise inicia-se com a argumentação paulina: na: “…se nós somos filhos…”.

Vimos que antes mesmo de haver mundo Deus aprovou o seu próprio propósito de estabelecer a preeminência de seu Filho; para isso foi introduzido o Unigênito do Pai no mundo, que após ser entregue e morto em prol da humanidade, ressurgiu e se assentou a destra de Deus.

O filho de Deus retornou a sua glória, aquela que Ele possuía antes mesmo de haver mundo, conduzindo muitos filhos à glória de Deus, e alcançou a condição de primogênito dentre os mortos, visto que todos os seus irmãos ressurgem dentre os mortos com Ele “E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” ( Jo 17:5 );

Resumindo: o direito de primogenitura decorre de um propósito eterno em Deus.

“E perguntou-lhe um certo príncipe, dizendo: Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?” ( Lc 18:18 ).

Este jovem rico ao abordar a Jesus foi bem específico em suas palavras. Que hei de fazer? A preocupação da humanidade é sobre o que se deve ou não fazer para se obter a vida eterna “Disseram-lhe, pois: Que faremos para executarmos as obras de Deus?” ( Jo 6:28 ).

A resposta de Jesus é satisfatória: “Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” ( Jo 6:29 ).

Não há o que o homem procure fazer ou que abstenha em fazer que possa dar-lhe direito a vida eterna. Ao homem isto é impossível, mas a Deus tudo é possível.

Mas, por que o jovem rico utiliza a palavra ‘herdar’ para fazer referência a vida eterna. Observe que muitos outros versículo refere-se a vida eterna com o termo ‘herdar’:

“Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus?” ( 1Co 6:9 );

“E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção” ( 1Co 15:50 ).

“Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?” ( Hb 1:14 ).

Com base nestes versículos podemos afirmar que só obtém a salvação aquele que adquire o direito.

Como foi visto, a primogenitura é um direito. Jesus ao ressurgir dentre os mortos tornou-se o primogênito dentre os mortos ( Cl 1:18 ).

Em contra partida, muitos irmãos ressurgiram com Ele e passaram a ter direito a herança dos santos na luz ( 1Pe 1:3 ; Cl 1:12 ).

Desta forma entendemos a colocação do apóstolo Paulo: se nós somos filhos, somos logo herdeiros também! A condição de filho confere aos crentes o direito.

“Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa” ( Hb 11:9 ).

O direito que Deus confere é por peio da fé, não por obras.

Observe que a promessa foi dada a Abraão, e Isaque e Jacó passou a ser herdeiros com o patriarca Abraão.

Pergunto novamente:

Deus amou mais a Jacó do que Esaú? Não!

Jacó era melhor que Esaú diante de Deus? Não!

Jacó foi amado de Deus por ter fé? Não!

A fé de Abraão na promessa realizada por Deus conferiu a seus herdeiros direitos. Jacó foi abençoado por ter o direito de primogenitura, e não por ter tido fé em Deus.

Como? Não devemos ter fé para alcançarmos a salvação?

Explico! Em Gênesis temos uma narração de suma importância para entendermos o que é direito e o que é por fé:

“E estas são as gerações de Terá: Terá gerou a Abrão, a Naor, e a Harã; e Harã gerou a Ló. E morreu Harã estando seu pai Terá ainda vivo, na terra do seu nascimento, em Ur dos caldeus. E tomaram Abrão e Naor mulheres para si: o nome da mulher de Abrão era Sarai, e o nome da mulher de Naor era Milca, filha de Harã, pai de Milca e pai de Iscá. E Sarai foi estéril, não tinha filhos. E tomou Terá a Abrão seu filho, e a Ló, filho de Harã, filho de seu filho, e a Sarai sua nora, mulher de seu filho Abrão, e saiu com eles de Ur dos caldeus, para ir à terra de Canaã; e vieram até Harã, e habitaram ali. E foram os dias de Terá duzentos e cinco anos, e morreu Terá em Harã” ( Gn 11:27 -32).

