Salmos II

Salmo 56 – Não temerei o que me possa fazer o homem

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Sabendo que Davi era profeta, o interprete deve entender que ele falava de si mesmo quando escreveu o Salmo 56, ou que pelo espírito de Cristo, que estava nele, falou acerca do seu descendente, o Cristo?


Salmo 56 – Não temerei o que me possa fazer o homem

Introdução

Analisando o Salmo 56 à luz do que Jesus e os apóstolos falaram acerca dos Salmos, conclui-se que os Salmos são profecias em forma de poesia e cântico que falam de Cristo.

“Homens irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura. Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono. Nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção.”  (Atos 2:29-31).

O apóstolo Pedro pontuou que o rei Davi era profeta e que no Salmo 16 fez uma previsão acerca do seu Descendente prometido por Deus.

O apóstolo Paulo fez duas citações dos Salmos, Salmos 2:7 e 16:10, intercalado uma profecia de Isaias 55, verso3, para evidenciar a verdade de que Jesus de Nazaré crucificado era o Cristo prometido nas Escrituras, e equipara os Salmos à profecia de Isaías, o que enfatiza a natureza profética dos Salmos.

“E nós vos anunciamos que a promessa que foi feita aos pais, Deus a cumpriu a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus; Como também está escrito no salmo segundo: Meu filho és tu, hoje te gerei. E que o ressuscitaria dentre os mortos, para nunca mais tornar à corrupção, disse-o assim: As santas e fiéis bênçãos de Davi vos darei. Por isso também em outro salmo diz: Não permitirás que o teu santo veja corrupção.” (Atos 13:32-35).

O médico amado deixou registrado as seguintes palavras de Jesus acerca dos Salmos:

“E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos.” (Lucas 24:44).

Quando Jesus questionou os fariseus acerca do Salmo 110, não souberam responder o que Davi quis dizer com ‘disse o Senhor ao meu Senhor’, vez que nos Salmos Davi chama o seu Filho de Senhor, o que dá ao poema uma natureza profética.

“Visto como o mesmo Davi diz no livro dos Salmos: Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita,” (Lucas 20:42).

Como Davi separou os capitães dos seus exércitos para profetizarem com harpas, isto nos faz questionar: qual a natureza do Salmo 56? Também é uma profecia?

“E DAVI, juntamente com os capitães do exército, separou para o ministério os filhos de Asafe, e de Hemã, e de Jedutum, para profetizarem com harpas, com címbalos, e com saltérios; e este foi o número dos homens aptos para a obra do seu ministério.” (2 Crônicas 25:1).

 

Interpretações de alguns doutos

Moody entendia que o Salmo 56 parecia retratar o salmista quando confrontado por guerreiros, e que o pedido de misericórdia passou a ser repetido por israelitas devotos. Na observação, Moody exclui a possibilidade de os opositores do salmista serem os religiosos da nação.

Frederick Fyvie Bruce argumentou que não estava claro se o Salmo 56 era uma oração de um homem durante as suas aflições, e passa a analisar várias traduções de vários tradutores.

Russell Shedd, ao comentar o Salmo 56, entendeu que se tratava de Davi acometido de um sentimento misto: medo e fé ante as vicissitudes que o cercava.

Matthew Henry entendeu que o Salmo 56 se tratava de Davi na ocasião em que fugiu de Saul e se refugiou em território filisteu.

A Bíblia de Estudos de Genebra destaca que o título dado ao Salmo 56 não se encaixa na vida de Davi, se a narrativa dos livros históricos for considerada, o que evidencia que a maioria dos ‘rótulos’ que interpretes dão aos salmos não condiz com o que é exposto pelo salmista. Mas, acaba citando a passagem bíblica de 1 Samuel 21, versos 10 a 15, de quando Davi fingiu-se louco, diante do rei de Gate, tentando justificar o título dado ao Salmo.

Champlin entendeu que o Salmo 56 retrata o conhecimento que Deus tinha acerca das aflições do salmista.

