Com base na profecia do Salmo 51, não basta aos seguidores do judaísmo alegar que se têm por pai Jessé, Abraão, Isaque ou Jacó, pois ter vínculo de sangue com os patriarcas é inócuo para se alcançar filiação divina.
Salmo 51 – Em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe
Conteúdo do artigo
“Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmo 51:5).
Introdução ao Salmo 51
Esta análise do Salmo 51 visa lançar luz especificamente ao verso 5, do Salmo 51, devido aos diversos posicionamentos doutrinários equivocados acerca deste Salmo de Davi.
Há um número crescente de pregadores, apóstolos, bispos, reverendos, etc., apregoando que Davi era filho bastardo de Jessé, ou que a mãe de Davi era prostituta e até chegam ao absurdo de afirmar que a linhagem de Davi era perseguida por espíritos familiares.
Antes de nos lançarmos à interpretação dos versículos do Salmo 51, é imprescindível destacar que Davi era profeta e, na condição e posição de profeta, não se ocupava de questões particulares, antes, tinha por incumbência anunciar a verdade de Deus.
“Homens irmãos, seja-me lícito dizer-vos, livremente, acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado e entre nós está até hoje a sua sepultura. Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido, com juramento, que, do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono” (Atos 2:29-30).
Considerando que os Salmistas profetizavam a comando de Davi, bem como sob direção dos capitães dos Exércitos, conclui-se que os Salmos essencialmente são profecias em forma de poesia e cântico, e cada Salmo tem um objetivo: vaticinar acontecimentos, instruir, exortar e redarguir.
“E DAVI, juntamente, com os capitães do exército, separou para o ministério os filhos de Asafe, de Hemã e de Jedutum, para profetizarem com harpas, com címbalos e com saltérios; e este foi o número dos homens aptos para a obra do seu ministério: Dos filhos de Asafe: Zacur, José, Netanias e Asarela, filhos de Asafe; a cargo de Asafe, que profetizava debaixo das ordens do rei Davi. Quanto a Jedutum, os filhos: Gedalias, Zeri, Jesaías, Hasabias e Matitias, seis, a cargo de seu pai, Jedutum, o qual profetizava com a harpa, louvando e dando graças ao SENHOR” (1 Crônicas 25:1-3).
Jesus, ao fazer referência aos Salmos, aponta para a sua essência profética:
“E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse, estando, ainda, convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, nos profetas e nos Salmos.” (Lucas 24:44).
Desse modo, ao analisar os Salmos, não se pode ter como pressuposto que Davi, em seus Salmos, estava tratando de sentimentos e questões pessoais.
Os cânticos que compõem os Salmos não são expressões de sentimentos, de emoções, de conquistas, de frustrações, etc., dos salmistas, e sim, profecias segundo o espírito de Cristo.
“Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir.” (1 Pedro 1:11).
Nos livros dos Salmos encontraremos profecias acerca do Cristo, que comumente são atribuídos o nome de Salmos Messiânicos, pois predizem o nascimento, ministério, morte e ressurreição de Cristo.
Há outros Salmos que apontam para a condição dos filhos de Israel no exílio, para a pujança da nação como escolhida por Deus, o domínio futuro do Cristo, descrição do reino milenar ou, para a condição do homem sob o pecado.
Alguns Salmos têm por objetivo descrever a condição do homem alienado de Deus, condição que só pode ser revertida em razão da misericórdia de Deus, dentre os quais, destacamos o Salmo 51.
Na essência, o Salmo 51 é uma oração com conteúdo didático, visando instruir todo e qualquer homem (judeu e gentil), acerca do que é necessário para ser salvo, pois somente Deus tem poder para livrar o homem do pecado.
Salmo 51
- TEM misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.
- Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado.
- Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.
- Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares.
- Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.
- Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria.
- Purifica-me com hissope, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve.
- Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste.
- Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades.
- Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.
- Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo.
- Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário.
- Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores a ti se converterão.
- Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua louvará altamente a tua justiça.
- Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor.
- Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos.
- Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.
- Faze o bem a Sião, segundo a tua boa vontade; edifica os muros de Jerusalém.
- Então te agradarás dos sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; então se oferecerão novilhos sobre o teu altar.
Deus misericordioso
“TEM misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado” (Salmo 51:1 -2).
Essa oração didática de Davi destaca a condição miserável do homem sob domínio do pecado, quanto a natureza pura de Deus.
Como todos os homens, independentemente de linhagem, nacionalidade, língua, tempo, etc., diante de Deus são pecadores e carecem da glória de Deus (Romanos 3:23). Através da lição que emerge da oração do Salmo 51, todos os homens, judeus e gentios, podem e devem se dirigir a Deus, um modo de reconhecer a Sua benignidade e, ao mesmo tempo, a condição miserável do homem.
“O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18:13).
A oração de Davi repousa na revelação firme de Deus, conforme consta das Escrituras, de que segundo a sua benignidade, Deus é misericordioso:
“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.” (Êxodo 20:6).