O livro de Gênesis enumera as gerações até chegar em Abrão. O livro de Gênesis demonstra que Abrão morava em uma terra pagã, em Ur dos Caldeus.

Quando Deus convocou Abrão, ele era gentio “E fosse pai da circuncisão, daqueles que não somente são da circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé que teve nosso pai Abraão, que tivera na incircuncisão” ( Rm 4:12 ).

Abraão estava em meio a sua parentela, quando Deus disse: “Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” ( Gn 12:1 -3).

Abraão tinha algum direito diante de Deus? Não! Mas, quando Deus prometeu que lhe abençoaria, caso ele saísse do meio de sua parentela para uma terra que ainda seria mostrada, surgiu a possibilidade de direitos por parte de Abraão.

Quando Abraão partiu conforme o que o Senhor lhe falará, Abraão passou a ter direito segundo o que lhe foi prometido.

Houve a promessa da parte de Deus, e depois a ação de Abraão em obedecer. Com a simples ação de sair do meio de sua parentela Abraão adquiriu direito perpetuo para a sua descendência, visto que a promessa incluía uma grande nação.

Posteriormente Deus faz outra promessa concernente a um filho para Abraão, e ele creu:

“E creu ele no SENHOR, e imputou-lhe isto por justiça ( Gn 15:6 ).

Quando Abraão saiu do meio da sua parentela, ele adquiriu direito a uma possessão terrena para a sua descendência. Quando ele creu em Deus, ele adquiriu uma pátria celestial.

De sorte que, aqueles que creem em Cristo são participantes da esperança celestial “De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão” ( Gl 3:9 ).

Como Deus na faz acepção de pessoas, todos aqueles que creem conforme a fé que teve o Pai Abraão, estes serão benditos.

Ter fé como Abraão não dá direito a ninguém a promessa de ser uma grande nação, visto que esta promessa é exclusiva a Abraão e aos seus filhos: Isaque, Jacó, etc.

É certo que com Cristo padecemos (já morremos com Cristo). É certo que com Cristo já fomos glorificados (já ressurgimos com Cristo uma nova criatura). O ser glorificado em Romanos oito, dezessete, é diferente da glorificação futura.

“…se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” ( Rm 8:17 ).

Se temos a certeza que padecemos com Cristo (mesmo não tendo subido ao madeiro cruento dos romanos), segue-se que Jesus ressurgiu dentre os mortos, glorificado, e nós ressurgimos com ele (mesmo que não alcançamos a glorificação futura).

“E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” ( Rm 8:17 ).

Como é certo que padecemos com Cristo e ressurgimos com Ele, também é certo que passamos a ter direito a herança dos santos na luz. Ter direito a herança dos santos só é possível após adquirir a filiação divina.

A nova criatura é herdeira de Deus e co-herdeira com Cristo. Cristo, o primogênito, e nós somos os irmãos que possuem o direito a herdar de Deus (na luz) “Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz. Estas coisas disse Jesus e, retirando-se, escondeu-se deles” ( Jo 12:36 ). “Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz” ( Cl 1:12 ).

João expõe uma verdade declarada por Cristo: Enquanto eles (a multidão) tinham a Cristo, deveriam crer nele, e então seriam filhos de Deus (da luz). Imediatamente após crerem em Cristo, os cristãos já eram idôneos para participar da herança dos santos.

Para aqueles que creem em Cristo não é necessário esperar para ser participante da herança dos santos. Paulo demonstra que Deus já nos fez idôneos. O novo homem nasce de Deus pleno e de posse de direitos que lhe confere uma herança em Deus (….herança dos santos na luz).

“Por isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento” ( Hb 6:17 ).

A promessa confere ‘direitos’. Promessa e direito estão intimamente vinculados. Não há como se estabelecer uma promessa sem criar um direito.

A promessa é graça. É dom gratuito por parte de quem a estabelece.

“Porque, se a herança provém da lei, já não provém da promessa; mas Deus pela promessa a deu gratuitamente a Abraão” ( Gl 3:18 ).