O Comentário Bíblico de Beacon diz que o Salmo 56 está associado a um episódio na vida de Davi, e o argumento emerge do título dado ao Salmo e não do texto, de que o Salmo se refere a fuga de Davi para Aquis, rei da cidade filisteia de Gate, quando Davi salvou sua vida fingindo-se de louco.

Observe que todos os comentaristas se abstêm de afirmar que o Salmo 56 pode ter um viés profético, e nenhum deles consideram na análise a pessoa do Cristo, o Descendente prometido a Davi.

 

O homem opressor

1 TEM misericórdia de mim, ó Deus, porque o homem procura devorar-me; pelejando todo dia, me oprime. 2 Os meus inimigos procuram devorar-me todo dia; pois são muitos os que pelejam contra mim, ó Altíssimo.

O Salmo 56 é uma oração! O que é uma oração no contexto bíblico? A confiança que um crente em Deus expressa em palavras. A oração bíblica emerge de uma verdade que dá suporte a crença, e não o contrário.

O Salmo tem por base a verdade de que Deus é misericordioso, uma verdade imutável!

“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.” (Êxodo 20:6);

“Passando, pois, o SENHOR perante ele, clamou: O SENHOR, o SENHOR Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade;” (Êxodo 34:6).

Mas, diferentemente de outros Salmos que a misericórdia de Deus é invocada à vista das transgressões dos pecadores, o Salmo 56 tem um outro motivo: a ânsia de alguém que quer esmagar o salmista.

Quem seria o ‘homem’ que procurava devorar, que guerreava todo dia e punha o salmista em aperto? O versículo seguinte lança luz e esclarece quem é o tal homem. Através do paralelismo sinônimo, elemento formal na poesia hebraica, verifica-se que o ‘homem’ em destaque refere-se aos ‘inimigos do salmista’.

“… o homem procura devorar-me; pelejando todo dia, me oprime.

Os meus inimigos procuram devorar-me todo dia; pois são muitos os que pelejam contra mim, ó Altíssimo”.

As linhas do Salmo constituem um paralelismo sinônimo, isto porque a segunda linha repete a ideia da linha anterior, mas com palavras diferentes, dando ênfase e estabelecendo uma trava lógica que impe a alteração do texto.

A estrutura da poesia caracteriza o ‘homem’ que o Salmo faz alusão, de modo que é significativo o fato do salmista ter utilizado o temo hebraico אֱנֹושׁ ʼĕnôwsh(en-oshe’) que abarca a ideia de um indivíduo da espécie humana do sexo ou do gênero masculino, sendo que há outros três termos para fazer referência ao homem, segundo o Talmud: ʼādām, ḡe·ḇer e ’îš.

Segundo análise do doutor em letras, Hubner[1], o termo ʼādām remete a qualidade do intelecto e da mente do homem com controle sobre sua natureza, criado a imagem de Deus. O termo ’îš (איש‘) remete ao “homem em geral”, contratado em relação a Deus, à mulher e aos animais. O termo ḡe·ḇer (גבר) significa “ser superior, prevalecer, ter sucesso, crescer”, e remete ao “homem vigoroso apto a tudo aquilo que é viril”.

Nesta análise nos interessa o significado do termo ’ĕ·nō·š (אנוש), utilizado pelo salmista, que é “homem, ser humano, mortal”, e que dependendo do contexto, indica um estado pobre e fraco, o que remete a “desanimado”. Para outros estudiosos remete a “causar fraqueza, ser frágil”, podendo significar “estar doente”, “ser mortal”, “sofrimento”, “pessoas egocêntricas”, “ser fatal”, “estado de espírito perturbado” ou “homem degenerado”.

O termo ‘homem’ demonstra que os inimigos do salmista não são demônios, diabos ou anjos caídos. A oposição e o aperto que advém dos inimigos refere-se a oposição de homens, e não de uma suposta opressão espiritual.

Ao definir ‘homem’, o salmista quer destacar a essência, a natureza má dos seus opositores, evidenciando que se tratava de homens ímpios, que não se sujeitavam ao temor (palavra) de Deus.

