Se tivessem observado a lei de Deus e atentado para as obras de Suas mãos, entenderiam que as boas ações dos homens na tentativa de alcançar a salvação são obras de violência diante d’Ele. Fariam como o salmista: confiariam (pediriam) no Senhor, que lhes perdoaria as transgressões e a culpa do pecado “Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Disse: confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a culpa do meu pecado” (Sl 32:5).
Salmo 28 – Uma Oração
1 A TI clamarei, ó SENHOR, Rocha minha; não emudeças para comigo; não aconteça, calando-te tu para comigo, que eu fique semelhante aos que descem ao abismo.
2 Ouve a voz das minhas súplicas, quando a ti clamar, quando levantar as minhas mãos para o teu santo oráculo.
3 Não me arrastes com os ímpios e com os que praticam a iniquidade; que falam de paz ao seu próximo, mas têm mal nos seus corações.
4 Dá-lhes segundo as suas obras e segundo a malícia dos seus esforços; dá-lhes conforme a obra das suas mãos; torna-lhes a sua recompensa.
5 Porquanto não atentam às obras do SENHOR, nem à obra das suas mãos; pois que ele os derrubará e não os reedificará.
6 Bendito seja o SENHOR, porque ouviu a voz das minhas súplicas.
7 O SENHOR é a minha força e o meu escudo; nele confiou o meu coração, e fui socorrido; assim o meu coração salta de prazer, e com o meu canto o louvarei.
8 O SENHOR é a força do seu povo; também é a força salvadora do seu ungido.
9 Salva o teu povo, e abençoa a tua herança; e apascenta-os e exalta-os para sempre.
Este Salmo de Davi divide-se em clamor (v. 1-5), adoração (v. 6) e testemunho (v. 7- 9).
O salmista roga ao Senhor porque confia n’Ele. A confiança do salmista deriva do amor e da fidelidade de Deus, atributos inabaláveis. O amor e a fidelidade de Deus fazem com que o salmista O compare a uma rocha, a um rochedo.
Davi roga a Deus que o ouça, que não ignore as suas súplicas para que a sua sorte não se equipare a dos que descem à cova. Embora Davi tenha explicitado que se não fosse atendido por Deus haveria de ser semelhante aos que descem à cova, ele não apresenta seus problemas pessoais.
O salmista reitera o seu pedido: que o Senhor simplesmente o atendesse, quando clamasse, ou quando levantasse as suas mãos na direção do templo ( Sl 28:2 ).
Do verso 3 ao 5 o salmista passa a enumerar as suas petições.
“Não me arrastes com os ímpios e com os que praticam a iniquidade” – O salmista não pede carros, cavalos, guerreiros, riquezas, mulheres, reinos ou vitórias sobre os seus inimigos em redor, antes que o Senhor o justifique. Como? Ora, como sabemos, Deus é santo e justo. Para Deus não deixar o salmista perecer com os pecadores é necessário que Deus o justifique. Quando o salmista diz: “Não me arrastes com os ímpios”, é um modo de o salmista pedir a Deus que não lhe impute pecado ( Sl 32:2 ).
Quem são os ímpios e os que praticam a iniquidade? Seriam os filisteus? Seriam os gentios? Não! O salmista aponta quem são os ímpios e os que praticam a iniquidade: são aqueles “…que falam de paz ao seu próximo, mas têm mal nos seus corações” ( Sl 28:3 b).
Havia muitos compatriotas do salmista que utilizavam o nome do Senhor, o Deus de paz, para falarem e relacionarem-se com o próximo. – Shalom! Shalom! Porém, para eles não havia paz “Não conhecem o caminho da paz, nem há justiça nos seus passos; fizeram para si veredas tortuosas; todo aquele que anda por elas não tem conhecimento da paz” ( Is 59:8 ). É por isso que Jesus alerta: “Nem todo o que me diz: Senhor! Senhor! Entrará no reino dos céus…” ( Mt 7:21 ). Embora muitos falem de paz, o problema deles esta no coração “Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim” ( Mt 15:8 ).
Observe que é próprio aos ímpios falarem de paz, porém, através do profeta Isaías Deus dá o alerta: “Não há paz para os ímpios, diz o meu Deus” ( Is 57:21 ). Jesus demonstra esta mesma verdade ao declarar: “Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca” ( Mt 12:34 ); “…que maquinam maldades no coração e vivem projetando guerras. Aguçam a língua como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios” ( Sl 140:2 -3). Falam de paz, mas para ele não há paz. Clamam: Senhor, Senhor, porém, o coração está longe de Deus. Os ímpios, ou os que praticam a iniquidade, embora falem em paz, para eles não há paz, visto que a boca fala do que há em abundância no coração.
“Dá-lhes segundo as suas obras e segundo a malícia dos seus esforços” – É estranho quando lemos o salmista pedindo ao Senhor que recompense os ímpios segundo as suas obras. Este comportamento não é um tipo de maldade da parte do salmista? Não!
Porque a oração do salmista é segundo a vontade de Deus e será plenamente atendida “E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve” ( 1Jo 5:14 ). Como a petição de Davi é segundo a vontade de Deus?
A palavra de Deus é clara e expressa a sua vontade: “Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, e provo a mente, e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos, e segundo o fruto das suas ações” ( Jr 17:10 ). O que é que o salmista pede? Que Deus realize o seu propósito, a sua vontade ( Mt 6:10 ). A petição do salmista será atendida, visto que ele nada pediu para gastar em seu próprio deleite ( Tg 4:3 ).
