Salmos II

Salmo 58 – Os adágios e enígmas do profeta

Quando o apóstolo Paulo diz que ‘todo o homem é mentiroso’, assim o diz em função do que ocorreu no Éden. Quando o salmista diz que Deus se agrada da verdade no intimo ( Sl 51:6 ), esta ‘verdade’ no íntimo só é possível quando o homem é gerado de novo pela palavra da verdade. É por isso que o salmista pede que Deus o crie de novo para que haja verdade no íntimo ( Sl 51:10 ), diferente do nascimento natural, em que o homem é gerado ‘mentiroso’. 


Salmo 58 – Os adágios e enígmas do profeta

Introdução

Somente com Moisés Deus falava cara a cara e sem enigmas, mas com os filhos de Israel Deus sempre se utilizou de parábolas, adágios e enigmas.

“Então, o Senhor desceu na coluna de nuvem e se pôs à porta da tenda: depois, chamou a Arão e a Miriã, e eles se apresentaram. Então, disse: Ouvi, agora, as minhas palavras. Se entre vós há profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me faço conhecer ou falo com ele em sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas. Pois ele vê a forma do Senhor. Como, pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés?” ( Nm 12:5 -8); “E falava o SENHOR a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo; depois tornava-se ao arraial; mas o seu servidor, o jovem Josué, filho de Num, nunca se apartava do meio da tenda” ( Êx 33:11 ).

Deus não queria falar por enigmas ao povo e mandou Moisés avisar-lhes para se prepararem para ouvir Deus quando falasse com Moisés, pois não falaria com Moisés em particular, antes queria que o povo escutasse sua Palavra “E disse o SENHOR a Moisés: Eis que eu virei a ti numa nuvem espessa, para que o povo ouça, falando eu contigo, e para que também te creiam eternamente. Porque Moisés tinha anunciado as palavras do seu povo ao SENHOR” ( Ex 19:9 ). Porém, quando chegou o grande dia em que todos ouviriam a voz de Deus, enquanto falava com Moisés, o povo ficou com medo e se retirou dizendo a Moisés:

“Fala tu conosco, e ouviremos: e não fale Deus conosco, para que não morramos” ( Ex 20:19 ).

Não confiavam n’Aquele que lhes preservou a vida e os resgatou com mão forte do Egito ( Ex 19:4 ). Não quiseram ouvir as palavras que lhes proporcionaria crer em Deus eternamente, o que lhes conferiria a condição de propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos, e tornar-se-iam um reino sacerdotal e povo santo ( Ex 19:5 -6).

Como não confiaram que Deus lhes daria vida por intermédio da sua palavra, permaneceram sob maldição ( Dt 28:15 ), e cegos espiritualmente. Mesmo ao meio dia, ou seja, quando houvesse luz, continuariam apalpando como os cegos na escuridão.

“E apalparás ao meio dia, como o cego apalpa na escuridão, e não prosperarás nos teus caminhos; porém somente serás oprimido e roubado todos os dias, e não haverá quem te salve” ( Dt 28:29 );

“E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam” ( Jo 1:5 );

“Disse-lhes, pois, Jesus: A luz ainda está convosco por um pouco de tempo. Andai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai” ( Jo 12:35 ).

Quando Jesus veio, o Sol da Justiça brilhou como ao meio dia, mas o povo do Messias continuou a tatear na escuridão e não entraram pela porta dos justos, que é Cristo.

“Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, Com que o oriente do alto nos visitou; Para iluminar aos que estão assentados em trevas e na sombra da morte; A fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz” ( Lc 1:78 -79).

O salmo 58 é uma profecia que tem por alvo o povo de Israel, e como não poderia deixar de ser, a profecia em comento contém vários enigmas e adágios, pois somente com Moisés, Deus falava sem utilizar enigmas. Portanto, para ler e compreender o Salmo 58 faz-se necessário ler a parábola (salmo), decifrar os enigmas e compreender os adágios.

O salmo é profecia? O salmo 58 protesta contra os judeus?