Deus se revelou aos filhos de Israel como, abundantemente, misericordioso para com todos os que se sujeitam a Ele, na condição de servos, sendo obedientes à sua palavra. Obediência é o que Deus requer do homem, para que Ele possa agraciá-lo com Sua misericórdia, pois, no mandamento de Deus está expressa a sua boa vontade.
Maria, a mãe de Jesus, bem compreendia como se dá a misericórdia de Deus:
“E a sua misericórdia é de geração em geração, sobre os que o temem.” (Lucas 1:50).
‘Temer’[1] no contexto bíblico é honrar, obedecer, amar. Estes termos são intercambiáveis e devem ser considerados no seu sentido aristocrático, questão própria à antiguidade, pois o ‘amor’ se traduz em sujeição plena ao serviço de um servo dedicado a um senhor, conforme se lê:
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou, há de odiar a um e amar ao outro ou, se dedicará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” (Mateus 6:24; João 5:23; João 12:26; Lucas 6:46).
Por isso, Davi tomou consigo palavras (o que pode ser feito por todos os homens):
- apelando para a misericórdia divina e;
- reconhecendo a sua real condição.
O Profeta Davi expressa o mesmo evidenciado pelo profeta Oséias:
“Tomai convosco palavras e convertei-vos ao SENHOR; dizei-lhe: Tira toda a iniquidade e aceita o que é bom; e ofereceremos, como novilhos, os sacrifícios dos nossos lábios” (Oseias 14:2).
Tudo o que Davi roga a Deus tem por base a essência de Deus, que é amor, compaixão, misericórdia, etc.
Diferentemente do fariseu, que subiu ao templo para orar, e que orou, confiado em suas práticas religiosas, Davi expressa sua confiança, única e exclusivamente em Deus.
“O fariseu, estando em pé, orava consigo dessa maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem, ainda, como esse publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo” (Lucas 18:11-12).
A oração do publicano, por sua vez, é a essência do Salmo 51, pois Ele reconhece a sua real condição: pecador, mas invoca a Deus confiando que Ele é misericordioso.
“O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas, batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18:13).
Semelhantemente aos cegos, junto ao caminho, qualquer que clamar a Cristo, reconhecendo-O como Senhor, será agraciado com misericórdia:
“E eis que dois cegos, assentados junto do caminho, ouvindo que Jesus passava, clamaram, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós!” (Mateus 20:30).
Considerando a estrutura da poesia hebraica, o paralelismo, e justapondo as duas asserções do verso 1, temos:
“TEM misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade”;
“apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias”.
Davi clama pela misericórdia de Deus que, de acordo com a segunda parte do verso, é abundante (multidão). Conforme a ‘misericórdia abundante’, Deus apaga (exclui, limpa, destrói, extermina) as transgressões de quem clama confiado na misericórdia de Deus.
Diferentemente dos seus compatriotas, que alegavam que tinham por pai a Abraão e, assim, faziam da sua carne o seu braço, ou seja, faziam da sua descendência a sua força (Mateus 3:9; João 8:33; Jeremias 17:5), Davi reconheceu a sua condição diante de Deus: pecador.
“E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Mateus 3:9).
Para não haver dúvidas quanto ao que o Salmista pleiteia junto a Deus, tendo por base a misericórdia divina, a ideia da parte ‘b’ do verso 1 é complementada, através do verso 2:
“Lava-me, completamente, da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado.” (Salmo 51:2).
Ter as transgressões ‘apagadas’ é o mesmo que ser submetido ao trabalho de um lavandeiro (lavar), de modo a ser purificado da condição que lhe era própria: meu pecado.
Para o homem ser purificado por Deus é imprescindível reconhecer a sua condição miserável. Sem reconhecer a condição de sujeição ao pecado, ou seja, de pecador (escravo do pecado), o homem jamais se refugiará naquele que é misericordioso.
Essa falta de reconhecimento, de que eram pecadores, ou cegos, era própria aos judeus. Diante da mensagem de Cristo, de que, se permanecessem em Seus ensinos, verdadeiramente, seriam discípulos e, então, tornar-se-iam um com Cristo (conheceriam a verdade) e seriam libertos.
“Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos; E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade, vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado” (João 8:31-34).
Os judeus se enganavam a si mesmos, sob o falso argumento de que eram descendência de Abraão. Ao dizer que não tinham pecado, os seguidores do judaísmo faziam Deus mentiroso, consequentemente, a palavra de Deus não estava neles (1 Jo 1:8-10).
É por isso que Aquele que anunciou que Deus é luz (1 João 1:5), ordenou aos escribas e fariseus que fossem e aprendessem o que significa: misericórdia quero e não sacrifício.
“Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas, os pecadores ao arrependimento.” (Mateus 9:13);
“Porque eu quero a misericórdia e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos.” (Oseias 6:6).