O direito a herança foi dado gratuitamente por Deus a Abraão por meio da promessa. Não houve qualquer exigência ou condição a se satisfeita por Abraão que lhe fosse conferido o prometido.

O fato de Abraão ter saído do meio de sua parentela, acatando a ordem divina, não é o que lhe conferiu o direito a herdar de Deus. Antes, o direito foi conferido por meio da promessa.

“Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção” ( Gn 12:1 -2).

Na promessa realizada por Deus a Abraão não há uma condição sequer a ser realizada por Abraão. Nos versículos anteriores temos uma ordem e uma promessa. Com efeito, Abraão saiu de sua parentela e levou consigo o seu sobrinho Ló, o que não invalidou a promessa.

“…todavia amei a Jacó, e odiei a Esaú”

Até este ponto foi analisado parte da declaração: “…amei a Jacó…”.

Analisaremos, agora, o restante da declaração: “…e odiei a Esaú”.

Como foi visto até agora, Deus não faz acepção de pessoas, ou seja, Ele ama a todos indistintamente.

O amor de Deus é narrado por Cristo desta forma:

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” ( Jo 3:16 ).

Deus amou o mundo, e não algumas pessoas em específico. Deus não tem ninguém em preferência e faz justiça a todos sem distinção.

Mas, e a declaração: “…odiei a Esaú”?

Passemos a analisar a frase:

“…todavia amei a Jacó, e odiei a Esaú”

Outra tradução reza o seguinte:

“…todavia amei a Jacó, porem aborrecia a Esaú“

Londres: Trinitarian Bible Society, 7 Bury Place, W.C.I.; 1948

Como entender a declaração acima?

Conforme o que já estudamos, Deus amou a Jacó, ou seja, Deus agiu conforme o que era de direito a Jacó. Mesmo Jacó e Esaú sendo irmãos, Deus não teve nenhum dos dois em preferência, antes se ateve a fazer o que era de direito a Jacó.

Nisto se revela o amor de Deus: Ele é santo, não faz acepção de pessoas e não perverte o que é de direito.

Como ler a frase acima?

“Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor (…) E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele” ( Jo 4:8 e 16).

A bíblia é clara: Deus é amor! É possível existir o ódio naquele que é amor eterno? Há dois sentimentos em Deus: amor e ódio?

Sabemos que Deus amou o mundo antes mesmo que houvesse mundo. Sabemos que Jesus é cordeiro de Deus morto desde a fundação do mundo, o que demonstra o amor de Deus.

“O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” ( 2Pe 3:9 ).

“Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” ( 1Tm 2:4 ).

É um contra senso admitir que em Deus haja ódio. Visto que antes mesmo de trazer a existência as suas criaturas, ele já havia providenciado salvação poderosa para todos. O amor de Deus é demonstrado antes mesmo de haver mundo.

Todos os atos, todos os feitos contínuos de Deus foram feitos em amor. Todas as suas criaturas, e não importa a condição na qual elas estejam, são alvos doa amor de Deus.

“Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” ( Rm 5:8 ).

A pior condição do homem diante de Deus só consegue evidenciar o seu imenso cuidado e amor para com suas criaturas. Deus é amor eterno, e não há qualquer base para inferirmos que Deus tenha tido ódio de alguém.

  • Verificando as traduções bíblicas, a correta é aquela que reza da seguinte forma: “Todavia amei a Jacó e a Esaú aborreci”. A frase CORRETA e aquela que adota a palavra ‘ABORRECI’ em lugar do ‘ODIEI’;
  • Só há uma ação divina demonstrada na frase: o amor. A frase não demonstra duas ações ou sentimentos em Deus. Deus amou a Jacó da mesma forma que Deus ama a toda humanidade. Caso Esaú tivesse o direito de primogenitura, Deus haveria de fazer frente ao que lhe era de direito;
  • A segunda parte da frase é conseqüência do ato realizado na primeira parte: Por Deus ter amado Jacó (dado o que era de direito a Jacó), como conseqüência direta Esaú ficou aborrecido.

