Aquele menino que Simeão estava segurando – Jesus – é o motivo do cântico de Simeão, pois além de ser a consolação de Israel, era a Luz prometida a Abraão que trouxe bem-aventurança a todos os povos.
O Cântico de Simeão
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“Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra; Pois já os meus olhos viram a tua salvação, a qual tu preparaste perante a face de todos os povos; Luz para iluminar as nações, e para glória de teu povo Israel” ( Lucas 2:29 -32).
Introdução
O evangelista Lucas é o único a registrar que um homem de nome Simeão tomou Jesus nos braços e louvou a Deus.
De Simeão nada sabemos, pois o evangelista não teve por importante informar o seu interlocutor Teófilo se possuía algum título nobiliárquico ou se desenvolvia alguma atividade especifica no templo.
Justo e temente
Segundo o médico Lucas, Simeão morava em Jerusalém e era justo e temente a Deus ( Lc 2:25 ).
Porque Simeão era justo e temente a Deus? Porque ele compartilhava da mesma fé que o crente Abraão! Como Simeão aguardava a consolação de Israel e esta consolação estava atrelada ao Descendente prometido a Abraão, em quem todas as famílias da terra seriam bem-aventuradas ( Gn 12:3 ), a esperança de Simeão lhe foi imputada por justiça assim como foi imputada a Abraão ( Gn 15:6 ).
Simeão não era justo e temente a Deus pelas obras da lei, visto que pela lei ninguém é justificado “E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé” ( Gl 3:11 ). E qual era a fé de Simeão? Que Israel haveria de ser consolado, pois esta era a promessa: “Eu vejo os seus caminhos, e o sararei, e o guiarei, e lhe tornarei a dar consolação, a saber, aos seus pranteadores” ( Is 57:18 ).
Por esperar a ‘consolação’ do seu povo, Simeão era um pranteador, um triste, portanto, bem-aventurado, pois ao ser declarado justo foi sarado e guiado por Deus “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados” ( Mt 5:4 ).
Diferente dos seus compatriotas, Simeão tinha sobre si o Espírito Santo. Por que o Espírito Santo estava sobre Simeão? Porque ele tornou-se árvore de justiça, plantação do Senhor, consolado do pranto, visto que esperava no Descendente prometido que, por sua vez, seria o Consolador do seu povo ( Is 61:2 -3) .
Simeão era temente e justo porque esperava o Descendente. Pois todos que esperam no Senhor são bem-aventurados “Por isso, o SENHOR esperará, para ter misericórdia de vós; e por isso se levantará, para se compadecer de vós, porque o SENHOR é um Deus de equidade; bem-aventurados todos os que nele esperam” ( Is 30:18 ; Gl 3:9 ).
Sendo Deus um Deus de equidade, certo é que, se Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado por justiça, Simeão também foi justificado, pois cria em Deus como a consolação de Israel. Como Simeão esperava a consolação do seu povo, era bem-aventurado como o crente Abraão, pois TODOS que no Descendente esperam são bem-aventurados ( Is 30:18 ).
Na frase: ‘Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados’, temos um paralelismo (recurso próprio à poesia grega) entre os termos ‘pranteadores’ e ‘consolação’. Os que esperam em Deus são: os tristes, os contritos, os pranteadores, os necessitados, os pobres, que por sua vez, são consolados, justificados, bem-aventurados, felizes.
O temente não é o que pratica as obras da lei ( Gl 3:10 ), antes aqueles que são filhos de Abraão, como o apóstolo Paulo disse: “Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão” ( Gl 3:7 ), visto que ‘o justo vive da fé’, e Simeão era justo em função da fé que havia de se manifestar ( Gl 3:23 ).
O louvor de Simeão
Simeão recebeu uma revelação do Espírito Santo de que não morreria antes de ver o Cristo prometido nas Escrituras ( Lc 2:26 ). Certo dia, impelido pelo Espírito, Simeão foi ao templo e, quando José e a mãe de Jesus trouxeram o menino para cumprirem com os deveres da lei, ele pegou Jesus em seus braços e passou a louvar a Deus, dizendo:
“Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra; Pois já os meus olhos viram a tua salvação, a qual tu preparaste perante a face de todos os povos; Luz para iluminar as nações, e para glória de teu povo Israel” ( Lc 2:29 -32).