 

Temor ‘versus’ medo

“3  Em qualquer tempo em que eu temer, confiarei em ti. 4  Em Deus louvarei a sua palavra, em Deus pus a minha confiança; não temerei o que me possa fazer a carne.”

Para continuarmos a interpretação, novamente necessitaremos considerar a estrutura da poesia hebraica, em especial que as linhas dos Salmos constituem um paralelismo sinônimo.

Também precisamos considerar algumas definições bíblicas:

“O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; bom entendimento têm todos os que cumprem os seus mandamentos; o seu louvor permanece para sempre.”  (Salmos 111:10);

“Vinde, meninos, ouvi-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR.” (Salmos 34:11).

Nesse mesmo sentido, temos que considera a seguinte asserção:

“Digam agora os que temem ao SENHOR que a sua benignidade dura para sempre.” (Salmo 118:4);

“Abençoará os que temem ao SENHOR, tanto pequenos como grandes.”  (Salmos 115:13).

Por que é necessário considerar os versos citados acima? Porque ao analisar o versículo 3, percebe-se certa incongruência na tradução do texto, não por maldade do tradutor, mas talvez por desconhecimento de algumas nuances decorrentes fluidez poética do texto.

Nos Salmos 111, verso 10 e 34 e 11, o substantivo יִרְאָה (yirah) traduzido por ‘temor’ tem a conotação de palavra, conhecimento, mandamento, sendo que o adjetivo יָרֵא (yare) que remete a uma ação e é traduzido por ‘temer’, tem a conotação de obedecer, sujeitar, confiar.

O que me faz desconfiar da tradução? É ela afirmar que ‘Em qualquer tempo em que eu temer, confiarei em ti.’, dando a entender que o salmista estivesse expressando medo, sendo que em vários outros salmos não há expressão de tal sentimento mesmo diante de vicissitudes inomináveis:

“Por que temerei eu nos dias maus, quando me cercar a iniquidade dos que me armam ciladas?” (Salmos 49:5);

“Portanto não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares.” (Salmos 46:2);

“Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nisto confiaria.” (Salmos 27:3);

“Não temerei dez milhares de pessoas que se puseram contra mim e me cercam.” (Salmos 3:6).

Lembrando que o idioma hebraico antigo é de difícil compreensão, a tradução mais coerente com o contexto e a estrutura da poesia hebraica seria ‘enquanto eu temer, confiarei em ti’.

O medo não faz o homem confiar em Deus, antes afasta o homem de Deus, como se lê:

“E todo o povo viu os trovões e os relâmpagos, e o sonido da buzina, e o monte fumegando; e o povo, vendo isso retirou-se e pôs-se de longe. E disseram a Moisés: Fala tu conosco, e ouviremos: e não fale Deus conosco, para que não morramos. E disse Moisés ao povo: Não temais, Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, afim de que não pequeis.” (Êxodo 20:18-20).

Ao ser conjugado o verbo ‘temer’ no futuro, na primeira pessoa do singular, a ideia a ser transmitida é honrar, respeitar, o que remete a obediência, sujeição.

O termo traduzido por ‘temor’ remete ao termo דָּבָר (dabar) traduzido por palavra no versículo 4, construção própria a estrutura da poesia hebraica:

“3  Em qualquer tempo em que eu temer, confiarei em ti.

4  Em Deus louvarei a sua palavra, em Deus pus a minha confiança; não temerei o que me possa fazer a carne.”

Quem descansa, obedece, ou seja, teme a palavra de Deus, O louva. Entoar louvores é superior a recitar. É crer, é repousar!

“Então creram nas suas palavras, e cantaram os seus louvores.” (Salmos 106:12).

O ímpio apesar de recitar e tomar a aliança de Deus em sua boca, como não obedece, não ‘louva’ a palavra de Deus.

“Mas ao ímpio diz Deus: Que fazes tu em recitar os meus estatutos, e em tomar a minha aliança na tua boca?” (Salmos 50:16).