A frase não demonstra que Deus estava aborrecido com Esaú. Caso Deus tivesse aborrecido com Esaú, a frase seria da seguinte forma: “Amei a Jacó e me aborreci de Esaú”. No entanto, Malaquias demonstra que Deus amou a Jacó e o ato de dar o que era de direito a Jacó deixou Esaú aborrecido.

Onde há outro fato semelhante ao de Esaú na bíblia?

“E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei do SENHOR um homem. E deu à luz mais a seu irmão Abel; e Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra. E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. E o SENHOR disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou” ( Gn 4:1 -8).

Todos os aspectos analisados até aqui são aplicáveis a Caim e Abel. Deus atentou para a oferta de Abel e isto causou um sentimento pernicioso em Caim. Tal sentimento não há em Deus e tão pouco Deus influenciou a Caim para ter tal sentimento.

Deus atentou para Abel e, em conseqüência, Caim ficou aborrecido. Da mesma maneira, Deus fez o que era de direito a Jacó, dando lhe a bênção, fato este que levou Esaú a ficar aborrecido.

Compare a narrativa do que ocorreu com Esaú e com Caim:

“Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. E o SENHOR disse a Caim: Por que te iraste?”

“E Esaú odiou a Jacó por causa daquela bênção, com que seu pai o tinha abençoado; e Esaú disse no seu coração: Chegar-se-ão os dias de luto de meu pai; e matarei a Jacó meu irmão” ( Gn 27:41 ).

A bênção que Deus dera a Jacó deu causa ao ódio no coração de Esaú. Diante desta semelhança entre o que ocorreu com Caim e Esaú, verifica-se que por Deus ter dado o que era de direito a Jacó, Esaú se aborreceu.

Ao demonstrar o seu amor, que é conforme a justiça, Deus deu o que era de direito a Jacó e conseqüentemente aborreceu a Esaú.

Voltemos ao texto de Malaquias:

“Eu vos tenho amado, diz o SENHOR. Mas vós dizeis: Em que nos tem amado? Não era Esaú irmão de Jacó? disse o SENHOR; todavia amei a Jacó, E odiei a Esaú; e fiz dos seus montes uma desolação, e dei a sua herança aos chacais do deserto. Ainda que Edom diga: Empobrecidos estamos, porém tornaremos a edificar os lugares desolados; assim diz o SENHOR dos Exércitos: Eles edificarão, e eu destruirei; e lhes chamarão: Termo de impiedade, e povo contra quem o SENHOR está irado para sempre” ( Ml 1:1 -5)

Recapitulando: Por intermédio de Malaquias Deus anuncia ao povo de Israel o seu amor. Israel por sua vez retruca: “Em que nos tem amado?”. Como prova de seu amor, Deus apresenta o argumento seguinte: “Não era Esaú irmão de Jacó? Todavia amei a Jacó e aborrecia Esaú”.

Uma prova contundente do amor de Deus para com Israel está na comparação entre o que ocorreu com Jacó e Esaú, e por semelhança entre o que estava ocorrendo com Israel e o que ocorreu com os idumeus: “…e fiz dos seus montes uma desolação, e dei a sua herança aos chacais do deserto”.

A desolação dos idumeus foi causada por Deus. O que pertencia ao povo descendente de Esaú foi dado aos chacais do deserto e não aos seus filhos.

Alguém pode estar se perguntando: onde está o amor de Deus nesta declaração?

Observe que Israel, a despeito dos seus pecados, ainda existia como nação, e os idumeus não.

Já os idumeus acabaram destruídos devido aos seus pecados.

O que fez Israel e os idumeus ter tratamento diferente perante Deus?

A promessa feita por Deus a Abraão é a resposta. O que determina o amor (o cuidado) de Deus para com Israel é a promessa de Deus aos pais.

Deus havia prometido a Abraão que dele faria uma grande nação, e o fato de Deus cumprir cabalmente a sua promessa demonstra o seu amor. Se não fosse a promessa de Deus feita aos patriarcas, há muito Israel teria se tornado em uma desolação.