- ‘Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra’ – No verso 29, Simeão faz menção da revelação que tivera, pois o Espírito Santo lhe havia prometido que não morreria antes de contemplar o Cristo ( Lc 2:26 ). Com estas palavras Simeão deu testemunho de que Deus cumprira sua palavra;
- ‘Pois já os meus olhos viram a tua salvação, a qual tu preparaste perante a face de todos os povos’ – Simeão estava com um bebe de 8 dias em seus braços e confessou: – “Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra; Pois já os meus olhos viram a tua salvação”. Simeão não viu nenhum sinal, antes viu um infante frágil que estava posto em seus braços, porém, testemunhou que aquela criança era a salvação de Deus;
- ‘… a tua salvação, a qual tu preparaste perante a face de todos os povos’ – Simeão declarou que aquele pequeno bebe nos seus braços era a salvação que Deus preparou diante de todos os povos;
- ‘Luz para iluminar as nações, e para glória de teu povo Israel’ – Aquela criancinha era a luz que iluminaria as nações e a glória de Israel.
Simeão não precisou lançar mão de instrumentos musicais como saltério, harpa, címbalos, antes bastou confessar que aquela criança em seus braços era o Cristo para louvar a Deus.
O que isto demonstra? Que o louvor a Deus não está vinculado às emoções humanas, às liturgias, aos cânticos, às músicas, às reverências, aos sacrifícios, às ofertas, antes decorre da salvação que Deus preparou perante as nações – Cristo.
Basta admitir, crer, confessar, que Jesus é a luz que ilumina as nações que louva a Deus. Basta confessar como Simeão que estará produzindo o fruto dos lábios que Deus criou para louvor da sua glória “Eu crio os frutos dos lábios: paz, paz, para o que está longe; e para o que está perto, diz o SENHOR, e eu o sararei” ( Is 57:19 ), pois Cristo é o fruto dos lábios estabelecido por Deus “Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” ( Hb 13:15 ).
Não podemos confundir ‘bendizer’ com ‘louvor’. Quando bendizemos a Deus, bendizemos com as emoções, as liturgias, os cânticos, as músicas, as reverências, os sacrifícios, as ofertas, etc., pois ao bendizer noticiamos as maravilhas que Deus faz ( Sl 103), ou proclamamos a sua majestade ( Sl 104).
Os apóstolos bem divisavam esta verdade, pois Pedro e Paulo bendiziam ao Senhor pelas bênçãos recebidas ( Ef 1:3 ; 1Pe 1:3 ). No entanto, o apóstolo Paulo deixa claro que o louvor é proveniente das realizações do próprio Deus “…que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade; com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo” ( Ef 1:11 -12).
Enquanto o profeta Isaías predisse de um dia em que se diria: “Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos e ele nos salvará” ou, “Este é o Senhor, a quem aguardávamos”, Simeão estava regozijado porque estava vendo o seu Deus que o salvou. Simeão deixa claro que agora podia descer à sepultura, pois viu o Senhor que aguardava “E naquele dia se dirá: Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e ele nos salvará; este é o SENHOR, a quem aguardávamos; na sua salvação gozaremos e nos alegraremos” ( Is 25:9 ).
Há muito, Deus havia designado que em Israel estaria a sua glória, e Simeão estava segurando em seus braços a glória do Senhor “Faço chegar a minha justiça, e não estará ao longe, e a minha salvação não tardará; mas estabelecerei em Sião a salvação, e em Israel a minha glória” ( Is 46:13 ).
Aquele menino que Simeão estava segurando – Jesus – é o motivo do cântico de Simeão, pois além de ser a consolação de Israel, era a Luz prometida a Abraão que trouxe bem-aventurança a todos os povos.”Disse mais: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra” ( Is 49:6 ).