O louvor, assim como a obediência, ou o temor decorre da palavra de Deus:

“Os meus lábios proferiram o louvor, quando me ensinaste os teus estatutos.” (Salmos 119:171);

“Não os encobriremos aos seus filhos, mostrando à geração futura os louvores do SENHOR, assim como a sua força e as maravilhas que fez.” (Salmos 78:4);

“Quem pode contar as obras poderosas do SENHOR? Quem anunciará os seus louvores?” (Salmos 106:2);

“O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; bom entendimento têm todos os que cumprem os seus mandamentos; o seu louvor permanece para sempre.” (Salmos 111:10).

O enunciado do Salmo 111, verso 10 demonstra que a palavra de Deus é o princípio da sabedoria, e que cumprir os mandamentos de Deus é bom entendimento, o que remete a palavra de Deus que permanece para sempre.

“Mas a palavra do SENHOR permanece para sempre. E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada.” (1 Pedro 1:25).

A melhor tradução do texto seria: “Enquanto obedecer (temer), confiarei em ti”, pois a obediência é a expressão máxima da confiança. Quem teme (obedece) a Deus jamais temerá a carne.

É significativo o salmista substituir o termo ’ĕ·nō·š (אנוש), que significa homem pelo termo בָּשָׂר (basar), carne, que além de significar corpo, também remete a ideia de geração, parentesco.

Davi foi perseguido pelos seus concidadãos, assim como José pelos seus irmãos, o que os remete a pessoa de Cristo, que foi perseguido e morto pelos seus.

“Porque o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são os da sua própria casa.” (Miquéias 7:6).

Sabendo que Davi era profeta, o interprete deve entender que ele falava de si mesmo quando escreveu o Salmo 56, ou que pelo espírito de Cristo, que estava nele, falou acerca do seu descendente, o Cristo?

“Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono,” (Atos 2:30);

“Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir.” (1 Pedro 1:11).

Se as Escrituras falam do Cristo, certo é que o Salmo 56 como pertencente às Escrituras também testifica de Cristo.

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;” (João 5:39).

 

Até o amigo íntimo O traiu

5  Todos os dias torcem as minhas palavras; todos os seus pensamentos são contra mim para o mal. 6  Ajuntam-se, escondem-se, marcam os meus passos, como aguardando a minha alma.

O Salmo 56 assim como muitos outros é messiânico, e descreve a obediência de Cristo ao Pai, bem como a oposição dos seus irmãos segundo a carne.

Todos os dias religiosos judeus torciam as palavras de Cristo, ou melhor, se escandalizavam d’Ele. Muitos achavam o discurso de Cristo duro de ouvir!

“Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?” (João 6:60);

“Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele.” (Marcos 6:3);

“Mas não têm raiz em si mesmos, antes são temporãos; depois, sobrevindo tribulação ou perseguição, por causa da palavra, logo se escandalizam.” (Marcos 4:17).

Os pensamentos dos escribas, fariseus, saduceus, etc., visava o mal de Jesus. Observe que ao introduzir a ideia ‘todos os dias’, o salmista remete ao verso 1, o ‘homem’ que buscava devorar e que pelejava todo dia (v. 1), em suma, os seus inimigos.

“Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem.” (João 11:53);

“Porque ele bem sabia que por inveja os principais dos sacerdotes o tinham entregado.” (Marcos 15:10).

Os opositores de Cristo se ajuntavam e ficavam à espreita analisando se O apanhavam em alguma contradição, e assim, injustamente, O apenassem com a morte.

A oposição é profetizada em outros Salmos:

“Dos ímpios que me oprimem, dos meus inimigos mortais que me andam cercando. Na sua gordura se encerram, com a boca falam soberbamente.” (Salmo 17:9-10);

“Todos os que me odeiam murmuram à uma contra mim; contra mim imaginam o mal, dizendo: Uma doença má se lhe tem apegado; e agora que está deitado, não se levantará mais. Até o meu próprio amigo íntimo, em quem eu tanto confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar.” (Salmo 41:7-9).