 

A promessa de Deus é que tornou Edom e Israel diferentes

O que Deus disse a Abraão? “Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” ( Gn 12:1 -3).

Deus havia prometido a Abraão que dele faria uma grande nação e que todos que amaldiçoassem a Israel seriam amaldiçoados. O que os idumeus fizeram que acabou por determinar maldição sobre eles?

Quase no fim da peregrinação do povo de Israel pelo deserto, fez-se necessário ao povo de Israel passar pelos termos de Edom. Moisés enviou mensageiros ao rei de Edom pedido que deixasse o povo de Israel passar por suas terras com as palavras seguintes: “Depois Moisés, de Cades, mandou mensageiros ao rei de Edom, dizendo: Assim diz teu irmão Israel: Sabes todo o trabalho que nos sobreveio…” ( Nm 20:41 ).

E qual foi a resposta dos ‘irmãos’ idumeus? “Porém Edom lhe disse: Não passarás por mim, para que eu não saia com a espada ao teu encontro (…) Porém ele disse: Não passarás. E saiu-lhe Edom ao encontro com muita gente, e com mão forte (…) Assim recusou Edom deixar passar a Israel pelo seu termo; por isso Israel se desviou dele” ( Nm 20:18 -21).

O salmista lembra o comportamento dos idumeus no passado “Lembra-te, SENHOR, dos filhos de Edom no dia de Jerusalém, que diziam: Descobri-a, descobri-a até aos seus alicerces” ( Sl 137:7 ).

O profeta Ezequiel é mais esclarecedor acerca do peso do Senhor contra os idumeus:

“Assim diz o Senhor DEUS: Porquanto Edom se houve vingativamente para com a casa de Judá, e se fez culpadíssimo, quando se vingou deles; Portanto assim diz o Senhor DEUS: Também estenderei a minha mão sobre Edom, e arrancarei dela homens e animais; e a tornarei em deserto, e desde Temã até Dedã cairão à espada. E exercerei a minha vingança sobre Edom, pela mão do meu povo de Israel; e farão em Edom segundo a minha ira e segundo o meu furor; e conhecerão a minha vingança, diz o Senhor DEUS” ( Ez 25:12 -14).

Há uma grande diferença entre a ideia que se infere da palavra ódio e das palavras como ira, furor e vingança ( Hb 10:30 ).

Observe novamente a declaração de amor de Deus:

“O SENHOR não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; Mas, porque o SENHOR vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito. Saberás, pois, que o SENHOR teu Deus, ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos. E retribui no rosto qualquer dos que o odeiam, fazendo-o perecer; não será tardio ao que o odeia; em seu rosto lho pagará” ( Dt 7:7 -9)

O texto de Deuteronômio demonstra que Israel foi escolhido por que Deus os amava, ou seja, para cumprir o juramento feito a Abraão.

Alguém que no futuro observasse o número de pessoas que integrava a nação de Israel poderia considerar que Deus havia escolhido a Israel para amá-los em decorrência da quantidade de israelitas. Deus demonstra o contrário: “…éreis menos em número do que todos os povos”.

Note que o amor de Deus é interligado a atributos como a fidelidade e justiça. Ele fez aliança com Abraão, e a fidelidade de Deus resulta em misericórdia.

A soberba poderia subir ao coração do povo caso considerassem que a riqueza que adquiriram era resultado de esforço próprio. Deus alerta:

“E digas no teu coração: A minha força, e a fortaleza da minha mão, me adquiriu este poder. Antes te lembrarás do SENHOR teu Deus, que ele é o que te dá força para adquirires riqueza; para confirmar a sua aliança, que jurou a teus pais, como se vê neste dia” ( Dt 8:17 -18).

Tudo o que o povo de Israel haveria de conquistar era resultado direito do amor de Deus, que é segundo a aliança estabelecida com Abraão.