Simeão estava vendo e segurando o ‘Santo Braço do Senhor’, que, ao ser introduzido no mundo, foi revelado a todos os povos “O SENHOR desnudou o seu santo braço perante os olhos de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus” ( Is 52:10 ; Is 53:1 ).
A profecia
José e Maria estavam abismados com tudo que era dito acerca do menino ( Lc 2:33 ), quando Simeão os abençoou e profetizou para Maria, a mãe do menino, dizendo: “Eis que este é posto para queda e elevação de muitos em Israel, e para sinal que é contraditado (E uma espada traspassará também a tua própria alma); para que se manifestem os pensamentos de muitos corações” ( Lc 2:34 -35).
Simeão não profetizou melhora financeira para o casal. Simeão não antecipou (adivinhou) que o casal adquiriria em breve um novo meio de transporte. Como é comum em nossos dias prometerem casas e carros, por certo esta era uma necessidade básica do casal. Mas, Maria e José não ficaram maravilhados porque deixariam de utilizar um burrico como meio de transporte para terem uma carruagem puxada por juntas de cavalos, antes ficaram maravilhados acerca do que era dito do menino.
O profeta nada disse se havia pessoas com inveja do casal e nem lhes foi ministrado que haveriam de ter um futuro promissor dali por diante. Com relação ao futuro terreno do casal nada foi revelado.
Como é próprio das Escrituras:
a) a profecia nunca foi produzida por vontade de homens, antes os homens de Deus falavam segundo o Espírito Santo ( 2Pe 1:21 ), e;
b) nenhuma profecia é de particular interpretação ( 2Pe 1:20 ),
Simeão passou a falar acerca do menino, pois Ele é o tema das Escrituras “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” ( Jo 5:39 ).
É temerário dar ouvidos a profetas que tem por alvo o indivíduo, pois o apóstolo Pedro deixa claro que nenhuma profecia tem por alvo um indivíduo em particular, antes a profecia tem por tema o Cristo e o seu evangelho. É temerário dar ouvidos a profetas de agoiro, pois Deus mesmo instruiu o povo dizendo: “Não agourareis nem adivinhareis” ( Lv 19:26 ).
Simeão passou a declarar acerca do menino que Ele foi estabelecido para queda e elevação de muitos em Israel. Para muitos seria pedra de tropeço e, para outros, a pedra angular, de esquina, sobre o qual seriam edificados como templo santo a Deus “Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; E quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, A pedra que os edificadores reprovaram, Essa foi a principal da esquina, e uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” ( 1Pe 2:6 -8).
O menino foi estabelecido por sinal que produziria contradições em meio ao povo, pois muitos ao ouvirem as suas palavras haveriam de professar que Ele era o Cristo de Deus, porém, a despeito dos sinais e milagres operados, outros rejeitariam a Luz do mundo, não creriam que aquele homem simples era o Messias, o Filho de Davi.
O profeta Isaías já havia antecipado que um menino concebido por uma virgem seria o sinal “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel. Manteiga e mel comerá, quando ele souber rejeitar o mal e escolher o bem” ( Is 7:14 -15). Diante do menino que haveria de nascer, os homens deveriam reconhecê-Lo como o Emanuel, ou seja, Deus conosco.
Mas, como o menino que estava nos braços de Simeão era o filho de Davi, o erro de Davi, o seu pai segundo a carne acabou por alcança-Lo, pois conforme predito uma espada haveria de traspassa-lo “Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher” ( 2Sm 12:10 ).
Uma correcção: a criança não era de oito dias, mas de 40 dias.Maria teria que passar 7 mais 33 dias de sua purificação (não poderia tocar em nenhuma coisa santa e nem entrar no santuário) conforme determina a lei (Lev 12:1-4) para nascimento de menino. Os dias dobravam quando menina. Observe o texto (E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor. Lucas 2:22). Oito dias para circuncisão e 40 dias para a apresentação/dedicação do menino ao Senhor.
Olá, Sergio..
Muito bem observado… o texto será revisado neste quesito. Grato.
Att.