É simples responder a estes questionamentos! Basta analisar a carta de Paulo aos Romanos, no capítulo 3, pois após citar o Salmo 14, versos de 1 a 3; o Salmo 5, verso 9; Jeremias 5, verso 16; Salmo 140, verso 3; Provérbios 1, verso 16; Isaías 59, versos 7 e 8; Salmo 36, verso 1, Ele conclui:

“Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus” ( Rm 3:19 ).

Os judeus estavam debaixo da lei, dada através de Moisés, para conduzi-los a Cristo, portanto, os salmos, os provérbios, os profetas e a lei tratam diretamente com o povo judeu, pois os gentios não possuíam lei ( Rm 2:14 ).

Os salmos são profecias porque Davi separou homens para profetizarem com harpas, saltérios e címbalos ( 1Cr 25:1 -3).

 

A congregação rebelde

1 ACASO falais vós, deveras, ó congregação, a justiça? Julgais retamente, ó filhos dos homens? 2 Antes no coração forjais iniquidades; sobre a terra pesais a violência das vossas mãos.

O salmista dirigiu a palavra à congregação dos filhos de Jacó e questiona-os se verdadeiramente falavam o que é justo. A pergunta é reiterada: ó filhos dos homens, vocês julgam retamente?

A resposta é óbvia: Não! Em vez de falarem o que é justo em verdade julgando retamente, o salmista demonstra que os filhos de Jacó maquinavam iniquidades. ‘Forjar iniquidade no coração’ é o mesmo que ‘conceber em suas mentes o engano, a mentira’.

Certa feita Jesus repreendeu seus interlocutores tendo por base este salmo, quando disse: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” ( Jo 7:24 ). E em outra oportunidade disse: “Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo” ( Jo 8:15 ). Com estas palavras Jesus demonstrou que veio ao mundo para salvar, e não para julgar os homens, pois o mundo já está condenado.

“E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo” ( Jo 12:47 ).

Jesus queria que entendessem que de nada adianta julgar as pessoas pelo comportamento, como foi o caso da mulher adultera, porque isto é julgar segundo a carne. Jesus nunca emitiu julgamento segundo a carne, segundo a aparência, antes, julgava os espíritos (palavras), pois Ele mesmo disse:

“Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou” ( Jo 5:30 ).

Seria um contra senso Jesus tonar a julgar as pessoas, sendo que todos já foram julgados e estão sob condenação ( Rm 5:18 ; Rm 3:23 ; Jo 3:17 -18). Antes Ele veio salvar o que havia se perdido em Adão ( Mt 18:11 ). De igual modo, aos cristãos também é vetado julgar as pessoas pela aparência, porém, quando alguém se posta como profeta, mestre, pastor, etc., a ordem é clara: “AMADOS, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” ( 1Jo 4:1 ). O que Jesus julgava era o que os homens diziam, ou seja, suas palavras. É por isso que o juízo de Jesus era justo, pois como Ele ouvia, assim julgava ( Jo 5:30 ).

O povo de Israel, além de não falar o que verdadeiramente é justo e nem de julgar retamente, maquinava (forjava) iniquidade, e estabeleciam como medida a violência dos seus atos ( Sl 58:2 ).

Como é possível um povo religioso que diz seguir a lei de Deus ser violento? Ora, os escribas e fariseus não eram dados à violência física como o matar, roubar, prostituir, etc., mas Deus os nomeia de violentos. Por quê? Porque a ‘violência’ é uma figura, e as figuras, por sua vez, são utilizadas para construir os adágios, estabelecer enigmas e parábolas.

“O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano” ( Lc 18:11 ).

Quando Jesus falou aos discípulos de João Batista, falou por parábola ao dizer: “E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele” ( Mt 11:12 ). Rejeitar a Cristo, a palavra de Deus, era a violência ao reino dos céus. Enquanto Deus disse a Zorobabel: “Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos” ( Zc 4:6 ), diante do Espírito que dá vida “As palavras que eu vos disse são espírito e vida” ( Jo 6:63 ), os homens preferiram a força e a violência, ou seja, a soberba, a violência, o adorno que ‘forjaram’ como colares para as suas vestes.