 

Orando segundo a vontade de Deus

7  Porventura escaparão eles por meio da sua iniquidade? Ó Deus, derruba os povos na tua ira! 8  Tu contas as minhas vagueações; põe as minhas lágrimas no teu odre. Não estão elas no teu livro?

Diante da oposição dos religiosos de Jerusalém, é feita uma indagação: eles por meio da iniquidade passariam incólume? Conseguiriam fugir da ira futura?

“E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?” (Mateus 3:7).

Conseguiriam prevalecer com a língua?

“Pois dizem: Com a nossa língua prevaleceremos; são nossos os lábios; quem é SENHOR sobre nós?” (Salmos 12:4).

Quando através do espírito de profecia Deus é invocado em oração para que derribe os povos na sua ira, neste salvo os ‘povos’ não são os gentios. O termo hebraico utilizado עָם (am), significa pessoas, nação, mas o contexto demonstra tratar-se da congregação de Israel, de parentesco.

A oração tem por base a palavra de Deus, e não somente um desejo pessoal de revanche. A petição seria atendida por ser feita segundo a vontade de Deus:

“Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém.” (Isaías 8:14);

“Levanta-te, SENHOR, detém-no, derriba-o, livra a minha alma do ímpio, com a tua espada;” (Salmos 17:13).

“Pois me cingiste de força para a peleja; fizeste abater debaixo de mim aqueles que contra mim se levantaram. Deste-me também o pescoço dos meus inimigos para que eu pudesse destruir os que me odeiam. Clamaram, mas não houve quem os livrasse; até ao SENHOR, mas ele não lhes respondeu. Então os esmiucei como o pó diante do vento; deitei-os fora como a lama das ruas. Livraste-me das contendas do povo, e me fizeste cabeça dos gentios; um povo que não conheci me servirá.” (Salmo 18:39-43);

“O Deus da minha misericórdia virá ao meu encontro; Deus me fará ver o meu desejo sobre os meus inimigos. Não os mates, para que o meu povo não se esqueça; espalha-os pelo teu poder, e abate-os, ó Senhor, nosso escudo. Pelo pecado da sua boca e pelas palavras dos seus lábios, fiquem presos na sua soberba, e pelas maldições e pelas mentiras que falam.” (Salmo 59:10-12).

O messias não deseja a destruição do seu povo para que fossem esquecidos, antes que fossem espalhados e abatidos entre os povos, pois foram perversos ao falarem mentiras contra o Ungido de Deus.

O Cristo viveu em meio ao seu povo como um forasteiro, um peregrino. Sendo o descendente de Davi vagueou como um estranho em meio aos seus súditos, e isso Deus acompanhou desde os céus. As lágrimas do Cristo foram colhidas do odre do Pai, contabilizadas no livro divino.

“Já estou cansado do meu gemido, toda a noite faço nadar a minha cama; molho o meu leito com as minhas lágrimas, já os meus olhos estão consumidos pela mágoa, e têm-se envelhecido por causa de todos os meus inimigos. Apartai-vos de mim todos os que praticais a iniquidade; porque o SENHOR já ouviu a voz do meu pranto.” (Salmo 6:6-8);

 

Não temerei o que me possa fazer o homem

9  Quando eu a ti clamar, então voltarão para trás os meus inimigos: isto sei eu, porque Deus é por mim. 10  Em Deus louvarei a sua palavra; no SENHOR louvarei a sua palavra. 11  Em Deus tenho posto a minha confiança; não temerei o que me possa fazer o homem.

O Cristo sabia que o Pai estava ao seu lado, e por isso, estava cônscio que se clamasse os seus inimigos retrocederiam. Quando foi interpelado pela corte e oficiais dos escribas e fariseus, literalmente este evento ocorreu:

“TENDO Jesus dito isto, saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom, onde havia um horto, no qual ele entrou e seus discípulos. E Judas, que o traía, também conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos. Tendo, pois, Judas recebido a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio para ali com lanternas, e archotes e armas. Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava com eles. Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram, e caíram por terra.” (João 18:1-6).

Como estava no Pai e o Pai n’Ele, Cristo é o louvor à palavra de Deus.

“Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse. Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra.” (João 17:4-6).

Ao realizar a obra de Deus manifestando Deus ao mundo, Cristo deu o devido louvor à palavra de Deus. Ao confiar em Deus sem reservas, entregando-se aos pecadores segundo a vontade do Pai, Cristo evidenciou confiança plena na palavra anunciada por Deus de antemão pelos seus profetas, confirmando que Deus é verdadeiro e que a sua palavra não falha.

Com promessas tão grandiosas e firmes acerca do Cristo, como Ele poderia temer aquilo que os seus inimigos, meros mortais, poderiam fazer? Ao beber o cálice dado pelo Pai, Cristo louvou a palavra de Deus!

 

Todas quantas promessas há de Deus

12  Os teus votos estão sobre mim, ó Deus; eu te renderei ações de graças; 13  Pois tu livraste a minha alma da morte; não livrarás os meus pés da queda, para andar diante de Deus na luz dos viventes?

As promessas de Deus estão todas atreladas ao Cristo, e por Cristo, a Deus é rendido graças. O apóstolo Paulo aborda esta verdade da seguinte maneira:

Porque todas quantas promessas há de Deus, são nele sim, e por ele o Amém, para glória de Deus por nós.” (2 Coríntios 1:20);

“E é por Cristo que temos tal confiança em Deus;” (2 Coríntios 3:4).

Deus prometeu um descendente a Abraão que traria bem-aventurança sobre todas as famílias da terra. Prometeu a Davi um descendente que edificaria um templo santo ao nome de Deus, que é a igreja, e a bênção anunciada a Abraão chegou todas as famílias da terra através das boas novas do evangelho.

Ao livrar o Cristo da morte através da ressurreição, Deus confirmou a imutabilidade do seu conselho e quão firme são as promessas anunciadas de antemão (presciência) pelos profetas.

“Portanto está alegre o meu coração e se regozija a minha glória; também a minha carne repousará segura. Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente.” (Salmo 16:9-11);

“Porquanto tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei; pô-lo-ei em retiro alto, porque conheceu o meu nome. Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei. Fartá-lo-ei com longura de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.” (Salmo 91:14-16);

O Salmo 56 está no rol de profecias que apontam para o Cristo:

“Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar.” (1 Pedro 1:10-12).

Como todas as promessas (votos) de Deus cumprem-se em Cristo, significava que jamais o Cristo seria deixado na morte. Significava que jamais os pés de Cristo se resvalariam levando O a queda, vez que a proteção do Pai era perene, desde a entrada de Cristo neste mundo até a sua saída deste mundo.

“O SENHOR guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre.” (Salmos 121:8).

“O SENHOR guarda aos símplices; fui abatido, mas ele me livrou. Volta, minha alma, para o teu repouso, pois o SENHOR te fez bem. Porque tu livraste a minha alma da morte, os meus olhos das lágrimas, e os meus pés da queda. Andarei perante a face do SENHOR na terra dos viventes.” (Salmo 116:6-9).

 

Salvação para todos os povos

Jesus anunciou que para ser salvo é necessário ao homem crer n’Ele conforme diz as Escrituras. Para ser salvo é necessário olhar para salmos como o Salmo 56 e compreender que é um testemunho vivo acerca de Cristo!

“Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. (João 7:38);

“E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos.” (Lucas 24:44);

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;” (João 5:39).

Como o testemunho das Escrituras é que o Cristo é o filho de Deus, e que Ele haveria de sofre, morrer e ser sepultado, ressuscitando ao terceiro dia, se alguém deseja ser salvo tem que essencialmente na mensagem do evangelho.

“A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam.” (Romanos 10:9-12).

 

[1] Hubner, Manu Marcus. Um estudo sobre o termo ʼādām na Bíblia Hebraica, título original em inglês: A Study about the Word ʼādām in the Hebrew Bible < https://periodicos.ufmg.br/index.php/maaravi/article/download/14342/pdf/39247 > Consulta realizada em 14/10/22.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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