Pecado, iniquidade e transgressões
“Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares. Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmos 51:3 -5).
O salmista utiliza a primeira pessoa do singular ‘eu’, para dar ênfase à sua condição, e não às suas ações. Davi se reconhece como transgressor, rebelde, e isso não de uma perspectiva humana, moral, comportamental, e sim, em razão do que estava estabelecido nas Escrituras.
“Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida é.” (Deuteronômio 32:5).
A tradição aponta que Davi compôs o Salmo 51, após ser interpelado pelo profeta Natã, acerca do homicídio de Urias e do adultério com Bate-Seba, no entanto, o que faz com que o homem compreenda os seus erros é tão somente as Escrituras, conforme exposto no Salmo 19:
“Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos.” (Salmos 19:12).
As Escrituras depunham contra os filhos de Israel e é em função desta verdade que Davi confessa que era conhecedor das suas transgressões. Por causa da reprimenda de Deus, por intermédio do seu servo Moisés, a condição de Davi era patente!
- Davi se reconhece como transgressor;
- A condição (pecado) estava patente aos olhos de Davi;
- Ele compreendia que havia ofendido somente a Deus e;
- Que fez o que é mal à vista de Deus.
Quando deliberou trazer de volta a arca do Senhor, Davi não observou as Escrituras, e somente quando Deus fez rotura em Israel, foi que Davi foi consultar as Escrituras:
“Porquanto vós não a levastes na primeira vez, o SENHOR nosso Deus fez rotura em nós, porque não o buscamos segundo a ordenança.” (1 Crônicas 15:13).
Davi como profeta admite a sua condição para não fazer Deus mentiroso (1 João 1:10), visto que Deus já havia dado a sua palavra, anunciando o pecado dos filhos de Israel, portanto, admitir a verdade estabelecida por Deus é honrá-Lo, para que Deus ‘seja justificado quando falar e puro quando julgar’.
Davi, sendo rei, diante de Deus se declara vil, mal, ralé, baixo, por ser pecador. Segundo o que se depreende do ensinamento de Jesus, qualquer que peca é escravo do pecado, de modo que, ao declarar que pecou contra Deus, efusivamente, declara que, ante os olhos de Deus, era mal, mentiroso, vil (Salmo 51:4).
“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado.” (João 8:34).
O apóstolo Paulo faz uso desse raciocínio de Davi, demonstrando que, se alguns judeus foram incrédulos, tal incredulidade jamais aniquilaria a fidelidade de Deus, de modo que devemos admitir, sempre, ser Deus verdadeiro e todo homem mentiroso, como disse o salmista:
“Porque eu conheço as minhas transgressões e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares e puro quando julgares” (Salmo 51:3-4);
“De maneira nenhuma; sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso; como está escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras, E venças quando fores julgado.” (Romanos 3:4),
Mas, de onde o apóstolo Paulo tirou a ideia de que todo homem é mentiroso? Do Salmo 116, verso 11:
“Dizia na minha pressa: Todos os homens são mentirosos.” (Salmo 116:11).
Da mesma forma que o apóstolo Paulo afirmou que todos são mentirosos, tendo por base o testemunho das Escrituras, o salmista reconhecia a sua condição, tendo por base a palavra dos profetas.
O profeta Isaías denunciou o povo de Israel, dizendo:
“Ai, nação pecadora, povo carregado de iniquidade, descendência de malfeitores, filhos corruptores; deixaram ao SENHOR, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás.” (Isaías 1:4).
O profeta Daniel, por sua vez, também confessou os seus pecados, quando lembrou o predito por Moisés:
“E orei ao SENHOR meu Deus, confessei e disse: Ah! Senhor! Deus grande e tremendo, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus mandamentos; Pecamos e cometemos iniquidades, procedemos impiamente e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos; E não demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que, em teu nome, falaram aos nossos reis, aos nossos príncipes e a nossos pais, como também a todo o povo da terra. A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós a confusão de rosto, como hoje se vê; aos homens de Judá e aos moradores de Jerusalém e a todo o Israel, aos de perto e aos de longe, em todas as terras por onde os tens lançado, por causa das suas rebeliões, que cometeram contra ti. Ao Senhor, nosso Deus, pertencem a misericórdia e o perdão; pois nos rebelamos contra ele e não obedecemos à voz do SENHOR, nosso Deus, para andarmos nas suas leis, que nos deu por intermédio de seus servos, os profetas. Sim, todo o Israel transgrediu a tua lei, desviando-se para não obedecer à tua voz; por isso, a maldição e o juramento que estão escritos na lei de Moisés, servo de Deus, se derramaram sobre nós; porque pecamos contra ele” (Daniel 9:4-11).
Observe que, na oração de Daniel, Ele admite que:
- Deus é misericordioso para com os que O obedecem;
- Que todos pecaram e foram rebeldes e;
- Ao estabelecido por Deus pelos seus profetas.