Eles adquiriam a terra prometida por meio da promessa feita a Abraão, e não como conseqüência de atos ‘justos’: “Sabe, pois, que não é por causa da tua justiça que o SENHOR teu Deus te dá esta boa terra para possuí-la, pois tu és povo obstinado” ( Dt 9:4 ).

O amor de Deus para com o povo de Israel é com base nos termos seguintes:

“Então se acendeu a ira do SENHOR contra o seu povo, de modo que abominou a sua herança. E os entregou nas mãos dos gentios; e aqueles que os odiavam se assenhorearam deles. E os seus inimigos os oprimiram, e foram humilhados debaixo das suas mãos. Muitas vezes os livrou, mas o provocaram com o seu conselho, e foram abatidos pela sua iniquidade. Contudo, atendeu à sua aflição, ouvindo o seu clamor. E se lembrou da sua aliança, e se arrependeu segundo a multidão das suas misericórdias. Assim, também fez com que deles tivessem misericórdia os que os levaram cativos” Sl 106. 40- 46.

O povo de Israel ao se queixarem de Deus não atinavam que estavam se queixando dos seus próprios pecados. Isto porque os afligidos haviam provocado a ira de Deus, e foram “…abatidos pela sua iniquidade” ( Sl 106:43 ).

A causa de Israel não ter sido consumido e sempre restar um remanescente do povo é porque Deus não se esquece de sua aliança.

“Lembrou-se da sua aliança, e compadeceu-se, segundo a grandeza do seu amor” ( Sl 106:45 ).

“E os vossos olhos o verão, e direis: O SENHOR seja engrandecido além dos termos de Israel” ( Ml 1:5 ).

Este versículo encerra o primeiro ciclo de perguntas e respostas.

É característica própria do livro de Malaquias apresentar um enunciado profético para o futuro de Israel ao fim de cada ciclo de perguntas e respostas.

Do versículo 1 ao 4, Malaquias faz referência ao tempo presente do povo. Já o versículo 5 remete a um futuro em que o povo de Israel haverão de ver o Senhor.

Esta característica do livro de Malaquias faz com que o livro contenha pequenos enunciados proféticos e complementares à mensagem principal. Característica que difere totalmente dos outros livros proféticos.

Observe a relação que há entre o versículo 5 e 11:

“Mas desde o nascente do sol até ao poente é grande entre os gentios o meu nome; e em todo o lugar se oferecerá ao meu nome incenso, e uma oferta pura; porque o meu nome é grande entre os gentios, diz o SENHOR dos Exércitos” (v. 11).

“E os vossos olhos o verão, e direis: O SENHOR seja engrandecido além dos termos de Israel” (v. 5).

Os dois versículos remetem ao futuro de Israel e falam da condição que se estabelecerá entre Deus e os gentios.

Falaremos destas profecias em um próximo comentário.

Resumindo a declaração de amor que Deus fez ao povo de Israel.

Não foram as ações de Esaú ou Jacó que determinaram o amor de Deus; É certo que o amor de Deus abrange a todos os homens, visto que ele faz justiça a todos.

Deus não tem preferência por suas criaturas, visto que:

a) Ele não faz acepção de pessoas;

b) É santo, e;

c) Deus não aceita suborno, ou seja, não corrompe o que é de direito.

Após as analises apresentadas, fica o alerta: ao ler a bíblia devemos nos inteirar da linguagem utilizada pelos escritores. Citações do Antigo Testamento no Novo Testamento devem ser interpretadas conforme a ideia básica apresentada no Antigo Testamento.

 

* A ‘presciência’ de Deus refere-se ao ‘conhecimento’, a ‘mensagem’ de Deus anunciada previamente pelos seus santos profetas de que Cristo seria morto na plenitude dos tempos em função do beneplácito da vontade de Deus, pois Cristo é o Cordeiro de Deus morto deste a fundação do mundo, ou seja, a ‘presciência’ ou o ‘pré-conhecimento’ diz dos eventos que se sucederam com relação à vida e morte de Cristo em conformidade com as Escrituras “E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” ( Ap 13:8 ).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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