“Por isso a soberba os cerca como um colar; vestem-se de violência como de adorno” ( Sl 73:6 ).

É por isso que os profetas clamavam: ‘Violência! Violência!’, Substituíram a palavra de Deus que dá vida pelo engano que conceberam em seus corações. A atitude de substituir ou amalgamar o evangelho a qualquer outra concepção humana (filosofia, obras da lei, filantropia, etc.) consiste em violência.

“As suas teias não prestam para vestes nem se poderão cobrir com as suas obras; as suas obras são obras de iniquidade, e obra de violência há nas suas mãos” ( Is 59:6 );

“Os seus profetas são levianos, homens aleivosos; os seus sacerdotes profanaram o santuário, e fizeram violência à lei( Sf 3:4 );

“Porque os seus ricos estão cheios de violência, e os seus habitantes falam mentiras e a sua língua é enganosa na sua boca” ( Mq 6:12 ).

Ao rejeitar a palavra do evangelho, o Espírito do Senhor, resta apenas violência, como alertou Oseias:

“OUVI a palavra do SENHOR, vós filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra; porque na terra não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus. Só permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um ato sanguinário segue imediatamente a outro” ( Os 4:1 -2).

Obedecer ao evangelho não consiste em ir a uma igreja, não matar, não roubar, não se prostituir, etc., antes o obedecer é crer na mensagem do evangelho, que é saber que Jesus é o Cristo, o enviado de Deus que tira o pecado do mundo.

É por isso que Jesus disse: “Não vos deu Moisés a lei? e nenhum de vós observa a lei. Por que procurais matar-me?” ( Jo 7:19 ). Por circuncidarem o prepúcio da carne, os israelitas consideravam que guardavam a lei, porém, não conseguiam enxergar que Deus exigia a circuncisão do coração, pois só circuncidando o coração amariam a Deus “Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz” ( Dt 10:16 ). Era tão importante para os escribas e fariseus guardarem as sombras que não se importaram de transgredirem a lei matando Jesus utilizando-se de falsas testemunhas em seu julgamento.

A circuncisão do prepúcio era um sinal para a nação de Israel que Deus queria recebe-los por filhos, por isto mesmo Deus deu a figura em que o pai circuncidava o filho para que este fizesse parte da nação, mas para se tornarem filhos do Altíssimo, Deus se oferecia para circuncidar o coração. O povo não cumpria a lei porque se aplicava a fazer o proposto na figura, na sombra, no enigma, sendo que a proposta de Deus era que descansasse n’Ele, e o resultado do que o povo se propunha fazer era a violência, pois a realidade encontrava-se no Descendente prometido segundo a palavra de Deus (Cristo – a palavra encarnada).

“PORQUE tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam” ( Hb 10:1 ).

O povo dedicava-se às orações, sacrifícios, sábados, luas, alimentos, jejuns, e como resultado havia somente violência, deixavam a realidade, que era crer no Descendente como o crente Abraão. Por causa das sombras, das figuras, rejeitaram Cristo, a realidade, até chamaram-no de comilão e beberão.

“Então, chegaram ao pé dele os discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam?” ( Mt 9:14 );

“Porquanto veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio. Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores. Mas a sabedoria é justificada por seus filhos” ( Mt 11:18 -19).

 

O erro dos ímpios

3 Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras. 4 O seu veneno é semelhante ao veneno da serpente; são como a víbora surda, que tapa os ouvidos, 5 Para não ouvir a voz dos encantadores, do encantador sábio em encantamentos.

O salmista repreende-os demonstrando que desde a madre o povo de Israel, assim como toda a humanidade, havia se alienado de Deus.

Como? O povo de Israel não eram filhos de Abraão, Isaque e Jacó?

Por certo que eram seus descendentes segundo a carne, porém, não eram filhos de Abraão, pois somente os filhos na fé são filhos de Abraão.

“Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência” ( Rm 9:7 -8).

Os verdadeiros filhos de Abraão nascem segundo a promessa, e a promessa foi feita ‘em Isaque’, pois segundo a promessa Deus daria uma descendência a Abraão. Portanto, os filhos de Abraão são segundo a fé, pois a promessa tem em vista o Descendente.