Ao dizer: “Eis que em iniquidade fui formado e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmos 51:5), Davi não tinha em mente questões de conduta, moral e/ou social, antes, a acusação incrustada nas Escrituras:
“Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a verdade e não há nele injustiça; justo e reto é. Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, mas, a sua mancha; geração perversa e distorcida é.” (Deuteronômio 32:4-5).
Se os filhos de Israel não eram filhos de Deus, mas uma mancha, geração perversa e distorcida, certamente, que o Salmista, assim como os demais homens, foi formado em iniquidade e concebido em pecado.
No Salmo 51, Davi reconhece a sua condição diante de Deus e se resigna a declará-la abertamente, para que outros o façam também. Os judeus precisavam aprender essa lição, mas, quando se deparavam com essa passagem bíblica, reputavam que somente os gentios precisavam reconhecer a sua condição.
Através das Escrituras, o apóstolo Paulo compreendeu que os judeus (e ele se inclui no rol de judeus), não são melhores que os gentios (Romanos 3:9).
O apóstolo cita diversos salmos e, em nenhum deles, Deus afirma que os judeus são exceção:
“Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; Como está escrito:
‘Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e, juntamente, se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só (Salmo 53:1-3; Salmo 14:1-3).
A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; Cuja boca está cheia de maldição e amargura (Salmo 5:9; Jeremias 5:16; Salmo 140:3).
Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; E não conheceram o caminho da paz. (Provérbios 1:16; Isaías 57:7 -8).
Não há temor de Deus diante de seus olhos (Salmo 36:1)’” (Romanos 3:9-17).
Após citar os versículos acima, o apóstolo Paulo conclui: tudo o que a lei (considere a lei como: Salmos, Profetas e Lei) diz, aos que estão debaixo da lei o diz, ou seja, tudo que estava nas Escrituras foi dito aos judeus, de modo que ninguém (judeus e gentios) é escusável diante de Deus.
Considerar que a mãe de Davi era uma prostituta e que, por isso, ele foi concebido em pecado, é má leitura do texto. Não há na Bíblia evidência alguma de que a mãe de Davi era prostituta. Não há, nem mesmo, como saber quem era a mãe de Davi, pois as Escrituras não fazem alusão a ela. Mesmo que a mãe de Davi fosse uma mulher promiscua, não é da promiscuidade de uma mulher que advém a condição de pecador.
O que se sabe, através das Escrituras, é que Jessé era efrateu, de Belém de Judá, e à época que Davi foi ungido por Samuel, seu pai já estava em adiantada idade (1 Samuel 17:12), o que nos faz especular, pela idade de Jessé, que a mãe de Davi já era falecida.
Davi não foi concebido em pecado em razão de ter nascido de uma relação sexual como é próprio a todos os homens, exceto um, o Cristo.
A relação sexual não é pecado e nem é o ato sexual que trouxe o pecado ao mundo, pois o que trouxe o pecado ao mundo foi a ofensa de Adão, no Éden.
Davi não foi concebido em pecado pelo fato de suas duas antepassadas, Tamar e Raabe. Raabe de moral reprovável diante dos homens, pois era prostituta, e Tamar, por se deitar com o seu sogro. Na verdade, ambas, Tamar e Raabe, são dignas de louvor pela confiança que depositaram em Deus, tanto que essas duas estrangeiras passaram a compor a linguagem de Cristo.
Para falsos mestres, especular que Davi “confessou” que foi gerado através de um relacionamento extraconjugal de Jessé, seu pai, é um modo de introduzir encobertamente heresias.
A condenação da humanidade é decorrente da ofensa de Adão, cuja semente corruptível fez com que toda a descendência de Adão fosse alienada (separada) de Deus. O pecado está atrelado à semente do homem, tanto que os gerados do sangue, da vontade da carne e do varão não são declarados filhos de Deus (João 1:13).
Davi foi formado em iniquidade e concebido em pecado por causa da ofensa de Adão, pois pela ofensa de Adão a morte passou a todos os seus descendentes, inclusive Davi. Por isso é dito que todos pecaram, ou seja, ficaram aquém do padrão estabelecido por Deus.
“Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.” (Romanos 5:12).
Assim como é dito que um fruto de uma árvore ‘pecou’ quando é impróprio para o consumo, em função de a morte ter passado a todos os homens por causa da condenação, é dito que todos pecaram, ou seja, se tornaram impróprios para a glória de Deus.
“Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, assim, também, a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Romanos 5:12).
Da mesma forma que a salvação não está atrelada à semente de Abraão, vez que a semente de Abraão também decorre da semente de Adão, todos os homens são pecadores, em função do primeiro pai: Adão.
“Teu primeiro pai pecou e os teus intérpretes prevaricaram contra mim.” (Isaías 43:27).
O que vincula a humanidade ao pecado é a condenação à morte, decorrente da ofensa de Adão, e como todos estão debaixo de igual condenação, é que se diz que todos pecaram.
