Salmos I

Salmo 26 – Aquele que lava as mãos na inocência

Ao ler o Salmo 26, o leitor precisa considerar a pessoa de Cristo e que o salmista era profeta. É imprescindível considerar que o salmista não estava orando a Deus confiado em si mesmo, antes, profetizava acerca do Cristo.


Salmo 26 – Aquele que lava as mãos na inocência

“1 JULGA-ME, SENHOR, pois tenho andado em minha sinceridade; tenho confiado também no SENHOR; não vacilarei. 2 Examina-me, SENHOR, e prova-me; esquadrinha os meus rins e o meu coração. 3 Porque a tua benignidade está diante dos meus olhos; e tenho andado na tua verdade.  4 Não me tenho assentado com homens vãos, nem converso com os homens dissimulados. 5 Tenho odiado a congregação de malfeitores; nem me ajunto com os ímpios. 6 Lavo as minhas mãos na inocência; e assim andarei, SENHOR, ao redor do teu altar. 7 Para publicar com voz de louvor e contar todas as tuas maravilhas. 8 SENHOR, eu tenho amado a habitação da tua casa e o lugar onde permanece a tua glória. 9 Não apanhes a minha alma com os pecadores, nem a minha vida com os homens sanguinolentos, 10 Em cujas mãos há malefício, e cuja mão direita está cheia de subornos. 11 Mas eu ando na minha sinceridade; livra-me e tem piedade de mim. 12 O meu pé está posto em caminho plano; nas congregações louvarei ao SENHOR” (Salmo 26:1-12).

 

Introdução

Outro Salmo do profeta Davi (1 Cr 25:1-3), portanto, se faz necessário interpretá-lo, considerando que, pelo espírito, o rei e salmista Davi não falava acerca de si mesmo, mas do seu Filho, o Messias.

“Sendo, pois, ele (Davi) profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que, do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono. Nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção.” (At 2:30-31)

Da mesma forma que o Salmo 16 refere-se a Cristo, uma profecia de Davi acerca da ressureição do Cristo, o Salmo 26 apresenta mais algumas características do Messias de Israel.

“Porque dele disse Davi: Sempre via diante de mim o Senhor, Porque está à minha direita, para que eu não seja comovido; Por isso, se alegrou o meu coração e a minha língua exultou; E ainda a minha carne há de repousar em esperança; Pois não deixarás a minha alma no inferno, Nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção; Fizeste-me conhecidos os caminhos da vida; Com a tua face me encherás de júbilo.” (At 2:25-28; Sl 16:8-11)

 

Homem sincero

“1 JULGA-ME, SENHOR, pois tenho andado em minha sinceridade; tenho confiado, também, no SENHOR; não vacilarei. 2 Examina-me, SENHOR, e prova-me; esquadrinha os meus rins e o meu coração. 3 Porque a tua benignidade está diante dos meus olhos; e tenho andado na tua verdade.”

Qualquer homem, inclusive o salmista Davi, quando se apresenta diante de Deus, assim o faz confiado na misericórdia, não em sua própria integridade e retidão.

“Então disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; porém, caiamos nas mãos do SENHOR, porque muitas são as suas misericórdias; mas, nas mãos dos homens, não caia eu.” (2 Sm 24:14)

Observe a oração do profeta Daniel:

“Inclina, ó Deus meu, os teus ouvidos, e ouve; abre os teus olhos e olha para a nossa desolação e para a cidade que é chamada pelo teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face, fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias. (Dn 9:18).

A oração contida no Salmo 26 não pertence ao salmista Davi, pois não tem por base a misericórdia de Deus, antes, tem por base a integridade de quem roga. Por ter sido formado em iniquidade e concebido em pecado (escravo do pecado), sem falar nas falhas de caráter (tropeços diários), jamais o rei Davi poderia fazer essa oração.

A única pessoa que andou sobre a terra e podia fazer essa oração, confiado em sua integridade, diz do Filho de Deus encarnado, por conseguinte, do Filho de Davi, segundo a carne (2 Sm 7:14). Essa mesma oração repete-se pelos Salmos, por serem profecias acerca do Cristo.

“O SENHOR julgará os povos; julga-me, SENHOR, conforme a minha justiça e conforme a integridade que há em mim” (Sl 7:8).

“Provaste o meu coração; visitaste-me de noite; examinaste-me e nada achaste; propus que a minha boca não transgredirá” (Sl 17:3).

A certeza do Cristo, acerca da sua integridade, é tamanha que, em alguns Salmos, Ele faz algumas imprecações de infortúnios que poderiam alcançá-lo, caso não fosse justo e íntegro:

“SENHOR meu Deus, se eu fiz isto, se há perversidade nas minhas mãos, se paguei com o mal àquele que tinha paz comigo (antes, livrei ao que me oprimia sem causa),persiga o inimigo a minha alma e alcance-a; calque aos pés a minha vida sobre a terra e reduza a pó a minha glória. (Selá.)” (Sl 7:3-5).

O Cristo se apresenta para ser examinado e provado por Deus, refugiado em sua própria integridade. A oração é um rogo a Deus, que sonde os seus pensamentos (rins) e vontade (coração) e O prove (Pv 23:16; Sl 16:7; Lv 8:13; 1Pe 1:13), pois Ele tem certeza da sua inocência (v. 6).

Cristo tinha diante dos seus olhos a bondade (amor, mandamentos) de Deus e a sua comida era fazer a vontade de Deus (caminhava na verdade).

“Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra.” (Jo 4:34);

“Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor.” (Jo 15:10).

 

Roda dos escarnecedores

4 Não me tenho assentado com homens vãos, nem converso com os homens dissimulados. 5 Tenho odiado a congregação de malfeitores; nem me ajunto com os ímpios.

Através da descrição que o Cristo faz da sua conduta, podemos classificá-Lo como o homem bem-aventurado, conforme o Salmo 1! Como os olhos de Cristo estão fitos no amor de Deus (v. 3), certo é que o seu prazer (comida) é na lei do Senhor e nela medita de dia e de noite (Sl 1:2).

Apesar de Cristo se assentar para comer na companhia de pecadores (publicanos e prostitutas), nunca se assentou (teve comunhão) com os homens vãos (escribas, fariseus, saduceus, príncipes, etc.), ou seja, nunca comungou das suas doutrinas.

Quando o Salmo diz: não me assento com homens ímpios, significa que o Cristo não teria comunhão com o que eles ensinavam. Cristo não se associou aos mentirosos, ou seja, aos trapaceiros ou, dissimulados. Ele odeia o ajuntamento de malfeitores, ou seja, dos ímpios.

Quem são os mentirosos? Os malfeitores? Os ímpios?

O Salmo 58 descreve os mentirosos como todos os homens, inclusive os judeus, pois se desviaram desde a madre, em virtude do que aconteceu no Éden.  Desde que nascem andam errados e proferem mentiras (Sl 58:3), pois todos se desviaram e juntamente se tornaram imundos (Sl 53:3).

 

O inocente

6 Lavo as minhas mãos na inocência; e assim andarei, SENHOR, ao redor do teu altar. 7 Para publicar com voz de louvor e contar todas as tuas maravilhas. 8 SENHOR, eu tenho amado a habitação da tua casa e o lugar onde permanece a tua glória.

Os acusadores de Cristo apregoavam a necessidade de lavar as mãos com água antes de fazer refeições (Mc 7:2-3), mas, Cristo lavou as mãos na inocência, na inculpabilidade diante de Deus, e por isso podia estar junto ao altar, na condição de sumo sacerdote do Altíssimo, anunciando os louvores e as maravilhas de Deus.

Cristo teria cuidado da casa de Deus, o lugar onde a glória de Deus permanece. Que casa seria essa? O seu corpo, a sua Igreja, santuário para todos os povos! (Is 8:14)

“Pois o zelo da tua casa me devorou e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim” (Sl 69:9)

Como a promessa de Deus a Davi era que o seu Filho haveria de construir uma casa a Deus (2 Sm 7:13), Cristo foi feito a pedra de esquina e sobre Ele, o fundamento dos apóstolos e profetas, está sendo erguido um templo santo com pedras vivas. (Ef 2:20-22; 1 Pe 2:5).

O louvor anunciado por Cristo está nos seus ensinamentos, que é segundo mando do Pai: “Os meus lábios proferiram o louvor, quando me ensinaste os teus estatutos.” (Sl 119:171; Jo 12:49-50)

 

9 Não apanhes a minha alma com os pecadores, nem a minha vida com os homens sanguinolentos, 10 Em cujas mãos há malefício e cuja mão direita está cheia de subornos.