“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo” ( Gl 3:16 ).

Por não compreenderem esta verdade, os filhos de Israel estavam em igual condição a todos os homens, pois ainda pesava sobre eles a transgressão de Adão, portanto eram filhos da ira, da desobediência, e não filhos de Deus.

“O SENHOR olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um” ( Sl 14:2 -3).

Ser descendente da carne de Abraão é o mesmo que ser descendente de Adão, portanto, é o mesmo que estar sob condenação. Que condenação? A condenação à morte, pois foi dito a Adão que, se comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal que estava no meio do jardim, morreria. Adão comeu e morreu, ou seja, separou-se da vida que é Deus.

A alienação de Deus, o desvio da humanidade ocorreu no Éden por Adão, e por todos os homens descenderem de Adão, estão sob a mesma condenação. Logo o homem está alienado de Deus desde a madre. No abrir da madre o homem entra no mundo por Adão, a larga que o conduz à perdição. Por causa da herança do Éden o desviar-se de Deus ocorre desde a madre, desde que nascem os homens andam errantes e proferem mentiras ( Sl 51:5; Rm 3:4 ).

Quando o apóstolo Paulo diz que ‘todo o homem é mentiroso’, assim o diz em função do que ocorreu no Éden. Quando o salmista diz que Deus se agrada da verdade no intimo ( Sl 51:6 ), esta ‘verdade’ no íntimo só é possível quando o homem é gerado de novo pela palavra da verdade. É por isso que o salmista pede que Deus o crie de novo para que haja verdade no íntimo ( Sl 51:10 ), diferente do nascimento natural, em que o homem é gerado ‘mentiroso’ “De maneira nenhuma; sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso; como está escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras, E venças quando fores julgado” ( Rm 3:4 ).

Tal realidade também é retratada pelo profeta Oseias quando afirma que Deus requer obediência em lugar dos sacrifícios que os israelitas ofereciam continuamente: “Em Adam eles quebraram a minha aliança, aí eles me traíram” ( Os 6:7 ) Bíblia da CNBB. A aliança entre Deus e os homens, incluindo os judeus, foi desfeita em Adão, pois ali no Éden todos pecaram e destituídos foram da glória de Deus. É com base nestas passagens das Escrituras que o apóstolo Paulo chega à conclusão:

“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” ( Rm 3:23 ).

A mentira dos filhos de Israel é comprável ao veneno da serpente, ou seja, é mortal (v. 3). A realidade dos filhos de Israel é continuamente descrita:

“LIVRA-ME, ó SENHOR, do homem mau; guarda-me do homem violento, que pensa o mal no coração; continuamente se ajuntam para a guerra. Aguçaram as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios” ( Sl 140:1 -3 compare com Sl 58:1 -4).

Na lei, Deus já alertava sobre o veneno que havia em meio ao povo de Israel: “O seu vinho é ardente veneno de serpentes, e peçonha cruel de víboras” ( Dt 32:33 ). É por isso que Jesus fala aos fariseus chamando-os de víboras:

“Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca” ( Mt 12:34 ).

O homem pode orientar o seu comportamento e ordenar as suas ações, porém, é impossível mascarar o fruto dos lábios. Só se conhece uma árvore pelo fruto ( Mt 7:20 ). É por isso que Jesus julgava o que ouvia dos fariseus, pois o veneno estava em suas línguas, e não no comportamento.

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade” ( Mt 23:27 -28).

Além das palavras dos filhos de Israel ser comparável à peçonha da serpente, também eram comparáveis à víbora surda, pois não ouviam os profetas de Deus.

“Mas os fariseus e os doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos, não tendo sido batizados por ele. E disse o Senhor: A quem, pois, compararei os homens desta geração, e a quem são semelhantes? São semelhantes aos meninos que, assentados nas praças, clamam uns aos outros, e dizem: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes” ( Lc 7:30 -32).