Mas, os intérpretes de Israel foram infiéis, pois, deixaram de considerar que eram descendentes de Adão e passaram a ensinar aos filhos de Israel que os descendentes da carne de Abraão eram a descendência bem-aventurada, portanto, salvos.
Como poderiam ser a descendência que Deus prometeu a Abraão, se a promessa de Deus dizia que ‘em Isaque seria chamada a descendência de Abraão’? Os interpretes de Israel se esqueceram de Adão, como pai de todos os homens, e reputaram que eram descendentes de Abraão, através de uma profecia que dizia quem, em Isaque, a descendência de Abraão seria chamada!
“Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência.” (Romanos 9:7).
“Porém, Deus disse a Abraão: Não te pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a tua descendência.” (Gênesis 21:12).
A descendência prometida a Abraão não era o servo damasceno, nem Ismael e nem Isaque, antes, a descendência que seria chamada em Isaque era o Descendente prometido, que é Cristo, que veio da linhagem de Isaque.
“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo.” (Gálatas 3:16).
Mas, a promessa da descendência ser chamada em Isaque foi complementada posteriormente, quando foi dito a Rebeca, o maior servirá o menor, o que demonstra que a descendência do Cristo viria de Jacó, e não de Esaú.
Esaú era descendente da carne de Abraão, e a promessa não veio da sua linhagem, o que demonstra que não é por ter o sangue de Abraão que os homens são benditos, e sim, por ter a fé do crente Abraão.
“Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência. Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho. E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor.” (Romanos 9:7-12).
Se a mãe de Davi, cujo nome e genealogia não é revelado nas Escrituras, ou, se as suas antepassadas fossem as responsáveis pelo fato de Davi ter sido formado em iniquidade e concebido em pecado, essencialmente, Davi teria que fazer alusão ao seu pai, Jessé.
Aí teríamos que ter a seguinte fala:
“Eis que, em iniquidade fui formado e em pecado me concebeu minha mãe, quando me gerou de meu pai”.
Isso porque, podemos dizer, com verdade, que todos os gerados de homem são pecadores, mas, não podemos dizer, com verdade, que todos os concebidos de mulher são pecadores, visto que, neste último caso, excetua-se o Cristo. O que torna o homens e mulheres pecadores é o fato de serem gerados de homem, e não o fato de serem formados e concebidos no ventre de uma mulher.
José não foi o pai biológico de Jesus, pois se assim fosse, o Cristo não seria isento de pecado. Todos os descendentes de Adão são servos do pecado e José não era exceção, de modo que a semente de José, assim, como os demais descendentes de Adão, geram filhos segundo a carne e o sangue, portanto, filhos em sujeição ao pecado.
Quando os evangelhos fazem alusão a José, apresentam-no como marido de Maria e não como o pai de Jesus. Maria é apresentada como a mãe de Jesus, o que demonstra que Jesus só teve vínculo com o sangue de Maria, daí a sua humanidade, mas como não foi gerado de homem, Jesus nasceu sem vínculo com o pecado.
Vale destacar, nas Escrituras, que os homens geram e as mulheres concebem, em função das questões genealógicas:
“E Adão viveu cento e trinta anos e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e pôs-lhe o nome de Sete. E foram os dias de Adão, depois que gerou a Sete, oitocentos anos e gerou filhos e filhas” (Gênesis 5:3-4);
“E conheceu Caim a sua mulher e ela concebeu e deu à luz a Enoque; e ele edificou uma cidade e chamou o nome da cidade, conforme o nome de seu filho Enoque;” (Gênesis 4:17).
Como, profeticamente, Davi não fez alusão ao seu pai no Salmo 51, não enfatizando de quem Ele foi gerado, antes aponta somente que foi concebido pela sua mãe, temos neste Salmo algo muito significativo.
Lembrando que, para conhecer a sabedoria e a instrução, e entender as palavras da prudência e para entender os provérbios e a sua interpretação, devido aos enigmas, parábolas e símiles, se faz necessário conhecer os ensinamentos de Salomão, no Livro dos Provérbios para interpretá-los (Provérbios 1:1-6).
Deus sempre falou ao povo utilizando-se de parábolas, enigmas e símiles, ao que se conclui que, no Salmo 51, temos um enigma a desvendar: se a mãe de Davi o concebeu em pecado, de quem Ele foi gerado?
A resposta é óbvia: de Jessé, visto que Davi foi formado em iniquidade e concebido no pecado! Se Davi só fosse formado e concebido e não gerado de homem, poderia invocar a Deus por Pai dizendo que não tinha pecado à semelhança do que fizeram os judeus que diziam ‘crer’ em Cristo.
“Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe, pois: Nós não somos nascidos de prostituição; temos um Pai, que é Deus.” (João 8:41).
Quando Davi diz que foi concebido em pecado por sua mãe, implicitamente, estava dizendo que, de nada adiantava ser gerado segundo a carne de Jessé, tampouco, de nada adiantava ser gerado segundo a carne de Judá, José, Jacó, Isaque e Abraão, vez que, ser descendente da carne dos pais não concedia a filiação divina. Com base na profecia do Salmo 51, não bastava Davi alegar que tinha por pai Jessé, e que Jessé era descendente da carne de Abraão, Isaque ou Jacó, pois ter vínculo de sangue com os pais (patriarcas) é inócuo para se alcançar filiação divina.
“Responderam e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão.” (João 8:39).
Se os ouvintes de Jesus conhecessem a essência do Salmo 51, principalmente do verso 5, jamais lançariam mão do argumento ‘Nosso pai é Abraão’, quando confrontados por Jesus, que evidenciou que eles eram escravos do pecado.
Se Davi, filho de Jessé, foi concebido em pecado, segundo o testemunho das Escrituras, que se dirá dos membros da nação de Israel?
O que se ouviu através dos profetas acerca da nação de Israel, foi a seguinte pecha:
“Contendei com vossa mãe, contendei, porque ela não é minha mulher e eu não sou seu marido; e desvie ela as suas prostituições, da sua vista e os seus adultérios, de entre os seus seios.” (Oseias 2:2);
“Foste como a mulher adúltera que, em lugar de seu marido, recebe os estranhos.” (Ezequiel 16:32);
A confissão de Davi, no Salmo 51, é pertinente à nação de Israel, de modo que a ‘mãe’ que Davi faz referência vai além da sua mãe biológica, antes, remonta à nação de Israel, que não concebe filhos para Deus.
“Porque sua mãe se prostituiu; aquela que os concebeu houve-se torpemente, porque diz: Irei atrás de meus amantes, que me dão o meu pão e a minha água, a minha lã e o meu linho, o meu óleo e as minhas bebidas.” (Oseias 2:5);
“Mas, chegai-vos aqui, vós os filhos da agoureira, descendência adulterina e de prostituição.” (Isaías 57:3).
Se o profeta Davi, da tribo de Judá, da qual descende o Cristo, confessou que foi concebido em pecado, quando foi introduzido no mundo, através do nascimento natural, efetivamente Davi estava evidenciando que nem todos que são de Israel são de fato israelitas.
“Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas; Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência.” (Romanos 9:6-8).
O Salmo 51 é um entrave aquém confia que tem por pai a Abraão, e que por isso é isento de pecado. Mesmo sendo descendente de Jessé, o que remonta a Judá, e em primeira instância a Abraão, Davi foi formado em iniquidade e concebido em pecado por sua mãe.
“E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Mateus 3:9).
A mãe de Davi pecou, ou Jessé cometeu algum desatino para Davi ter nascido em pecado? Não! Nem Davi e nem seus pais pecaram (João 9:3). Quem de fato pecou foi Adão, e por isso, todos são concedidos em igual condição que nasceu Davi: em pecado!
“Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem.” (1 Coríntios 15:21).
As confissões dos versos 5 e 6 começam com um ‘certamente’, como que, introduzindo forte evidência: ‘eis’, ‘veja’.
“Eis que amas a verdade no íntimo e no oculto me fazes conhecer a sabedoria.” (Salmo 51:6).
Davi afirma que Deus se compraz com a verdade no intimo[2], ou seja, com referência à natureza do homem.
Se todo homem é mentiroso, por causa da condição herdada de Adão, Deus somente se agrada do que é verdadeiro na essência. Se Deus é a verdade e n’Ele não há mentira alguma, somente os que d’Ele são gerados são verdadeiros e justos.
“Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a verdade e não há nele injustiça; justo e reto é.” (Deuteronômio 32:4);
Os que clamam por misericórdia, são gerados de novo por Deus, e só alcançam misericórdia porque são criados de novo bons (nobres), por terem alcançado um coração novo e íntegro.
“Sê misericordioso, SENHOR, com os bons, com todas as pessoas de coração íntegro!” (Salmo 125:4).
Enquanto Deus olhou dos céus para os filhos dos homens e não achou ninguém que tivesse entendimento e que buscasse a Deus, sendo todos imundos (Salmo 53:2), para o homem tornar-se agradável a Deus, com a verdade no íntimo, é imprescindível a revelação da sabedoria de Deus.
“Eis que desejas que a verdade esteja no íntimo; faze-me, pois, conhecer a sabedoria no secreto da minha alma.” (Salmo 51:6).
Sem a sabedoria, o conhecimento de Deus, os homens podem ter zelo, mas sem entendimento (Romanos 10:2).
Mais alvo que a neve
“Purifica-me com hissope, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades.” (Salmo 51:7 -9).
Davi, novamente, roga a Deus para ser purificado; se Deus se encarregar se purificar, lavar, por certo o homem ficará completamente limpo, mais alvo que a própria neve (Salmo 51:2).
“Vinde, então, e argui-me, diz o SENHOR: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda, que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã” (Isaías 1:18).
Enquanto no pecado, Davi era continuamente repreendido por Deus, assim como todo o povo de Israel. Deus deixou na lei de Moisés o castigo como sinal de que os filhos de Israel haviam se desviado, mas quanto mais eram castigados, mais se distanciavam (Deuteronômio 28:45-46).
“Por que seríeis ainda castigados, se mais vos rebelaríeis? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco. Desde a planta do pé até a cabeça, não há nele coisa sã, senão feridas, inchaços e chagas podres, não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo” (Isaías 1:5-6).
Ao pedir por júbilo e alegria, Davi quer esquecer da repreensão que trouxe ossos quebrados, de modo que Deus troque a tristeza por alegria, fartando-o de benignidade.
“Farta-nos de madrugada com a tua benignidade, para que nos regozijemos e nos alegremos todos os nossos dias.” (Salmos 90:14; Isaías 61:3).
O resplendor do rosto de Deus, quando manifesto ao homem, é misericórdia e benignidade (Números 6:25), mas Davi roga para que Deus esconda o seu rosto dos seus pecados, ou seja, que lance no mar do esquecimento.
Novo Nascimento
“Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário. Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores a ti se converterão.” (Salmo 51:10 -13).
Davi expõe a essência da doutrina da salvação, de modo maravilhoso, pois Ele roga a Deus, que tem poder de trazer a existência do nada, o que ainda não existe, que crie um coração puro, em substituição ao coração de pedra, enganoso, que é descartado, com a circuncisão do coração.
O verbo hebraico para ‘criar’ é בָּרָא (bara), e só Deus é o sujeito desse verbo. Como Deus ordenou para que os filhos de Israel criassem um novo coração, Davi clama a Deus, que tem o poder de realizar o que é impossível aos homens.
“Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes e fazei-vos um coração novo e um espírito novo; pois, por que razão morreríeis, ó casa de Israel?” (Ezequiel 18:31).
Fazer um coração novo é deixar se circuncidar por Deus, que tirará o coração de pedra e dará um novo coração de carne.
“E o SENHOR teu Deus circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares ao SENHOR teu Deus, com todo o coração e com toda a tua alma, para que vivas.” (Deuteronômio 30:6);
“E dar-vos-ei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.” (Ezequiel 36:26).
Davi clama por um novo espírito, de modo que seja um espírito reto. E como isso é possível? Tornando-se templo de Deus:
“Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como, também, com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos.” (Isaías 57:15).
Como a lição do novo nascimento estava patente na Antiga Aliança, Jesus questionou Nicodemos, que sendo mestre em Israel, não compreendia essas coisas (João 3:10).
Em sua oração, Davi não se ocupa de mulheres, palácios, carros, exércitos, riquezas, etc., antes, em que o Senhor seja o seu sustento, a sua maior alegria. Estar na presença de Deus, vivificado pelo espírito do Senhor, é motivo de alegria.
“Mas alegrem-se os justos, se regozijem na presença de Deus e folguem de alegria.” (Salmos 68:3).
Davi roga para que a alegria da salvação seja restaurada e que seja sustentado com bom ânimo, o motivo para que Ele retransmita aos transgressores o conhecimento de Deus e eles se convertam.
O que Davi roga a Deus e confessa diante dos homens, Eliú apresenta como doutrina a Jó e aos seus amigos:
“E a sua alma se vai chegando à cova e a sua vida aos que trazem a morte. Se com ele, pois, houver um mensageiro, um intérprete, um entre milhares, para declarar ao homem a sua retidão, Então terá misericórdia dele e lhe dirá: Livra-o, para que não desça à cova; já achei resgate. Sua carne se reverdecerá mais do que era na mocidade e tornará aos dias da sua juventude. Deveras orará a Deus, o qual se agradará dele e verá a sua face com júbilo, e restituirá ao homem a sua justiça. Olhará para os homens e dirá: Pequei e perverti o direito, o que de nada me aproveitou. Porém, Deus livrou a minha alma de ir para a cova e a minha vida verá a luz. Eis que tudo isto é obra de Deus, duas e três vezes para com o homem, Para desviar a sua alma da perdição e o iluminar com a luz dos viventes” (Jó 33:22-30).
Sacrifícios e holocaustos
“Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua louvará altamente a tua justiça. Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor. Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus. Faze o bem a Sião, segundo a tua boa vontade; edifica os muros de Jerusalém. Então te agradarás dos sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; então se oferecerão novilhos sobre o teu altar” (Salmo 51:14 -19).
Por causa da tradição judaica em colocar uma estória no inicio dos capítulos dos Salmos, a ideia que se tem, acerca dos ‘crimes de sangue’, refere-se ao homicídio de Urias.
No entanto, os ‘crimes de sangue’ a que Davi faz referência diz de uma figura bíblica que remete a sacrifícios. Como Deus não se apraz em sacrifícios e nem se deleita em holocaustos, Davi se antecipa rogando a Deus que o livre de oferecê-los.
Como para Deus, quem sacrifica um boi é como quem mata um homem ou, quem sacrifica um cordeiro, como quem degola um cão (Isaías 66:3), em razão dos muitos sacrifícios em Israel, Deus os descreve com mãos manchadas de sangue ou, como homens de violência.
“Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue.” (Isaías 1:15);
Ao propor que louvará a Deus, continuamente com a língua, rejeitando os sacrifícios, Davi faz o apresentado por Oséias:
“Tomai convosco palavras e convertei-vos ao SENHOR; dizei-lhe: Tira toda a iniquidade e aceita o que é bom; e ofereceremos como novilhos os sacrifícios dos nossos lábios.” (Oseias 14:2);
“Aquele que oferece o sacrifício de louvor me glorificará; e aquele que bem ordena o seu caminho, eu mostrarei a salvação de Deus.” (Salmo 50:23).
Um coração quebrantado e contrito são sacrifícios aceitáveis a Deus, diferente dos sacrifícios de animais, que Deus odeia. O coração contrito e quebrantado refere-se ao homem que reconhece o seu pecado e que recorre a Deus para ser salvo.
Basta invocar ao Senhor para o homem ser salvo (Joel 2:32) e Deus é glorificado:
“E invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei e tu me glorificarás.” (Salmo 50:15);
“Oferecer-te-ei sacrifícios de louvor e invocarei o nome do SENHOR.” (Salmos 116:17).
Por fim, Davi roga a Deus que faça bem ao povo de Israel, segundo a sua boa vontade, protegendo-os (Salmo 51:18).
Quando a bênção de Deus sobre Sião é perene, segundo a sua boa vontade, Deus aceitará os seus moradores e, consequentemente, os seus sacrifícios e holocaustos.
Deus atenta, primeiramente, para o homem que se aproxima d’Ele, crendo que Ele é galardoador dos que O buscam e depois aceita a sua oferta. Mas, quando o homem tenta se aproximar de Deus, através da sua oferta, é rejeitado por Deus e a sua oferta, também.
“E Abel, também, trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta. Mas, para Caim e para a sua oferta, não atentou. E irou-se Caim fortemente e descaiu-lhe o semblante.” (Gênesis 4:4-5).
Enfim, o Salmo 51 contém verdades maravilhosas, acerca de como se dá a salvação, mas, o homem natural, geralmente, se ocupará de questões de somenos importância, como genealogias, descendência, filiação, etc.
Conforme a exposição acima, o Salmo 51 não contém elementos para afirmar que Davi era um filho bastardo, ou, que era filho de uma prostituta. Qualquer assertiva acerca de quem foi a mãe de Davi, ficará preso em especulações.
Correção ortográfica: Pr. Carlos Gasparotto
[1] “A obediência exigida por Deus, que aceita em todas as nossas ações a vontade pelos atos, é um esforço sério de lhe obedecer e é, também, denominada com todos aqueles nomes que significam esse esforço. E, portanto, a obediência é umas vezes denominada com os nomes de caridade e amor, porque implicam a vontade de obedecer e, mesmo nosso Salvador, faz de nosso amor a Deus e ao próximo um cumprimento de toda a lei”. Hobbes de Malmesbury, Thomas, Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil, Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva.
“Obedecer é honrar, porque ninguém obedece a quem não julga capaz de ajudá-lo ou prejudicá-lo. Consequentemente, desobedecer é desonrar (…) Louvar, exaltar ou felicitar é honrar, pois nada é mais prezado do que a bondade, o poder e a felicidade. Depreciar, troçar ou compadecer-se é desonrar” (Idem), pág. 78.
[2] “טוחה 02910 tuwchah ou (plural) טחות procedente de 2909 (ou 2902) no sentido de revestir; DITAT – 795b; n f pl 1) regiões interiores, recantos secretos, partes internas” Dicionário bíblico Strong.
Excelentes estudos. Atenderam minhas expectativas. Muito centrado na Palavra em momento algum desviam do assunto proposto. A muito que procurava por estudos assim. Que o Eterno continue os abençoando sempre!!!! Abraços e bjus no coração de um sim eles estudante e amante da Palavra do Eterno Deus!!!!!
O profeta David no Salmo 116 jamais estaria dizendo que todos os homens em todas épocas da história eram mentirosos.Profetas predizem o futuro não predizem o passado.Podem revelar fatos jamais altera-los.Vide o heteu urias
Olá, Ronaldo..
Um profeta além de anunciar de antemão eventos futuros, anunciam verdades eternas.. Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso (Romanos 3.4).
Se em algum momento da história da humanidade existiu algum homem verdadeiro, certo é que nem todo homem é mentiroso e o apóstolo se equivocou na sua colocação.
Só o Cristo é o varão verdadeiro, pois foi gerado de Deus. Verdadeiro por falar a verdade e verdadeiro por ser real, nobre, de cima, divino, em contraste com os homens que são mentirosos, no sentido de vis, ralé, de baixo.
Att.