No Grande Tribunal do Trono Branco todos os homens ímpios receberão de Deus conforme as suas obras ( Ap 20:12 ), e não haverá acepção de pessoas ( Rm 2:6 e Rm 2:11 ).
Mas, o que será concedido àqueles que agem segundo a ‘malícia dos seus esforços’? O que isto quer dizer? A malícia diz do intento dos homens que buscam salvar-se por meio de suas boas ações, porém, estas ‘boas’ ações não passam de obra de violência diante de Deus “As suas teias não prestam para vestes nem se poderão cobrir com as suas obras; as suas obras são obras de iniquidade, e obra de violência há em suas mãos” ( Is 59:6 ).
A mensagem de Deus é clara: “E respondeu-me, dizendo: Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel, dizendo: Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos” ( Zc 4:6 ). Porém, os homens querem tomar o reino de Deus através da malícia das suas forças “A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele” ( Lc 16:16 ).
Aos homens ímpios, Deus lhes enviará ‘a sua recompensa’! O que será concedido àqueles que agem segundo a ‘malícia dos seus esforços’? A eles será dado ‘conforme a obra das suas mãos’, pois são obras de violência, obras segundo a malícia dos seus esforços, que não foram feitas em Deus! ( Jo 3:21 ).
Por que o salmista tem certeza que será atendido? Porque a retidão e a justiça de Deus serão estabelecidas “Ele mesmo julgará o mundo com justiça; exercerá juízo sobre povos com retidão” ( Sl 9:8 ).
“Porquanto não atentam às obras do SENHOR, nem à obra das suas mãos” – Os ímpios serão ‘derribados’, ‘destruídos’ porque Não observaram como o Senhor Deus procede. Se analisassem a lei de Deus saberiam como Ele procede para com os filhos dos homens “Muita paz têm os que amam a tua lei, e para eles não há tropeço” ( Sl 119:165 ).
“Pois não observaram como Javé procede, nem atendem às obras de Suas mãos”
Se tivessem observado a lei de Deus e atentado para as obras de Suas mãos, entenderiam que as boas ações dos homens na tentativa de alcançar a salvação são obras de violência diante d’Ele. Fariam como o salmista: confiariam (pediriam) no Senhor, que lhes perdoaria as transgressões e a culpa do pecado ( Sl 32:5 ).
Se observassem como o Senhor procede, rogariam conforme o salmista: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto” ( Sl 51:10 ). No salmo 51 o salmista Davi roga ao Senhor aquilo que somente Ele pode fazer: ‘Cria’ por meio da sua palavra! Somente Deus é sujeito do verbo ‘Bara’ (cria) no hebraico. Somente Deus pode criar um novo homem com um novo coração e um novo espírito!
Somente após criar o novo homem com um novo coração e um novo espírito ( Ez 36:25- 27 ; Ef 4:24 ; 1Pe 1:3 e 1Pe 1:23 ), é que Deus o declara justo, justificado. A palavra grega traduzida é o verbo ‘dikaioo’, que significa fazer justo, tornar justo e/ou declarar justo. Quando Deus cria o novo homem, a nova criatura é declarada justa, isto porque ela de fato é justa, pois Deus a criou em verdadeira justiça e santidade, dando um novo coração e um novo espírito.
Quem foi de novo gerado segundo a palavra da verdade não perecerá com os ímpios ( Sl 28:3 ; Jo 1:12 ).
O brado pela salvação do Senhor ecoa: “Bendito seja o SENHOR, porque ouviu a voz das minhas súplicas” ( Sl 28:6 ). Muito tempo depois o apóstolo Pedro também bendiz pela salvação alcançada: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos…” ( 1Pe 1:3 ).
Quem suplica, clama e invoca é porque crê que Deus é galardoador. Quem invoca ao Senhor o achará, visto que está perto, e será atendido “Buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” ( Is 55:6 ).
O salmista bendiz ao Senhor porque foi atendido. Ele tinha certeza que não seria arrastado com os ímpios e com os que praticam a iniquidade, por causa da misericórdia e da fidelidade de Deus. O Senhor se revelou como força e escudo e o salmista confiou e foi atendido ( Sl 28:7 ).
Na presença do Senhor o salmista se farta de alegria por causa da graça alcançada, pois ele recebeu um novo coração e um novo espírito passando a estar em comunhão com Deus ( Sl 51:11 -12). A alegria que o salmista faz referência diz do regozijo da salvação ( Sl 51:12 ), pois não será arrastado com os ímpios ( Sl 51:11 ).
A obra realizada por Deus, a salvação dos homens, é o motivo do cântico do salmista Davi “…e com o meu canto o louvarei” ( Sl 28:7). Ver, temer e confiar no Senhor é o novo cântico posto na boca dos que são agraciados com a salvação de Deus “E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, e temerão, e confiarão no SENHOR” ( Sl 40:3 ).
A mesma força salvadora destinada ao Ungido de Deus também é utilizada para com o povo que pertence ao Senhor (v. 8). O apóstolo Paulo ao escrever aos cristãos em Éfeso demonstrou que, a suprema grandeza do poder de Deus manifesto em Cristo, ressuscitando-O dentre os mortos, também foi utilizado para com os cristãos “…e qual a suprema grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-O dentre os mortos, e fazendo-O sentar-se à sua mão direita nos céus…” ( Ef 1:19 – 20).
O Senhor salva o povo que lhe pertence, e abençoa os seus filhos (v. 9). O senhor abençoa os seus filhos com toda a sorte de bênçãos espirituais, fazendo-os assentar nas regiões celestiais em Cristo, conforme Cristo se assentou à mão direita de Deus ( Ef 1:3 ; Ef 1:20 e Ef 2:6 ).