É em função da palavra dos escribas e fariseus que Jesus alerta:

“Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai dele isso é que contamina o homem” ( Mc 7:15 );

“Como não compreendestes que não vos falei a respeito do pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus?” ( Mt 16:11 );

“E oferecei o sacrifício de louvores do que é levedado, e apregoai as ofertas voluntárias, publicai-as; porque disso gostais, ó filhos de Israel, disse o Senhor DEUS” ( Am 4:5 ).

 

Clamor por retribuição

6 Ó Deus, quebra-lhes os dentes nas suas bocas; arranca, SENHOR, os queixais aos filhos dos leões. 7 Escorram como águas que correm constantemente. Quando ele armar as suas flechas, fiquem feitas em pedaços. 8 Como a lesma se derrete, assim se vá cada um deles, como o aborto duma mulher, que nunca viu o sol. 9 Antes que as vossas panelas sintam o calor dos espinhos, como por um redemoinho os arrebatará ele, vivo e em indignação.

Após descrever a condição dos filhos do seu povo, o salmista roga a Deus alguns ‘ais’, assim como Cristo profetizou ‘ais’ sobre os escribas e fariseus utilizando-se de figuras.

Os ‘filhos dos leões’ neste salmo descreve a vontade dos homens maus quando querem fazer destruir os seus adversários tirando o fôlego de vida.

“Eis que o povo se levantará como leoa, e se erguerá como leão; não se deitará até que coma a presa, e beba o sangue dos mortos” ( Nm 23:24 ).

Os fariseus por diversas vezes intentaram tirar a vida de Jesus.

“Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem” ( Jo 11:53 );

“Salva-me da boca do leão; sim, ouviste-me, das pontas dos bois selvagens” ( Sl 22:21 ).

O apóstolo Paulo também sofreu tais ataques vorazes dos ‘leões’ “Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão” ( 2Tm 4:17 ; At 2131 ; At 25:3 ). Como os ataques dos leões não cessariam, providencialmente o apóstolo dos gentios foi preso e pode continuar anunciando por muitos anos o evangelho. Inclusive, as suas carta chegaram em nossas mãos e foram escritas no período em que esteve preso.

Para livrar o homem, somente a intervenção divina, quebrando os dentes e arrancando a queixada dos filhos dos leões, ou seja, dando livramento.

“Esse homem foi preso pelos judeus; e, estando já a ponto de ser morto por eles, sobrevim eu com a soldadesca, e o livrei, informado de que era romano” ( At 23:27 ).

O provérbio: “Como leão rugidor, e urso faminto, assim é o ímpio que domina sobre um povo pobre” ( Pv 28:15 ), descreve os líderes do povo do Messias como leões. O provérbio não diz de uma tirania política, mas de líderes que retinham a palavra de Deus, e o povo permanecia pobre de espírito, sem vida.

“Mas também estes erram por causa do vinho, e com a bebida forte se desencaminham; até o sacerdote e o profeta erram por causa da bebida forte; são absorvidos pelo vinho; desencaminham-se por causa da bebida forte; andam errados na visão e tropeçam no juízo (…) Porque o tirano é reduzido a nada, e se consome o escarnecedor, e todos os que se dão à iniquidade são desarraigados; Os que fazem culpado ao homem por uma palavra, e armam laços ao que repreende na porta, e os que sem motivo põem de parte o justo” ( Is 28:7 e 20-21).

Os ataques com flechas e setas são palavras de engano introduzidas com sutileza, como era o caso dos escribas e fariseus, ou de qualquer outro homem em nossos dias, que não fale segundo a verdade do evangelho. O ataque dos fariseus era com setas, uilizaram as suas palavras com flecha, e a resposta de Cristo escudo e broquel:

“E perguntou-lhes: É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal? salvar a vida, ou matar? E eles calaram-se” ( Mc 3:4 ),

Quando o salmista profetizou proteção de Deus sobre o Messias, no Salmo 91, havia garantia de que Cristo pisaria o leão e a áspide, figura de tais homens ( Sl 91:13 ), pois haveriam de espreita-lo a fim de mata-Lo “Abriram contra mim suas bocas, como um leão que despedaça e que ruge” ( Sl 22:13 ), e, em outras ocasiões, procuravam pegá-Lo nalguma contradição.