A oração do Cristo é segundo a vontade de Deus, pois espera que a sua alma não tenha o mesmo fim que a dos pecadores, ou seja, os homens violentos. Os homens violentos, com as mãos manchadas de sangue, diz dos religiosos que continuamente traziam os seus sacrifícios diante do altar. (Is 66:3)

A oração não aponta para um problema social, mas, utiliza-se de figuras para descrever aqueles que querem tomar o reino dos céus à força, através da violência dos seus sacrifícios, e não se socorriam do espírito do Senhor. (Zc 4:6)

“Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas.” (Jr 9:23)

“Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem e faz da carne o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR!” (Jr 17:5)

Os sacrifícios, os ajuntamentos solenes, as luas, as festas, etc., diante de Deus eram abominações:

“OUVI a palavra do SENHOR, vós filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra; porque na terra não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus. Só permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um ato sanguinário segue imediatamente a outro” (Os 4:1-2).

O protesto dos profetas não era por questões sociais, mas pela violência que fizeram à lei, quebrando a aliança:

“Porque as vossas mãos estão contaminadas de sangue e os vossos dedos de iniquidade; os vossos lábios falam falsidade, a vossa língua pronuncia perversidade. Ninguém há que clame pela justiça, nem ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam na vaidade e falam mentiras; concebem o mal e dão à luz a iniquidade. Chocam ovos de basilisco e tecem teias de aranha; o que comer dos ovos deles, morrerá; e, quebrando-os, sairá uma víbora. As suas teias não prestam para vestes, nem se poderão cobrir com as suas obras; as suas obras são obras de iniquidade e obra de violência há nas suas mãos.” (Is 59:3-6)

Quem se desvia da palavra de Deus prevarica e mente. Quem concebe e fala palavras segundo o seu coração enganoso, fala de opressão e de rebelião.

“Como o prevaricar e mentir contra o SENHOR, e o desviarmo-nos do nosso Deus, o falar de opressão e rebelião, o conceber e proferir do coração palavras de falsidade.” (Is 59:13).

Essa é a palavra do Senhor para aqueles que julgam segundo a aparência e não segundo a reta justiça, que é a palavra de Deus:

“Ouvi agora isto, vós, chefes da casa de Jacó e príncipes da casa de Israel, que abominais o juízo e perverteis tudo o que é direito, edificando a Sião com sangue e a Jerusalém com iniquidade. Os seus chefes dão as sentenças por suborno e os seus sacerdotes ensinam por interesse,  os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao SENHOR, dizendo: Não está o SENHOR no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá.” (Mq 3:9-11)

 

Sincero

11 Mas eu ando na minha sinceridade; livra-me e tem piedade de mim. 12 O meu pé está posto em caminho plano; nas congregações louvarei ao SENHOR.

O Cristo declara que é integro, sincero, ou seja, fala a verdade segundo o seu coração (Sl 15:2). Ele roga por socorro, pela compaixão do Pai. Por andar segundo a palavra do Pai, o pé do Cristo estava em caminho reto e no ajuntamento solene anunciaria o nome do Senhor, salvação para todos os povos!

A certeza de salvação é plena, de modo que Cristo tinha por certa a angústia, mas que Deus também o traria à vida:

“Andando eu no meio da angústia, tu me reviverás; estenderás a tua mão contra a ira dos meus inimigos e a tua destra me salvará.” (Sl 138:7)

“Ele me invocará e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei e o glorificarei. Fartá-lo-ei com longura de dias e lhe mostrarei a minha salvação.” (Sl 91:15-16)

Observe que a oração do Cristo tem apoio na promessa do Pai. Ambas, oração e promessa se complementam.

Somente o Cristo teve condições de orar ao Pai, nos seguintes termos:

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno.” (Sl 139:23-24)

“O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano.” (1 Pe 2:22; Is 53:9)

Ao ler o Salmo 26, o leitor precisa considerar a pessoa de Cristo e que o salmista era profeta. É imprescindível considerar que o salmista não estava orando a Deus confiado em si mesmo, antes, profetizava acerca do Cristo. Cristo, o Filho de Davi, é o Ungido do Senhor que andou na sua sinceridade e integridade e que podia rogar ao Pai para sondá-Lo.

Correção ortográfica: Pr. Carlos Gasparotto

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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