O pedido do salmista a Deus para é para que a ação dos ‘poderosos’ fosse como água quando se escoa ou, quando armassem o arco, as flechas fossem quebradas (v. 7). A oração profética do salmista demonstra que só em Deus as mentiras dos lideres de Israel seria desmascarada. Os inimigos do Messias foram envergonhados e confundidos perante a Verdade, pois Jesus escapou de ciladas como esta: “Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não?” ( Mt 22:17 ). Se Cristo não desse uma resposta à altura, seria atingido com tal proposta, então devorá-lo-iam como os filhotes dos leões quando abatem a presa, porém, quando Jesus respondeu: “Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” ( Mt 22:21 ), o laço do passarinheiro foi desfeito.

As palavras dos escribas e fariseus eram como dardos inflamados, flechas. As flechas e lanças são figuras das palavras deles, de sua mensagem, pois tem o poder de tirar a vida, ou seja, afastar o homem da Palavra da Verdade. Da mesma forma que a peçonha mata, embora o ferimento seja sutil, o dardo que contém o veneno do erro também mata. As setas, os dardos são figuras de mensagens enganosas, palavras ardilosas, e somente com a palavra de Deus, que é escudo e broquel, o homem pode defender-se do inimigo.

“Pois eis que os ímpios armam o arco, põem as flechas na corda, para com elas atirarem, às escuras, aos retos de coração” ( Sl 11:2 ).

Observe que os salmos não falam literalmente de animais, antes dos filhos dos homens ‘abrasados’, ou seja, enfurecidos querendo tirar a vida do Cristo. Assim como o evangelho é a espada do espírito, cujo obreiro deve saber manejá-la, a língua dos contradizentes é espada afiada.

“A minha alma está entre leões, e eu estou entre aqueles que estão abrasados, filhos dos homens, cujos dentes são lanças e flechas, e a sua língua espada afiada” ( Sl 57:4 );

“Que afiaram as suas línguas como espadas; e armaram por suas flechas palavras amargas” ( Sl 64:3 ).

A única coisa que rebate os dardos é a palavra de Deus, a Fé revelada, que é escudo e broquel.

“Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” ( Ef 6:16 );

“Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia” ( Sl 91:5).

O pedido a Deus é que tais homens se esvaiam como lesmas; como o aborto de uma mulher, que jamais viram a luz da vida ( Sl 58:8 ). O verso 9 é melhor abordado pela Nova Versão Internacional da Bíblia:

“Os ímpios serão varridos antes que as suas panelas sintam o calor da lenha, esteja ela verde ou seca” ( Sl 58:9 ).

Em nossos dias, o introduzir dissimuladamente heresias de perdição diz dos dardos inflamados do maligno ( Ef 6:16 ). Já o rugir como leão diz de uma ação mais agressiva, como é o caso das seitas.

“Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” ( 1Pe 5:8 ).

 

10 O justo se alegrará quando vir a vingança; lavará os seus pés no sangue do ímpio. 11 Então dirá o homem: Deveras há uma recompensa para o justo; deveras há um Deus que julga na terra.

Há algumas traduções que rezam ‘os justos’, porém, a Almeida Corrigida e Revisada Fiel é melhor, pois Ela faz alusão ao Justo. Somente o Cristo de Deus, o Justo vindicará a vingança de Deus, e Ele lavará os seus pés no sangue dos ímpios, pois Ele mesmo pisará o lagar de Deus.

“Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém houve comigo; e os pisei na minha ira, e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou as minhas vestes, e manchei toda a minha vestidura” ( Is 63:3 ).

O único homem que estabeleceu justiça na terra foi o Emanuel. É por intermédio d’Ele que se diz: ‘Deverás há um Deus que julga na terra!’

“QUEM é este, que vem de Edom, de Bozra, com vestes tintas; este que é glorioso em sua vestidura, que marcha com a sua grande força? Eu, que falo em justiça, poderoso para salvar” ( Is 63:1 ).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *